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Aulas práticas

Família: é um conceito evolutivo, aquilo que consideramos família está em constante


mutação. Pressupõem-se uma comunhão de vida, embora não necessária é frequente,
aplicamos a ideia de sistema móvel, mesmo que não se cumpram todos os
pressupostos, se existirem pressupostos reunidos, podem prevalecer.

Fontes de relações familiares: art. 1576º - casamento, parentesco, afinidade e adoção.


Prof Menezes Leitão defende que se deve incluir também a filiação (procriação)

Casamento – é contrato? O contrato obriga à existência de liberdade de estipulação?


Não, por exemplo contratos de adesão, posição defendida pelo prof M.Cordeiro, que
afirma que por existir uma liberdade de estipulação muito restrita não se pode assumir
que exista efetivamente um contrato. Neste caso, a liberdade de estipulação está
extremamente limitada, por razões de tutela familiar, é possível ainda assumir que é
efetivamente um contrato. Noção jurídica de casamento?

Caso prático 1: Kim e Kanye. Kanye West lança um novo álbum, denominado “Winning
Kimmy”. Ao exibir, de surpresa, este novo álbum, numa festa, Kim Kardashian aceita
(voltar a) contrair casamento, no ano de 2022, com Kanye, ao som do seu novo single
“Kimestry”.Kanye oferece, após um mês, o seu relógio de ouro com as inscrições “KK” e
um coração dourado, como prenda de noivado por já saber que “os anéis de noivado
só dão má sorte”. Após 5 meses, Kim envia uma mensagem a Kanye afirmando que
“em setembro, o mercúrio retrógado lhe indicava que não deveriam contrair
casamento dado que era Libra”, pelo que, tinha vendido o relógio e doado o dinheiro
para uma fundação que ajuda “gatos de rua”. Kanye West, ao som de “Gold Digger”,
coloca-se à porta de sua casa gritando que não aceita o fim do noivado, dado que “o
signo dela não era apenas esse, as promessas são para cumprir” e que “queria o seu
relógio de volta”. Quid juris?

Art. 1591º, promessa de casamento; art. 1592º, restituição; art. 1594º, indemnização,
mas apenas para despesas feitas ou obrigações contraídas na previsão do casamento,
com o prazo de 1 ano para pedir. Há ainda que ver a conceção objetivista os motivos
para romper a promessa de casamento, que não se encontram reunidos neste caso,
pois que mercúrio retrógrado não o é. A questão relevante deste caso é qual o destino
dos bens? E execução especifica do contrato?

Se num contrato promessa não forem cumpridos os requisitos de validade para o


contrato definitivo, torna-se inválido?

R.: o tipo de contrato aqui presente é uma promessa de casamento (explicar e


justificar a existência da figura) (1591-1595, disposições que regulam esta situação).
Qual a capacidade exigida para o contrato definitivo, que à partida não existiria. Este
tipo de contratos é extremamente atípica porque não obriga à execução. Qual a

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sanção jurídica deste contrato? Como é que posso executar para obter a recompensa
merecida? Se uma promessa de casamento pudesse ser executada juridicamente, isto
é o tribunal obrigasse ao casamento, era uma coisa, mas neste caso há liberdade à
renuncia do contrato e há espaço para não querer. A indemnização não é calculada
nos termos habituais, é antes regulada pelo art. 1594º. Como já referido este contrato
não obriga a execução especifica, mas pode dar lugar a indemnização, pelo que esta
resultaria do crédito advindo do objeto em questão, que foi doado.

Havendo uma oferta dos bens à KIM ela passa a dispor deles e pode fazer com eles o
que entender, no âmbito do direito da propriedade. Na medida em que existiu uma
doação, deu-se um tradição da coisa, e a Kim tem o direito a dispor da coisa. Art.
1592º, com remissão para o regime da anulabilidade e nulidade. Houve uma alienação
onerosa da coisa, pelo que se aplica o art. 289º/1. Ou seja, se já não existe o bem
deve-se restituir o bem. Assim os pontos relevantes deste caso são: promessa de
casamento, execução específica.

Caso 2: Micaela Gomes tinha um sonho desde pequenina, casar com o astro-rei da
seleção portuguesa Cristiano Ronaldo. Micaela sabia que tinham os dois bastante em
comum: ambos tinham nascido na Madeira e gostavam de futebol, pelo que, “estavam
destinados”. Uma amiga sua, advogada, Joana Castelo Claro, liga-lhe entusiasmada
avisando que o Ronaldo, desgostoso com a sua má época, procurava uma nova mulher
e que tinha ficado encantado quando viu uma foto de Micaela. Micaela, rapidamente,
através de uma procuração, casa-se com Ronaldo. Sentindo-se nas nuvens, passado
uma semana, Micaela viaja para Ibiza para se encontrar com o “amor da sua vida”, já
casada. Ao chegar a Espanha, descobre que não tinha casado com o famoso jogador
Cristiano Ronaldo mas, sim, com um homem de 36 anos, em má forma física e
desempregado, caça fortunas, que tinha o mesmo nome. Quid juris?

Devem estar presentes no casamento quem estabelecido no art. 1616º, assim define-
se que existe um casamento por procuração, permitido no art. 1620º, neste caso
Micaela é representada pela advogada. Art. 1618º, 1619º e 1627º relativamente aos
preliminares, aceitação dos efeitos e capacidade para contrair casamento.

Anulabilidade, nos termos do art. 1631º al. b). Erro na formação da vontade? Vício de
falta de vontade, art. 1635º al. b), visto que o nome é mesmo, existindo apenas um
erro na identidade física. Dolo de terceiros poderá estar em causa, por parte da
advogada representante de M.

R.: referir regime da capacidade dos nubentes e excluir os impedimentos, como laços
familiares, menoridade, etc (art. 1600º e ss.). Falta ou vício de vontade? Aplicar-se-ia o
artigo 1635º al. b) fala de identidade física (imagem em que uma pessoa se forma a
partir de suas várias características físicas, como seu nível de atletismo, a figura ou
imagem), tendo em conta esta definição podemos de facto concluir que existe um

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vicio por falta de vontade, pelo que o casamento pode ser anulável nos termos deste
artigo.

Uma alteração do comportamento posterior ao casamento não se consubstancia como


um erro porque são posteriores à vontade de contrair de casamento.!!!!! Mais sobre
erros da vontade na celebração do casamento em J. Duarte Pinheiro, p. 410 e ss.

Doutrina, CC anotado Pires de Lima e Antunes Varela, vol. IV: erro acerca da identidade
física do outro nubente. Existira sempre dolo do CR falso, e da procuradora?

Caso 3: Paula Iloodidah, de 15 anos, e Simon Leviev, de 30 anos, herdeiro de Lev Leviev,
um bilionário israelense do ramo do comércio de diamantes, após um ano sem se
verem por causa da pandemia e perdidamente apaixonados, decidem casar-se. Numa
cerimónia que dura “toda a noite”, ao som de Toy, decidem unir as suas vidas, ficando
Paula com o apelido de Simon. Dois meses depois, Vanessa, mãe de Paula, a qual
sempre se opôs a este casamento, dado já ter sido também ela casada com Simon,
conta à filha que Simon não passa de um “Golpista do Tinder”. Paula, desconsidera os
comentários da mãe, sabendo que com a idade ela se tinha tornado uma “velha
invejosa” e porque bem sabia serem rumores plantados pelos rivais da indústria de
diamantes. Só dois anos mais tarde descobre a verdade aterradora, numa sessão de
Netflix. Simon já tinha sido condenado pelo crime de fraude, mas ocultara-o, por saber
que Paula jamais casaria com ele se conhecesse o seu histórico de golpista do Tinder.
Quid juris?

Impedimento dirimente absoluto, art. 1601º al. a), é causa de anulabilidade pelo art.
1631º. Declaração de impedimentos prevista no 1611º. Menor núbil é idade
compreendida entre os 16 e os 18. Validação do casamento, art. 1633º al. a) dá-se a
sanação. Prazos para anulação fundada em impedimento dirimente, que é neste caso a
idade nos termos do 1643º

Impedimento – não verificação dos requisitos do casamento. Requisitos – vontade livre


e atual de contrair casamento. Não existência de nenhuma das situações enumeradas
no art. 1601º por diversas razões a) idade mínima para ter consciência do ato; b) não
aproveitamento de outrem; c) não permitir situações de bigamia. Podem vir a ser
reconhecidos efeitos a um casamento que tenha sido celebrado por um menor não
núbil, a nível civil.

Ainda pode existir um impedimento relativo, por haver uma relação de parentesco em
linha reta, nos termos do 1602º, isto porque sendo Simon outrora casado com a mãe
de Vanessa, faz com que em certa altura houve uma relação de afinidade em linha reta
de 1º grau (1580º, 1584º e 1585º) entre os dois nubentes, todavia não se pode admitir
este impedimento, pois que o art. 1585º a contrario induz a que se conclua que a
relação de afinidade se extingue com o divórcio, pelo que não há de facto o
impedimento previsto no art. 1602º al. a)

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Requisitos do erro

1) Essencialidade: recair sobre as qualidades essenciais da pessoa com quem se


realiza o casamento. São qualidades essenciais as qualidades consideradas
importantes para o outro cônjuge querer contrair matrimonio com aquela
pessoa em concreto. Prof Guilherme de Oliveira defende que a essencialidade
não pode ser apenas subjetiva, tem também de ser objetiva, ou seja aquela
qualidade que induziu em erro era determinante para casar (ver
jurisprudência!!). Na prática, o que os tribunais têm feito é olhar para o código
anterior e retirar os erros que não fazem sentido nos dias de hoje, existem
exemplos de qualidades essenciais que estavam nas versões anteriores e hoje
se mantêm (estado civil, condição religiosa, prática de um crime infame,
deformidades físicas graves, doenças incurável contagiosas ou hereditárias)
existem outras qualidades que estão na jurisprudência mas não são essenciais,
logo não podem ser invocadas para anulabilidade (personalidade terrível,
desperdício de dinheiro conjunto para jogo, casar por dinheiro). Os motivos
para casamento não se integram neste preceito do 1636º
2) Desculpabilidade: erro não desculpável, ou seja à luz da bitola do homem-
médio uma pessoa não poderia perdoar esse erro
3) Propriedade do erro: o erro tem de ser próprio (ver Guilherme de Oliveira)
4) Ocorre antes do casamento: o erro tem de ser originário

“Sem ele o casamento não teria sido celebrado” -

Anulabilidade vs divórcio – porque é que se invoca a anulabilidade? Na anulabilidade o


casamento passa como se fosse contra a lei e é como se “desaparecesse” ou nunca
existisse e a pessoa volta a ser solteira em vez de divorciada.

Caso 4: Hannah Neshiah e Simon Leviev, um conhecido golpista do Tinder, combinam


casar-se para que este adquira a nacionalidade portuguesa. Simon está a ser
investigado por ter defraudado o anterior marido de Hannah, também ele um
vigarista, razão pela qual a Hannah “deixou que o Simon lhe roubasse a nacionalidade
também”, mas ambos julgam que não terão quaisquer dificuldades em casar-se, uma
vez que Simon foi apenas pronunciado pelo crime e ainda não houve qualquer
condenação no processo. Quid juris?

R.: casamento simulado, é aquele que há falta de consenso entre os cônjuges e que o
fim dos nubentes não seja celebrar o casamento e viver em comunhão de vida (1578º),
mas sim outro qualquer. Esta figura configura-se como razão de anulabilidade por falta
de vontade nos termos do art. 1631º com remissão para o 1635º al.d). O regime
seguido para este vício está no art. 1640º. O facto de quererem casar para o Simon
requerer nacionalidade, o que se configura numa simulação nos termos dos arts.
1635º al.d), de facto nubentes não têm uma vontade expressa de assumir uma plena

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comunhão de vida, o que o torna anulável. Deve ser proposta uma ação de anulação,
nos termos do art. 1632º por um dos cônjuges ou terceiro prejudicado com o
casamento – há quem entenda que o terceiro prejudicado por um casamento simulado
é o Ministério Público, pois que este representa o interesse público e este está a ser
posto em causa por um casamento simulado, e assim os tribunais admitem esta
possibilidade. Poderia ser anulado, conforme o art. 1644º nos 3 anos subsequentes à
celebração ou nos 6 meses após o conhecimento.

Dúvida: propriedade do erro? Um erro próprio não é um requisito de validade do


casamento.

Caso 5: No dia 9 de Outubro de 2022, Gollum conheceu Galadriel, na rua da Oura, por
quem se apaixonou à primeira vista. Galadriel, que tem um problema de vício em
guerra, ficou a dever € 100.000,00 à máfia Algarvia, a qual a auxiliou no combate
contra Sauron, mas que agora a ameaça de morte se não pagar o que deve.
Aproveitando-se da situação, Gollum promete que paga os € 100.000,00, poupando
Galadriel às represálias da máfia, se a sua “my precious” se casar com ele utilizando
um anel muito especial. Desesperada, Galadriel acede ao pedido e celebra casamento
com Gollum sem processo preliminar, dada a urgência em se casar e continuar a
“guerra contra as forças do mal”. Oito meses mais tarde, Galadriel descobre que
Gollum é um criminoso procurado por roubo de joias. Quid juris?

R.: coação moral, 1638º/2 – casamento em troca da ilibação da máfia. Casamento


coagido é anulável nos termos do 1631º al.b). A vontade para casar está assim viciada.
A legitimidade para invocar anulabilidade é de Galadriel, o nubente coagido, 1641º.
Prazo de seis meses nos termos do 1645º.

Invalidade por impedimento dirimente absoluto, nos termos do art. 1601º al. b),
demência por ser “viciada em guerra”? Acórdão do STJ admite a prodigalidade como
equiparável à demência.

Erro que vicia a vontade, que recai sobre as qualidades essenciais, 1636º, neste caso
Gollum ser um criminoso procurado. Requisitos: antes do casamento, ou seja
originário, essencialidade objetiva e subjetiva, próprio, desculpabilidade (homem
médio).

Casamento urgente? Não! Não pode existir um casamento urgente, neste caso, apenas
quando um dos cônjuges está em risco de vida, ou então, em vias de ter um filho.
(1622º e ss.). Como não obedeceu a pressupostos fixados no CC, não é casamento em
sentido técnico-jurídico, é inexistente (art. 1628º), sendo assim destituídos de efeitos –
inexistência pode ser invocada a todo o momento e não depende de declaração
judicial (art. 1630º). Falta de formalidade sujeita-os a homologação própria (art.
1623º). Casamento não subsiste se não for homologado (art. 1628º/b). Sujeita a

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regime imperativo de separação de bens – proteção patrimonial (art. 1720º) do
procedimento preliminar não terminado. Também pode haver casamento católico
urgente (art. 1599º) e em âmbito mais vasto.

Caso 6: Neil Patrcik Harris, conhecido ator, apaixona-se por David Burtka, não tão
conhecido ator, decidindo os dois celebrar uma convenção antenupcial por saberem
que não há nada tão romântico como elaborar convenções antenupciais:

a) Neil será exclusivamente responsável pelas dívidas contraídas para ocorrer aos
encargos normais da vida familiar, dado que é o ator mais conhecido.
b) Que será nulo qualquer contrato mediante o qual um cônjuge venda ao outro bem
imóvel, porque o amor não deve ter raízes.
c) O casal terá relações sexuais, pelo menos, uma vez por mês, sendo ambos os
cônjuges livres de violar o dever de fidelidade uma vez por ano, na noite da
“Liberdade”.
d) O casamento terminará se o David não conseguir celebrar contratos com um grande
estúdio de Hollywood até 2025.
Quid juris?

R.: o art. 1698º prevê que os cônjuges são livres de estipular «o regime de bens do
casamento, quer escolhendo um dos regimes previstos neste código, quer estipulando
o que a esse respeito lhes aprouver, dentro dos limites da lei.» - princípio da liberdade.
Ainda o art. 1708º releva, no sentido de que indica quem tem capacidade para
celebrar convenções antenupciais, sendo, no âmbito do nr1 do artigo, todos aqueles
que tenham capacidade para contrair casamento, à luz das disposições do código que
estabelecem os impedimentos, e verificando que não há nenhum, podemos então
comprovar que tanto N como D têm capacidade para contrair casamento, logo podem
também celebrar esta convenção.

As convenções antenupciais só são válidas se celebradas perante funcionário do


registo civil ou escritura pública, conforme o art. 1710º. Consideremos que tais
diligências foram tomadas, visto que nada em contrário é dito e que a convenção é
válida. Art. 1711º publicidade das convenções, o que faz com que a sua eficácia (para
terceiros) está dependente da publicação. A celebração da convenção caduca no prazo
de um ano, caso o casamento não seja celebrado, art. 1716º.

Uma vez que nada foi expressamente dito relativamente ao regime de bens, aplica-se
o regime supletivo, a comunhão de adquiridos nos termos do 1717º.

A-restrição à liberdade convencional, nos termos do art. 1699º/1 al.b), pois que é um
dever de cooperação e assistência (1672º+1674º1675º/1) o pagamento solidário, ou
seja a divisão, das dívidas contraídas para os encargos da vida familiar. Cláusula nula

B-esta cláusula é válida nos termos do art. 1714º/2 que proíbe a compra e venda entre
os cônjuges. Contratos que repetem o que a lei diz, isto é explicável por vários motivos

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e não tem qualquer problema nisso. Há alguma utilidade em fazer isto na prática e não
há nenhuma proibição.

C- na primeira parte desta cláusula há uma estipulação que não merece qualquer
tutela jurídica e no limite, até poderia ser proibida, pois que não se pode ser
judicialmente exigível e até pode dar aso a abusos. Art. 1671º/2 igualdade dos
cônjuges, acordo sobre a vida em comum. Divergência doutrinária sobre a natureza
jurídica desta matéria!!! Profº Jorge D. Pinheiro afirma que não sendo jurídica, é
indiferente ser tutelado pela convenção.

Na segunda parte desta cláusula, o art. 1699º prevê as limitações ao principio da


liberdade na convenção, relativamente ao objeto da convenção, nomeadamente a
alteração de deveres conjugais, como prevê a alínea b) da convenção acordada entre
os dois nubentes, em que há a possibilidade de violar o dever de fidelidade uma vez
por ano. Ora, este dever de fidelidade está expressamente indicado no art. 1672º
como sendo um dever que vincula reciprocamente ambos os cônjuges, pelo que esta
alínea por um lado viola esta disposição, como viola também o art. 1699º/1 al.b) que
não permite que uma convenção antenupcial interfira com os deveres dos cônjuges.
Neste modo, a cláusula é nula nos termos do 294º, pois que viola o 1699º/1 al.b) e
assim a cláusula considera-se não escrita. Releva ainda o art. 1618º! Pode haver uma
modelação do dever fidelidade a esta cláusula?

D- nesta alínea da convenção, é imposta uma termo (resolutivo), que estipula que o
casamento acabará se D não celebrar contrato com o estúdio até 2025. Na verdade, o
CC permite a introdução de condições ou termos, como diz o art. 1713º/1, mas para a
convenção não para o casamento. Mas, também o art. 1618º fala também sobre isto,
assim o art. 9º/3 presume-se que o legislador consagrou as soluções mais acertadas.

»» convenção antenupcial é o momento em que os cônjuges estipulam como vão


regular a vida conjugal após o casamento. Podem ser regulados outros direitos e
deveres para alem da questão monetária. Da mesma forma que há uma liberdade há
também uma restrição muito forte a esta liberdade que foi idealizada para proteger as
partes. Nos termos do art. 189º CRC as convenções têm de ser celebradas nas
instalações do registo civil!!

»» Bens próprios vs bens comuns. Para os bens próprios existe um cônjuge


administrador, que é o titular do bem. No caso dos bens comuns, há uma necessidade
de consentimento de ambos para efeitos de administração dos bens (se um cônjuge
quiser vender um bem comum, tem de perguntar ao outro e só pode fazê-lo com o
consentimento)

»» bens incomunicáveis são bens que não são partilháveis/comunicáveis, nem no


regime de comunhão geral de bens, são típicos e estão previstos no 1733º

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»» impõe o art. 1699º uma restrição à alteração do dever de fidelidade? Na verdade,
o dever de fidelidade é um dever conjugal, todavia o art. 1699º não especifica
concretamente este dever, o profº Guilherme de Oliveira indica que este artigo não
trata uma tipologia taxativa: “a enumeração do art. 1699.º não pretende naturalmente
ser taxativa. Sempre que a estipulação dos nubentes vá contra disposição legal
imperativa será nula, conforme o princípio do art. 294.º”. O dever de fidelidade é uma
norma imperativa que vincula ambos os cônjuges por via do 1672º.

»» princípio da imutabilidade das disposições: não podem ser alteradas depois da


celebração do casamento as disposições da convenção, exceto aquelas previstas por lei
que são sobre aspetos patrimoniais do casal. A pergunta coloca-se relativamente a
aspetos pessoais do casamento que são acordados na convenção, como é a situação
do caso 6, terão de ficar os cônjuges ad eternum, vinculados a esse conteúdo?

»» separação judicial de pessoas e bens: não é a mesma coisa no sentido do regime. O


art. 1795º-A fala relativamente aos efeitos desta separação judicial, em que há quase
uma dissolução do casamento, e o vinculo está muito enfraquecido.

Caso 7: Manuel Goucha e Ricardo Araújo Pereira decidem unir as suas vidas para
construírem um império televisivo como nunca visto. A ideia era a de terem um talk
show humorístico “Casados à primeira entrevista” que deixasse todos os portugueses
“colados” ao ecrã. A convenção antenupcial tinha o seguinte conteúdo:

a) Daqui a 10 anos o regime passará a ser o da separação de bens;


b) Todos os bens que os nubentes tiverem ao tempo do casamento não se comunicam,
sendo comuns todos os demais;
c) Nenhum dos cônjuges terá de cumprir o dever de coabitação, bastando que vão
juntos às cerimónias televisivas ao fim de semana;
Quid juris?

R.: 1698º e ss., convenção antenupcial, requisitos, forma, publicidade… 1710º as


convenções são válidas se celebradas perante funcionário do registo civil ou por
escritura pública. Prazo da celebração vale por 1 ano após a sua celebração, 1716º

A- apesar do principio da imutabilidade das convenções antenupciais consagrado no


art. 1714º, define que não se pode modificar a convenção após o casamento, mas esta
alteração já se encontra prevista antes do casamento, pelo que na verdade se trata de
uma convenção sob condição, o que é válido nos termos do 1713º. O profº Jorge
Duarte Pinheiro afirma que é admissível a estipulação da vigência sucessiva de regimes
de bens para um mesmo casamento. A previsão da convenção sob condição ou termo
não limita o principio da imutabilidade, pois novamente esta alteração foi prevista e
estabelecida antes do casamento, através de cláusulas acessórias. O professor
acrescenta ainda que a incerteza associada à condição “torna aconselhável a
introdução de uma norma que contemple a obrigatoriedade do registo civil do

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preenchimento da condição”. Aqui trata-se de uma convenção sobre termo certo
(278º)
B- estabelece o regime de comunhão de adquiridos. Não havendo indicação expressa
do regime adotado, e pela descrição da alínea b) podemos concluir que se trata de
comunhão de adquiridos, art. 1721º. Os nubentes querem ter um regime atípico misto
de tipo modificado, basicamente no regime da comunhão de adquiridos há bens que
são próprios e comuns (1722º), e os nubentes foram longe mais nos termos do
1733º/1 e 1699ª71 al.b), pelo que a cláusula é inválida.
C- restrição à liberdade convencional nos termos do art. 1699º/1 al.b) pela alteração
dos deveres conjugais, neste caso o dever de coabitação previsto nos termos do 1674º.
Convivência essencial para o casamento, visto que o casamento é uma comunhão
plena de vida. Cláusula nula porque dispõe da alteração dos deveres conjugais. Acordo
sobre a vida comum (1671º), é uma regulação sobre núcleo considerado inatingível da
convenção antenupcial, mas visto que há uma alteração dos deveres conjugais (1678º,
1699º) a cláusula é nula. Há que ter em atenção que os cônjuges podem alterar a
qualquer momento estas estipulações definidas em convenção antenupcial,
atualmente entende-se que não se pode estipular isto.

Casamento simulado? Se eles querem fazer um talk show, qual o objetivo de celebrar
o casamento, parece-nos que não se coaduna com o objetivo do casamento? MG tem
mais de 60 anos, o que obriga ao casamento ser celebrado imperativamente no regime
da separação de bens, nos termos do 1720º.

Caso 8: Max Verstappen e Lewis Hamilton, decidem iniciar uma nova corrida que irá
mudar as suas vidas. A sua rivalidade continua fora das pistas, e após alguns dates
com uma das suas artistas favoritas, ambos se apaixonam por Billie Eilish. Quando
Verstappen ouve as recentes declarações públicas de Hamilton, sobre Eilish, decide
desafiá-lo para uma corrida, a qual “iria ganhar ao velho piloto”. A Ferrari e a
Mercedes não podiam ter ficado mais entusiasmadas com a ideia ao saber que
estavam perante um dos “eventos mais mediáticos de 2022, com músicas da jovem
cantora e a presença da F1 racing”, a “Billie Eilish F1 Racing”, com dois dos maiores
pilotos da atualidade, onde quem ganhasse iria a uma viagem à volta do mundo, com
tudo pago, e acompanhado por Billie Eilish. Fernando Alonso, vai ter com Max
Verstappen, avisando-o de que “ele era jovem e não sabia bem no que se estava a
meter”, questionando-o “se ele sabe quais são as consequências patrimoniais de se
apaixonar e celebrar o casamento?”. Alonso termina a conversa, relembrando
Verstappen que “os títulos dele valem mais do que os de Hamilton e para que ele tenha
cuidado com a mulher que escolha. No caso dele, a sua ex-mulher Raquel del Rosario, a
qual até murros em pumas dá, portanto ele que imagine os estragos no património
dele”.

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Os pilotos decidem ligar, então, a vários alunos do 2.º ano de Direito da Família, da
maior faculdade de Direito de Portugal, para que lhes expliquem quais é que seriam as
opções que poderiam escolher no direito português (regimes típicos e atípicos).

R.:. atos que produzem efeitos no nosso património. Pode haver uma estipulação
antenupcial

Regimes típicos são os que se encontram previstos na lei. 3 tipos de regimes típicos –
comunhão geral de bens; separação de bens e comunhão de adquiridos

1. Comunhão de ADQUIRIDOS (1721º e ss.) – é um regime hibrido. Há ou pode


haver bens comuns e bens próprios de cada um dos cônjuges. No regime da
comunhão de adquiridos nem os bens levados para o casal nem os adquiridos a
título gratuito se comunicam. Só se comunicam os bens adquiridos depois do
casamento a título oneroso. É a ideia de só tornar comum aquilo que exprime a
colaboração de ambos os cônjuges no esforço patrimonial do casamento.

Vigora como regime supletivo, na falta de convenção antenupcial ou no caso de


caducidade, invalidade ou ineficácia da convenção (1717º)

Natureza jurídica da comunhão – de quem são os bens comuns? De uma pessoa


jurídica nova, de algum dos cônjuges ou dos dois? Que relação existe entre o
património comum e o património de cada um deles? Depende se o património
próprio é autónomo (ou não) e em que grau. Profº Guilherme de Oliveira responde no
sentido da propriedade coletiva, afirmando que os bens comuns constituem uma
massa patrimonial a que, em vista da sua especial afetação, a lei concede certo grau de
autonomia, e que pertence aos dois cônjuges, mas em bloco, podendo dizer-se que os
cônjuges são, os dois, titulares de um único direito sobre ela.

»» património coletivo vs compropriedade. O primeiro demarca-se por ser um


património que pertence em comum a várias pessoas, mas sem se repetir entre elas
por quotas ideias. O segundo assenta numa comunhão por quotas. Comunhão
conjugal = propriedade coletiva. Primeiro o cônjuge adquire (individualmente) o bem e
depois comunica-o ao outro cônjuge.

Antes do casamento estar dissolvido ou de ser decretada a separação de pessoas e


bens entre os cônjuges, não podem estes dispor (venda, doação…) da sua meação nos
bens comuns, tal como não é permitida a partilha dos mesmos bens antes da
dissolução do casamento.

Autonomia dos bens comuns face aos bens próprios de cada um dos cônjuges: é uma
autonomia limitada e incompleta. Seria um património verdadeiramente autónomo
(completa e totalmente) se tivesse dividas próprias, ou seja o conjunto de bens
comuns responde única e exclusivamente pelas dívidas comuns. (1) os bens comuns
não respondem só pelas dívidas comuns, também (excecionalmente) por dívidas

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próprias. A lei destina o património comum à satisfação das necessidades do casal e ao
pagamento das dívidas comuns, mas, não sendo o sistema rígido, a lei permite que,
subsidiariamente, os bens comuns também paguem pelas dívidas próprias (1696º);
também (2) não são só os bens comuns que respondem pelas dívidas comuns, os bens
próprios de qualquer um dos cônjuges responde subsidiariamente pelas dívidas
(1695º/1)

Proibição da comunicabilidade de bens na convenção antenupcial (1699º), ou seja tem


de respeitar os limites do art. 1733º. A incomunicabilidade é imperativa

Participação dos cônjuges no património comum: art. 1730º/1 atribui a cada cônjuge o
direito a metade do valor do património comum (ativo e passivo), sendo consideradas
nulas todas as estipulações em contrário. No entanto, a lei não é insensível ao modo
como se constituiu o património comum, como se prova ao admitir compensações em
favor de cada cônjuge quando o seu património próprio foi sacrificado, ela não foi ao
ponto de fazer depender o valor da quota do valor das contribuições concretas de cada
um, em bens comuns. O 1730º/2 admite que cada cônjuge faça doações ou deixas da
sua meação nos bens comuns a favor de terceiros.

Bens próprios

 Bens que os cônjuges levam para o casamento, ou seja cujo título de aquisição seja
anterior à data do casamento, art.1722º/1 al.a). Há casos duvidosos, por exemplo a
compra feita antes do casamento sob condição suspensiva que se realiza depois
 Bens que advierem a cada cônjuge por sucessão ou doação, art. 1722º/1 al.b), não
resulta, de esforço partilhado dos cônjuges. Mas podem entrar na comunhão se o
doador/testador assim o tiver determinado, entendendo-se que essa é a sua
vontade se a liberalidade for feita em favor dos dois cônjuges conjuntamente
(1729º/1)
 Bens adquiridos na constância de matrimónio por direito próprio anterior,
artt.1722º/1 al.c), sobre patrimónios ilíquidos partilhados depois dele
 Bens sub-rogados no lugar de bens próprios, art. 1723º. Os bens adquiridos tomam
o lugar dos anteriores, fazendo as vezes deles, por aplicação do princípio da sub-
rogação real, que supõe que de um desses patrimónios saíram determinados bens,
mas outros entraram nele, e que houve uma conexão entre a perda e a aquisição.
A sub-rogação real admite-se expressamente nos casos de troca direta (al. a)) e de
alienação de bens próprios quanto ao respetivo preço (al. b)); no que se refere aos
bens adquiridos ou às benfeitorias feitas com dinheiro ou valores próprios de um
dos cônjuges exige-se que a proveniência do dinheiro ou valores seja devidamente
mencionada no documento de aquisição ou em documento equivalente (p. ex. um
título de empreitada), com assinatura de ambos os cônjuges (al. c)). Se não for
devidamente mencionada a proveniência do dinheiro ou dos valores com que

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foram adquiridos os bens ou efetuadas as benfeitorias, estes bens ou benfeitorias
serão comuns.
 Bens adquiridos em parte com dinheiro ou bens próprios de um dos cônjuges, e
noutra parte com dinheiro ou bens comuns, se aquela for a prestação mais valiosa,
art. 1726º. ???? Guilherme de Oliveira, pág. 618
 Bens indivisos adquiridos em parte por um dos cônjuges que deles já tinha uma
outra parte, art. 1727º. Na verdade, na falta deste regime a parte adquirida no
bem indiviso pertenceria ao património comum, enquanto a parte que o cônjuge
adquirente já detinha cabia no seu património próprio. Ora, se já são conhecidos os
inconvenientes da compropriedade — inconvenientes que justificam os direitos de
preferência recíprocos na alienação de cada parte — ainda seria pior que o
domínio sobre o bem indiviso ficasse repartido pelo património próprio de um
cônjuge e pelo património comum do casal, sujeito a uma administração de
contornos indefiníveis e suscitando dificuldades de partilha, assim com este
regime, a parte adquirida junta-se à parte que o cônjuge adquirente já detinha,
simplificando-se, quanto possível, a propriedade sobre o bem indiviso.
 Bens adquiridos por virtude da titularidade de bens próprios e que não possam
considerar-se como frutos destes, art. 1728º/1
 Bens considerados próprios por natureza, por vontade dos nubentes ou por
disposição da lei. Ex.: distinções honorificas, medalhas, diplomas, direitos de autor,
a incomunicabilidade impõe se como expressão dos dtos de personalidade;
considerados incomunicáveis em convenção antenupcial; todos aqueles que a lei
estabelece imperativamente como próprios (1733º)

Bens comuns

 Produto do trabalho dos cônjuges, art. 1724º al.a), são todos os proventos
auferidos por trabalho dependente ou independente, regular ou esporádico, pago
em dinheiro ou géneros, bem como as prestações retribuídas com prémios de
produtividade laboral e ainda os prémios ou gratificações que não resultem de
pura sorte, isto é, que impliquem uma contraprestação de esforço, destreza,
ciência ou de outra aptidão de qualquer dos cônjuges, como as que se realizam nas
competições desportivas ou em concursos televisivos. Também conta o que
substitua o salário, como pensões…
 Bens adquiridos na constância do matrimónio, que não sejam executados por lei,
art. 1724º al.b)
 Frutos e rendimentos dos bens próprios e o valor das benfeitorias úteis feitas
nestes bens
 Moveis
 Bens sub-rogados no lugar de bens comuns, em regime de comunhão de
adquiridos, todo o bem que entra no casal em substituição de um bem anterior
presume-se comum

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 Bens adquiridos em parte com dinheiro ou bens próprios de um dos cônjuges e,
noutra parte, com dinheiro ou bens comuns, se esta for a prestação mais valiosa

2. Comunhão GERAL – determina que são bens comuns todos os bens dos
cônjuges, presentes e futuros, pelo que são bens comuns todos os que não são
considerados incomunicáveis.

Comunhão geral de bens pelo facto de o património comum ser “constituído por todos
os bens presentes e futuros dos cônjuges que não sejam excetuados por lei” (art.
1732.º). Comunhão não só de domínio, mas também de posse e de administração.

Este regime vigora quando for estipulado pelos nubentes na escritura antenupcial ou
no auto lavrado perante o conservador do registo civil, e só nesse caso. Todavia, por
força do art. 15.º do Decreto-lei n.º 47 344 (que aprovou o Código Civil), o regime da
comunhão geral vigora ainda quanto a todos os casamentos celebrados até 31 de maio
de 1967.

Art. 1734º considera que se aplicam as disposições relativas à comunhão de


adquiridos, com as necessárias adaptações, à comunhão geral.

São comuns, no regime de comunhão geral, “todos os bens presentes e futuros dos
cônjuges que não sejam excetuados por lei” (art. 1732.º); só os bens que a lei excetua
da comunhão é que são portanto próprios, e são-no imperativamente, como vimos
(art. 1699.º, al. d).

3. SEPARAÇÃO de bens (1735º e ss.) – separação absoluta e completa entre os


bens dos cônjuges.

A separação não é só de bens, mas também de administrações, mantendo os cônjuges


uma quase absoluta liberdade de administração e disposição dos seus bens próprios,
pelo que cada um dos cônjuges conserva o domínio e a fruição de todos os seus bens
presentes e futuros, de que pode dispor livremente. No entanto, esta liberdade não é
absoluta, mas antes constrangida pela lei, deste modo a prática de atos que impliquem
a privação total ou parcial da casa de morada da família carece do consentimento
(1682ºA/2). Mesmo que o bem pertença exclusivamente a um dos cônjuges, o
proprietário não pode dispor dele livremente.

Este regime vigora imperativamente nos casos previstos no 1720º/1 e, como regime
convencional quando acordado em convenção antenupcial.

Não há bens comuns, mas há antes bens que pertençam ambos os cônjuges em
compropriedade, e são assim bens que qualquer dos cônjuges pode pedir a divisão a
todo o tempo, através do processo de divisão de coisa comum. A lei permite e
presume a compropriedade dos moveis, admitindo que os nubentes estipulem na

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convenção antenupcial cláusulas de presunção sobre a respetiva propriedade com
eficácia extensiva a 3os, mas em prejuízo de prova em contrário.

Regimes atípicos: participação de adquiridos (previsto no BGB). Podem os nubentes


estipular o que quiserem no âmbito da autonomia privada? Não, 1699º (1733º); e
outros que podem ser criados pelas partes desde que respeite os limites legais.

Caso 9: Harry Styles e Olivia Wilde casaram-se em 2022, numa cerimónia


extremamente mediática, mas sem a celebração de convenção antenupcial dado que
“o amor não tem regras”, tendo ido viver para uma bonita mansão da Olivia Wilde, em
Venice, Los Angeles. Após vários meses de lua de mel, Harry Styles começa a ficar
preocupado com os gastos excessivos de Olivia Wilde, a qual sendo uma acérrima
defensora da causa vegan e da Fair Food, canaliza, para uma fundação que visa
promover o consumo de vegetais e frutas denominada “Watermelon Sugar”, todo o
seu tempo e dinheiro. Olivia Wilde planeia mesmo vender a sua vivenda em Los
Angeles para converter em contribuições para esta causa e para doar a alguns meios
de comunicação social que elogiaram a performance de Harry no seu filme mais
recente. Harry Styles, embora se considerasse capaz de “atravessar o próprio fogo por
ela, dado que a adora” opõe-se à venda da mansão e pretende proteger o seu
património da gestão, que entende desastrosa, da Olivia Wilde. Faça o enquadramento
legal dos factos descritos, referindo, em particular, o regime de bens aplicável ao casal,
a titularidade da vivenda e o regime a que está sujeita a sua venda.

R.: processo preliminar, impedimentos. Não tendo existido convenção antenupcial


aplica-se da comunhão de adquiridos, nos termos do 1717º. A mansão onde o casal
vive, era já de Olivia Wilde, sendo um bem anterior ao casamento, assim nos termos
1722º/1 al.a) é um bem próprio. 1724º, 1681º/1

Pode Olivia dispor, uma vez que é proprietária única do bem, no entanto sendo
habitação de família, nos termos do 1682ºA nr2 é necessário que outro o cônjuge
consinta na venda, assim a oposição expressa de H é impossível que O venda a casa.
1722º/1 al.a) a casa é um bem próprio, pois que Olivia já a detinha antes do
casamento, todavia habitação de família… 1673º devem os cônjuges escolher em
conjunto a residência de família.

Administração dos bens comuns cabe aos dois cônjuges, nos termos do 1671º/2 e
1678º/2 al.g), mas bens próprios (como é o caso) pode-se passar a administração por
contrato de mandato ou por conhecimento sem oposição expressa do outro cônjuge.
Pode não ser preciso a apresentação do mesmo, nos termos do 1671º/3. Assim,
querendo H proteger o seu património, pode proceder à transferência da
administração dos bens, neste caso da casa de família, por um dos meios acima
indicados

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Doação de O para a fundação WS. Uma doação é uma alienação gratuita, aplicando
assim o regime do 1678º, e estando em causa a habitação familiar é necessário o
consentimento de ambos, logo H pode anular a doação (por analogia da venda). É para
o bem comum do casal? Há consentimento?

Harry pode requerer a separação judicial de pessoas e bens caso veja que está em
risco de perder os seus bens, 1767º e ss, pois que pode querer continuar casado. A
separação judicial de bens e pessoas é uma exceção ao princípio da imutabilidade.

»» alienação da casa de morada de família, 1682ºA nr2: defender a estabilidade da


habitação familiar no interesse dos cônjuges e eventualmente dos filhos, no decurso
da vida conjugal. Mais concretamente: a lei pretende proteger cada um dos cônjuges
contra atos de disposição sobre a casa de morada da família praticados pelo outro
cônjuge e que possam pôr em perigo a estabilidade da habitação familiar. Se o regime
adotado for o da separação de bens, o cônjuge proprietário pode livremente vendê-la,
doá-la….

»» administração dos bens: os cônjuges têm a liberdade de alterar as regras sobre


administração de bens através da celebração de contratos de mandato (art. 1678.º, n.º
2, al. g)) atingindo por esta via o resultado que lhes fora impossível alcançar, antes do
casamento, através da convenção. Na verdade, a lei proíbe a alteração em convenção
mas não a proíbe por mandato. A razão desta disparidade está no facto de o mandato
ser livremente revogável; deste modo, o cônjuge que ceder os poderes de
administração ao outro está sempre a tempo de os recuperar, revogando o mandato

Dívidas dos cônjuges

Para saber se a divida é de um ou de ambos os cônjuges, vemos o 1691º - legitimidade


para contrair dívidas. Qualquer um dos cônjuges tem legitimidade para contrair dividas
sem o consentimento do outro (1690º), mas não significa que isto automaticamente
responsabilizem os dois. Importa perceber cada alínea

a) Se no caso concreto há uma união entre as duas vontades, até que ponto é que
há um consentimento por parte do outro cônjuge. Pode ser um consentimento
tácito, ou seja um consentimento que se deduza de factos com toda a
probabilidade
b) Encargos normais da vida familiar, é uma expressão que deve ser entidade
literalmente, ou seja vai depender consoante a família em questão. A
expressão “disposições de pequeno valor”, depende naturalmente para as
posses do casal. Ronaldo e Georgina é diferente de um casal com salário
mínimo
c) Cônjuge administrador (1678º) , à partida a administração pertence aos dois.
“Em proveito comum do casal”, não se deve olhar para o resultado (porque
este pode não ser para o proveito comum), mas sim deve-se atender ao modo

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como foi feito o processo de decisão, qual a informação que tinha na altura,
uma decisão livre (sem coação) e racional (parâmetros que tinha nesse
momento decisório). Isto porque todas as decisões que tomamos envolve risco
económico, logo por isso é que importa saber se a decisão foi livre, esclarecida,
racional conforme os parâmetros do homem-médio. Há também que presumir
que o outro cônjuge beneficiaria disso.
d) Direito comercial, o que é que é ou não o exercício do comércio. Regras
próprias.
e) Remete para o 1693º/2

Caso 10: Tatiana Boa Nova e Rúben Boa Nova casaram-se, sem celebrar convenção
antenupcial, em 2017. Como ambos sempre gostaram de reality shows, Rúben decide
vender, por achar “bastante engraçado”, metade da mobília da casa onde residem,
bem como contrair um avultado empréstimo, para irem ao Brasil assistir a vários
programas, em especial um episódio do famoso BBB. Ainda pensando no amor do
casal pelos reality shows, Rúben decide restaurar a estátua dedicada à família
Kardashian, situada no jardim da casa onde residem, comprada pelo casal após o
casamento, com os “rendimentos dos dois”. A obra terá um custo de 50 000€.
Pronuncie-se sobre a responsabilidade pela dívida contraída por Rúben para a
realização da viagem, bem como sobre a venda da mobília, que deixou Tatiana com
um dos seus famosos ataques de mau humor matinais. Sabendo ainda que a Tatiana
entende que Rúben não pode decidir sozinho renovar a estátua e que a deve consultar,
indique, fundamentando, se a Tatiana tem razão ou se o Rúben poderá prosseguir com
a renovação.

Casamento pressupõe capacidade para o celebrar, nos termos do art. 1600º, ou seja
que não se verifique nenhum dos impedimentos nos artigos seguintes. Tal não se
verifica, logo pode o casal contrair matrimónio. Na falta de estipulação em convenção
antenupcial, o regime de bens que vigora é a comunhão de adquiridos, enquanto
regime supletivo nos termos do art. 1717º. Este regime (estipulado nos arts. 1721º e
ss.) pressupõe que são bens comuns todos aqueles adquiridos depois da celebração do
casamento, à exceção dos que forem adquiridos por virtude de direito próprio
anterior, ou outras situações criadas antes do casamento. A morada da residência de
família, considera-se como bem comum? »» se para vender a casa de família é
necessário o consentimento do outro cônjuge, também será necessário para vender a
mobília da mesma. Art. 1725º presunção de comunicabilidade na dúvida de bens
móveis,

Art. 1682º/1 e nr3 al.a) carece do consentimento de ambos os cônjuges a alienação ou


oneração de moveis usados no quotidiano do casal. Não é o caso de dívidas, mas sim
de (má) administração, em que R não tinha legitimidade para vender a mobília. Tatiana
pode requerer a anulabilidade nos termos do 1687º/1

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Ruben tinha legitimidade para fazê-lo nos termos do 1690º/1. Relativamente à
responsabilidade, apesar de no Dto das Obrigações apenas responder pela dívida
quem a contraiu, a situação é diferente no caso do direito da família, em que pode
responder o património de ambos os cônjuges. O critério não é o da estrita
necessidade (encargos normais da vida familiar) mas também não é o de “ser bom
para os dois”, tem de ser um meio termo. 1691º:

A) Não parece ter existido consentimento (forma do consentimento…)


B) Encargos normais da vida familiar, não parece mas possível de enquadrar
C) Limites dos poderes de administração, há de facto uma excedência dos
poderes de administração, o que se pode aqui verificar, pelo que não
respondem ambos os cônjuges, mas apenas Ruben, os seus bens próprios e a
sua meação nos bens comuns!!!

A resolução deve seguir pelo 1692º al.a)  1696º. Caso fossem usados bens comuns
para responder à dívida, há direito de compensação 1697º

A estátua – não há consentimento, não foi para proveito comum. Visto que a obra terá
um custo de 50 mil euros, e se trata de um bem na casa de família, que foi sujeito a
uma benfeitoria voluptuária (216º/3). 1691º/1 al.b) a contrario sensu, na medida em
que integraria um encargo da vida familiar se fosse necessária ou útil. Neste caso a
dívida responsabiliza apenas R. 1724º adquirido na constância do matrimónio com o
consentimento de ambos. 1726º pois que foi adquirido com os rendimentos dos dois

»» classificação do bem (comum, próprio). Administração (ordinária, extraordinária).


Neste caso, seria um bem comum de administração extraordinária pois que há um
dispêndio bastante elevado, logo responsabilizaria apenas R. Art.1678º/3 +
consentimento para ser divida dos dois. Se a administração for extraordinária, é
necessário o consentimento, devido ao grande montante gasto.

Sociedade entre cônjuges – empresas ou sociedades familiares

Art. 1714º/2  art. 8º CSC, que permite desde que apenas um dos cônjuges assuma
responsabilidade ilimitada.

A e B são casados e têm uma sociedade por quotas, com C (filho de AB). Nas
sociedades comerciais, a propriedade é distinta do administrador  problema de
agência. Como é que se conjuga o CC (dto da família) com o CSC?

Consentimento do cônjuge

Presunção de consentimento do cônjuge no art. 1691º/1 al.d) – a partir do momento


em que o cônjuge está no exercício do comércio, entende-se que os seus atos são para
proveito comum do casal, logo há também uma presunção de consentimento do outro
cônjuge, pelo que tem de se provar que este não consentiu, caso seja assim.

Há uma discussão sobre a forma que o consentimento deve ter:


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 A doutrina mais antiga (Castro Mendes), entende que para dar consentimento
de ato da dívida, o consentimento deve também obter essa forma (se for uma
venda do imóvel, o consentimento deve também constar de escritura pública).
Art. 262º e 684º/2 (revogado)
 A outra ideia (mais recorrente), é que o consentimento não tenha de obedecer
à mesma forma, uma vez que a lei não especifica tal obrigação, logo aplica-se o
principio da liberdade de forma (219º)

Tem de ser anterior ao negócio? Profº Maria Margarida Pereira indica que é
indiferente o momento do casamento.

Caso 11: A Benedita e o Carlos, conheceram-se, em 2021, quando Carlos se decide


candidatar à presidência da AAFDL. Embora o Carlos sempre se tenha considerado um
“homem do povo” e afastado do que considera o elitismo presente no bar novíssimo, a
verdade é que, num café, ao fazer o convite para a Benedita integrar a sua lista como
suplente de Direção, fica com o coração rendido ao ver um dos doces sorrisos pela qual
esta menina do novíssimo era conhecida. Esta paixão tórrida, avança de tal modo nos
convívios pré-eleitorais, que leva o casal a casar ainda antes do começo da campanha
para a AAFDL, em dezembro de 2021. Benedita começa a sentir-se uma verdadeira
primeira-dama, sabendo que podia ser apenas uma suplente de Direção, mas “era a
titular do coração de Carlos” (chegando alguns a alegar que era ela a verdadeira
presidente da Lista). A semana anterior às eleições da associação leva o casal do céu
ao inferno. Contrariamente às suas expetativas e à “lista de votos no excel”, no dia
10/11/2022, os votos na lista (segundo Carlos, “apoiada, mas totalmente
independente”) W- We Will Rock You do pedagógico só permitem eleger dois efetivos,
numa derrota estrondosa de todas as listas com os Marretas. Estes resultados levam a
um ataque de raiva de Carlos que tece comentários afirmando que a culpa da sua
derrota era do NEE (Núcleo de Estudantes de uma determinada Etnia), os quais foram
gravados e partilhados em grupos de whatsapp, pelo que, o seu principal financiador, o
tio autarca de Carlos, lhe disse que já não o apoiava e, porque um mal nunca vem só,
Maria, uma colaboradora da Lista W, vem a público afirmar que o seu filho recém-
nascido era, na verdade, de Carlos. Carlos, decide para limpar a sua imagem, apostar
tudo nos brindes eleitorais e num giveaway, no instagram da página da sua Lista W-
(Yes) We Can, com vários prémios como o de uma viagem à volta do mundo com tudo
pago, durante 15 dias, no verão, vender materiais da Lista W a Benedita (a qual doou,
também, alguns milhares de euros para Carlos investir na lista) e assume, também, o
filho que tinha tido com Maria, para passear com ele pela faculdade, “funcionando o
pequeno como uma espécie de mascote da lista para atrair votos”. Benedita, vem a
correr ter com os seus amigos do segundo ano (que já estavam a ter aulas de Direito
da família) para saber se, correndo a próxima semana do mesmo modo desastroso,
teria de pagar mais algumas das elevadas dívidas que o seu Carlos tinha contraído
durante a época eleitoral e se tinham mesmo de ter o recém-nascido lá em casa, a

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chorar a noite toda, “com os dois” já que nem filho dela era. Para responder à
Benedita, que “já não se lembra se assinou alguma coisa antes de se casar” coloque a
hipótese de serem recém-casados sob o regime de separação de bens e, também, a do
regime aplicável ser o supletivo. Aproveite, também, para esclarecer Maria, sobre o
que é “a filiação” e se é verdade que o facto de não estar casada com Carlos significa
mesmo que “ele não tem de dar nada”.

Casados em regime de separação de bens previsto no art. 1735º e ss., demarca-se por
não haver bens comuns, ou seja todos os bens são próprios de um ou outro cônjuge,
sem prejuízo de existirem bens em compropriedade (são os dois titulares do dto de
propriedade sobre a mesma coisa, é um bem que numa parte é próprio de um deles e
que noutra parte é próprio do outro). A separação não é só de bens, mas também de
administrações, mantendo os cônjuges uma quase absoluta liberdade de
administração e disposição dos seus bens, conforme o 1735º

Como sabemos, cada cônjuge tem legitimidade para contrair dívidas sem o
consentimento do outro (1690º), todavia nem todas as dívidas responsabilizam os dois
cônjuges. No presente regime, os conjugues estão vinculados aos deveres de
cooperação e assistência pelo que respondem ambos em certos casos por dívidas que
foram contraídas por um só deles, tal como dispõe o art. 1691º, mas com a
particularidade de que neste a responsabilidade não é solidária tal como previsto no
1695º/2, e é concebível que a administração dos bens próprios de um conjugue seja
exercida em exclusivo pelo outro (1678º/2/e), f) e g)). Neste caso, as dívidas contraídas
por Carlos para a campanha, não seriam da responsabilidade de ambos, mas apenas
de Carlos nos termos do 1691º/1 al.a), pois que Benedita não demonstrou
consentimento, logo responde apenas C às dívidas contraídas. Pode-se problematizar a
questão de B ser também parte da lista e assim, esta dívida ser também do seu
interesse, todavia, não foi demonstrado consentimento algum, pelo que se presume
não comunicabilidade da divida, nem proveito comum do casal pelo 1691º/3

Divisão em dois momentos temporais – antes do vídeo ser gravado e altura em que B
parecia apoiar bastante C; e depois do vídeo ser gravado e a situação de C piorar. O
que parece mais razoável é assumir que inicialmente existiria consentimento e depois
disso não existe. A consequência seria que as dívidas contraídas no primeiro momento
seriam da responsabilidade dos dois e no segundo não. Isto com a atenuante, de no
regime de separação de bens, não haver responsabilidade solidária (1695º/2)

»» responsabilidade solidária: pagar tudo?

Venda entre casados (de materiais a B) é proibida nos termos do 1714º/2, exceto
quando separados judicialmente de pessoas e bens, o que não se verifica, logo a venda
é nula. Ver doc teóricas sobre isto!. De modo a evitar esta proibição basta constituir
uma sociedade comercial, que afasta este artigo (CSC). A venda é nula por força do art.

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294º CC (nulo o negócio contra disposições imperativas), que na prática se traduz na
devolução do dinheiro e dos materiais.

Doação entre casados (de B para C) regida pelo 1761º e ss. O art. 1762º do código
considera nula a doação entre casados se vigorar imperativamente este regime, logo,
sabendo que tal não acontece por leitura do 1720º, entende-se que a contrario sensu,
a doação é válida, sabendo que só podem ser doados bens próprios do casal, conforme
o 1763º/1, tal também se verificou. Ver art. 940º/2, usos sociais!

No caso da comunhão de adquiridos, ou seja o regime supletivo previsto 1717º, em


que são bens comuns os estipulados no art. 1722º/1 al.a) e b) e ainda do 1724º. Não
tendo sido feita uma convenção antenupcial onde os nubentes estipulam o regime de
bens que será aplicável, aplica-se o regime supletivo da comunhão de adquiridos,
previsto no art.º 1717. Neste regime, a regra é a de que são bens comuns o produto do
trabalho dos cônjuges e os bens adquiridos por eles na constância do matrimónio a
título oneroso (art.º 1724 e 1722, nº1, alínea a) e b), e todos os demais bens tendem a
ser próprios.

Porém, os nubentes podiam ter procedido à elaboração de uma convenção


antenupcial, em que estipulavam o regime de separação de bens que lhes seria
aplicável. No caso de terem estipulado o regime da separação de bens, haveria uma
separação absoluta e completa entre os bens dos cônjuges. Nos termos do art.º 1735,
cada um dos cônjuges conservaria o domínio e a fruição de todos os seus bens
presentes e futuros, de que pode dispor livremente. A separação aqui não seria só de
bens, mas também de administrações, mantendo os cônjuges uma quase absoluta
liberdade de administração e disposição dos seus bens próprios. As limitações a esta
liberdade quase absoluta são: (1) a prática de atos que impliquem a privação total ou
parcial da casa de morada de família, que carece do consentimento de ambos (art.º
1682 – A, nº2); (2) os móveis utilizados conjuntamente na vida do lar ou como
instrumento comum de trabalho e os que pertençam exclusivamente ao cônjuge que
não os administra (art.º 1682, nº3), casos em que, ainda que o bem pertença
exclusivamente a um dos cônjuges, o proprietário não pode dispor dele livremente

Neste regime, apesar de não haver bens comuns, pode haver bens que pertençam a
ambos os cônjuges em compropriedade, em relação aos quais qualquer deles pode
pedir a divisão a todo o tempo (art.º 1412), através do processo de divisão de coisa
comum (art.º 925 e seguintes do Código de Procedimento Civil). A lei estabelece a
presunção de compropriedade dos móveis no art.º 1736, nº2, mas no nº1 admite-se
que os nubentes estipulem na convenção antenupcial cláusulas de presunção sobre a
respetiva propriedade, com eficácia extensiva a terceiros, mas sem prejuízo de prova
em contrário. Assim, neste regime, as ilegitimidades conjugais têm muito
menor amplitude.

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FILIAÇÃO é no seu sentido estrito do art. 1796º uma espécie da relação de parentesco,
definindo-se como “a relação juridicamente estabelecida entre as pessoas que
procriaram e aquelas que foram geradas”, mas no sentido mais amplo pode entender-
se também a relação que, não tendo origem no fenómeno da procriação, produza
efeitos similares, como por exemplo a adoção ou PMA (1586º).

O estabelecimento da filiação no caso de procriação através de ato sexual distingue-


se., nos termos do 1796º em relação à mãe e ao pai. A perfilhação tem
obrigatoriamente de assumir uma forma, conforme o 1853º, todavia a mãe não
perfilha, declara a maternidade. Distingue-se a perfilhação = declaração de
consciência vs declaração de maternidade = declaração de ciência

O casamento importa vários deveres, de assistência, cooperação e fidelidade. Ora, no


presente caso, deu-se uma violação do dever de fidelidade de Carlos para com
Benedita, pois que o filho deste com Maria foi concebido já na constância do
matrimónio, pois que o casal contraiu casamento em 2021, e o filho de Maria nasceu
em 2022 (explicar contas!). Art. 1883º, não fica B obrigada a ter o filho lá em casa, pois
que é preciso o consentimento do cônjuge “traído”. Pode ainda enquadrar-se um
dever de cooperação no casamento.

Responsabilidades parentais de C, tem de dar alguma coisa? Claro que tem. Art. 1877º
e ss. e nos termos do 1884º/1 há a obrigação de prestar alimentos no período da
gravidez e durante o primeiro ano de vida, nos anos seguintes aplica-se a norma geral,
prevista no art. 1905º??

Dissolução dos laços de casamento/divórcio

»» violação do dever de fidelidade: para existir indemnização no âmbito desta


violação, tem de haver também uma cessação do vínculo de matrimónio? Tendo sido
eliminado pela Lei nº 61/2008, de 31.10, o sistema do divórcio-sanção baseado na
violação dos deveres conjugais, mantiveram-se os referidos deveres conjugais cuja
violação não se sanciona hoje pela via da ação de divórcio mas que nem por isso
deixam de merecer a tutela do direito conforme previsto no art. 483 do C.C., por força
do disposto no nº 1 do art. 1792 do mesmo Código. Há responsabilidade contratual no
âmbito desta violação, sendo que há uma afetação dos direitos de personalidade de
MARIA, nomeadamente

Caso 12: Chega o dia das eleições e a Lista W, apesar de todos os brindes oferecidos e
esforço, perde. Benedita, após chorar durante alguns dias, afirma que “não se tinha
casado com um derrotado”, pelo que, pretende “acabar com o casamento”. Carlos
concorda por amar a mãe do seu filho, Maria, com quem pretende ir viver, mas afirma
que necessitará de uma pensão de alimentos. Benedita dirige-se aos seus amigos do
segundo ano, mais uma vez, para que eles lhes digam como é que ela se poderá

21
divorciar e pergunta-lhes se terá mesmo de pagar uma “pensão de alimentos” ao
Carlos.

[introdução do divórcio, possibilidade de todos os casamentos serem suscetíveis de


rutura]

Direito a alimentos, 2003º define que se entende como alimentos tudo o que é
indispensável ao sustento, habitação e vestuário. Art.2004º/1 estipula que deve haver
um juízo de proporcionalidade neste acordo. Art. 2006º desde quando são devidos.

R.: direito à alimentos 2009º/1 al. a) e 2016ª/2 – a regra entre os cônjuges é a que
cada cônjuge deve prover à sua subsistência, mas deve-se atender à “balança” entre a
capacidade e a necessidade que remete para o 2004º/1. A pensão não serve para
manter o estilo de vida anterior (2009º/1a) e 2016º/3 pode ser este dto negado.

Razões manifestas de equidade, é fácil entender que a violação do dever de fidelidade


preenche este conceito.

União de facto entre C e MARIA, aplicação do art. 2019º. A jurisprudência entende a


união de facto nos mesmos termos da lei – pode se ter um entendimento mais
extensivo (que começa no momento em que se une as vidas) ou um entendimento
mais literal, que deriva da própria lei, ou seja que a cessação do dever de alimentos se
dá quando há comportamentos indignos de moral.

Deve-se aplicar todas as disposições para o divórcio sem consentimento, uma vez que
não consenso em todos os aspetos que deve haver acordo, pois que apesar de C ter
consentido não se deu acordo entre estes aspetos sobre os quais incide o 1775º.

Constituição do direito de alimentos, art. 2016º/3, tem de atender a razões de


manifesta de equidade, o juiz vai olhar para o divórcio e perceber se existe alguma
razão para que não seja prestado, por exemplo violação do dever de fidelidade –
presunção de que cada cônjuge provém à sua própria subsistência, art. 2016º/2. O
direito aos alimentos é não obrigatório (2016º) e não definitivo!!!!! Deve na verdade
ser excecional. Constituição vs cessação

DIVÓRCIO SEM CONSENTIMENTO

Art. 1781º - fundamentos para divórcio sem consentimento, são requisitos objetivos

a) Separação de facto por um ano consecutivo. Na ótica da profº Margarida Silva


Pereira, que é mais liberal, há certos eventos “mais banais” não são relevantes
para afastar este requisito, ou seja este requisito só seria afastado se houver
um animus para uma reconciliação. Este fundamento pode colidir os dtos de
personalidade. Tem um requisito objetivo (inexistência de vida comum há mais
de um ano) e um subjetivo (propósito de não reestabelecer a vida comum)

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b) Alteração das faculdades mentais há mais de um ano e comprometa a vida
comum
c) Ausência de um cônjuge por mais de 1 ano
d) Quaisquer outros factos que, independentemente de culpa, mostrem rutura
definitiva do casamento – conceito aberto, dá grande discricionariedade do
juiz, doutrina não tem bem certeza, ao que parece. Critério social e objetivo,
tem de demonstrar que há uma incompatibilidade da continuação da vida em
comum, socialmente entendida. Tem de ser uma conduta socialmente
incompatível com a vida em comum.

Art. 1779º: principio da ultima ratio. Art. 1785º/2: principio da judicialidade.

Ideia de que o divórcio não serve para aplicar sanções. Art.1792º/2 e 1781º al.b)

Caso 13: Cristiano Ronaldo, após uma jornada épica onde consegue ganhar o Mundial
com a seleção portuguesa, decide mudar de vida e começar a jogar por outro clube. A
mudança para Portugal, com Georgina Rodriguez, que parecia boa para o casal
começa a ter alguns obstáculos. Georgina odeia todos os pratos com bacalhau, o que
lhe causa problemas com a sogra, Georgina não sabe falar português, o que lhe causa
problemas com os filhos, Georgina confunde o Sporting com o Benfica, o que lhe causa
problemas com uma nação inteira. Ronaldo, após outra entrevista a Piers Morgan
(Uncensored, como não podia deixar de ser), lança uma revelação bombástica ao País.
Cristiano irá pedir o divórcio, considerando que não teria mais capacidade para
continuar casado. Cristiano refere que a Georgina, para além dos problemas referidos,
recusa-se a participar em todas as tarefas domésticas e terá tido uma relação
extraconjugal. Cristiano realça nunca ter chegado a recorrer à violência física, mas
confessa que, em desespero, a tem avisado constantemente das consequências do seu
comportamento, limita as saídas de casa e após ter estado a vigiar os seus
movimentos, descobriu a relação extraconjugal. Georgina sabendo que a casa onde
moram é de Cristiano, e sem ter casa própria nem meios de subsistência suficientes,
sente que seria uma catástrofe o divórcio.

Divórcio sem consentimento, art. 1779º. Desrespeito pela cultura do Ronaldo pode
servir como fundamento para o divórcio (não falar a língua, comida, ignorar algo que é
relevante para o outro cônjuge, art. 1781º al.d) por interpretação extensiva, que não
contempla a culpa do cônjuge). Deve ser feita uma avaliação objetiva destes últimos
argumentos. Violação do dever de fidelidade e de cooperação, por parte de Georgina.

Será que não falar português é um “deal breaker”? É um não falar de todo, ou apenas
não fala português? É de facto um problema a nível legal?

R.: enquadramento, Cristiano pretende dissolver o casamento por via do divórcio, há


duas modalidades… arts 1779º e ss., requisitos: a violação do dever conjugal, da
fidelidade é um sólido fundamento para divórcio. Uma pessoa querer um determinado

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estilo de vida é um critério muito difícil de ser fundamento para divórcio. Dever de
colaboração (G recusar-se a participar nas tarefas domésticos), dever de contribuir
para os encargos da vida familiar – trabalho no lar, manutenção e educação nos filhos
– mas há que ter atenção ao estatuto socioeconómico do casal, pois que, neste caso, o
casal dispõe de empregados para as tarefas domésticas. Todavia, mesmo sabendo que
há tais empregados, há que gerir tal staff, isso é também uma tarefa do lar. Mas há
que atentar também na particularidade do art. 1676º, que diz «ou», pelo que se se
entender que Georgina não participa para a educação dos filhos, há também
fundamento para divórcio.

Art. 1671º/2 prevê indemnização em caso de divórcio, no caso de um dos cônjuges


ficar prejudicado durante o casamento, por se ter dedicado mais à casa e à família e
menos à carreira.

Preocupações de Georgina: art. 2016º, os cônjuges devem prover ao seu próprio


sustento, mas em caso de necessidade o outro pode sustentar, mas não tem Ronaldo
de prover o mesmo estilo de vida, do casal casado (fatores usados para o cálculo:
capacidades de informação, condição de empregada ou desempregada, filhos, idade,
Relativamente à casa de família, (possibilidade de ser arrendada, ainda que fosse bem
próprio de Cristiano 1793º).

Ofensa à honra de Georgina por difamação na entrevista. Violência doméstica, pelas


ameaças, limitação das saídas… consubstancia-se de facto na violência doméstica
apesar de não ter havido violência físico, pode dar lugar a indemnização nos termos da
responsabilidade civil (483º) – duas posições relativamente ao ressarcimento dos
danos causados:
 Não basta a violação de um dever conjugal (1672º), precisa de existir uma
especial crueldade e uma violação predominante dos direitos de personalidade

 A mera violação de um dever conjugal leva a indemnização

Património: 1790º, a lei dá uma medida para os cônjuges decidirem o que querem,
mas não pode nenhum deles exceder o que teriam em regime de comunhão de
adquiridos. Pode um cônjuge deixar tudo, em divorcio por mutuo consentimento, ao
outro cônjuge? NÃO! por via de acordo de divórcio, ainda que exista uma vontade livre
e esclarecida, não se pode violar o teto do art. 1790º. Pode acontecer posteriormente
por doação.

Art. 1699º/2 impede casamento por outro regime sem ser a separação e impede ainda
a comunicabilidade dos bens.

Pensão de alimentos: 2003º e ss. os alimentos são devidos desde a proposição da


ação. 2007º alimentos provisórios. Quando é que é a proposição de ação? Depende, a
pensão de alimentos provisórios pode ser pedida antes da propositura da ação (2007)

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Responsabilidades parentais no âmbito do divórcio: há que distinguir entre questões
de particular importância e os atos correntes da vida do menor. As restrições que
possam existir têm sempre de ter em conta o melhor interesse da criança (1901º e ss.)

Crédito compensatório ao cônjuge, art. 1671º/2: cabe a cada casal definirem as


tarefas da vida comum, mas pode dar-se que um dos cônjuges fique prejudicado por
ter abdicado da carreira profissional e mais tarde pode ter dificuldades a reentrar no
mercado de trabalho. Requisitos, 1676º
 Contribuição consideravelmente superior
 Renuncia excessiva
 No momento da partilha (1689º) a não ser que vigore o regime da separação de
bens

Deve ser feita uma análise da vida comum e das suas vicissitudes, depois uma conta
corrente da vida do casal. A profº Margarida Silva Pereira recorre ao instituto do
enriquecimento sem causa.

Caso 14: Shakira e Gerard Piqué, apaixonaram-se um pelo outro e casaram-se, sem ter
previamente celebrado convenção antenupcial, ao som de “Hips don´t lie”. Após alguns
anos, o casal não resiste às traições por parte de Piqué, as quais deixam Shakira a
sentir-se “loca”, pelo que decide pedir a separação judicial de pessoas e bens, visto que
não se queria divorciar, para tentar evitar “la tortura” que é aparecer nos jornais.
Piqué concordou e separaram-se em 2021. Entretanto, Gerard Piqué conheceu Clara
Chia com quem se pretende juntar. Gerard e Clara vivem durante um ano e seis meses
juntos, partilhando uma mansão luxuosa, a que chamam a “mansão do amor”. Após
esse ano e meio de intensa felicidade do casal, Piqué, por força do seu novo contrato
de trabalho, desloca-se a Espanha, onde permanece durante sete meses, tempo
necessário ao lançamento da sua carreira enquanto treinador de futebol, mantendo a
ligação com Clara através de videochamadas e encontrando-se ambos com bastante
frequência para manter a chama da sua relação bem acesa. Gerard queria saber se
existia alguma forma de reaver o imóvel que doou a Shakira, por ocasião dos seus dez
anos de casamento, para aí viver com Clara. Infelizmente, quando Gerard Piqué se
preparava para voltar a morar com Clara, morre num acidente de viação a 300 km/h
na A1. Clara, chorosa, pretende ter direito a pensão de sobrevivência e não quer ir para
nenhuma das suas casas dado que precisa de permanecer na “Mansão do amor”, a
qual era propriedade de Piqué, por um período de cinco anos, não deixando a “chama
eterna do amor” apagar-se antes disso.

Separação judicial de pessoas e bens vs divórcio [explicar diferença]

UNIÃO DE FACTO. Divergência doutrinária relativamente à contagem do prazo – o


casal tem de estar unido durante dois anos para se considerar união de facto. Os meios
de prova, com vista a demonstrar a existência da relação (art. 2º-A).

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O prof JDP defende que os membros da união de facto deixarem de habitar, o prazo
suspende-se voltando a correr o prazo quando estes regressem a coabitar. Outra parte
da doutrina observa ainda que todos os outros aspetos ?????? ler sobre isto

Lacuna  analogia. No casamento sabe-se que se as duas pessoas estiverem casadas,


e uma delas estiver ausente não deixa de existir casamento por causa disso.
Entendendo que há analogia entre as duas situações, percebemos que há uma lacuna
na união de facto, que deve ser integrada por analogia. O art. 1º/2 Lei UF «condições
análogas à dos cônjuges» por analogia legis, do art. 10º CC.

Em caso de separação judicial de pessoas e bens o dever conjugal que se mantem é o


da pensão de alimentos, de outro modo, se admitirmos que os outros deveres se
mantêm, seria insustentável assumir a união de facto quando uma das partes estiver
separada. A separação de pessoas e bens extingue os deveres conjugais, exceto o
dever de respeito e de alimentos. O dever de respeito não advém exclusivamente do
casamento, mas antes da conduta geral da sociedade, assim é quase indiferente dizer
que cessa um dever de respeito com o casamento, pois que está intimamente aos
direitos de personalidade. O que ocorre no casamento é uma intensificação do dever
de respeito derivado dos direitos de personalidade, muito por causa da relação entre
os cônjuges ser dotada de maior proximidade.

Doação (Gerard e Shakira): relativamente ao imóvel doado, é de notar que não são
permitidas as doações sem reservas. Está prevista a livre revogabilidade das doações,
nos termos do art. 1765º, pelo que seria de facto licito Gerard reaver o imóvel doado.
Motivos que levam à caducidade da doação estão previstos no art. 1766º, todavia
nenhum deles se enquadra na situação deste casal. Se a doação foi realizada na
constância do matrimónio, há que verificar se se aplica o previsto no 1791º, que
importa para a caducidade da doação.

Divergência doutrinária relativamente à culpa na dissolução do casamento – se


entendemos que a lei 61/2008 veio expurgar a culpa enquanto fator para a dissolução
do casamento, devemos também entender que a parte final do 1766º/1 al.c).

Caducidade (pressupõe o decorrer de um prazo, em que o prazo finda logo acaba) vs


revogação (pressupõe uma declaração de uma das partes ou mutuo acordo)

Pode haver uma união de facto quando as pessoas estão separadas? Pode, nos termos
do art. 2º al.c) da Lei 7/2001, ao determinar que não podem estar em união de facto as
pessoas casadas, salvo se decretada a separação de pessoas e bens, o que sucedeu
entre Shakira e Gerard.

Caso de morte de um dos “unidos”, art. 2º-A/4. Destino da casa de morada de família
no caso de morte, art. 5º da mesma lei, que dispõe no seu numero um que o membro
sobrevivo tem um direito real da habitação e um direito de uso do recheio durante
cinco anos, pelo que pode Clara permanecer na “mansão do amor” nos cinco anos

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subsequentes à morte de Gerard, tal como pretende. Caso a união de facto existisse há
mais de cinco anos, o direito de permanência na morada de familia seria igual ao
tempo da relação (nr2). Este raciocínio não é válido porque existe o art. 5º/6, e o
enunciado expressa que Clara tem outras casas!!

Clara tem ainda direito, nos termos do art. 3º al.e), f) e g) da mesma lei, a certos
benefícios em caso de morte do outro membro da união, assim t em direito à pensão
nos termos da alínea e) que prevê pensão de sobrevivência em caso de morte do
beneficiário, neste caso Gerard. Remete para o art. 6º, regime de acesso às prestações
por morte.

RESPONSABILIDADES PARENTAIS, 1877 e 1878: conjunto de situações jurídicas que,


normalmente, emergem do vinculo de filiação, e incumbem aos pais com vista a
proteção e promoção do desenvolvimento integral do filho menor não emancipado.

As responsabilidades parentais não se circunscrevem ao poder de representação e ao


poder-dever da administração dos bens. Englobam outras situações jurídicas, como: o
poder-dever de guarda, o dever de prover ao sustento e o poder-dever de dirigir a
educação.

Estatuário, indisponibilidade e irrenunciabilidade, funcionalidade acentuada, eficácia


perante terceiros (ergaomnes), tipicidade, tutela reforçada,

Caso 15: Angelina Jolie e Brad Pitt, pais de Knox Léon, de 14 anos, pretendem divorciar-
se dado que Angelina, encontrou um recém-nascido num contentor do lixo junto de sua
casa e decidiu declarar o respetivo nascimento no registo, identificando-se a si própria
como mãe. Ao tomar conhecimento do que aconteceu, o marido, Brad, que casara com
Angelina contactou um advogado dado ser este mais um dos comportamentos que
integravam a demência notória de Angelina. O acordo, em relação ao filho de ambos
(Knox), declarava o seguinte: “Knox residirá exclusivamente com o pai, com quem
sempre se deu melhor, podendo a mãe vê-lo apenas nos dias de estreia dos seus
filmes”. Depois do divórcio dos pais, Knox, sente-se angustiado e decide fugir para ir ter
com um amigo da família. Por este motivo, Knox decide fugir de casa e ir viver para a
casa de George Clooney, com 61 anos de idade. Apesar dos pedidos sucessivos dos seus
pais, Knox recusa-se a voltar para casa até que eles “voltem a ficar juntos”. Pronuncie-
se, pelo menos, sobre a filiação do recém-nascido, a homologação do acordo sobre o
exercício das responsabilidades parentais e a fuga de Knox de casa.

A filiação tem de ser, sob pena de não produzir efeitos


1. Legalmente constituída, 1797º;
2. Registada, art. 1º al.a) e c) e 2º CRC, só podendo ser invocada depois de
registada, sendo exceção o art. 1603º CC relativamente a impedimentos
dirimentes relativos.

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A filiação biológica e a filiação por PMA produz efeitos desde o momento do
nascimento do filho (1797º/2). A filiação adotiva constitui-se ex novo por sentença e os
efeitos produzem-se a partir do trânsito em julgado da decisão judicial (1973º/1).

ADOÇÃO, que nos termos do 1586º é a adoção é o vínculo que, à semelhança da


filiação natural, mas independentemente dos laços de sangue, se estabelece
legalmente entre duas pessoas nos termos dos artigos 1973º e seguintes. Aqui trata-
se de adoção porque não é filho biológico, pelo que nos termos do art. 1973º deve ser
este vinculo estabelecido por sentença judicial, respeitando os requisitos do 1974º -
superior interesse da criança, motivos legítimos, não prejudique os restantes filhos. O
nr2 deste artigo parece proibir a atuação de Angelina, pois que dispõe que o adotando
deve estar ao cuidado do adotante durante prazo suficiente antes de se constituir o
vínculo. Não pode ainda, o adotando estar num vinculo adotivo com outra pessoa
(1975º/1), o que não é o caso.

A presente situação enquadra-se, aparentemente, na alínea a) e c) do art. 1978º/1.


Atendendo ao art. 1973º/1, de onde se deduz que a filiação só produz efeitos a partir
do momento do transito em julgado da decisão judicial, e uma vez que não são
fornecidas informações sobre tal processo, podemos então concluir que não há um
vinculo entre Angelina e o recém nascido que encontrou.

Contempla duas modalidades: internacional e interna


 Interna – conjunta vs singular
o Há uma preferência pela adoção conjunta, refletindo assim a noção
legal de adoção presente no 1586º, de modo a conceber como uma
imitação da filiação natural, privilegiando assim as situações de
biparentalidade adotiva.
 Internacional – implica uma mudança da residência habitual da criança para
outro Estado. Pode também ser plural vs singular

[George Clooney não poderia adotar Knox, nos termos do art. 1979º/3, que estipula
que só pode adotar quem não tiver mais de 60 anos à data que a criança lhe tenha sido
confiada e estabelece ainda que, a partir dos 50 anos não pode ser a diferença entre
adotante e adotando superior a 50 anos, exceto se encaixar na previsão do nr4]

Relativamente a Knox, sendo este filho biológico de Angelina e Brad, e considerando


que a filiação está dentro dos moldes legais, surgem então deveres nos termos do art.
1874º em que os pais e filhos se dever mutuamente respeito, auxilio e assistência,
estando os filhos sujeitos às responsabilidades parentais até à maioridade ou
emancipação (1877º), que deve ter sempre subjacente o maior interesse dos filhos
(1875º). Os filhos devem obediência aos pais, devendo estes ter em consideração a sua
opinião. Arts 1885º e ss.

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Divórcio por mutuo consentimento, com fundamento na demência de um dos
cônjuges. Ora, se estão divorciados de verdade, significa que passa a existir um
exercício das responsabilidades parentais nos termos do art. 1905º e 1906º, devendo
este ficar estipulado por acordo dos cônjuges nos termos do art. 1775º/1 al. b) e c),
como tal aparenta ter sucedido. Novamente, o acordo deve sempre respeitar o
interesse do menor, podendo ser recusado pelo tribunal (1905º/1). Mesmo em caso
de divórcio, as responsabilidades devem continuar a ser exercidas por ambos os
progenitores como vigoravam durante o casamento, excetuando os casos de manifesta
urgência em que qualquer um pode agir sozinho, devendo prestar informações ao
outro – é um exercício conjunto mitigado das responsabilidades parentais em que
ambos decidem em matérias de particular importância. Relativamente aos atos da vida
corrente, cabe ao progenitor com quem reside habitualmente tomar a decisão, neste
caso seria Brad, tendo Angelina o direito a ser informada.

Discussão sobre o desequilíbrio da partilha, que se justifica pela demência. Art. 1903º,
caso de impossibilidade de assunção das responsabilidades parentais por um dos
progenitores, tal seria o caso de Angelina?

Filiação do recém nascido: a filiação, nos termos do 1796º, resulta do facto do


nascimento, mas pode registar o filho nos termos do 1804º, podendo então Brad
impugnar tal maternidade por ter claramente um interesse na situação como dispõe o
1807º e é logo presumido como pai. O problema aqui reside no facto da maternidade
(1) ser efetivamente reconhecida; (2) ser verdadeira; (3) dar-se uma presunção de
paternidade por estarem casados, 1826º/1; (4) capacidade de Angelina estando
demente para perfilhar.

Ora, no ultimo problema levanta-se a questão de se o homem precisa de estar na


posse das suas capacidades plenas para perfilhar (1850), porque é que a mulher não
precisa de ter tais requisitos verificados para poder perfilhar? Faz então sentido aplicar
analogicamente esta norma? NÃO porque o estabelecimento de maternidade é uma
declaração de ciência, pelo que não faz sentido.

A maternidade constituiria uma presunção de paternidade, por serem casados, mas


através de uma impugnação nos termos do 1807º que destruiria os efeitos
retroativamente, mas aqui teria de existir uma destruição e afastamento da presunção
ou através de uma impugnação judicial prevista no 1839º, que também destruiria os
efeitos retroativamente, poderia Brad. A diferença reside no facto de, no primeiro caso
tem de ser o funcionário a retirar a presunção de paternidade, o que parece, na
prática, ser difícil, pelo que se recorre mais à impugnação judicial.

Homologação do acordo sobre responsabilidades parentais: 1905º/1, 1906/3, 4 e 5. O


acordo das responsabilidades parentais não pode estabelecer a residência
exclusivamente com o pai, atendendo ao regime das visitas e claro, ao superior

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interesse da criança (40º/3 Regime Geral Tutelar Civil). Visitas – 1906/5 reforça a
importância das visitas para manter um vinculo afecional com o outro progenitor.

Responsabilidades parentais (em particular a situação da residência e das visitas): um


menor não emancipado há uma situação de fragilidade que implica uma tutela,
normalmente exercida pelos pais biológicos, o importante é que exista alguém a zelar
pelo interesse da criança, sendo essencialmente isto as responsabilidades parentais.
Um menor emancipado está apenas sujeito a administração dos bens por parte dos
pais/tutor.

Quando existe uma dissolução do casamento surge um problema, pois que os pais já
não estão a viver juntos, pelo que releva o 1906º. Reconhece-se a opinião do menor e
a sua autonomia, que deve ser adaptada à medida que vão crescendo. Relativamente
às despesas, 1879º. Ver as questões relativas à educação, religião…

Ora, no presente caso sendo Knox menor e não emancipada, cujos pais estão
divorciados deve-se aplicar o 1906º que se traduz no seguinte: residência vs visitas.
Residência exclusiva à partida contraria o 1906/6, existe uma preferência pela
residência alternada e admite-se que esta possa ser alterada pelo tribunal, tendo em
vista o superior interesse da criança e o desenvolvimento de um vinculo com os dois
progenitores. Artigo muitas vezes invocável, 1906/3!! O facto de se dar melhor com o
pai, há uma tendência para considerar que, também existindo uma disposição que
aconselha neste sentido, do acordo ser homologado. Todavia, as visitas da mãe pela
pouca frequência com que surgem, apontam no sentido de tal interesse não ser
acautelado, pelo que leva a crer que seria alterada tal parte do acordo.

Fuga de Knox: art. 1887º/2, os pais podem “reclamá-lo”, requerendo se necessário a


entrega judicial do menor. Não há presunção de maus tratos!! Quando há um
abandono do lar, aplica-se 1887, e o menor não pode abandonar o lar porque deve
obediência aos pais (1878/2), razão pela qual se pode reclamar, o processo é
estabelecido pelos arts. 49º e 51º RGPTC

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