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AURORA ano II número 3 - DEZEMBRO DE 2008_______________________________________________ ISSN: 1982-8004 www.marilia.unesp.br/aurora
Abstract: Tress if one panorama of debate about feudalism and capitalism in Brazil, to in sequence, to
punctuate the theses derived of “caiopradian” influence and to question the theoretical viability to think
one capitalist colonial Brazil. Behind others possibilities of reading, showed if two: pre-capitalism theses,
like Sedi Hirano interpretation, and one try of the actualization of the theses about feudalism to explain
the colonial period, of the historiographer, Marcos Del Roio. Finally, other consensus is questioned: the
PCB and yours theoretical mistake explain the crash of communist militancy in the countryside, at least
until 1964? Before of the totality this square of the possible interpretations, recover if, no only the debate
feudalism and capitalism, as well as the complexity and the so talked specificity of the Brazilian
formation.
Key-words: Brazilian social formation, feudalism, capitalism, peasant ship.
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podem significar consenso e de todo desqualificar o colonial brasileira. Primeiramente, porque Portugal
debate que durante anos animou décadas da seria marítimo e mercantil já nos séculos XV e XVI,
construção do pensamento social brasileiro. Há e o Brasil seria um episódio no quadro do
outras possibilidades de interpretação e é preciso prenunciamento da nova ordem (mundo moderno).
relacioná-las entre si e com os diversos aspectos da Portugal seria uma nação empreendedora – a
realidade da formação econômica e social brasileira. colonização “se origina de simples empresas
Assim como não se pode complicar o que é simples, comerciais levadas a efeito pelos navegadores
tampouco é aconselhável simplificar o que é daqueles países.”2 Essa idéia, expressa
complexo. Decorre disso, que é necessário tornar respectivamente em 1942 e 1945 (em Formação do
relativo o “esquema” teórico de Caio Prado e as Brasil Contemporâneo e História Econômica do Brasil),
“convicções” daí decorrentes, bem como a acusação reforça o que já se afirmava em 1933 na obra
de que seja o “esquematismo” teórico do velho Evolução Política no Brasil e outros Ensaios, onde tem-se
PCB a causa do “fracasso” da sua militância no que o surto marítimo fora “provocado por uma
meio rural. burguesia sedenta de lucros.”3
Ao analisar a comparação que Prado Júnior Não se tratava de organizar uma
faz entre a colonização da América do Norte e a do colonização de povoamento e sim “a produção de
Sul, na sua obra História Econômica do Brasil, Adorno gêneros que interessassem o seu comércio.” Para
levanta três observações: a primeira delas, e mais implantar a agricultura, o europeu viria como
significativa, diz respeito a indefinição da natureza “dirigente da produção de gêneros de grande valor
econômico social da empresa mercantil comercial, como empresário de um negócio
colonizadora. Ora, não se trata de feudalismo, rendoso, mas só a contragosto como trabalhador.”
embora o patrimonialismo expresso pelas sesmarias (PRADO JR., 1961, p. 16,17, 18, 19 e 23)
apontasse nessa direção, também não se trata de Assentado em grandes propriedades, na
capitalismo, haja vista, que não há separação radical monocultura e no trabalho escravo, do ponto de
entre trabalho e capital. Restava qualificá-lo de pré- vista internacional, a colonização dos trópicos toma
capitalismo, mas não haveria clareza na inserção da o aspecto de uma vasta empresa comercial
colonização no terreno da acumulação originária do destinada a explorar recursos naturais. “[...] nos
capital, já em andamento no mundo europeu, constituímos para fornecer açúcar, tabaco, [...]; mais
especialmente na Inglaterra. (Adorno, 1989, p. 241) tarde ouro e diamantes; depois algodão, e em
O segundo ponto, diz respeito a já seguida café para o comércio europeu.”(PRADO
ultrapassada idéia da determinação geográfica que JR., 1961,p. 252-256) O senhor de engenho ou o
serviu de base para sua argumentação na fazendeiro seria um “explorador, o empresário do
comparação entre a colonização da zona temperada grande negócio, o dirigente, e, sendo eles das
e da zona tropical. Finalmente, há uma imagem primeiras levas, são de origem ‘nobre ou
construída do colonizador: “o europeu só se dirige fidalga’.”Dado a falta de braços e a não emigração,
de livre e espontânea vontade quando pode ser um o trabalho escravo tornou-se necessário. (PRADO
dirigente, quando dispõe de recursos e aptidões para JR., 1961, p. 144) A partir desses componentes
isto, quando conta com outra gente que trabalhe desbrava-se o solo e instala-se nele o aparelhamento
para ele.”1Desse modo, de acordo com Adorno, material necessário, e com isto se organiza a
exclui-se outros móveis como o caráter aventureiro produção. (PRADO JR., 1963, p. 119-122)
intrínseco aos primeiros colonizadores. (1989, p O estudioso da formação colonial brasileira
241-243) Sedi Hirano questiona se caberia então insinuar a
Adorno não indica quais fatores hipótese da tese pré-capitalista na formação
obscurecem a “clareza” da relação entre a histórica do Brasil colonial (1989b, p.248) Todavia,
acumulação originária do capital na Europa, o que Caio Prado diria:
possibilitaria a qualificação de pré-capitalismo do
período colonial, bem como não questiona [...] alguns daqueles teóricos mais alertados passaram
a evitar a expressão ‘feudalismo’, e a substituíram por
radicalmente qual o “móvel” que orientava o ‘pré-capitalismo’[...] a substituição da expressão
colonizador. Seria mesmo o colonizador um feudalismo por esta outra pré-capitalismo não passa,
“empreendedor” ou “empresário” dirigente na teoria ortodoxa da revolução brasileira de um
capitalista? Não haveria algo mais do que o caráter expediente eufêmico. (Prado Jr., 1967, p. 46-47).
aventureiro dos primeiros colonizadores?
Iniciemos pela tese de Caio Prado Júnior,
segundo a qual existiu capitalismo na formação 2 Prado Júnior, C.P. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo:
Editora Brasiliense, 1961, p. 15 bem como, História Econômica do
Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1970, p.13.
1Prado Junior, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: 3 idem, Evolução Política no Brasil e outros Ensaios. São Paulo: Editora
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legistas e prelados no qual a própria Igreja legitimava colonização: “comercial e capitalista, constituindo o
a sujeição dos vencidos aos vencedores. (HIRANO, processo de formação do capitalismo moderno”.
1998, p. 09). Ora, mas a acumulação capitalista é resultado da
produção e reprodução ampliada do capital,
É sua tese afirmar que a formação colonial centrada na esfera da produção. É nela que se
brasileira não é nem feudal nem capitalista, é pré- produz, por meio da exploração do trabalhador livre
capitalista. O equívoco da interpretação que admite e assalariado, o valor que, ao se realizar na esfera da
um modo capitalista desde a gênese da colonização circulação, resulta na acumulação capitalista. Nesse
é o de extrair seus argumentos da esfera da sentido, o acúmulo do capital dinheiro realizado
circulação simples do capital, embutindo, sem mais, pelo comércio colonial sob regime do exclusivo
as determinações da esfera da circulação ampliada metropolitano resulta da circulação e não da
do capital. E é exatamente essa a concepção de produção, é portanto originário primitiva, não
trabalho escravo para Caio Prado. Em A Revolução capitalista, mas sim pré-capitalista.
Brasileira ele considera que os escravos seriam Nessa mesma linha segue, João Manuel
remunerados com alimentos, vestes e habitação, Cardoso de Melo para quem a economia colonial foi
além de obter trabalho autônomo aos domingos, e “reinventada através da produção mercantil do
que tais condições se aproximariam da de trabalho compulsório. 5 Nessa leitura do que seja o
empregado. (1966, p. 65,66) Brasil colônia, apesar das formas sociais pré-
Elide-se, dessa forma, a discussão sobre a capitalistas (trabalho servil e escravo), haveria
produção da mais valia a qual só pode ser gerada no formalmente capitalismo por que a escravidão seria
processo de produção capitalista resultante da introduzida pelo capital e a gênese da economia
utilização do trabalho livre assalariado, contratado, colonial receberia todo peso que lhe é devido.
na esfera da circulação, pelo capitalista. Resulta do (Cardoso de Melo, 1986, p. 44) Nesse capitalismo
equívoco destacado, que o trabalho escravo é “precoce” é confundido, segundo Hirano, o
reduzido a uma modalidade de capital variável, e conceito de subordinação formal do trabalho ao
para Marx a mão-de-obra escrava é uma modalidade capital, uma vez que, ela não ocorre na fase
do capital fixo. O senhor de engenho, nesse sentido, comercial/mercantilista – (acumulação primitiva do
comprava “força in natura”. Na transformação do capital), na qual a relação capital-dinheiro/trabalho
negro em “mercadoria escravo” e capital fixo, a não só admite como requer uma relação de
extração do excedente econômico se realiza através subordinação puramente política. Já, a relação entre
de métodos compulsórios e coativos. Não havia a o trabalhador e o capitalista na subsunção formal do
condição formal de “ser livre”, ou seja, uma trabalho ao capital, ela é uma relação econômica
legitimação jurídica-política para se transformar em (monetária) e não política. É uma relação entre
uma modalidade de capital variável, em mão-de- possuidor de mercadoria e possuidor de mercadoria,
obra assalariada e, enfim, em classe trabalhadora. “[...] não existe qualquer relação política, fixada
(HIRANO, 1988, p. 14-16) socialmente, de superioridade e subordinação.”6
Outra orientação, advinda da influência de Nessa corrente também se enquadra Maria
Caio Prado, privilegia o fato do Brasil colônia ter Sílvia de Carvalho Franco, para quem o capital
sua produção voltada para o mercado externo constitui-se em um princípio determinante das
(mundial), transferindo o lócus da circulação para o condições de existência social e de definição das
chamado capitalismo mercantilista, assumida por relações de dominação. Nos séculos XV e XVI o
alguns teóricos como já sendo uma etapa capitalista. trabalho escravo surgira definido como categoria
puramente econômica. 7 Furtado nega a existência
Na perspectiva mais geral, o antigo regime [...]
permitiu a formação e cristalização da etapa mercantil de feudalismo. Já em Fernando Henrique Cardoso,
do capitalismo (capitalismo comercial); [...]. essa questão é colocada da seguinte forma: “nas
(NOVAIS, 1979, pp. 13-14; 66; 62-63). Américas o capitalismo” [teria] reinventado a
escravidão ou a servidão, nem o fato de que as
Para Hirano, isso implica aceitar a etapa de ‘encomiendas’ e as outras formas de utilização do
acumulação primitiva/originária do capital como sobre-trabalho tenham existido – e ás vezes,
sendo, embora não seja, capitalista. Novais
reconhece que a acumulação realizada pelo
“capitalismo comercial”, com o apoio do “exclusivo
metropolitano”, era uma acumulação “primitiva”. 5 Capitalismo Tardio, 5° edição, São Paulo, Brasiliense, 1986, pp. 41, 36,
Todavia, ressalva que a metrópole através do 37 e 43
6 Marx, K. O Capital, Livro I, Cap. VI (inédito), São Paulo,Ciências
comércio colonial realizaria super lucros e tal regime Humanas, 1978, pp 56-57
de exclusividade comercial marcaria o sentido da 7 Carvalho Franco, M. S. Homens Livres na ordem escravocrata, São
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significa o mesmo que declínio do feudalismo, presta, pelo senhor ou proprietário sob cujas ordens
podendo mesmo indicar auge e saturação do modo e a cujo serviço se encontra. Deriva daí que o
feudal ante a sua superação pela forma capitalista. trabalhador nessa situação dirige sua luta principal
em sentido diverso do camponês, e essencialmente
no de melhorar quantitativa e qualitativamente sua
IMPLICAÇÕES DA QUESTÃO AGRÁRIA E DA remuneração e os recebimentos que percebe a título
MILITÂNCIA COMUNISTA de empregado. Eles não se orientam diretamente
para a ocupação e posse da terra. (Prado Jr., 1966, p.
Outro ponto a ser considerado, é a 65) Na prática da militância comunista no campo
implicação da justeza da crítica de Caio Prado a isso deveria significar a prioridade na sindicalização
respeito da falta de teoria revolucionária do PCB na dos assalariados rurais, na efetivação do salário
condução dos movimentos sociais, especialmente mínimo para o trabalhador do campo, bem como a
no campo. O fracasso de 1964 seria a prova extensão das leis trabalhistas ao meio rural. E, para
contundente dos equívocos da leitura dos dirigentes Caio Prado isso não era realizado pelo PCB, que ao
políticos comunistas. contrário “desorientava” a prática com a fórmula da
“revolução democrático-burguesa” contra os
Realmente, na ausência de uma tal teoria, e
incapacitadas por isso de se conduzirem na “restos feudais” e contra o “imperialismo”.
complexidade dos fatos reais que não se ajustam a Todavia, Luis Flávio Carvalho Costa, ao
seus esquemas teóricos sem correspondência com a pesquisar o sindicalismo rural brasileiro, encontrou
realidade, as esquerdas brasileiras não podiam como leituras opostas a de Caio Prado, como a de
de fato não lograram mobilizar efetivamente as
verdadeiras forças revolucionárias. No que se refere
Fernando A. Azevêdo (As ligas camponesas. Rio de
ao proletariado, não foram além de reivindicações Janeiro, Paz e Terra, 1982), segundo a qual, o PCB
salariais imediatas que a precipitada inflação tornava daria prioridade a organização de uniões,
fácil não apenas levantar, como de conduzir a associações rurais sob seu controle, a mobilização
aparentes vitórias. Isso nas cidades, por que no de assalariados agrícolas através da organização de
campo onde o assunto se apresentava muito mais
complexo, a coisa era pior, pois as prédicas para uma sindicatos. Lutas parciais, por salários, direitos, por
massa trabalhadora rural fantasiada para as acumulação de forças. (Costa, 1996, p.75)
circunstâncias de campesinato do tipo europeu dos Costa contrapõe Azevêdo dizendo que o
séculos XVIII e XIX, e as imprecações contra o PCB priorizava os não-assalariados, sem concordar
“feudalismo” não encontravam aí, nem podiam
encontrar nenhuma ressonância. (PRADO JR., 1966,
integralmente com Caio Prado Jr.. Para Costa, de
p. 24) fato existiu a preocupação com o “proletariado
rural”, mas ela não passou do papel, no Congresso
A transformação do latifúndio feudal em de 1961, prevaleceu a posição de Julião, líder das
exploração capitalista só teria sentido na Europa e Ligas Camponesas no Nordeste, e na prática a
na Rússia Tzarista, onde o senhor perde privilégios prioridade era voltada aos posseiros e arrendatários.
e se torna mero proprietário, condição peculiar que Isso, segundo Costa, estaria relacionado ao “curso
coadunará os interesses da burguesia e dos natural das lutas no campo”, que determinaria a
camponeses na disputa pela propriedade. Substitui- militância comunista no confronto com a realidade.
se o senhor feudal pelo camponês capitalista. Isso Pois, seria essa a camada que mais sofre com as
seria Reforma Agrária como parte de uma revolução injustiças sociais reinantes. O verdadeiro choque no
democrático-burguesa. (Prado Jr., 1966, p. 59) campo não se dava entre assalariados rurais, e sim
Não se aplicaria ao Brasil, pois: entre os pequenos proprietários, arrendatários,
posseiros frente aos grileiros e grande proprietários,
[...] faltou aqui a base em que assenta o sistema pelo menos até os idos de 1963. A partir de 1959 os
agrário feudal, [...], uma economia camponesa tal sindicatos rurais acolhiam as duas categorias, sendo
como acima conceituamos e que vem a ser a que a dos pequenos produtores sobrepujou a dos
exploração parcelaria da terra ocupada e trabalhada
individualmente por camponeses, isso é, pequeno assalariados. (Costa, 1996, pp. 77,78)
produtor.”( Prado Jr., 1966, p. 61) . A prioridade se deu no plano teórico,
confrontado com documentos da ULTAB, artigos
A grande propriedade brasileira se do “Terra Livre” e “Novos Rumos” nota-se que a
constituiria da exploração comercial em larga escala, gravidade dos conflitos e os papéis mais relevantes
não parcelaria e realizada por braço escravo. Ao eram outros. Afora regiões onde os assalariados
contrário do camponês que luta pela livre utilização agrícolas não eram maioria numérica. A previsão
e exploração da terra, o trabalhador da grande teórica de que com o avanço do capitalismo no
propriedade rural (escravo ou livre) seria mantido campo e a conseqüente proletarização (o próprio
remunerado ou compensado pelos serviços que Estatuto do Trabalhador Rural), trariam à tona as
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contradições do sistema e aguçaria a consciência dos monárquico capitalista e até mesmo feudal. E não
trabalhadores do campo, e que isso liberaria os se trata de mero jogo de classificações, implica
homens e mulheres do campo das práticas orientação ideológica-política que tem condições de
clientelísticas, não se concretizou. “No entanto, esse atuar sobre a realidade. Embora a idéia de revolução
processo de expulsão dos posseiros e a alteração das democrático-burguesa não tivesse correspondência
condições de reprodução de diversos segmentos de na formação das classes sociais presentes no
trabalhadores rurais acentuará justamente os período “mais quente” da polêmica (fim dos anos
conflitos que ocorrem com os não- cinqüenta e início dos anos sessenta), por outro
assalariados.”(Costa, 1996, p.80) lado, a concepção da aliança operário-camponesa
A lógica, segundo a qual, fora da influência lançou o PCB no trabalho pioneiro de organizar
e do mando do proprietário (proletarizando-se) os sindicatos rurais já desde meados dos anos quarenta,
trabalhadores estariam mais acessíveis para a bem como nas revoltas no meio rural em Porecatu
influência da militância se contradiz na prática. Os (PR) em 1950, Formoso e Trombas (GO), também
trabalhadores se tornavam mais arredios e nos anos cinqüenta, entre outros movimentos no
desconfiados em ralação ao assédio da militância, do campo daquele período. A Reforma Agrária se
que quando sob a condição de posseiro ou tornou tema de abrangência nacional o que nunca
arrendatário. Enquanto assalariado, teoricamente, o houvera sido e o Estatuto do Trabalhador Rural não
trabalhador se organizaria em sindicato e enfrentaria é senão resultado da luta e das contradições no
as contradições do mercado, mas na realidade, assim campo. O Golpe de 1964 pode ser lido, também,
que o sindicato resolvia uma pendência jurídica do como reação à ameaça de uma Reforma Agrária
trabalhador deixava de ser associado. Costa salienta radical.
que não há um tipo “puro” de trabalhador no O que não se pretende aqui é criar novos
campo, um único indivíduo pode passar pelas mais consensos, antes se trata de apontar o quanto, seja
diversas situações no campo, sendo ora no plano teórico ou prático, a realidade e as
arrendatário, ora assalariado, colono, etc. Fora a condições da história social do Brasil são complexas
procura por grandes centros, essa mobilidade e não admitem uma “palavra final” que encerre uma
constante era mais um fator que complicava a polêmica como esta do debate sobre o caráter da
organização.(Costa, 1996, p.82) Revolução Brasileira.
Em traços por demais esparsos, percebe-se ADORNO, Sérgio. As razões da colonização. IN:
que a polêmica em torno da transição feudalismo- História e Ideal. Ensaios sobre Caio Prado Júnior.
capitalismo, no que tange à história do Brasil, é Org. Maria Ângela D`Incão. São Paulo: Editora
muito mais do que querelas teórico-metodológicas Unesp; Secretaria de Estado e Cultura; Editora
anacrônicas e talmúdicas. Além de refletir as Brasiliense, 1989.
demandas derivadas de contextos e conjunturas
históricas precisas (anos trinta e o debate sobre BANDEIRA, Luiz Alberto. Aspectos feudais da
desenvolvimento/subdesenvolvimento, Stálin e o colonização do Brasil. Revista Espaço Acadêmico.n° 52,
esquema teórico etapista, Revoluções chinesa e set/2005.
cubana e a questão agrária, etc.), tal discussão era
colocada à prova no entrave político da militância CARDOSO, Fernando Henrique. Autoritarismo e
comunista no meio rural. Conhecer as democratização. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1975.
determinações do processo histórico brasileiro
passa necessariamente pelo conhecimento da CARDOSO de MELO, João Manuel. Capitalismo
natureza e das condições do sistema capitalista, bem Tardio. 5° edição, São Paulo, Brasiliense, 1986.
como pelas implicações da herança colonial.
Não é tão simples afirmar o caráter CARVALHO FRANCO, Maria Sílvia. Homens Livres
capitalista originário da formação social, econômica na ordem escravocrata. São Paulo, Instituto de Estudos
e política do país como grande preponderante na Brasileiros, 1969.
definição de todas relações derivadas dessa
formação. Há outras possibilidades de COSTA, Luis Flávio Carvalho. Sindicalismo rural
interpretação, que bem podem situar a colonização brasileiro em construção. Rio de Janeiro: Forense
como forma de produção pré-capitalista, ou Universitária: UFRRJ, 1996.
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