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AUTOR:1
Algumas de suas obras são índios e Criadores e O Messianismo Craô, hoje não
mais à venda. Leciona atualmente na Universidade de Brasília e regularmente oferece
dois cursos de extensão: Áreas Etnográficas da América Indígena e Mitologia indígena.
RESUMO DA OBRA:2
A relação interétnica conflituosa é definida pelo autor pelo ataque em 1940 dos
sertanejos sobre os indígenas. Esse acontecimento é registrado com a contagem de 26
índios craôs mortos e nenhum sertanejo. Ele começou com uma armadilha, quando um
fazendeiro da região, José Santiago ofereceu uma rês aos índios. Estes concentraram-se
na aldeia para comerem a oferenda do fazendeiro. Enquanto estavam reunidos, os
indígenas foram massacrados pelo fazendeiro. O líder no momento da tribo propôs uma
conversa com o fazendeiro que comandava. Primeiramente recebeu uma garantia de
vida, mas ao se aproximar dele foi morto. Depois do evento, uma unidade
governamental do S.P.I. foi instalada na região para garantir a segurança dos craôs.
Houvera uma punição aos responsáveis pelo massacre, contudo somente nominalmente.
A instauração da unidade do órgão federal auxiliava os indígenas, todavia a rixa com os
sertanejos continuava. A visão dos craôs quanto aos civilizados dividia-se entre os
distantes em grandes cidades, pelo tratamento aos indígenas e presentes concedidos,
enquanto os próximos, sertanejos, eram alvo da vingança dos craôs pelos constantes
ataques e invasões a suas terras. Esta dualidade na visão estará incorporada na
mensagem messiânica, pois a figura o messias será do civilizado distante o qual
distribui presentes, uma figura paternalista que se associa com Wapo. O autor termina
analise desse primeiro ponto apresentando outros grupos em que viam um beneficiário
no civilizado distante.
Em seguida, Julio Melatti aborda sobre o mito de Auke que serviu para
consolidar o movimento messiânico. O texto mostra as variações sobre esse mito que
passa por vários grupos. Apresenta-se a versão craô, algumas versões não ficam claro
quem foi o pai de Auke, porém outras indicam que é Papam – sinônimo de Pït que
significa Sol, traduzindo como Deus. Alguns dos relatos apontam que esta entidade
tomou formato de uma serpente para seduzir a mulher que seria mãe de Auke pela
relação com essa divindade. Fruto dessa união, Auke tinha poderes de se transformar em
animais, principalmente aquáticos. Segundo o mito, ainda no útero a criança conseguia
sair e se transformar em outros seres. Os poderes desse ser assustavam os integrantes de
sua tribo, e temiam que algum mal pudesse vir dessa criança. Então, a comunidade
decide mata-lo, quem é o responsável pela decisão vária de versão, podendo ser o avô
materno, o povo ou até o tio materno. Depois de diversas tentativas, queimam o menino,
o qual aparentava estar morto. Contudo, no lugar de sua morte encontraram uma grande
casa com diversas mercadorias e instrumentos, cada versão vária o conteúdo da casa.
Auke teria se transformado em no primeiro “cristão”. O texto indica que os objetos da
casa demonstram o poder dos civilizados possuíam. O mito varia neste momento. Uma
das versões aponta que Auke faz com os índios escolham entre um arco-e-flecha e uma
espingarda, como escolheram o primeiro recebem a cultura material indígena em vez da
tecnologia – os negros escolheram a espingarda, segundo o texto, assim ficando com a
tecnologia. Outra versão do mito, Auke engana os jovens a entram na casa e tranca-os –
tornando-se os primeiros civilizados –, enquanto os mais velhos são espantados por tiros
– permanecendo indígenas. Os craôs acreditam que a figura de Auke não morreu, ele
reside em algum centro urbano segundo os relatos dos indígenas.
Este mito, segundo o autor, surgiu para explicar a diferença de tecnologia entre
os grupos. Porém, ele deve ter uma origem em outro mito. Com isso Melatti apresenta
com outros grupos com uma mitologia similar. Os caiápo também possuem um mito, o
qual uma jovem tem relações com um lagarto, gerando um filho com poderes de
transformar neste animal. A aldeia assustada decide queimar a árvore onde abitavam os
lagartos com fogo. Entretanto, alguns conseguem fugir e se refugiam em uma aldeia que
se tornará a “cristã”. A jovem grávida também escapa de sua comunidade para ir até
este novo grupo. Alguns pontos dessa estória são similares com o de Auke, como a
relação sexual de uma jovem com criatura gerando um filho com capacidade de
transforma-se, e destruição pelo fogo. O autor questiona-se qual grupo influenciara
primeiro, craôs sofre os caiápo ou o contrátio. Contudo, Melatti afirma possibilidade de
uma terceira opção, considerando as características desses mitos como uma matriz
comum aos dois. Em seguida, apresenta-se outro mito desta vez do grupo bororo, o qual
tem uma mesma matriz com os craôs e caiápo por pertencer ao mesmo tronco
linguístico Jê. Similar aos outros dois, uma mulher chamada Aturuaroddo ficou grávida
devido ao contato com o sangue de uma sucuriju, não houve nenhuma relação entre o
animal e o humano neste caso. O filho antes de nascer conseguia sair do útero em forma
de sucuriju. Os irmãos da mãe matam o filho também através do uso do fogo, contudo a
suas cinzas transformam-se em plantas para uso dos bororo, não em outro ser.
Analisando esses três mitos, o autor afirma que Auke foi constituído por meio dessa
matriz comum após o contato com o civilizado. A presença constante do fogo mostra
também como este elemento simboliza o extermínio para esses grupos. Contudo,
Melatti a formação da estória de Auke não se deu somente pela alteração da tradição,
mas também do uso e mudança do mito de Adão e Eva que foi passado pelos civilizados
aos indígenas. A utilização desse conto pelas comunidades nativas ocorre para entender
também a diferença entre os “cristãos” e os indígenas. Novamente existe diversas
versões, algumas que se relacionam com a estrutura do mito de Auke, porém os pontos
interessantes dessa ressignificação de Adão e Eva seria a perda do paraíso para os
indígenas e não a toda a humanidade como no original, assim explicando a diferença na
relação interétnica.
O autor ainda aponta que José Nogueira visava uma transformação em “cristão”
não somente pela obtenção dos objetos, mas também no trabalho. Também, apresenta-se
o desejo de vingança que Nogueira alimentava pela morte de parentes seus no ataque de
1940. Melatti aponta José Nogueira tem um subconsciente que se relaciona com Auke, o
que levou a tomar certa posição do movimento. Por fim, o autor coloca que o vidente
organizou o movimento no momento propício para existir.
Uma das descrições canelas da lenda de Auke é a história de uma mulher que,
caminhando pelo rio, encontrou uma cobra, uma encarnação de Deus, e copulou com
ela, ficando grávida de Auke. Durante a gestação, a criança saía do ventre da mãe e se
transformava nas mais diversas criaturas. Ao nascer, atingiu a idade adulta na mesma
tarde, voltando a transformar-se em criança assim que os demais índios se aproximavam
para visitá-lo. A criança causou medo em seus pais, que decidiram matá-lo antes que
oferecesse riscos para a tribo. Para isso, a índia chamou seu pai (chamado de “tio”, em
outras versões) para dar cabo ao menino. O avô tentou dar fim ao menino três vezes,
obtendo sucesso apenas na terceira vez, quando o atirou em uma fogueira. Mais tarde,
os pais da criança foram até a floresta revirar as cinzas do menino, mas no lugar dos
restos da fogueira encontraram uma casa de telhas, com criações de gado e galinhas.
Auke havia se transformado em homem cristão civilizado, e tentou oferecer aos demais
índios a mesma condição, dando a eles o poder de escolher entre armas de fogo ou arco
e flecha, porém estes ficaram com medo e optaram por permanecer com suas armas
rudimentares, permanecendo assim como selvagens.
Porém, como descrito no texto, a mulher deu à luz um natimorto, fato encarado
como um suposto resultado do encantamento lançado por um índio apaniecrá. A própria
líder do movimento esclarecia que, na verdade, seu filho havia deixado o útero para
encontrar Auke no céu, mas que dentro de alguns meses, caso as danças e rituais na casa
da líder os agradasse, tanto a irmã quanto Auke voltariam para dar início ao período de
transformações na aldeia.
De acordo com o autor, uma possível causa das diferenças entre o movimento
messiânico ramcocamecrá e o craô se deve ao fato de que os craôs possuía redundâncias
em suas crenças. A ideia de que uma transformação de selvagens para civilizados
aconteceria repentinamente estava presente em ambas as crenças, entretanto a crença
craô carregava consigo a característica de “cargo cult”, ou seja, de que receberiam
animais e mercadorias, e acreditavam que a providência viria através da entidade
“Chuva”, que seria o redentor.
O autor finaliza o capítulo deixando em aberto o questionamento de por que as
tribos apaniecrás, crincatis e pucobiês, também de tradição timbira, em contato com o
mesmo segmento da sociedade brasileira e com os mesmso mitos não tiveram nenhum
movimento messiânico como os ocorridos entre os ramcocamecrás e craôs, ou se a
existência dos mesmos eram apenas desconhecidas. Questiona também quais seriam os
requisitos para assumir a liderança de um movimento dessa magnitude, visto que os já
conhecidos possuíram líderes tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão semelhantes.
CONCLUSÃO
Três textos que podem ser relacionados com o livro de Julio Melatti, O
Messiânismo Craô, são o texto “A socialiação primária” no livro A Construção Social
da Realidade de Berger e Luckmann3; a “Introdução: Tema, método e objeto desta
pesquisa” do livro Os Argonautas do Pacífico Ocidental de Malinowski4; e por fim o
livro Metáforas históricas e realidades Míticas de Sahlins5.
3
BERGER, P. LUCKMANN, T. A Sociedade como Realidade Subjetiva. In.: A Construção da Realidade.
Petrópolis: Vozes, 1988, pp. 173-184.
4
MALINOWSKI, B. Introdução: Tema, método e objetivo desta pesquisa. In.: Os Argonautas do Pacífico
Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1984, pp.17-34.
5
SAHLINS, M. Metáforas históricas e realidades Míticas. Rio de Janeiro: Jorge Jahar Editor, 2004.
integral da comunidade pelo convívio que Malinowski defende relaciona-se pela
abordagem que Melatti faz.
Por fim, a relação entre Sahlins com abordagens de mudança de uma estrutura
pela formação de uma conjuntura de mudança pode ser vista no movimento messiânico
craô. Contudo, o messianismo acaba se tornando em uma estrutura que se reproduz,
Melatti define esse movimento como cíclico entre um período de espera e atividade.
Portanto, o movimento se reproduz, assim fazendo parte de uma estrutura.