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MONITORIA DIREITO CIVIL - PARTE

GERAL I

ATIVIDADE 1
QUESTÃO
Luana, brasileira, solteira, natural e residente em Florianópolis/SC, maior e capaz,
conheceu Rogério, brasileiro, solteiro, natural do Rio de Janeiro/RJ, também maior
e capaz.

O rapaz era um próspero empresário do ramo hoteleiro, de forma que vinha,


semanalmente, à capital catarinense para tratar de negócios, durante o ano de
2018.

Desde então, passaram a namorar e Luana passou a frequentar todos os lugares


com Rogério, que sempre a apresentava como sua namorada; além disso, o casal
postava stories todos os dias na rede social instagram, com declarações e emojis
de coração; por fim, viajaram juntos a Cancún para passar o réveillon 2018/19.

Agora, em meados de abril, Luana descobriu que estava grávida de Rogério.



Este, ao saber da notícia, recusou-se a reconhecer o filho, dizendo que o
relacionamento estava acabado. Disse ainda, que não queria ser pai no
momento, pois estava focado em sua vida profissional, e que, dessa forma, não
iria reconhecer a paternidade e nem iria contribuir economicamente para o
bom curso da gestação e subsistência da criança, que Luana devia “se virar”.

Luana, ao ouvir isso, ficou consternada, pois atualmente está desempregada e


sem condições de custear seu plano de saúde e todas as despesas da
gestação, que, conforme atestado médico, era de risco.

Relatada a situação, Luana procura você, na condição de advogado, para


orientação jurídica. Ainda, veio munida de documentos e fotos que
comprovam a relação entre ela e Rogério, bem como, de possíveis
testemunhas.

Diante da situação hipotética apresentada, e tendo como base, o ordenamento


jurídico, responda:

a) Discorra sobre a tutela jurídica conferida pelo nosso
ordenamento ao nascituro;

O art. 2º do Código Civil prevê que “a personalidade civil da pessoa


começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro”.

Dessa forma, não nos resta dúvida que nosso Código optou por, desde a
concepção, conferir direitos ao nascituro.


Podemos elencar aqui, alguns destes:

Art. 1609: que permite o reconhecimento da filiação do nascituro.

Art. 1779: que permite a nomeação de curador ao nascituro.

Art. 542: que autoriza que se faça doação ao nascituro.

Art. 1798: que reconhece a capacidade sucessória do nascituro.

Art. 1779: que fala sobre a curatela ao nascituro.

Além de direitos da personalidade como o direito à vida (inclusive proteção contra o aborto) e
à imagem, de reclamar alimentos, à proteção pré-natal (art.7º do ECA)e de capacidade de ser
parte ativa em uma relação jurídico-processual

Por fim, jurisprudência recente do STJ (RESP. 399028/SP) reconheceu o direito do nascituro à
indenização por danos morais - “O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte
do pai, mas a circunstância de não tê-lo conhecido em vida tem influência na fixação do
quantum”.
b) Qual a medida processual adequada para garantir que Luana tenha condições de ter
uma gestação tranquila e assegurar que a criança, ao nascer, tenha condições de
sobrevida? Quais são os requisitos para a propositura desta medida?

A medida adequada para o presente caso é aquela prevista na Lei 11.804/08, qual seja, a
propositura de uma ação de alimentos gravídicos.

Para propositura de tal ação é necessária a existência de indícios de paternidade, conforme


prevê o art. 6º - “convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz fixará
alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as
necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré”.

No presente caso, portanto, pode-se afirmar a existência de tais indícios, haja vista que,
conforme relatado, ambos mantinham um relacionamento público, facilmente comprovável
por meio de documentos e testemunhas. Além disso, o fato de Luana estar desempregada
e numa gestação de risco são fatores que aumentam sua necessidade de tal auxílio.

Por fim, importante lembrar que o parágrafo único do art. 6º prevê que “após o nascimento
com vida, os alimentos gravídicos ficam convertidos em pensão alimentícia em favor do
menor até que uma das partes solicite a sua revisão”.
c)Digamos que, por uma fatalidade, a criança nasça morta. Que tipo de proteção
o nosso Código confere ao natimorto?

Em relação à proteção jurídica conferida ao natimorto a doutrina entende que


esta deve ser adaptada a sua condição especial.

O Enunciado 1 da I Jornada de Direito Civil, por sua vez, prevê: “a proteção que
o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos
da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura”.


d) Digamos que, nascida a criança com vida, e, após, realizado teste de DNA,
seja verificado que Rogério não era pai da criança. O que acontece com os
valores pagos, caso a medida processual do item “b" seja deferida? Justifique.

O valor pago a título de alimentos é em regra irrepetível, ou seja, não há


obrigatoriedade de devolver aquilo que foi recibo a título de pensão
alimentícia, mesmo que tenha sido recebido indevidamente. Em outras
palavras, não pode o valor pago a título de pensão alimentícia ser objeto de
uma ação de repetição de indébito.

Tal regra se impõe, por ser considerado, o alimento, um direito fundamental


máximo, um direito relacionado a dignidade da pessoa humana.

Dessa forma, caso verificado, posteriormente, que Rogério não era, de fato,
pai da criança, não tem direito de reaver os valores já pagos. Contudo, dali em
diante, resta cessada a obrigação alimentar.

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