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Jackeline ajuizou ação porque, embora há muitos anos se apresente socialmente com

esse nome e com aparência feminina, foi registrada no nascimento sob o nome de
Ludimar Roberto Prado, do gênero masculino. Aduz na inicial que, embora nascida com
características biológicas e cromossômicas masculinas, desde adolescente
compreendeu-se transexual e, ao constatar a incompatibilidade com sua morfologia
corporal, passou a adotar a identidade feminina, vestindo-se e apresentando-se
socialmente como mulher. Nunca se submeteu à cirurgia de transgenitalização, por
receio dos riscos da cirurgia e por entender que isso não a impede de ser mulher. Diante
disso, formula pedidos para que seja alterado não somente o seu registro de nome, mas
também o registro de gênero, cujo conteúdo lhe causa profundo constrangimento.
Demanda que passe a constar o prenome Jackeline no lugar de Ludimar e o gênero
feminino no lugar de masculino. A sentença, contudo, julgou improcedente o pedido,
limitando-se a afirmar que o pleito, sem a prévia cirurgia de transgenitalização, fere os
bons costumes.

a) Sobre o caso, responda aos itens a seguir.

1. A sentença pode ser considerada adequadamente fundamentada? Justifique

Não, pois, para a conclusão que chegou, não existe uma fundamentação clara e
objetiva, não explicando de forma precisa qual a norma ou princípio jurídico foi violado, se
limitou apenas a dizer que o pedido fere os bons costumes com a necessidade de uma
previa cirurgia de transgenitalização. Além de que não foi considerado as evidências
apresentadas pela parte autora em relação ao constrangimento causado pelo registro civil
atual e à sua identidade de gênero considerada, ou seja, não foi reconhecido e nem
garantido pelo 5 º da Constituição Federal brasileira, que trata dos direitos e garantias
fundamentais, e também não foi considerada a Resolução nº 01/2014 do Conselho
Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais (CNCD/LGBT). Vale ressaltar ainda a , que
recentemente, o STF se posicionou sobre o tema, e, pelo julgamento da ADI 4275,
reconheceu aos transgêneros a possibilidade de alteração de registro civil sem
mudança de sexo.

2. Cabe qual recurso processual dessa decisão? Fundamente.

De acordo com o art. 1009 do CPC cabe apelação. Ou seja, contra a sentença que julgou
improcedente o pedido de alteração do pedido de Jackeline cabe apelação no prazo de 15 dias
a contar da intimação da sentença, que irá reavaliar a decisão proferida em primeira instância.

3. No mérito, os dois pedidos de Jackeline devem ser acolhidos? Justifique.

Sim, os pedidos devem ser acolhidos. De acordo com a previsão do art. 58 da lei
6.015/73, que permite a alteração do prenome por motivo justo, desde que não prejudique
terceiros e seja de pretensão ilícita. No caso em questão está causando constrangimento para
Jaqueline que há muitos anos se apresenta socialmente como tal, ou seja, apresenta motivos
justos para a alteração do prenome.

Sobre a alteração do registro de gênero, como mencionado na questão 01 acima, em


julgamento de ação direta de inconstitucionalidade do Art.5 da CF, o STF (ADI 4.275/DF)
reconheceu a alteração do registro civil, independente de realização de cirurgia, ou seja, um
direito das pessoas transexuais

Por fim, os pedidos para que correspondam a identidade de gênero de Jaqueline, de


alteração do nome e gênero em seu registro civil devem ser acolhidos, pois ela apresenta-se
em sua vida social e cotidiana como mulher o que vem a ser elementos suficientes para
comprovar. Visto que, é um direito fundamental que deve ser respeitado pela sociedade e pelo
Estado, conforme reconhece o STF, não à necessidade de uma cirurgia de transgenitalização
para a alteração, pois tal exigência é inconstitucional.

b) Estruture apenas os itens a seguir:

1. Endereçamento:

AO JUIZO DA ... VARA CÍVEL DA COMARCA DE ... - ...

Ludimar Roberto Prado, Jackeline, nacionalidade ..., estado civil ..., profissão ..., portador
do RG ... e inscrito no CPF ..., residente e domiciliado no Endereço ... , endereço
eletrônica ..., vêm perante este juízo, por intermédio de seu advogado infra
assinado ... , nacionalidade ..., estado civil ..., portador do RG ..., inscrito no CPF ... ,
residente e domiciliado no Endereço ..., endereço eletrônico ..., inscrito na OAB ..., vêm
perante este juízo e bastante procurador que esta subscreve, ajuizar a presente ação
Retificação de Registro Civil

2. Peça (fundamento):

A parte autora, transexual, nasceu com o sexo fisiológico masculino e registrada com o nome
de Ludimar Roberto Prado, apesar, de ter nascido com as características biológicas e
cromossômicas masculina, não se considera como tal pois se apresenta há muitos anos com o
nome Jackeline e com aparência de mulher desde a adolescência, ou seja, com hábitos,
reações e aspecto tipicamente femininos, modo que isso acaba por gerar conflito entre seu
sexo fisiológico e sua própria psique totalmente feminina ao constatar a incompatibilidade com
sua morfologia corporal
Ainda que tenha Jaqueline características biologias e cromossômicas masculinas, Jackeline
como é conhecida, nunca se submeteu a cirurgia de transgenitalização, pois isso desde a
adolescência não a impediu de se sentir mulher e por medo dos ricos da cirurgia. Porém, o
registro de gênero masculino e o nome que consta no registro civil faz com que seja tratada
como homem nas relações sociais, profissionais e comerciais, quando assim não se sente, o
que lhe causa profundo constrangimento e fere sua dignidade e seu direito à identidade. Além
de ser alvo de repressões homofóbicas quando seu nome masculino é revelado, já que não
condiz com a sua aparência completamente feminina, o que vem a acarretar constrangimentos
desnecessários contra a dignidade humana.
Diante disso, busca-se pedidos para a alteração não somente de seu prenome, mas também
da alteração do registro de gênero para a regularização de seu nome social como Jackeline, no
lugar de Ludimar nos documentos civis, para que não ocorra mais constrangimentos
desnecessários e corresponda com a realidade de sua vida pública.

3. Teses jurídicas:

Diante do exposto, a parte autora sustenta as seguintes teses jurídicas


A pretensão da Autora, está embasada, no parágrafo único do artigo 58 da Lei 6.015/73 que
determina a substituição do prenome por apelidos públicos notórios, que é o caso de Jaquelina
como é amplamente conhecido conforme provas em anexo.

A autora ainda, tem direito à retificação do seu registro civil, com a alteração do prenome e do
gênero, em consonância com a sua identidade de gênero e sua dignidade, conforme também é
reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal, na ADI 4.275 e no julgamento do RE 670.422/RS,
com repercussão geral.

O direito à identidade de gênero é uma garantia que decorre do princípio da dignidade da


pessoa humana, consagrado no artigo 1º, III, da Constituição Federal. Por outro lado, o
artigo 5º, X, da mesma Constituição a inviolabilidade da vida privada, da intimidade e das
pessoas. Nesse sentido, a jurisprudência nacional tem reconhecido o
direito dos transexuais à retificação de seu estado civil, independentemente da realização de
cirurgia de redesignação sexual. Porque a mudança de registro de sexo é possível sem cirurgia
de redesignação, pois a identidade de gênero não se confunde com a morfologia corporal.

Portanto, a recusa da alteração do registro de sexo os princípios constitucionais da dignidade


humana, mas sim causa discriminação e ferre a privacidade.

4. Pedidos:

Diante do exposto, Requer a Vossa Excelência, com amparo legal nos artigos 3º, IV, 5º, III e X
da Constituição Federal, artigo 1.109 do Código de Processo Civil Requerer

1. Que seja retificado o SEU PRENOME, junto ao Registro Civil de Nascimento, devendo
constar Jaqueline e sexo FEMININO, mandando proceder o envio de Ofício ao competente
Cartório de Registro Civil de Nascimento, bem como aos demais órgãos que se dê
cumprimento à decisão, se concedida, mandando alterar todos documentos do
Requerente, carteira de identidade, cadastro de pessoa física(CPF), passaportes, etc ...
2. Sejam julgados totalmente procedentes os pedidos da presente Ação de Retificação de
Registro Civil, com a devida retificação da Certidão de Nascimento da Requerente que
deve passar a escrever seu nome oficialmente como “Jackeline”, registro constante da
folha nº …, do livro nº ..., sob o nº... de ordem …., do cartório de Registro Civil das
Pessoas Naturais da Comarca de Capela – AL.
3. A intimação do representante do Ministério Público para, querendo, impugnar o pedido no
prazo de 05 (cinco) dias.
4. O deferimento da produção de todos os meios de prova em Direito admitidos, em especial
a documental, juntada posterior de documentos, expedição de ofícios, depoimentos
pessoais das partes e outras que se façam necessárias, bem como a oitiva de
testemunhas.

Dá à causa o valor de R$… para fins fiscais.

Nestes Termos,

Pede Deferimento.

Cidade, …. de ……………. de ………

ADVOGADO ...

OAB ... Estado ...

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