EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAMÍLIA DA
COMARCA DE GOIÂNIA - GOIÁS.
JOÃO GABRIEL DA SILVA, brasileira, menor impúbere, nascido
em 06/07/2010, portador do CPF n.º 068.636.321-36, neste ato representado por sua mãe, ELIZÂNGELA MARIA DA SILVA, brasileira, divorciada, desempregada, portadora do RG n.º 3754301/2ª via SSP-GO e do CPF n.º 587.492.171-00, residente e domiciliados na Rua AC-7, qd. 07, lt. 08, s/n, casa 01, Residencial Ana Clara, Goiânia - GO, CEP: 74.356-100, via de sua advogada subscritora, Zulmira Silva Gonçalves Moreira, brasileira, casada, advogada regularmente inscrita na Ordem dos Advogados de Goiás sob o n.º 21.994, com escritório na Av. Pedro Ludovico, 505, Setor Sudoeste, Goiânia - GO, CEP: 74.305-520, e-mail: zulmiramoreira@hotmail.com e whatsapp: (62) 99236.3440, vem à presença de Vossa Excelência com fulcro no § 7º do artigo 226 da Constituição Federal, Lei 8.560/92, artigo 27 do Estatuto da Criança e do Adolescente e artigo 1.609 do Código Civil, propor
AÇÃO DECLARATÓRIA DE PATERNIDADE POST MORTEM
em face de
GLEYCI FERREIRA, brasileira, maior e capaz, estado civil,
profissão, RG e CPF ignorados, filha de Lorival Ferreira dos Santos, já falecido, neta de Mariano José dos Santos e Maximina Ferreira dos Santos, portador do RG n.º e do CPF n.º residente e domiciliada em lugar incerto e não sabido, Whatsapp: (62)8345.8579. Preliminarmente, antes de entrar nos fatos, aduz o autor que o pai biológico, Sr. Lourival Ferreira dos Santos, cuja paternidade pretende ter reconhecida através da presente ação, tinha dois filhos, Gleyci Ferreira e outro do sexo masculino, ambos maiores e capazes, inexistindo, no entanto, informações a respeito do nome de um dos filhos, RG, CPF, qualificação dos mesmos e endereços, razão pela qual REQUER desde já as diligências necessárias para a coleta de tais dados, especialmente aos Cartórios de Registro Civil de Goiânia - GO,
conforme previsão do § 1º do artigo 319 do CPC, pelos fatos e fundamentos que passa a expor e que são:
I - DOS FATOS E DOS FUNDAMENTOS:
Em dezembro de 1989 a genitora do requerente, Sr.ª Elizângela Maria
da Silva casou com o Sr. Nilson José Carvalho, união da qual adveio o primeiro filho.
Da concepção e nascimento do autor e da recusa do pai biológico
de registrar o filho:
Em 2009 o casal supra citado separam de fato, mas não de direito,
ocasião em que a Sr.ª Elizângela conheceu e saiu algumas vezes com o Sr. Lourival Ferreira dos Santos, proprietário de uma distribuidora de bebidas no Bairro Itaipu em Aparecida de Goiânia, que na época também estava separado de fato de sua esposa, tendo um rápido envolvimento amoroso com o mesmo. Do rápido relacionamento a Sr.ª Elizângela ficou grávida do autor, João Gabriel, se recusando na época o Sr. Lourival a registrar o filho por medo da família descobrir o envolvimento amoroso, haja vista ter retomado o casamento com a esposa.
Do registro do autor pelo esposo de sua genitora:
Ainda grávida a mãe do autor também reatou o casamento com o Sr.
Nilson, que não obstante tivesse ciência de que não era o pai biológico do requerente, o registrou como filho. Cumpre informar a este juízo que o Sr. Lourival Ferreira dos Santos sempre teve ciência da existência do filho, pois a genitora do autor em seus primeiros anos de vida, frequentemente trocava mensagens com o mesmo enviando fotos da criança, tendo inclusive o pai biológico pago pensão alimentícia algumas vezes. Entretanto, com o passar dos anos, como o Sr. Nilson José Carvalho sempre cuidou do autor como se fosse seu filho, o tratando com muito amor e carinho da mesma forma que tratava o filho mais velho, a Sr.ª Elizângela foi perdendo o contato com o Sr. Lourival,
desistindo de ajuizar ação judicial com vistas a lhe obrigar a reconhecer a paternidade do filho biológico. Ocorre, Excelência que em 2018 o Sr. Nilson e a Sr.ª Elizângela puseram fim ao casamento, divorciando judicialmente, conforme comprova a certidão de casamento com averbação do divórcio anexa, constituindo a genitora do autor união estável com outro homem.
Da retirado do nome do Sr. Nilson José Carvalho do registro de
nascimento do autor:
E, após a Sr.ª Elizângela constituir novo relacionamento, não havendo
mais, portanto, qualquer possibilidade de reatarem o casamento, em 2020, o Sr. Nilson ajuizou uma Ação de Investigação de Paternidade em face do autor sob o n.º 5190478-94, em trâmite na UPJ de Família desta comarca, a qual em sentença transitada em julgada acabou por confirmar e declarar a negativa da paternidade, determinando a retirado de seu nome do registro civil do menor, conforme comprova o mandado de averbação anexo. Ressalta-se que após o ocorrido o Sr. Nilson cortou todos os laços afetivos com o menor, numa tentativa de punir à genitora do autor pelo divórcio, o qual embora feito de forma consensual, nunca foi de sua verdadeira vontade.
Do direito de filiação do autor. Violação que fere o princípio da
dignidade da pessoa humana:
É sabido Excelência que a ausência do nome do pai na certidão de
nascimento pode causar à criança prejuízos de ordem psicológica em função do estigma que, infelizmente, pode sofrer em função disso, abrindo portas para problemas em sua vida social, escolar e até profissional, violando o princípio constitucional da Dignidade da Pessoa Humana. Diante disso, ter o nome do pai na certidão de nascimento é um direito garantido pela Constituição, Lei 8.560/92, Estatuto da Criança e do Adolescente e artigo 1.607 e seguintes do Código Civil. Por esta razão a mãe do autor, após muitos anos sem falar com o Sr. Lourival tentou encontrá-lo através das redes sociais e qual não foi sua surpresa ao descobrir que o mesmo havia falecido em 07/11/2020, conforme comprova a anexa certidão de óbito.
Há que se dizer que conforme descrito na certidão de óbito o Sr.
Lourival Ferreira dos Santos deixou dois filhos legalmente registrados: Gleyci Ferreira e outro, frutos do casamento do mesmo, que constituem partes legítimas para figurar no pólo passivo da presente ação formando um litisconsórcio passivo, conforme entendimento jurisprudencial: “APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE POST MORTEM. HERDEIROS. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO UNITÁRIO. PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO COM RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. PAI REGISTRAL FALECIDO. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. INCLUSÃO DOS HERDEIROS DO PAI REGISTRAL. CASSAÇÃO DA SENTENÇA. O artigo 114, do Código de Processo Civil, estabelece que o omlitisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes. A não formação de litisconsórcio necessário unitário é tratada pelo artigo 115, inciso I, do Código de Processo Civil, de forma que a sentença de mérito proferida sem a integração do contraditório é nula, vício que pode ser alegado a qualquer momento e ser conhecida de ofício pelo juiz. A ação de investigação de paternidade post mortem deve ser proposta em face de todos os herdeiros do suposto pai biológico falecido. Além disso, na ação declaratória de paternidade, seja em decorrência de alegação de existência de vínculo biológico ou socioafetivo, quando constatada a preexistência de declaração registral de paternidade, mostra-se imprescindível a formação de litisconsórcio necessário também entre o suposto pai e o genitor registral, porquanto evidente que a procedência da pretensão de reconhecimento da paternidade gera repercussão na esfera jurídica de direitos e interesses daquele que consta como pai no registro de nascimento, e não apenas do investigado, razão pela qual deve ser chamado a integrar a relação jurídica processual. A falta de citação de todos os herdeiros do suposto pai, e do pai registral ou de seus herdeiros, caso já falecido, configura nulidade processual, devendo ser a sentença cassada e determinada a emenda à inicial, para regularização do polo passivo da demanda, sob pena de indeferimento liminar. (TJ-DF 07100584020198070016 - Segredo de Justiça 0710058, -40.2019.8.07.0016, Relator: ESDRAS NEVES, Data de Julgamento: 30/06/2021, 6ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no PJe : 14/07/2021)” (Grifo nosso) Ressalte-se da desnecessidade da formação de litisconsórcio passivo com o Sr. Nilson José Carvalho, diante da sentença transitada em julgado determinando a exclusão de seu nome do registro, o que inclusive já foi averbado no registro de nascimento do menor, tendo sido expedida nova certidão de nascimento sem o nome de pai.
Da tentativa de acordo extrajudicial antes da propositura da presente ação:
Após busca, a mãe do autor conseguiu o número do telefone da Sr.ª
Gleyci, (62) 98345.8579, ora requerida, a qual, após tomar ciência da existência da história narrada acima, através da advogada subscritora, numa tentativa de resolução do caso de forma extrajudicial e amigável, sequer teve curiosidade de ver uma foto do irmão, para constatação de possível semelhança física, se negando a fazer amigavelmente o exame de DNA, não restando outra alternativa ao autor senão propor a presente ação com vistas a ter judicialmente reconhecida a paternidade de Lourival Ferreira dos Santos, já falecido.
Da semelhança física do autor e do pai biológico falecido:
Depreende-se das fotos anexas que a semelhança existente entre o
autor e o Sr. Lourival Ferreira dos Santos corrobora com o pleito de reconhecimento da paternidade.
Da qualificação do Sr. Lourival Ferreira dos Santos:
Em busca junto ao Projudi se constatou a existência de um já
arquivado processo em nome do Sr. Lourival Ferreira dos Santos, em trâmite no ano de 2011 sob o n.º 7145787-43.2011.8.09.0061, cujos documentos pessoais foram extraídos a título de prova emprestada para compor a documentação necessária dos autos que se formarão do processo em tela. Diante disso, nos termos da Carteira de Habilitação anexa a qualificação do Sr. Lourival Ferreira dos Santos era brasileiro, nascido em 05/02/1955, filho de Mariano José dos Santos e Maximina Ferreira dos Santos, portador do RG n.º 1072202 SSP-GO e o CPF n.º 212.835.911-20.
1. A concessão dos benefícios da justiça gratuita nos termos da Lei
1.060/50, por ser o autor menor e não possuir renda, bem como por sua genitora se encontrar desempregada, conforme comprova a CTPS anexa, juntando ainda, para comprovar o alegado a Declaração de Hipossuficiência anexa; 2. Sejam oficiados os Cartórios de Registro Civil de Goiânia - GO, cujo rol com os respectivos endereços segue abaixo, para informarem se constam em seus registros (de nascimento ou casamento) o nome de pessoa filho ou filha de Lourival Ferreira dos Santos (CPF: 212.835.911-20), tendo como avôs paternos Mariano José dos Santos e Maximina Ferreira dos Santos, e em caso positivo, fornecerem nome completo, CPF e demais dados, se houver, para a devida qualificação: a) Cartório Silva (1º Registro Civil e Tabelionato de Notas) situado na Av. 85, n.º 2.451, qd.231, lts. 25/26, Setor Marista, Goiânia - GO, CEP: 74.160-010; b) Cartório Antônio do Prado (2º Registro Civil e Tabelionato de Notas), situado na Rua Geraldo Ney, esq. C/ Av. 24 de Outubro, n.º 156, Edifício Antônio do Prado, Setor Campinas, Goiânia - GO, CEP: 74.515-020; c) 3º Registro Civil e Tabelionato de Notas situado na Rua 07, n.º 369, Centro, Goiânia - GO, CEP: 74.023-020; d) 4º Registro Civil e Tabelionato de Notas situado na Av. Tocantins, n.º 283, Centro, Goiânia - GO, CEP: 74.015-010 De posse do CPF dos requeridos, REQUER sejam oficiados órgãos públicos (INSS, Receita Federal, Banco Central, Tribunal Regional Eleitoral, CAD Único) e, se necessário outros órgãos como os de proteção ao crédito, para fornecer a qualificação e o endereço atualizado dos requeridos para citação, conforme previsão do § 1º do artigo 319 do CPC; 3. A citação dos requeridos para querendo, responder aos termos da presente ação, sob pena de aplicação dos efeitos da revelia; 4. A realização do exame de DNA entre o requerente e os requeridos, filhos biológicos do Sr. Lourival Ferreira dos Santos, já falecido, para que seja comprovada a paternidade do mesmo, requerendo ainda o referido exame seja feito às expensas do Estado, vez que conforme exposto acima o autor e sua mãe não tem qualquer condição financeira de arcar com o pagamento do mesmo; 5. Em caso de recusa dos requeridos em realizar o exame de DNA, requer seja julgado procedente o pedido de declaração de paternidade do autor e de seu falecido pai
por meio da presunção, conforme § 2º do Artigo 2º A da Lei 8.560/92 e súmula 301 do STJ, determinando a expedição de Carta de Sentença para averbação junto ao Cartório Antônio do Prado, onde o requerente foi registrado; 6. Ao final, após o trâmite legal do processo, requer sejam julgados procedentes todos os pedidos formulados na presente ação para que o Sr. Lourival Ferreira dos Santos, portador, já falecido, seja declarado pai do autor, sendo isso averbado no registro de nascimento, bem como os nomes do avós paternos e o patronímico DOS SANTOS do de cujos; 7. Protesta provar o alegado por todos os meios de provas admitidos em direito, especialmente a juntada de documentos antigos que não são da ciência do autor, documentos novos, depoimento pessoal do autor, oitiva da genitora e de testemunhas; 8. Na oportunidade o autor manifesta interesse na realização de audiência de conciliação de forma presencial ou eletrônica, tendo preferência pela forma eletrônica. Dá-se à causa o valor de R$500,00 (quinhentos reais) para fins legais.