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Julgado procedente o pedido

(Clique para resumir) Tribunal de Justiça de Pernambuco


Poder Judiciário 2ª Vara de Família e Reg. Civil da
Comarca de Garanhuns AV RUI BARBOSA, 479, - até
1061 - lado ímpar, HELIÓPOLIS, GARANHUNS - PE -
CEP: 55295-530 - F:(87) 37649074 Processo nº 0001551-
35.2022.8.17.2640 REQUERENTE: MARIA DAS GRACAS
LEITE ROCHA REQUERIDO(A): RICARDO LEITE ROCHA
SENTENÇA Vistos, etc. Trata-se de Ação de Interdição
proposta por MARIA DAS GRAÇAS LEITE ROCHA, por
meio de advogada constituída, em relação a RICARDO
LEITE ROCHA. Aduz a autora que é mãe do interditando, o
qual está sob os seus cuidados, posto ser portador de
enfermidade que o torna incapaz de exercer por si só, os
atos da vida civil. Pugnou pela interdição e em
consequência, que seja nomeado como respectiva
curadora do filho. Com a inicial vieram acostados
documentos que a autora entendeu necessários a
fundamentar o seu pedido. Decisão com deferimento à
curatela provisória (ID 111687924). Audiência em que se
deu a entrevista do interditando (ID 121584459). Certidão
do decurso do prazo para impugnação (ID 127365694).
Contestação apresentada pelo curador especial (ID
127750665). Juntada de laudo médico (ID 151034025).
Manifestação da representante do Ministério Público,
opinando pela procedência do pedido inicial (ID
159539502). É o relatório. Fundamento e decido. O Código
Civil, em seu art. 1.767, assim dispõe: Art. 1.767. Estão
sujeitos a curatela: I - aqueles que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento
para os atos da vida civil; A curatela objeto deste feito
representa instituto assistencial, de amparo e proteção,
com encargo deferido por lei a alguém para reger uma
pessoa maior de idade e administrar seus bens, quando
esta não pode fazer por si própria, em razão de deficiência,
que a torne incapaz para prática de atos da vida civil. O art.
2º do Estatuto da Pessoa com Deficiência, define pessoa
com deficiência como sendo: “(...) aquela que tem
impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou
mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas”. Vê-se, pois, que a pessoa com
deficiência tem capacidade plena para a prática de todos
os atos da vida civil, especialmente os chamados atos
existenciais, os quais estão elencados nos arts. 6º e 85 do
referido diploma legal.[1] No entanto, excepcionalmente,
uma pessoa com deficiência pode ser relativamente
incapaz, mas tão somente para a prática dos atos
patrimoniais ou negociais e ficará sujeita à curatela neste
último caso. No caso em comento, a interdição foi
requerida de forma a declarar a interdição do promovido,
por apresentar patologia que o torna incapaz para todos os
atos da vida civil. Neste diapasão, o art. 1.767, inciso I, do
Código Civil, com redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015, elenca as pessoas sujeitas à curatela, entre elas,
“aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
puderem exprimir sua vontade”. Primeiramente, é de
observar que a autora é parte legítima para requerer a
curatela, conforme disposição do art. 747, inciso II, do
CPC. Nesse passo, o interditando acostou laudo médico de
ID 151034025, comprovando a sua incapacidade. Restou
prejudicada a perícia médica considerando a dificuldade de
nomeação de outros profissionais habilitados em realizar a
perícia, uma vez que, pelo menos três dos nomeados por
este Juízo, todos já atenderam o interditando durante o seu
acompanhamento médico, gerando, por conseguinte, o
impedimento para exercer o encargo de perito no caso.
Além do atestado, também consta nos autos laudo
psiquiátrico lavrado por outra médica que, de igual modo,
corrobora e detalha a situação do requerido, ID 101314156.
Tais documentos devem ser admitidos como prova hábil a
demonstrar a condição mental do interditando, uma vez
que atende aos requisitos legais (art. 372, CPC). Nesse
passo, em resposta aos quesitos formulados, afirmou a
médica perita que o interditando é portador de transtorno
esquizoafetivo tipo maníaco CID10: F25.0 + F31.1, e que
em virtude de tal moléstia a incapacidade é definitiva.
Portanto, o laudo médico associado às informações
colhidas por ocasião da entrevista e da diligência realizada
in loco, apontam que o interditando não detém
compreensão total dos aspectos da vida ao seu redor,
sendo incapaz de levar uma vida totalmente independente,
enquadrando-se, pois, perfeitamente na hipótese legal do
art. 1.767, I, e art. 4º, III, do CC/02. Neste caso, na égide
do sistema atual trazido pelo Estatuto da Pessoa com
Deficiência, não cabe mais ao juiz aferir se há incapacidade
absoluta ou relativa, mas se existe ou não incapacidade
relativa para os atos negociais ou patrimoniais. Destarte,
comprovado nos meandros processuais que o interditando
sofre de enfermidade, de tal sorte a impedir de praticar por
si só os atos patrimoniais da vida civil, evidencia-se que o
pedido tem amparo no ordenamento jurídico. Ademais, as
provas emanadas do processo apontam no sentido de que
a pretensa curadora é a pessoa mais apta a cuidar do
interditando, reunindo em si todas as condições para o
múnus da curatela. Destaque-se o teor da diligência
realizada pelo Oficial de Justiça (ID 103648018), sendo
dispensável, portanto, a colheita de novas provas em
audiência, nos termos do art. 355, inciso I, do CPC, que
assim dispõe: Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o
pedido, proferindo sentença com resolução de mérito,
quando: I - não houver necessidade de produção de outras
provas; A jurisprudência tem sido pacífica no entendimento
quanto a necessidade de realização de audiência de
instrução e julgamento, nas ações de interdição,
posicionando-se que, após a apresentação do laudo, o juiz
só designará audiência de instrução e julgamento, se
houver necessidade de esclarecimentos do perito sobre o
laudo, ou para inquirir testemunhas, se houver. Entretanto,
se considerar desnecessária a realização de mencionada
audiência, o juiz proferirá sentença. É o caso dos autos.
Diante do exposto, e tudo o mais que consta dos autos,
com base no art. 1.767 e seguintes do Código Civil, JULGO
PROCEDENTE o pedido constante da inicial para: 1 -
Declarar a incapacidade civil relativa de RICARDO LEITE
ROCHA, brasileiro, solteiro, aposentado, portador do CPF
nº. 035.704.834-28 e do RG nº 5.018.561 SDS/PE (art. 4º,
III, CC/02), para a prática tão somente de atos meramente
patrimoniais ou negociais, sendo plenamente capaz para
os demais atos da vida civil, pelo tempo que perdurar a sua
deficiência, e, em consequência, decretar a sua interdição
relativa; 2 –Nomear curadora ao referido incapaz, sob
compromisso a ser prestado perante este Juízo, a Sra.
MARIA DAS GRAÇAS LEITE ROCHA, brasileira, viúva,
aposentada, portadora do CPF nº. 042.453.044-00 e do RG
nº 1.031.702 SDS/PE, a qual exercerá a curatela de modo
a assisti-lo nos atos patrimoniais ou negociais (art. 85,
caput, da Lei 13.146/2015), sem poder praticar pelo
interditado, atos de disposição, sem autorização judicial,
tais como emprestar, transigir, dar quitação, alienar,
hipotecar, e, em geral, os atos que não sejam de mera
administração (art. 1.782 do Código Civil, com as
alterações da Lei Nº 13.146, de 6 de julho de 2015), bem
como que os valores eventualmente recebidos da entidade
previdenciária, em decorrência da presente interdição,
deverão ser aplicados na saúde, alimentação e bem-estar
do interdito, ao passo em que extingo o processo, com
resolução do mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC.
Custas pela autora, ficando o crédito sob condição
suspensiva de exigibilidade, nos termos do art. 98, §3º, do
CPC, face a concessão dos benefícios da gratuidade de
justiça. Sem condenação em honorários advocatícios tendo
em vista a ausência de sucumbência. Esta sentença servirá
como MANDADO DE AVERBAÇÃO, devendo ser
encaminhada ao Cartório do Registro Civil – 1ª. Zona
Judiciária da Comarca de Garanhuns (PE), para fins de
promover a averbação no LIVRO E, da presente
INTERDIÇÃO, bem como a averbação junto ao assento de
nascimento do interditado, registrado CN 12835 l A95 F.13
CART.1° Distrito de Garanhuns/PE Lavre-se o termo de
curatela definitiva, após a inscrição desta Sentença no
LIVRO “E” do Cartório do Registro Civil - 1ª. Zona Judiciária
da Comarca de Garanhuns. Cumpra-se o disposto no art.
755 do CPC. Publique-se esta sentença, imediatamente, na
rede mundial de computadores, no sítio do TJPE e na
plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça,
onde permanecerá por 6 (seis) meses, na imprensa local, 1
(uma) vez, e na Imprensa Oficial por 3 (três) vezes, com
intervalo de 10 (dez) dias, constando do edital os nomes do
interdito e da curadora, a causa da interdição, os limites da
curatela e, não sendo total a interdição, os atos que o
interdito poderá praticar. Deixo de informar ao Cartório
Eleitoral correspondente a esta Comarca, para suspensão
dos direitos políticos do curatelado, uma vez que se trata
de ato existencial (arts. 6º e 85, §1º, do EPD) para o qual
tem capacidade plena. Publique-se. Registre-se. Intimem-
se. Cientifique-se o Ministério Público. Após o cumprimento
de todas as providências e trânsito em julgado, arquive-se.
Garanhuns/PE (data da publicação no sistema) ZÉLIA
MARIA PEREIRA DE MELO Juíza de Direito [1] Art. 6o A
deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa,
inclusive para: I - casar-se e constituir união estável; II -
exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito
de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a
informações adequadas sobre reprodução e planejamento
familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a
esterilização compulsória; V - exercer o direito à família e à
convivência familiar e comunitária; e VI - exercer o direito à
guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou
adotando, em igualdade de oportunidades com as demais
pessoas. (...) Art. 85. A curatela afetará tão somente os
atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e
negocial. § 1o A definição da curatela não alcança o direito
ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à
privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. §
2o A curatela constitui medida extraordinária, devendo
constar da sentença as razões e motivações de sua
definição, preservados os interesses do curatelado. § 3o
No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao
nomear curador, o juiz deve dar preferência a pessoa que
tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitária
com o curatelado.

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