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HOBSBAWM, Eric. Os Camponeses e a Política. In: Coleção: Ensaios de opinião. Vol.

8. SUPLICY, Eduardo Mataraz. Rio de Janeiro: Inúbia, 1978, pp. 42-56

Apresentação do autor:

Eric Hobsbawm graduou-se em Universidade de Cambridge em História, depois


de um intervalo da Segunda Guerra Mundial, a qual o historiador participou, continuou
seus estudos de especialização na área na mesma instituição. Na década de 60 integrou a
Nova Esquerda Inglesa, o movimento de esquerda que se separou das vertentes
stanlinistas, alguns integrantes desse movimento foram Christopher Hill e Edward Palmer
Thompson. Algumas de suas foram: A Era dos Extermos de 1994; A Era dos Impérios de
1987; A Era das Revoluções de 1962; A História Social do Jazz (1962).

Análise da obra:.

Esse breve texto é um fichamento do artigo Os Camponeses e a Política de Eric


Hobsbawn, contido no livro Ensaios de Opinião, organizado por Eduardo M. Suplicy.
Como o título já sugere, o tema tratado por esse artigo é a problemática relação das
populações rurais com o movimento revolucionário de esquerda, situando as atividades
de revolta do campesinato com a revolução, o papel até conservador dessa classe com
relação ao rei e a Igreja, entre outros debates envolvendo a situação dos camponeses. O
historiador inglês divide o texto em quatro partes, porém não há um subtítulo
especificando o assunto, somente a numeração da parte.

O autor começa fazendo uma apresentação e delimitação dos dois tópicos


principais: a política, está sendo entendida no texto como a divisão da classe camponesa
e sua relação com outras, e os camponeses, estes o autor questiona a generalização feita
a esse grupo e aponta que o modelo campesinato não é mais aplicável. Em seguida, é
criticado a dicotomia entre sociedade “moderna” e “tradicional” em que os agricultores
são estabelecidos. Essa dualidade vem da mudança social ao capitalismo industrial em
que os campos de agricultura perdem a sua importância. Sobre essa diferença entre esses
dois períodos, o autor coloca que o modelo anterior de sociedade não é estável e constante,
e quanto as mudanças dessa nova sociedade não acontecem da mesma maneira a todas as
localidades. No meio desse debate, Hobsbawn aponta que os camponeses podem ser
estabelecidos no meio de dois extremos: a população rural da Rússia central no século
XIX descrito por Dobrowolski e as comunidades francesas também do século XIX
descritas por Marx em Dezoito de Brumário. O autor aponta que uma característica
tradicional e sempre presente dos camponeses é o aspecto coletivo que pode ser motivada
desde os aspectos econômicos ou políticos. O historiador inglês aponta que o interesse do
seu texto não é ver os camponeses no modelo “tradicional”, mais comum nos trabalhos,
mas analisar essas pessoas do espeço rural em transição como o “novo”, ou “moderno”.

Após essas delimitações do tema, o autor entra na questão dos camponeses como
classe, indicando a falta de unidade dessa classe. No sentido tradicional de relação com
os meios de produção, os agricultores são entendidos como classe, porém são
classificados a baixo de outras como operariado. O autor delimitando o entendimento dos
camponeses como grupo apresenta o ódio ou aversão aos citadinos e mercantes que são
vistos pela população rural como enganadores, o que acaba trazendo uma certa noção de
identidade dos trabalhadores rurais. Também é apresentado que a consciência de serem
pobres acaba também atribuindo um reconhecimento entre eles. A ação política que esse
grupo acaba exercendo é breve, como colocado pelo historiador, restringindo ao espaço
da comunidade, ou ao “pequeno mundo”, porém podem acabar se espalhando para outros
locais, colocado pelo autor como um “contágio”. O tamanho desse “pequeno mundo”
acaba sendo o local onde há uma consciência de classe, entretanto essa consciência é em
relação a comunidade e não a todos os trabalhadores rurais, o que leva a esses grupos do
campo se rivalizarem entre eles, além daquele que os explora. Essa situação leva a uma
dissolução da classe camponesa. Em seguida, o autor estabelece uma relação entre essa
comunidade rural, microcosmo, como um plano mais global, macrocosmo, atribuindo a
importância da relação entre esses dois para produzir uma decisão ou solução para grupo.
Partindo dessa relação de micro com o macro que Hobsbawn analisa, em seguida, o
conhecimento do camponês quanto a seu próprio país e instituições, apontando este saber
como incorreto ou fragmentário. Com isso o autor termina está primeira parte do texto.

Iniciando esta segunda divisão do artigo, trata-se da possibilidade da formação de


um movimento camponês nacional, ou uma revolta neste plano. O autor afirma ceticismo
quanto a este tipo de nível na organização rural, apontando que movimentos camponeses
dessa magnitude geralmente são um mosaico de grupos que projetam seus próprios
objetivos regionais. Também é colocado o caso da revolta ou movimento inicie em uma
posição estratégicas e amplie suas motivações para um plano nacional, como a Revolução
Mexicana. Em seguida, compara-se as organizações camponesas da Revolução Mexicana
e da década de 60 do Peru, o autor cita a questão dos “Cristeiros”, as lideranças de
movimentos e apresenta os objetivos e resultados dos movimentos. Terminando a
segunda parte, Hobsbawn apresenta que é um mito a concepção de um movimento
camponês tanto da esquerda quanto da direita, citando o caso “Pugachevshchina” para
apresentar essa idealização dos conservadores quanto a massa rural revoltosa. Por fim, o
historiador mostra que os camponeses, embora não sejam articulados para formar uma
revolta em padrões nacionais, se motivados por forças externas podem levar a um fator
considerado nas revoluções.

O começo da terceira parte é apontado a posição de inferioridade dos camponeses,


o que leva a sua limitação quanto a organização. Alguns fatores do porquê dessa fraqueza
são a falta instrução e como a economia sazonal agrícola interfere na mobilização da
classe. Depois, o autor questiona a posição dos agricultores, qual posição ideologia se
encontram: reacionários ou revolucionários. Hobsbawn mostra alguns exemplos para
contextualizar os dois casos. No intuito de responder a essa dualidade, analisa-se as
práticas dos camponeses. Apontando a sua passividade, e não desejo de mudanças, como
uma forma de confronto com os superiores, pois a sua não atividade e ignorância serve
como uma resistência ao controle das classes burguesas, segundo o autor. O agricultor
não age impulsivamente nessa resistência, ele lê o contexto político da situação e opta
ação que o beneficiaria. Abordando essa análise da população rural sobre a situação
política, o autor descreve como camponês em sua comunidade acaba observando, a
ligação com parentes nas cidades serve de referência e interpretação das mudanças nas
relações políticas na comunidade também. Alguns exemplos são mostrados para
representar essa situação. A confrontação era, segundo o historiador, um resultado da
exclusão do camponês dos meios políticos. Assim, Hobsbawn termina essa parte
apontando que o ato de revolta não sempre o confronto direto, mas a relação de poder, e
aborda a crença e esperança da classe rural no fim da burguesia. Novamente, o autor traz
exemplos para caracterizar sua fala.

A quarta e última parte analisa os camponeses no período moderno e as alterações


que acabariam ocorrendo em seu meio político. O primeiro fator interessante é a entrada
dos agricultores na visão política devido a ameaça de revolta e insurreição. Após essa
apresentação, Hobsbawn apresenta três elementos tradicionais que ligam o meio rural ao
Estado: o “rei”, a “igreja” e “protonacionalismo”. Na entrada da Idade Moderna, os
camponeses acabam se filiando a direita por causa desses três aspectos tradicionais.
Partindo dessa ligação conservadora, o historiador busca quando os movimentos rurais
ingressaram na esquerda revolucionária, citando no início do século XX na Rússia os
narodniks que colocam que a população do campo estava mais aberta a novas ideias. O
autor ainda cita a Itália com Garibaldi, colocando outros exemplos do posicionamento
político do campo. Porém, reforça-se a perspectiva de uma falta organização de objetivos
claros para movimentação. Terminando o artigo, Hobsbawn fecha com três
apontamentos: o primeiro é o desaparecimento desse confronto ideológico entre direita e
esquerda no campo, este espaço acaba sendo controlado por grandes latifundiários ricos;
o segundo ponto é a inacessibilidade dos agricultores ao meio democrático até a sua
representação não é possível, eles acabam sendo uma massa de votos para outros setores
da sociedade; o terceiro é a necessidade de intervir e guiar os camponeses como uma
figura de pai protetor, como Marx já havia posto no Dezoito de Brumário. Com isso
Hobsbawn finaliza o texto colocando o campesinato como classe sem organização e
consciência que acaba precisando de ajuda estatal para sua formação.

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