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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 06ª VARA DA FAMILIA E SUCESSÕES DO


FORO CENTRAL DA COMARCA DE SÃO PAULO – SP.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1000178-22.2021.8.26.0704 e código B42D912.
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MAURICIO JOSE MARCHI, protocolado em 14/07/2021 às 11:39 , sob o número WJMJ21411391071 .
Processo n° 1000178-22.2021.8.26.0704

NATHALIA FERNANDA MINAS DE SOUZA, brasileira,


solteira, portadora da cédula de identidade RG nº 35258885-8 SSP/SP e inscrito no Ministério
da Fazenda sob o CPF nº326.323.848-50, com endereço situado a Rua Sertões do Canindé nº
144 – Bairro Vila Invernada - São Paulo – SP – CEP 03350-020, por seu advogado e bastante
procuradores, nos autos da ação em epígrafe que lhe move TACIANA MARQUES DE
SOUZA vem apresentar sua CONTESTAÇÃO com fundamento legal no artigo 335 do
NCPC, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:

1)– SÍNTESE DA INICIAL

1. Alega a autora, em apertada síntese que, no dia 12 de fevereiro de 2020, faleceu em São Paulo,
o de “cujus’, Sr. Carlos Ferreira de Sousa, que conviveu maritalmente com sua mãe Sueli Araújo
da Conceição, sendo que desta união veio, a filha Juliana Araújo de Sousa, a qual figura como
inventariante dos bens deixados, pelo falecido.

2. Sustenta ainda, que a herdeira/inventariante, dos autos do inventário de nº 1007877-


98.2020.8.26.0704, em trâmite perante a 01ª Vara da Família e Sucessões do Foro Regional
do Butantã – SP, reconhece como filha afetiva e coerdeira a autora da presente ação, conforme
declaração reconhecida em cartório.

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3. Segue narrando, que o inicio da relação entre a mãe da requente e ora de “cujus”, iniciou-se,
quando ela tinha 3 (três) anos de idade, ressaltando que, a partir deste momento, o afeto e o
relacionamento público, sempre foi de pai e filha.

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4. Ainda assim, quando a autora atingiu a maioridade, passou a residir em residência distinta,
mas mesmo assim, argumenta que a afetividade, o relacionamento e os cuidados recíprocos,
continuaram até o falecimento.

5. Outrossim, que a relação parental da autora, com o Sr. Carlos Ferreira de Sousa, era pública
notória e permanente, conhecida pela sociedade, conforme documentos que acompanham a
exordial.

6. Por tais razões, pleiteia ao final a procedência da ação, com o reconhecimento da filiação
socioafetiva e que seja reconhecido o direito a herança deixada pelo pai socioafetivo.

7. Entretanto, o pleito da autora não merece prosperar, como se demonstrará a seguir.

2) DA REALIDADE DOS FATOS.

8. Inicialmente, é imperioso esclarecer que, a realidade fática dos argumentos lançados pela
autora, não se mostram, conforme exposto na exordial, já que o pai da requerida, jamais
manifestou o seu interesse, em reconhecer a autora, como filha afetiva, em que pese a relação
estreita, que ambos tinham.

9. Há de ponderar, que tal situação, é facilmente demonstrada, haja vista que o de “cujus” Sr.
Carlos Ferreira de Sousa, antes do seu falecimento, pensou em todos os detalhes, tendo
manifestado apenas a vontade de deixar o seguro de vida, para o filho da autora (gabriel),
a fim de contribuir com os estudos da criança.

10. No entanto, jamais manifestou o interesse (vontade expressa) em reconhecer a autora, como
sua filha afetiva, porquanto a relação era estreitada, em virtude da relação que mãe da autora
(Sueli), tinha com o pai da requerida.

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11. Frisa-se, ainda, que caso o de “cujus” Sr. Carlos Ferreira de Sousa, quisesse realmente
reconhecer a autora como sua filha afetiva, teria deixado testamento, direcionando uma
parte dos seus bens e direitos a autora, mas assim, não o fez.

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12. No caso dos autos, o de “cujus’ Sr. Carlos Ferreira de Sousa, antes do seu falecimento, apenas

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manifestou seu desejo, de deixar o seu seguro de vida (Cetesb), para o filho da autora (Gabriel),
a fim de contribuir com os estudos da criança, o que a requerida, em nenhum momento
contestou ou contestará tal situação, já que este, foi um desejo expresso de seu pai, antes do seu
falecimento.

13. Aliás, a requerida, desde o momento do falecimento do seu pai, vem sofrendo forte pressão,
inclusive diversas solicitações, para que reconheça a autora, como sendo filha afetiva, a fim de
que os bens deixados pelo de “cujus”, sejam partilhados entre a autora (Taciana), a requerida
(Nathalia) e a irmã Juliana (inventariante).

14. No entanto, a requerida, entende que não cabe a ela reconhecer a autora como filha afetiva,
do de “cujus” Sr. Carlos Ferreira de Sousa, mas que tal situação, deveria ser uma manifestação
de vontade própria do seu genitor (de cujus), o que não em nenhum momento,
confidenciou o interesse em tal reconhecimento.

15. Outrossim, conforme se depreende dos documentos carreados aos autos, inclusive dos
próprios documentos juntados com a exordial, não se mostram presentes, os requisitos
autorizadores para o reconhecimento post mortem da filiação socioafetiva, sendo as fotos
juntadas aos autos (110/118), frágeis demais, se pensarmos, na suposta relação de 29 (vinte e
nove) anos. Aliás, não há sequer uma foto do de cujus, por exemplo abraçando a suposta
filha afetiva ou bilhetes com declarações pessoais, cartões de aniversário e etc.

16. Na realidade, para o reconhecimento post mortem da filiação socioafetiva deriva, em


verdade, do Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê em seu paragrafo 6º do artigo 42,
o seguinte:

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‘A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca


manifestação de vontade, vier a falecer no curso do
procedimento, antes de prolatada a sentença’

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17. No mais, a Corregedoria Nacional de Justiça, através do Provimento n. 83/2019, que trata
sobre novo procedimentos relacionados à Paternidade socioafetiva, traz em seu artigo 10-A o
seguinte:

Art. 10-A. A paternidade ou a maternidade socioafetiva deve ser


estável e deve estar exteriorizada socialmente.

§ 1º O registrador deverá atestar a existência do vínculo afetivo


da paternidade ou maternidade socioafetiva mediante apuração
objetiva por intermédio da verificação de elementos concretos.

§ 2º O requerente demonstrará a afetividade por todos os meios


em direito admitidos, bem como por documentos, tais como:
apontamento escolar como responsável ou representante do
aluno; inscrição do pretenso filho em plano de saúde ou em órgão
de previdência; registro oficial de que residem na mesma
unidade domiciliar; vínculo de conjugalidade - casamento ou
união estável - com o ascendente biológico; inscrição como
dependente do requerente em entidades associativas; fotografias
em celebrações relevantes; declaração de testemunhas com firma
reconhecida

§ 3º A ausência destes documentos não impede o registro, desde


que justificada a impossibilidade, no entanto, o registrador
deverá atestar como apurou o vínculo socioafetivo

18. Logo fica cristalino, que nosso ordenamento jurídico, preservou a possibilidade de se
declarar o reconhecimento afetivo, resguardada duas hipóteses: i) dentro de um processo de

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adoção, na qual já foi constatado a filiação afetiva; ii) inequívoca vontade do adotante, para
ver reconhecida tal situação.

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19. Contudo, no caso sob debate, não há qualquer indicio de inequívoca vontade do de
“cujus’, em ver reconhecida, a pretensão exordial, que na verdade, objetiva apenas a partilha

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dos bens materiais, já que a autora tem como pai biológico (Djalma Pereira de Souza)
fls.,11.

20. Frisa-se, ainda, que o documento de fls., 95 (declaração da inventariante), nada


comprova, porquanto são filhas da mesma mãe (Sueli), e certamente, buscam uma
partilha mais abrangente (para a família), em prejuízo da requerida Nathalia, para
agraciar a parte autora, com bens, que não seriam seu por direito.

21. Ademais, a autora, sequer constou como herdeira, em eventual disposição testamentaria, já
que repisa-se, há inexistência da vontade do “de cujus”, em ver reconhecida a autora, como sua
filha afetiva, para fins de reconhecimento post mortem da filiação socioafetiva.

22. Outrossim, a verdadeira intenção autoral resta cristalina nos autos, precipuamente
em vista da distribuição do inventário pela Inventariante Juliana (irmã da autora por
parte de mãe), que nada se aproxima da “vontade paterna” ou mesmo da questão
“sentimental” de que versa estes autos. Pelo contrário, vemos apenas o intento
puramente financeiro da autora, em conluio com sua irmã Juliana (inventariante).

23. Inequívoco que tal pretensão afasta sobremaneira a possibilidade de configuração da posse
de estado de filho, o que, como se verá ao longo desta defesa, faz com que esta demanda seja
destinada ao fracasso por qualquer prisma que se verifique a questão posta em juízo.

24. Nesse sentido, vale mencionar o posicionamento do diretor nacional do Instituto


Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM, Dr. Rolf Madaleno1:

“O ideal seria investigar a filiação ou paternidade/maternidade


socioafetiva enquanto a pessoa está viva. Depois de morta a

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1 http://www.ibdfam.org.br/noticias/5768/Justi%C3%A7a+reconhece+filia%C3%A7
%C3%A3o+socioafetiva+post+mortem
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pessoa, a declaração de socioafetividade tem, em regra, o intuito


da busca de uma herança, e quando abarca apenas os aspectos
materiais a própria lei cria resistência, justamente para que um

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pai ausente não queira apenas reconhecer um filho que morreu e

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ficar com a herança dele. O caminho inverso também deve ser
verdadeiro, pois presentes os mesmos aspectos de cunho moral,
já que reconhecer uma filiação socioafetiva de um pai que já
morreu certamente tem em mira apenas os efeitos econômicos
de uma herança”

25. De outro lado, não há dúvidas que ordenamento jurídico, reconhece a possibilidade
de que se estabeleça uma relação de parentesco fundamentada na sociafetividade,
notadamente para fins de reconhecimento de filiação.

26. Pietro Perlingeri, ensina que “o sangue e os afetos são razões autônomas de justificação para
o momento constitutivo da família, mas o perfil consensual e a affectio constante e espontânea
exerce cada vez mais o papel de denominador comum de qualquer núcleo familiar. O
merecimento de tutela da família não diz respeito exclusivamente às relações de sangue, mas,
sobretudo, àquelas afetivas que se traduzem em uma comunhão espiritual e de vida” (Perfis do
Direito Civil – Introdução ao Direito Civil Constitucional, 2. ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 2002, p. 244).

27. Nesta senda, conforme já decido pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal, em sede de
repercussão geral, no Recurso Extraordinário nº 898.060, é possível reconhecer-se o parentesco
civil baseado na parentalidade socioafetiva, porém, conforme ressalvado no voto do Ministro
Relator, “A afetividade enquanto critério, por sua vez, gozava de aplicação por doutrina
e jurisprudência desde o Código Civil de 1916 para evitar situações de extrema injustiça,
reconhecendo-se a posse do estado de filho, e consequentemente o vínculo parental, em
favor daquele utilizasse o nome da família (nominatio), fosse tratado como filho pelo
pai (tractatio) e gozasse do reconhecimento da sua condição de descendente pela
comunidade (reputatio). (RExt 898.060, Informativo n. 840)

28. Assim sendo, conforme apontado na doutrina e jurisprudência amplamente consolidadas,


para que se estabeleça uma relação jurídica de filiação, é indispensável que exista a consolidação
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da posse do estado de filho e que haja comprovação da intenção de ser reconhecido


voluntariamente como pais e filhos.

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29. Logo, uma simples relação carinhosa, baseada na afeição e cuidados, não são suficientes para

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que se reconheça como uma relação jurídica de parentesco, como obviamente se pode esperar.

30. Tranquila é a Jurisprudência, nesse sentido:


AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE
SOCIOAFETIVA 'POST MORTEM' CUMULADA COM
PEDIDO DE HERANÇA – Pretensão da autora apelante de
reconhecimento da posse do estado de filha, para o exercício de
direitos como sua herdeira – Provas insuficientes à demonstração
da vontade inequívoca do falecido em adotar a apelante –
Necessidade de preenchimento dos requisitos de tratamento do
adotando como filho, e do conhecimento público dessa condição
– A participação, de longa data, do falecido na vida da recorrente,
em razão do relacionamento com a sua genitora, não permite
inferir a vontade inequívoca da vontade de adotar, ainda que
presente longa relação de afetividade – Precedentes desta C.
Corte – Sentença mantida – Honorários recursais devidos –
RECURSO DESPROVIDO. (TJSP; Apelação Cível 1004813-
34.2018.8.26.0451; Relator (a): Angela Lopes; Órgão Julgador: 9ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Limeira - 2ª Vara Cível; Data
do Julgamento: 09/04/2020; Data de Registro: 09/04/2020

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE


PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. NÃO
RECONHECIMENTO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO
INEQUÍVOCA DA VONTADE DE SER RECONHECIDO
COMO PAI AFETIVO. 1. A filiação socioafetiva pressupõe a
demonstração, a um só tempo de dois elementos
caracterizadores: a) a vontade clara e inequívoca dos pretensos
pais socioafetivos, de serem reconhecidos, voluntariamente,
como tais; b) a configuração da denominada 'posse de estado de
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filho', compreendida como sendo o tratamento despendido pelos


pais (afeto, segurança, dependência econômica), o nome dos
pais e, por fim, ser a situação fática de notório conhecimento no

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meio social em que vivem. 2. Embora se reconheça que a

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paternidade não deriva apenas do vínculo de consanguinidade,
mas, sobretudo, em razão do laço de afetividade, é certo que se
revela necessário o consenso das partes para o reconhecimento
da paternidade socioafetiva, de forma a atender aos interesses de
ambos, não podendo o Judiciário impor a paternidade
socioafetiva, que, sobejamente, não condiz com a vontade de
uma das partes APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E
DESPROVIDA. SENTENÇA MANTIDA. (TJ-GO - AC:
03335476420178090028, Relator: Des(a). JAIRO FERREIRA
JUNIOR, Data de Julgamento: 23/03/2020, 6ª Câmara Cível,
Data de Publicação: DJ de 23/03/2020)

31. Por outro lado, nestes autos, tal situação não foi comprovada pela autora, limitando-
se a trazer para os autos declaração de imposto de renda, em que o falecido indicou ser
o seu responsável legal pelo pagamento das mensalidades da instituição de ensino,
todavia, limitando-se tal fato apenas ao ano de 2003 (fls.22/26), embora estivesse
supostamente sob sua ‘paternidade’ durante 29 anos.

32. Há proposito, a referida declaração de imposto de renda (fls.,22/26), sequer poderia ser
utilizada pela autora nestes autos, já que o referido documento, envolve sigilo fiscal, o que
indica que houve quebra de sigilo fiscal, com o rompimento da norma que rege a
matéria.

33. Ressalte-se que tais requisitos originam-se e são reputados como imprescindíveis
pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a saber: STJ. 3ª Turma. REsp
1.328.380-MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/10/2014 (Info 552),
entendimento que se perpetua naquela Corte.

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34. Outrossim, para reconhecimento post mortem da filiação socioafetiva, se mostra


necessária, sólida comprovação que diferencie essa condição de outras conjunturas, como por
exemplo, mero auxilio econômico, o que demonstra novamente, que no caso deste

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processado, não há como proceder o reconhecimento socioafetivo.

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35. De outro lado, a existência da filiação socioafetiva deve, antes de tudo, decorrer de um ato
de vontade do de “cujus”, de uma manifesta intenção de estabelecimento da paternidade,
fundada no sentimento de afeição e de amor pelo outro ente humano.

36. Relembra-se, de que o estado de filho não se confunde com auxílios econômicos ou
psicológicos, única possibilidade interpretativa de tudo quanto fora exposto e trazido pela
demandante, neste processado.

37. Fortalecendo o direito ora defendido, trago à baila entendimento proferido pela Corte
Bandeirante, que assim se pronuncio em processo similar a este, vejamos:

Ora, o fato do réu ter pago as mensalidades escolares no ano


anterior, 2008 (fls. 88-102), não basta para caracterizar a sua
responsabilidade contratual nos anos seguintes, 2009, no caso.
Tal circunstância não é hábil a caracterizar declaração negocial
tácita, nem a configurar a paternidade socioafetiva. No limite,
um amigo da família ou tio pode pagar as mensalidades das
crianças, sem, por isso, se ver imputado a qualificação de pais.
Não se ignora que "a posse de estado de filho (parentalidade
socioafetiva) constitui modalidade de parentesco civil"
(Enunciado nº 256 da III JDC) Contudo, não é possível
reconhecer a posse do estado da filiação, ou a paternidade
socioafetiva, como incidente em ação de cobrança. A relação de
parentesco deve ser declarada, mediante dilação probatória, em
sede de ação de estado, que é a mais adequada para o caso.
Ademais, no caso, não há nenhuma prova da publicidade do
alegado vínculo afetivo, nem tampouco prova do ânimo de
filiação por parte do réu. Não é possível, na ausência de provas,
aplicar o “princípio da afetividade [...], que privilegia os laços
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sociais e afetivos, em contraposição aos vínculos de ordem


biológica ou genética” (MILTON PAULO DE CARVALHO
FILHO, Código Civil Comentado, CEZA PELUSO (coord.), 5ª

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ed., Manole, Barueri, 2011, comentário ao art. 1.596, p. 1786).

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Nesse caso, a prova da ausência de vínculo biológico (fls. 80-81)
é o quanto basta para afastar a paternidade do réu. ((TJSP;
Apelação 0005874-05.2010.8.26.0587; Relator (a): Andrade
Marques; Órgão Julgador: 22ª Câmara de Direito Privado; Foro
de São Sebastião - 1ª V.CÍVEL; Data do Julgamento: 14/03/2013;
Data de Registro: 15/03/2013)

38. Destarte, por qualquer angulo que se analise o presente feito, percebe-se a obrigatoriedade
de comprovação evidente da vontade do de “cujus” em “adotar”, a fim de considerar a autora
como se sua filha fosse, o que não restou demonstrado nestes autos.

3)DA TEORIA DO ÔNUS DA PROVA

39. No caso dos autos, conforme exaustivamente exposto ao longo da presente defesa, em que
pese os esforços da patrona da parte ex adversa, não restou demonstrado qualquer
manifestação expressa de vontade do de “cujus”, em ver reconhecida a filiação socioafetiva,
pretendida pela autora.

40. Há propósito, a prova cabal destes autos, deveria ter sido produzida nesse sentido,
porquanto a filiação socioafetiva, remonta à vontade expressa do falecido em ver
reconhecido o direito pleiteado nesta demanda, o que não há em uma única linha da
exordial, qualquer argumento que demonstre tal situação.

41. Nesta toada, nunca é demais lembrar, regra básica a respeito da teoria do ônus da prova,
dispõe incumbir ao autor a demonstração do fato constitutivo de seu direito e ao réu o fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor (Código de Processo Civil, artigo 373).

42. Doutrinariamente, ensina-se que "às partes cumpre dar a prova dos fatos que lhes
interessam e dos quais inferem o direito que pleiteiam: actori incumbit onus probandi et reus
in excipiendo fit actor. Porque cada um dos litigantes pretende modificar ou destruir a posição
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jurídica do adversário, nada mais natural e necessário, em conseqüência, que ambos provem as
afirmações tendentes àquele fim”

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43. Ainda segundo a doutrina, "a dúvida ou insuficiência de prova quanto a fato

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constitutivo milita contra o autor. O juiz julgará o pedido improcedente se o autor não
provar suficientemente o fato constitutivo de seu direito" (VICENTE GRECO FILHO,
in "Direito Processual Civil Brasileiro", Editora Saraiva, 2ª Edição, 1986, Vol. 2, pg. 177). Vale
dizer, "o autor, que não faz a sua prova, decai da ação, absolvendo-se o réu: actore non
probante reus absolvitur" (MOACYR AMARAL SANTOS, ob. cit., idem, idem)

44. Já a jurisprudência tem se posicionado de que "quem pede ao Juiz tem o ônus de afirmar
fatos que autorizam o pedido, logo tem o ônus de provar os fatos afirmados. Assim, tem
o autor o ônus da ação. Quem quer fazer valer um direito em Juízo deve provar os fatos
que constituem seu fundamento. A equivalência da prova do fato constitutivo alegado
pelo autor, com a do negativo contraposto pelo réu, determina o juízo de improcedência
da ação" (TARS - Apelação Cível nº 194034815 - Montenegro - 1ª Câmara Cível - Rel. Heitor
Assis Remonti - J. 12.04.1994)

45. No mais, no caso dos autos, a requerida, demonstrou claramente, não haver qualquer
prova de manifestação expressa de vontade do “de cujus”, carreada aos autos, em ver
reconhecida a filiação socioafetiva, nem tampouco foi lhe confidenciada, qualquer vontade do
seu pai, acerca dos direitos estreitados na exordial.

46. Por outras palavras, "toda pretensão deduzida em juízo tem por fundamento um fato.
Se o autor, a quem cabia o ônus da prova, não comprovou o fato constitutivo de seu
direito, não levando à conseqüência jurídica por ele pretendida, restando dúvida ao
julgador pela insuficiência das provas produzidas, é de rigor a improcedência do
pedido. Exegese do artigo 333, I, CPC" (TAPR – Apelação Cível nº 0080955400 -
Medianeira - 6ª Câmara Cível - Rel. Hirose Zeni - J. 21.08.1995.

47. Assim sendo, no caso sub judice, ficou demonstrado claramente, que a autora não
comprovou à vontade expressa do falecido, em ver reconhecida a filiação socioafetiva, no
entanto, a requerida demonstrou o fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da
autora, nos termos do artigo 373, II do NCPC.
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Rua Plinio Colas, 278 – conjunto 21B – Mandaqui – 02435-030 – São Paulo – SP - Tel.: 55 11 96342-2226
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fls. 154

MARCHI, ADVOGADOS ASSOCIADOS

CONCLUSÃO E REQUERIMENTOS FINAIS

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1000178-22.2021.8.26.0704 e código B42D912.
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MAURICIO JOSE MARCHI, protocolado em 14/07/2021 às 11:39 , sob o número WJMJ21411391071 .
a) Por tais, razões, levando em conta a fragilidade da prova produzida
nos autos, outro não pode ser o desfecho da ação, senão a improcedência integral do pedido
inaugural, com as condenações de estilo, porquanto ausente nos autos, a vontade expressa
do de “cujus”, em ver reconhecida a filiação socioafetiva, em que pese uma proximidade entre
autora e o falecido.

b) Outrossim, a ré requer a produção de todos os meios de prova,


especialmente o depoimento pessoal da autora, sob pena de confissão, oitiva de testemunhas,
juntada de novos documentos, entre outras que se fizerem necessárias.

c) Por fim, requer que todas as intimações de atos deste processo sejam
feitas em nome de MAURICIO JOSE MARCHI, OAB/SP 281.884, nos termos do Capítulo
4, Seção 3, item 62, das normas da Egrégia Corregedoria.

Termos em que,

E. R. D.

São Paulo, 12 de julho de 2021.

MAURICIO JOSE MARCHI


OAB/SP 281.884

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