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SISTEMA REGISTRAL E NOTARIAL

ASPECTOS RELATIVOS AO PRENOME E


SOBRENOME NAS RELAÇÕES FAMILIARES

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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1- Reconhecer as situações em que é excepcionada a imutabilidade do nome;

2- Identificar os requisitos autorizadores das mudanças de prenome e sobrenome;

3- Relacionar o registro público às relações familiares.

1 Introdução
Independentemente da causa, normalmente, as situações que envolvem alterações de registro de nascimento

para a mudança de nome ou sobrenome só se concretizam em virtude de afetarem, através do nome, aspectos

importantes da personalidade daquele indivíduo, não se podendo esquecer que o nome é um importante

componente da personalidade humana, como veremos a seguir.

2 Considerações iniciais
O nome, indubitavelmente, é componente fundamental da personalidade humana, constitui importante direito

da personalidade e merece especial proteção como tal.

O direito ao nome consiste no direito de não ter seu nome violado, nos termos do que prescreve o art. 16 e

seguintes do Código Civil Brasileiro.

Em concomitância às proteções conferidas ao nome, ele é também meio de identificação, constituindo, em

verdade, um direito-dever, pois, ao mesmo tempo em que é disposto que a todos é dado o direito ao nome, uma

análise sistemática das normas, incluindo a Lei de Registro Público, nos indica que há efetiva imposição legal do

uso do nome.

Ou seja, há obrigatoriedade na utilização do nome por parte de toda e qualquer pessoa, pois através desse uso se

dará a identificação da própria pessoa, conhecimento da titularidade de direitos e proteção da esfera privada,

sendo seu uso, portanto, subordinado a normas de ordem pública, conforme assevera Leonardo Brandelli (p.

211).

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O aspecto público do direito ao nome, por outro lado, dá ensejo à obrigatoriedade de utilização do

nome por parte de seu titular. É o dever de uso do nome. Como do direito ao nome decorre o direito

ao uso do nome, da obrigação de ter um nome decorre o dever de usá-lo.

O interesse público de que cada pessoa tenha obrigatoriamente um nome como o principal signo

identificador seu, a fim de que se possa de maneira segura atribuir direitos e imputar deveres na

ordem civil, impõe a necessidade de que o titular do nome use-o nas suas relações civis.

3 Imutabilidade
Em decorrência da vinculação do nome enquanto identificador, no âmbito do interesse público, surgem algumas

características do nome, dentre elas a da imutabilidade, que confere segurança às relações jurídicas como um

todo, de acordo com o art. 58 da Lei 6.015/73 (Lei de Registro Público), sendo essa imutabilidade flexibilizada

em casos determinados constantes do mesmo diploma legal.

Uma flexibilização permitida por lei se refere à faculdade que se dá a toda pessoa de modificar seu prenome,

aparentemente sem que exista um motivo determinante para tanto no decurso de 1 ano, prazo que será

decadencial, a contar da data em que cessa a menoridade.

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Aparentemente a norma contida no art. 56, da Lei de Registro Público, não determina mais dificuldades em sua

compreensão. Pois informa, em linhas gerais, que o interessado poderá alterar seu nome, no primeiro ano, após

ter atingido a maioridade civil. Algumas considerações, contudo, são necessárias. Clique para mais informações!

A primeira consideração necessária é sobre o procedimento que envolverá essa mudança, uma vez que, em

princípio, a mudança poderia ser diretamente no registro público. Porém, como alertado por Walter Ceneviva, o

artigo 56 deve ser interpretado de forma sistemática com o art. 40 do mesmo diploma legal, onde fica

estabelecido que as retificações serão necessariamente judiciais. Observa-se, por isso, a necessidade do

interessado se dirigir ao juízo competente e formular seu pedido. É certo que, em se tratando de direito

potestativo, conferido pela lei, o procedimento judicial é estabelecido com vistas a garantir que não sejam

prejudicados os outros direitos que envolvem a situação como a garantia dos apelidos de família.

Outra questão que surge se refere ao questionamento sobre o termo a quo.

Ou seja, o momento em que se iniciará a contagem do prazo de 1 ano para que o interessado formule seu pedido

de mudança de nome nos casos de emancipação.

Nos casos de emancipação, a capacidade plena é alcançada antes do sujeito completar 18 anos, ou seja, antes de

alcançada a maioridade. O uso pela lei da expressão “maioridade civil” faz com que alguns autores defendam que

a lei outorga tal direito àquele que atinge a capacidade, de modo que a fluência de prazo de 1 ano, para o

requerimento de mudança de nome, se iniciaria da emancipação quando fosse o caso.

Por outro lado, há quem entenda, ainda que o sujeito seja emancipado, o direito de mudar o prenome será

conferido pelo prazo de 1 ano a contar da data em que alcançou a maioridade não se confundindo com

capacidade. Acreditamos que afirmar que o prazo se inicia da emancipação pode determinar uma restrição de

direitos para aquele que é emancipado, de modo que seria mais razoável a contagem do prazo a partir da

maioridade, ou seja, aos 18 anos, independente da capacidade ter sido obtida anteriormente.

4 Acréscimo do sobrenome em razão do casamento ou da


união estável
Situação que nunca causou mais questionamentos ou curiosidades foi referente a mulher acrescer os apelidos de

família ao seu nome, em razão do casamento, sendo inclusive fato bastante corriqueiro.

Sobre esse tema, duas modificações, hoje já não tão novas, merecem destaque.

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1- A primeira, trazida pelo Código Civil de 2002, que possibilitou ao homem também incluir os apelidos de

família da mulher, consoante dispõe § 1o, do art. 1565, do Código Civil. Essa modificação é derivada da igualdade

de direitos entre homens e mulheres e, apesar de ainda não muito utilizada, não traduz mais controvérsias.

2- A segunda, constante do § 2o, do art. 57, da Lei de Registro Público, se refere à possibilidade da companheira

adotar os apelidos do companheiro, desde que requerido ao juiz competente e preenchidos os requisitos

enumerados pela lei, dentre eles a anuência expressa do companheiro e a união datar de mais de 5 anos.

Algumas considerações...

• a)

A mudança do nome, no segundo caso, será a partir de ação direcionada ao juízo competente, deste

modo, a decisão deve ponderar os requisitos da lei em consonância com as normas de direito de família

envolvendo a questão.

• b)

A primeira delas é que diante da igualdade entre homens e mulheres, no casamento e na união estável, o

direito de acrescer o nome deve ser conferido ao homem e à mulher, e não somente à companheira.

• c)

Os demais requisitos devem ser observados sem que se deixe de promover a especial proteção que é

outorgada pelo art. 226, da Constituição da República de 1988, à união estável na qualidade de família.

Por essa interpretação, podemos constatar que requisitos como o prazo de convivência ser de 5 anos, ou

a inexistência de ex-mulher se utilizando dos apelidos do companheiro devem ser afastados.

5 Acréscimo do nome de padrasto ou madrasta


Com redação dada pela Lei 11.924/2009, o § 8o, do art. 57, da Lei de Registro Público, possibilita ao enteado ou

enteada acrescer o sobrenome do padrasto ou madrasta, desde que não prejudique os apelidos de família, com a

concordância expressa destes, e com motivo justificável.

A referida norma ainda muito recente e, aparentemente inocente, não se apresenta com muitas considerações na

doutrina. No entanto, o legislador regulou a matéria de forma insuficiente, pois algumas dúvidas ficam sem mais

esclarecimentos.

É certo que o dispositivo legal em comento é derivado de uma demanda natural da existência das famílias

recompostas (Com a dissolução do casamento e a formação de novas uniões as famílias recompostas são cada

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vez mais crescentes, o que é bom), que são aquelas formadas pela criança, a mãe e o padrasto, e o pai e a

madrasta.

Em paralelo a isso não podemos deixar de considerar a existência, por vezes de grandes conflitos entre os

genitores da criança e o perigo da alienação parental, configurada, grosso modo, por atos de um genitor com

vistas a denegrir a imagem do outro ou afastá-lo daquela criança. Por isso, a possibilidade de acrescentar o nome

do padrasto ou madrasta, ao nome do enteado ou enteada, deve ser realizada com o máximo cuidado.

A doutrina ainda não se posicionou firmemente sobre o tema, e a jurisprudência ainda se apresenta de forma

bastante controvertida, porém, acreditamos que, na decisão de autorizar o acréscimo de nome de padrasto ou

madrasta, no nome da criança, devem ser considerados (ainda que não conste da lei a idade da criança) a

autorização de ambos os genitores da criança além da autorização do padrasto ou madrasta que cederá seu

nome.

Por fim, cumpre ressaltar que tal modificação, no registro civil, não determina qualquer mudança na filiação, mas

somente a inclusão do sobrenome na qualidade de parentes por afinidade.

6 Mudança de sexo e de nome


A proteção dada à integridade física, no âmbito dos direitos da personalidade, amplamente nominado como

direito ao próprio corpo ou disponibilidade do próprio corpo, comporta dois sentidos.

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· Um primeiro vinculado a uma proteção negativa, no sentido de vedar qualquer tipo de agressão de terceiro que

venha a ofender a integridade física do sujeito.

· Por segundo, uma proteção de conteúdo positivo, que é pertinente à disponibilidade que cada um tem sobre o

próprio corpo.

A proibição de atentar contra o próprio corpo poderia se identificar no art. 13, do Código Civil de 2002, com as

regras sobre a inviolabilidade do próprio corpo, onde são estabelecidos critérios de licitude de manifestação de

vontade do indivíduo, em relação ao próprio corpo, em condutas que poderiam ser vislumbradas como

violações.

6.1 Conclusões
Constatando-se, no entanto que a transexualidade consiste, em linhas gerais, no anseio que o indivíduo tem de

pertencer ao sexo oposto, rejeitando o sexo biológico.

Chegou-se a uma definição do que seria o paciente transexual como aquele que é portador de um desvio

psicológico permanente de identidade sexual, e que, as consequências de não se determinar o tratamento

adequado seriam a tendência à automutilação ou autoextermínio.

Com base nesse desenvolvimento, a disposição do corpo através da cirurgia de transgenitalização se

fundamentou em diversos princípios, inicialmente calcada na dignidade da pessoa humana, vislumbrando-se que

a manutenção da vida, onde o sujeito possui grave transtorno de identidade sexual permanente, seria atentatório

a vida com dignidade.

E ainda, no princípio constitucional da solidariedade social, inscrito no art. 3º, da CR/1988, que estabelece como

objetivo da República Federativa do Brasil a constituição de uma sociedade livre, justa e solidária, como

promoção do bem de todos, sem discriminação de qualquer natureza, seja de sexo, raça, cor etc.

Fique ligado
Fundado nesses princípios reguladores de direitos fundamentais, o Conselho Federal de
Medicina, inobstante a falta de legislação específica sobre a matéria, mas auxiliando a aplicação
horizontal dos princípios fundamentais, regulou a cirurgia de transgenitalização na Resolução
1.652/2002, CFM, posteriormente revogada pela Resolução 1.955/2010, CFM.

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7 Outros pedidos de mudança de nome
a) Nome vexatório

b) Apelido amplamente reconhecido

Entre as outras possíveis causas de modificação do prenome ou acréscimo de nome, que não suscitam

dificuldades estão a possibilidade de mudança de nome nos casos em que o nome dado pelos pais àquela pessoa

a coloca em situação de constrangimento ou quando o sujeito é notoriamente reconhecido por outro nome ou

apelido, podendo então mudar seu nome ou acrescentar o apelido.

Ambas as situações são fundamentadas nos artigos 57 e 58 da Lei de Registro Público.

O que vem na próxima aula


· As modalidades de pessoas jurídicas existentes em nosso ordenamento;

· Os temas centrais do registro das pessoas jurídicas;

· Alguns comentários dos entes despersonalizados.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Analisou as causas de flexibilização da imutabilidade do nome no registro civil;
• Reconheceu os reflexos das modificações do registro civil perante terceiros;
• Identificou os procedimentos a serem observados quando existir o interesse na alteração do registro de
nascimento.

Referências
BRANDELLI, Leonardo. Nome civil da pessoa natural. São Paulo: Saraiva, 2012.

CENEVIVA, Walter. Lei dos registros públicos comentada. São Paulo: Saraiva, 2009.

VIEIRA, Tereza Rodrigues. Nome e sexo. Mudanças no registro civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

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