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ESCOLA DE DIREITO
CURSO DE DIREITO
CURITIBA
NOVEMBRO - 2018
I. INTRODUÇÃO
II. TUTELA
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VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil Vol. 6: Direito de Família. 13. ed. São Paulo - Sp: Atlas,
2013. p. 457.
(hipóteses para a concessão da curatela - e, que veremos adiante), deverá o
anteriormente tutelado ter sua interdição decretada recaindo sobre ele o instituto da
curatela que possui por legítimo direito.
Ao contrário do que figura com a guarda, a tutela e o poder familiar são
incongruentes, ou bem vigora um ou bem vigora outro. Conclui-se, portanto, que é
pressuposto da tutela a suspensão destituição ou extinção prévia do poder familiar.
Entende-se ser imprescindível que resida com o tutor nomeado pelo Juízo, a
criança ou o adolescente. O tutor deverá prover toda a assistência material, moral e
educacional de seu tutelado, assim como representá-lo ou assisti-lo nos atos
inerentes à vida civil em comum e na sua em particular. Insta dizer que também são
naturais deveres dos tutores os encargos previstos nos artigos 1740, 1741, 1747 e
1748, como bem afirmam os promotores de justiça paranaenses, Ildeara e Murillo
Digiácomo2.
Do que fora exposto, não significa dizer que é vedado ao tutor pleitear, em
Juízo, por alimentos ao seu tutelado em face de seus pais. O dever de alimentos,
ainda que suspenso, destituído ou extinto o poder familiar persiste e impera, vez que
é determinado pelo grau de parentesco.
O tutor é nomeado pelo Juízo e supervisionado pela mesma jurisdição. É
detentor de um múnus público (uma delegação do Estado - c omo Venosa gosta de
sintetizar), sua função é personalíssima e irrenunciável, em princípio. Somente uma
pessoa pode ser nomeada tutor, é unipessoal portanto.
É natural que toda pessoa que administre bens cuja propriedade é alheia,
preste contas na forma da lei. Assim, mesmo que os pais do tutelado isentem o tutor
da prestação das contas, como preconiza o artigo 1755 do CC/02, a obrigação se
inaltera. Ao cabo de cada ano administrando os bens alheios, o tutor submete seu
balanço à apreciação do Juízo para posterior chancela. Além da prestação anual de
contas, deverá também dar conta bienalmente, outrossim, sempre que deixar de
exercer a tutela e quando o juiz julgar por bem analisar os balanços. A falta de
prestação ou mesmo a desaprovação em Juízo destas, impele e motiva à destituição
2
DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Ildeara de Amorim. Estatuto da Criança e do
Adolescente; anotado e interpretado. Curitiba: SEDS, 2013. p. 42.
do tutor, assim como enseja no consequente aforamento de ação indenizatória em
favor do interessado, pelo Ministério Público.
Por fim, importa dizer que a destituição da tutela é medida aplicável ao tutor
que somente pode ser decretada pelo Juízo, em procedimento contencioso,
observando-se sempre a ampla defesa e o contraditório. Quanto a tal procedimento,
estabelece as normas o Código de Processo Civil (CPC/15), dos artigos 1194 ao
1198.
III. CURATELA
3
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro – Direito de família. Vol. 6. 14° edição. São
Paulo: Editora Saraiva, 2017, p. 687.
Contudo, as duas ainda apresentam diferenças que as distinguem quanto a
aplicação. Segundo o mesmo doutrinador, podem ser apontadas quatro diferenças:
curatela é destinada a maiores de idade, diferente da tutela, mas há exceções para o
nascituro; tutela sempre é diferida pelo magistrado; curatela não engloba a
administração da pessoa necessariamente, podendo ser voltada somente para os
bens; por fim, os poderes do curador não têm a mesma extensão do tutor.
Antes de apresentar as características dessa intervenção é importante
apontar que o Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei 13.146/2015 trouxe
alterações importantes. A pessoa com deficiência é considerada plenamente capaz
pelo art. 6 desta lei, ela só será decretada a sua interdição quando houver
necessidade, conforme do art. 84, § 1 estabelece, como medida extraordinária - § 3,
do mesmo artigo. Portanto, ao analisar este instituto jurídico deve-se considerar
tanto o Código Civil quanto o estatuto. Jurisprudência do TJ-RS exemplifica o caso:
O juiz também deverá pedir produção de prova pericial (art. 753), após o
prazo de impugnação de 15 dias do interditando, contado após a entrevista. O laudo
especificará quais atos necessitam de curatela.
Com o seguimento desses procedimentos e produção de provas, o
magistrado julgará a interdição - estabelecendo o curador e quais especificamente
atos estarão sob sua responsabilidade (arts. 754 e 755). Deve-se relembrar que é
temporal esta interdição, o prazo pode ser estabelecido pelo juiz, e a curatela poderá
ser revisada por ato do interdito, curador ou MP - sendo nomeada equipe médica
para avaliar, podendo ser levantada parcialmente (art. 756).
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BRASIL: Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência de 13 de dezembro de 2006.
Ratificada e Publicada no Brasil através do Decreto nº 6.949 de 25 de agosto de 2009. Art. 12.
Disponível em: <https://bit.ly/2szn0vS>. Acesso em: 20 de outubro de 2018.
5
BRASIL: Lei 13.146 de 06 de julho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência ou Estatuto da Pessoa com Deficiência. Disponível em: <https://bit.ly/2numMRn>.
Acesso em: 20 de outubro de 2018.
6
BRASIL: Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Arts. 3º e 4º. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 20 de outubro
de 2018.
Art. 3º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da
vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
Art. 5º. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa
fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante
instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por
sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de
emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos
completos tenha economia própria.
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BRASIL: Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Arts. 5º, I ao V e 1.783-A, §1º ao §11º.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso
em: 20 de outubro de 2018.
§ 2º. O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a
ser apoiada, com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o
apoio previsto no caput deste artigo.
§ 3º. Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada,
o juiz, assistido por equipe multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público,
ouvirá pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio.
§ 4º. A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre
terceiros, sem restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio
acordado.
§ 5º. Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode
solicitar que os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo,
especificando, por escrito, sua função em relação ao apoiado.
§ 6º. Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo
relevante, havendo divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um
dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir sobre a
questão.
§ 7º. Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não
adimplir as obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer
pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público ou ao juiz.
§ 8º. Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará,
ouvida a pessoa apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para
prestação de apoio.
§ 9º. A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de
acordo firmado em processo de tomada de decisão apoiada.
§ 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do
processo de tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento
condicionado à manifestação do juiz sobre a matéria.
§ 11. Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que couber, as
disposições referentes à prestação de contas na curatela.
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BRASIL: Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Art. 1.783-A. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 20 de outubro
de 2018.
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BRASIL: Lei 13.146 de 06 de julho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência ou Estatuto da Pessoa com Deficiência. Art. 84. Disponível em:
<https://bit.ly/2numMRn>. Acesso em: 20 de outubro de 2018.
mental), ou intelectual (déficit cognitivo), e a porta que agora se abre é de que eles
podem sim ter vontades satisfeitas, com o apoio daqueles que ele escolher, para
decidir sobre direitos negociais e patrimoniais, assistido por uma equipe
multidisciplinar nomeada pelo juiz prevista no §3º do art. 1.783 do CC/02. A lei não
fala quais profissionais, mas podem ser o psicólogo, o assistente social, um médico
da área da deficiência, que irão dizer se o pedido é compatível com o estado e a
deficiência daquela pessoa, também o juiz vai ouvir o Ministério Público e só após,
tomar a sua decisão sobre o pedido do deficiente.
Para isso deve haver necessariamente uma deficiência do apoiado com um
impedimento na esfera física, intelectual ou mental; é necessário também que nesta
petição seja delimitado quais serão estes atos passíveis de decisão dos apoiadores
em prol do apoiado §1º do art. 1.783 do CC/02, como por exemplo gerir um benefício
previdenciário ou uma conta bancária que são atos da vida patrimonial do deficiente.
Também o prazo de vigência também deve ser formalizado, pois não pode ser
permanente a lei prevê esta vedação no mesmo parágrafo, mas nada impede que se
peça uma prorrogação ou que se repita o pedido após o término do prazo estipulado.
Então os atos praticados pelo apoiado geram efeitos com relação à terceiros
§4º do art. 1.783 do CC/02, à exemplo os negócios firmados por ele, e serão estes,
válidos e eficazes. Tanto é assim que aquele que negocia com o apoiado (o terceiro)
pode exigir a assinatura dos apoiadores no negócio firmado como se observa no §5º
do art. 1.783 do CC/02.
Se houver uma discordância entre os apoiadores e o apoiado a lei prevê que
só pode levar a juízo de houver prejuízo ou um risco ao apoiado conforme o § 6º do
art. 1.783 do CC/02 para que o juiz resolva a questão. E se houver negligência ou se
um dos apoiadores não cumprir com a obrigação ou até mesmo se eles
pressionarem o apoiado a (realizar ou não) um negócio o §7º do mesmo artigo diz
que o próprio apoiado ou qualquer pessoa pode denunciar o fato ao juiz ou ao MP
para que tomem as decisões cabíveis. Se confirmada a denúncia o juiz ouve o
apoiado e depois pode substituir o apoiador dele (§ 8º do mesmo artigo).
Também é possível conforme prevê o §9º do artigo 1.783 do CC/02, a
qualquer tempo o apoiada pedir pra ser cessada a tomada de decisão apoiada,
como também pode o apoiador pedir pra ser excluído, basta que o juiz concorde
através de decisão e substituição dele. (§10 do mesmo artigo).
Como essa lei é nova como também seus efeitos na jurisprudência ainda são
novos, pode-se verificar em alguns julgados que a parte entrou com pedido de
decisão apoiada e o juiz a quo julgou interditando a pessoa e concedeu a curatela da
pessoa para um de seus apoiadores (fato ocorrido que foi para apelação e o TJ-SP
reformou a decisão) porque haviam laudos suficientes no processo de que aquele
deficiente tinha meios de gerir a própria vida através de decisão apoiada.
Vejamos a referida decisão:
V. CONCLUSÃO
VI. REFERÊNCIAS
BRASIL: Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Código de Direito Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 20
de outubro de 2018.
BRASIL: Lei 13.146 de 06 de julho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência ou Estatuto da Pessoa com Deficiência. Art. 84. Disponível em:
<https://bit.ly/2numMRn>. Acesso em: 20 de outubro de 2018.
BRASIL: ORTEGA, Flavia Teixeira. Jusbrasil.com.br. No que consiste a tomada de
decisão apoiada? – 2016. Disponível em: <https://bit.ly/2S56aPI>. Acesso em: 20 de
outubro de 2018.
CARVALHO FILHO, Milton Paulo. Código Civil Comentado. Barueri-SP: Manole, 2007. p.
1751.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. Vol. 6. 14°
edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2017, p. 687.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil Vol. 6: Direito de Família. 13. ed. São Paulo - Sp:
Atlas, 2013.