Você está na página 1de 1

BURGUESES E PROLETÁRIOS: A ascensão da burguesia no Manifesto

Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels


Resenhado por Sara Araújo de Sousa¹
No primeiro capítulo do Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels,
intitulado Burgueses e Proletários, os autores definem as bases do seu entendimento da
história como uma narrativa de luta de classe. Descrevem a evolução da sociedade e
afirmam que a história humana até então é marcada pela história das lutas de classes.
Segundo a perspectiva dos filósofos, a sociedade é dividida em duas categorias
antagônicas: os burgueses, detentores dos meios de produção, e os proletários, a classe
trabalhadora que vende sua força de trabalho. Neste capítulo, Marx e Engels descrevem
a ascensão da burguesia como uma força revolucionária que transformou as estruturas
sociais, reconhecendo a contribuição da burguesia na criação de um sistema econômico
mais dinâmico, superando as limitações do feudalismo.
No entanto, simultaneamente, criticam a burguesia por sua exploração da classe
trabalhadora, destacando como essa classe emergente concentrou poder, riqueza e meios
de produção em suas mãos. Essa concentração de poder, segundo os autores, gerou
contradições e desigualdades que formam a base das críticas ao sistema capitalista
apresentadas ao longo do manifesto.
Uma das críticas fundamentais à sociedade burguesa apresentadas no texto, é
como as relações de produção e a busca incessante pelo lucro moldam todas as facetas
da vida social, invadindo todo o mundo e incutindo cada vez mais novas necessidades
de consumo por todos os cantos do globo, monetizando tudo, inclusive as relações
interpessoais.
A linguagem utilizada é incisiva e provocativa, no intuito de despertar uma
consciência crítica nas massas, como um chamado. Marx e Engels argumentam que, ao
contrário das sociedades anteriores, onde as classes em conflito tinham interesses
mutuamente dependentes, a sociedade capitalista é única em sua natureza de exploração
direta do trabalho pelo capital.
Em suma, os autores expõem uma visão crítica do papel da burguesia na história
e destacam as injustiças e desigualdades inerentes ao sistema capitalista. Contudo, nota-
se uma simplificação da complexidade social para a lente de luta de classes, que acaba
negligenciando outras dinâmicas importantes na sociedade, deixando de lado outras
dimensões importantes de identidade, como gênero, raça e cultura. A
interseccionalidade desses fatores pode moldar significativamente as experiências
sociais, e uma análise mais abrangente enriqueceria a compreensão das estruturas
sociais.
O Manifesto Comunista foi escrito em um contexto específico do século XIX,
em plena Revolução Industrial, a obra analisa e critica bem o momento em que está
inserida. Todavia, a dinâmica social contemporânea é marcada por desenvolvimentos
globais, assimetrias econômicas entre países e influências culturais diversas. Ignorar
essas nuances pode limitar a aplicabilidade da análise marxista em contextos mais
amplos, pois ela atribui grande importância às forças econômicas, mas subestima o
papel das instituições e das políticas governamentais na formação das sociedades. A
interação entre economia, política e cultura é complexa e necessita de considerações
mais aprofundadas.

¹Graduanda no Curso de Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão.

Você também pode gostar