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Casos práticos: Direito Romano

Contratos reais

1. Em 18 de Fevereiro de 552, Apius, pater familias romano, entregou a Caius 5000 sestércios,
comprometendo-se este a restituir-lhe tal quantia no prazo de um ano. Estabeleceram também que Caius
pagaria juros de 6%. Em 19/2 de 553, Caius ainda não pagara qualquer quantia a Apius. Este pretende
saber o que fazer. Quid iuris?

 O acordo celebrado entre Apius e Caius constitui um contrato de mútuo, contrato real e unilateral
através do qual o mutuário recebe a propriedade de uma coisa fungível obrigando-se a restituir outro
tanto do mesmo género e qualidade (1142º do CC). De facto, estão presentes os dois elementos
constitutivos do mútuo – a datio rei e a conventio -. A primeira consistia na transferência da
propriedade de uma coisa fungível, neste caso dinheiro. A conventio era o acordo das partes em que o
devedor se obrigava a restituir outro tanto do mesmo género ou qualidade.
A relação obrigacional resultante do mútuo de dinheiro era protegida pela actio certae creditae
pecuniae. Mas, se a coisa fungível não fosse dinheiro, o meio de protecção seria a condictio certae rei
(condictio titicaria). Logo, como Caius não restituiu os 5000 sestércios a Apius no prazo acordado, este
devia recorrer ao pretor para que este lhe concedesse uma actio certae creditae pecuniae.
A obrigação de pagar os juros acordados era tutelada, não pelas acções referidas, mas pela concessão
de uma acção autónoma pelo pretor (a actio stipulatio usurarum). Na época romana, os juros podiam ir
até 12%; porém, na época justinianeia, podiam atingir apenas os 6%.

2. Em 85 ac, Ticius pediu emprestado a Sentronius 20000 sestércios para poder iniciar um negócio de venda
de tecidos. Como tinha receio de que o negócio não tivesse sucesso, Sentronius só emprestou o dinheiro
mediante a aquisição da propriedade de um escravo, pertencente a Ticius, chamado Bada, o que foi
concretizado através da competente mancipatio. Na data estipulada para a restituição do dinheiro, Ticius,
cujo negócio se revelou um sucesso, pagou os 20000 sestércios e Sentronius restituiu Bada, mas também
exigiu o pagamento de 1000 sestércios que gastara com tratamentos médicos que tinham salvado a vida de
Bada quando este sofrera uma queda. Perante a recusa, Sentronius consultou o pretor. Quid iuris?

 Tal como resulta do enunciado, Ticius apenas entregou o escravo a Sentronius porque este tinha
receio de que o negócio que aqule queria iniciar não fosse bem sucedido, logo, resulta com
clareza que estamos perante uma fidúcia, ou seja, um contrato real no qual o fiduciante, Ticius,
utilizando um negócio jurídico formal – a mancipatio ou a in iure cessio – transfere a propriedade
de uma coisa para um fiduciário, que se obrigava a restitui-la depois de realizado o fim definido
no pactum fiduciae, um acordo não formal. No caso vertente, essa finalidade contida no PF foi o
de garantir uma obrigação, pelo que estamos perante uma fiducia cum creditore. Outras
finalidades que podiam ser prosseguidas com a fiducia como a constituição de um depósito ou de
um comodato, antes do reconhecimento destes contratos, a emancipação de um filius familias, a
manumição de um escravo ou a realização de uma acção. Nestes casos, temos a chamada fiducia
cum amico. O fiduciante estava protegido pela actio fiduciae e o fiduciário estava protegida pela
actio fiduciae contraria, com o objectivo de reclamar gastos feitos na res e ressarcir-se de danos
sofridos.
Ou seja, uma vez cumprida a obrigação de Ticius, cabia a Sentronius restituir o escravo cuja
propriedade lhe fora transmitida para garantir a mesma obrigação. Mas como fizera despesas na
coisa, Sentronius tinha também o direito de exigir o seu valor ao fiduciante através da actio
fiduciae contraria, e direito a reter o escravo enquanto não lhe fosse pago a quantia, o ius
retentionis. A fiducia era um contrato real.

3. Em 570, Pompilius, pater familias romano, viu a sua casa ser destruída por uma inundação. Chocado com a
situação, o seu amigo Rufus de imediato disponibilizou uma moradia de que era proprietário e que estava
desocupada para que P e a sua família para lá fossem viver até ao fim do Inverno . Alguns meses depois,
Rufus descobriu que, na realidade, Pompilius estava a explorar na casa um estabelecimento de vinhos e
petiscos, o que muito contribuia para a degradação do imóvel.

a) Teria Rufus o direito de reagir contra tal conduta de P?


Atendendo à situação que gerou a entrega da casa a P e nada se dizendo em contrário, tudo leva a crer
que R o fez gratuitamente. Deste modo, a factualidade do caso concreto revela que foi celebrado um
comodto, contrato real, bilateral imperfeito, mediante o qual o comodantye entrega gratuitamente a posse,
assim se distinguindo da locação, uma res móvel ou imóvel ao comodatário para que este a use segundo o
modo acordado e a restitua no fim do prazo acordado (1129º a 1141º do cc). O contrato de comodato
gerava as seguintes obrigações para o comodatário: eram obrigações do comodatário – usar a res segundo o
que fora expresso ou tacitamente acordado, não deteriorar a res, restituir a res nas condições em que foi
acordado. Tendo a res sido emprestada para habitação do comodatário e da sua família, torna-se claro que
Pompilius não cumpriu a obrigação a que estava adstrito de não usar a res para fins diferentes do que foi
convencionado, o que constituiu, aliás, um furto de uso; também as deteriorações provocadas no imóvel
constituiam uma infracção contratual, podendo dar origem a uma responsabilização do comodatário a
concretizar através da actio comodati.

b) E se caso tivesse sofrido avultados danos decorrentes de uma tempestade, danos esses que tinham
sido reparados por Pompilius?
O comodato era um contrato bilateral imperfeito, pelo que poderiam surgir, eventualmente, durante a
execução do contrato, para o comodante duas obrigações: ressarcir gastos que o comodatário tenha feito na
res para a conservar e ainda indemnizar os danos que a res eventualmente tenha causado ao comodatário.
Assim, uma vez que P tinha feito despesas relativas à preservação da res, podia solicitar ao pretor uma
actio comodati contraria para ver as despesas ressarcidas por R.

4. Em 28 ac, M, pater familias romano, teve de se ausentar da sua residência em Pavia para tratar de negócios
no Oriente. Como vivia sozinho, confiou durante a sua ausência ao seu vizinho e amigo L uma taça em
ouro de que era proprietário e que tinha medo que fosse subtraída de sua casa. L aceitou o encargo
atendendo à enorme amizade existente entre ambos.

 Pouco tempo depois da partida de M, L deixou a porta de sua casa prepositadamente aberta para que
um terceiro de lá subtraísse a taça. Ao regressar, M pretende responsabilizar o amigo. Quid iuris?
Dos elementos do enunciado conclui-se que os dois amigos celebraram um contrato de depósito, em
que o depositante, M, entregou ao depositário, L, uma coisa móvel para que este a guardasse. O
depósito era um contrato real bilateral imperfeito, além de ser de boa-fé. Verifica-se ainda outro
elemento essencial do depósito –a gratuicidade. De facto, L nada recebeu em troca, tendo guardado a
peça apenas por amizade a M. Sendo obrigação do depositário a guarda da coisa e a sua restituição
no final do período convencionado, L acabou por não cumprir aquela obrigação. M deveria recorrer
ao pretor para que este lhe concedesse uma actio depositi, que era um meio adequado de
responsabilização contratual do depositário.

 Suponha agora que a taça não fora furtada, mas que L a usara em diversas festas de que fora
anfitrião, numa das quais a deixou cair ao chão, o que lhe provocara uma rachadura. Como pode
reagir M?
Era obrigação do depositário restituir a res nas mesmas condições em que a recebeu e deste modo M
deverá utilizar a actio depositi para conseguir a responsabilização do depositário.

5. Em 300, P , pater familias romano, pediu emprestado a L 3000 sestércios. Como garantia da dívida, o
irmão de P, V, efectuou a favor de L a traditio de uma égua, da qual era proprietário. No prazo acordado, P
pagou os 3000 sestércios e L restituiu a V a égua, ms não o fez relativamente a um potro entretanto nascido
daquela. Inconformado, Valerius consultou o pretor.

 O contrato celebrado entre P e L era um mútuo, mas importa qualificar a relação que se estabeleceu
entre L e V. Tal relação foi constituída pir um contrato de penhor – contrato bilateral imperfeito
na qual o devedor da relação garantida, ou como sucede neste caso, um terceiro, entrega ao
credor uma res com a finalidade de garantir a obrigação. O credor da obrigação garantida torna-
se possuidor da res, mas em nome de quem a entregou, não adquirindo a propriedade. Assim,
temos o penhor como contrato real, pois para a sua perfeição é necessário a traditio da res. O
credor da obrigação que se pretende garantir adquire em virtude do penhor um direito sobre a res;
sobre o credor pignoratício recai também a obrigação de conservar e restituir a res depois da
extinção da relação garantida, o que inclui as acessões e os frutos da res. Se a obrigação garantida
não for cumprida, o credor pode proceder à venda da res devendo restituir o excedente do preço.
Deste modo, conclui-se que Valerius tinha razão para recorrer ao pretor a partir do momento em
que a obrigação foi cumprida; o credor pignoratício, L, devia restituir a égu ao seu proprietário,
bem como todos os frutos por ele gerados, o potro incluido.

Contratos consensuais

1. Suponha que B vendeu um cavalo a T por 4000 sestércios. Para espanto do comprador quando este já não
estava na posse da res, Valerius opôs-lhe com êxito uma sentença na qual reconhecia que era ele o
verdadeiro proprietário do cavalo.

 Como poderia T reagir?

A compra e venda é um contrato bilateral perfeito e sinalagmático através do qual o vendedor se


obrigava a transferir para o comprador a posse de uma res e a assegurar-lhe o seu gozo pacífico,
obrigando-se o comprador a transferir ao vendedor uma determinada pecunia (pretium). Para o
vendedor surgia a obrigação de transferir a posse (compra e venda tinha efeitos meramente
obrigacionais). Como elementos da compra e venda temos: 1) conventio (acordo das partes) em que o
vendedor se obriga a transmitir a posse livre e pacífica da res, e o comprador se obriga a pagar o preço ;
2) res (objecto vendido); 3) Preço ( que devia consistir em pecunia, devia ser certo e determinável e, no
direito justinianeu, justo). Sendo um contrato bilateral, surgiam obrigações para ambas as partes. Sobre
o vendedor impendiam as seguintes obrigações: transferir a posse livre e pacífica da res; o comprador
podia mesmo exigir a realização dos negócios que transferissem para si a propriedade. Por outro lado,
o vendedor respondia ainda por evicção na sequência de uma sentença que reconheça a propriedade,
por terceiros, sobre ou a titularidade de um penhor ou servidão. No respectivo processo, o comprador
devia requerer a presença do vendedor para que este a defendesse, evitando a evicção. No caso
apresentado, o comprador sofreu a perda da coisa em virtude do recongecimento do direito de
propriedade de V, não tendo o vendedor evitado a sentença desfavorável quando isso foi requerido.
Logo, o comprador podia responsabilizá-lo pela evicção.

 Abstraindo do direito de propriedade sobre o cavalo e o seu titular, como poderia também T reagir
se alguns dias após a compra descobrisse que o cavalo sofria de uma doença oculta que o tornava
inútil para qualquer finalidade.
Além das obrigações já referidas, o vendedor devia suidar da res até à sua entrega e respondia pelos
vícios ocultos da res. Esta responsabilidade por vícios não aparentes que afectavam as coisas,
especialmente escravos e animais, foi aperfeiçoada e disciplinada pelos edis curuis, que estabeleciam
no seu edictum que o vendedor devia declarar aquando da conclusão do negócio os vícios ocultos da
res. Se os defeitos não declarados se manifestassem depois da celebração do contrato, o comprador
podia demandar o devedor com uma de duas acções:
 Actio redibitória: produzia a resolução da compra e venda e a condenação do vendedor ao
pagamento do dobro da pecunia recebida, a menos que quisesse restituir o preço com juros.
Devia ser intentada no prazo de dois meses a contar do momento em que o vício se manifestava.
 Actio quanti minoris: permitia ao comprador obter uma diminuição do preço proporcional
à diminuição do valor da res devido ao vício oculto. Devia ser intentada no prazo de seis meses a
contar do momento em que o vício se revelou.

 Suponha agora que, não tendo qualquer vício, morria fulminado por um raio antes de o preço ser
pago ao vendedor.
Eram obrigações do comprador: transmitir a propriedade do preço ao vendedor e pagar juros se o
não fizesse após certo tempo a contar da data da recepção da res; receber a res a pedido do vendedor,
caso contrário incorria na obrigação de ressarcir os danos causados pelo atraso; reembolsar o vendedor
pelos gastos feitos na conservação da res; responder pelo risco de perda ou deterioração da res. A
morte do cavalo fulminado por um raio não desvinculava o comprador de pagar o preço ao vendedor.

2. Em 4 ac, P cedeu a C, por um mês, uma alfaia agrícola de que era comodatário pela quantia de 50
sestércios. No último dia do prazo, C não restituiu a alfaia.

 Verificam-se os elementos essenciais do contrato de locação de coisa –locatio conductio rei – e esses
elementos eram quatro: consensus – acordo das partes – no sentido de o locador proporcionar ao
locatário o gozo temporário da res; objecto, que consistia numa res não consumível cedida ao
locatário para este a usar segundo o modo acordado durante certo tempo; merces, que era a contra
prestação devida pelo uso da res devia, em princípio, traduzir-se numa pecunia; tempo, a utilização
da res devia ocorrer durante o prazo acordado. O locador estava obrigado a : proporcionar ao
locatário o livre gozo da res locada durante o tempo e nas condições acordadas; fazer as reparações
necessárias para evitar a deterioração ou destruição da res; ressarcir o locatário dos gastos feitos em
reparações necessárias. Obrigações do locatário: pagar a merces, conservar a res em boas condições,
e dela não fazer um uso reprovável; restituir a res no final do prazo acordado; ressarcir o locador por
danos causados na res. C violou, assim, a obrigação de restituir a res quando o prazo da locação
terminou, pelo que o locador podia intentar contra ele a actio locati. Para tutelar a posição do
locatário existia a actio conducti.

3. Em 146 ac, I, P e S acordaram entre si explorar um estabelecimento de petiscos situado em Ravena. I


cedeu um prédio de que era proprietário onde o estabelecimento foi aberto; P contribuiu com os
utensílios de cozinha e algum dinheiro; S ficou encarregado de cozinhar e atender os clientes.
Convencionaram que todos os ganhos alcançados seriam repartidos em partes iguais pelos três, mas que
eventuais perdas seriam partilhadas na proporção de ¼ pra I e para P e de ½ para S.

 O negócio revelou-se um fiasco, tendo originado perdas enormes. S pretende que todos
respondam por elas na mesma medida. Terá razão?
O acordo celebrado entre os três traduz-se num contrato de sociedade, estando presentes os
elementos que o caracterizam: consensus (acordo de vontades; tal acordo era suficiente para a perfeição
do contrato já que a sociedade era um contrato consensual); o objecto, que e constituído por três
elementos: res, opere, res e opere (coisas, actividade manual, coisas e actividade manual); finalidade – as
partes vão realizar um interesse comum que deve ser lícito e susceptível de constituir uma utilidade ou
vantagem patrimonial para todos os sócios. Não produz efeitos o acordo de constituir uma sociedade que
reserve os ganhos para uns sócios e as perdas para os outros – o chamado Pacto Leonino. Isto não se
confunde com a participação desigual nos ganhos e nas perdas, que foi precisamente o que os três sócios
convencionaram, pelo que a S nada mais restava que arcar com metade das perdas.

 Algum tempo depois da abertura, P comprou a C 10 porcos cuja carne se destinava ao consumo
dos clientes. Como nunca foi pago o preço acordado, C pretende demandar os os três empresários.
Quid iuris?
O contrato de sociedade não criava uma pessoa jurídica distinta dos sócios nas relações
obrigacionais entre a sociedade e terceiros, mas sim créditos e obrigações de cada sócio para com
terceiros. Se um dos sócios celebrou um contrato com terceiros, a relação obrigacional é entre eles. Se
foram todos os sócios a celebrar um contrato com terceiros, a relação considera-se assumida de modo
proporcional pelos sócios ou se o acordo social assim o estabeleceu originar-se-á uma responsabilidade
solidária. No caso, foi apenas P quem assumiu obrigações para com C, sendo só aquele a responsabilizar-
se. Eventualmente, P poderia tentar ceder aos outros sócios a responsabilidade pela dívida, visto que
actuou como gestor ou mandatário da sociedade.

4. Tulius, pater familias romano, adoeceu repentinamente, ficando assim impossibilitado de se deslocar
a um local longínquo para vender azeite, tal como normalmente fazia. Por isso, pediu ao seu amigo P
para vender a mercadoria por sua vez. P aceitou de imediato. O que T ignorava é que P com a idade
perdera as suas qualidades de negociente e foi com espanto qu veio a saber que aquele a quem tinha
confiado o azeite vendera-o por um preço muito inferior ao normal.

 Poderia T reagir? Se sim, como?


 Suponha que o azeite vendido estava rançoso e o comprador pretende reagir. Como deverá
actuar?

Direito Romano

Actio: é um meio de protecção dos direitos subjectivos, reconhecidos previamente pelo ordenamento jurídico
( actio civilis ou actio in ius conceptae), ou então, são meios que protegem situações de facto que o magistrado
considera dignas de protecção.
È um mieo de protecção de direitos subjectivos, previamente reconhecidos pelo ordenamento jurídico, ou então um
meio que protégé situações de facto que o magistrado considerou previamente como dignas de protecção.
Quanto à natureza do direito tutelado:

Actio in rem: aquela através da qual se defendiam direitos sobre coisas, ou então, faculdades derivadas de relações
familiares ou sucessórias. Contém a afirmação absoluta e categórica de um direito, podendo ser intentadas contra
qualquer pessoa que lese esse direito.

Actio in personan: é aquela que afirma um dever assumido pelo demandado e, por isso, apenas pode ser
demandado quem se obrigou a dare, facere ou prestare.

È uma acção mediante a qual se defendiam direitos sobre coisas ou faculdades derivadas de relações familiares ou
sucessórias, que contém a afirmação absoluta e categórica de um direito, pelo que pode ser intentada contra
qualquer pessoa que o lese.

È uma acção pela qual se afirma um dever assumido pelo demandado, pelo só pode ser demandado quem se
obrigou a dare, facere ou prestare.

Meio de protecção de direitos subjectivos, previamente reconhecidos pelo OJ (actio civilis ou actio in ius
conceptae) ou meio que protégé situações de facto que o magistrado haja previamente considerado como dignas de
protecção

Acção pela qual se defendiam direitos sobre coisas ou faculdades derivadas de relações familiares ou sucessórias,
que contém a afirmação absoluta e categórica de um direito e que pode ser intentada contra qualquer pessoa que o
lese.
Acção pela qual se afirmava um dever assumido pelo demandado, pelo só pode ser demandado quem se obrigou a
dare. Facere ou prestare.

Direitos reais:

Podem ser invocados contra qualquer pessoa, as suas faculdades podem realizar-se sem a cooperação de outras
pessoas, a sua obrigação é universal (vincula todas as pessoas) e de conteúdo negativo.

Direitos de crédito: só podem ser invocados contra quem assumiu uma obrigação, a sua satisfação depende da
cooperação do devedor, a obrigação tem geralmente carácter positivo.

Negócios jurídicos de direito estrito: são negócios que geram obrigações de conteúdo bem determinado, que deve
ser observado rigorosamente.

Actio stricti iuris: são as acções pelas quais se exigia o cumprimento dos negócios de direito estrito. Nelas, o juiz
limitava-se a observar a existência ou não de obrigações, sem ter em conta quaisquer outras circunstâncias que
hajam influenciado a obrigação.

Negócios de boa-fé: são aqueles que geram obrigações cujo conteúdo não estava completamente determinado pelo
acordo das partes, pelo que o devedor estava obrigado a tudo aquilo que é exigível a uma pessoa leal e fiel e
atendendo às circunstâncias do caso concreto.

Actio directa: era aquela que se aplicava às pessoas e circunstâncias para que for a criada.

Actui útil: era aquela que era concedida como extensão de outras acções pensadas para outras pessoas e outras
circunstâncias.

Actio: é um meio de protecção de direitos subjectivos, previamente reconhecidos pelo OJ (actio civilis ou actio in
ius conceptae), ou um meio que protégé situações de facto que o magistrado haja considerado como dignas de
protecção (actiones praetoriae ou actio in factum conceptae).

Natureza do direito tutelado:


Actio in rem: são acções pelas quais se defendiam direitos sobre coisas ou faculdades derivadas de relações
familiares ou sucessórias, que contém a afirmação absoluta e categórica de um direito, pelo que podem ser
intentadas contra qualquer pessoa que os lese.

Actio in personan: são acções pelas quais se afirma um dever assumido pelo demandado, pelo que só pode ser
demandado quem se obrigou a dare, facere ou prestare.

Características do direito de crédito: só podem ser invocados contra quem contraiu a obrigação ou contra os seus
herdeiros, a sua satisfação depende da cooperação do devedor, a sua obrigação tem geralmente um conteúdo
positivo

Direitos reais: podem ser invocados contra qualquer pessoa que os lese, as suas faculdades podem realizar sem a
cooperação de outras pessoas, a obrigação gerada é universal e de conteúdo negativo.

Negócios jurídicos de direito estrito: geram obrigações com um conteúdo bem determinado que tinha de ser
observado rigorosamente. As actio stricti iuris são aquelas pelas quais se exige o cumprimento de um negócio de
direito estrito, pelo que o juiz limitava-se a observar a existência ou não de obrigações, sem ter em consta outras
circunstâncias que tenham influenciado o acordo de vontades (por exemplo, o vício de vontade ou o pacto non
petendo).

Negócios de boa fé: são aqueles negócios que geram obrigações cujo conteúdo não está totalmente determinado
pelo acordo das partes, pelo que o devedor estava obrigadoa tudo aquilo que é exígivel a uma pessoa leal e fiel,
atendendo às circunstâncias concretas em que a vontade foi formulada.

Actio directa: são aquelas acções que são aplicadas às pessoas e nas circunstâncias para as quais foram criadas.
Actio útil: são aquelas acções que implicam uma extensão da sua aplicação para além das pessoas e circunstâncias
que estiveram na génese da sua criação.

O sistema das legis actiones é característico da época arcaica (753 ac- 130 ac), e nele pela primeira vez a justiça foi
ordenada sob a direcção e controlo da autoridade estatal. È composto por duas fases: pelo “in iure” ( em que se
atenta à matéria de direito) e pelo “apud iudicem” (onde se atendia à mateéria de facto). O in iure era presidida por
um magistrado , o pretor, que, ouvidas as alegações das partes, concedia ou não as respectivas actiones civilis, não
podendo, pois, extrapolar a rigidez do ius civile. A parte fulcral desta primeira fase é a littis contestatio, um acordo
oral pelo qual as partes aceitavam submeter-se à decisão do juiz preivado que escolhiam. No apud iudicem, cabia
então ao iudex privado proferir uma sentença consoante, ouvidas as testemunhas, se fizesse prova ou não da
matéria de facto.

O sistema do agere per fórmulas é característico da época clássica e, tal como o precedente, é também composto
por duas fases: o in iure, em que se atende à matéria de direito, e o apud iudicem, relativo á matéria de facto. O in
iure é presidido por um magistrado, o pretor, que ouvidas as alegalções das partes, concedia as respectivas actiones
civilis – meios de protecção de direitos subjectivos, previamente reconhecidos pelo OJ- ou praetoria – meios que
protegem situações de facto que o magistrado considerara no seu edictum como dignas de protecção- , o que lhe
permitia extrapolar a rigidez do ius civile, promovendo o desenvolvimento do próprio ius romanum. O núcleo
fundamental deste sistema é a fórmula, peça escrita onde fixavam os termos precisos do processo e que marcava a
transição de uma fase á outra do processo. Assumia a forma de proposição condicional ou hipotética dirigida pelo
Pretor ao Juiz, para que este caso se provassem certos fctos, condenasse, ou para que, caso deles não se fizesse
prova, absolvesse. NO apud iudicem, o juiz ouvia as testemunha e proferia uma sentença consoante as instruções
enunciadas pelo pretor na fórmula.

Personalidade jurídica: é a possibilidade reconhecida pela ordem jurídica de se ser titular de se ser de direitos e
obrigações (trata-se de um conceito puramente qualitativo diz-nos

Ius praetorium: parte substancial do ius honorarium (direito romano não civil), o ius praetorium é o direito criado
pelos sucessivos pretores urbanos – magistratura criada em 367 ac -, fixado nos edictum que estes apresentavam no
ínicio da magistratura (o edictum era um documento escrito, que tinha a validade de um ano, onde estavam
contidas as situações de facto a que o pretor concedia protecção através de um conjunto de expedientes,
nomeadamente através das actiones praetoria. Era natural que o magistrado que substituisse o anterior consagrasse
no seu edictum uma parte do magistrado que cessou funções – edictum translatio - , sem prejuízo das
modificações que usasse oportuno acrescentar – edictum novum), cuja finalidade era, pelo menos desde a a
introdução do sistema processual do agere per formulas, interpretar, corrigir e actualizar o ius civile, adaptando-o à
realidade política e sócio-económica. O pretor urbano dispunha, pois, de vários poderes: a potestas – poder de
representar o povo romano- , a iurisdictio – poder de administrar a justiça – e o imperium – poder de actualizar e
corrigir o ius civile. Para poder realizar este último, por sua vez, o pretor dispunha de vários expedientes, como as
já referidas stipulationes ou actiones praetoria, meio que protégé situações de facto, previamente consideradas pelo
pretor como dignas de protecção, a restitutio in integrum, através da qual procede à resolução de contratos ou
obrigações assumidas, a missio in possesionem, mediante a qual outorgava a interinamente a uma pessoa a posse de
determinados bens, ou os interdicta, pelos quais resolvia momentaneamente um conflito. Exemplos da flexibilidade
e da abertura do ius praetorium são o officium pietatis – mediante o qual se restringiu a liberdade de testar do pater
familias, garantindo ao filhos emancipados uma quota parte da herança – a uso capião, que permitiu a aquisição da
propriedade de um bem ao possuidor ao fim de dois anos.

Ius gentium: por força da massificação das relações comerciais e da chegada de milhares de estrangeiros a Roma,
os negócios jurídicos passaram a celebrar-se não só entre cives, mas também entre cives e peregrini, pelo que em
242 ac, ainda na época arcaica, é criada a magistratura do pretor peregrino, cuja função era precisamente a de
administrar a justiça entre ambos. O ius gentium nasce, portanto, não só da realização de tratados internacionais,
como do reconhecimento da existência de normas de ius civile que não são património exclusivo dos cidadãos
romanos, ou seja, que são parte da razão natural (naturalis ratio) pelo que constituem direito que todas as gentes
utilizam. Aos institutos de ius civile, geralmente formais e rígidos, opõe-se a comodidade e a simplicidade dos
institutos do ius gentium, simples e elásticos e cuja força vinculativa se inspira não raras vezes na bona fides e na
aequitas (como, por exemplo, a escravatura, as manumissiones, o parentesco sanguíneo, o diminium, tutela dos
impúberes). Existentes mas raros são, não obstante, os institutos típicos de outros povos recebidos pelos ius
romanum. Destacam-se a enfiteuse e o foenus nauticum. Com a concessão da cidadania romana a todo o império,
por Caracala, em 212 ac, o ius gentium acaba por desaparecer,, muito embora seja um conceito cuja influência não
se esgota em Roma, sendo possível considerá-lo um fundamento do direito internacional público moderno.

Ius naturale: antes da época justinianeia, é o direito fundado na ordem natural das coisas; com justiniano, o direito
natural é entendido, em sentido eminentemente teológico, como ordem establecedida pela providência divina que
permanece sempre firme e imutável.

Ius commune /ius singulare: o ius commune é um direito de carácter geral, ou seja, é composto pelas normas
jurídicas que instituem o regime regra e que, portanto, são aplicáveis a uma série ilimiatada de casos
genericamente pré-fixados. O ius singulares é composto por aquelas normas fixam para um tipo específico de
situações um regime oposto ao regime regra, por essa especificidade o exigir e pela utilidade que resulta dessa
oposição. Ao contrário da doutrina actual, os jurisconsultos romanos nunca recusaram a aplicação analógica do ius
singulare, muitas vezes chegando mesmo a convertê-lo em ius commune. São exemplos de ius singulare: a
possibilidade dos militares poderem realizar o testamento sem respeitar alguns dos trâmites legais que são exigidos
no ius commune; o velleinum, ié, a impossibilidade das mulheres intercederem pelos homens, que contraria a
intersectio, norma de direito commune que estabelece a possibilidade de alguém responder pela dívida de terceiro.

Negócio jurídico: são actos jurídicos voluntários que a OJ reconhece efeitos jurídicos que se pressupõem desejados
pelos contraentes, ou seja, que correspondem à vontade das partes envolvidas.

Actos jurídicos: são actos voluntárioscujos efeitos jurídicos, embora havendo declaração de vontade, não são
determinados por ela, decorrendo da própria lei.

Negócios jurídicos unilaterais: são aqueles negócios em que existe apenas uma declaração de vontade, ou várias de
sentido paralelo ou concorrente, pelo que os contraentes constituem um só lado ou uma só parte.

Negócios jurídicos bilaterais ou contratos: são aqueles negócios em que existem duas ou mais declarações de
vontade, de sentido oposto, que convergem no sentido de produzir um resultado jurídico unitário.

Fontes de ius civile:

Costume: no ius romanum, é possível distinguir três acepções para o costume. Nos primeiros séculos, o ius
romanum era essencialmente constituído pelos mos ou mores maiorum, ou seja, por uma “tradição de comprovada
moralidade”, ou dito de outra forma, por aquelas normas jurídicas religiosas e morais que insensivelmente foram
engrossando o património de crenças e valores da antiga sociedade. A indissociabilidade entre direito, moral e
religião fazia com que apenas os sacerdotes pontífices tivessem legitimidade para revelar os mores maiorum; Já a
consuetudo é a designação de costume típica da época pós-clássica, como meio para enfrentar as constituições
imperiais. O seu significado é o mesmo do costume actual, enquanto tacitus consensus populi, ié, enquanto prática
reiterada e usual praticada com a convicção da sua obrigatoriedade ou da sua juridicidade. Já o usus, muitas vezes
confundido com a consuetudo, é o hábito de agir sem que isso constitua uma obrigação ou mesmo um simples
dever. O imperador Séptimo Severo considerou o costume a fonte jurídica a atender em caso de ambiguidade
legislativa; porém, mais tarde, Costantino viria a proibir o costume contra legem, subordinando-o totalmente às
constituições.

Lex rogata: é uma declaração solene de valor normativo feita pelo populus a pedido dos magistrados. Precisando,
os magistrados, mais precisamente os cônsules – os únicos com autoridade para convocar os comiti, ou seja os
únicos com “ius agendi cum populus” – apresentavam uma proposta de lei que era submetida á aprovação do
populus, reunidos nos comitia, para que se tornasse lei. Subjaz, então, a lex rogata um acordo entre os três orgãos
constitucionais da res publica: o senado, o povo e os magistrados. A lex rogata é, portanto, a lei que o povo
ordena e constitui, a única lei pública. A sua perfeição exige um rigoroso respeito por um conjunto de fases: a
promulgatio – afixação da proposta de lei em local público e durante três semanas (“triandinum”), para que o
populus tomasse conhecimento do seu conteúdo - , as conciones – reuniões do povo em praça pública, com
carácter informal, para discutir a proposta de lei e apresentar alterações -, a rogatio – pedido que o magistrado
dirige à assembleia no sentido da aprovação da proposta – a votação do populus nos comitia, da qual pode resultar
a aprovação ou o veto da proposta, sendo que todas as alterações propostas acarretarão o reinício de todo o
processo de perfeição da lei (a votação, de início oral, passou a processar-se, desde a promulgação da Lex Papiria
Tabellaria, de 131 ac, por escrito e mediante voto secreto) – à aprovação da lei seguia-se a confirmação pelo
Senado com a concessão da auctoritas patrum (com a Lex Pubilia Philonis, de 339 ac, o Senado passou a votar
antes dos comitia); por fim, a lex era afixada no Fórum para que todos pudessem analisar o seu contéudo e atender
ao seu conteúdo. A lex rogata era constituída por uma praescriptio (um prefácio onde estavam o nome do
magistrado proponente, a data e local, a tribus, cúria ou centuria que houvesse votado primeiro e o nome do
cidadão que abrira a votação), por uma rogatio (parte dispositiva da lei) e por uma sanctio (parte da lei onde eram
mencionados os termos da condenação em caso de não observância do disposto na lei). As lex romanas podiam
ser, no que tocava à sanctio: perfectae ( caso a sua violação acarretasse a nulidade dos efeitos produzidos e uma
sanção para o autor), minus quam perfectae (violação acarretava sanção para o autor, mas não a nulidade dos
efeitos entretanto produzidos) e imperfectae (caso não acarretasse nem sanção para o autor, nem a nulidade dos
efeitos produzidos).

Plebiscitum: é uma deliberação da plebe que, reunida nos concilia, assembleia composta unicamente por plebeus,
aprova uma proposta do triabunus plebis. Os pebliscitos aprovados não tinham, inicialmente, valor vinculativo; só
em 449 ac, com a Lex Valeria Horatia de pebliscitis passaram a ter força vinculativa, muito embora apenas para os
plebeus; já em 287 ac, a Lex Hortentia de pebliscitis, a força vinculativa foi estendida igualmente aos patrícios.
Desta forma, equiparam-se às lex rogata, distinguindo-se destas apenas devido ás fontes existendi.

Senatusconsultum:como a própria designação indica, o senatusconsultum é uma consulta feita ao Senado, ou pelo
menos foi esse o seu primeiro entendimento. De facto, apesar de não estarem obrigados a seguir as orientações
fornecidas pelo Senado, os magistrados estavam adstritos a pelo menos ouvir a sua opinião. Neste sentido, e pelo
exposto, os senados não tiveram, pelo menos até ao século I ac força vinculativa. A sua função estava reduzida à
concessão da auctoritas patrum necessária à perfeição da lex rogata e a certas recomendações feitas a magistrados
com “ius agendi cum populu”. O principado de Augusto veio alterar o status quo: de facto, o primeiro imperador
romano, no intuito de recompensar o Senado pelos poderes e apoio outorgado, torna os senatusconsultos fonte
imediata de direito, com força vinculativa, colocando-os a par da lex rogata e dos pebliscitum. Com estas medidas,
Augusto realiza três objectivos essenciais: não só confina o Senado a uma função legislativa, como diminui a
importância dos comitia e dos concilia como únicos órgãos com poder legislativo, para além de garantir a
aprovação das suas directrizes no Senado. A partir de Adriano, séc, II dc, já não era o Senado que estabelecia a
norma, mas o próprio imperador que num discurso oral – a oratio- propunha determinadas medidas sistematica e
invariavelmente aprovadas pelo Senado. Além disso, foi também a partir desta data que os magistrados – entretanto
tornados meros funcionários do imperador – deixaram de poder apresentar propostas legislativas, pelo que os
senatusconsultum deixavam definitivamente de ser expressão da vontade do Senado para passarem a ser
unicamente o produto da vontade do Imperador (“orationes principis senatu habitae”). No século III, já se
designavam apenas “orationes principis” deixando antever o absolutismo que se seguiria e a concentração no
imperador de toda a actividade legislativa.
Constituições imperiais: é a lei em que se manifesta directamente a vontade do imperador, no sentido em que este
não necessita da cooperação nem do senado, nem do populus. As CI nem sempre tiveram o mesmo valor: na
verdade a sua importância foi crescendo deste o início do principado até ao século IV, já em pleno absolutismo. Até
ao século II, as CI têm valor jurídico de ordem prática, ou seja, não têm força de lei nem são a ela equiparadas,
muito embora sejam na prática obedecidas graças ao prestígio e auctoritas de que goza o imperador. No século II,
são equiparadas às leis, ié, têm força de lei sem contudo ainda o serem ; no século III, já são leis, e a partir do
século IV, não só são leis, como são a única fonte de criação de ius novum. No entanto, à medida que o mérito dos
imperadores foi decaindo, também as suas constituições passaram a conter injustiças e imperfeições cada vez mais
graves, razão pela qual os juízes recusavam a sua aplicação nos tribunais. É neste período, já em época pós-
clássica, que se reinicia o fulgor do costume (consuetudo) como fonte de direito, já que os juízes passaram a
recorrer ao tacitus consensus populi para fundamentar a não aplicação das constituições imperiais. Este litígio teria,
no entanto, um fim, quando os imperadores passaram a impor penas duríssimas, inclusivé a morte, para os juízes
que se abstivessem a aplicar as CI.
As CI podiam de ser vários tipos: os edicta (disposições de carácter geral aplicáveis em todo o império), os decreta
(decisões judiciais proferidas pelo imperador sobre casos concretos que lhe eram submetidos, mas que também
eram aplicáveis em situações análogas), rescripta (respostas dadas pelo imperador por escrito às perguntas dirigidas
por funcionários, magistrados ou particulares), ou os mandata (ordens ou instruções dadas para o imperador aos
governadores das províncias).

Jurisprudência: a iurisprudentia romana é o conjunto dos pareceres e opiniões dos jurisconsultos, o que hoje se
designa por doutrina jurídica. Por outras palavras, a iurisprudentia é a ciência do direito, a ciência prática do justo e
do injusto, dado que o mundo do direito é o mundo dos valores e do saber-agir. Se a ciência do direito é a
iurisprudentia, os cultores desta ciência são os prudentes (os que sabem agir). São funções dos iurisprudentes: o
respondere – é a função mais importante e consiste na resolução dos casos práticos através de pareceres, os
responsa, a particulares ou magistrados - , o cavere – aconselhamento dos particulares sobre o modo como estes
deviam realizar os seus negócios jurídicos (palavras sacramentais a pronunciar, cláusulas a atender, documentos a
redigir), e o agere (aconselhamento dos particulares em matéria processual – fórmulas a empregar, palavras a usar,
prazos a respeitar). Naturalmente, durante os primeiros séculos da época arcaica, onde proliferava a indefinição
normativa no que tocava aos domínios do direito, moral e religião, os iurisprudentes eram os sacerdotes pontífices,
os únicos com autoridade e legistimidade para revelar osmores maiorum. Porém, a partir do século V ac, inicia-se
um processo de autonomização e laicização do ius romanum, impulsionado pela Lei das XII tábuas, pelo ius
Flavianum (colectânea de fórmulas processuais, elaboradas pelo liberto Cneu Flavio, à rebelia do seu patrono), pelo
ensino público do direito e também pela concessão, por parte de Augusto, de cargos públicos importantes a pessoas
da classe média. Estas nomeações causaram, no entanto, alguns constrangimentos, uma vez que não tendo os
pareceres dos prudentes força vinculativa, o seu valor jurídico provinha essencialmente, à semelhança das CI, da
auctoritas social dos seus autores. Foi por este motivo que Augusto decidiu conferir aos jurisconsultos mais
notáveis, o ius decidendi ex auctoritate principis ( o direito de responder por força da autoridade do imperador),
passando os pareceres dos beneficiados a ter o mesmo valor que as CI até ao século II. Já no século II, Adriano
confere aos pareceres destes prudentes autoridade social de carácter burocrático tornando-os fontes imediata de
direito. Determinou ainda Adriano que no caso de os pareceres terem sentidos diversos, o juiz deveria decidir qual
aplicar no caso concreto.
Na época clássica, destacaram-se duas escolas de jurisprudência: a sabiniana – criada por Capito, mas assim
designada por culpa de Sabinus - , mais conservadora, e a proculeiana – criada por Labeo, adquire esta designação
graças a Proculus -, mais inovadora e aberta. São inúmeras as divergências doutrinais desenvolvidas por estas duas
escolas. Só a título de exemplo, destaque para a forma como os sabinianos encaravam a permuta – como uma
modalidade da compra e venda – e o carácter e tutela autónomo que a este negócio era atribuído pela escola
proculeiana. Foram juristas da escola sabiniana Gaius e Iulianus; à escola proculeiana pertenceram Nerva, Priscus
A partir do século IV, deixa de haver verdadeira jurisprudência: a concessão da cidadania romana a todo o império
passou a exigir uma formação jurídica acelerada, que se revelou também deturpada e incompleta, fazendo com que
os juristas deste período, sem o génio criador dos clássicos, se limitassem a compilar, repetir e analisar as obras dos
antigos.

Restitutio in integrum: enquanto expediente de que o pretor se serve para corrigir aspectos negativos do ius civile, a
restitutio in integrum só pode ser aplicada se se verificarem determinados requisitos essenciais: a produção de um
prejuízo em consequência da rigorosa aplicação do ius civile, a existência de uma causa justificativa para a
produção desse prejuízo, e a inexistência de outros meios jurídicos que permitam reparar o prejuízo – por exemplo,
se o negócio realizado for um negócio de direito estrito, que gera obrigações de conteúdo bem determinado e que
tinha de ser observado rigorosamente, na subsequente actio stricti iuris o juiz apenas podia aferir da existência ou
não da obrigação, sem atender a quaisquer outras circunstâncias que tenham influenciado o seu conteúdo. No que
toca à causa justificativa, esta poderia ser de vários tipos: ob metum, ob dolum, ob fraudem creditore, ob
erronen. A restitutio in integrum ob dolum era concedida a quem tinha realizado acto jurídico em consequência de
um engano ou vício da vontade. O dolo é, portanto, uma falácia, astúcia ou maquinação utilizada por alguém para
enganar outrém no sentido da produção de uma declaração de vontade que de outro modo não teria sido obtida. Os
efeitos desta restitutuo in integrum, à semelhança de todas as outras, era a resolução do negócio ou da obrigação
contraída e o não reconhecimento dos seus efeitos.
A restitutio in integrum ob metum era concedida a quem praticou acto jurídico por ter sido gravemente ameaçado,
ou seja, a quem produziu uma declaração de vontade sob coacção – violência moral que consiste na ameaça de
um mal grave a uma pessoa, património ou familiar. Segundo o ius romanum, essa ameaça teria de ser: injusta
(contrária ao direito), grave (susceptível de impressionar um homem constantissimus) e actual (não bastava a
simples suspeita de reacção).
Já a restitutio in integrum ob erronen era concedida a quem houvesse cometido erro essencial mas desculpável em
matéria negocial ou processual, ou seja, baseia-se na ignorância ou falsa ideia do declarante sobre alguma
circunstância de facto ou de direito que tenha sido decisisva na formação da sua vontade.
Já a restitutio in integrum ob fraudem creditores (por fraude aos credores) é concedida aos credores prejudicados
por actos que o devedor praticou com a intenção fraudulenta de criar ou aumentar a sua insolvência.

Missio in possessionem: expediente pelo qual o pretor, investido de imperium, autoriza alguém a apoderarar-se dos
bens de outrém, com poderes de asministração e de fruição, mas não de alienação, autorização que constitui um
meio coactivo provisório ou uma espécie de providência cautelar. Quanto ao objecto, a missio in possessionem
podia ser: bonurum (se incidisse sobre o património total de uma pessoa), universitatis bonurum (se incidisse sobre
um complexo de bens ou unidade), rei (se incidisse sobre um res determinada). A missio in possessionem pode
prosseguir várias finalidades: coacção, conservação (proteger as legítimas expectativas duma pessoa sobre um
património, impedindo que seja disperso ou desapareça), execução patrimonial.

Intedictum: ordem do pretor, investido de imperium, com base na aparência sumária da situação (fumus iuris),
dirigida a uma pessoa no intuito de a obrigar a fazer ou a não fazer algo. Pelo seu carácter administrativo, o
interdictum permite uma resolução rápida do caso e constitui um meio de combate à perturbação da ordem
social. Se o interdictum for acatado, o conflito fica momentaneamente resolvido, podendo a parte que o acatou
recorrer posteriormente ao processo judicial ordinário para a decisão do litígio. Se não for acatado, quem o
solicitou poderá instaurar um processo ordinário onde fará prova do desacato (ex interdicto). Existem várias
espécie de interdicta: exibitório, proibitório e restituitórios. Quanto aos interdicta possessórios, estes podem ser
recuperandae possessionis, retinendae possessionis ou adipiscendae possessionis.

Obrigação: é o vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa, o devedor, fica adstrita para com outra, o credor, à
realização de uma prestação; segundo o ius romanum, era o vínculo do direito pelo qual estamos necessariamente
adstritos a pagar alguma coisa a alguém, segundo o direito da nossa cidade.

Objecto da obrigação : dare (transferência de um direito real ou da propriedade de algo), facere (tudo aquilo que
não consista num dare), prestare (assunção de uma garantia, apresentação de certos garantes como condição de
prestare.)

Requisitos do objecto da obrigação: possível física e juridicamente, lícita, determinado ou determinável, natureza
patrimonial

Fontes das obrigações: são os factos que, segundo o direito romano, criam vínculo jurídico obrigacional entre duas
ou mais pessoas.
Causa: é o fim que o ius civile reconhece como social e economicamente digno de protecção.

Contratos unilaterais: são aqueles que acarretam obrigações para apenas uma das partes
Contratos bilaterais perfeitos ou sinalagmáticos: são aqueles nos quais se geram obrigações para ambas as partes,
ié, estas não só nascem simultaneamente (sinlagma genético), como devem ser cumpridas em simultâneo
(sinalgama funcional), o que significa que nenhuma das partes pode exigir judicialmente o cumprimento da
obrigação da outra sem ter primeiro cumprido a sua (exceptio non adimpleti contractus).
Contratos bilaterais imperfeitos: são contratos que de início apenas geram obrigações para uma das partes, podendo
depois eventualmente acarretar obrigações para a outra.

Contratos reais
Mútuo: é um contrato real – contrato para cuja perfeição não basta o consensus (o acordo de vontades), é necessário
a realização de acto material, de uma datio (transferência da propriedade) ou de uma traditio (transferência da
posse) – e unilateral – só gera obrigações para uma das partes – pelo qual uma pessoa (comodatário), que recebe de
outra uma determinada quantidade de pecunia ou de outras res fungíveis, se obriga a restituir, dentro de um certo
prazo, outro tanto do mesmo género e quantidade. São elementos do mútuo: o consensus – o acordo de vontades
realizado entre os contraentes – e a datio rei – a transferência da propriedade de determinada pecunia ou de outras
res fungíveis do comodante para o comodatário. O mútuo é um contrato gratuito, já que apenas uma das partes, o
comodante, realiza uma atribuição patrimonial e porque o comodatário não é obrigado a restituir mais do que
aquilo que recebeu, ou seja, não tem de pagar juros pelo uso do dinheiro. Se o comodante quisesse estabelecer
juros, as partes teriam de celebrar um outro negócio jurídico, a stipulatio usurarum, sendo que os juros
estabelecidos teriam de respeitar o limite dos 12% ao ano. Existia, porém, uma execpção à gratuicidade do mútuo –
o foenus nauticum: empréstimo efectuado a comerciantes marítimos, usual nas zonas mediterrâneas, em que
era permitida a fixação de juros superiores ao limite normal, dado o grande risco que acarretavam as
expdições marítimas. A protecção judicial concedida dependia do tipo de coisa emprestada: se se tratasse de
pecunia, o comodante dispunha de uma actio certae pecuniae para responsabilizar o comodatário pela sua não
restituição; se se tratasse de outras res fungíveis, dispunha de uma actio certae rei.

Fidúcia: contrato real – contrato para cuja perfeição não basta o acordo de vontades ou conventio, sendo necessário
a realização de um acto material, ié, de uma datio (transferência da propriedade) ou de uma traditio (transferência
de posse)- pelo qual uma pessoa, utilizando um negócio jurídico formal ou solene, a mancipatio ou o in iure cessio,
transfere a propriedade de res mancipi para outra (fiduciário) que se obriga a restituí-la depois de realiozado o fim
definido num pacto informal designado “pactum fiduciae” (mancipatio fiduciae causa). São elementos da
fidúcia: a datio (transferência da propriedade) de res mancipi, o negócio solene ou formal que era exigido para a
transferência da posse de res mancipi e o pactum fiduciae, onde estava fixada a finalidade a prosseguir.. Se a
fidúcia vissase garantir uma obrigação designava-se fiducia cum creditores; se a sua finalidade fosse a de
constituir um comodato ou um deposito, antes do reconhecimento destes contratos, designava-se fiducia cum
amico. Caso o fiduciário não restituisse a res, cumprida a finalidade mencionada no PF, o fiduciante podia solicitar
ao pretor uma actio fiduciae que dava lugar a um iudicium bonae fidei; se o fiduciante não cumprisse a finalidade
acordada, o fiduciário devia proceder à venda da res e dar o excedente dessa venda ao fiduciante. Se o fiduciante se
recussasse a ressarcir o fiduciário pelas despesas por este efectuadas na conservação da res ou por danos por ela
causados, o fiduciário dispunha de uma actio fiduciae contraria.

Depósito: é um contrato real – contrato para cuja perfeição não basta a conventio ou o acordo de vontade, sendo
necessário a realização de um acto material, que podia consistir numa datio (transferência de propriedade) ou numa
traditio (transferência de posse) – bilateral imperfeito de boa-fé e gratuito, pela qual uma pessoa (depositante)
entrega a outra (depositário) uma res móvel para que este a guarde gratuitamente e a restitua findo o prazo
estabelecido ou a pedido do depositante. È um contrato bilateral imperfeito porque de início apenas surgem
obrigações para o depositário, podendo depois, eventualmente, surgir obrigações para o depositante. Eram
obrigações do depositário: guardar a res e restituí-la nas mesmas condições em que a recebeu, não utilizar a
res. Por sua vez, o depositante deveria ressarcir o depositário pelas despesas e danos causados pela res. Caso o
depositário se recusasse a restituir a res, o depositante podia solicitar ao Pretor a actio depositi (sendo que aquele
incorria num furtum nec manifestum); por sua vez, para demandar o depositante pelas despesas e danos provocados
pela res, o depositário podia solicitar ao pretor a actio depositi contraria.
Existiam diversas modalidades de depósito, para além da já referida: o depósito necessário – que ocorria sempre
que, em virtude de incêndio, inundação ou outra catástrofe o depositante era forçado a entregar a res a um
depositário que não era da sua confiança, pelo que se este não restituísse a res teria de pagar o dobro do valor da res
- , sequestro ou sequestrum – ocorria quando por força de um litígio quanto à posse de uma res, os litigantes
acordavam em entregá-lo a um terceiro da sua confiança, que se obrigava a restitui-lo depois de resolvido o conflito
- , depósito irregular.

Comodato: contrato real – contrato para cuja perfeição não basta a conventio, é necessário a realização de um acto
material, nomeadamente de uma datio (transferência da propriedade) ou de uma traditio (transferência da posse) –
bilateral imperfeito, gratuito e de boa fé, pelo qual uma pessoa , o comodante, entrega uma res móvel ou imóvel a
outra, o comodatário, para que esta a use gratuitamente segundo o modo acordado e a restitua findo determinado
prazo. Trata-se obviamente de um contrato gratuito, uma vez que o comodatário não dá qualquer contrapartida
financeira ao comodante pelo uso da res. Sendo um contrato bilateral imperfeito, as obrigações surgiam de início
para o comodatário, podendo depois, eventualmente, surgir obrigações para o comodante. Eram obrigações do
comodatário: usar a res segundo o modo que fora acordado (se não o fizesse incorria num futum usus), não
deteriorar a res e não fazer dela um uso reprovável, restituir a res nas mesmas condições em que a recebeu.
Por sua vez, eram obrigações do comodante: ressarcir o comodatário pelas despesas e danos causados pela res.
Caso o comodatário não restituisse a coisa, o comodante podia solicitar ao pretor uma actio comodati; se por sua
vez, o comodante se recusasse a ressarcir o comodatário, este dispunha do direito de retenção (ius retentionis) e
podia solicitar ao pretor a actio comodati contraria.

Penhor: contrato real – contrato para cuja perfeição não basta a conventio ou o acordo de vontades, sendo
necessário a realização de um acto material, ié, de uma datio ou de uma traditio – bilateral imperfeito pelo qual uma
pessoa entrega a outra (credor pignoratício) uma res móvel ou imóvel para garantir obrigação própria ou alheia.
Pressupõe-se no penhor a existência de duas relações jurídicas distintas: a do devedor ou terceiro e do credor
pignoratício, no sentido em que o primeiro tranfere a posse de uma res no intuito de garantir o cumprimento de uma
obrigação própria ou alheia; e a do credor pignoratício e do devedor ou terceiro, no sentido em que , cumprida a
obrigação, aquele está adstrito a restituir a res que servia de garantia. De notar ainda que o credor pignoratício é
prioritário no concurso dos credores. Caso o devedor não cumprisse a obrigação no prazo acordado, o credor
deveria proceder à venda da res e restituir o superfluum (ou Tantundem) ao devedor ou terceiro que tivesse
entregado a res. Caso, cumprida a obrigação, o credor não restituisse a res ou os frutos que dela resultaram, o
devedor ou terceiro dispunham da actio pignoratícia in personan; se, por sua vez, restituída a coisa, o devedor se
recusasse e ressarcir o credor pelos danos ou despesas causadas pela res, o credor dispunha da actio pignoratácia
contraria. O credor dispunha ainda de uma actio útil ou ficticia, concedida pelo pretor, se um terceiroo privasse da
posse da res.

Contratos consensuais

Compra e venda: contrato consensual – contrato, com origem no ius gentium, para cuja perfeição bastava a
conventio ou o acordo de vontades, manifestado de qualquer forma – bilateral perfeito e de boa-fé, pelo qual uma
das partes (vendedor) se obrigava a transferir para outra (compra) a posse de uma res móvel ou imóvel,
assegurando-lhe o seu gozo livre e pacífico, mediante o pagamento do pretium. De notar que a compra e venda, ao
contrário do que acontece actualmente, acarretava apenas a traditio e não a datio da res; o objectivo último deste
contrato era, portanto, fazer com que o vendedor, através da uso capião, se tornasse proprietário da res ao fim de
dois anos como possuidor. São elementos da emptio-venditio: a conventio, ié, o acordo de vontades manifestado de
qualquer forma, pelo qual o vendedor se obrigava a transferir a posse da res e o comprador a transferir a
propriedade do pretium, a res, objecto da compra e venda, e o pretium, que se devia traduzir numa quantia de
dinheiro certa e, no direito justinianeu, justa. A compra e venda é um contrato bilateral perfeito ou
sinalagmático, o que significa que surgem obrigações recíprocas para ambas as partes, obrigações essas que nascem
em simultâneo – sinalagma genético - , e que devem ser cumpridas em simultâneo (sinalagma funcional), o que
significa que nenhuma das partes pode exigir o cumprimento da obrigação por parte da outra, sem primeiro cumprir
a sua (exceptio non adimpleti contractus). Assim sendo, são obrigações do vendedor: conservar a res em bom
estado até à sua entrega ao comprador, entregar a res ao comprador assegurando-lhe a sua posse livre e pacífica,
responder pela evicção –na sequência de sentença que reconheça a propriedade, por terceiros, sobre a res, ou a
titularidade de um penhor ou servidão -, responder pelos vícios ocultos ou não aparentes da res. Este regime foi
disciplinado pelos aediles curules, os quais estabeleceram no seu edictum que o vendedor devia declarar os vícios
ocultos da res no momento da celebração da compra e venda. Caso estes não fossem declarados e viessem a
manifestar-se mais tarde, o comprador podia demandar o vendedor com uma de duas acções: a actio
redibitória, que produzia a resolução da compra e venda e a condenação do vendedor ao pagamento do dobro do
valor da res – devia ser intentada no prazo de dois meses a contar do momento em que o vício se manifestara - , ou
a actio quanti minoris, que premitia ao comprador conservar a posse da res, obtendo uma diminuição do seu preço
proporcional à gravidade do vício – devia ser intentada no prazo de seis meses a contar a partir do momento em
que o vício se manifestara. Por sua vez, eram obrigações do comprador: aceitar a entrega do objecto quando este
fosse oferecida pelo vendedor, ressarcir o vendedor pelas despesas de conservação da res até à sua entrega,
transferir a propriedade do pretium acordado, responder pelo risco em caso de destruição fortuita do objecto.
Para responsabilizar o vendedor pelo incumprimento de alguma das obrigações mencionadas, o comprador
dispunha da actio empti (actio bonae fidei: são aquelas pelas quais se exige o cumprimento de negócios de boa-fé,
ié, de negócios que geram obrigações sem contéudo bem determinado, pelo que o devedor está obrigado a tudo o
que exigível a uma pessoa leal e fiel à sua palavra, atendendo às circunstãncias do caso concreto); por sua vez, o
vendedor dispunha da actio venditi.

Locação (locatio-conductio): contrato consensual – contrato, com origem no ius gentium, para cuja perfeição
bastava o acordo de vontades (conventio), manifestado de qualquer forma – bilateral perfeito ou sinlagmático, pelo
qual uma pessoa se obrigava a proporcionar a outra o gozo temporário de uma res móvel ou imóvel (locatio-
conductio rei), a prestar serviços durante certo período de tempo (locatio operarum) ou a realizar obra (locatio
operis), mediante retribuição ou merces. São elementos da locatio-conductio: o consensus (acordo de vontades
manifestado de qualquer forma), o objecto, que podia consistir em res, trabalho ou coisa que o locador entrega ao
locatário para que este realize a obra; a merces, contrapartida prestada pelo gozo da coisa, do trabalho ou da obra,
que devia consistir em determinada quantia de dinheiro; tempo, já que a locatio-conductio tinha sempre carácter
temporário, em qualquer uma das suas modalidades.
Tratando-se de um contrato bilateral perfeito ou sinalagmático, acarreta obrigações recíprocas, obrigações essas
que não só nascem em simultâneo (sinalagma genético), como deviam ser cumpridas em simultâneo (sinalgma
funcional), o que significa que nenhuma das partes pode exigir o cumprimento da obrigação da outra parte, sem
primeiro proceder ao cumprimento da sua (“exceptio non adimpleti contractus”). Assim sendo, são obrigações do
locador, na locatio-conductio rei: proporcionar o gozo temporário de uma coisa ao locatário, nas condições
acordadas, assegurar a conservação da coisa de modo a proporcionar o seu uso e fruição ao locatário, ressarcir o
locatário quando for ele a reparar a res. São obrigações do locatário: pagar a merces, não fazer um uso reprovável
da coisa, restituir a res terminada a duração do contrato, indemnizar o locador pelos danos causados ao objecto,
salvo os decorrentes do seu uso normal. O locador dispunha de uma actio locati, enquanto o locatário podia
intentar uma actio conducti.

Contrato de sociedade: é um contrato consensual – contratos, com origem no ius gentium, para cuja perfeição basta
a conventio ou o acordo de vontades manifestada de qualquer forma- bilateral ou plurilateral, pelo qual duas ou
mais pessoas (os socii) se obrigam a pôr em comum determinados bens com vista à realização de um interesse
económico comum. São elementos do contrato de sociedade: a conventio (acordo de vontades manifestado de
qualquer forma), o objecto, que podia consistir em res ou operae: se se tratasse de res a sociedade designar-se-ia
“rerum”, se se tratasse de operae chamar-se-ia “operarum”, e, por fim, se os sócios pusessem em comum quer res,
quer opearae designar-se-ia “mixtae”; e a finalidade, ou seja, o interesse comum não contrário ao direito que
deveria constituir uma vantagem patrimonial para todos. É neste último requisito que se funda a proibição
relativa ao pacto leonino – acordo que reserva os ganhos para uns sócios e as perdas para os outros - , sem prejuízo
da possibilidade de uma participação desigual nos ganhos e perdas. Sendo um contrato bilateral ou plurilateral,
surgiam obrigações para todos os socii: contribuir para a sociedade com o que fora previamente acordado aquando
do consensus, responder pela evicção dos bens colocados em comum (caso uma sentença viesse a reconhecer a
propriedade de terceiro sobre a res ou a titularidade de um penhor ou servidão), responder pelos vícios ocultos ou
não aparentes da res, gerir os negócios sociais de acordo com os fins da sociedade e responder pelos danos de
gestão causados, participar os ganhos e nas perdas em iguais proporções, excepto se outra coisa houver sido
acordada aquando da celebração do negócio.
De notar que o contrato de sociedade não criava uma pessoa jurídica individual, pelo que , aquando da celebração
de negócios jurídicos, a relação obrigacional é estabelecida entre cada socii e o terceiro com quem celebrou o
contrato; caso o negócio tenha sido celebrado por todos os socii, a relação considera-se assumida de modo
proporcional pelos sócios, ou se o acordo social assim o estabeleceu originar-se-á uma responsabilidade
solidária.
Para exigir o cumprimento das obrigações por parte dos outros socci, cada socii dispunha de uma actio pro socio,
uma actio bonae fidei, ou seja, uma actio pela qual se exigia o cumprimento de um negócio de boa-fé, cujo
conteúdo não totalmente determinado fazia com que, em caso de não cumprimento, o devedor estivesse obrigado a
tudo o que é exigível a uma pessoa leal e fiel à sua palavra, tendo em atenção as circunstâncias do caso concreto.

Mandatum: contrato consensual – contratos, com origem no ius gentium, para cuja perfeição basta a conventio, ié,
o acordo de vontades manifestado de qualquer forma – bilateral imperfeito e de boa-fé, pelo qual uma pessoa (o
mandante) encarregava outra (o mandatário) de realizar uma qualquer actividade no seu próprio interesse, no
interesse de terceiros, ou no interesse destes e do mandatário, que por sua vez se obriga a realizá-la gratuitamente.
São elementos do mandato: a conventio, ié, o acordo de vontades manifestado de qualquer modo, entre o mandante
e o mandatário; o objecto – a actividade lícita e determinada que o mandante encarrega o mandatário de realizar e
que este se obriga a fazer gratuitamente – finalidade – o interesse que subjaz à realização do contrato, que pode ser
do mandante, de terceiros, ou destes e do mandatário. Sendo um contrato bilateral imperfeito, de início surgiam
obrigações apenas para o mandatário, podendo depois, eventualmente, surgir obrigações também para o mandante.
Eram obrigações do mandatário: realizar a actividade de que tinha sido incumbido, de acordo com as instruções do
mandante, se estas tiverem sido fornecidas, ou então de acordo com a natureza da actividade em causa; prestar
contas da sua gestão ao mandante; transferir para o mandante as actiones relativas aos direitos que surgirem sobre
terceiros. Eram obrigações do mandante: reembolsar as despesas efectuadas pelo mandatário, bem como os
eventuais danos sofridos. Para responsabilizar o mandatário pelo não cumprimento das obrigações assumidas, o
mandante dispunha de um actio mandati, enquanto o mandatário dispunha da actio mandati contraria.
Contratos formais:

Stipulatio: é um contrato formal – contratos cuja validade depende da observância de uma forma prescrita no
ordenamento jurídico, sem a qual seria nulo, e que podiam ser literais (realizados através de documento escrito) ou
verbais (realizados oralmente)- verbal, unilateral e abstracto, que consistia numa pergunta oral feita pelo stipulato,
à qual o promitente tinha de responder

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