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SISTEMA REGISTRAL E NOTARIAL

PROCEDIMENTOS JUDICIAIS E
EXTRAJUDICIAIS DE RETIFICAÇÃO E
DÚVIDA

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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1- Identificar as situações em que é necessária a retificação do registro público;

2- Reconhecer as hipóteses em que a retificação pode ser feita através de procedimento administrativo e aquelas

em que a retificação deve ser judicial;

3- Verificar as situações em que deve ser realizado o procedimento de dúvida.

1 Introdução
Esta aula abordará de forma mais aprofundada o procedimento judicial ou extrajudicial que será utilizado para a

retificação. Além disso, estudaremos no que consiste a suscitação de dúvida, também pertinente a divergências

no ato registral.

2 Premissa
Nossa aula será dividida em duas partes, a primeira cuidará das possibilidades de retificação do registro e a

segunda do procedimento de suscitação de dúvida.

Porém, antes de ingressar nas hipóteses que determinarão a necessidade de retificação não podemos deixar de

comentar o que fundamenta a possibilidade de retificação do registro, apesar de sua presunção de veracidade.

De fato, os registros, sejam eles de pessoas, documentos ou imóveis, em virtude da fé pública que os cercam

gozam de presunção de veracidade, ou seja, de que os dados ali constantes são verdadeiros, correspondendo à

exata realidade.

Em sentido contrário, temos de admitir sempre, a possibilidade de inexatidão do registro. E assim, o princípio da

verdade real, que norteia não somente o contraditório e a ampla defesa, mas também o Direito Civil, também

norteará o registro público.

Em outras palavras, afirmar que, na análise do registro público, devemos sempre admitir a possibilidade de

inexatidão e ainda ter como princípio norteador o princípio da verdade real, significa não admitir a presunção de

veracidade como absoluta. Em princípio, o conteúdo que consta do registro é verdadeiro e deve ser respeitado

como tal.

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Porém, se observado que há qualquer incorreção no registro, deve ser prestigiada a verdade real, ou seja, a

verdade dos fatos, para que o registro, ainda que tardiamente, resulte na total expressão da verdade. Por tais

fatos, sempre que necessário será realizada a retificação do registro.

Fique ligado
Nesse sentido, vem se posicionando o Superior Tribunal de Justiça, como abordado no Resp.
1.123.141, no voto do Ministro Luis Felipe Salomão: “O princípio da verdade real norteia o
registro público e tem por finalidade a segurança jurídica. Por isso que necessita espelhar a
verdade existente e atual e não apenas aquela que passou”.

3 Segurança Jurídica
Por outro lado, o procedimento de retificação do registro público deve ser cuidadoso e justificado, por questões

de segurança jurídica, sob pena de se permitir todo tipo de fraude.

É nesse momento em que será importante verificar se a retificação que pretende o interessado pode ser

realizada por procedimento extrajudicial ou dependerá de procedimento judicial com oitiva do Ministério

Público.

Em regra, quem determinará a possibilidade de se requerer a retificação diretamente ao oficial do registro

público será a Lei, como veremos a seguir.

4 Retificação Extrajudicial
Em princípio, a retificação de registro público deve ser feita através de procedimento judicial, movido pelo

interessado, com a oitiva de outras pessoas que eventualmente possam ser atingidas pela retificação pretendida,

que serão denominadas como prejudicado ou interessado.

Como exemplo de outras pessoas que podem ter interesse no ato podemos citar o genitor que não representa

criança em pedido de retificação de registro de nascimento ou os confrontantes em retificação de registro

imobiliário.

Saiba mais

Na tentativa de facilitar o processo de retificação quando se tratar de situações de baixa

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Na tentativa de facilitar o processo de retificação quando se tratar de situações de baixa
complexidade, de erros grosseiros e ausência de prejuízos a terceiros, em 2009, a Lei 12.100
/2009 alterou dispositivos da Lei 6.015/73 — Lei de Registro Público — permitindo a
retificação extrajudicial em determinados casos. Atualmente, contamos com a possibilidade de
retificação extrajudicial do registro em conformidade com os artigos 40 e 212 da Lei de
Registro Público.

5 Retificação de Registro de Pessoas


O art. 40, da Lei 6.015/73, tratando do registro de pessoas, dispõe que:

“Fora da retificação feita no ato, qualquer outra só poderá ser efetuada em cumprimento de sentença, nos termos

dos arts. 109 a 112”.

Pela análise dos dispositivos mencionados podemos afirmar, sem qualquer dúvida, que, em regra, o registro só

poderá ser retificado por determinação judicial.

A regra, portanto, é a necessidade de propositura de ação judicial devidamente fundamentada para a retificação

do registro.

Excepcionalmente, porém, será admitido o procedimento administrativo, previsto no art. 110, da Lei de Registro

Público, com finalidade de simplificar o exercício do direito pelo interessado. Fica evidente que a permissão de

correção administrativa é adstrita às hipóteses em que a correção que se pretende não envolve questões de

relevância de mérito como a paternidade ou outros elementos de igual natureza. Ou seja, a alteração legislativa

ora apresentada trata de um facilitador do exercício dos direitos do interessado sem qualquer violação da

segurança jurídica.

6 Retificação de registro de imóveis


A retificação administrativa do registro de imóveis é tutelada pelos artigos 212 e 213 da Lei de Registro Público

e podemos observar que sua concessão ao particular é mais abrangente do que as possibilidades que envolvem o

registro de pessoas.

A partir do que dispõe o art. 212, podemos concluir que, em casos de omissão, imprecisão ou o registro não

exprimir a verdade, a regra da retificação será o procedimento administrativo.

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A conclusão de que o procedimento se dará em sua totalidade extrajudicialmente, podendo ainda partir de ato de

ofício do oficial, com intervenção judicial exclusivamente em situações excepcionais parte da conjugação dos

artigos 212 e 213, da LRP, como bem assinala Walter Ceneviva:

Enquanto o art. 212 indica apenas requerimento do interessado e procedimento administrativo, o

art. 213 também autoriza ato de ofício. Há duas hipóteses de intervenção judicial:

a) o interessado requer a retificação diretamente ao juiz competente, para a processar, citados os

confrontantes e alienantes;

b) adotado o procedimento administrativo, havendo prejuízo para qualquer interessado ou terceiros,

o atingido pode requerer a retificação no juízo competente, assim qualificado na lei local. CENEVIVA,

Walter. Lei dos registros públicos comentada. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 483

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Tentando facilitar a concretização de o registro imobiliário refletir a verdade, não a verdade jurídica, como

afirma Ceneviva, mas a verdade dos fatos, isto é, que esteja em perfeita consonância com a realidade, a

retificação será requerida e realizada junto ao oficial do registro imobiliário.

Nestes casos, como o direito envolvido é patrimonial, não existindo, ao menos em regra, direitos existenciais

evidenciados na hipótese, só haverá intervenção judicial quando houver conflito de interesses.

Não havendo conflito de interesses, prejuízo ao interessado ou aos seus confrontantes, não haverá a necessidade

de participação do judiciário.

7 Prestação jurisdicional
A possibilidade de realização da retificação do registro imobiliário, ou mesmo do registro de pessoas por

procedimento administrativo não exclui a possibilidade de apreciação da questão pelo judiciário.

A possibilidade de apresentação da matéria à apreciação judicial é derivada não somente do direito

constitucional de ação, mas também diretamente da interpretação do artigo 40 e parágrafo único do artigo 212,

ambos da Lei de Registro Público.

Qualquer pessoa que se sinta prejudicada pela retificação do registro público realizada poderá colocar a situação

à apreciação do poder judiciário, através da ação judicial pertinente. Essa afirmação, em certa medida, parece

óbvia, não sendo, contudo, irrelevante ressaltar a possibilidade de se proceder à retificação do registro público

pela via judicial.

8 Retificação judicial
Como já tratamos anteriormente, a retificação do registro público pela via judicial será a regra nos casos de

retificação nos registros de pessoas físicas, seja o registro de nascimento, casamento, óbito e averbações

pertinentes, sendo excepcionada nos casos em que se possibilita a retificação administrativa, como mencionado

anteriormente.

Quando realizada a retificação judicial, será competente a apreciação da matéria à vara de registro público, ou

segundo a organização judiciária da localidade, pela vara que detenha competência de registro público, quando

não existir juízo especializado.

Proposta a ação com a formulação de pedido de retificação de registro, o pedido será fundamentado e

normalmente vinculado à necessidade de que o registro reflita a realidade dos fatos, como corrigir o estado civil,

em determinada certidão de óbito, ou retificar a filiação ou nome dos avós e assim por diante.

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Neste procedimento, serão ouvidos todos os interessados. Por interessados entendemos aqueles que, de alguma

forma, podem vir a ser afetados pela retificação de registro público requerida. Será considerado interessado,

aquele que, de alguma forma, tiver interesse jurídico na retificação, seja o direito em questão existencial ou

patrimonial.

Fique ligado
Após a oitiva de todos os interessados será proferida a decisão, da qual, caberá recurso. A
sentença poderá ser declaratória ou constitutiva, dependendo do conteúdo da retificação.

9 Suscitação de dúvida
A suscitação de dúvida é procedimento tutelado pela Lei 6.015/73, Lei de Registos Públicos, tratada nos artigos

198 a 204 da LRP. Como tratamos, em nossas aulas anteriores, apresentado um título para registro, de imediato,

a fim de garantir a prioridade ou anterioridade do título é feita a prenotação.

Quando apresentado o título e após a análise, feitas exigências para o registro pelo oficial o interessado terá 30

dias para o cumprimento das exigências, sob pena de cancelamento, conforme art. 205, da LRP.

Por vezes, ainda no período determinado para o cumprimento das exigências, o interessado se manifesta no

sentido de não poder cumprir a exigência ou mesmo se recusar a fazê-lo.

Exemplificando, imaginemos uma determinada situação registral em que o oficial de registro solicita, sob o título

de exigência, a apresentação de determinado documento que não pode ser obtido pelo interessado, como a

apresentação de certidão de óbito de pessoa falecida há muitos anos, em outro país, em local desconhecido.

Em outras situações ainda, o interessado se recusa, por um motivo qualquer, em virtude de discordar da

exigência, por acreditar que o título a ser registrado atende a todas as formalidades necessárias. Nestas

situações, verifica-se um impasse, por um lado o interessado pretendendo a realização do registro e discordando

da exigência formulada ou não podendo cumpri-la; de outro lado posiciona-se o oficial do registro que entende

não dever proceder ao registro sem que tenham sido cumpridas as exigências apontadas após a análise do título.

É exatamente nestas situações que terá lugar a suscitação de dúvida pelo oficial do registro público, formulando

perante o juiz de registro público o questionamento sobre, se diante daquelas circunstâncias fáticas deve ou não

proceder ao registro.

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Saiba mais
Sobre o procedimento de dúvida e a sua natureza jurídica confira: www.anoregpi.org.br

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Reconheceu o processo de criação do condomínio edilício a partir de seus atos registrais;
• Analisou os atos relacionados ao condomínio edilício submetidos a registro imobiliário.

Referências
CENEVIVA, Walter. Lei dos registros públicos comentada. São Paulo: Saraiva, 2009.

LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros públicos. Teoria e prática. São Paulo: Método, 2012.

ORLANDI NETO, Narciso. Retificação do registro de imóveis. São Paulo: Del Rey, 1997.

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