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Introdução

Sabemos que o inadimplemento de uma obrigação confere ao respectivo credor o direito


de agredir o património do devedor, por intermédio dos tribunais, a fim de obter
coactivamente a satisfação do seu crédito (817º. Código Civil). Trata-se de uma
possibilidade que pertence a todos os credores pelo simples facto de o serem. E, nessa
medida, se declara que o património do devedor constitui a garantia comum dos
credores.

Daí que a lei conceda aos credores alguns remédios destinados à salvaguarda de seus
interesses. Eles variam conforme o acto praticado pelo devedor, embora tenham o
objectivo comum de evitar o desaparecimento ou a diminuição, para além de certos
limites, do património debitório. O código civil predispõe sucessivamente os quatros
seguintes meios conservatórios da garantia patrimonial:

 Declaração de nulidade
 Sub-rogação do credor ao devedor
 Impugnação
 Arresto.
Meios de Conservação da Garantia Patrimonial

Compreende-se que o devedor não possa, antes do cumprimento da obrigação a que está
adstrito ou no inicio da respectiva execução inicial, promover co m a inteira liberdade
diminuições do seu património. Pois, se assim fosse, abrir-se-ia caminho fácil às
maiores fraudes e as locupletamentos injustos, contra as expectativas dos credores. O
património do credor representava, então, uma bem precária garantia geral das
obrigações.

Por esta razão a lei vai conceder aos credores alguns meios destinados à salvaguarda de
seus interesses.

Declaração de Nulidade

A lei confere aos credores legitimidade para arguir a nulidade dos actos praticados pelo
devedor, seja esses actos anteriores ou posteriores a constituição do crédito. Para tanto
exige-se que os credores tenham interesse na declaração de nulidade, mas não e
necessário que o acto produza ou agrave a situação patrimonial deficitária do devedor
(Art. 605º. Nº 1 Código Civil).

Por varias razoes podem os actos jurídicos serem nulos: Inobservância da forma
prescrita, falta de vontade, impossibilidade ou ilicitude do objecto, etc. O regime
geral da nulidade encontra-se nos artigos (285º. a 294º. Código Civil).

Ora, sempre que o devedor realize um acto considerado nulo, assistira a qualquer dos
credores, que nisso tenha interesse, o direito de pedir a respectiva declaração de
nulidade. E, uma vez declarado nulo o acto impugnado, as coisas são respostas no seu
estado precedente, o que aproveita não só ao credor que invocou a nulidade, mas a todos
os outros (art. 605º. , nº 2 código civil).

Exemplifique-se com a simulação, aliás, muito frequente na prática. Um negocio diz-se


simulado quando, «por acordo entre declarante e declaratório, e n o intuito de enganar
terceiros, houver divergência entre a declaração negocial e a vontade real do declarante»
(art. 240º. , nº 1 código civil).

Suponhamos que A deve a B 2000 kwanzas e que tem valores patrimoniais suficientes
para garantir essa obrigação. Mas, como está ânimo de não cumprir e deseja esquivar-se
à execução, A combina com um terceiro, C, pessoa que lhe merece inteira confiança,
uma venda fictícia de todo o seu património. Uma vez forjada a escritura de venda e
passando os bens para propriedade de C, eles ficam doravante subtraídos à execução
judicial que B promova. Na realidade, A e C não quiseram celebrar um negocio
verdadeiro. Tudo e simples aparência. E assim o pseudo-adquirente compromete-se a
retransferir mais tarde para o pseudo-alienante as coisas simuladamente alienadas.

De um outro modo poderia também A realizar um acordo simulatório com C, em


prejuízo do credor B. Em vez de alienar ficticiamente os seus bens, poderia A forjar
uma dívida a C, impondo dessa forma ao credor verdadeiro, B, um concorrente fictício,
C, na liquidação do respectivo património.

Ambas situações nos colocam diante de um negocio simulado que a lei declara nulo
(art. 240º. , nº 2 código civil). Portanto, sera lícito ao credor B promover a declaração da
correspondente nulidade.

Sub-rogação do credor ao devedor

a) Noção e âmbito de aplicação


Torna-se igualmente possível ao devedor, através de uma sua inação, afectar a
consistência da garantia patrimonial. Admitamos o caso de um certo devedor que, tendo
um passivo superior ao activo, não invoca a prescrição contra um dos seu credores,
prejudicando os restantes (art. 203º. Codigo civil); ou imaginemos que o mesmo
devedor insolvente e chamado a sucessão de determinada pessoa, mas não aceita porque
sabe que essa herança no fim das contas apenas irá beneficiar os seus credores (art.
2050º. Codigo civil).

Apontam-se simples exemplos, entre muitos susceptiveis de sere figurados.

Para tais situações admite a lei a possibilidade de o credor se substituir ao devedor no


exercício de direito ou poderes que este último competem e que se abstém de efectivar.
É no que que se cifra a sub-rogação do credor ao devedor, sancionada pelo Codigo civil
em termos gerais.

Tenham-se presente, todavia, que nos referimos apenas a sub-rogação propriamente


dita, também designada indirecta ou oblíqua; quer dizer, em que o credor age na
qualidade de representante ou substituto legal do credor, tudo se passando como se os
actos fossem praticados por este. Éspecie diversa e a chamada sub-rogação directa,
mediante a qual o credor exerce em nome próprio um direito do seu devedor, fazendo-se
pagar por devedor deste. A sub-rogação directa não e admitida pela lei com carácter
generalizado, mas só em certos casos excepcionais onde concorrem razões que a
justificam.

Ao consagrar em termos gerais a sub-rogação propriamente dita do credor ao devedor,


como meio de conservação da garantia patrimonial, a lei procurou conciliar os
interesses cem jogo. Por um lado deparou-se-lhe a exigência da defesa dos credores
contra a inércia do devedor. Mas, por outro lado, impôs-se-lhe a consideração que seria
pouco razoável coarctar, além de certos limites a liberdade essencial do devedor de agir
ou de não agir.

Ponderadas estas razões e atenta finalidade da sub-rogação do credor ao devedor,


compreender-se-à a disciplina jurídica estabelecida: Direitos submetidos à sub-
rogação, requisitos e efeitos dela.

Apenas se admite que o credor faça valer contra terceiros os direitos e conteúdo
patrimonial que competirem ao devedor, ressalvados os que, em virtude da sua própria
natureza ou disposição da lei, sejam insusceptíveis de exercício de pessoa diversa do
respectivo titular (art. 606º. , nº 1 codigo civil).

Portanto, excluem-se da sub-rogação os direitos do devedor contra terceiros que não


tenham carácter económico (ex: um crédito com puro conteúdo moral ou ideal) ou
cujo valor económico não seja susceptivel de reverter em beneficio dos credores ( o que
acontece, via de regra, com os efeitos patrimoniais ligados as relações relativas ao
estado das pessoas); e ainda os que, como consequência de preceito legal ou da sua
natureza, só poderem ser exercidos pelo próprio titular ( assim: o direito do promissario
de revogar a promessa no contrato a favor de terceiro – art. 448º. Codigo civil. Esta
última hipóteses verifica-se especialmente quando o exercício do direito pressuponha a
apreciação do interesse moral (ex: a revogação das doações por ingratidão do donatário-
art. 970º. Ss).

Observe-se também que a sub-rogação se refere ao exercício de direitos que o devedor


já tenha contra terceiros, ou que sejam a consequência ou desenvolvimento de uma
relação anterior. Não podem, por isso, os credores substituir-lo na celebração de actos
jurídicos que lhe façam adquirir direitos inteiramente novos (ex: aceitar uma proposta
contratual).

b) Requisitos

A lei atribui ao credor a faculdade de substituir-se ao devedor no exercicío dos referidos


direitos cotra terceiros, sempre que este o nao o faça (art. 606º. nº1 do CC). Quer dizer,
o primeiro requisito da sub- rogação consiste na inércia do devedor – traduza ela uma
inatividade consciente ou apenas um esquecimento ou falta de atenção.

Cingindo-nos à estrita letra da lei, teríamos de ficar por aqui. Contudo, talvez se possa ir
mais além. Se a inativadade do devedor é consciente, mas não negligente (ex: o
exercicío do direito é prematuro, ou há um prazo que ainda não se esgotou), parece que
já não será legítima a intervenção dos credores. Por outro lado, afigura-se de equiparar á
pura inacção do devedor uma sua acção negligente: não uma qualquer negligência, mas
a que se mostre clamorosa e pela gravidade acarreta sério risco á defesa eficaz dos
direitos do devedor e, portanto, da garantia patrimonial. Em conclusão, exclui-se o
procedimento sub-rogatório quando o devedor se encontre a exercer diligentemente os
direitos em causa.

Um segundo requisito analiza-se na essencialidade da sub-rogação. Esta terá de


apresentar-se indispensável á a satisfação ou garantia do direito do credor (art 606º. ,
nº2 do CC). E os credores sob condição suspensiva ou a prazo apenas são admitidos a
exercê-la quando alegem fundado interesse em não aguardar a verificçaõ da condição ou
o vencimento do termo – sempre no pressuposto de que a sub-rogação se mostre
essencial á satisfação ou garantida do direito do credor (607º. do CC).

A sub-rogação pode traduzir-se no exercicío judicial ou extra-judicial dos direitos do


devedor. Quando o credor actue judicialmente pelo devedor será necessária a citação
dele (608. do CC). Exigência que tem uma dupla explicacão assegurar-se à decisão
judicial efiácia em relação ao devedor; e permitir-se a este – que é o verdadeiro titular
do direito exercido pelo credor – a defesa dos seus interesses.

Uma vez reconhecida a legitimidade processual do credor sub-rogante, não pode o


devedor substituir-se-lhe ou intentar nova acção com o mesmo objecto. Observe-se
ainda, que, embora não se verifique os requistos da sub-rogação, pode o credor intervir
como assistente na acção que o seu devedor propomha para a salvaguarda de direitos
necessários à conservação da garantia patrimonial ( Cód. de proc. Civ. art 335º. e Ss.).

c) Efeitos

Quantos aos efeitos, estatuí o art.609º do Cód. Civ. que “ a sub~rogaçãol exercida por
um dos credores aproveita a todos os demais”. Repete-se, pois, a solução consagrada
relativamente à declaração de nulidade dos actos praticados pelo devedor (art.605º.nº2
do CC).

Quer dizer, uma vez efectivada a sub-rogação, os bens entram ou reentram no


património do devedor em benefício de todos os credores e do prório devedor. Portanto,
também este meio conservatório da garantia patrimonial não aproveita apenas ao credor
que o utiliza. Entende-se, na verdade, ser essa a orientação mais razoável, visto que o
credor que se prevalece da sub-rogação invoca um direito do devedor estando certo que
os bens tenham, em princípio, o destino que lhes caberia se o direito fosse exercido pelo
seu titular.

Impugnação Pauliana

Como consabido, a garantia geral das prestações /obrigações é o património do devedor,


o qual poderá, a final, vir a ser penhorado com vista ao cumprimento coercivo da
obrigação no âmbito de um processo executivo.
Ora, existindo um crédito comum, o devedor poderá, em principio, dispor dos bens
conforme lhe aprouver. No entanto, em certas e determinadas circunstâncias que
possam colocar em causa o posterior efetivo cumprimento da obrigação, o credor, por
forma a salvaguardar o seu crédito, poderá usar mão de diversos mecanismos,
nomeadamente a impugnação pauliana.

a) Noção

A Impugnação Pauliana é a faculdade que a lei concede aos credores de atacarem


judicialmente certos actos válidos ou até mesmo nulos, celebrados pelos devedores em
seu juízo.
É uma acção judicial que permite aos credores contestarem por via judicial contratos
celebrados pelos devedores de onde resultam prejuízos para os legítimos interesses dos
credores. Torna-se possível ao devedor prejudicar os legítimos interesses dos credores,
não apenas a celebração de actos feridos de nulidade, nomeadamente negócios
simulados, mas também através acç~es quanto aos direitos que tenho em relação a
terceiros.
“A garantia geral do pagamento das dívidas é o patrimônio do devedor”.
Acontece que, o devedor pode prejudicar os legítimos interesses dos seus credores ao
praticar certos actos que impliquem uma diminuição do seu patrimônio.
Por exemplo, um devedor, prevendo que o seu credor possa executar coercivamente o
seu patrimônio para cobrar um respectivo crédito, vende a sua casa a um terceiro, seu
familiar, deixando assim o credor prejudicado porque fica impedido (se não tiver
hipoteca) de executar o imóvel do devedor para a satisfação do seu crédito.
No fundo, tal prática tem vindo a demonstrar que na maioria dos casos o devedor age de
má fé porque pretende deliberadamente com o negócio, impedir que os seus bens sejam
atacados pelo credor. Frequentemente ocorre nos negócios simulados. Nessas
situações, a lei permite que o credor possa atacar esses actos e contratos através da
impugnação pauliana.

b) Âmbito de aplicação

Antes de mais nada, precisamos saber quais os precisos actos susciptiveis de


impugnação pauliana, segundo o artigo 610º, cabem no seu âmbito todos aqueles «que
envolvam diminuição da garantia patrimonial do crédito e não sejam de natureza
pessoal».
Portanto, podemos entender que se trata de operações que impliquem redução do activo
como um aumento do passivo, mostram-se ser impugnáveis as alienações propriamente
ditas, as renúncias e as garantias ou a outros direitos que advirem do devedor.
É de realçar que o legislador no novo Código Civil preferiu a designação “impugnação
pauliana” do que a “acção pauliana” pois a impugnação pauliana pode actuar tanto sob
forma de acção como de excepção. Analisemos um possível exemplo da utilização do
referido meio conservatório da garantia patrimonial como excepção.
Ex: Realizada a penhora, na sequência da nomeação do exequente, sobre determinados
bens doados a um terceiro, este deduz os embargos previstos no art. 351º. nº1 do Cód.
De Proc. Civ. Se o embargo exequente alegar e provar os requisitos das als. a) e b) do
art. 610º. Do Cód. Civ. os embargos impocedem em resultado da procedência da
impugnação pauliana ivocada como excepção subsistindo a penhora sobre os bens
situados no património do terceiro-adquirente (art. 616º. nº1 do Cód. Civ).
Nos casos de negócios com os quais o devedor afecta o seu património são susceptiveis
de ipugnação pauliana, desde que não tenham natureza pessoal.
A formula sintética do art. 610º. é completada pelo art. 615º. pois o seu nº1 declara que
«não obsta à impugnação a nulidade do acto realizado pelo devedor» analisemos então a
seguinte questão; para atacar tais actos, os credores não dispõem do direito que lhes é
conferido no art. 605º. , de pedir a respectiva declaração de nulidade? E bastaria esse
direito para que os seus interesses ficassem suficientemente acautelados?
Repare-se que em muitos casos pode ser difícil ou mesmo impossível, a prova da causa
da nulidade do acto realizado pelo devedor. Assim acontecerá, sobretudo, quanto à
simulação. Pois não faria sentido que se protegesse menos os credores em relação aos
actos nulos do que em relação aos actos válidos. Portanto realizando o devedor um acto
nulo os credores possam escolher entre os dois meios conservatórios: a declaração de
nulidade ou a impugnação pauliana.
Carece também de explicação o nº2 do art. 615º. Conforme preceitua, «o cumprimento
de obrigação vencida não está sujeita a impugnação; mas é impugnável o cumprimento
tanto da obrigação ainda não exigível como da obrigação natural»
Resulta da primeira proposição a inatacabilidade com a impugnação pauliana do
cumprimento de uma obrigação já vencida efectuada pelo devedor. Reparemos que a lei
referindo-se no art. 615º. nº2 apenas ao «cumprimento de obrigação vencida» quis
permitir a impugnação pauliana quanto a outras formas de extinção das obrigações, tais
como a dação e cumprimento (art. 837º. e Ss.) e a novação (art. 857º. e Ss.). De ambos
os lados se verifica uma conduta legitima: o devedor paga o que deve e o credor recebe
aquilo que a tem direito.
Todavia, esta solução pode suscitar reparos, sobretudo conhecendo o devedor e o credor
beneficiado a situação patrimonial deficitária do primeiro. Dir-se-á que, em tal caso,
todos os credores têm o direito a ser por ele igualmente tratados, desde que não haja
causas legitimas de preferência, como acontece se existir uma hipoteca ou outra garantia
análoga mas também não parece menos certo que o pagamento efectuado a um dos
credores pelo devedor em situação patrimonial deficitária. Quanto à segunda proposição
do nº2 do art.615º. aceita sem dificuldade que o legislador declare impugnável o
cumprimento de uma divida ainda não exigível ou de uma obrigação natural.

c) Requisitos

A procedência da acção judicial de impugnação pauliana depende da verificação em


concreto, de certos requisitos.
Com virá distinguir, consoante se trate de uma transmissão ou de transmissões ou
constituições posteriores de direitos. Os pressupostos diferem, postos que desenvolvam
os mesmos princípios, se o credor exerce a impugnação pauliana no quadro das relações
imediatas ou de subatirentes. Neste último caso impõem-se a tender a algo mais do que
aos requisitos básicos, relativo da primeira transmissão, e que também actuam quanto ao
momento ou momentos ulteriores
I . impugnação pauliana no âmbito das relações imediatas:
Os requisitos do exercício da impugnação pauliana reduz-se a três: dois deles são gerais
e um terceiro apenas se refere a determinadas hipóteses. Apreciando seguidamente em
que consiste.
1) Em primeiro lugar, surge-nos a anterioridade do crédito(art 610º alínea
a). Exige-se, em princípio, que o crédito se mostre anterior ao acto a
impugnar. A explicação para esse evidente: por uma lado, os credores só
podem contar com os bens que existam no património do devedor a data
da constituição da dívida e com os que nele netrem depois; por lado,
resultaria perturbada a segurança do comércio jurídico desde que se
admitem-se a impuganaçaão de certos negócios com o fundamentos de
actos superiores de alguns dos certos outorgantes.
Mas o referido pressuposto da anterioridade do crédito sogfre uma restrição
importante, que se justifica. Também poderá ser um acto anterior ao crédito,
quando se prove que este acto foi realizado dolosamente com o fim de
impedir a satisafação do direito do futuro credor. Deve entender-se que tal
dispositivo impõe o dolo do devedor como a participação dolosa do terceiro,
ainda que sob a forma de puro conhecimento da intenção fraudulenta
daquele(scientia fraudis»).
Por exemplo: A convenciona com B tomar-lhe de empréstimo 50 000 KZ;
porém, antes da efectiva celebração do contrato, A vende a C os seus bens,
com o propósito fraudulento de se tornar insolvente e prejudicar o futuro
credor B.
O art 614º do Cód Civ resolve expressamente a questão do saber se é ou não
admissível a impugnação com base em crédito não vencidos ou sob condição
suspensiva, anteriores ao acto a impugnar. Quanto ao credor ao prazo
consagrou-se a solução afirmativa (nº1). Mas, a respeito do credor sob
condição suspensiva, foi adoptada a orientação oposta, embora se admita que
ele possa, durante a pendência da condição, requerer a prestação de caução
desde que se verifique os pressupostos da impugnabilidade (nº2). Por esta
forma se acautela os seus eventuais direitos .

2) Outro requisito é o que de que resulte do acto a impossibilidade ou


agravamento da impossibilidade da satisfação integral do crédito (art
610º al.b do Cód Civ) ou seja, vira-se para o facto de que o acto produza
ou agrave a impossibilidade de o credor conseguir a inteira satisfação do
seu crédito. Não basta, pois, um qualquer interesse do credor.
Compreende-se que a lei se apresente aqui mais rigorosa por se atacarem
quase sempre actos válidos do que relativamente as declarações de
nulidade onde os actos impugnados nunca o são. Em regra, a forma legal
reconduzir-se-á ao critério de o acto produzir ou agravar a situação
patrimonial deficitária do devedor.
Concebem-se, todavia, hipóteses em que essa coincidência não se verifique.
Assim, quando o devedor continue solvente, mas o credor não possa de facto
obter a satisfação do seu crédito, (Maxi-mi), dada a impossibilidade ou
dificuldade prática de executar os restantes bens do devedor(ex:o devedor
vende um prédio pelo justo preço e oculta a importância recebida).
O ônus da prova do montante das dívidas incumbe ao credor; cabendo ao
devedor, ou a terceiro interessado na manutenção do acto, provar que o
obrigado possuí bens penhoráveis de igual ou maior valor(art 611º do Cód
Civ).
Afigura-se razoável mercê de considerações de ordem prática, a referida
repartição dos encargos probatórios, que de certo modo não seguem as regras
gerais sobre a matéria(art 342º do Cód Civ)
3) O último requisito da impugnação pauliana é de que haja má fé do por
parte do devedor e do terceiro(art 612º do Cód Civ). é este o requisito
que, consoante advertimos, nmão se exige em todos os casos. Importa
distinguir: tratando-se de um acto oneroso torna-se necessária a má fé
cumulativa do devedor e do terceiro; mas se o acto for gratuito, dispensa-
se esse pressuposto e a impugnação pauliana porcede mesmo que um e
outro se encontre em má fé(art 612º.nº1 do Cód Civ).~

A diferença do regime assenta na exacta ponderação dos interesses em


conflito.
Explica-se do seguinte modo:
Se o acto é oneroso as partes estão de boa fé inexistindo, assim, qualquer
suspeita de fralde, considera-se que não há razão de censura ao devedor,
nem se afiguraria justo privar o terceiro dos benefícios dpo acto. Tanto
mais que no património devedor entrou um equivalente económico que
dele saiu. Logo, nada aconselha a que se afectem a legítimas expectativas
do devedor e do terceiro, bem como a segurança do comércio juídico. A
solução continua a justificar sem quando só uma das partes se encontre
de boa fé.

Diversamente, se o acto reveste natureza gratuita. No património do


devedor não entra uma contrapartida. E, por outro lado, apresenta-se
mais digno de protecção o interesse dos credores( que procuram evitar
prejuízos). Do que o interesse do terceiro( que procura vantagens).
Verifica-se, neste caso, o propósito legislativo de impedir um
locupletamento a custa alheia.

Conforme acima se observou, o art 615º.nº2 do Cód Civ), reputa o


cumprimento das obrigações naturais susceptíveis de impugnação
pauliana. O legislador entendeu conveniente tomar partido a este
respeito, para superação das divergências que dividem os autores.

Conhecemos os termos da equação o cumprimento das obrigações


naturais obedecem a um simples dever de justiça, ao passo qua das
obrigações civis a um autêntico dever jurídico. Ora, ponderando as
posições e os interesses em jogo – os dos credores naturais e os dos
credores civis, aceitou razoavelmente a primazia dos últimos,

Um vez que a obrigação natural é incoercível, o devedor não pode


cumpri-la em prejuízo dos seus credores civis. Mas, exigir-se-á a má fé
do credor e do devedor naturais? Eis o problema.

Em matéria de impugnação pauliana cremos que terá de apreciar-se o


carácter gratuito ou oneroso dos actos sem nunca perder de vista as
razões, ainda há poucos alinhadas, pelas quais as leis sanciona regime
diversos relativamente a uns e a outros. Então, parece de concluir, para
efeito de impugnação pauliana, o cumprimento de uma obrigação
natural, consistindo num acto de livre disposição do devedor, se
aproximam mais de uma liberalidade. É uma ilação que se mostra
pertinente.

Em face dela torna-se dispensável o requisito da má fé «entende-se por


má fé a consciência de o prejuízo que acto causa ao credor» ( art 612º.nº2
do Cód Civ). Não se reclama, deste modo, a intenção de prejudicar ou
conhecimento da situação de insolvência do devedor. Trata-se de
fórmulas que correspondem a realidade diversas. Repara-se que pode
existir a consciência do prejuízo que o acto causa aos credores, sendo o
mesmo realizado, todavia, sem o intuito de produzir dano; assim como
essa consciência do prejuízo não pressupõe, necessariamente, que se
reconheça ou exista a situação de insolvência do devedor, e vice-versa. A
má fé em que se analisam o dolo, nas suas diversas modalidades, e
também a negligência consciente.

II. Impugnação Pauliana relativa sub aquisições ou a posteriores


constituições de direitos:

Analisemos os requisitos da impugnação pauliana quando haja ulteriores


transmissões ou constituições de direito. Um exemplo: o devedor A
vende de má fé um prédio a B, tendo este realizado também o contrato de
má fé; mas B, por sua vez, transmite o prédio a C, que estava de boa fé.

Poderão os credores de A, mediante impugnação pauliana, agir contra


C?. A resposta encontra-se no art 613º, nº1 do Cód Civ.
De acordo com a sua doutrina a procedência da impugnação pauliana
contra sub-adquirentes depende dos seguintes pressupostos:

1) Que se verifiquem, relativamente a primeira transmissão, os


requisitos da impugnabilidade( art 613º nº1 aline a do Cód Civ).
Portanto, a anterioridade do crédito ou ter sido do acto realizado
dolosamente( art 610º alínea a do Cód Civ) a impossibilidade de
satisfação integral do crédito ou agravamento dessa possibilidade
( art 610º alínea b do Cód Civ) e a má fé por parte do devedor e do
terceiro adquirente ( art 612º do Cód Civ), nos termos que
analisamos.

2) Que o sub alinenante e o sub adquirente tenham agido de má fé caso


a nova transmissão a título oneroso ( art 613º nº1 aline b do Cód
Civ). Tratando-se de um actom a título gratuito dispensa-se esse
pressuposto.

Vigoram os mesmos princípios, sempre que à segunda permissão se


sigam outras. O mecanismo, evidentemente, não difere ponto.
Além disso, estatui o nº2 do art 613º do Cód Civ que a refida solução
é « é aplicável com as necessárias adaptações, a constituição de
direitos sobre os bens transmitidos em benefício de terceiro».

d) Efeitos

Cabe examinar, por último os efeitos da impugnação pauliana. Diversos sistemas têm
sido propostos pela doutrina e consagrados nas várias legislações uma vez que não há a
esse respeito unanimidade.
Um deles consiste em submeter os actos sujeitos a impugnação ao regime da nulidade.
Predomina, todavia, a orientação que confere à impugnação pauliana uma natureza
pessoal, isto é, através dela faz-se apenas valer um direito de crédito à restituição, na
medida exigida pelo interesse da pessoa que a exerce. Portanto, o acto não inferma de
qualquer vicio interno que determine a sua invalidade e os credores só podem impugná-
lo em consequência da má fé ou locupletamento daqueles contra os quais agem. A
mesma ideia inspira a diretriz que assinala à impugnação pauliana a consequência da
ineficácia, relativamente ao credor que a utiliza, do acto sobre que recair.
A nossa lei consagra a solução considerando o problema num tríplice aspecto:
a) Relações entre credor e o terceiro adquirente;
b) Relações entre os credores;
c) Relações entre o devedor e o terceiro;

a) As relações entre o credor e o adquirente encontram-se regiuladas no art.


616º. Do Cód. Civ. Ao credor que impugnou com êxito o acto do devedor cabe
o direito à restituição dos bens, na medida do seu interesse. Mas os bens não
têm de sair do património do obrigado à restituição, onde o credor poderá
executá-los e praticar quanto a eles os actos de conservação da garantia
patrimonial autorizados por lei.
O adquirente de má fé responde pelo valor dos bens que tenha alienado e mesmo
dos que perecerem ou se hajam deteriorado por caso fortuito, excepto provando-
se que a perda ou deterioração teria igualmente produzido na hipótese de os bens
se encontrarem no poder do devedor. Pelo contrário, o adquirente de boa fé tão
só responde na medida do seu enriquecimento.
As referidas soluções mostram claramente que o legislador se afastou do sistema
da nulidade. Esse regime, que era do antigo Cód. Civ. (art. 1044º.) ainda se
encontra consagrado, por exemplo no Direito brasileiro (art. 106º. a 113 do Cód.
Civ).
A nossa lei apenas prevê o caso de o terceiro haver constituído direitos reais
sobre a coisa adquirida (ex: uma hipoteca, um usufruto) determina que se
aplique, com a necessária e adaptação, o disposto para as transmissões
posteriores (art. 613º. Do Cód. Civ.).
De um lado, poderá admitir-se que os credores do alienante merecem maior
proteção do que os do adquirente, portanto veêm a sua garantia diminuída de
valores e que estes últimos procuram aproveitar-se. A situação seria
substancialmente equiparável à de um acto de aquisição nulo.
Mas, em sentido oposto dir-se-á que o beneficiário da impugnação é, afinal, um
credor do adquirente como qualquer outro. E também os credores pessoais deste
podem ter confiado na regularidade da aquisição, contando com os referidos
bens. Assim afigura-se preferível a doutrina que subordina o credor que exerce a
impugnação pauliana à concorrência, nos termos gerais, dos restantes credores
do terceiro obrigado a restituição.

b) Às relações entre credores refere-se o nº4 do art. 616º. Dele resulta que a
impugnação pauliana, diversamente do que sucede com outros meios
conservatórios atrás estudados (art. 605º. nº2 e 609º.) – aproveita apenas ao
credor que a tenha requerido e não aos demais credores do devedor. Reafirma-
se, por conseguinte, o caracter pessoal da impugnação pauliana que deriva do
nº1 do mesmo art. 616º.
A doutrina do precedente do Código Civil era diversa: os bens alianados
regressavam ao património do devedor para aí serem executados em beneficio
dos seus credores (art. 1044º.). Mas atendeu-se preferível que o novo Código
Civil restringisse o efeito da impugnação pauliana ao credor que exerça. Não
têm, na verdade que queixar-se desta solução os credores posteriores ao acto
impugnado; visto que lhes era impossível exercer esse direito, nem mesmo os
credores anteriores visto que poderiam exercê-lo e não o fizeram.

c) Às relações entre o devedor e o terceiro vigora o art. 617º. se o acto


impugnado for de natureza gratuita, o devedor responde para com o adquirente
nos termos do disposto em matéria de doações. Caso se trate de um caso
oneroso, apenas pertencerá ao adquirente exigir do devedor aquilo com que este
se enriqueceu.
Para se compreender esta diferença de regime, atente-se em que, sendo acto
oneroso, existirá necessariamente má fé do devedor e do adquirente (art. 612º.).
Contudo, os direitos que terceiro obtenha contra o devedor em virtude da
impugnação pauliana não prejudicam a satisfação dos direitos dos credores sobre
os bens que constituem objecto da restituição (art. 617º. nº2). É uma solução que
se justifica pelo conforto das duas situações.

e) Cessação da Impugnação Pauliana. Prazo de exercício

O antigo código civil estabelecia que a impugnação pauliana cessava logo que o
devedor cumprisse a obrigação ou adquirisse bens com que pudesse exonerar-se (art.
1040º.) cabendo também ao adquirente demandado pôr-lhe termo mediante a satisfação
da importância da divida (art. 1041º.). O nosso Direito atual não conhece preceitos
paralelos, mas a disciplina mantêm-se. O silêncio da lei é explicado pela evidência
dessas soluções, tanto mais se atribui à impugnação pauliana o caracter pessoal de meio
destinado à reparação do prejuízo sofrido pelo credor que a exerce. Extingui-sea
impugnação pauliana quando se verifica o cumprimento da obrigação ou qualquer outro
modo de satisfação ao credor como a compensação, a remissão, confusão, etc.
Relativamente ao prazo de exercício da impugnação pauliana determina o art 618º.que
esse direito caduca ao fim de 5 anos contados da data do acto impugnável. Trata-se
indiscutivelmente de um prazo de caducidade e não de prescrição, que ocorre a partir da
data do acto impugnável, ao passo que antes, embora fosse apenas de 1 ano se contava
desde a verificação judicial da insolvência do devedor. Daí que pudesse pronlongar-se
demasiado tempo o estado de incerteza sobre o acto sujeito a impugnação, com prejuízo
para desejável segurança jurídica.

Arresto

a) Noção e requisitos

Existe ainda um outro meio conservatóruo da garantia patrimonial: o arresto, que se


encontra regulado nos arts.609º. a 622º do Cód.Civ. Consiste numa apreensão
judicial de bens com valor suficiente para assegurar o cumprimento da obrigação.

Estabelece a lei que o credor que tiver receio da pera da garantia patrimonial do seu
crédito pode requerer o arreso dos bens do devedor; e esse mesmo direito lhe assiste
contra terceiro que haja adquirido bens do devedor, desde que a respectiva transmição já
tenha sido impugnada judicialmente ou, quando assim não suceda, o requerente aduza
factos que tornem provável a procedência da impugnação (art. 619º. do CC; art. 407º.
nº2 do Cód. de Proc. Civ.).

Portanto constituem requisitos do arresto:

1. O motivo fundado do credor para recear a perda da garantia patrimonial.


Nomeadamente será caso de temer uma próxima situação deficitária do
património do devedor, ou uma sonegação ou ocultação de bens que
impossibilite ou dificulte a realização coactiva do crédito.
2. Que a transmição tenha sido objecto de impugnação judicial (declaração de
nulidade, impugnação pauliana) ou que se demonstre a probabilidade de
semelhante impugnação vir a proceder, quando se trate de arresto requerido em
relação a terceiro adquirente dos bens do devedor.

b) Processo de concessão e efeitos

Dada finalidade própria do arresto - e para que melhor possa ser atingida –
compreende-se o respectivo processo. Uma vez produzida a prova sumária, mas
suficiente, da probabilidade da existência do crédito e dos pressupostos do arresto, será
este decretado sem audiência da parte contrária, que só depois é notificada para deduzir
a sua defesa (arts. 407º. nº1 , 408º. nº1 e 388º. «ex vi» do art. 392º. nº1 do Cód. de Proc.
Civ.).

Não se pense, todavia, que o legislador descurou os interesses do arrestado. Na verdde,


sempre que assim o entenda, poderá o tribunal fazer depender o arresto da prestação de
uma caução que arbitre ao requerente (art. 620º. do Cód. Civ.; art. 390º. nº2 do Cód. de
Proc. Civ. , «ex vi» do art. 392º. nº2). Além disso se o arresto for julgado injustificado
ou caducar, o requerente fica responsável pelos danos causados ao arrestado, quando
não tenha agido com prudência normal (art. 621º. do Cód. Civ.; art. 390º. nº1 e 392º. nº1
do Cód. de Proc. Civ.).

E ainda: o arresto requerido em mais bens necessários para garantia do crédito será
reduzido aos limites razoáveis (art. 408º. nº2 do Cód. de Proc. Civ.); o arrestado não
pode ser privado dos rendimentos estritamente indispensáveis aos seus alimentos e da
sua familía (art. 408º. nº3 do Cód. de Proc. Civ.); e o arresto pode também ser
substituido, a requerimento do réu, por caução que, ouvir o autor, o tribunal considere
suficiente para prevenir a lesão ou repará-la na integridade (art. 387º. nº3 do Cód. de
Proc. Civ.).
O arresto, conforme o Código Civil declara no art. 622º. Nº1 , torna ineficazes em
relação ao requerente os actos de disposição dos bens arrestados, de acordo com as
regras próprias de penhora. Quer dizer, que o arrestado pode validamente dispor dos
bens apreendidos ou onerá-los, só que tais actos não são eficazes quanto ao arrestante,
embora sem prejuízos dos principios do registo (art. 819º. do Cód. Civ.).

Também se mostram extensivos ao arresto, na parte aplicada, os demais efeitos da


penhora (art. 622º. nº2 do Cód. Civ. e 406º. nº2 do Cód. de Proc. Civ.). De entre estes,
sobressai a preferência em relação aos outros credores do arrestado, que não tenham
garantia real anterior (art. 822º. do Cód. Civ.). Contudo, não se reconhece essa
preferência na hipóteses de o devedor vir a ser declarado falido, dada a necessidade de
assegurar o principio do tratamento paritário dos credores comuns ( par conditio
creditorum).

Observe-se que o arresto é convertido em penhora na execução do crédito que garante


(art 846º do Cod. De Porc. Civ). Providencia tal respeito o Cod Civ, no seu art 822º.nº2,
que, «tendo os bens executado sido previamente arrestados a anterioridade da penhora
reporta-se à data do arresto).

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