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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO BERNARDO DO CAMPO
FORO SÃO BERNARDO DO CAMPO – 2ª VARA DA FAMÍLIA
Rua Gaivotas, nº 359 – São Bernardo do Campo – SP, CEP 09126-000;
Fone: (11) 4342-1249; E-mail: sãobernardo2@tjsp.jus.br
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às 19h00min

SENTENÇA

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0324947-17.2022.5.19.0001 e código 96585D.
Processo Digital n°: 0324947-17.2022.5.19.0001
Classe – Assunto: Destituição de Paternidade Biológica / Reconhecimento de Paternidade Socioafetiva
Requerentes: Maristela Pereira dos Santos e outro
Requerido: Antônio Joaquim Santos

Justiça Gratuita

VISTOS.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por LEANDRO VIEIRA BRAGA, liberado nos autos em 01/06/2022 às 21:30.
MARISTELA PEREIRA DOS SANTOS, já qualificada nos autos, ajuízou a presente AÇÃO DE
DESCONSTITUIÇÃO DE PATERNIDADE BIOLÍGICA c/c RECONHECIMENTO DE
FILIAÇÃO SOCIAFETIVA com FELIPE RODRIGUES DA SILVA (segundo requerente), em face de
ANTÔNIO JOAQUIM SANTOS, objetivando a exclusão do pai biológico de seu registro civil, haja
vista o relato de abandono afetivo. Alega que foi abandonada pelo seu genitor após o divórcio dos pais e
acolhida afetivamente pelo parceiro da mãe.

O réu foi citado e ofereceu contestação refutando a pretensão da autora, e reconvenção, a fim de requerer
prestação de alimentos em seu favor, por não ter condições de arcar com o próprio sustento.

Réplica nos autos.


O feito foi saneado.

Realizada a audiência de instrução e julgamento, manifestou-se a perita psicóloga Juliana Siqueira, além do
depoimento pessoal das partes e oitiva das testemunhas.

É o relatório. Fundamento e decido.

É sabido que com o passar dos anos e gerações, o conceito de família se ampliou e vem se moldando
a realidade da nossa sociedade.
O Código Civil em seu artigo 1.593 conceitua parentesco como “...natural ou civil, conforme resulte de
consanguinidade ou outra origem”, concomitante a isso, a III Jornada de Direito Civil do Conselho da Jutsiça
Federal no enunciado 256, dispõe que “a posse do estado de filho (parentalidade socioafetiva) constitui
modalidade de parentesco civil.”
É inegável a presença de vínculo afetivo entre a autora e seu padrasto, que durante toda sua vida se
portou como um pai, o reconhecimento da paternidade socioafetiva é o que maior abraça os princípios
constitucioanais da dignidade da pessoa humana. No entanto, não se pode negar, também, que a Autora
possui e reconhece sua origem biológica, a qual , independente de qualquer barreira emocional, é imutável.
Sob este prisma, inclusive, é o entendimento do STF no Recurso Extraordinário nº 898.060 ao respeitar a
igualdade entre os vínculos socioafetivos e biológicos.

Ademais, o reconhecimento espontâneo de filho no registro público é irrevogável e irretratável, somente


podendo ser anulado se maculado por vício de consentimento, como erro, dolo, coação, simulação ou
fraude, o que não é o caso.

Nos presentes autos, não se vislumbra como motivação suficiente para desconstituição da filiação, o mero
rompimento da relação matrimonial dos pais e o acolhimento do parceiro da mãe.
O abandono afetivo, por sua vez, por mais infeliz que seja, não pode ser motivo de interferência no
registro civil, haja vista se tratar de um documento público de identificação.
Embora tal ato seja passível de indenizaçãoj por danos morais, a autora optou pela tentativa de exclusão do
pai biológico no assento civil, o que fere não somente o princípio da igualdade, como também o da
dignidade de ambas as partes.

Por outro lado, quanto ao pedido contraposto do réu, não restou comprovado a necessidade do genitor em
requerer a prestação de alimentos, nem a impossibilidade de auto sustentar-se, como ampara os artigos
1.694 e 1695 do Código Civil.
O mesmo possui outro filho, conforme relatado, com a necessidade da prestação de alimentos o pedido,
em ação própria, deveria ser realizado em face de ambos os filhos para obter-se a equidade e
proprocionalidade.
O único documento juntado para comprovar a possível necessidade, foi o extrato bancário do reconvinte,
que não logrou êxito em comprovar o alegado.
Quanto aos documentos apresentados em audiência, foram constados nos autos na data de hoje,
01/06/2022, sem sequer haver o pedido de juntada, além do mais, é aplicável a pena de preclusão, uma vez
que tais documentos deveriam ter sido juntados em sede de contestação e reconvenção, o que não fora
feito.

Por tais razões, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE a presente ação, para reconhecer FELIPE
RODRIGUES DA SILVA como pai socioafetivo de MARISTELA PEREIRA DOS SANTOS, sem que
haja a desconstituição da filiação biológica.
Em sede de reconvenção, julgo IMPROCEDENTE o pedido de alimentos, por ausência de provas
suficientes que comprovem a necessidade do reconvinte.
Após o trânsito em julgado, esta sentença valerá como mandado de averbação ao Oficial de Registro Civil,
para que, mantido o nome e ascendência de Antônio Joaquim Santos, passe a constar no assento de
nascimento da autora, também, o nome de Felipe Rodrigues da Silva como seu pai, inclusive com os dados
de qualificação dos pais de Felipe como avós paternos da autora, observando-se, ainda, a alteração do
nome da autora, ao qual passa a ser MARISTELA PEREIRA DOS SANTOS SILVA.

Partes isentas de custas.


P.R.I.C

São Bernardo do Campo, 01 de Junho de 2022.

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