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ANOS 1960: CAIO PRADO JR.

A reconstrução crítica do “sonho


de emancipação e autonomia nacional”

José Carlos Reis

Caio Prado e seus Críticos

Analistas iconoclastas;
Coutinho talvez exagere ao afirmar que sua interpretação do Brasil é relativamente pobre
em categorias marxistas;
é circulacionista e usa mal, também o conceito de “burguesia”;
Sodré ironiza Caio Prado: ele afirma que o Brasil é capitalista desde a origem, quando nem
a Europa era capitalista.

Crítica ao seu economicismo.


Formação do Brasil contemporâneo revelaria este economicismo: divisão da obra em:
povoamento, vida material, vida social.

passagens economicistas também em Evolução política do Brasil,


Caio Prado afirma que “a sociedade colonial é o reflexo fiel da sua base material. Assim,
como o capital absorve a terra, o senhor rural monopoliza a riqueza e seus atributos… o
prestígio, o domínio”.

A crítica de “economicista” não é consistente, conclui, pois o que conta é a coerência da


obra (Novais, 1986). Diz Reis: se pode perceber a estrutura teórica profunda de um autor.

Além de economicista e circulacionista, Caio Prado é também censurado por não utilizar
fontes primárias e preferir as impressas. Ele não parece ser um frequentador de arquivos.
F. H. Cardoso vem em sua defesa: “Isto é um preconceito. Ele tomou fontes secundárias e
deu vida e significação interpretativa mais ampla a elas e foi capaz de oferecer um vasto e
novo quadro do Brasil” (Cardoso,1993).

Coutinho o censura por dar muita ênfase ao papel do Estado na transição ao socialismo, o
que não fez avançar a discussão fundamental das relações entre socialismo e democracia.
Em Caio Prado, o Estado ainda é autoritário (Coutinho, 1990).

Críticas dirigidas a ele pela esquerda depois de A Revolução Brasileira


E consideramos que é melhor assim: ele se torna, então, um interlocutor vivo, provocador,
estimulador de um debate rico e seminal. Falam de Caio Prado, logo, ele existe! Falemos
muito dele, bem e mal, e ele se tornará concreto, real, influente, vivo.

Caio Prado, o PCB e o Marxismo no Brasil

Na história do pensamento marxista brasileiro, Caio Prado é situado por Moraes e Mantega
em uma segunda fase, posterior à primeira fase da recepção dogmática, que vai de 1922 a
1940. Moraes a denomina “etapa de autonomização teórica” (1940-60), e Mantega,
materialismo funcionalista” (1950-60),
Afirma Reis: “Entretanto, talvez Caio Prado não se deixe fixar em nenhuma etapa definida.
Ele esteve presente em todas as fases, atravessando-as com inacreditável autonomia
intelectual desde 1933 até 1966”.
Talvez a melhor maneira de localizá-lo no pensamento marxista brasileiro fosse situá-lo-o
entre N. W. Sodré, historiador oficial do PCB, e o chamado “grupo d’O capital”, os marxistas
acadêmicos da USP. Seu pensamento representaria uma transição do dogmatismo
marxista-leninista ao marxismo mais teórico e refinado dos estudiosos universitários de
Marx, sem intermediários. Ele escreveu nos anos 1930-40 sem se deixar dominar pela
interpretação oficial, por isso não pertenceria plenamente a essa época. É prenunciador dos
pesquisadores ligados a F. Fernandes, mas é anterior a estes, pois tem uma formação
teórica menos elaborada, não podia ser indiferente à URSS, sofreu a sua influência e
debateu as questões propostas pelas esquerdas dominadas pelo PCB. A terceira geração,
além de ter um conhecimento conceitual mais rigoroso não só do marxismo como de outras
teorias sociais, pensará o Brasil de forma ainda mais independente do PCB e do marxismo-
leninismo. p. 129.

Mantega considera que Caio Prado seguiria a sua orientação teórica, enquanto o PCB
seguia a orientação de Lênin e da III Internacional, explícita e assumidamente. Caio Prado
rejeitava a análise do passado brasileiro da III Internacional e do PCB, bem como o seu
projeto revolucionário.

Essa vinculação de Caio Prado, alinhada com essa orientação do comunismo internacional,
não falará de feudalismo e nem de revolução democrático-burguesa, mas de subcapitalismo
e revolução permanente, que desembocará a longo prazo no socialismo, sem a etapa
intermediária da transição ao capitalismo, que seria desnecessária, pois o Brasil já era
capitalista desde a origem.

Seu objeto de reflexão e pesquisa é a especificidade do tempo histórico brasileiro, que pode
ser conhecida à luz do marxismo, desde que se evitem repetições teóricas mecânicas e
inadequadas à realidade brasileira (Mantega, 1984).

Porque A Revolução Brasileira?

A revolução brasileira é uma obra indispensável para se pensar o Brasil depois de 1964; e
1964 será um mirante ideal para se dar uma olhada no passado e no futuro do Brasil,
reinterpretando o seu passado e reconstruindo o seu futuro. Esse texto oferece uma visão
crítica do pensamento revolucionário brasileiro pré-1964. É uma obra sob o signo do diálogo
vivo, do debate sem eufemismos e meias palavras. É quase um bate-boca com o passado

espírito filosófico sobre o do historiador:


O esforço de síntese e a pergunta sobre o sentido caracterizam geralmente o
temperamento filosófico: uma preocupação com a identidade, com a origem e o destino,
uma interrogação sobre o ser brasileiro e sobre o tornar-se brasileiro.
Os analistas de Caio Prado, em geral, dão mais valor e atenção aos livros de 1933, 1942 e
1945. Poucos deram maior atenção a A revolução brasileira.
Trata-se de um livro de grande vitalidade. É um livro que faz uma crítica de esquerda muito
avançada para a época” (Cardoso, 1993).

F. H. Cardoso afirma algo que contestamos: “Não é um livro de historiador:

As teses são brevemente expostas e o são até repetitivamente, mas exigem para a sua
sustentação muitas informações históricas, evocam vivamente épocas passadas, ao mesmo
tempo que abrem o futuro à imaginação histórico-política. Além do seu valor teórico,
histórico e político, a obra é extremamente reveladora do seu contexto. Foi escrita em uma
situação de crise grave da democracia e do projeto socialista.
O sonho da revolução democrático-burguesa terminou no pesadelo-realidade da revolução
autoritário-burguesa, e as elites retomaram a sua posição de conquistadores do povo
brasileiro, descendentes dos descobridores do Brasil.
era urgente rever, repensar, reconsiderar as interpretações e propostas anteriores, apesar
da angústia e da emoção da derrota

A Obra: A Revolução Brasileira

Caio Prado começa discutindo conceitualmente o seu título. Revolução, ele afirma, não se
relaciona diretamente ao caráter violento, insurrecional, da conquista do poder por um grupo
social. O significado próprio deste conceito, onde cessa toda ambiguidade, se concentra na
transformação que este movimento realiza depois de conquistado o poder, e não na
maneira como se dá.

revolução é um processo social que realiza transformações estruturais em um curto período


histórico. É um momento de aceleração histórica, e é neste sentido que ele o usará em seu
livro.
A revolução brasileira iminente não pode ser definida a priori, antes de acontecer, por um
conceito preestabelecido, mas pela análise e interpretação da conjuntura econômico-social-
política concreta e real. É claro, no marxismo, a direção do capitalismo é para o socialismo.
Mas, esta previsão não tem data, ritmo e programa determinados. Ela não deve interferir na
análise e solução de fatos concretos.
O que interessa na ação revolucionária não é o que se proclama e projeta, mas o sentido
dialético da ação, a sua capacidade de abrir o futuro.

A insuficiência teórica levou as esquerdas a fazerem alianças espúrias. Bastou uma


passeata militar para impedir a sua revolução agrária, antifeudal e anti-imperialista. As
razões desse insucesso: a teoria da revolução brasileira era abstrata, constituída por
conceitos exteriores à realidade brasileira, esquemática, etapista, indo às avessas dos
conceitos aos fatos, quando se deveria ir dos fatos aos conceitos. A análise de Caio Prado
da teoria revolucionária que predominou entre as esquerdas lideradas pelo PCB nos anos
1922-64 fica, a cada página, mais áspera e hostil.

Os erros estratégicos dos revolucionários brasileiros


Primeiro: leram e interpretaram mal os clássicos marxistas;
Segundo: interpretaram erroneamente o passado brasileiro.
Usaram conceitos para os quais é difícil encontrar correspondente real: latifúndio, restos
feudais, camponeses ricos, médios e pobres, burguesia nacional… O modelo era o
feudalismo europeu.

Para Caio Prado, os teóricos da revolução brasileira são aprioristas e dogmáticos — ele o
afirma centenas de vezes. Em sua miopia teórica, viram o Brasil ainda dominado pelo
feudalismo.
A etapa revolucionária seria a da revolução democrático-burguesa, cujo modelo era
a ocorrida na Rússia czarista. A revolução democrático-burguesa seria agrária, contra o
latifúndio feudal e anti-imperialista. Entretanto, contesta Caio Prado, o Brasil não possui
restos feudais, pois aqui não houve jamais um sistema feudal.

Quando e como começou o Brasil? O Brasil surgiu no quadro da atividade europeia a partir
do século XV;
nossa formação se deu, essencialmente, para fornecer açúcar, tabaco, ouro, diamantes,
algodão, café‚ para o comércio europeu. Nada mais que isto.
Foi com tal objetivo, exterior, para fora, que se organizou a sociedade e economia
brasileiras.
Descobrimentos articulam-se num conjunto que é apenas um capítulo da história do
comércio europeu. A colonização do Brasil é um capítulo dessa história.

E desde o início, integrado à expansão mercantil europeia e exportando para lá o seus


produtos primários, produzidos em latifúndios escravistas, o Brasil é capitalista. A economia
brasileira nasceu como grande exploração comercial, criada pelo capitalismo mercantil
europeu e voltada para o mercado externo. O Brasil sempre compartilhou do mesmo
sistema e das mesmas relações econômicas que deram origem ao capitalismo.

O escravismo que predominou aqui não é incompatível com o modo de produção


capitalista.

No Brasil colonial, predominou a grande propriedade rural que produzia para exportação,
e não a pequena propriedade explorada por camponeses. No Brasil não se constituiu uma
classe camponesa, que produzisse em pequenas propriedades e em família. O trabalho
escravo era coletivo e cooperativo, assim como nas grandes fábricas, e não individual ou
familiar, como no feudalismo.

O que significa que o trabalho escravo não foi incompatível, mas funcional, com a
acumulação capitalista.

O escravo se aproxima do assalariado: é uma força de trabalho que não possui os meios de
produção, não decide sobre o produto a produzir, reivindica não os meios de produção, mas
melhor remuneração e incentivos.

Entretanto, talvez essa arriscada aproximação entre o escravo e assalariado, tentada por
Caio Prado, seja possível a curto prazo; mas, e a longo prazo? O escravo reivindica a
liberdade individual que o assalariado já possui. Essa diferença não os afasta
definitivamente?
Caio Prado quer enfatizar a importância da análise histórica, armada de boa teoria, para a
intervenção política. Se o Brasil é caracterizado como feudal, a luta dos trabalhadores rurais
será pela propriedade da terra. Será uma luta pela derrubada do feudalismo agrário. Mas,
para ele, este é um erro histórico, teórico e político. Os trabalhadores rurais não
reivindicam a propriedade da terra, insiste ele, mas a melhoria das condições de trabalho e
emprego. Se há luta pela terra, é em regiões secundárias do Brasil. E mesmo ali não
predominam relações feudais

Quanto ao imperialismo, para Caio Prado, o Brasil foi uma criação dele;

O PCB considerava que havia uma aliança dos latifundiários feudais com a burguesia
mercantil retrógrada e o imperialismo contra um setor da burguesia progressista, aliada ao
campesinato e ao proletariado na revolução democrático-burguesa. Mas tal composição
social e sua contradição não existem na formação social brasileira; talvez, existam na
Rússia ou na China.

A classe dominante brasileira é uma unidade na diversidade, um bloco sem cisões:


fazendeiros, estancieiros, senhores de engenho, usineiros, burguesia industrial e mercantil.
Esses homens circulam em várias dessas atividades ao mesmo tempo.

Não há uma “burguesia nacional”, industrial, que se oporia à burguesia mercantil e ao


imperialismo. São aliados, sócios.

A burguesia brasileira é heterogênea quanto à sua origem, mas homogênea quanto à


natureza dos seus interesses e negócios.

Os setores agrário e industrial não se opõem, são ligados. O capital que impulsionou a
indústria é de origem cafeeira. Muitos fazendeiros paulistas são também industriais.

A burguesia brasileira tampouco se opõe ao imperialismo; ela se subordina como um todo


ao sistema capitalista.

A burguesia brasileira nacional, anti-imperialista e progressista não tem realidade no Brasil.


Ao supor a existência de tal burguesia, o PCB cometeu erros políticos irreparáveis.

Caio Prado não obterá apoio unânime a essas teses.


Para Bresser-Pereira, não ver conflitos entre a classe agrário-mercantil e a burguesia
industrial é ir contra os fatos.

Gorender vem outra vez discordar de Caio Prado: se a burguesia brasileira não é
nacionalista, ela é “brasileira”, isto é, mesmo associada ao imperialismo, possui interesses
particulares, exige reserva de mercado. Há uma burguesia brasileira que possui interesses
próprios, joga o seu próprio jogo, querendo melhorar a sua posição no mercado capitalista
global (Gorender, 1989).

Portanto, retornando a Caio Prado, não se pode interpretar a realidade brasileira e traçar o
futuro a partir de situações incomparáveis com as nossas. É preciso partir do contexto
brasileiro específico para a sua interpretação. Este contexto deve ser considerado
dialeticamente, não como eventos exteriores e estáticos, mas como uma transição
dinâmica, um processo que leva do passado ao futuro.

De colônia a nação estruturada — é nessa evolução que se incluem, para Caio Prado,
como elos de uma corrente, os fatos do presente.

A superação da economia colonial por uma outra voltada para a satisfação interna exige o
desenvolvimento das forças produtivas. O Brasil já é predominantemente capitalista, mas
não possui alta tecnologia. Ele possui somente as classes capitalistas: burguesia e
proletariado. Apesar disso, a economia brasileira continua colonial. O capitalismo brasileiro
é ainda colonial; ele precisa se tornar “nacional”.

A luta por melhor renda e por participação político-social conduz à integração nacional da
sociedade brasileira.
A luta sindical, particularmente a dos trabalhadores rurais, é essencial para o Brasil
nacional, independente.
Não se pode construir uma nação moderna sobre uma classe de trabalhadores em
condições de vida miseráveis.
Os trabalhadores rurais não lutam pela terra: eles querem melhores salários e melhores
condições de vida.

As dificuldades antepostas à construção da nação brasileira, integrada e independente,


ainda no interior do capitalismo, são várias:
A primeira, é a dominação pelo imperialismo da comercialização dos produtos primários
brasileiros; A industrialização brasileira não tem sido eficaz na produção da independência e
autonomia nacional. Ela ao mesmo tempo mudou muito a realidade brasileira e reforçou e
renovou o sistema colonial.

A luta contra o imperialismo exige reformas


Mantega discorda de Caio Prado: nos anos 1960, o Brasil já realizava uma acumulação
industrial capitalista. Embora dependente, isto não o impediu de desenvolver uma
acumulação capitalista.
O capitalismo brasileiro, portanto, não tende à estagnação ou ao subcapitalismo (Mantega,
1984
Bresser-Pereira também não está de acordo com a análise de Caio Prado das relações
entre desenvolvimento e associação imperialista. Em sua análise, afirma Bresser- Pereira,
ele se recusou a reconhecer a emergência do capital industrial no Brasil nos anos 1930 e
reafirmou a continuidade do capitalismo mercantil ainda nos anos 1960 (Bresser-Pereira,
1979).

A segunda dificuldade a vencer é a estrutura agrária brasileira:


Seria preciso levar ao campo o capitalismo: tecnologia que torne os latifúndios mais
produtivos e melhores salários e condições de vida para o trabalhador rural, que o tornariam
consumidor de produtos industriais.
Portanto, a revolução brasileira não implantaria relações capitalistas e eliminaria restos
feudais, pois elas já vigoravam. A reforma agrária não seria necessária para o
desenvolvimento do capitalismo no campo.
Mantega discorda ainda de Caio Prado, quando este localiza o palco da revolução brasileira
no campo e desvaloriza o desenvolvimento industrial-urbano dos anos 1960. O epicentro
das transformações brasileiras já eram as grandes cidades, onde as massas urbanas
agiam.

Mantega afirma que a luta pela terra foi mais forte do que Caio supôs.

Teses Feudal e Capitalista e A Revolução Brasileira

O que significa a recusa da tese feudal e a sua substituição pela tese capitalista para o
Brasil, desde as suas origens?
Os defensores da tese feudal afirmam que a tese capitalista provoca um recuo,uma
concessão ao passado brasileiro. É uma tese atrasada, reacionária, que privilegia a
continuidade do Brasil colonial em prejuízo da mudança socialista. Caio Prado expressaria
um ponto de vista reacionário e atrasado e representaria um recuo, uma regressão na
consciência revolucionária socialista. Suas teses protegem a grande propriedade
latifundiária da redistribuição. Não seria pelo fato de sua família e ele próprio serem grandes
proprietários de terras?

Caio Prado e os Limites Estruturais de A Revolução Brasileira

Nossa análise da contribuição de Caio Prado vai em outra direção, mais teórica e
histórica.

Portanto, a percepção da continuidade na história brasileira não levou Caio Prado a uma
visão reacionária e atrasada do Brasil. Levou-o, pelo contrário, ao conhecimento dessa
realidade e dos limites que ela impõe às iniciativas idealistas, voluntaristas de transformá-la.

Sua análise representou um avanço teórico, um conhecimento mais aprofundado do mundo


histórico brasileiro, que é ele mesmo atrasado e reacionário. Não se vai de um passado
colonial à emancipação e autonomia nacional do dia para noite ou por uma decisão
arbitrária de intervir a qualquer custo, a golpes de ficção.

De que lado ficou Jose Carlos Reis?

As etapas brasileiras não são as mesmas de outras realidades, mas há etapas históricas a
serem superadas. O fim da história é o socialismo, mas este fim não pode se impor ao
presente autoritariamente, desconsiderando a sua relação com o passado. O presente
brasileiro tende muito mais ao passado do que ao futuro — impor-lhe o futuro seria
desconhecer esta realidade e abordá-la equivocada e perigosamente. O presente não pode
ser violentamente sacrificado em nome do futuro.
A luta pelo socialismo final exige paciência e adequação aos ritmos lentos da história
brasileira: será uma luta não sectária, não ansiosa, não neurótica, capaz de unir outras
correntes não socialistas em torno de objetivos não imediata e linearmente socialistas. As
vitórias devem ser construídas concretamente, com tolerância e concessões, com
negociações e diálogo, sem se submeter a esquemas abstratos preestabelecidos. Não é
porque uma mudança é racional que ela deva ser imposta ao presente — é irracional não
considerar os ritmos específicos do presente-passado.

A utopia que sustenta a análise do Brasil feita por Caio Prado é a da solidariedade
socialista, a do desenvolvimento de todos os povos em sua singularidade, com a sua
soberania, desenvolvendo-se e ajudando-se mutuamente sem se explorarem
reciprocamente.

O desenvolvimento autônomo não pode ser implantado radicalmente em um passado-


presente colonial. Ele será o resultado de um processo mais longo e lento, tortuoso, no qual
o proletariado urbano e o campesinato têm um papel fundamental se se mantiverem
autônomos em sua ação revolucionária.

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