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Actio Commodati Contraria, 

nos casos em que o comodante se recusar a cumprir suas


obrigações de natureza eventual – ressarcir despesas necessárias à conservação da
coisa e indenizar prejuízos sofridos pelo comodatário em decorrência de dolo do
comodante, com direito a ius retentionis

No comodato, temos a entrega de uma coisa inconsumível, que pode


ser móvel ou imóvel, do comodante ao comodatário, para que este último faça
uso dela por algum tempo e depois a restitua ao comodante com todos os seus
frutos, no tempo e lugar convencionados. É contrato de natureza
essencialmente gratuita, que dá ao comodatário o direito de usar da coisa em
conformidade com a sua destinação (quando o uso se dá de forma irregular,
temos o chamado furtum usus, ou "furto de uso", permitindo a cumulação
judicial da Actio Furti, com vistas a condenar o comodatário ao pagamento de
uma Poena). [55]

No período pré-clássico, o comodato sequer era entendido como um


contrato, pois, assim como na fidúcia, inexistia uma actio que pudesse compelir
judicialmente o comodatário a restituir a coisa. Nos casos dolosos, todavia, o
pretor podia agir in factum contra o comodatário.

 IUS RETINENDI (pode reter a coisa se não pagar a obrigação


principal)
CASO 1

A princípio, a obligatio, no direito romano, é basicamente uma relação jurídica


obrigacional, onde um devedor está obrigado a uma prestação (aquilo que é devido) ao
seu credor que, por sua vez, tem um direito de crédito proveniente da obrigação. Caso a
prestação não seja cumprida (inadimplemento), o credor pode executar contra o devedor
uma actio in personam, ou seja, ação pessoal ou sobre a pessoa.

Assim, nota-se, que o inadimplemento, diante do direito romano, pode ocorrer por de
duas diferentes formas, sendo a primeira quando o devedor não cumpre sua obrigação
por não querer cumprir, e a segunda quando o devedor não pode cumpri-la.

No entanto, no caso referido, o não cumprimento da obrigação está relacionado com a


invasão e destruição dos tonéis de vinho da cella vinaria (adega) de Mévio, não
existindo qualquer intenção por parte do mesmo. Na presença deste fato, Semprônio não
tem o direito de exigir as sacas de trigo, visto que estamos diante de um inadimplemento
involuntário, pois o acontecimento é considerado um mero acaso, ou “caso fortuito”,
mais especificamente “caso fortuito menor” (casus minor), ou seja, aqueles que não são
de todos inevitáveis, é a impossibilidade de cumprir a obrigação sem culpa do devedor.
Desta forma, Mévio deverá ser liberado da obrigação por acontecimento alheio ou
estranho à sua vontade, sem qualquer ressarcimento ao credor.

Com isso, entende-se que o acontecimento ocasiona a extinção do vínculo


obrigacional, já que o devedor não pode efetuar a prestação, por ter se tornado
impossível. Porém, examinando sua responsabilidade, é possível notar que o contrato
foi constituído no exclusivo interesse da outra parte, ou seja, o devedor não lucra, a
partir disso, Mévio deverá responder pelo próprio dolo, fazendo algum tipo de favor
ao credor (Semprônio).

CASO 2

Inicialmente, é necessário entender a ação realizada por Tício, baseada no direito do


interdito possessório, agindo de acordo com a causa que objetiva à recuperação da
posse, denominada interdicta reciperandae possessionis causa, também ressaltando que
a causa não se atenta ao problema referente a propriedade, o que, deste modo, propõe
que o interdito possessório age a favor do possuidor contra o atual proprietário da coisa,
que por sua vez, não poderá alegar direito a propriedade como forma de defesa.

Diante do processo da comodato, é preciso entender a relação estabelecida pelo


comodatário e pelo comodante, de modo a ressaltar as obrigações que os integrantes do
contrato possuem. A partir disso, é possível perceber que a relação estabelecida através
do acordo da commudatum, assegura ao comodatário, a obrigação ao uso da coisa em
acordo com o que foi estabelecido, e assegura ao comodante, a obrigação de permitir o
uso da coisa pelo comodatário durante o período definido. Além de evidenciar que, se o
comodante realizar um comportamento doloso, e este comportamento trouxer danos ao
comodatário, o comodante, como nova obrigação, deverá indenizar o comodatário por
prejuízos sofridos, como neste caso.

Já a actio commodati contraria, se trata do direito da iudicium contrarium, concedido


pelo pretor, ao comodatário contra o comodante que se recusasse a cumprir com suas
obrigações, com isso, o uso da actio commodati contraria, estabelece que Caio pague a
indenização (100 sestércios) a Tício, em consequência do dolo propositalmente
cometido, visto que, no acordo, a coisa oferecida por Caio, causou danos a cortina.
Deste modo, no exercício da ius retinendi, Tício tem total direito de negar-se a restituir
a coisa, até que Caio cumpra com sua obrigação, cabendo ao mesmo realizar a
indenização dos 100 sestércios, e Tício realizar a devolução das doze lucernae a Caio.

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