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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

DIREITO CIVIL

1ª questão (15 linhas)

Carlos Eduardo resolveu adquirir, junto à empresa de turismo Lazer e Pacotes LTDA.,
pacote de viagem para passar cinco dias em Cancún, no México, em viagem de curto
período de férias de que dispõe em empresa multinacional em que exerce cargo de
gerência. O pacote de viagem abrangia apenas as passagens aéreas de ida e volta, sem
qualquer outro serviço prestado pela empresa de turismo Lazer e Pacotes LTDA. Após a
emissão das passagens, verificou que o serviço de transporte aéreo seria prestado pela
empresa Tráfego Aéreo Seguro LTDA. Por ocasião do embarque na data aprazada
(05/06/2022) e ao chegar a Cancún no dia seguinte, foi cientificado de que suas bagagens
haviam sido extraviadas e de que a previsão de entrega das malas era de até 48 horas após
o desembarque em Cancún, o que, de fato, aconteceu. Nove meses depois e considerando
que ficou sem seus pertences por, aproximadamente, 48 horas, Carlos Eduardo distribui
ação indenizatória por danos morais e materiais em face de Lazer e Pacotes LTDA. e de
Tráfego Aéreo Seguro LTDA. A segunda ré não apresentou contestação no prazo legal.
A primeira demandada, em contestação, invocou a prescrição da pretensão autoral, diante
do transcurso do prazo prescricional aplicável à espécie e, no mérito, a ausência de
responsabilidade civil, ao argumento de que apenas vendeu a passagem aérea, não tendo
ingerência sobre o serviço prestado pela empresa Tráfego Aéreo Seguro LTDA.
Sustentou, ao mais, a impossibilidade de aplicação das normas consumeristas ao caso e,
também, subsidiariamente, a observância dos limites indenizatórios existentes em
Convenções Internacionais, que abrangem danos morais e materiais. Decida sobre as
teses defensivas ventiladas em contestação. (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

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De saída, o STF, em sede de repercussão geral (Tema 210/STF), firmou


entendimento no sentido de que, nos termos do art. 178 da Constituição da República, as
normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras
aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm
prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor.

Aplicando-se as disposições de Convenções Internacionais, incide o art. 29


da Convenção de Varsóvia, que estabelece prazo prescricional bienal para exercício de
pretensão vinculada a transporte aéreo internacional, pelo que a prejudicial suscitada deve
ser afastada.

Com efeito, a empresa Lazer e Pacotes LTDA. não responde solidariamente


pelos danos narrados pela parte autora, porquanto procedeu à venda apenas de passagens
aéreas, e não de pacote amplo de viagens, consoante entendimento do STJ.

Por derradeiro, segundo entendimento do STF e do STJ, aplica-se o limite


indenizatório previsto no art. 22 da Convenção de Montreal apenas aos danos materiais,
não incidindo quando houver pretensão de reparação por danos extrapatrimoniais.

2ª questão (15 linhas)

Discorra, de forma fundamentada, sobre a possibilidade de tutela jurídica a uniões


estáveis concomitantes e paralelas. (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

Conforme cediço, a Constituição da República, em seu art. 226, § 3º,


preceitua que, para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável como
entidade familiar. A convivência de pessoas impedidas de casar se caracteriza como
concubinato, nos termos do artigo 1.727 do Código Civil. Entretanto, o impedimento ao

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casamento, previsto no inciso VI do art. 1521, é mitigado quando pessoas casadas, mas
separadas de fato ou judicialmente, constituem união estável.
Nesta toada, o STF, recentemente, assentou que a preexistência de casamento
ou de união estável de um dos conviventes, ressalvada a exceção do artigo 1723, § 1º, do
Código Civil, impede o reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo período,
inclusive para fins previdenciários, em virtude da consagração do dever de fidelidade e
da monogamia pelo ordenamento jurídico-constitucional brasileiro.
Trata-se, inclusive, de entendimento sedimentado no STJ e do E. TJRJ, este
último em verbete sumular, firmado no sentido de que é inadmissível o reconhecimento
de uniões estáveis concomitantes.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL, LEGISLAÇÃO PROCESSUAL CIVIL EM


VIGOR E ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA

1ª questão (15 linhas)

No âmbito de cumprimento de sentença em ação de obrigação de fazer com pedido


indenizatório, iniciado após a procedência da pretensão autoral, com condenação da parte
ré ao pagamento de R$ 20.000,00 a título de danos morais e materiais, o advogado da
parte autora formulou diversos pedidos de penhora das contas bancárias do réu para saldar
o débito principal em aberto e reconhecido, judicialmente, em favor do seu cliente. Ciente
de que todos os requerimentos de constrição de bens restaram infrutíferos e de que a parte
ré tem em conta poupança pequeno valor, que ostenta o manto da impenhorabilidade, o
causídico entende por bem, então, ao menos, executar a verba honorária a que faz jus,
diante do seu caráter alimentar, que alcança o montante atualizado de R$ 3.000,00.
Requer o advogado, ato contínuo, a penhora do valor de R$ 3.000,00 a título de honorários
de sucumbência, cuja constrição deve recair sobre a quantia que se encontra depositada
em conta poupança da parte ré, ora executada, argumentando o causídico que o seu crédito

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consiste em verba relativa à prestação alimentícia, que flexibiliza a lógica da


impenhorabilidade, de acordo com expressa previsão legal. Indaga-se: Assiste razão ao
patrono? Enquanto Juiz da causa, como decidiria, de forma fundamentada, o
requerimento formulado pelo advogado? (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

O art. 833, incisos IV e X, prevê que são impenhoráveis os vencimentos,


proventos e remunerações, bem assim a quantia depositada em caderneta de poupança,
até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos. Excepcionalmente, contudo, o §2º do
mesmo dispositivo legal preconiza que tais incisos não se aplicam à hipótese de penhora
para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como
às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais.
Quanto à interpretação da extensão do conceito de “prestação alimentícia”, a
que alude o §2º do art. 833 do CPC, a Corte Especial do STJ decidiu que as exceções
destinadas à execução de prestação alimentícia, como a penhora dos bens descritos no art.
833, IV e X, do CPC/15, não se estendem aos honorários advocatícios, como não se
estendem às demais verbas apenas com natureza alimentar.
Para a Corte Superior, portanto, os honorários advocatícios, embora
constituam verba de natureza alimentar, não têm natureza de "prestação alimentícia" para
efeito de excepcionar a regra da impenhorabilidade prevista no art. 833 do CPC.
Desse modo, o requerimento formulado pelo patrono deve ser indeferido.

2ª questão (15 linhas)

Pedro César ajuizou ação de despejo cumulada com pedido de cobrança de aluguéis em
face de Sandra Regina, tendo, como causa de pedir, o inadimplemento da locatária Sandra

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Regina, por cinco meses subsequentes, quanto aos aluguéis, condomínio e IPTU que
incidem sobre o imóvel objeto da locação. Após a apresentação de contestação pela parte
demandada, é acostada aos autos minuta de acordo assinada pelos advogados das partes,
com poderes especiais para transigir. No instrumento de autocomposição, a locatária se
compromete a pagar 70% do valor inadimplido para evitar o despejo, o que é feito na data
do protocolo da minuta de acordo, existindo cláusula no acordo, ainda, no sentido de que,
após o pagamento de 70% do valor devido, o processo ajuizado por Pedro César seria
extinto, sem resolução do mérito, por perda superveniente de objeto. Cinco dias após o
protocolo da minuta de acordo, Pedro César, após conversar com sua esposa, arrepende-
se de ter feito constar cláusula no sentido de que aceitaria apenas 70% do valor devido e,
então, peticiona requerendo a rescisão da transação realizada. A parte ré, instada pelo
Juízo, manifesta-se pela homologação do acordo entabulado. Indaga-se: O acordo
celebrado pelas partes deve ser homologado? (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

O acordo entabulado pelas partes deve ser homologado. Conforme


entendimento pacífico na jurisprudência do STJ, em regra, é descabido o arrependimento
e a rescisão unilateral da transação, ainda que antes da homologação judicial.
Com efeito, uma vez concluída a transação as suas cláusulas ou condições
obrigam definitivamente os contraentes, e sua rescisão só se torna possível por dolo,
coação, ou erro essencial quanto à pessoa ou coisa controversa, à luz do entendimento do
STJ e a teor do art. 849 do Código Civil.
Desta feita, inexistindo demonstração de dolo, coação, ou erro essencial
quanto à pessoa ou coisa controversa, conforme previsão do art. 849 do Código Civil, não
há de se acolher o pedido de rescisão do acordo celebrado, devendo o instrumento de
autocomposição ser devidamente homologado pelo Magistrado.

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DIREITO DO CONSUMIDOR

1ª questão (15 linhas)

Discorra sobre a situação do consumidor superendividado a partir de sua base legal e da


orientação jurisprudencial do STJ e do TJRJ sobre a matéria, devendo esclarecer se, em
demanda judicial com pedido de repactuação de dívidas, remanesce competência da
Justiça Estadual nas hipóteses em que empresa pública federal integrar o polo passivo da
relação processual juntamente com instituições financeiras privadas. Indique, ainda,
fundamentadamente, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça acerca da licitude
quanto à limitação de descontos em conta-corrente envolvendo contrato de mútuo
bancário comuns, mediante autorização prévia do mutuário, diante da aplicação, por
analogia, da limitação prevista no § 1º do art. 1º da Lei n. 10.820/2003, que disciplina os
empréstimos consignados em folha de pagamento. (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

O art. 6º do CDC (incisos XI e XII) prevê, enquanto direitos básicos do


consumidor, a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira e de
prevenção e tratamento de situações de superendividamento, além da a preservação do
mínimo existencial, nos termos da regulamentação, na repactuação de dívidas e na
concessão de crédito.
Em recurso repetitivo, o STJ decidiu que são lícitos os descontos de parcelas
de empréstimos bancários comuns em conta-corrente, ainda que utilizada para
recebimento de salários, desde que previamente autorizados pelo mutuário, não sendo
aplicável, por analogia, a limitação prevista no § 1º do art. 1º da Lei n. 10.820/2003, que
disciplina os empréstimos consignados em folha de pagamento.

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A matéria em questão já restou sumulada no E. TJRJ, vedando-se que a


totalidade dos descontos incidentes na conta corrente do devedor ultrapasse, via de regra,
a 30% do salário do devedor. Por derradeiro, cabe à Justiça comum estadual processar
demandas decorrentes de superendividamento, ainda que exista interesse de ente federal,
em interpretação teleológica recentemente conferida pelo STJ ao art. 109, I, da CF/88.

2ª questão (15 linhas)

Maria Cristina, cliente do plano de saúde VIVER MELHOR LTDA., foi diagnosticada,
em janeiro de 2020, com pielonefrite em decorrência de complicações de Lúpus
Eritematoso. Após meses de tratamento sem sucesso, o médico que acompanha Maria
Cristina indicou a utilização do medicamento Rituximabe, com menção expressa, no
laudo por ele subscrito, de que a situação de Maria Cristina é delicada, bem como de que
o medicamento, que deve ser ministrado em caráter de urgência, tende a garantir a
sobrevida da usuária do plano de saúde. Diante da recusa administrativa do plano de saúde
VIVER MELHOR LTDA. em fornecer o fármaco, Maria Cristina ajuíza demanda judicial
com pedido de obrigação de fazer, a fim de que a parte ré seja compelida à concessão do
medicamento, nos moldes do laudo médico. Citada, a parte ré sustenta que, embora
registrado pela ANVISA, o médico de confiança da parte autora determinou a realização
de tratamento com base em uso off-label de medicamento. Isso porque, ao que se extrai
da bula do Rituximabe, registrada na ANVISA, tal medicamento não é indicado,
expressamente, para a enfermidade que acomete a autora. Impugna a parte ré, portanto, o
laudo médico que instrui a petição inicial, já que contrário aos pareceres das equipes
técnicas do plano de saúde réu, que entendem que o medicamento não é indicado para a
paciente com pielonefrite. Após apresentação de réplica, as partes não requereram a
produção de provas adicionais. Enquanto Juiz da causa, há de ser acolhida a pretensão
autoral? (VALOR 0,4).

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Padrão de resposta:

De acordo com recente entendimento do STJ, o plano de saúde não pode


recusar o fornecimento de medicamento registrado na ANVISA e prescrito pelo médico
do paciente unicamente sob o argumento de que se trata de uso off-label, ou em caráter
experimental.
Para a Corte Superior, a recusa da operadora do plano de saúde em custear
medicamento registrado pela ANVISA e prescrito pelo médico do paciente é abusiva,
ainda que se trate de fármaco off-label ou utilizado em caráter experimental,
especialmente na hipótese em que se mostra imprescindível à conservação da vida e saúde
do beneficiário.
Em verdade, o médico é o responsável pela decisão terapêutica, e não a
operadora do plano de saúde, de sorte que incumbe ao médico decidir se aquele remédio
ou tratamento é indicado ou não para a doença do paciente.
Acrescente-se, por relevante, que há entendimentos sumulados no E. TJRJ no
sentido de que a palavra do profissional médico prevalece em havendo divergência com
o plano de saúde. Dessa forma, há de ser acolhida a pretensão autoral.

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1ª questão (15 linhas)

Cláudia e Sérgio conviveram em união estável por breve período de cinco anos. Durante
a relação de convivência, tiveram Sophia, nascida em 04 de janeiro de 2020. Após o fim
do relacionamento, Cláudia conhece Pietro, cidadão italiano que passava férias no Brasil
e, após convite de Pietro, por quem se apaixonou, Cláudia resolve se mudar, em
definitivo, para a Itália, sabedora de que também teria, naquele país, relevante
oportunidade de trabalho. Antes, porém, da fixação de residência no exterior, Cláudia

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ajuíza ação de guarda compartilhada com pedido de regulamentação de visitas,


requerendo autorização para moradia na Itália com Sophia e a fixação judicial de regime
de convivência de Sérgio com a filha Sophia. Citado, o genitor impugna, veementemente,
o pedido autoral, alegando ser inviável o estabelecimento de guarda compartilhada entre
genitores que residem em países diferentes. Pugna, portanto, pela fixação de guarda
unilateral em seu favor, com moradia-base da criança no Brasil, argumentando que o
melhor interesse da menor não recomenda providência diversa. Realizados estudos
psicossociais, o Juízo constatou, a partir do trabalho das equipes multidisciplinares, que
ambos os pais exercem a parentalidade da forma esperada e que, em que pese certa
divergência dos genitores quanto à forma de criação da menor, conseguem, com
frequência, por meio do diálogo, educar e criar a prole. O MP se manifesta contrário ao
pedido autoral de fixação de guarda compartilhada, oficiando no sentido de que
desvirtuaria a sua própria essência, caso Cláudia se mude ao exterior com a filha Sophia.
Enquanto Juiz da causa, decida, de forma fundamentada, sobre a possibilidade de fixação
de guarda compartilhada no caso apresentado, devendo, ainda, conceituar, de forma
objetiva, a guarda compartilhada, bem assim indicar a base legal pertinente. (VALOR
0,4).

Padrão de resposta:

A guarda consiste no dever de prestar assistência educacional, material e


moral ao menor. Trata-se do exercício do poder familiar e de responsabilidades, direitos
e deveres concernentes à criação da criança ou do adolescente. Quando há guarda
compartilhada, é de responsabilidade de ambos os genitores as decisões a respeito do
filho, que devem ser tomadas em conjunto, baseadas no diálogo e consenso (art. 1584,
§§1º e 2º, do CPC).
Excepcionalmente, na forma do art. 1.584, § 5º, do CPC, se o juiz verificar
que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda a pessoa

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que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de preferência, o


grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade.
Recentemente, inclusive, o STJ entendeu que é possível a modificação do lar
de referência de criança sob guarda compartilhada para o exterior, distinto daquele em
que reside um dos genitores, porquanto a guarda compartilhada não exige custódia física
conjunta do(a) filho(a), tampouco implica, necessariamente, em tempo de convívio
igualitário, de sorte que é cabível a fixação de guarda compartilhada no caso em apreço.

2ª questão (15 linhas)

Discorra, de forma fundamentada, sobre as audiências concentradas no contexto infanto-


juvenil, analisando, necessariamente, os seguintes tópicos: a) conceito e finalidade; b)
previsão legal; c) periodicidade; d) órgãos participantes; e) (in) dispensabilidade da oitiva
da criança ou do adolescente. (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

A Audiência Concentrada, com assento no Provimento no 118/2021 do


Conselho Nacional de Justiça, é o ato processual que tem o objetivo precípuo de reavaliar
a situação de crianças e adolescentes que se encontram em programa de acolhimento
familiar ou institucional (art. 19, §1º, da Lei 8.069/1990 e art. 1º, §§1º e 2º, do Provimento
118/2021 do CNJ).
Registre-se que as audiências concentradas devem ser realizadas
semestralmente, nos meses de abril e outubro ou maio e novembro, nos termos do art. 1º,
caput, do Provimento 118/2021 do CNJ, com a participação dos atores do Sistema de
Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, com a participação dos órgãos,
entidades e pessoas elencados pelo art. 2º, V e VI, do Provimento 118/2021 do CNJ.

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Por derradeiro, sempre que possível, a criança ou o adolescente será ouvido,


respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão e terá sua opinião
devidamente considerada, o que decorre da aplicação, por analogia, do art. 28, §1º, do
ECA.

DIREITO PENAL
1ª questão (15 linhas)

O Ministério Público ofereceu denúncia em face de João, imputando-lhe a prática do


crime descrito no art. 35 da Lei 11.343/2006, em razão dos fatos ora descritos: “em data
cujo termo a quo não foi possível precisar, mas que perdurou até o dia 31 de outubro de
2023, por volta das 16h30min na Avenida Brasil, mais precisamente próximo ao “Galo
Chopp”, Bangu, nesta comarca, o denunciado, consciente e voluntariamente, associou-se
aos demais integrantes da facção criminosa conhecida como “Comando Vermelho - CV”,
para a prática, reiterada ou não, do crime de tráfico de entorpecentes naquela localidade,
em nítida divisão funcional de tarefas, porquanto exercia a função de “radinho” no
escalonamento da aludida facção criminosa. Com efeito, Policiais Militares, durante
patrulhamento de rotina pela Avenida Brasil, tiveram suas atenções voltadas para o
denunciado, que portava um rádio comunicador, razão pela qual resolveram realizar a
abordagem. Em revista pessoal, os agentes da lei lograram êxito em apreender o já
referido rádio transmissor, que, aliás, estava ligado na frequência do tráfico e era utilizado
pelo denunciado para fazer o monitoramento da movimentação policial no local.”
Encontra-se acostado aos autos o laudo de constatação da plena funcionalidade do bem.
Em sede judicial, os policiais ratificaram os termos da denúncia, afirmando que o rádio
estava na frequência do tráfico local. O réu permaneceu em silêncio. O MP, em alegações
finais, pediu a condenação do réu nos exatos termos da denúncia. A defesa pediu a
desclassificação da conduta para o crime descrito no art. 37 da Lei de Drogas. Na
qualidade de juiz, analise o mérito da ação penal, sem tecer qualquer comentário sobre
eventuais preliminares. (VALOR 0,4).

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Padrão de resposta:

A pretensão punitiva estatal deve ser julgada improcedente, com espeque no


art. 386, III, do CPP. Explico.

O art. 35 da Lei 11.343/2006 é um crime de concurso necessário, motivo pelo


qual a pluralidade de agentes é elementar do tipo penal. In casu, o Ministério Público
ofereceu denúncia em face, apenas, de uma pessoa. Trata-se, pois, de fato atípico, por
ausência de elementar objetiva. Ademais, a título de reforço, inexiste qualquer prova de
estabilidade e permanência, o que, por si só, já afastaria o tipo penal.

Demais disso, não é possível desclassificar a conduta perpetrada para o crime


descrito no art. 37 da Lei de Drogas Como não houve prova de que o acusado estava
conversando por meio do rádio apreendido, ter-se-ia um mero ato preparatório no iter
criminis, impunível em sede penal, mesmo estando o aparelho na frequência do tráfico
local.

2ª questão (15 linhas)

O Ministério Público ofereceu denúncia em face de João, imputando-lhe a prática do


crime descrito no art. 33 da Lei 11.343/2006, em razão dos fatos ora descritos: “no dia 04
de julho de 2017, por volta das 11:30h, na Rua 02, bairro Alto Caxanga, Carapebus-RJ,
nesta Comarca, o denunciado, de forma livre, consciente, voluntária, sem autorização
legal e em desacordo com determinação legal e regulamentar, trazia consigo substância
entorpecente destinada à comercialização, consubstanciada em 1,7 gramas de cocaína,
acondicionados em 2 pequenas embalagens plásticas transparentes (sacolés) e 18 gramas
de maconha, acondicionadas em 10 pequenos sacos plásticos transparentes, fechado por
nó, conforme descrito no laudo pericial anexado aos autos. De rigor salientar que, em
razão da circunstância da prisão em flagrante, da quantidade e da forma de
acondicionamento da droga, não há dúvidas de que a substância arrecadada se destinava
ao tráfico ilícito de drogas. Consta dos autos que no dia dos fatos, policiais militares que

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estavam de serviço no DPO de Carapebus, receberam denúncias informando que havia


um homem vendendo drogas na Rua 02, s/nº, bairro Caxanga, em Carapebus-RJ, havendo
sido passada a descrição do indivíduo. Os militares se dirigiram para o local e após
chegarem, encontraram o denunciado em atitude suspeita. Ao avistar a viatura policial o
acusado tentou se evadir, mas foi alcançado e detido pelos policiais. Em revista pessoal,
o material entorpecente foi encontrado.” Em sede judicial, os policiais ratificaram os
termos da denúncia, afirmando que não conheciam o réu de outras abordagens.
Afirmaram, ainda, que há muitos usuários no local. O réu afirmou que, de fato, estava no
local, tendo acabado de comprar o material entorpecente. Disse que correu por medo de
sofrer represálias da Polícia. O MP, em alegações finais, pediu a condenação do réu nos
exatos termos da denúncia. A defesa pediu a desclassificação da conduta para o crime
descrito no art. 28 da Lei de Drogas. Na qualidade de juiz da Vara Única de Quissamã,
analise o mérito da ação penal, partindo da premissa de que a revista pessoal foi lícita.
(VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

A pretensão punitiva estatal deve ser julgada improcedente, com fulcro no art.
386, VII, do CPP. À luz dos parâmetros fixados no art. 28, §2º, da Lei 11.343/2006, não
há qualquer indicativo de que o material entorpecente apreendido se destinava ao
comércio ilícito. Tem-se pequena quantidade de drogas (1,8 gramas de cocaína e 18
gramas de maconha), sendo certo que a prova oral produzida em juízo não foi capaz de
chancelar a prática de atos de traficância.

Em se tratando de porte de drogas para consumo pessoal, considerando que


não houve aditamento à denúncia, não resta outra alternativa senão que o pedido seja
julgado improcedente, sob pena de se violar o princípio da correlação entre a peça
acusatória e a sentença.

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Registre-se, por fim, que parcela da doutrina e da jurisprudência entendem


ser possível desclassificar o crime de tráfico de drogas para o delito descrito no art. 28 da
Lei 11.343/2006, sem aditamento à denúncia. Mas, com a devida vênia, não se concorda
com o respeitável posicionamento.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1ª questão (15 linhas)

O Ministério Público ofereceu denúncia em face de João e Caio, ao argumento de que os


agentes teriam praticado o crime de roubo circunstanciado pelo concurso de pessoas e
pelo emprego de arma de fogo. Após requerimento do Parquet, o juízo decretou a prisão
preventiva dos acusados. João foi encontrado e respondeu ao processo preso. Caio, por
sua vez, está foragido, não tendo sido encontrado. Por ocasião da instrução processual,
após a oitiva da vítima e dos policiais militares, passou-se ao interrogatório de João. Em
seguida, os patronos de Caio afirmaram que o acusado gostaria de realizar o interrogatório
por videoconferência. Nada obstante, o juiz afirmou que o fato de o réu não se apresentar
à Justiça para cumprimento de seu mandado de prisão implicaria em renúncia tácita ao
direito de participar da audiência virtual e de exercer a autodefesa por ocasião do
interrogatório judicial. Determinou-se, assim, a apresentação de alegações finais. Nesse
contexto, decida de forma fundamentada: a) quais são as acepções e a previsão
constitucional do princípio da ampla defesa? b) qual é a distinção entre ampla defesa e
plenitude de defesa? c) agiu de forma acertada o magistrado? (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

De acordo com o art. 5º, LV, da Magna Carta, aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e

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ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. A ampla defesa possui duas
acepções. Veja-se.

Defesa técnica é aquela exercida por profissional da advocacia, dotado de


capacidade postulatória, seja ele advogado constituído, nomeado, ou defensor público.
Por outro lado, a autodefesa é aquela exercida pelo próprio acusado, em momentos
cruciais do processo.

No âmbito do Tribunal do Júri, por sua vez, invoca-se a plenitude de defesa


(CF, art. 5º, LV), que não se confunde com a ampla defesa. Nesta sede, o advogado de
defesa não precisa se restringir a uma atuação exclusivamente técnica, ou seja, é
perfeitamente possível que o defensor também utilize argumentação extrajurídica,
valendo-se de razões de ordem social, emocional, de política criminal, dentre outras.

Por fim, o STJ já aduziu que é incabível a realização de interrogatório virtual


de réu foragido. Contudo, o Min. Edson Fachin recentemente decidiu, de forma
monocrática, que o fato de o paciente não se apresentar à Justiça para cumprimento de
seu mandado de prisão não implica renúncia tácita ao direito de participar da audiência
virtual ou dos demais atos processais, nem ao direito de defesa. Filio-me ao último
entendimento.

2ª questão (15 linhas)

O juiz da Vara de Execuções Penais do Estado do Rio de Janeiro, após ter acesso a
relatório de inteligência da PCERJ, acolheu o que fora postulado e determinou,
cautelarmente, a inclusão de Tício, líder de uma das maiores milícias do Estado do Rio
de Janeiro, em unidade prisional federal, determinando a posterior manifestação do
Ministério Público e da Defesa Técnica, para prolatação da decisão definitiva. Nesse
cenário, responda de forma fundamentada: a) quais são os requisitos legais para que haja
a inclusão de preso em unidade federal? b) agiu de forma correta o magistrado, ao permitir

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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

que o MP e a defesa se manifestassem, apenas, após a inclusão cautelar do preso em


unidade federal? (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

Para que um preso, provisório ou definitivo, seja transferido para unidade


prisional federal, é imprescindível a observância dos seguintes requisitos: interesse da
segurança pública ou do próprio preso (condenado ou provisório); condenado ao
cumprimento de pena em regime fechado ou preso provisório acautelado em situação
equivalente ao regime fechado; observância da lotação máxima do estabelecimento;
requerimento do Ministério Público, da autoridade administrativa ou do preso. Nesse
sentido, citem-se os arts. 3º, caput e §1º, 5º e 11, todos da Lei 11.671/2008.

Não se desconhece a dicção do art. 5º, §6º, da Lei 11.671/2008, no sentido de


que, havendo extrema necessidade, o juiz poderá autorizar a imediata transferência do
preso e, após a instrução dos autos, na forma do § 2o deste artigo, decidir pela manutenção
ou revogação da medida adotada.

Nada obstante, entendo que o magistrado não poderia, sem a prévia oitiva do
MP e da defesa técnica, determinar a transferência do preso para a unidade prisional
federal, considerando que o dispositivo legal supracitado viola, frontalmente, o art. 127
da Constituição Federal, estando inquinado da pecha da inconstitucionalidade.

DIREITO CONSTITUCIONAL

1ª questão (15 linhas)

Discorra, de forma fundamentada, sobre os métodos tópico-problemático, hermenêutico-


concretizador, científico-espiritual e normativo-estruturante, no contexto da interpretação
constitucional. (VALOR 0,4).
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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

Padrão de resposta:

O método tópico-problemático assume a premissa de que a interpretação


constitucional é dotada de um caráter prático (voltada para a resolução de um problema
concreto, pela aplicação da norma ao caso concreto) e um de caráter aberto ou
indeterminado da lei constitucional (permitindo-se, assim, múltiplas interpretações).

Por sua vez, o método hermenêutico-concretizador tem por ponto de partida


o fato de que a leitura de qualquer texto, o que inclui o texto constitucional, inicia-se a
partir de pré-compreensões já presentes no intérprete, a quem cabe a tarefa de concretizar
a norma, sempre para e a partir de uma situação histórica concreta.

O método científico-espiritual (ou método valorativo, sociológico) atesta que


a Constituição deve ter em conta as bases de valoração (ou ordens de valores) subjacentes
ao texto constitucional, bem como o sentido e a realidade que ela possui como elemento
do processo de integração.

Por derradeiro, a metódica jurídica normativo-estruturante trabalha com a


concepção de que a norma jurídica não se identifica com seu texto (expresso), pois ela é
o resultado de um processo de concretização.

2ª questão (15 linhas)

Discorra, de forma fundamentada, sobre a competência para o processo e julgamento de


ações submetidas ao procedimento comum e de ações constitucionais propostas em face
de atos e decisões do Conselho Nacional de Justiça, perpassando pela evolução
jurisprudencial sobre a matéria. (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

De início, interpretando o art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, o STF


entendia que somente ingressaria na sua competência as demandas em que o próprio CNJ
figurasse no polo passivo. Seriam os casos das ações constitucionais contra ato do CNJ.
Assim sendo, na hipótese de serem propostas ações ordinárias para impugnar atos do
Conselho, quem iria figurar como ré no processo seria a União, e em virtude disso, tais
demandas seriam julgadas pela Justiça Federal de 1° instância, com base no art. 109, I,
da CF.

Posteriormente, o STF flexibilizou a sua jurisprudência, aduzindo que seria


de competência originária da Corte julgar as ações ordinárias: a) que impugnassem atos
do CNJ que possuíssem caráter normativo ou regulamentar; b) que desconstituíssem ato
normativo de tribunal local; c) e que envolvessem interesse direto e exclusivo de todos os
membros do Poder judiciário.

Hodiernamente, vigora o entendimento de que é competência exclusiva do


STF processar e julgar originariamente todas as ações ajuizadas contra decisões do CNJ,
proferidas no exercício de suas competências constitucionais.

DIREITO ELEITORAL

1ª questão (15 linhas)

Durante o período de pré-campanha, Joana, que tinha a intenção de se candidatar ao cargo


de Deputada Estadual, fez diversas postagens em sua rede social, nos seguintes termos:
“Venha fazer parte da nossa luta para colocar mais mulheres na política.”; “Construa esse
sonho conosco!”; Convidamos você a caminhar junto conosco nesta construção coletiva
rumo à Assembleia Legislativa!”; Precisamos eleger aqueles que estejam em sintonia com
o povo.” Em assim sendo, o Ministério Público ingressou com uma representação por
propaganda eleitoral antecipada. Em sua defesa, Joana afirmou que não fez qualquer
pedido de voto e as postagens continham, apenas, pedido de apoio político. Na qualidade

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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

de juiz, decida fundamentadamente, citando os dispositivos legais aplicáveis. (VALOR


0,4).

Padrão de resposta:

Os pedidos formulados pelo Ministério Público devem ser julgados


procedentes, com a condenação da ré em razão da propaganda eleitoral extemporânea,
nos termos do art. 36, caput e §3º, da Lei 9.504/1997, com aplicação de sanção pecuniária.

O art. 36-A da Lei 9.504/1997 preconiza que não configuram propaganda


eleitoral antecipada, desde que não envolvam pedido explícito de voto, a menção à
pretensa candidatura e a exaltação das qualidades pessoais dos pré-candidatos. Ademais,
o art. 36-A, §2º, da legislação de regência autoriza, nas hipóteses delimitadas na norma,
o pedido de apoio político e a divulgação da pré-candidatura.

Contudo, as expressões empregadas por Joana (ex. “Venha fazer parte da


nossa luta para colocar mais mulheres na política.”; “Construa esse sonho conosco!”)
caracterizam o que se denomina de “palavras mágicas”, ensejando a propaganda eleitoral
antecipada. Como é cediço, o requisito do pedido explícito de voto, para a configuração
da propaganda eleitoral antecipada, também pode estar presente na hipótese em que forem
utilizadas palavras semelhantes que exprimem, de forma direta, o mesmo significado.

DIREITO EMPRESARIAL

1ª questão (15 linhas)

Após crise financeira e dificuldade de adimplemento das dívidas existentes, FIALCO


S/A, relevante empresa voltada à produção de soja, formulou, junto à Vara Empresarial
da Comarca da Capital, pedido de recuperação judicial, distribuído em 16/09/2017.
Oportunamente, a Assembleia Geral de Credores aprovou plano de recuperação judicial
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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

que continha, em uma de suas cláusulas, previsão no sentido de que “o valor do


pagamento dos créditos trabalhistas deve obedecer ao valor indicado nas certidões
emitidas pelos juízos trabalhistas e será atualizado até a data da Assembleia Geral de
Credores”, bem como de que “os créditos trabalhistas serão corrigidos monetária e
mensalmente pelo IGPM-FGV”. Posteriormente, em 22/04/2018, Aurélio, que detinha
crédito trabalhista em desfavor da recuperanda no valor histórico (não atualizado) de R$
58.702,00, requereu a habilitação de seu crédito na recuperação judicial, a ser
devidamente atualizado até a data da Assembleia Geral de Credores, observado o índice
IGPM-FV. FIALCO S/A, entretanto, discordou do termo final de atualização do valor
devido, argumentando que o crédito a ser habilitado seria aquele atualizado até a data do
pedido de recuperação judicial, ou seja, até a data de 16/09/2017, de acordo com expressa
previsão legal na Lei 11.101/2005. Assiste razão à empresa recuperanda? O crédito de
Aurélio deve ser atualizado até qual data? (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

Em regra, a atualização do crédito habilitado no plano de soerguimento,


mediante incidência de juros de mora e correção monetária, é limitada à data do pedido
de recuperação judicial. É o que se extrai do teor do art. 9º, II, da Lei nº 11.101/2005.

Ademais, de acordo com recente precedente do STJ, afigura-se possível que


o plano de soerguimento estabeleça, em relação à atualização dos créditos, norma diversa
daquela prevista no art. 9º, II, da referida lei, sobretudo pelo caráter contratual da
recuperação judicial, tanto que o respectivo plano implica novação da dívida, podendo o
devedor e o credor renegociar o crédito livremente.

Isso porque o referido dispositivo legal prevê apenas um parâmetro mínimo


para atualização dos créditos que serão habilitados no plano.

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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

Assim, havendo disposição expressa no plano de recuperação judicial


estabelecendo uma data diferente daquela prevista no art. 9º, inciso II, da Lei n.
11.101/2005, deve tal cláusula ser aplicada, de sorte que a atualização do crédito
trabalhista deve ocorrer até a data da Assembleia Geral de Credores, observado o índice
IGPM-FV, nos exatos termos em que requerido por Aurélio.

2ª questão (15 linhas)

No âmbito de processo de falência da empresa RUBA SKT, em curso há mais de dez


anos, o Juiz condutor da causa entende por bem determinar a apreensão do passaporte do
sócio Ernesto, ao fundamento de que há fortes indícios de ocultação de vasto patrimônio
da pessoa jurídica em paraísos fiscais e de que Ernesto realiza luxuosas e frequentes
viagens internacionais, custeadas com patrimônio indevidamente transferido a familiares
pelo próprio sócio falido, em notório prejuízo à coletividade de credores. Analise a
legalidade da decisão do Magistrado a partir da base legal pertinente e do entendimento
jurisprudencial envolvendo hipótese específica de falência. (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

Consoante recente entendimento do STJ, é cabível a medida coercitiva atípica


de apreensão de passaportes, em sede de processo de falência, quando constatados fortes
indícios de ocultação de patrimônio.
Em homenagem ao princípio do resultado na execução, o CPC/2015 inovou
no ordenamento jurídico ao prever, em seu art. 139, IV, a adoção de medidas executivas
atípicas, tendentes à satisfação da obrigação exequenda.
Sendo a falência um processo de execução coletiva decretado judicialmente,
deve o patrimônio do falido estar comprometido exclusivamente com o pagamento da

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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

massa falida, de modo que se tem como cabível, de forma subsidiária, a aplicação da
referida regra do art. 139, IV, conforme previsto no art. 189 da Lei 11.101/2005.
Desta feita, entende o STJ que é razoável e proporcional a apreensão do
passaporte do sócio falido, desde que devidamente fundamentada e com observância de
prévio contraditório, porquanto Ernesto realiza luxuosas e frequentes viagens
internacionais, custeadas com patrimônio indevidamente transferido a familiares pelo
próprio sócio falido, em notório prejuízo à coletividade de credores.

DIREITO TRIBUTÁRIO

1ª questão (15 linhas)

Após ajuizamento de execução fiscal em seu desfavor, Rosana Dutra opõe,


tempestivamente, embargos à execução fiscal, mediante prévia garantia do Juízo,
alegando, como única matéria de mérito, a existência do direito de compensação do valor
executado pela Fazenda Estadual com o crédito que tem a receber na via administrativa.
Instada a se manifestar, a Fazenda Estadual pondera que a compensação pleiteada já
restou indeferida na via administrativa, conforme documento acostado aos autos.
Intimada, a embargante sustenta a ilegalidade do indeferimento da compensação
administrativamente, reiterando o direito à compensação tributária, que deve ser
chancelado judicialmente, no âmbito dos embargos à execução fiscal, à vista da
resistência infundada do Fisco Estadual na esfera extrajudicial. Decida, de forma
fundamentada, a controvérsia havida entre as partes. (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

O art. 16, §3º, da Lei de Execução Fiscal preceitua que não será admitida
reconvenção, nem compensação, e as exceções, salvo as de suspeição, incompetência e
impedimentos, serão arguidas como matéria preliminar e serão processadas e julgadas
com os embargos.
De acordo com entendimento já sedimentado na 1ª Seção do Superior
Tribunal de Justiça, os contribuintes não podem, na fase de execução fiscal, discutir
compensação tributária – com o uso de crédito tributário para pagar débitos com o fisco
– não reconhecida pela Fazenda Nacional anteriormente na via administrativa.
Dessa forma, assiste razão à Fazenda Estadual, porquanto a compensação
pleiteada já restou indeferida na via administrativa, conforme documento acostado aos
autos, de sorte que não pode ser deduzida em sede de embargos à execução fiscal, cujo
pedido de compensação deve ser julgado improcedente.

2ª questão (15 linhas)

Discorra, fundamentadamente, sobre o termo inicial da contagem do prazo decadencial


para constituição do crédito tributário no caso do Imposto de Transmissão Causa Mortis
e Doação – ITCMD referente à doação não oportunamente declarada pelo contribuinte ao
Fisco Estadual, devendo indicar se há de ser ponderada a data em que o Fisco teve
conhecimento da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária. (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

Segundo entendimento firmado pelo STJ sob o rito dos recursos repetitivos,
no caso do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação – ITCMD, referente a doação
não oportunamente declarada pelo contribuinte ao fisco estadual, a contagem do prazo
decadencial tem início no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento

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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

poderia ter sido efetuado, observado o fato gerador, em conformidade com os arts. 144 e
173, I, ambos do CTN.
Não sendo apresentada a declaração pelo contribuinte, comunicando o fato da
doação, caberá ao Fisco fazê-lo. Aplica-se, nesse caso, o art. 149, II, do CTN.
Ademais, é irrelevante, segundo entendimento do STJ, a data em que o fisco
teve conhecimento da ocorrência do fato gerador.
Desta feita, em síntese, caso o contribuinte faça uma doação e não a declara
para fins de ITCMD, o fisco estadual deverá fazer o lançamento de ofício do tributo,
iniciando-se o prazo decadencial para isso no primeiro dia do ano seguinte àquele em que
ocorreu o fato gerador.

DIREITO AMBIENTAL

1ª questão (15 linhas)

O Governador do Estado Alfa, em observância à Constituição Estadual, editou medida


provisória, determinando a obrigatoriedade de licenciamento ambiental para a instalação
de Rede de Transmissão de Sistemas de Telefonia e de Estações Rádio Base (ERBs) e
Equipamentos de Telefonia sem Fio no território do Estado. Nesse cenário, responda de
forma fundamentada: a) qual é o pressuposto central para que seja possível legislar sobre
direito ambiental via medida provisória? b) o Poder Judiciário pode concluir pela ausência
de relevância e urgência na MP? c) a referida legislação é compatível com a Constituição
Federal? (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

De acordo com a jurisprudência do STF, só é possível editar medidas


provisórias em matéria ambiental para manter ou aumentar a proteção conferida ao meio
ambiente. É dizer, é proscrita a redução da proteção destinada ao meio ambiente por
intermédio de medida provisória, por se tratar de limite material implícito à dicção do art.
62 da Constituição Federal.

Registre-se que o Poder Judiciário só pode concluir pela ausência de


relevância e urgência em uma medida provisória em caráter excepcional e teratológico.
Como regra, a análise é feita pelo Poder Executivo e pelo Poder Legislativo.

Por derradeiro, o STF concluiu ser inconstitucional — por violar a


competência da União privativa para legislar sobre telecomunicações (CF/1988, art. 22,
IV) e exclusiva para explorar esses serviços (CF/1988, art. 21, XI) — norma estadual que
institui a obrigatoriedade de licenciamento ambiental para a instalação de Rede de
Transmissão de Sistemas de Telefonia e de Estações Rádio Base (ERBs) e Equipamentos
de Telefonia sem Fio em seu território local.

DIREITO ADMINISTRATIVO

1ª questão (15 linhas)

Tício ingressou com ação indenizatória em face do Município do Rio de Janeiro,


objetivando a reparação por danos materiais, morais e estéticos que teria sofrido em razão
de colisão com um ônibus de titularidade da municipalidade. Laudo pericial acostado aos
autos, atestando que o autor teve perda parcial da visão do olho direito da ordem de 15%,
incapacidade parcial temporária por 15 dias e dano estético em grau moderado, devido à
cicatriz vertical na região frontal direita de 12 cm x 0,5 cm. A única testemunha ouvida,
em juízo, prestou depoimento nos seguintes termos: “(...) que viu o acidente; que não
estava chovendo; que acredita que o acidente tenha ocorrido “meio dia e pouco”; que o
ônibus “vinha passando” em sua mão normal de direção e parou num local que não era
ponto”; que o ônibus parou muito perto da calçada; que o autor vinha de bicicleta em
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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

frente ao depoente; que o local do acidente é o entroncamento entre duas vias. O ônibus,
ao ter parado no local citado acima, estacionou muito próximo ao meio fio e o autor, ao
tentar ingressar na via em que o ônibus estava parado, não conseguiu porque o ônibus
estava muito próximo ao meio fio. Logo, o autor bateu no ônibus (...)”. O autor, finda a
instrução, pediu a condenação do réu, nos exatos termos da petição inicial. O Município,
por intermédio da PGM, postulou a improcedência dos pedidos autorais. Nesse cenário,
na qualidade de juiz, decida o caso posto. (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

Os pedidos autorais devem ser julgados improcedentes, em razão do


rompimento do nexo de causalidade, elemento essencial à caracterização da
responsabilidade civil do Estado.

Como é cediço, a responsabilidade civil do Estado é objetiva (art. 37, §6º, da


Constituição Federal), à luz da teoria do risco administrativo. É prescindível, portanto, a
demonstração do elemento anímico. Basta, para que o dever de indenizar esteja presente,
que se demonstre a existência de uma conduta, de um dano e do nexo de causalidade.

In casu, o nexo de causalidade entre a conduta e os danos foi rompido, por


força do fato exclusivo da vítima. Demonstrou-se, em juízo, que o acidente ocorreu
porque o ofendido, de bicicleta, ingressou na pista em que o ônibus se encontrava parado,
para a descida de passageiros, sem que houvesse espaço para a sua passagem. Com efeito,
em não havendo qualquer contribuição do Poder Público para o advento do resultado
danoso, afasta-se o dever de indenizar.

2ª questão (15 linhas)

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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

Em observância às formalidades legais, o Poder Público se imitiu na posse de um


determinado imóvel, para fins de desapropriação. Não concordando com o valor
depositado, o particular ingressou com uma ação em face do Estado. Findo o processo
judicial, verificou-se que o valor inicial depositado era substancialmente inferior ao valor
real do imóvel (diferença superior a 500 mil reais). Nesse cenário, responda de forma
fundamentada: a) conceitue juros compensatórios e juros moratórios no contexto da
desapropriação, mencionando os parâmetros de cada qual; b) ante a necessidade de
complementação da indenização, o pagamento da diferença reconhecida em juízo dar-se-
á por depósito judicial ou por precatório? (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

Os juros moratórios têm por objetivo recompor os prejuízos pelo atraso no


efetivo pagamento da indenização, tendo como base o valor da indenização fixado na
sentença. O percentual dos juros moratórios deve observar o art. 406 do CC, que
determina a sua fixação segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento
de impostos devidos à Fazenda Nacional.

Por sua vez, os juros compensatórios têm por objetivo compensar a perda
prematura da posse do bem, em decorrência da imissão provisória na posse. O termo
inicial para sua contagem é a data da imissão provisória na posse do bem objeto da ação
de desapropriação, na forma do art. 15-A do Decreto-lei 3.365/1941. Registre-se, ainda,
que, para o Excelso Pretório, o percentual de juros compensatórios é de 6% ao ano.

Por derradeiro, o STF concluiu que no caso de necessidade de


complementação da indenização ao final do processo expropriatório, deverá o pagamento
ser feito mediante depósito judicial direto se o Poder Público não estiver em dia com os
precatórios (Tema 865).

DIREITOS HUMANOS

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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

1ª questão (15 linhas)

Disserte sobre a validade da Lei de Anistia, sob a ótica dos controles de


constitucionalidade e de convencionalidade, a partir do entendimento sedimentado pelo
Supremo Tribunal Federal e pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. (VALOR
0,4).

Padrão de resposta:

Por ocasião do julgamento da ADPF 153, o STF entendeu pela improcedência


do pedido, de sorte que reputou recepcionada a Lei de Anistia no ordenamento jurídico
brasileiro, dentro da ótica de Justiça de Transição.

Entretanto, entendimento em sentido contrário foi adotado pela Corte


Interamericana de Direitos Humanos por ocasião do julgamento do conhecido “Caso
Lund Gomes e outros vs. Brasil”, também conhecido como caso “Guerrilha do Araguaia”.

No bojo da sentença do “Caso Lund Gomes e outros vs. Brasil”, a Lei de


Anistia Brasileira foi considerada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos
incompatível com os princípios da Convenção IDH, por não promover a persecução penal
de crimes cometidos pela Ditadura. As graves violações sofridas na ditadura, segundo
entendimento da Corte Interamericana, não podem ser anistiadas ou indultadas, em
especial os desaparecimentos forçados e tortura.

Dessa forma, em resumo, o Brasil enfrenta sério impasse no tocante à Lei da


Anistia em razão de decisões diferentes do Supremo Tribunal Federal e da Corte
Interamericana de Direitos Humanos.

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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E FORMAÇÃO HUMANÍSTICA

1ª questão (15 linhas)

O Estado Alfa, em outubro de 2023, editou uma lei estadual, garantindo a remoção sobre
a promoção por antiguidade na carreira da magistratura local. Nesse cenário, responda de
forma fundamentada: a) a lei estadual está em consonância com o entendimento do STF
sobre a matéria? b) diferencie os conceitos de promoção e remoção, cotejando-os com os
critérios de antiguidade e merecimento. (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

A lei estadual está em consonância com o novel entendimento do STF, com


a superação do Tema 964. Anteriormente, o Pretório Excelso entendia que a promoção
na magistratura por antiguidade precede a mediante remoção. Contudo, na ADI 6609, o
STF reconheceu, a constitucionalidade de norma do Estado de Minas Gerais que permite
remoções de magistrados para outra vara da mesma comarca antes de promoções por
antiguidade.

Registre-se que a promoção é a progressão funcional em que o servidor é


deslocado de cargo de classe inferior para outro cargo de classe superior dentro da mesma
carreira (ex.: magistrado de primeira instância é promovido para o cargo de
desembargador). A remoção, por sua vez, é a transferência no plano horizontal da carreira
(ex.: juiz titular da 1ª Vara Criminal da Capital que se remove para a 2ª Vara Criminal da
Capital).

Por fim, a promoção e a remoção devem observar, de forma alternada, aos


critérios da antiguidade e merecimento, nos termos do art. 93, II e VIII-A, da Constituição
Federal.

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3º Simulado – Prova Discursiva - TJRJ

2ª questão (15 linhas)


Disserte sobre a evolução legislativa no que atina ao (des)cabimento da realização das
audiências de custódia por videoconferência, trazendo à baila os argumentos favoráveis
e contrários à medida. Ao final, posicione-se. (VALOR 0,4).

Padrão de resposta:

De início, o CNJ (Res. 329/2020) vedava a realização de audiência de


custódia por videoconferência, o que foi superado durante a pandemia da COVID-19.
Atualmente, a discussão está superada, considerando o entendimento adotado pelo STF,
na ADI 6299, que tratou, dentre outras questões, sobre a dicção do art. 3º-B, §1º, do CPP.

O Excelso Pretório, em decisão unânime, afirmou que, excepcionalmente,


admite-se o emprego de videoconferência, mediante decisão da autoridade judiciária
competente, desde que este meio seja apto à verificação da integridade do preso e à
garantia de todos os seus direitos.

O principal argumento contrário ao cabimento da audiência de custódia por


videoconferência seria a impossibilidade de o juiz atestar eventual agressão perpetrada
em detrimento do custodiado. Em sentido contrário, contudo, há quem defenda que a
vedação ao ato processual por videoconferência poderia gerar despesas financeiras aos
Tribunais, com o pagamento de diárias e passagens a magistrados.

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