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JURÍDICA
MENDES & NASCIMENTO
Rua Professor Lace 40, sala 212, Ramos Rio de Janeiro, CEP 21060-120
invocando ainda a presunção legal de veracidade da declaração, contida no §1º do
art.4º da Lei 1060/50, c/c art. 334, IV do CPC.
DA SINOPSE FÁTICA
Todo o seu esforço era inútil; por mais que a requerente tentasse
conquistar o respeito dos colegas, sempre tinha um “grupinho” que gozava de seu
nome e, quando não o bastante, a agredia fisicamente também, situação que
acontecia com bastante freqüência. Era um verdadeiro fardo; pesado demais para
uma criança, mas sem questionar continuou a carregá-lo por ter um apreço muito
grande pelos seus avôs falecidos.
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Já cursando o ensino fundamental, e, portanto, mais maduro e
questionador, o requerente passou a se incomodar mais com o seu nome, pois
continuava a sofrer os mesmos constrangimentos, o que passou a causar danos
significativos a sua auto-estima. Claro, nessa época, a requerente já era uma
adolescente e preocupava-se com a sua auto-imagem, por isso, teve uma nova
conversa com os seus pais a respeito do seu nome. Nessa conversa, explicou que,
não estava sendo uma pessoa feliz.
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Assim, se não conseguir a cidadania, provavelmente irá perder
a chance de um emprego com remuneração satisfatória e carga horária assaz
flexível.
DO DIREITO
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É obrigação dos pais efetivarem, com prioridade, o registro de
nascimento dos filhos, que é feito no Serviço de Registro Civil das Pessoas Naturais
do lugar do parto ou da residência dos pais, conforme art. 50 da Lei dos Registros
Públicos (Lei n. 6.015/73), devendo o registro civil ser um retrato fiel da realidade.
A Lei nº 6.015/73, a partir do art. 109, traça com perfeição todo o rito necessário para
uma eventual necessidade de se retificar ou suprir um assentamento civil. Assim,
havendo erro no registro civil, deve ser corrigido, para que se ponha em harmonia
com o que é certo.
10.1.Não é ocioso obtemperar que é esse simples erro que está impedindo-a de
postular um direito constitucionalmente reconhecido, qual seja: a dupla – cidadania.
A Lei n. 6.015/73 previa que o prenome era imutável. Entretanto, com as alterações
introduzidas pela Lei n. 9.708/98, o art. 58 “caput” da Lei dos Registros Públicos foi
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derrogado, passando a vigorar com a seguinte redação: “O prenome será definitivo,
admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios”.
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pais não se conformarem com a recusa do oficial, este
submeterá por escrito o caso, independente da cobrança de
quaisquer emolumentos, à decisão do juiz competente.
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No nosso sentir, cabe razão ao último doutrinador, uma vez que o art.
40 da Lei dos Registros Públicos é taxativo, devendo ser interpretado extensivamente
a todos os outros artigos da Lei, não deixando dúvidas, assim, sobre a necessidade do
pronunciamento do Judiciário nas questões envolvendo alteração do nome.
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seu aspecto teleológico, levando em consideração a realidade social do país, e,
principalmente, as condições reais da pessoa.
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RETIFICACAO DE REGISTRO CIVIL. MUDANCA DE PRENOME
PRINCIPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA DIREITO DA
PERSONALIDADE - APELAÇÃO CÍVEL. ALTERAÇAO DE
REGISTRO CIVIL. PRETENSÃO AUTORAL DE ALTERAÇÃO DE
PRENOME. ALEGAÇÃO DE QUE A AUTORA FOI REGISTRADA
COM NOME QUE LHE CAUSA CONSTRANGIMENTOS, NÃO
CORRESPONDENDO O MESMO À SUA IDENTIFICAÇÃO NO
MEIO SOCIAL. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. NÃO SE
AFIGURA RAZOÁVEL, NA HIPÓTESE VERTENTE DOS AUTOS, A
INTERPRETAÇÃO LITERAL DO DISPOSITIVO CONTIDO NO ART.
58 DA LEI DE REGISTROS PÚBLICOS SOBRE A IMUTABILIDADE
DO PRENOME, DEVENDO O JULGADOR, EM ATENÇÃO A
ESPECIFICIDADE DO CASO, VALER-SE DO CRITÉRIO DA
EQUIDADE, BEM COMO ATENÇÃO AOS FINS SOCIAIS QUE
NORMA SE DESTINA E ÀS EXIGÊNCIAS DO BEM COMUM, POIS,
SUA APLICAÇÃO MECÂNICA NÃO ATENDE A FINALIDADE
SOCIAL QUE SE PRETENDE CONFORME NOSSA ORDENAÇÃO
JURÍDICA PÁTRIA. IMUTÁVEL DEVE SER CONSIDERADO O
NOME PELO QUAL A PESSOA É SOCIALMENTE CONHECIDA, E
NÃO AQUELE COM A QUAL FORA REGISTRADA, ADMITINDO-
SE INCLUSIVE A FLEXIBILIDADE, NO TOCANTE A NÃO
OBSERVÂNCIA DO PRAZO DECADENCIAL PARA O
AJUIZAMENTO DA AÇÃO CORRESPONDENTE. ATENÇÃO AO
PRINCIPIO DA DIGNIDADE HUMANDA QUE ASSEGURA A
GARANTIA DO DIREITO DA PERSONALIDADE, CORRELATO À
CORRETA IDENTIFICAÇÃO SOCIAL. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO.
MUDANCA DE PRENOME
EXCECAO AO PRINCIPIO DA IMUTABILIDADE DO PRENOME
DECURSO DO PRAZO
CONSTRANGIMENTO PESSOAL
PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS
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APELAÇÃO CÍVEL. ALTERAÇÃO DE REGISTRO CIVIL.
MUDANÇA DO PRENOME "RAIMUNDA". ARTIGOS 57 E 58 DA
LEI DE REGISTROS PÚBLICOS. EXCEÇÃO AO PRINCÍPIO DA
IMUTABILIDADE DO PRENOME. Recorrente que sofre intenso
abalo psicológico oriundo do fato de se chamar Raimunda,
sendo pessoa humilde, de pouca instrução, exercente da função
de merendeira na APAE de Volta Redonda e assistida pela
Defensoria Pública. Art. 57 da LRP, que permite
excepcionalmente que o nome seja alterado após esgotado o
prazo de um ano contado da maioridade, desde que presente
razão suficiente para tal. Jurisprudência do eg. STJ, que admite a
aludida alteração, desde que preenchidos os requisitos
autorizadores da alteração do nome e ausentes expedientes
escusos visando a esquiva de eventuais credores. Prova dos
autos. Parecer psicológico que sinaliza que a recorrente sente-se
constrangida e expressa grande angústia ante a exposição de
seu nome e, devido a esta dificuldade de aceitação, apresenta
complicações nas relações interpessoais quando seu nome se
torna conhecido pelos outros. Depoimento testemunhal a
corroborar que a recorrente não pugna pela alteração de seu
prenome por mero capricho pessoal, mas sim em razão do
constrangimento pessoal que sofre em razão do nome
Raimunda. Crachá funcional e depoimento testemunhal que
confirmam que a recorrente é conhecida em seu meio social
como Marina, apelido público notório, cuja adoção, em
substituição ao prenome, é admitida pelo art. 58 da Lei nº
6015/73. Depoimento pessoal que comprova que a pessoa é alvo
de constantes deboches, humilhações, chacotas e trocadilhos, a
tornar nítido que a medida pleiteada visa atender anseios
garantidores da dignidade da pessoa humana, assegurada na
Carta Magna. Precedente do STJ, de lavra da Ministra Nancy
Andrighi, que confirma expressamente o prenome "Raimunda"
como vexatório e hábil a causar constrangimento pessoal.
Motivo excepcional hábil a autorizar a alteração do nome nos
moldes do art. 57 da LRP, que resta constatado. Perquirição
acerca do outro requisito elencado pela jurisprudência, qual seja,
a demonstração de que o pleito não configura expediente escuso
para fugir de credores. "Nada consta" em certidões de protestos
e dos distribuidores cíveis e criminais. Existência de uma
restrição cadastral, registrada em 29/06/2004 por uma pequena
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loja de calçados. Informação a ser excluída do cadastro, por ser
referente, nesta data, a período superior a 5 anos. Inteligência do
art. 43, §1º, do CDC e da súmula nº 323 do STJ. Fato isolado, de
somenos importância quando cotejado com a relevância dos
direitos da personalidade, dos quais o direito ao nome é espécie,
a dignidade da pessoa humana, o bem-estar psicológico e o
ajuste social e afetivo da apelante. Ressalto à importância da
segurança das relações jurídicas em nosso ordenamento
jurídico. Julgador que deve encontrar solução que atenda ao
legítimo interesse da recorrente sem prejudicar o direito de
terceiro, titular de um crédito em face da recorrente desde
29/06/2004, que ainda não foi objeto de ação judicial. Nítida
ponderação de interesses, a indicar que o melhor deslinde para a
causa é o acolhimento da pretensão de alteração do nome,
resguardando-se o direito do credor através de intimação para
que tenha ciência de que a devedora teve o seu prenome
modificado, evitando-se, com isso, qualquer burla ao seu direito
creditório. Determinação de retificação do registro civil da
apelante, procedendo-se às anotações de estilo. PROVIMENTO
DO RECURSO.
4. Considerações Finais
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Nesse contexto, a legislação pátria vem se modernizando como forma
de acompanhar o desenvolvimento da sociedade, tendo a regra da imutabilidade do
prenome sofrido mudança, flexibilizando o tratamento sobre a matéria com intuito de
adequação às necessidades exigidas, como forma de garantir proteção às pessoas e
ao seu sadio convívio social.
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