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2024

Carol Coutinho

@carolcoutinhocunha
Aula 01.
COMO FATURAR RAPIDAMENTE NO EXTRAJUDICIAL

1. Pacto Antenupcial

O pacto antenupcial (pré-nupcial, dotal ou convenção matrimonial)


trata-se de um negócio jurídico acessório, formal e solene (escritura pública,
registrado no cartório de imóveis do domicílio dos nubentes), cuja eficácia fica
submetida ao casamento (CC, art. 1.653).

É obrigatório nos regimes diversos do legal, ou seja, não sendo


comunhão parcial de bens e sua forma prescrita em lei é a escritura pública
lavrada perante um Tabelionato de Notas.

Art. 1.653. É nulo o pacto antenupcial se não for feito por


escritura pública, e ineficaz se não lhe seguir o casamento.
(formalidade na realização)

Art. 1.657. As convenções antenupciais não terão efeito


perante terceiros senão depois de registradas, em livro
especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos
cônjuges. (aqui você oferecerá para o cliente mais um
desdobramento - a averbação no RGI).

Apesar de não necessitar de advogado os modelos fornecidos pelos


cartórios costumam ser bem genéricos, por isso os noivos precisarão de você
para prestar um serviço personalizado, adequado às suas necessidades.

Você será essencial para os orientar acerca de como proceder ao


planejamento patrimonial e matrimonial sem ferir os permissivos legais.

Base legal para a formalização: 1.639 do CC, Enunciado 331, da IV Jornada de


Direito Civil - possibilidade de incluir cláusulas patrimoniais no pacto e
Enunciado 80 da Jornada de Direito Notarial e Registral.

Vamos a alguns entendimentos que valem a pena você ter em nota:

• Enunciado 80 da I Jornada de Direito Notarial e Registral – Podem os


cônjuges ou companheiros escolher outro regime de bens além do rol
previsto no Código Civil, combinando regras dos regimes existentes (regime
misto).

• Enunciado 331 CJF, da IV Jornada de Direito Civil, o estatuto patrimonial do


casal pode ser definido por escolha de regime de bens distinto daqueles
tipificados no Código Civil (art. 1.639 e parágrafo único do art. 1.640), e, para
efeito de fiel observância do disposto no art. 1.528 do Código Civil, cumpre
certificação a respeito, nos autos do processo de habilitação matrimonial.

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• A possibilidade de incluir cláusulas existenciais - Enunciado 635, CJF, da VIII
Jornada de Direito Civil

• A possibilidade de incluir cláusulas processuais - Artigo 190 do CPC

• Enunciado 18 da I Jornada de Direito Processual Civil do CJF: “A convenção


processual pode ser celebrada em pacto antenupcial ou em contrato de
convivência, nos termos do art. 190 do CPC”.

O pacto antenupcial também poderá dispor sobre a adoção de um


regime de bens misto, é o chamado PACTO MISTO. Nesse caso mais de um
regime vigorará no casamento.

Exemplo: o regime da comunhão universal única e exclusivamente com relação


ao imóvel [casa], que será o lar conjugal, e estipulando o regime da separação
total de bens como regime dominante do matrimônio e de todos os demais
bens do casal.

*Nesse cenário, se porventura divorciarem, o imóvel ficará em


condomínio entre os dois, já que cada um seria detentor da metade
ideal do bem.

**Caso um dos dois queira comprar a parte do outro, deverá pagar o


valor de mercado correspondente à 50% do bem, sob o qual incidirá o
ITBI, que conforme pesquisa feita na data de hoje, pode chegar até a [
]%, além dos custos de registro para transferência da propriedade para
o comprador.

***Caso um dos dois queira doar a sua parte ao outro, haverá a


incidência do ITCMD, estipulado em [ ] Estado de [ ], sob o valor
correspondente ao valor venal da parte ideal doada, além dos custos
de registro para transferência da propriedade para o donatário.

Outros cenários possíveis a depender do caso concreto:

• regime da comunhão parcial e uma exceção com relação às benfeitorias


realizadas e pagas por um dos cônjuges;
• comunhão universal de bens e exceção dos frutos dos bens doados ou
herdados com cláusula de incomunicabilidade, afastando o artigo 1.669
CC;
• Imóvel financiado.

Vamos ver agora argumentos para você sustentar com o seu cliente sobre a
importância do pacto e o procedimento.

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Precauções e Evitabilidade de Conflitos:

O casal pode especificar quais bens possuíam antes de casar, evitando a


confusão patrimonial e facilitando a compreensão da eventual sub-rogação,
caso não tenha cláusula específica.

Fé Pública:

O documento garante a autenticidade, eficácia e segurança jurídica do ato não


dando margem para questionamentos de terceiros.

Baixo Custo:

O valor dos custos cartorários são tabelados por lei em cada Estado, portanto,
não há qualquer influência quanto ao valor do patrimônio existente.

Segurança:

A questão da propriedade dos bens de cada nubente fica resolvida antes do


casamento, evitando discussões futuras sobre patrimônio.

Local:

O pacto pode ser feito em qualquer tabelionato de notas, independente do


domicílio ou local do casamento, podendo, inclusive ser realizado por meio de
ato digital no E-notariado.

O procedimento a ser adotado será sempre:

1. Lavratura da Escritura Pública no Tabelionato de Notas;


2. Registro dessa no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais
para produção de efeitos no procedimento de habilitação para o
casamento (art. 1.640, parágrafo único, CC);
3. Registro junto ao Cartório do Registro Geral de Imóveis de domicílio
do casal (art. 1.657, CC)

Importante observação é quanto ao regime da separação obrigatória por


imposição legal. Aqui não caberá a realização do pacto antenupcial.
A exceção a esta regra está para as pessoas maiores de 70 anos, que
com o julgado do ARE 1309642 pelo STF neste ano de 2024 se flexibilizou esta
norma cogente para autorizar que essas pessoas a faculdade de optar por
regime diverso do imposto pela lei.

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Agora, vamos às ferramentas para o seu atendimento.

Questionário de Atendimento:

• Quando será a celebração do casamento?


• Os nubentes possuem bens imóveis particulares? Possuem bens
móveis, imóveis? Algum bem recebido de doação?
• Ambos ou algum dos nubentes é empresário?
• Qual o histórico familiar de patrimônio? Existem dívidas preexistentes?
• Como é o relacionamento de cada qual com a família do respectivo e
do outro nubente?
• O casal conversa sobre finanças, já dividem despesas?
• Como cada um se vê daqui 10 anos?
• Pretendem ter filhos?
• Quais os débitos já existentes (observar financiamentos imobiliários,
empréstimos)?
• Existem investimentos (poupança, previdência privada, dentre
outros)?

Checklist dos Documentos¹:

1. Documentos pessoais das partes (RG e CPF);


2. Comprovante de residência;
3. Endereço de e-mail e telefone das partes;
4. Documentos que comprovem a propriedade dos bens que possuírem:
a) Escritura ou promessa de compra e venda de imóvel;
b) Certidão de registro dos imóveis, com inteiro teor da matrícula;
c) Extratos bancários e de aplicações financeiras;
d) Contrato social e balanço patrimonial das pessoas jurídicas;
e) Comprovação de propriedade de todos os bens móveis, como
CRLV de veículos, notas fiscais de bens e joias;
5. Última Declaração de Imposto de Renda;
6. Contratos de Financiamentos e/ou Empréstimos;
7. Saldo devedor;

¹ também para contratos de convivência


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2. Contrato de Namoro

O contrato de namoro busca disciplinar a relação em que vive o casal e


resguardar sua situação patrimonial, e é isto que nos interessa.

No atendimento à clientes interessados neste tipo de contrato, deverá


haver uma análise quanto a relação fática existente entre o casal, se trata-se
de um namoro, namoro qualificado ou já uma união estável.

O namoro é uma relação mais simples, de fácil identificação e que em via


de regra, não terá desdobramentos jurídicos relevantes.

Já o namoro qualificado guarda um tênue limiar com a união estável e


este sim merece atenção. Este é mais duradouro, de amplo conhecimento
público e em alguns casos há até coabitação.

A grande diferença entre o namoro qualificado e a união estável está no


desejo de constituir família, o animus familiae.

Por isso é importante a análise dessa relação e a produção técnica deste


contrato para não configurar uma ilegal tentativa de afastamento das regras da
união estável, que se perfaz com a simples existências das condições do art.
1.723, CC.

A preocupação das partes que geralmente buscam este serviço está em


seu patrimônio, para isso, diante da preocupação majoritariamente patrimonial,
para não ferir os ditames legais e gerar a nulidade do contrato, adotamos a
cláusula “darwiniana”, ou seja, prevê-se no contrato de namoro as
consequências de uma possível evolução do relacionamento.

Assim, caso a realidade fática passe a ser àquela que configura a união
estável (convivência pública, contínua e duradoura e com objetivo de constituir
família), as partes já terão acordado em contrato essa possibilidade, bem como
o regime de bens que disciplinará esta união.

O contrato de namoro:

1. Poderá ter características de contrato preliminar em relação a união


estável, observando o art. 462, CC.
2. Poderá ser por instrumento público ou particular;
3. Deverá atender aos requisitos de validade do negócio jurídico (art. 104,
CC);

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Agora, vamos às ferramentas para o seu atendimento.

Questionário de Atendimento:

• Quanto tempo de relacionamento possuem?


• O relacionamento é público? Como é a percepção das pessoas
acerca do relacionamento?
• Como é o relacionamento de cada qual com a família do outro?
• Moram juntos?
• O casal conversa sobre finanças, já dividem despesas?
• Como cada um se vê daqui 10 anos?
• Pretendem ter filhos?
• Possuem conta conjunta? São sócios em algum empreendimento?
• Possuem bens comuns?
• Existem investimentos comuns (poupança, previdência privada,
dentre outros)?
• Quais os débitos já existentes (observar financiamentos imobiliários,
empréstimos)?
• Qual o objetivo do casal?
• Qual foro para resolver qualquer controvérsia (foro de eleição)?

Checklist dos Documentos:

1. Documentos pessoais das partes (RG e CPF);


2. Comprovante de residência;
3. Endereço de e-mail e telefone das partes;
4. Documentos que comprovem a propriedade dos bens que possuírem
em comum;
5. Contratos de Financiamentos e/ou Empréstimos;
6. Saldo devedor;

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3. Divórcio

O divórcio extrajudicial está regulamentado na Lei n. 11.441/07 e na


Resolução nº 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Atualmente os requisitos legais para sua realização são:

✓ Não haver filho menor;


✓ Não estar a mulher grávida;
✓ Existir consenso entre as partes;
✓ Assistência de advogado.

Apesar disto, caminha-se para cada vez mais conferir celeridade a


resolução das questões relacionadas àquilo que é autonomia da vontade das
partes e, no caso, o divórcio trata-se de um direito potestativo.

Por essa razão já há permissivo para que seja realizado ainda que haja a
existência de filhos menores. Em alguns estados essa modalidade estará
condicionada à resolução judicial das questões relacionadas ao filho menor, em
outros basta que tenham sido ajuizadas as relativas ações, noutros é possível a
realização prestando compromisso de ajuizar as ações num prazo de 30 dias.

Para realização os cônjuges poderão se representados por meio de


procuração pública com poderes especiais com prazo de validade de 30 dias,
assim, é dispensado seu comparecimento para o ato.

Vantagens do Divórcio Direto:

1. Evitar o conflito;
2. Menor custo;
3. Mais célere;
4. Procuração pública evita o comparecimento.

Fundamento legal:

1. Lei n. 6.515/77, art. 2º, inciso IV e parágrafo único, 24 a 33, e


principalmente art. 40 e parágrafos;
2. Código Civil, arts. 1.579 a 1.582
3. Constituição Federal, art. 226, §6o (Alterado pela Emenda
Constitucional no 66/2010).
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3. 1 Divórcio On-line

O divórcio extrajudicial on-line é mais uma possibilidade de realização


do divórcio, adotando para isso a plataforma do e-notariado para autenticação
das partes e validação do ato.

Todo o procedimento será realizado em comunicação entre o advocado e


o cartório escolhido, que poderá ser via e-mail.

Os requisitos legais são os mesmo:

1. Não haver filho menor;


2. Não estar a mulher grávida;
3. Existir consenso entre as partes;
4. Assistência de Advogado.
5. Certificação Digital (E-notariado)²

O cartório escolhido será, obrigatoriamente, o cartório onde uma das


partes residem ou tiverem bens.

Como funciona:

1. Atendimento as partes para composição dos termos do divórcio


(data, partilha, pensão, dívidas, etc);
2. Encaminhar para o cartório escolhido a petição que será analisada e
então confeccionada a minuta de divórcio e agenda
videoconferência;
3. Na videoconferência as partes confirmação sua vontade e será feita a
assinatura digital via E-notariado.

É importante estar atento aos impostos a serem recolhidos em caso da


haver bens a partilhar (ITCMD ou ITBI). Ainda, há ainda os valores dos
emolumentos cartorários relativos à Escritura Pública.

² Como fazer o Certificado Digital Notarizado


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Agora, vamos às ferramentas para o seu atendimento.

Questionário de Atendimento:

• O casal já se encontra separado? Desde quando?


• Possuem filhos? Menores?
• Como deseja regulamentar a guarda dos menores e período de
convivência destes com os genitores?
• Quais são os gastos fixos dos filhos? Como desejam estabelecer a
pensão alimentícia?
• Qual era o regime de bens? Possuem pacto antenupcial?
• Existem bens imóveis particulares? Comuns? Houve sub-rogação de
algum bem?
• Existe proposta de partilha? Em caso positivo, a partilha respeita a
meação? Há necessidade de tributação (ITD OU ITBI) (descrever,
inclusive com valores)
• Existem bens móveis? Como irão partilhá-los?
• Quais os débitos existentes (observar financiamentos imobiliários,
empréstimos)?
• Existem investimentos (poupança, previdência privada, dentre outros)
• Qual a profissão dos ex-cônjuges? Há conhecimento sobre o valor de
remuneração de cada um?
• Há necessidade de fixação de pensão alimentícia para um dos
cônjuges? Existia dependência econômica?
• Algum dos cônjuges adotou o nome do outro?
• Há necessidade de alteração do nome de algum dos cônjuges?

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Agora, vamos às ferramentas para o seu atendimento.

Checklist dos Documentos:

1. Documentos pessoais das partes (RG e CPF);


2. Comprovante de residência;
3. Endereço de e-mail e telefone das partes;
4. Certidão de Casamento Atualizada – validade de 90 dias;
5. Certidão de Nascimento dos filhos, se houver;
6. Plano de partilha, se houver;
7. Pacto Antenupcial, se houver
8. Certidões (atualizadas) e documentos para comprovar
titularidade dos bens
9. Comprovante de pagamento do imposto de transmissão ITD ou
ITBI

Direto do meu Manual do Familiarista:

Divórcio Extrajudicial

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