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ADVOCACIA & CONSULTORIA

JURÍDICA
MENDES & NASCIMENTO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ª VARA DE FAMÍLIA


DA COMARCA DA CAPITAL.

WALDIRENE, brasileiro, solteiro, estudante, portador do RG


de nº 99002020679-, inscrito no CPF sob o nº 653336593-20, residente e domiciliado
à Rua Vicente Linhares, nº 211, ap 604, nesta capital, por sua advogada “in fine”
subscrita, vem respeitosamente à presença de V.Exa., propor a presente ação de
retificação de registro civil, de jurisdição voluntária, com fulcro no art.1.103 e
seguintes do CPC, pelas razões de fato e de direito que passa a expor, para ao final
requerer:

AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL

PRELIMINARMENTE – JUSTIÇA GRATUITA

A promovente requer os benefícios da justiça gratuita, por ser


autônoma, sem renda mensal, portanto, pobre na forma da Lei, impossibilitado de
arcar com as custa processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do próprio
sustento e de sua família, com fulcro na Lei 1.060/50 acrescida das alterações
estabelecidas pela Lei 7115/83, tudo consoante o art. 5º inc LXXIV da CF/88.

Vale salientar que este advogado, subscritor da petição


inicial, aceitou o encargo de patrocinar gratuitamente a causa da requerente,

Rua Professor Lace 40, sala 212, Ramos Rio de Janeiro, CEP 21060-120
invocando ainda a presunção legal de veracidade da declaração, contida no §1º do
art.4º da Lei 1060/50, c/c art. 334, IV do CPC.

Assim sendo, pede e requer a Requerente se digne V. Exa.


conceder as benesses da Justiça Gratuita in casu (assistência judiciária gratuita) no
sentido de dispensar o pagamento de quaisquer custas e emolumentos no curso do
procedimento, consoante os ditames da Lei nº 1.060/50 e o art. 5º da Carta Magna
Brasileira.

DA SINOPSE FÁTICA

O requerente nasceu no ano de 1981, nesta capital, conforme


certidão anexa (doc.01), sendo registrado no cartório de registro civil da 2º zona, no
livro nºA-40, fls.409, sob o número de ordem 46.672, com nome de WALDIRENE.
Tal nome foi sugerido pelo pai WALDIRENE, que tinha o intuito de homenagear os
seus avos com a combinação dos nomes de, WALDIR E IRENE.

Acontece, Excelência, que desde o início dos seus estudos –


para ser mais preciso, a partir do ano em que foi alfabetizada, a requerente vem
passando por inúmeras humilhações devido à estranheza de seu primeiro nome.

Durante o período escolar, a requerente fazia de tudo para não ir


ao primeiro dia de aula, pois tinha pânico da primeira chamada e, principalmente, do
momento em que a professora fazia um circulo, pedindo para que todos, um por um,
dissessem o seu nome e falassem um pouco de sua vida. Nessa hora, todos o
caçoavam, já aplicando apelidos como WLAD, WALDIRCE, OU SOMENTE IRENE.

Todo o seu esforço era inútil; por mais que a requerente tentasse
conquistar o respeito dos colegas, sempre tinha um “grupinho” que gozava de seu
nome e, quando não o bastante, a agredia fisicamente também, situação que
acontecia com bastante freqüência. Era um verdadeiro fardo; pesado demais para
uma criança, mas sem questionar continuou a carregá-lo por ter um apreço muito
grande pelos seus avôs falecidos.

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Já cursando o ensino fundamental, e, portanto, mais maduro e
questionador, o requerente passou a se incomodar mais com o seu nome, pois
continuava a sofrer os mesmos constrangimentos, o que passou a causar danos
significativos a sua auto-estima. Claro, nessa época, a requerente já era uma
adolescente e preocupava-se com a sua auto-imagem, por isso, teve uma nova
conversa com os seus pais a respeito do seu nome. Nessa conversa, explicou que,
não estava sendo uma pessoa feliz.

Os seus pais conseguiram, por muito tempo, fazer com que a


requerente esquecesse dessa pretensão, afirmando que muita gente possui nomes
estranhos, mas nem por isso são desrespeitadas; além de que se o fizesse, poderia
magoar a sua família. A requerente preocupada em ferir os sentimentos de seus
entes queridos, deixou de lado tal pretensão, oprimindo o seu sonho de ter um nome
comum; um nome que não lhe causasse mais constrangimentos.

Outrossim senhor julgador, ninguém esta obrigado a prestar


homenagem, por via de vontade de terceiros, e além do mais atualmente os seus
pais encontram-se separados, não tendo qualquer contexto tal homenagem.

O seu nome além de prejudicá-la em grupos sociais, o seu


nome, também, o infama na sua vida profissional. Seja em entrevistas de emprego,
nas dinâmicas de grupo e, também, na vida social, a requerente passa por ocasiões
vexatórias que lhe estão causando danos irreparáveis.

A vida da requerente foi muito prejudicada e ainda continua


sendo, posto que, por muitas vezes ficou deprimida e com ansiedade.

Devemos ressaltar que a mulher é um ser mais propenso a


vaidade, desta forma, em sua adolescência passou por sérios dissabores ao tentar
namorar.

Insta salientar que a correção desse defeito na referida certidão


é atualmente o aspecto de primordial importância para a carreira profissional da
Requerente, visto que a mesma exerce a função de vendedora.

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Assim, se não conseguir a cidadania, provavelmente irá perder
a chance de um emprego com remuneração satisfatória e carga horária assaz
flexível.

Desse modo, à Requerente não restou outra alternativa senão


o ingresso da presente medida judicial para reparação desse simples equívoco,
havido por ocasião da abertura do assento. Alternativa esta que encontra respaldo
não somente na lei, como também na dominante jurisprudência dos principais
tribunais pátrios, conforme se demonstrará a seguir.

E, por estar cansado de carregar esse fardo que não escolheu,


e, principalmente, por estar preocupado com o seu futuro profissional, saúde e
dignidade é que o requerente vem a esse juízo pleitear essa AÇÃO DE
RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL.

DO DIREITO

O nome civil integra a personalidade do ser humano, exercendo as


funções precípuas de individualização e identificação das pessoas nas relações de
direitos e obrigações desenvolvidas em sociedade.

A personalidade encontra-se intimamente relacionada com a idéia de


pessoa, uma vez que representa a aptidão, a qualidade para se contrair direitos e
obrigações na ordem jurídica. É a qualidade que concretiza a possibilidade de se estar
nas relações jurídicas como sujeito de direito, razão pela qual se evidencia a notável
importância do nome civil para a pessoa natural.

O nome é o elemento responsável por identificar cada ser humano,


atribuindo-lhe caráter personalíssimo, e o diferenciando dos demais. Inicia-se com o
registro que, em regra, acontece logo após o nascimento, e acompanha a pessoa
natural por toda a vida, podendo haver reflexos, inclusive, após sua morte.

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É obrigação dos pais efetivarem, com prioridade, o registro de
nascimento dos filhos, que é feito no Serviço de Registro Civil das Pessoas Naturais
do lugar do parto ou da residência dos pais, conforme art. 50 da Lei dos Registros
Públicos (Lei n. 6.015/73), devendo o registro civil ser um retrato fiel da realidade.

Dada a primordial importância de individualização dos integrantes da


sociedade, e necessária identificação destes pelo Estado, a Lei dos Registros Públicos
adotou a regra da definitividade, tornando o nome civil definitivo. Assim, a sua eventual
alteração somente será procedida em situações excepcionais, enumeradas pela Lei.

A Lei nº 6.015/73, a partir do art. 109, traça com perfeição todo o rito necessário para
uma eventual necessidade de se retificar ou suprir um assentamento civil. Assim,
havendo erro no registro civil, deve ser corrigido, para que se ponha em harmonia
com o que é certo.

Na pretensão ora analisada, verifica-se, claramente, que o


requerente já não pode mais continuar registrado com o prenome FRUTUOSO, pois
este já lhe causou um dano imenso, tanto em sua vida escolar como, também, na
vida social, estando agora a prejudicar a sua saúde. Continuar a ser chamado assim
poderia causar prejuízos irreparáveis à sua imagem, maculando, ainda mais, a sua
auto-estima, bem como continuaria a por em risco toda a sua vida profissional.

10.1.Não é ocioso obtemperar que é esse simples erro que está impedindo-a de
postular um direito constitucionalmente reconhecido, qual seja: a dupla – cidadania.

2. As Possibilidades de Alteração do Nome Civil Previstas na Lei n. 6.015/73

A regra geral, trazida pela Lei n. 6.015/73, era da imutabilidade do


prenome, com previsão de alteração do nome apenas em casos excepcionais.

Esta regra apresentava justificativa na segurança jurídica, visando evitar


fraudes, sobretudo, impedindo o uso deste instituto por pessoas que tivessem a
finalidade de buscar possível isenção de responsabilidade civil ou penal.

A Lei n. 6.015/73 previa que o prenome era imutável. Entretanto, com as alterações
introduzidas pela Lei n. 9.708/98, o art. 58 “caput” da Lei dos Registros Públicos foi

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derrogado, passando a vigorar com a seguinte redação: “O prenome será definitivo,
admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios”.

Com a vigência desta Lei, a regra da imutabilidade do prenome sofreu alterações,


tornando-se o prenome, assim, definitivo com possibilidade de alteração nos casos
expressos em lei. Assim, pode ser acrescido a este os apelidos notórios, entretanto,
verifica-se a vinculação da eventual alteração às hipóteses disciplinadas pela Lei,
não podendo considerar que o prenome sofra alteração pela simples vontade do
seu portador.

Toda alteração do nome, ocorrida posterior ao registro de nascimento,


somente se efetuará por sentença judicial, devidamente averbada no assento de
nascimento.

O procedimento para a retificação do nome será o sumaríssimo, no qual após


requerimento da parte, ouvido o Ministério Público e os interessados, o juiz a
ordenará no prazo de cinco dias. Em caso de impugnação, haverá produção de
provas no prazo de dez dias, ouvindo-se os interessados e o órgão do Ministério
Público, pelo prazo sucessivo de três dias, com decisão em cinco dias. Da decisão
do juiz, caberá recurso em ambos os efeitos (art. 109 da Lei n. 6.015/73).

2.2. Exposição do portador do nome ao ridículo

Questão muito polêmica é a possibilidade de alteração do nome por exposição ao


ridículo de seu portador, tratando-se de matéria de difícil interpretação e solução,
por se tratar de noção subjetiva.

Primeiramente, os oficiais de registro civil não deverão registrar os


nomes que expõem o portador ao ridículo, entendendo ser o nome exótico ou ridículo,
deverão submeter a questão à apreciação do Judiciário. Nesse sentido, determina o
parágrafo único do art. 55 da Lei n. 6.015/73 que:

Os oficiais do registro civil não registrarão prenomes


suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores. Quando os

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pais não se conformarem com a recusa do oficial, este
submeterá por escrito o caso, independente da cobrança de
quaisquer emolumentos, à decisão do juiz competente.

Ao discorrer sobre a exposição ao ridículo do prenome, ensina Walter


Ceneviva que: “É noção variável de pessoa a pessoa, subjetiva. O delegado agirá com
moderação, respeitando tais convicções, só tolhendo a escolha quando aberrante da
normalidade”.1

De observar-se que a recusa somente poderá ocorrer em relação ao


prenome, não sendo lícita eventual impugnação aos nomes de família pelo oficial.

Após o registro, verificando situação vexatória para o indivíduo, poderá


este ingressar com ação judicial, pleiteando a alteração do prenome, devendo constar
no pedido prova da mencionada situação.

A professora Maria Helena Diniz enumera alguns exemplos divulgados


na imprensa, cujos nomes são vexatórios, com constrangimento aos portadores:

Antonio Manso Pacífico de Oliveira Sossegado, Sebastião


Salgado Doce, Amin Amou Amado, Dezêncio Feverêncio de
Oitenta e Cinco, Casou de Calças Curtas, Odete Destemida
Correta, Sum Tim An, Graciosa Rodela d’Alho, Antonio
Carnaval Quaresma, Luciferino Barrabás, Maria Passa
Cantando, Vitória Carne e Osso, Manuelina Terebentina
Capitulina de Jesus do Amor Divino, Rolando pela Escada
Abaixo, João Cara de José. 2

Demonstrada a situação vexatória para o portador do nome, os


Tribunais pátrios, em regra, determinam a retificação do nome, conforme
entendimento abaixo colacionado:

003846: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE


REGISTRO CIVIL. PRENOME. EXPOSIÇÃO AO RIDÍCULO.
ART. 55 DA LEI 6015/73. ALTERAÇÃO. POSSIBILIDADE.
RECURSO PROVIDO. À luz dos arts. 55 e 58 da Lei de
Registros Públicos apresenta-se possível, em casos
excepcionais, a alteração de prenome quando este, por seu
próprio significado, exponha o seu portador ao ridículo.3

1 Lei dos Registros Públicos Comentada, p. 137.


2 Curso de Direito Civil, 1° vol., p. 128.
3 Apelação Cível nº 25.087-4/05 (12.881), 3ª Câmara Cível do TJBA, Rel. Carlos
Cintra. j. 20.10.2005, unânime, in CD-Rom Juris Plenum.- vol. 01 – edição n. 99.
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2.3 - A alteração do nome ao atingir a maioridade civil

O titular do nome poderá alterá-lo durante o período do primeiro ano ao


atingir a maioridade, requerendo ao Judiciário a resolução da questão.

Nesse sentido, o art. 56 da Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/73) estabelece:


“O interessado, no primeiro ano após atingir a maioridade civil, poderá,
pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que não
prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada
pela imprensa”.

O interstício para a pessoa requerer a alteração do nome é no decurso


do décimo nono ano de vida, ou seja, entre o primeiro dia que completar dezoito anos
de idade até o último dia desta mesma idade, mesmo que a decisão seja posterior a
este período.

Há divergências sobre a necessidade de intervenção judicial para que


se processe a alteração do nome após o interessado atingir a maioridade, surgindo o
debate sobre a possibilidade ou não de tal questão ser resolvida na esfera
administrativa.

Sobre a questão, leciona o professor Wilson de Souza Campos Batalha


que: “Não há necessidade de interferência judicial, bastando simples requerimento
do interessado, ou procurador especial. Naturalmente, se houver dúvida, poderá
suscitá-la o oficial, a fim de que se pronuncie o juízo competente”.4

Por outro norte, o professor Walter Ceneviva aponta que:

A interpretação sistemática dos art. 56 e 57 pareceria


evidenciar que, no período indicado pelo primeiro desses
dispositivos, a pretensão poderia ser diretamente manifestada
ao oficial, independentemente de atuação do juiz corregedor.
Entretanto, o art. 40 deve ser examinado em conjunto, para
impor a intervenção judicial.5

4 Comentários à Lei dos Registros Públicos, p. 141.


5 Lei dos Registros Públicos Comentada., p. 108.

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No nosso sentir, cabe razão ao último doutrinador, uma vez que o art.
40 da Lei dos Registros Públicos é taxativo, devendo ser interpretado extensivamente
a todos os outros artigos da Lei, não deixando dúvidas, assim, sobre a necessidade do
pronunciamento do Judiciário nas questões envolvendo alteração do nome.

A Lei 6.015/73, que dispõe sobre os registros públicos, autoriza,


em seu art.56 , a alteração do nome pelo interessado, assim como também o faz ao
afirmar, em seu Art. 57, que o prenome é definitivo, mas autoriza, como exceção, a a
alteração do registro pelo Juiz, após ouvir o Ministério Público, quando,
motivadamente, comprovar-se a sua necessidade.

Assim dispõe o Art.57 da Lei 6.015/73, verbis:

“Art.57. Qualquer alteração posterior de nome só por exceção e


motivadamente, após audiência do Ministério Público, será
permitida por sentença do Juiz a que estiver sujeito o registro,
arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela
imprensa.”

A doutrina e a jurisprudência espelham o ensinamento de que o


prenome é um dos direitos da personalidade e, via de regra, definitivo, só admitindo
a sua alteração quando existir erro gráfico ou quando o mesmo for suscetível de
expor ao ridículo o seu portador, como é o caso do requerente.

De fato, nestes casos, a imutabilidade do prenome deve ser


relativizada, pois seria um verdadeiro absurdo que, pelo respeito supersticioso da
letra de um artigo de Lei, se forçasse uma pessoa a continuar a passar por
constrangimentos e humilhações. A interpretação da norma não deve ignorar a
realidade existencial das pessoas, posto que a intransigência formal não impede que
sejam examinados e considerados os fatos que podem causar a infelicidade de uma
pessoa.
A nossa jurisprudência vem se sedimentando nesse sentido,
afastando essa imutabilidade, atualizando o direito com uma interpretação mais
inteligente do art.58, observando o principio de que a Lei deve estar subordinada ao

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seu aspecto teleológico, levando em consideração a realidade social do país, e,
principalmente, as condições reais da pessoa.

Assim entendeu o Superior tribunal de justiça em fase de


apelação cível N. 96.000919-1, de içara; verbis:

“Apelação cível n. 96.000919-1, de içara registro civil. pedido de


retificação de prenome. exposição ao ridículo. abalo psicológico
sofrido pela requerente, ainda jovem, por ser alvo de zombarias.
possibilidade. precedentes jurisprudenciais.”]

O nosso Superior Tribunal de Justiça entendeu da mesma forma


ao dar provimento ao recurso especial nº 538187/RJ 2003/0049906-9; verbis:

“Civil. recurso especial. retificação de registro civil. alteração do


prenome. presença de motivos bastantes. possibilidade.
peculiaridades do caso concreto.admite-se a alteração do nome
civil após o decurso do prazo de um ano, contado da maioridade
civil, somente por exceção emotivadamente, nos termos do art. 57,
caput, da lei 6.015/73.recurso especial conhecido e provido.”

Já assentou o Prof. Miguel Reale que "Diante de certos casos,


mister é que a justiça se ajuste à vida" (in Lições Preliminares de Direito, José
Bushatsky Editor, ano 1973, página 148).

Par que seja espancada qualquer dúvida a despeito de ser


possível a devida retificação ante a existência de nome esdrúxulo, clara e
incontroversa é a jurisprudência dos tribunais pátrios. A título de exemplo colaciona-
se alguns julgados, in verbis:

0000969-58.2007.8.19.0036 (2008.001.06213) - APELACAO


DES. SIRO DARLAN DE OLIVEIRA - Julgamento: 25/03/2008 -
DECIMA SEGUNDA CAMARA CIVEL

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RETIFICACAO DE REGISTRO CIVIL. MUDANCA DE PRENOME
PRINCIPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA DIREITO DA
PERSONALIDADE - APELAÇÃO CÍVEL. ALTERAÇAO DE
REGISTRO CIVIL. PRETENSÃO AUTORAL DE ALTERAÇÃO DE
PRENOME. ALEGAÇÃO DE QUE A AUTORA FOI REGISTRADA
COM NOME QUE LHE CAUSA CONSTRANGIMENTOS, NÃO
CORRESPONDENDO O MESMO À SUA IDENTIFICAÇÃO NO
MEIO SOCIAL. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. NÃO SE
AFIGURA RAZOÁVEL, NA HIPÓTESE VERTENTE DOS AUTOS, A
INTERPRETAÇÃO LITERAL DO DISPOSITIVO CONTIDO NO ART.
58 DA LEI DE REGISTROS PÚBLICOS SOBRE A IMUTABILIDADE
DO PRENOME, DEVENDO O JULGADOR, EM ATENÇÃO A
ESPECIFICIDADE DO CASO, VALER-SE DO CRITÉRIO DA
EQUIDADE, BEM COMO ATENÇÃO AOS FINS SOCIAIS QUE
NORMA SE DESTINA E ÀS EXIGÊNCIAS DO BEM COMUM, POIS,
SUA APLICAÇÃO MECÂNICA NÃO ATENDE A FINALIDADE
SOCIAL QUE SE PRETENDE CONFORME NOSSA ORDENAÇÃO
JURÍDICA PÁTRIA. IMUTÁVEL DEVE SER CONSIDERADO O
NOME PELO QUAL A PESSOA É SOCIALMENTE CONHECIDA, E
NÃO AQUELE COM A QUAL FORA REGISTRADA, ADMITINDO-
SE INCLUSIVE A FLEXIBILIDADE, NO TOCANTE A NÃO
OBSERVÂNCIA DO PRAZO DECADENCIAL PARA O
AJUIZAMENTO DA AÇÃO CORRESPONDENTE. ATENÇÃO AO
PRINCIPIO DA DIGNIDADE HUMANDA QUE ASSEGURA A
GARANTIA DO DIREITO DA PERSONALIDADE, CORRELATO À
CORRETA IDENTIFICAÇÃO SOCIAL. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO.

0006866-11.2006.8.19.0066 (2008.001.22891) - APELACAO


DES. CELIA MELIGA PESSOA - Julgamento: 04/08/2009 - DECIMA
OITAVA CAMARA CIVEL

MUDANCA DE PRENOME
EXCECAO AO PRINCIPIO DA IMUTABILIDADE DO PRENOME
DECURSO DO PRAZO
CONSTRANGIMENTO PESSOAL
PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS

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APELAÇÃO CÍVEL. ALTERAÇÃO DE REGISTRO CIVIL.
MUDANÇA DO PRENOME "RAIMUNDA". ARTIGOS 57 E 58 DA
LEI DE REGISTROS PÚBLICOS. EXCEÇÃO AO PRINCÍPIO DA
IMUTABILIDADE DO PRENOME. Recorrente que sofre intenso
abalo psicológico oriundo do fato de se chamar Raimunda,
sendo pessoa humilde, de pouca instrução, exercente da função
de merendeira na APAE de Volta Redonda e assistida pela
Defensoria Pública. Art. 57 da LRP, que permite
excepcionalmente que o nome seja alterado após esgotado o
prazo de um ano contado da maioridade, desde que presente
razão suficiente para tal. Jurisprudência do eg. STJ, que admite a
aludida alteração, desde que preenchidos os requisitos
autorizadores da alteração do nome e ausentes expedientes
escusos visando a esquiva de eventuais credores. Prova dos
autos. Parecer psicológico que sinaliza que a recorrente sente-se
constrangida e expressa grande angústia ante a exposição de
seu nome e, devido a esta dificuldade de aceitação, apresenta
complicações nas relações interpessoais quando seu nome se
torna conhecido pelos outros. Depoimento testemunhal a
corroborar que a recorrente não pugna pela alteração de seu
prenome por mero capricho pessoal, mas sim em razão do
constrangimento pessoal que sofre em razão do nome
Raimunda. Crachá funcional e depoimento testemunhal que
confirmam que a recorrente é conhecida em seu meio social
como Marina, apelido público notório, cuja adoção, em
substituição ao prenome, é admitida pelo art. 58 da Lei nº
6015/73. Depoimento pessoal que comprova que a pessoa é alvo
de constantes deboches, humilhações, chacotas e trocadilhos, a
tornar nítido que a medida pleiteada visa atender anseios
garantidores da dignidade da pessoa humana, assegurada na
Carta Magna. Precedente do STJ, de lavra da Ministra Nancy
Andrighi, que confirma expressamente o prenome "Raimunda"
como vexatório e hábil a causar constrangimento pessoal.
Motivo excepcional hábil a autorizar a alteração do nome nos
moldes do art. 57 da LRP, que resta constatado. Perquirição
acerca do outro requisito elencado pela jurisprudência, qual seja,
a demonstração de que o pleito não configura expediente escuso
para fugir de credores. "Nada consta" em certidões de protestos
e dos distribuidores cíveis e criminais. Existência de uma
restrição cadastral, registrada em 29/06/2004 por uma pequena

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loja de calçados. Informação a ser excluída do cadastro, por ser
referente, nesta data, a período superior a 5 anos. Inteligência do
art. 43, §1º, do CDC e da súmula nº 323 do STJ. Fato isolado, de
somenos importância quando cotejado com a relevância dos
direitos da personalidade, dos quais o direito ao nome é espécie,
a dignidade da pessoa humana, o bem-estar psicológico e o
ajuste social e afetivo da apelante. Ressalto à importância da
segurança das relações jurídicas em nosso ordenamento
jurídico. Julgador que deve encontrar solução que atenda ao
legítimo interesse da recorrente sem prejudicar o direito de
terceiro, titular de um crédito em face da recorrente desde
29/06/2004, que ainda não foi objeto de ação judicial. Nítida
ponderação de interesses, a indicar que o melhor deslinde para a
causa é o acolhimento da pretensão de alteração do nome,
resguardando-se o direito do credor através de intimação para
que tenha ciência de que a devedora teve o seu prenome
modificado, evitando-se, com isso, qualquer burla ao seu direito
creditório. Determinação de retificação do registro civil da
apelante, procedendo-se às anotações de estilo. PROVIMENTO
DO RECURSO.
4. Considerações Finais

No presente trabalho, tratou-se das possibilidades de alteração do


nome previstas na Lei dos Registros Públicos, com a regulamentação trazida pela Lei
n. 9.807/98, autorizando a mudança do prenome por apelido público e notório. Foram
analisadas, ainda, as possibilidades de alteração do nome por estrangeiro, quando da
exposição ao ridículo e nas questões atinentes ao estado civil das pessoas.

Por fim, discorreu-se sobre a lei de proteção à testemunha e à vítima,


dado seu interesse na proteção dessas pessoas e de seus familiares, desta forma,
considerando a importância deste programa para assegurar a paz social e a sua
devida efetivação, possibilitou-se aos protegidos, a alteração completa do nome, com
novo registro civil.

Com efeito, as possibilidades de alteração do nome civil, via de regra,


estão intimamente ligadas à dificuldade de se possuir nome que traga transtornos para
a vida das pessoas. A alteração nominal consiste em remédio necessário de
promoção da harmonia social, representando o retrato fiel da verdade.

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Nesse contexto, a legislação pátria vem se modernizando como forma
de acompanhar o desenvolvimento da sociedade, tendo a regra da imutabilidade do
prenome sofrido mudança, flexibilizando o tratamento sobre a matéria com intuito de
adequação às necessidades exigidas, como forma de garantir proteção às pessoas e
ao seu sadio convívio social.

O intuito que o requerente busca com tal pretensão é resgatar


não só a sua auto-estima, mais também, preservar a sua dignidade; seu bem mais
valioso. Não há dúvidas de que, permanecendo com tal registro, tal fato continuaria a
ferir a sua própria dignidade, circunstância esta não aceita pela nossa Constituição,
que, em seu Art 1º inc III, traz como um de seus principais fundamentos, o princípio
da dignidade da pessoa humana.

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