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Resolução do caso prático Nuno e Matilde - Promessa de casamento

Quando Nuno propõe Matilde em casamento e esta aceita, estamos perante


uma promessa de casamento conforme disposto no art. 1591º C.C., segundo o
Professor Jorge Duarte Pinheiro a promessa de casamento pode também ser a
oferta do anel de noivado quando a mulher o coloca no dedo e ainda a
declaração para casamento proferida no processo preliminar.

Tanto quanto nos é dado a conhecer neste caso ambos têm capacidade para
casar, esta é uma capacidade especial prevista nos artº1600º e SS, do C.C., é
aferida se os nubentes não estivem em nenhuma das situações previstas nos
artº1601º e 1602º C.C.- situações de incapacidade e de ilegitimidade
respectivamente, assim sendo não há qualquer impedimento que obste ao
casamento entre Nuno e Matilde.

Na promessa de casamento pode-se apor uma condição ou um termo dentro


dos limites da boa fé, diferente do que se passa no casamento, pois este não
pode estar sujeito a condições ou termos, é incondicional.

A promessa de casamento obedece ao princípio da liberdade de forma artº


217º e 410º C.C., e não impõe declaração expressa, é um contrato promessa
de casamento segundo o qual na falta de disposições específicas dos artºs
1591º a 1595º C.C. se aplicam as regras gerais dos contratos promessa e do
negócio jurídico, mas com diferenças substanciais, entre elas a execução
específicas artº 830º não é possível por estarem em causa direitos pessoais,
entre uma vinculação obrigacional e a liberdade de não casar (a todo o
momento), o legislador consagra a segunda, não favorece todas as razões que
possam levar alguém, tendo desistido de contrair matrimónio o faça somente
para não sofrer danos patrimoniais e venha a casar á espera da primeira
oportunidade para conseguir o divorcio ou não cumprir com os deveres
matrimoniais. Este dever de indemnizar não cobre todos os danos emergentes,
não contempla lucros cessantes nem danos não patrimoniais.

No caso em análise existem despesas tendentes ao casamento e donativos.


Nuno podia retractar a promessa de casamento com justa causa –Matilde a
partir do momento em que aceita o pedido de casamento, tem o dever de se
comportar conforme o disposto no artº 1672º C.C., embora ainda não
tivessem contraído matrimónio o comportamento deve ser extensível ao que
terá que adoptar no casamento, não havendo ainda deveres de fidelidade
enquanto nubente era espectável que tivesse um comportamento semelhante
ao exigido no casamento – ideia de boa-fé.

Quanto ao anel de diamantes que é um donativo, pode Nuno pedir a sua


restituição a Matilde como dispõe o artº 1592º C.C.

Em relação ao copo de água e à viagem de lua de mel, despesas tendentes ao


casamento Matilde terá que indemnizar Nuno segundo o disposto no artº
1594º nº 1 e nº 3 C.C., o tribunal vai ter em conta que estamos perante uma
promessa de casamento e vai decidir o valor da indemnização atendendo as

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razões dos nubentes e as despesas em causa. No tocante á despesa da lua de
mel, o tribunal poderá considerar que Nuno pode utilizar a viagem para
“espairecer” e assim tentar esquecer o sucedido tribunal pode também fixar
um valor baixo das despesas efectuadas, pois a regra da restituição não
funciona nestes casos e em geral considera que as despesas foram feitas em
proveito de ambos.

Sónia, a futura madrinha fez um donativo a Matilde, o vestido de noiva, este


ser-lhe-á restituído segundo o disposto no artº 1592º C.C., e esta poderá ir á
loja tentar trocar o vestido de noiva por outra coisa que se lhe adequo. A
obrigação de restituir os donativos compreende-se pois estes foram feitos
segundo determinada expectativa, a de os nubentes celebrarem matrimónio,
como tal não vai acontecer o donativo já não faz sentido. O artº 1592º C.C.
remete para o artº 289º C.C., obrigação de restituir, o nº 2 deste preceito diz
que a coisa foi alienada gratuitamente só tem que ser restituída na medida do
seu enriquecimento, esta obrigação de restituir não abarca coisas consumidas
antes da retractação ou da verificação da incapacidade artº 1592 nº 2 C.C.
A acção de pedido de restituição dos donativos ou de exigir as indemnizações
previstas no artº 1594º tem o prazo de 1 ano a contar da quebra da promessa
de casamento conforme dispõe o artº 1595º C.C., findo o qual caduca.

Matilde terá que provar que o incumprimento não procede de sua culpa artº
799º C.C., talvez alegar que estava a ensaiar uma peça de teatro? Caso
contrário vai ter que restituir as ofertas e indemnizar Nuno. Esta pode também
exigir a Nuno os donativos se é que lhos fez, conforme artº 1592 nº 1 do C.C.

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