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AO JUÍZO DA VARA DE REGISTROS PÚBLICOS DA COMARCA DE XXXXXXXX – SC

XXXXXXXXXX, no ato assistida por sua genitora, Sra. XXXXXXXXXX, brasileira, casada,
aposentada, inscrita no CPF sob o nº XXXXXXXXX, RG nº XXXXXXXX, residente e domiciliada
na Rua XXXXXXX, nº XXXX, no município de XXXXXXXX – SC, sem endereço eletrô nico, por
seu procurador abaixo assinado, com escritó rio na Rua XXXXXX, nº XXX, Bairro XXXXXX,
neste mesmo município, e-mail: XXXXXXXX.adv@gmail.com, vem ajuizar
AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL
com fulcro na Lei nº 6.015/73 e na jurisprudência pacificada, pelos fatos e fundamentos
expostos em sequência:
I. DOS FATOS
A Requerente é menor impú bere, e desde seu nascimento sofre constrangimentos por
culpa exclusiva de seu genitor, que ostenta comportamento irresponsá vel e abusivo.
Para melhor entendimento deste juízo, resumir-se-á , em forma de relato, algumas
memó rias guardadas na mente da genitora e da pró pria Requerente, que podem ser
corroboradas em juízo, se necessá rio.
[descrever os fatos motivadores da inclusão ou exclusão de sobrenome]
A Requerente se encontra psicologicamente transtornada e humilhada até em assinar o
sobrenome dele, porquanto nunca o viu demonstrar amor, ainda que em grau mínimo. Só o
viu semear desdém.
Deste modo, é imprescindível que se proceda à alteraçã o do seu sobrenome, como forma de
priorizar a dignidade humana e a mais lídima justiça.
II. DO DIREITO
O direito ora postulado possui alicerce em enorme arcabouço constitucional, legal e
jurisprudencial, devendo-se resolvê-lo nos exatos princípios prelecionados quando da
criaçã o da Carta Magna.
Relembre-se inclusive que, a partir do advento da CRFB/88, foi instituída a igualdade
entre homens e mulheres, e, portanto, nã o mais subsiste a vetusta crença de que as crianças
e adolescentes deveriam receber exclusivamente o sobrenome de seu pai.
Nos tempos hodiernos, o sobrenome pode corresponder ao do pai ou ao da mã e,
priorizando aquele que melhor assegurou a dignidade, o apoio, o carinho e o afeto para
com o menor.
Na situaçã o posta em pauta, sobreleva-se o sobrenome da mã e, que sempre tratou de
proteger a criança, agora adolescente, mesmo com toda a dificuldade ante o
comportamento abusivo e omisso do genitor, o qual, por levar todo o relacionamento
paterno com indiferença, impô s à Requerente um sentimento íntimo de repulsa ao carregar
o fardo de seu sobrenome.
Impende destacar que a CRFB/88 consagrou inú meros princípios norteadores da aplicaçã o
normativa, e principalmente, o câ none da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da
CRFB/88), que a despeito de ser moldado conforme a situaçã o jurídica submetida à
apreciaçã o, talvez seja o ú nico valor tido como absoluto.
Além disso, Carta Magna protege a criança e o adolescente com absoluta prioridade, e
juntamente com o Estatuto da Criança e do Adolescente, prevê o princípio do melhor
interesse da criança e do adolescente.
Outrossim, o Pacto de San José da Costa Rica, internalizado pelo Decreto nº 678/1992,
prevê, em seu art. 11, que “toda pessoa tem direito ao respeito da sua honra e ao
reconhecimento de sua dignidade”. Ora, o que se postula é RESTABELECER a DIGNIDADE
e a HONRA da Requerente, evitando a perpetuaçã o dos seus constrangimentos, já
suportados arduamente desde tempos pretéritos até o presente momento. Para tanto,
busca-se a singela alteraçã o do sobrenome “paterno” para o materno.
Segundo o art. 16, do Có digo Civil de 2002, “toda pessoa tem direito ao nome, nele
compreendidos o prenome e o sobrenome”. A regra geral é a imutabilidade do nome, mas
sua alteraçã o pode, por exceçã o e motivadamente, com vista do Ministério Pú blico e
mediante sentença judicial, ser perfeitamente realizada, conforme preconiza o art. 57, da
Lei 6.015/73.
Se até mesmo o prenome pode ser alterado por apelido (art. 58, da Lei 6.015/73), nã o se vê
razoabilidade alguma em vedar a alteraçã o de sobrenome quando constatada motivaçã o
idô nea e a inexistência de prejuízo a terceiros, como é o que se pretende.
Ademais, a alteraçã o pretendida é caracterizada como direito subjetivo da Requerente, nã o
podendo ficar ao alvedrio de concepçõ es exteriores, na medida em que somente a pessoa
pode vivenciar todos os males de uma vida menosprezada pelo seu genitor, tendo que
trazer consigo o seu intragá vel sobrenome.
A respeito disso, assinala Maria Berenice Dias, em seu livro “Manual de Direito das
Famílias”:
Cada vez mais a verdade biológica e a verdade registral cedem frente a realidade da vida, que privilegia os vínculos
da afetividade como geradores de direitos e de obrigações. Daí a consagração da filiação socioafetiva, que tem
origem não em um ato - como a concepção ou registro - mas em um fato: a convivência que faz gerar o que se
chama de posse de estado de filho. [...] Toda esta mobilidade passou a prevalecer, inclusive, frente ao princípio
da imutabilidade do nome, consagrado para manter a segurança das relações jurídicas. Não foi outro o
propósito, ao ser admitida a inclusão do nome do padrasto. E cada vez mais a jurisprudência vem sendo sensível
e admite a alteração do nome quando o registro não preserva o próprio direito à identidade. Assim possível é a
supressão do sobrenome do pai registral, mediante a prova do abandono. Também é possível a substituição
pelo sobrenome do guardião. (DIAS, 2016, p. 212)

Maior celeuma nã o há , na medida em que o pró prio art. 109, da Lei 6.015/73, assevera que:
Art. 109. Quem pretender que se restaure, supra ou retifique assentamento no Registro Civil, requererá, em
petição fundamentada e instruída com documentos ou com indicação de testemunhas, que o Juiz o ordene,
ouvido o órgão do Ministério Público e os interessados, no prazo de cinco dias, que correrá em cartório.
Como demonstrado mediante os documentos anexos (certidõ es negativas), a alteraçã o do
sobrenome postulada nã o acarreta qualquer prejuízo a terceiros, estando veementemente
justificados os motivos da alteraçã o pretendida, em virtude dos prejuízos à honra e à
dignidade da menor.
Ademais, nã o existe ó bice à alteraçã o, porquanto a pró pria legislaçã o nã o restringe, antes
estabelece hipó tese permissiva, quando constatada motivaçã o idô nea, o que se faz
presente.
Nesta senda, importante colacionar arestos jurisprudenciais sob o tema, proferidos pelo
STJ e pelo TJ-SC:
a) INCLUSÃO DE SOBRENOME
Direito civil. Interesse de menor. Alteração de registro civil. Possibilidade.
Com efeito, conforme já decidido pelo eg. Superior Tribunal de Justiça, o princípio da imutabilidade do nome não é
absoluto, admitindo, entre outras hipóteses, a alteração do nome civil para a inclusão de sobrenome materno ou
paterno, como forma de garantir uma melhor identificação da pessoa com seus ascendentes, mormente quando
não apontado indício de prejuízo a terceiros. Nesse sentido: "Direito civil. Interesse de menor. Alteração de
registro civil. Possibilidade. - Não há como negar a uma criança o direito de ter alterado seu registro de nascimento
para que dele conste o mais fiel retrato da sua identidade, sem descurar que uma das expressões concretas do
princípio fundamental da dignidade da pessoa humana é justamente ter direito ao nome.
É admissível a alteração no registro de nascimento do filho para a averbação do nome de sua mãe que, após a
separação judicial, voltou a usar o nome de solteira; para tanto, devem ser preenchidos dois requisitos: (i) justo
motivo; (ii) inexistência de prejuízos para terceiros. Recurso especial não conhecido." (STJ, REsp 1.069.864/DF,
Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, DJe de 3/2/2009)
RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO - ACRÉSCIMO DE PATRONÍMICO MATERNO -
INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS QUE INDEFERIRAM O PEDIDO PORQUANTO DEFICIENTE A MOTIVAÇÃO DELINEADA NA
INICIAL - INSURGÊNCIA DA AUTORA.
Hipótese: Discussão acerca da possibilidade de retificação do sobrenome, depois de atingida a maioridade, para
acrescentar matronímico que não fora transmitido à filha, mas por ela adotado como sobrenome durante o tempo
em que esteve casada. 1. O direito ao nome insere-se no campo dos direitos da personalidade, derivados do
princípio fundamental da dignidade humana. Sob o aspecto público, exige-se o assento do nome e atribui-se
imutabilidade relativa ao registro. Sob o aspecto privado, tem-se o direito à identidade e à transmissão do
sobrenome aos descendentes. 2. O princípio da imutabilidade, que rege o registro do nome, não é absoluto,
uma vez que o ordenamento pátrio contempla diversas hipóteses de retificação e alteração tanto para o
prenome quanto para o sobrenome.
[...] Na hipótese, verificam-se os requisitos de excepcionalidade e motivação, além das formalidades processuais
exigidas para o acréscimo de apelido ao sobrenome.
(STJ - REsp: 1701048 RS 2017/0250779-3, Relator: Ministro LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO
DO TRF 5ª REGIÃO), Data de Publicação: DJ 07/03/2018)
AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. INCLUSÃO DO PATRONÍMICO MATERNO NO NOME CIVIL.
POSSIBILIDADE. MEDIDA QUE IMPLICA MELHOR IDENTIFICAÇÃO DA CRIANÇA, O ESTREITAMENTO DE LAÇOS
PARA COM A FAMÍLIA MATERNA E, FINALMENTE, EQUIDADE DE SOBRENOMES ENTRE IRMÃOS, NÃO HAVENDO
COGITAR-SE, POIS, DE PREJUÍZOS AO GENITOR, À FAMÍLIA, À TERCEIROS E À SOCIEDADE. CONSEQUENTE
EXCLUSÃO DO AGNOME "FILHO" POR INÓCUO. HOMENAGEM PRESTADA AO PAI DA CRIANÇA QUE, NADA
OBSTANTE ISTO, MANTÉM-SE INTACTA NO PRENOME DO FILHO. ART. 57 DA LEI N. 6.015/1973. PRECEDENTES DA
CORTE. RECURSO PROVIDO.
(TJ-SC - AC: 20120389109 SC 2012.038910-9 (Acórdão), Relator: Jorge Luis Costa Beber, Data de Julgamento:
15/08/2012, Quarta Câmara de Direito Civil Julgado)

b) EXCLUSÃO DE NOME
APELAÇÃO CÍVEL. REGISTRO CIVIL. RETIFICAÇÃO. EXCLUSÃO DO PATRONÍMICO PATERNO. AUSÊNCIA DE
INTIMAÇÃO DO GENITOR. EXEGESE DO ART. 109 DA LEI DE REGISTROS PUBLICOS. NULIDADE RECONHECIDA. A
imutabilidade das normas previstas na Lei de Registros Publicos (Lei n. 6.015/1973) não é absoluta, ainda mais
nas comprovadas situações de abandono psicológico e material, prevalecendo, nestas, o princípio da dignidade
da pessoa humana (art. 1º, III, da CRFB/1988), tendo a jurisprudência, neste particular, se voltado para a
possibilidade de retificação do registro civil, a fim de se evitar a continuação do constrangimento e do abalo
moral. [...]
(TJ-SC - AC: 20110075142 SC 2011.007514-2 (Acórdão), Relator: João Batista Góes Ulysséa, Data de Julgamento:
26/09/2012, Segunda Câmara de Direito Civil)
APELAÇÃO CÍVEL - RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL - EXCLUSÃO DE UM DOS PRENOMES - NOME QUE CAUSA
CONSTRANGIMENTO A ADOLESCENTE - JUSTO MOTIVO CARACTERIZADO - POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO -
SENTENÇA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO.

Admite-se alteração do nome civil quando este submete o indivíduo ao escárnio dos demais, causando
constrangimento ao seu portador. Considerando que na adolescência a pessoa descobre sua identidade e define
sua personalidade, é correto afirmar que a insatisfação com o nome, justamente o atributo que nos rotula no meio
em que vivemos, traz aspectos negativos ao desenvolvimento do adolescente.
(TJ-SC - Apelação Cível : AC 646350 SC 2008.064635-0, Data do julgamento: 27/02/2009, Terceira Câmara de
Direito Civil)

Ante todo o exposto, e em virtude do sofrimento, da angú stia e do constrangimento


suportado pela Requerente, a medida mais salutar, capaz de ao menos amenizar parte de
seu padecimento, é que se proceda à retificaçã o do registro civil, efetuando as seguintes
alteraçõ es: a) a inclusã o do sobrenome da mã e ao final do sobrenome da Requerente e b) a
exclusã o do sobrenome do pai, cuja alteraçã o deverá consolidar o nome nos seguintes
moldes: XXXXXXXXXXXX.
III. DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:
a) o recebimento da presente peça exordial;
b) a dispensa de audiência de conciliação ou mediação, porquanto incompatível com a
natureza da demanda;
c) a concessã o da gratuidade da justiça;
d) a intimaçã o do Ministério Pú blico para que se manifeste;
e) a expedição de ofício à Justiça Eleitoral, Federal e do Trabalho; ao cartó rio de protestos
e ao SPC/SERASA, com o fito de obter as certidõ es negativas correspondentes;
d.1) Requer a extensão da gratuidade da justiça à s negativas acima elencadas,
imprescindíveis ao sucesso do pleito retificador;
f) a total procedência dos pedidos, pugnando pela exclusã o do sobrenome paterno e
inclusã o do sobrenome materno, devendo-se alterar o registro para xxxxxxxxxxxxxxxx;
g) a expedição de mandado ao Ofício de Registro Civil da comarca de XXXXXXXXX – SC,
para que se realizem as devidas alteraçõ es.
Requer, caso necessá ria, a produçã o de prova por qualquer meio legalmente admitido em
direito, tais como documentos, depoimento pessoal da Requerente e oitiva de testemunhas.
Junta-se, desde já , documento escrito de pró prio punho pela Requerente, expondo seus
sentimentos mais íntimos, que assina, por repulsa, sem o sobrenome de seu pai.
Dá -se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), para fins meramente procedimentais.
Nestes termos, pede deferimento.
Município, xxxxxx de julho 2018.
Advogado: Joã o Leandro Longo
OAB/SC nº 52.287
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