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Petição apresentada à disciplina de Responsabilidade Civil como requisito

parcial de avaliação.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _ VARA DE FAMÍLIA DA
COMARCA DE LAURO DE FREITAS- BA.

Carlos Alberto Souza da Silva, brasileiro, casado, empresário, RG – xx. Xxx. Xxx,
inscrito no C. P. F sob nº xxx. Xxx. Xxx-xx, residente e domiciliado na Rua Ponciano
Oliveira nº 1918 – Casa Pitangueiras, CEP – 42700-000, Lauro de Freitas – Bahia
vem por intermédio de seu advogado, com endereço profissional contido no rodapé
dessa página e cuja procuração segue em anexo, propor:
AÇÃO DE ANULAÇÃO DE CASAMENTO C/C PEDIDO DE DANOS MORAIS
Em face de Márcia Souza da Silva, brasileira, casada, dona de casa, RG – yy. Yyy. Yyy-
y, inscrita no C. P. F sob nº yyy. Yyy. Yyy-yy, residente e domiciliada na Rua Ponciano
Oliveira nº 1918 – Casa Pitangueiras, CEP – 42700-000, Lauro de Freitas – Bahia,
pelos fatos e fundamentos a seguir:
DOS FATOS
O autor contraiu uma relação matrimonial com a então Srª. Márcia por mútuo
consentimento, amor e afeto. Todos os requisitos para dar andamento a esta união
estavam reunidos e aprovados. O Sr. Carlos já fora casado, porém por situações
alheias a sua vontade, tornou-se viúvo e sem filhos.
Em dois anos, conheceu e apaixonou-se a primeira vista por Márcia, a noiva omissa.
Em Márcia, ele via tudo o que lhe faltava, uma companheira inteligente, linda e
bastante carinhosa. Impossível não se apaixonar. Há apenas um ano, decidiram
casar-se e como sonho de todo casal, desejavam uma constituição familiar.
Com o tempo, Carlos foi notando as expressões de sua mulher, pois andava sempre
preocupada, nervosa e deprimida. Por curiosidade, resolveu dar uma checada em
seu celular e descobriu que sua mulher escondia um grande segredo. Descobrira que
estava sendo chantageada pelo Sr. Valdir, em que pedira R$ 15.000,00 para ficar em
silêncio, mas, como não tinha como pagar a essa chantagem, só pedia para que a
deixasse em paz.
Destarte, sem entender o que estava acontecendo com toda essa confusão, Carlos
chamou sua mulher para uma conversa em que iriam deixar tudo em “panos limpos”.
Pelo menos era o próposito da conversa. Porém ao saber de toda a verdade sobre o
passado da mesma, ficou desnorteado.
Na verdade, sua mulher, nasceu homem, cujo nome era Márcio. Pasmem Márcio. Só
que há cinco anos antes do casamento, fez um procedimento cirúrgico para mudança
de sexo e com isso, conseguiu mediante a justiça, a mudança de nome e de todos os
documentos, tornando-se a Srª. Márcia.
Com inúmeros procedimentos, fazendo uso de remédios e tratamentos com
hormônios, só sendo médico para realmente identificar algo anormal neste aspecto,
pois, era uma pessoa totalmente feminina, aparentemente normal. Um leigo nunca
conseguiria distinguir tais mudanças.
Não obstante, é evidente que o autor foi enganado pela pessoa que passou a amar
de verdade desde que se tornara viúvo.
Insta salientar, que o autor é bastante conhecido e respeitado na região por ser um
grande empresário e não gostaria de passar por certos constrangimentos, além
daqueles já causados em seu íntimo por ter se apaixonado e casado com uma pessoa
adversa do que pensara. Com isso, a convivência entre os dois tornou-se impossível.
O autor alega que gastou muito dinheiro para a realização do matrimônio, com a
festa, bebidas, convites, decoração e comidas, devendo ele, ser ressarcido devido ao
dano material causado.
Com isso, requer o ‘’status quo ante’’, não desejando ter como estado civil, o de
divorciado, e sim de viúvo, que será requerido através da Tutela Específica. Não
sendo concedida, haverá o pedido de danos morais. Além do estado civil, o autor não
deseja ser abarcado em pagar pensão, visto que foi enganado.
Portanto, requer uma série de pedidos, tendo em vista o mal causado à sua honra e
a intimidade e por ser uma pessoa com certa “publicidade” na região. Diante de
todos os fatos narrados, seguiremos para a fundamentação arguindo e solicitando
os pedidos pertinentes à demanda.
DO DIREITO
II (a) DA LIMINAR – DA TUTELA DE URGÊNCIA
Consideramos o caso em questão como de tutela urgente, dando azo ao pedido de
liminar. Ou seja, é requerido que ocorra logo a anulação do matrimônio, mesmo com
o processo em curso analisando os fundamentos e outros pedidos. A razão de tal
pedido é a falta de afeto entre as partes, da mesma maneira em que a coabitação
tornou-se insuportável.
Ora, Excelência, não há necessidade, nem possibilidade de mantê-los juntos devido
aos requisitos acima mencionados. Com isso, requeremos com a liminar a
antecipação dos efeitos definitivos da sentença, por tratar-se de sofrimento que
poderá causar no curso do procedimento, devido a erro essencial sobre a pessoa do
outro cônjuge.
Art. 300, Código de Processo Civil: A tutela de urgência será concedida quando
houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou
o risco ao resultado útil do processo.
§ 1 Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir
caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa
vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação
prévia.
Art. 1.557, Código Civil/2002. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro
cônjuge:
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que
o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge
enganado;
“Com todas as dificuldades imanentes ao nosso sistema judicial, é, em nosso sentir,
uma forma de imposição de sofrimento àqueles que já se encontram, possivelmente,
pelas próprias circunstâncias da vida, suficientemente punidos.” (DURKHEIM).
Destarte, é plenamente realizável a decretação de anulação, enquanto ainda tramita
o processo para julgamento dos demais pedidos suscitados.
II (b) DO CASAMENTO – NEGÓCIO JURÍDICO
O casamento, além de ser um ato solene (por mais que as partes manifestem a
intenção, a lei é um ato primário e primordial à manifestação), é um negócio jurídico
contraído pelos nubentes, mediante a certificação da fase de habilitação,
configurando a união plena de vida, ou seja, basta o bom convívio para que se
configure o casamento. Celebrado o casamento, será formado um negócio jurídico
em que os nubentes passarão a ser consortes e terão obrigações e deveres
recíprocos. Além disso, o Código Civil de 2002 permite a dissolução deste negócio
jurídico através da separação judicial ou através de divórcio, desde que estejam
presentes alguns requisitos, que iremos tratar no ponto II (f), objeto principal desta
ação.
O autor e sua mulher casaram-se por terem se apaixonado desde o momento que se
viram e por estarem presentes os requisitos para a celebração do casamento, bem
como os deveres recíprocos como emana o artigo 1.566 do Código Civil de 2002.
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
I - fidelidade recíproca;
II - vida em comum, no domicílio conjugal;
III - mútua assistência;
IV – sustento, guarda e educação dos filhos;
V - respeito e consideração mútuos.
Portanto, quanto ao autor, com exceção do inciso IV por não possuírem filhos, não
há desobediência dos deveres acima citados, devendo ser reparado pelo dano
causado por ter sido induzido a erro.
II (c) DA OMISSÃO – RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO CÔNJUGE
No caso em tela, há que se falar em responsabilidade civil subjetiva, pois o elemento
culpa é ensejador do dever de indenizar. A responsabilidade subjetiva consiste na
prática de um ato ilícito decorrente de uma conduta (positiva ou negativa) em que
o agente pratica culposamente (mediante dolo, imprudência ou negligência)
causando dano (mesmo sendo moral) a outrem. No entanto, quatro requisitos são
indispensáveis para a propositura da responsabilidade civil subjetiva, sendo: a
conduta, a culpa, o dano e o nexo de causalidade. Tais condutas são tipificadas no
Título III - Dos Atos Ilícitos do Código Civil, em seu artigo 186, conforme transcrição
abaixo:
“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.”
O impetrante da ação deveria ter pleno conhecimento de que sua mulher, no caso,
Márcia Souza da Silva, havia realizado uma cirurgia para mudança de sexo, de
homem para mulher. Com isso, foi incidido em erro desde o princípio em que
conhecera a ré, no qual a mesma era indiferente aos padrões de comportamento.
Ademais, é reconhecido como um grande empresário da região e não poderia passar
por situações vexatórias, que por mais que pensasse em cogitar a aceitação da
cirurgia, ainda seria alvo da sociedade patriarcal, sendo discriminado pelos
indivíduos, e a mudança de sexo querendo ou não é considerada aberração por
muitos.
Neste diapasão está mais do que evidente que o autor da ação foi incidido em erro
por seu cônjuge, tendo em vista ter obtido conhecimento da cirurgia de forma
ulterior ao casamento, ou seja, após o matrimônio é que houve a descoberta de tal
caso. Ademais, foi necessário fazer uma intervenção no celular da mesma para que
descobrisse tal fato.
Sabemos que a mudança de sexo é permitida no nosso ordenamento, bem como sua
mudança de nome perante ordem judicial. Esta idéia não inibe a sociedade de ter
certo preconceito, pois desde os primórdios, mulher tinha que ser mulher e homem
tinha que ser homem, da mesma forma que ambos nasceram. Melhor dizendo, a
mudança de sexo ainda não é aprovada diante do conservadorismo. Porém, a
condição de transgênero, já é evidente que a pessoa não se enquadra no mesmo
gênero em que nasceu e a não alteração do nome a exporia ao ridículo.
“STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp 1008398 SP 2007/0273360-5 Direito civil.
Recurso especial. Transexual submetido à cirurgia de redesignação sexual.
Alteração do prenome e designativo de sexo. Princípio da dignidade da pessoa
humana.- Sob a perspectiva dos princípios da Bioética – de beneficência, autonomia
e justiça –, a dignidade da pessoa humana deve ser resguardada, em um âmbito de
tolerância, para que a mitigação do sofrimento humano possa ser o sustentáculo de
decisões judiciais, no sentido de salvaguardar o bem supremo e foco principal do
Direito: o ser humano em sua integridade física, psicológica, socioambiental e ético-
espiritual.- A afirmação da identidade sexual, compreendida pela identidade
humana, encerra a realização da dignidade, no que tange à possibilidade de
expressar todos os atributos e características do gênero imanente a cada pessoa.
Para o transexual, ter uma vida digna importa em ver reconhecida a sua identidade
sexual, sob a ótica psicossocial, a refletir a verdade real por ele vivenciada e que se
reflete na sociedade.- A falta de fôlego do Direito em acompanhar o fato social exige,
pois, a invocação dos princípios que funcionam como fontes de oxigenação do
ordenamento jurídico, marcadamente a dignidade da pessoa humana – cláusula
geral que permite a tutela integral e unitária da pessoa, na solução das questões de
interesse existencial humano.- Em última análise, afirmar a dignidade humana
significa para cada um manifestar sua verdadeira identidade, o que inclui o
reconhecimento da real identidade sexual, em respeito à pessoa humana como valor
absoluto.- Somos todos filhos agraciados da liberdade do ser, tendo em perspectiva
a transformação estrutural por que passa a família, que hoje apresenta molde
eudemonista, cujo alvo é a promoção de cada um de seus componentes, em especial
da prole, com o insigne propósito instrumental de torná-los aptos de realizar os
atributos de sua personalidade e afirmar a sua dignidade como pessoa humana.- A
situação fática experimentada pelo recorrente tem origem em idêntica problemática
pela qual passam os transexuais em sua maioria: um ser humano aprisionado à
anatomia de homem, com o sexo psicossocial feminino, que, após ser submetido à
cirurgia de redesignação sexual, com a adequação dos genitais à imagem que tem de
si e perante a sociedade, encontra obstáculos na vida civil, porque sua aparência
morfológica não condiz com o registro de nascimento, quanto ao nome e designativo
de sexo.- Conservar o “sexo masculino” no assento de nascimento do recorrente, em
favor da realidade biológica e em detrimento das realidades psicológica e social,
bem como morfológica, pois a aparência do transexual redesignado, em tudo se
assemelha ao sexo feminino, equivaleria a manter o recorrente em estado de
anomalia, deixando de reconhecer seu direito de viver dignamente.- Assim, tendo o
recorrente se submetido à cirurgia de redesignação sexual, nos termos do acórdão
recorrido, existindo, portanto, motivo apto a ensejar a alteração para a mudança de
sexo no registro civil, e a fim de que os assentos sejam capazes de cumprir sua
verdadeira função, qual seja, a de dar publicidade aos fatos relevantes da vida social
do indivíduo, forçosa se mostra a admissibilidade da pretensão do recorrente,
devendo ser alterado seu assento de nascimento a fim de que nele conste o sexo
feminino, pelo qual é socialmente reconhecido.- Vetar a alteração do prenome do
transexual redesignado corresponderia a mantê-lo em uma insustentável posição
de angústia, incerteza e conflitos, que inegavelmente atinge a dignidade da pessoa
humana assegurada pela Constituição Federal. No caso, a possibilidade de uma vida
digna para o recorrente depende da alteração solicitada. E, tendo em vista que o
autor vem utilizando o prenome feminino constante da inicial, para se identificar,
razoável a sua adoção no assento de nascimento, seguido do sobrenome familiar,
conforme dispõe o art. 58da Lei n.º 6.015/73.- Deve, pois, ser facilitada a alteração
do estado sexual, de quem já enfrentou tantas dificuldades ao longo da vida,
vencendo-se a barreira do preconceito e da intolerância. O Direito não pode fechar
os olhos para a realidade social estabelecida, notadamente no que concerne à
identidade sexual, cuja realização afeta o mais íntimo aspecto da vida privada da
pessoa. E a alteração do designativo de sexo, no registro civil, bem como do prenome
do operado, é tão importante quanto a adequação cirúrgica, porquanto é desta um
desdobramento, uma decorrência lógica que o Direito deve assegurar.- Assegurar ao
transexual o exercício pleno de sua verdadeira identidade sexual consolida,
sobretudo, o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, cuja tutela
consiste em promover o desenvolvimento do ser humano sob todos os aspectos,
garantindo que ele não seja desrespeitado tampouco violentado em sua integridade
psicofísica. Poderá, dessa forma, o redesignado exercer, em amplitude, seus direitos
civis, sem restrições de cunho discriminatório ou de intolerância, alçando sua
autonomia privada em patamar de igualdade para com os demais integrantes da
vida civil. A liberdade se refletirá na seara doméstica, profissional e social do
recorrente, que terá, após longos anos de sofrimentos, constrangimentos,
frustrações e dissabores, enfim, uma vida plena e digna.- De posicionamentos
herméticos, no sentido de não se tolerar “imperfeições” como a esterilidade ou uma
genitália que não se conforma exatamente com os referenciais científicos, e,
consequentemente, negar a pretensão do transexual de ter alterado o designativo
de sexo e nome, subjaz o perigo de estímulo a uma nova prática de eugenia social,
objeto de combate da Bioética, que deve ser igualmente combatida pelo Direito, não
se olvidando os horrores provocados pelo holocausto no século passado. Recurso
especial provido.”
Pois bem, a incidência do erro essencial coloca em risco a sua reputação, pois, é
considerada uma pessoa importante na região, no qual atinge a sua honra. A
identidade de Márcio, ou melhor, Márcia, foi descoberta. O mau caráter e a omissão
da realização de cirurgia corroboram para esta dissolução matrimonial.
Anote-se que deverá ser frizado que na Ação, o elemento culpa não é mais ensejador
para a propositura da ação, pois se trata de um direito potestativo, bastando que um
dos cônjuges mova a respectiva lide.
Art. 1.557, Código Civil/2002. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro
cônjuge:
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que
o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge
enganado; Diante de tal quadro, é certo que o autor deseja a dissolução do
casamento por ter se enquadrado no artigo supracitado, tendo em vista a incidência
em erro.
II (d) DO DANO MATERIAL
Todo casamento a ser realizado, tem como ponto principal, o gasto com toda a
organização. O casal teve uma espécie de casamento perfeito, ou seja, com tudo
aquilo que esperavam e que tiveram direito. Um luxo.
Dessa forma, por ser induzido a erro quanto à pessoa, nada mais justo do que ser
indenizado por tal conduta.
O dano material consiste no prejuízo ou na diminuição de patrimônio de outrem.
Ocorre que o autor teve uma diminuição patrimonial considerável, por arcar com as
comidas, bebidas, convites, decoração e com a festa, configurando em dano
emergente.
É entendimento pacífico de que quando alguém violar interesse juridicamente
tutelado restará obrigado em reparar o dano, objetivando então, a responsabilidade
civil.
Alega que obteve um gasto imenso para a realização do matrimônio para que tudo
ocorresse do jeito que planejaram. Desse modo, o montante resultou em R$
73.283,30. Valor bastante alto causando uma diminuição considerável do seu
patrimônio, conforme orçamento final em anexo.
O inciso X do artigo 5º da nossa Constituição Federal/88 faz menção a direito por
dano material decorrente da violação da vida privada, a honra e a imagem das
pessoas. Não restando dúvidas que o autor deverá ter o reconhecimento quanto ao
direito mencionado.
“Art. 5º, CF/88: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação.”
II (e) DOS FILHOS / ALIMENTOS/ EXCLUSÃO DE PENSÃO
É bastante comum observar que os homens são os maiores pagadores de pensão
alimentícia às suas ex-cônjuges.
Diante do quadro apresentado, não houve a possibilidade de frutos no matrimônio,
inexistindo, portanto, pensão para manutenção dos filhos.
Porém, o Direito invoca a hipótese de assistência ao outro cônjuge, se dela necessitar
para que possa se manter.
“Art 19, Lei do Divórcio (Nº 6.515, de 26 de dezembro de 1977) - O cônjuge
responsável pela separação judicial prestará ao outro, se dela necessitar, a pensão
que o juiz fixar.”
Como houve má fé da parte ré, o autor pede para que seja excluída qualquer hipótese
relativa à pensão, pois acarretará em prejuízo ainda maior quanto ao seu
psicológico.
Destarte, a parte integrante no polo passivo da lide, tem total autonomia e
possibilidade de inserção e/ou continuação no mercado de trabalho, devendo, com
isso, o autor ser isento do pagamento de prestações alimentícias.
O cônjuge que obteve conduta de má fé ao não informar a mudança de sexo, nesse
caso, ficará imputado com a sanção aplicada que é a perda do direito de alimentos,
exceto aqueles para sua subsistência. Entretanto a parte Ré tem plenas condições de
inserção e/ou continuação no mercado de trabalho.
Art. 1.694, Código Civil/2002. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros
pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível
com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
§ 1 Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e
dos recursos da pessoa obrigada.
§ 2 Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação
de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.
Art. 1.564, Código Civil/2002. Quando o casamento for anulado por culpa de um dos
cônjuges, este incorrerá:
I - na perda de todas as vantagens havidas do cônjuge inocente;
II (f) DA TUTELA ESPECÍFICA / STATUS QUO ANTE (ESTADO DE VIÚVO)
A tutela específica consiste na possibilidade de o Estado prestar auxílio jurisdicional,
caso não houvesse lesão ao direito tutelado. Em outras palavras, o Estado-Juiz
concederá uma proteção áquela idêntica, caso não tivesse havido o dano, voltando a
ficar no status quo ante.
Como é sabido, o estado civil do impetrante do presente expediente era viúvo,
porém com a realização de segundo matrimônio, passou a ter o estado de casado.
Ademais, com a realização da anulação do casamento, a parte autora, voltará ao
estado civil de viúvo.
No processo de anulação, o casamento deixará de existir, voltando aos nubentes ao
“status quo ante”, ou seja, a parte Autora retornará ao estado civil de viúvo, do
mesmo modo em que a parte Ré, voltará ao estado de solteira.
II (g) DOS DANOS MORAIS
A princípio o dano moral é resultado de uma ofensa à dignidade da pessoa humana,
bem como a sua reputação e sua honra. Estamos em um cenário de que o autor é
uma pessoa renomada e bastante importante na região. Com isso, nada poderia
abalar a sua imagem, tampouco o seu psicológico.
O autor da ação ao descobrir que sua mulher escondia que havia realizado
procedimento cirúrgico e estético, ficou desnorteado, podendo até ter problemas
médicos e psicológicos. Em palavras cotidianas da nossa sociedade machista,
“homem não aceita ser enganado”.
Se uma discussão em supermercado, shopping, parque, resultar em humilhação,
obviamente haverá o direito a indenização, logo, dano moral. O objetivo da discussão
é que o dano está mais do que evidenciado no caso em tela. Houve certo tipo de
humilhação, houve ofensa.
Ora, Excelência, é um pedido que não poderá ser descartado. Basta observar que
vivemos em uma sociedade extremamente preconceituosa e além do mais, o autor
não foi sequer informado pela pessoa com quem casou.
Então, o dano moral é proveniente de um problema grave e que deverá ser suscitado
e deferido.
Vejamos a jurisprudência em que há entendimento da anulação de casamento, do
mesmo modo que há a reparação por danos morais e materiais em decorrência de
erro essencial.
"TJ-RS - Apelação Cível AC 70047977418 RS (TJ-RS) Data de publicação:
22/03/2013 Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE CASAMENTO.
OMISSÃO NA INFORMAÇÃO DE REALIZAÇÃO DE VASECTOMIA ANTERIOR
AOCASAMENTO. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE ERRO ESSENCIAL, MAS
INSUPORTABILIDADE DA VIDA EM COMUM QUE LEVA AO DIVÓRCIO.
INDENIZAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS DEVEM SER POSTULADOS AÇÃO
IDNENIZATÓRIA NO JUÍZO CÍVEL. SENTENÇA MANTIDA A omissão da~realização
de vasectomia pelo cônjuge, descoberta após o casamento, leva à insuportabilidade
da vida em comum e decreto do Divórcio. Não postulado reconhecimento do erro
essencial para anulação do casamento, mas o reconhecimento da omissão, da
mentira, do mau caráter e má intenção do cônjuge por falta de informação da
cirurgia realizada. Pedido de indenização por danos materiais e morais devem ser
postulados em ação indenizatória no juízo cível. APELO DESPROVIDO. (SEGREDO
DE JUSTIÇA) (Apelação Cível Nº 70047977418, Sétima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Munira Hanna, Julgado em 20/03/2013)"
Inácio de Carvalho Neto aponta:
“... Começamos falando de amor e terminamos sempre falando em dinheiro.
Realidade difícil, mas compreensível se entendermos o caminho trilhado desde o
sonho construído a dois, no qual o par se basta para viver na mais plena felicidade e
percorremos todas as decepções, chegando às necessárias indenizações que cada
um sente merecer por ter sido enganado, ludibriado, traído. Como se costuma dizer:
o “meu bem” do namoro transforma-se em “meus bens” depois da separação, pois
neste momento cada um quer resgatar o que acha que lhe pertence e que foi tomado
pelo outro num momento de distração, de relaxamento, de engano. Cada um quer
ser indenizado pelo “prejuízo” sofrido em nome do amor que acabou, e assim o
dinheiro torna-se pleno de significações simbólicas. Transforma-se em prêmio e
castigo que as pessoas feridas não hesitam em usar para dar vazão às suas mais
inconfessáveis emoções. (NETO, Inácio de Carvalho. Responsabilidade Civil no
Direito de Família. 3ª ed. Curitiba: Juruá, 2007. P. 265 e 266).
II (h) DA PERDA DO USO DE SOBRENOME
É requerida expressamente pelo impetrante, a exclusão do seu sobrenome da parte
Ré, visto que, não deseja nenhum tipo de laço com a mesma, por ter violado a sua
honra e a sua intimidade.
Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial perde o direito
de usar o sobrenome do outro, desde que expressamente requerido pelo cônjuge
inocente e se a alteração não acarretar:
I - evidente prejuízo para a sua identificação;
II - manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos havidos da união
dissolvida;
III - dano grave reconhecido na decisão judicial.
§ 1 O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá renunciar, a qualquer
momento, ao direito de usar o sobrenome do outro.
§ 2 Nos demais casos caberá a opção pela conservação do nome de casado.
Entretanto, mesmo não sendo necessária a comprovação da culpa, persistirá o
reflexo do nome, e com isso, sendo requerido ao Judiciário para que possa solucionar
o presente caso.
II (i) DA DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO – DA ANULAÇÃO
Diante de todos os fatos aludidos anteriormente, temos a convicção de que a
convivência entre os dois tornou-se insuportável.
A vida em comum insuportável é elemento ensejador para por fim ao casamento,
pois nada mais fluirá entre as partes. É ensejador por que a não dissolução
acarretará em falta de respeito entre o casal, além daquelas já discutidas.
Atualmente não é necessário o preenchimento de requisitos para a dissolução
matrimonial, porém, como argumento plausível, destamos elementos conscientes
do autor no teor da inicial para tal atitude, como a ausência da boa fé que deverá ser
colocada como prioridade, tendo em vista que não foi considerada durante a relação
matrimonial pela parte ré.
A anulação colocará fim à relação matrimonial, deixando de existir qualquer
obrigação de um cônjuge para com o outro. Quando havia o instituto da separação
judicial, o que deixava de existir era o dever de coabitação e fidelidade recíproca,
permanecendo a mútua assistência entre os cônjuges. Hoje, basta a livre
manifestação de uma das partes ou de ambos para a dissolução, em que afastará a
possibilidade de o Estado intervir na intimidade dos mesmos, em que terão
autonomia para tal conduta.
Ademais, com a reforma constitucional, não precisa ser comprovada a separação
judicial, admitindo-se que haja dissolução pela simples falta de afeto e em
consequência, inadmite a presença de culpa entre um dos cônjuges.
“TJ-PR - Apelação Cível AC 6611136 PR 0661113-6 (TJ-PR) Ementa: APELAÇÃO
CÍVEL- ANULAÇÃO DE CASAMENTO - PEDIDO FEITO POR AMBOS OS CÔNJUGES -
ALEGAÇÃO DO AUTOR DE ERRO ESSENCIAL QUANTO À PESSOA DO CÔNJUGE -
RECORRENTES QUE MANTINHAM AMIZADE ANTERIOR - INAPLICABILIDADE ART.
1557, I, CÓDIGO CIVIL - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. 1. "Art.
1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: I - o que diz
respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado."
“TJ-MG - 105430700000950021 MG 1.0543.07.000009-5/002 (1) (TJ-MG) Ementa:
ANULAÇÃO DE CASAMENTO - EXCEPCIONALIDADE - REQUISITOS - ERRO
ESSENCIALQUANTO À PESSOA DO OUTRO CÔNJUGE - INSUPORTABILIDADE DA
VIDA EM COMUM - AUSÊNCIA DE LASTRO PROBATÓRIO - SENTENÇA MANTIDA. O
interesse público que envolve o casamento exige análise com temperamentos e
extremos de cautela, dando-se sua anulação em caráter de excepcionalidade,
quando presentes os requisitos da ulterioridade do conhecimento sobre o ""error in
persona"" e da insuportabilidade da vida em comum dele decorrente. Ausentes os
requisitos imprescindíveis à prevalência da exceção - anulação - sobre a regra
(indissolubilidade), mantém-se o casamento.”
Nosso ordenamento traz um rol exemplificativo para caracterizar a impossibilidade
da comunhão plena de vida, tais como:
“Art. 1.573, Código Civil/2002: Podem caracterizar a impossibilidade da comunhão
de vida a ocorrência de algum dos seguintes motivos:
I - adultério;
II - tentativa de morte;
III - sevícia ou injúria grave;
IV - abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo;
V - condenação por crime infamante;
VI - conduta desonrosa.”
DOS PEDIDOS
Pelo exposto, requer:
*O deferimento do pedido de medida liminar para a concessão dos efeitos
antecipados com relação à Anulação Matrimonial;
*A citação da parte Ré, para comparecer à audiência designada, sob pena de revelia
e confissão;
*A procedência integral dos pedidos da inicial, principalmente a título de dano
material;
*Que seja arbitrado a título de dano moral, o equivalente a R$ 20.000,00;
*Que seja proferida a parte Ré, o pagamento das custas processuais, bem como
honorários advocatícios;

Protesta por todos os meios de prova em direito permitidos, inclusive depoimento


pessoal das partes e seus representantes, juntadas de novos documentos em
instrução e/ou exibição dos originais em caso de impugnação das oras juntados, e
todos os demais necessários ao deslinde da ação.
VALOR DA CAUSA: Dá-se ao valor da causa: R$ 93.283,30 (noventa e três mil
duzentos e oitenta e três reais e, trinta centavos).
Pede deferimento.
Salvador, 04 de maio de 2016.
Camila M. S. Oliveira
Estudante de Direito
OAB/BA:
Danilo G. Lima
Estudante de Direito
OAB/BA:
Déborah L. N. Andrade
Estudante de Direito
OAB/BA:

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