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Granzotto LAGIO
Medicina - CCBS UFOB
Campus Reitor Edgard Santos – Rua Bertioga, 892. Morada Nobre I – Barreiras, BA – 47810- 059. E-mail:
lagio@ufob.edu.br
EPIDEMIOLOGIA: a droga mais utilizada por gestantes é a maconha, seguida da cocaína. A National
Survey on Drug Use and Health estimou que 67 mil mulheres consumiram drogas ilícitas nos EUA no
período de 2009-2010, e 20% dessas eram gestantes. A prevalência de doenças como HIV, hepatite e
outras DSTs são mais elevadas em usuárias de drogas. O uso de álcool está associado a más formações
fetais e resulta em significativa morbimortalidade materna, fetal e neonatal.
MACONHA OU CANABIS:
É uma substância natural com propriedades alucinógenas(1). Seu princípio ativo é o δ-9-treta-
hidrocanabinol (THC), que é lipossolúvel e portanto atravessa facilmente a barreira placentária (chega
ao feto) e pode estar presente no leite materno(1). O dronabinol é a forma medicamentosa oral do
THC, funciona como antiemético, está na categoria X de uso durante a gestação e é contraindicada
na amamentação(1).
A maconha potencializa o efeito do álcool promovendo más formações fetais graves, mas seu uso
isolado não está relacionado a más formações fetais. Entretanto, afeta o neurodesenvolvimento na
infância e adolescência, e está relacionada a transtornos cognitivos e comportamentais(1).
Recentemente surgiu no mercado ilegal uma variação da canabis muito mais potente, chamada “K2”
ou “spice”. Não há ainda estudos em humanos com a droga, porém, estudos em ratos demonstraram
problemas graves na decidualização, implantação, placentação e nas trocas entre embirão e decídua,
podendo causar consequências graves para a gestação e feto (potencial teratogênico)(1). O haxixe é
a forma mais potente e concentrada da maconha, é vendida em forma de resina, e o Skank é um
cultivar da maconha com maior concentração de THC.
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COCAÍNA:
Categoria X na gestação e contraindicada na lactação(1);
É um alcaloide derivado da E. coca ou T. coca, tem efeito anestésico tópico, vasoconstritor local e
estimulante do SNC, por meio de ação simpaticomimética via dopamina, pode ser usado IV (cloridrato
de cocaína – forma mais lipossolúvel) ou aspirado para os pulmões, tem vida média de 40-60 min(1).
O crack é uma forma altamente purificada da droga, quando utilizada produz rápido aumento na
concentração sanguínea e tem meia-vida similar a da cocaína(1).
A cocaína é metabolizada primeiramente pelo plasma e pela colinesterase hepática em metabólitos
solúveis em água, que são excretados na urina, porém, a gestante e feto tem baixos níveis
plasmáticos da colinesterase, sendo muito sensíveis a droga(1).
Essa droga tem baixo peso molecular, é lipossolúvel e apresenta uma base fraca, características que
a permite atravessar a placenta por difusão, e penetrar facilmente em membranas biológicas(1).
O consumo da cocaína com álcool produz um metabólito chamado coca-etileno → prolonga a
sensação de euforia e produz maior depressão miocárdica, e ainda aumenta a vida média da droga
em 2,5x.
Existem ≈750.000 gravidas expostas a cocaína anualmente;
O uso de cocaína durante a gestação está associado a:
Ruptura prematura das membranas;
Descolamento prematuro de placenta;
Parto prematuro;
Abortamento;
Restrição de crescimento fetal;
Malformações fetais;
Crises hipertensivas;
Convulsões materna;
Pré-eclâmpsia grave;
Complicações no parto;
Enxaquecas materna;
Arritmia.
Riscos ao feto e RN:
Síndrome de abstinência pela retirada da droga;
Prematuridade;
Baixo peso ao nascer;
Menor estatura;
Circunferência cefálica menor;
Alterações do desenvolvimento cognitivo;
“...Muitas das anomalias fetais são decorrentes das disrupções vasculares causadas pela droga (ação
vasoconstritora que provoca a redução no suprimento uterino com consequente hipoxia e infarto em órgãos
fetais, além do efeito vasoativo direto no feto)” (ZUGAIB, 2016).
ANFETAMINAS:
As anfetaminas são estimulantes simpaticomiméticos que produzem estimulação poderosa no
sistema nervoso central, com ação periférica nos receptores alfa e beta-adrenérgicos(1).
Categoria C na gestação e é contraindicada na lactação(1);
Comumente usadas de forma abusiva pelas mulheres, devido a seus efeitos como: euforia, aumento
energético e supressão do apetite.
Interrompe a interação mãe-bebê no pós-parto.
Diminui a duração da amamentação em experimentos com animais de forma dose-dependente.
Riscos ao feto e RN(1):
Restrição do crescimento;
Parto prematuro;
Danos cerebrais (porencefalia, hidrocefalia).
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ECSTASY:
Chamado também de “pírula do amor” ou “love”, é um derivado de anfetaminas (3,4-
metilenodioximetanfetamina) (1);
Categoria C na gestação e é contraindicada na lactação(1);
Usuárias podem ter piora de condições sociopsicológicas ou desenvolver distúrbios psiquiátricos
(30%)(1);
Seu uso está associado à:
Morbidade e mortalidade materna e neonatal;
Hipertensão gestacional;
Pré-eclâmpsia;
Descolamento prematuro da placenta;
Parto prematuro;
Aumento de 2-4x no risco de restrição de crescimento fetal;
Morte fetal intrauterina, morte neonatal e morte infantil;
Alterações no desenvolvimento motor fino do feto resultando no aparecimento de tremores no
RN, e alterações de memória no RN(1);
HEROÍNA:
É um opiáceo, substância natural, proveniente da Papaver somniferum, atua nos receptores opiáceos
endógenos (endorfinas, dinorfinas e encefalinas);
Os opiáceos mais importantes são: morfina, codeína, fentanil, meperidina, metadona, heroína;
Outros opiáceos: oxicodona, hidromorfona, propoxifeno, pentazocina e dextrometorfano.
Efeitos no SNC: analgesia, sonolência, alterações no estado mental, coma, náuseas, vômitos e
miose;
Outros efeitos: depressão respiratória, hipotensão, diminuição da motilidade intestinal;
Intoxicação por opiáceos: tríade clínica → coma, miose e depressão respiratória;
Categoria B (D no 3º trimestre) na gestação e é contraindicada na lactação(1);
Opiáceos raramente causam anomalias congênitas, mas atravessam a barreira placentária (droga
lipossolúvel), e podem causar síndrome de abstinência fetal (90% de chance se utilizada até 1
semana antes do parto)(1): irritabilidade, agitação, choro excessivo, nervosismo, tensão muscular,
vômitos, diarreia, febre, sudorese, distúrbio respiratório leve e convulsão (sintomas do SNC e
autônomo)(1). Esses sintomas permanecem até 72hrs após o nascimento;
Há risco aumentado de baixo peso ao nascer, mecônio em líquido amniótico e mortalidade perinatal
de 37%;
Após 30 dias do nascimento, poucas diferenças são notadas se comparados bebês expostos e não
expostos a opiáceos durante a gestação;
Tratamento: agonistas de opioides e retirada da droga supervisionada, pois há altas taxas de recaída
(59-90% dos casos);
É recomendada a retirada gradual da droga entre a 14ª-28ª semanas da gestação, substituir por
metadona é um recurso interessante a se considerar.
REFERÊNCIAS
1. ZUGAIB, Marcelo. Obstetrícia. 3ª edição. Barueri, São Paulo: Manole, 2016.
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Category B: estudos de reprodução animal não conseguiram demonstrar um risco para o feto e não
existem estudos adequados e bem controlados em mulheres grávidas. Exemplos de drogas: metformin,
hydrochlorothiazide, cyclobenzaprine, amoxicillin, pantoprazole. *Uso com cautela.
Category C: estudos de reprodução animal mostraram um efeito adverso sobre o feto e não há estudos
adequados e bem controlados em humanos, mas os benefícios potenciais podem justificar o uso da droga
em mulheres grávidas, apesar dos riscos potenciais. Exemplos de drogas: tramadol, gabapentin,
amlodipine, trazodone. *Prescrição com risco.
Category D: há evidências positivas de risco fetal humano com base em dados de reações adversas da
experiência de pesquisa ou marketing ou estudos em humanos, mas os benefícios potenciais podem
justificar o uso da droga em mulheres grávidas, apesar dos riscos potenciais. Exemplos de drogas:
lisinopril, alprazolam, losartan, clonazepam, lorazepam. *Prescrição com alto risco.