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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA __ VARA DE FAMÍLIA

E SUCESSÕES DA COMARCA DE TERESINA-PI

XXXXXXXXXXXXX, brasileira, solteira, desempregada, RG n° XXXXXXXXXX,


CPF nº: XXXXXXXXXXX, residente e domiciliada na XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXX, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, por seu advogado
que esta subscrevem, propor a presente

AÇÃO DE INTERDIÇÃO COM PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE


URGÊNCIA ANTECIPADA

de xxxxxxxxxxxxxxxx, brasileira, solteira, RG nº XXXXXXXX, CPF nº


XXXXXXXXXXXXXXX, residente e domiciliada na XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXX, fazendo-o com base nos fatos e fundamentos jurídicos
expostos a seguir, para, ao final, postular:

I- PRELIMINARMENTE
I. 1 – DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA
A Requerente é pessoa economicamente vulnerável e hipossuficiente na forma da lei,
não podendo arcar com as custas judiciais e os honorários advocatícios sem comprometer a
própria subsistência. Destarte, visto ser o acesso à justiça direito fundamental de pleitear todos os
outros direitos em condições de igualdade com a parte contrária, a requerente, na presente

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demanda, resta assistida por esta Defensoria Pública Estadual, conforme declaração anexa, com
esteio na LC nº 80/1994 e na LC estadual nº 03/1990.
Assim, pugna-se, desde logo, a isenção de quaisquer custas e emolumentos, assim
como a obrigação de arcar com honorários advocatícios ao final, como benefícios da Justiça
Gratuita, preconizados no inciso LXXIV, do art. 5º da CF/88, da Lei nº. 1.060/50, arts 98 e 99 do
CPC.
I. 2 – DA AUSÊNCIA DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS
À luz do que dispõe o art. 976 do Código de Processo Civil, vale afirmar ao Douto
Julgador que o caso em tela não se trata de uma demanda repetitiva, nem configura um risco de
ofensa à isonomia e nem à segurança jurídica.
I.3 – DA IMPOSSIBILIDADE DE APRESENTAÇÃO DE ENDEREÇO ELETRÔNICO
DAS PARTES
Tanto a parte autora quanto o réu são hipossuficientes e não possuem acesso à rede
mundial de computadores, razão pela qual não é possível informar seus endereços eletrônicos.

II– DOS FATOS


A requerente é irmão da interditanda, que de acordo com o atestado médico em anexo,
sofre de Esquizofrenia Indiferenciada, sob a CID – 10 F 20.3, Epilepsia, sob a CID – 10 G 40.9,
Hipertensão Arterial, sob a CID – 10 I.10 e Diabetes Mellitus, sob a CID – 10 E 11.8. Doenças
que ela apresenta desde a infância e que lhe deixaram com sequelas cognitivas, perda importante
da autonomia e episódios de agressividade, o que gera grande dependência de cuidado de terceiros
para se alimentar, para fazer higiene pessoal, etc.
A interditanda não possui filhos, não é alfabetizada e a requerente é responsável por
todas as despesas da interditanda. Ela não possui bens móveis ou imóveis sobre sua propriedade e
a única fonte de renda que possui é seu Benefício de Prestação Continuada, no valor de um salário
mínimo.
Faz-se mister informar que a interditada não possui mais seus genitores (certidões de
óbito em anexo), e seus irmãos estão de acordo com a interdição da mesma (termos de curatela em
anexo)
A requerida faz uso de várias medicações, cujos receituários seguem em anexo.
A demandada passa a maior parte do tempo fica parada, catatônica, triste, não possui
iniciativa nem boa coordenação motora, não articula bem o raciocínio, tem esquecimentos, crises,
agressividade, picos de humor e isolamento.
A requerente deseja interditar seu filho para que ela possa administrar todos os atos da
vida civil em nome do interditando, assim como continuar a receber o benefício do interditando e
assim melhor atender às suas necessidades.

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III – DO DIREITO
A interdição das pessoas incapazes e a instituição da curatela são importantes
institutos jurídicos do direito civil. Ao longo do tempo, a curatela serviu como instrumento
voltado para a proteção do interesse patrimonial e a defesa do curatelado.
Todavia, a dignidade da pessoa humana ao ser reconhecida como valor fundamental,
inerente à pessoa e a humanização das relações sociais e jurídicas, notou-se a insuficiência dos
institutos citados e a necessidade de profundos ajustes.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei 13.146/2015, veio regulamentar esses
institutos com o intuito de promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos
os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência, além de
promover o respeito pela sua dignidade.
A curatela passa a ter índole de medida excepcional, a ser adotada somente quando e
na medida em que for necessária. Portanto, preza-se a análise de cada caso concreto, nos termos
do arts. 84, §3º e 85 do citado Estatuto.

Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza
patrimonial e negocial.
Trata-se de isonomia e respeito à pessoa com deficiência que a depender do grau desta
faz-se necessário à presença de um curador, que irá auxiliá-lo, especialmente, nos atos de natureza
patrimonial, visto que a pessoa com deficiência possui um impedimento físico, mental, intelectual
ou sensorial de longo prazo que obsta a sua atuação na vida social.
Dispõe o Estatuto:

Art. 2o Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo
prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma
ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdade de condições com as demais pessoas. (grifo nosso).

O novo Estatuto revogou os incisos do artigo 3º e art. 4º do Código Civil, deixando de ser
absolutamente incapazes os “que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento para a prática dos atos da vida civil” e de ser relativamente incapaz “os
excepcionais, sem desenvolvimento mental completo”. Assim, passaram a ser considerados
relativamente incapazes aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir
sua vontade.
Através da narrativa fática e pelo atestado médico em anexo, verifica-se que a
demandada é incapaz de gerir, por si só, os atos de sua vida civil, uma vez que necessita de ajuda

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para realizar suas atividades diárias, em razão da deficiência intelectual que a acomete. Logo, em
virtude da mencionada deficiência a requerida não possui condições de discernimentos adequados.
A manifesta incapacidade da interditanda para atuar na vida civil a torna sujeita à
curatela, conforme preceitua o artigo 1.767 do Código Civil:

Art. 1767. Estão sujeitos a curatela:


I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade;
II - (Revogado);
III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
IV - (Revogado);
V - os pródigos.
A medida é imposta através do processo de interdição a ser promovido pelos
legitimados previstos no artigo 747 do Código Processo Civil:

Art. 747. A interdição pode ser promovida:


I - pelo cônjuge ou companheiro;
II - pelos parentes ou tutores;
III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando;
IV - pelo Ministério Público.
§ único: A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a
petição inicial.

Conforme tal dispositivo, a requerente é parte legítima para figurar no pólo ativo deste
pleito, pois é irmã da interditanda, capaz de prestar-lhe plena assistência a este.
Segundo Beviláqua: “curatela é o encargo público, conferido, por lei, a alguém, para
dirigir a pessoa e administrar os bens de maiores, que por si não possam fazê-lo”. Logo, a
nomeação de curador ao enfermo ou pessoa com deficiência é medida que visa auxiliar a pessoa
que em razão de causa transitória ou permanente, não pode exprimir sua vontade, para ajudar estes
na administração dos bens e nos atos da vida cotidiana.
Diante da situação narrada, além das provas acostadas aos autos, verifica-se que a
interditanda é incapaz de gerir, por si só, os atos de sua vida civil. Tal incapacidade da requerida
para atuar na vida civil torna-a sujeito à curatela, não sendo suficiente o pedido de decisão
apoiada.

III.1 – DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA ANTECIPADA


Preceitua o Código de Processo Civil:
Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência.

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§ único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada, pode ser concedida
em caráter antecedente ou incidental

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil
do processo.
[...]
§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação
prévia.

Dispõem os artigos supracitados que a tutela pode ser concedida liminarmente, ou


seja, inaudita altera parte. Segundo MARINONI a concessão se dará quando “o tempo ou a
atuação da parte contrária for capaz de frustrar a efetividade da tutela sumária”, ainda, segundo o
doutrinador, “nada obsta que a tutela de urgência seja concedida em qualquer momento do
procedimento, inclusive na sentença” (MARINONI, Luiz Gullherme, et al. Novo Código de
Processo Civil Comentado. 1 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.).
Insta citar que o Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC), esclarece que:

Enunciado 32: A redação do art. 300, caput, superou a distinção entre os requisitos
da concessão para a tutela cautelar e para a tutela satisfativa de urgência, erigindo a
probabilidade e o perigo na demora a requisitos comuns para a prestação de ambas
as tutelas de forma antecipada.

No fomento caso, é manifesta a verossimilhança do alegado, por estar devidamente


incluído nas hipóteses legais de incidência da curatela, além da comprovação da patologia que
acomete a requerida que está inviabilizado de reger a si próprio.
A prova inequívoca está manifestada nas asseverações e na apresentação de atestado
médico que indica a real situação mental da interditanda, demonstrando a premente necessidade de
aplicação dessa medida acautelatória, para que não se lhe resulte prejuízos de ordem material e
processual, visto que o benefício tem caráter alimentar.
Ainda, dispõe o Estatuto da Pessoa com Deficiência, em seu art.87:

Art. 87. Em casos de relevância e urgência e a fim de proteger os interesses da pessoa


com deficiência em situação de curatela, será lícito ao juiz, ouvido o Ministério
Público, de oficio ou a requerimento do interessado, nomear, desde logo, curador
provisório, o qual estará sujeito, no que couber, às disposições do Código de Processo
Civil.

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A exposição fática explicita a possibilidade de haver dano irreparável, visto que a
requerente, é irmã da interditanda, necessita ser nomeada sua curadora para proteger os interesses
daquele. Assim, a demora na prestação jurisdicional pode ocasionar máculas irreversíveis aos
direitos da interditanda, incapaz de defender seus interesses senão por meio da irmã aqui
requerente.

IV – DO PEDIDO
EX POSITIS, a Autora vem à presença desse Juízo apresentar a atual postulação e a
faz com respaldo nos artigos 1.767 e seguintes do Código Civil, passando a requerer que Vossa
Excelência digne-se a:
a) A concessão dos benefícios da gratuidade da Justiça em sua integralidade, nos
termos da Declaração de Hipossuficiência Econômica anexa,consoante preconizam os artigos 98 e
99 do Código de Processo Civil;
b) A intimação pessoal da parte patrocinada quando o ato processual depender de
providencia ou informação que somente por ela possa ser realizada ou prestada, nos moldes do art.
186,§2º, do Código de Processo Civil;
c) A CITAÇÃO da interditanda, para comparecer à audiência a ser designada por
Vossa Excelência a fim de ser entrevistado conforme determina o art. 751 do Código de Processo
Civil;
d) Decorrido o prazo estipulado pelo artigo 752, caput, do Código de Processo Civil,
que Vossa Excelência nomeie o competente perito para a realização de exame médico-pericial no
Interditando com a elaboração do respectivo laudo;
e) Determinar a intimação do Ministério Público para que acompanhe o feito ad
finem, conforme art. 178, II, do Código de Processo Civil;
f) A antecipação da tutela provisória de urgência, nos termos do art. 300 do
Código de Processo Civil, para concessão imediata da CURATELA PROVISÓRIA a
requerente, mediante compromisso;
g) Decretar a INTERDIÇÃO da SraXXXXXXXXXXXXXXXX, por sentença, por
sentença, nomeando como sua curadora, sua irmã, a Sra. XXXXXXXXXXXXXXXXXX, nos
termos dos arts. 1.767 e 1.775 do CPC, para exercer, em nome daquele, todos os atos da vida civil,
bem como, logo em seguida, determine a intimação desta última para, no prazo legal, prestar o
compromisso do artigo 759, inciso I, do CPC;;

h) Ordenar que a respectiva sentença de interdição seja registrada junto no registro de


pessoas naturais e imediatamente publicada na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal
a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde

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permanecerá por 6 (seis) meses, na imprensa local, 1 (uma) vez, e no órgão oficial, por 3 (três)
vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, constando do edital os nomes do interdito e do curador, a
causa da interdição, os limites da curatela e, não sendo total a interdição, os atos que o interdito
poderá praticar autonomamente, tudo como ordena o artigo 755, §3º, do Código de Processo Civil.
Protesta-se provar o alegado por todos os meios admitidos em Direito, notadamente,
oitiva de testemunhas, juntada ulterior de documentos, perícia, bem como quaisquer outras
providências que Vossa Excelência julgue necessárias à perfeita resolução do pleito, ficando tudo,
de logo, requerido.
Dá-se à causa o valor de R$ 880,00 (oitocentos e oitenta reais).
Nestes termos
Pede e espera deferimento.
Teresina, 13 de setembro de 2016.

_________________________________
ADVOGADO
OAB XXXXXXXXX
ROL DE DOCUMENTOS:

1. Declaração de Hipossuficiência Econômica;


2. Documentos Pessoais da Requerente (RG, CPF, CTPS, Comprovante de residência,
Certidão de Nascimento);
3. Documentos Pessoais do Requerido (RG, CPF, CTPS);
4. Atestado, emitido pela Clínica Médica – Psiquiatria Clínica Dr Joaquim Ursulino Neto,
assinado pelo Dr Joaquim Ursulino Neto CRM 1204;
5. Atestado, emitido pela UBS Dr Félix Francisco Pereira Batista, assinado pela Dra Lílian
Raquel M de A matos CRM 2727;
6. Receituários médicos em nome da requerida;
7. Certidões de óbitos dos genitores da requerida;
8. Termos de Anuências e Certidões de casamento dos irmãos da requerida.

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