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SEMINÁRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL

EXEGESE DE 1 CORINTIOS 11. 27-34.


A CEIA DO SENHOR

Por
Lucio Carlos da Silva Freitas

Trabalho apresentado ao
Prof. Rev. Jôer Corrêa Batista
como requisito parcial para a matéria de
Exegese Paulina.

Goiânia
2º Sem. / 2007

1
ÍNDICE
INTRODUÇÃO.....................................................................................................3

1. CONTEXTO LITERARIO ................................................................................4


1.1 Delimitação da Passagem.............................................................................4
1.2 Natureza Literária..........................................................................................5
1.3 Contexto Literário da Passagem...................................................................5

2. CONTEXTO GERAL.......................................................................................6
2.1 Autoria, Data e Local da Escrita....................................................................6
2.2 Destinatários (igreja local).............................................................................7
2.3 Destinatário (A cidade de Corinto)................................................................7
2.4 Ocasião e Propósito da Escrita.....................................................................9

3.CONTEXTO HISTÓRICO ESPECÍFICO...................................................... 10


3.1 Análise Sócio – Histórica.............................................................................10
3.2.1 a festa do amor.........................................................................................10
3.2.2 problema social rico e pobre.....................................................................10
3.2.3 contexto das residências e formas de banquetes em Corintos ...............11

4. ANÁLISE GRAMATICAL...............................................................................14
4.1 Texto Grego.................................................................................................14
4.2 Tradução......................................................................................................14
4.3 Análise morfológica e sintática dos verbos principais..................................15
4.4 Análise etimológica e Semântica das palavras principais...........................16

5. ESTRUTURA.................................................................................................19

6. ANALISE DO TEXTO -ARGUMENTAÇÃO TEOLÓGICA.............................20

7. CONCLUSÃO................................................................................................30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................32

2
Introdução

Este é um trabalho de analise exegética na Epístola de 1 Coríntios


11.27-34. O trabalho trata responder as questões da Ceia do Senhor na igreja
de Corinto. O que significava a indignidade na ceia do Senhor? Quais são as
ordenanças apostólicas para a ceia? É de foro intimo ou não a participação da
ceia? Quais são os aspectos das penalidades divinas? Quais são as questões
históricas que envolvem a ceia do Senhor na igreja em Corinto? Quais são as
recomendações do apostolo para livrar-se do Juízo de Deus? Estas e outras
questões serão respondidas em nossa analise exegética.
Primeiro trataremos da delimitação da nossa perícope a ser exegetizada,
analisando também o gênero literário que é importante, abordando as questões
do contexto literário que faz uma analise do contexto anterior e também
próximo da passagem e o fluxo do pensamento do autor. Segundo, trataremos
das questões do histórico geral da passagem que servirá de apoio em nossa
argumentação teológica nos dando compreensão em todo o livro; e logo depois
passaremos para as questões do contexto específico que trata diretamente das
questões históricas referente à perícope analisada. No terceiro momento
faremos uma analise gramatical que dará subsídios teológicos, quanto a
analise morfológica das palavras, e o estudo dos termos em sua analise
etimológica e semântica; depois trabalharemos a organização estrutural de
analise, tudo isso com a finalidade de chegarmos à interpretação do texto em
analise e argumentação final.
O trabalho é relevante, pois mostra a postura digna diante da ceia do
Senhor, isso não pela dignidade humana, mas confiado na graça de Deus.
Desfaz o senso comum de muitos em buscar base neste texto para qualquer
tipo de pecado, ou razões para afastar os crentes da ceia do Senhor. Também
conscientiza a postura correta de se aproximar com temor e reverencia da ceia
e não tratando como algo trivial. E por fim trabalha os aspectos da comunhão e
tirando as desigualdades da igreja das classes ou grupos sociais.

3
1. CONTEXTO LITERÁRIO.
(Observar e compreender o gênero literário, a forma literária do livro,
observar a delimitação, o fluxo do pensamento do autor. Livro, contexto
mais amplo e imediato).

1.1 Delimitação da Passagem


(O propósito da delimitação é justificar onde a perícope começa e
termina para fazer a exegese). Onde começa? Onde termina?
Delimitação externa: Foram consultadas algumas versões com o objetivo
de delimitarmos os parágrafos do capitulo 11. Nas versões a nova tradução na
linguagem de hoje, revista e atualizada, nova versão internacional, (N.V.I)
dividem os parágrafos da capitulo da seguinte forma: o versículo 1 como
continuação do parágrafo final do capitulo 10; o versículo 2 ao16 ; e os
versículos 17ao 34.
Já as versões do a versão The Greek New Testament – Fourth Revised
Edition (UBS), Novo Testamento interlinear, tradução reina valera, dividem os
parágrafos da seguinte forma: o versículo 1 como continuação do parágrafo
final do capitulo 10; o versículo 2 ao 16; do versículo 17 ao 22; do versículo 23
ao versículo 26; e do versículo 27 ao 34.
A Bíblia de Jerusalém (nova edição, revista) divide os parágrafos da
seguinte forma: do versículo 1 ao 6; do 7ao 12; 13 ao15; 16 ao 22; 23 ao 27; 28
ao 32, 33 ao 34.
Apenas a Edição revista e Corrigida divide do versículo 1 ao 16; e do 17 ao
34.
Portanto concordamos com a delimitação das versões The Greek New
Testament – Fourth Revised Edition (UBS), Novo Testamento interlinear,
tradução reina valera Bíblia por causa dos seguintes critérios internos que
colocaremos abaixo.
Delimitação interna- Os critérios para delimitarmos do 27 ao 34 foram os
seguintes: que o primeiro versículo do capitulo 11 faz parte da conclusão do
capitulo 10; O assunto tratado por Paulo referente as mulheres e o véu
começa do versículo 2 e finaliza no 16. No versículo 17 ele começa um novo
assunto mostrando o sentimento contrario dos versículos anteriores que foi um

4
elogio, aqui ele não elogia e repreende a postura da igreja quanto a ceia. No
versículo 23 Paulo relembra a forma como Cristo instituiu a ceia nos
evangelhos. E a partir do versículo 27, Paulo corrige a forma errada que eles
estavam agindo em relação a ceia, ensina a forma correta de agir diante da
ceia do Senhor e mostra as consequências de agir inadequadamente diante da
ceia do senhor. A presença da conjunção também nos aponta para uma
finalidade e resumo do que ele já vinha tratando. Portanto trabalharemos esta
parte final da exortação de Paulo em relação à ceia do Senhor, tendo em vista
conter elementos que refletem toda a preocupação do apostolo ao tratar deste
assunto que começa do versículo 17. Julgamos ser este o núcleo do assunto e
de relevância para a nossa analise.

1.2 Natureza Literária


(O propósito da natureza literária é compreender o gênero literário para
uma boa interpretação). Qual é o gênero literário?
A carta a qual se denomina 1 aos Coríntios está integrada como
epístola. Isso por que segue a estrutura paulina em conter; nome do escritor,
endereço, saudação, oração de abertura, corpo, saudação final e despedida. 1

As epistolas tinham como objetivo, servir como a presença apostólica e


instrução para as igrejas. As epistolas estão ligadas a situação especifica da
igreja, e se chamam tecnicamente de documentos ocasionais e são do século
I, tendo total relevância para todas as épocas 2 . Portanto temos aqui uma
epistola por se tratar com conteúdo bíblico e doutrinário.

1.3 Contexto Literário da Passagem.


(O contexto literário da passagem tem como objetivo apresentar o texto
em seu contexto mais amplo ou imediato, esclarecendo a linha do pensamento
do autor). O que autor trata antes ou depois?

Primeiro o parágrafo de 1 Cor 11.27-34 está em um contexto mais amplo


dentro do assunto que Paulo esta tratando que diz respeito ao Culto que vai do
Capitulo 11 até o capitulo 14.

1
FEE. G, STUART, D., Entendes o que Lês?: a. p. 30.
2
FEE. G., STUART, D. Entendes o que Lês?: p. 31-32.

5
Segundo o contexto imediato está em 1 Cor 11. 17 – 26 que tratam do
assunto das reuniões da comunidade diante da ceia do Senhor. Verso 17 Paulo
reprova a maneira da reunião tendo em vista que da maneira que era feita era
prejudicial para a igreja. Paulo nos versos18 – 19 trata da divisão social entre
ricos e pobres. Do verso 20-22, Paulo chama a atenção quanto às
irregularidades na celebração da ceia do Senhor, os exageros, o menosprezo
que eles tinham quanto à igreja, e o fato de envergonharem e também
menosprezarem os pobres. Do 24-26, Paulo fala da centralidade de Cristo na
ceia, os aspectos que ela tem. A tradição dada por Cristo Jesus que envolve os
aspectos da aliança e da graça de Jesus, e também os aspectos escatológicos.

2. CONTEXTO HISTORICO GERAL


O propósito do contexto histórico geral é observar os dados históricos do
livro, são informações que diz respeito ao todo do livro).

2.1 Autoria (quem é o autor?)


(O propósito é comprovar a canonicidade de ser o autor do livro).
Não há discursões quanto à autoria do apostolo Paulo do primeiro
século. Este foi um líder da igreja e que contribuiu para a expansão do
evangelho em suas viagens missionarias. A epístola aos Coríntios não
apresenta problemas referente às questões da autoria. Não houve na história
problema de aceitação canônica da epistola, pois tanto nos tempos antigos,
quanto nos tempos modernos já era aceita3. Já ainda na última década do
primeiro século era citada por clemente de Roma já por volta de 95 d.C. e no
início do segundo século fora citada por Inácio, Justino mártir, Irineu e
Tertuliano4. No Fragmento Moratório5 a epistola é a primeira das cartas de
Paulo6. Todos já aceitavam Paulo como autor da carta e nos versículos iniciais

3 ELWELL, Waltera, Robertw Yarbrough. Descobrindo o Novo Testamento, p.290


4 ELWELL, Waltera, Robertw Yarbrough. Descobrindo o Novo Testamento, p.290- CARSON, D. A.,
MOO, D. J., MORRIS, L. Introdução ao Novo Testamento, p.316.- BROWN, R. B. , Comentário Bíblico
Broadman, p. 343. MORRIS, Leon., I Coríntios, Introdução e Comentário. p. 21
5 O fragmento muratoriano ou fragmento de Muratori, é o Cânone Muratori, é uma cópia da lista mais

antiga que se conhece dos livros do Novo Testamento. A descoberta se deu na Biblioteca Ambrosiana de
Milão por Ludovico Antonio Muratori (1672 – 1750). É consensual datar o manuscrito como sendo do
século VII, a questão que ele é a cópia de um texto mais antigo, que muitos também datam como tendo
sido escrito por volta do ano 170, já que nele é referido o Pastor de Hermas.
6 MORRIS, Leon., I Coríntios, Introdução e Comentário. p. 21.

6
Paulo se identifica como autor7. Na evidência interna, o estilo e a linguagem
são universalmente aceitos como epístolas paulinas servindo de base para
comprovações de outras cartas do apostolo Paulo8. Portanto não há discursões
sobre a autoria, os críticos usam está carta para comparar as outras cartas de
Paulo, sendo assim comprova-se a autenticidade de Paulo da carta aos
Corintos.

2.2 Data da escrita e local da escrita (Quando escreveu e de onde


escreveu)
Assim como vimos na autoria, não há também questionamento quanto à
data da escrita e o local. De forma unanime também foi aceito o local e data
escrita e fora combatida pelos críticos liberais. Um acontecimento importante
que identifica a data da escrita da carta, a qual chamamos de 1 Coríntios, é
Atos 18.12 que trás a informação histórica sobre a reunião dos judeus em
atacar Paulo no início do proconsulado de Gálio. Uma inscrição histórica
mostra a decisão do imperador remetida para Gálio que assumiria o cargo em
(51 d.C)9. Paulo permaneceu em Corinto por algum tempo (At. 18.18). Depois
navegou para Síria na primavera de 52, ficando dois anos e meio em Éfeso em
55 antes de pentecostes. Isso aconteceu em sua terceira viagem missionaria.
Então o local da Escrita e data da carta de Paulo aos Corintos foi da cidade de
Éfeso entre 54 a 55.

2.4 Destinatários (igreja de Corinto) Para quem escreveu?


No relato histórico (At.18.7-8) temos informações quanto aos
destinatários em Corinto, pois existia antes a sinagoga na cidade. Tal
informação identifica a presença de Judeus e que alguns judeus estavam
sendo convertidos ao evangelho, e abandonando a sinagoga local. Na igreja de
Corinto continham judeus e tementes a Deus que haviam adquirido

7 BROWN, R. B. , Comentário Bíblico Broadman, p. 343. CARSON, D. A., MOO, D. J., MORRIS, L.
Introdução ao Novo Testamento, p.291. MORRIS, Leon., I Coríntios, Introdução e Comentário. p. 21.
8 MORRIS, Leon., I Coríntios, Introdução e Comentário. p. 21.
9 MORRIS, Leon., I Coríntios, Introdução e Comentário. p 22.- CARSON, D. A., MOO, D. J., MORRIS,

L. Introdução ao Novo Testamento, p.315. – KISTEMAKER, S., Comentário do Novo Testamento, 1


Coríntios. p.20.

7
conhecimento das escrituras na sinagoga local e na igreja10. Mas a sua grande
maioria era formada de gentios que eram convertidos à fé do evangelho, sendo
ainda uma igreja nova e com muitos novos convertidos. Os muitos gentios de
nacionalidades diferentes seguindo o fluxo da cidade que era composta de
gregos, latinos, sírios, asiáticos, egípcios e judeus. Sendo assim a igreja
também era constituída de um misto de pessoas diferentes em suas
nacionalidades.

2.5 Destinatário (A cidade de Corinto). Para quem escreveu?


Corinto era uma das cidades comerciais mais importantes da época e
controlava grande parte das navegações entre o Oriente e o Ocidente. A
posição geográfica da cidade era uma estreita faixa de terra entre o golfo de
Corinto e o golfo Sarônico, localizada nas proximidades do Mar Egeu, de um
lado, e do Mar Jonio, do outro, em um istmo entre os mares Egeu e Adriático 11.
Os comerciantes preferiam passar pelo istmo em Corinto a ariscar a longa
viagem podendo ser tragados pelas tempestades do mar12. Corinto tinha um
governo semelhante ao do império romano, de quem era colônia. Sua língua
oficial era o latim, porém o grego correspondia à classe mais simples.
Em Corinto residiam oficiais romanos civis e militares, ex-escravos, ex-
soldados vindos de Roma, mercadores, artesãos, artistas, filósofos, mestres e
trabalhadores de muitos países ao redor do Mediterrâneo13. A população era
mesclada por judeus de Israel e de outros lugares, gregos nativos, expatriados
e escravos. A cidade era um centro manufatureiro e um centro de comércio
internacional, devido aos seus dois portos, além de receber contribuição do
interior para sua base agrícola 14 . A Cidade não era constituída por uma
aristocracia de terras, mas de bens e valores, baseados na riqueza tendo em
vista uma valorização de capital com o isso o desprezo pelos pobres 15. Sendo
então uma cidade prospera e com aspectos de desigualdades sócias e tudo
isso tudo reflete na comunidade cristã da cidade.

10 KISTEMAKER, Simon. 1 Coríntios, p.28-29.


11
PRIOR, David., STOTT, Jonh., A mensagem de 1 Corintios. p. 11., MORRIS, Leon., I Coríntios,
Introdução e Comentário. p 22
12 GUNDRY, R. H. Panorama do Novo Testamento. p. 308.
13 KISTEMAKER, Simon. 1 Coríntios, p.17-19
14 KISTEMAKER, Simon. 1 Coríntios, p.17-19
15 CARSON, D. A., MOO, D. J., MORRIS, L. Introdução ao Novo Testamento, p.292.

8
A cidade era uma cidade importante, intelectual, era uma cidade
prospera, porém também uma cidade moralmente corrupta, cujos habitantes
eram propensos na busca dos seus próprios prazeres 16 . O hedonismo era
muito forte na concepção do povo em geral, o prazer acima de tudo, por isso a
perversão sexual que era também um fator religioso.
Os adoradores masculinos do Deus Apolo prestavam devoção através
de demonstrações físicas com belos rapazes, sendo, portanto práticas
homossexuais 17 . E também o templo da deusa Artemis e Afrodite suas
prostituas que celebravam a adoração pelo ato sexual 18 . Era uma cidade
repleta de imoralidade, como fornicação e havia muitos templos e uma
diversidade religiosa, como culto a Asclépio, Apolo e Poseidon, também para
as divindades gregas Atenas, Hera e Hermes e santuários para culto aos
deuses egípcios Ísis e Serapis19. Eram também realizados em Corinto, os jogos
do Istmo que só perdia em importância para os Jogos Olímpicos20. Todos estes
aspectos vão refletir na igreja, um senso de orgulho, altivez, desigualdades e
outros aspectos. A igreja vivia debaixo de um caldeirão de multiplicidades
culturais. Sendo então um desafio para aquela igreja recém-formada debaixo
desta cultura.

2.6 Ocasião e Propósito (o que estava acontecendo? Qual o propósito


da escrita)
Dois aspectos enumerarem-se acerca do motivo da escrita da epistola. A
primeira foi à carta recebida pelo apostolo Paulo que viera da igreja de Corinto.
Paulo então responde as questões levantadas sobre problemas matrimoniais
(7.1); carne sacrificada aos ídolos (8.1); dons espirituais (12.1); coleta para a
igreja em Jerusalém (16.1). A delegação que trouxera a carta vinda de Corinto
formada por Estéfanas Fortunato e Acaico, também trouxeram outras
informações via oral ao apostolo, tais informações que não contavam na carta.
O segundo motivo foram às informações trazidas pelos da casa de Cloé sobre
as desavenças e divisões de grupos da igreja (1.11). A ocasião são todos os

16 MORRIS, Leon., I Coríntios, Introdução e Comentário. p. 12.


17 PRIOR, David., STOTT, Jonh., A mensagem de 1 Corintios. p. 12.
18 KISTEMAKER, Simon. 1 Coríntios, p.18.
19 KISTEMAKER, Simon. 1 Coríntios, p.18.
20 GUNDRY, R. H. Panorama do Novo Testamento. p. 309

9
problemas internos da igreja em muitas divisões, seguimentos de líderes que
alguns eram contrários a Paulo, divisões entre escravos e livres, ricos e pobres,
de dons, entre casados e solteiros, entre letrados e iletrados, e erros
doutrinários e falta de entendimento quando a ressurreição dos mortos, todos
estes aspectos determinaram os temas que o apostolo trabalhou na epistola.
Então proposito de Paulo era tratar destes problemas. Também trabalhar
e resolver o conceito errado que a igreja tinha da espiritualidade. O objetivo do
apostolo era corrigir um conjunto de problemas existentes na igreja de Corinto,
inclusive de restabelecer a unidade da igreja. Paulo escreve corrigindo todos os
erros doutrinários e comportamentais desta igreja.

3.CONTEXTO HISTÓRICO ESPECÍFICO


(O propósito é analisar o contexto histórico especifico da passagem, ou seja
somente aquilo que a perícope exegetizada está tratando)
3.1 Análise Sócio – Histórica.
Analise sócio histórica especifica da passagem tem três aspectos a
relação com a festa do amor, conflito social entre os pobres e os ricos,
Contexto das residências e formas de banquete em Corintos
3.1.1 A festa do “ágape” do amor: Era um momento de confraternização
e celebração da comunhão da igreja primitiva que desde tempos aconteciam
na participação em uma refeição comum21. A igreja de Jerusalém se reunia em
casas um vez por semana para comerem juntos e com isso celebrarem a ceia
do Senhor (At 2.42-47)22. No decorrer do tempo houve um vinculo da festa do
amor com a refeição pascoal que era celebrada pelos israelitas na ocasião da
páscoa, cuja cerimônia relembrava a saída do povo hebreu do Egito, sendo
21
DOUGLAS, M. A., O Novo Dicionário de Teologia. p. 615.
22
LOPES, Augustus N., O Culto Cristão. p. 75.

10
portanto instituída por Deus no Antigo Testamento (Ex 12.1-28). e que Cristo
celebrou a santa ceia com os seus discípulos. A refeição do ágape tinha um
significado central na celebração e demonstração da comunhão especial da
santa ceia 23 . Este momento de culto dava a oportunidade de expressar a
pratica do amor, em ação social generosa 24 . Por causa dos abusos que
começaram a acontecer na cerimônia houve separação já no século II da festa
do amor e da Ceia do Senhor25. Então a festa o ágape era a forma que a igreja
tinha de se reunir para a comunhão, trazendo seus alimentos, ajudando
também os menos necessitados, mas que depois tiveram os exageros que no
século segundo foi desaparecendo.
3.1.2 conflito social entre os pobres e os ricos: O contexto social da
cidade reflete bem as questões dos acontecimentos da passagem. Por não
haver em Corinto uma aristocracia de terras, surgiu uma aristocracia baseada
na riqueza26. A cidade por ser uma rota portuária gozava de um crescimento
econômico. A cidade valorizava a riqueza e desconsiderava os pobres. Estes
aspectos não fugiram dentro da comunidade, pois existiam muitos ricos e
outros provindos de classes baixas, como escravos, e trabalhadores e
pobres 27 . Os escravos, os pobres participavam de uma jornada de trabalho
mais extensa. Existia na cidade essa divisão entre ricos e pobres. Ao se tratar
referente as questões de refeição podemos enxergar essas diferenças sociais.
Existia um modelo das refeições tanto comunitária quanto privativa, quando
alguém era convidado para assentar-se ao redor da mesa para comer, este
hospede era servido de acordo com o seu status social28. Existia um senso de
poder daqueles que convidavam para uma refeição, pois o hospede poderia
perceber a grandeza e posse do anfitrião. O costume de servir por status
também era muito presente no próprio povo de Israel, já na época de Cristo.
Cada local diante da refeição era dividido de acordo com o grau de importância
de cada pessoa e essa importância se dava por meio da quantidade de seus

23
COENEN Lothar, BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento , Vol I,
p. 121.
24 COENEN Lothar, BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento , Vol I,

p. 121.
25 LOPES, Augustus N., O Culto Cristão. p. 75
26 CARSON, D. A., MOO, D. J., MORRIS, L. Introdução ao Novo Testamento, p.292.
27 THEISSEN, Gerd., Sociologia de Cristandade Primitiva. p.149.
28 THEISSEN, Gerd., Sociologia de Cristandade Primitiva. p.159.

11
bens, sobretudo o seu status religioso29. “Se alguém ocupasse um lugar de
outro superior que não lhe era merecido, o anfitrião da casa lhe pedia para se
retirar do local de destaque e colocava em um local reservado a hospedes que
tinham a menor importância (Mc 12.38; Lc 14. 8)30. O próprio dono da casa
servia os outros de acordo com a posição social e distribuía em seus lugares
conforme a sua posição 31 . Então era a pratica comum dos Israelitas e da
maioria das cidades julgarem as pessoas pelos seus bens e por sua classe
social. Assim também acontecia na cidade de Corinto, pois as questões de
riqueza e status era de muita importância, esse aspecto cultural foi refletido na
igreja, e eles tratavam aqueles que chegavam depois com certo desprezo
social.
3.1.3 Contexto das residências e formas de banquete em Corintos: O
comportamento dos cristãos de Corinto era diante dos banquetes que faziam
juntamente com a ceia do Senhor. Alguns cristãos faziam doações para a festa
que tinha como alvo um banquete comunitário que eram feitos nas casas
particulares, assim como em Atos. As casas dos gregos tinham bancos de
pedras e tinha lugares para aproximadamente entre 9 a 12 pessoas, com isso
os pobres eram desprezados por que quando eles chegavam já não tinha lugar
para eles32. Nas casas existiam separações de mesas, e muito provável uns
ficavam separados dos outros no momento da participação e em uma mesa
própria ficavam os ricos separados dos pobres, com isso os pobres eram
isolados33. Muitos não tinham lugar para ficar, com isso existia o sentimento de
desprezo e desconforto dos pobres. Outro aspecto que acontecia durantes as
refeições era que em determinadas circunstancias, os ricos dispunham de
porções maiores do que dos outros34. Por que em sua grande maioria, eles
mesmos eram os doadores da comida, sendo muitas destas doações e
propriedade privada, ou seja, os donos da comida 35. Os ricos tinham mais
comidas em disposições do que os pobres. Além dos ricos comerem
separados, e começarem antes da hora prevista, eles comiam melhor e tinham
29
ROPS, H. D. A Vida Diária nos Tempos de Jesus.,p. 138.
30
ROPS, H. D. A Vida Diária nos Tempos de Jesus.,p. 138.
31
DOUGLAS, M. A., O Novo Dicionário da Bíblia. p. 1377, ROPS, H. D. A Vida Diária nos Tempos de
Jesus.,p. 138.
32 Anotações em Sala de Aula. Professor Joêr Correia. S.P.B.C. Segundo Semestre 2007.
33 THEISSEN, Gerd., Sociologia de Cristandade Primitiva. p. 153.
34 THEISSEN, Gerd., Sociologia de Cristandade Primitiva. p.155.
35 THEISSEN, Gerd., Sociologia de Cristandade Primitiva. p.160.

12
mais coisas a sua disposição, ao ponto de ficarem embriagados, enquanto que
outros passavam fome (1 Cor 11.21)36. Os mais ricos ficavam com os seus
companheiros e dava-lhes mais atenção aos seus companheiros de classes.
Existia um sentimento dos mais ricos de orgulho e vaidade, pois em
demonstrar a o quanto os outros dependiam deles, o quanto muitos
necessitavam de suas doações 37 . As questões das diferenças na comida
também simbolizava uma superioridade. Aqueles que comiam melhor eram
bem melhores servidos, isso identificava claramente a que nível social a
pessoa estava inserida. Os ricos comiam melhor e com isso estavam por cima,
enquanto que aqueles que comiam pior estavam abaixo, selando as diferenças,
trazendo as claras os níveis sociais. Os pobres com isso tinham o sentimento
de vergonha e pequenez 38 . Por isso que o apostolo Paulo diz que havia
menosprezo dos membros da comunidade por que os pobres eram
envergonhado (1 Cor 11.22). Um outro aspecto é que as reuniões aconteciam
nas casas privadas dos cristãos de melhor situação financeira e melhor
moradia
Portanto a situação vivencial é o sentimento de embriagueis, mostrando
um regozijo exagerado e um desrespeito com a ceia, juntamente com um
sentimento de orgulho, soberba por parte dos mais ricos. Um sentimento de
separação, evidenciando as suas riquezas e discriminando os mais pobres.
Enquanto que os mais pobres tinham que conviver em uma situação vexatória,
humilhante sentido as dores da sua situação social, se colocando no lugar dos
inferiores, dos mais baixos. Esse era o ambiente em que a reunião da ceia
acontecia.

36 THEISSEN, Gerd., Sociologia de Cristandade Primitiva. p.156.


37 THEISSEN, Gerd., Sociologia de Cristandade Primitiva. p. 160.
38 THEISSEN, Gerd., Sociologia de Cristandade Primitiva. 160.

13
2. ANÁLISE GRAMATICAL
(Está parte tem o propósito de analisar as palavras principais da perícope).

2.1 Texto Grego


27
1 Cor 11:27-34 {Wste o]j a'n evsqi,h| to.n a;rton h' pi,nh| to.
poth,rion tou/ kuri,ou avnaxi,wj( e;nocoj e;stai tou/ sw,matoj kai. tou/
ai[matoj tou/ kuri,ouÅ 28 dokimaze,tw de. a;nqrwpoj e`auto.n kai.
ou[twj evk tou/ a;rtou evsqie,tw kai. evk tou/ pothri,ou pine,tw\ 29 o`
ga.r evsqi,wn kai. pi,nwn kri,ma e`autw/| evsqi,ei kai. pi,nei mh.
diakri,nwn to. sw/maÅ 30 dia. tou/to evn u`mi/n polloi. avsqenei/j kai.
a;rrwstoi kai. koimw/ntai i`kanoi,Å 31 eiv de. e`autou.j diekri,nomen(
ouvk a'n evkrino,meqa\ 32 krino,menoi de. u`po. Îtou/Ð kuri,ou
paideuo,meqa( i[na mh. su.n tw/| ko,smw| katakriqw/menÅ 33 {Wste(
avdelfoi, mou( sunerco,menoi eivj to. fagei/n avllh,louj evkde,cesqeÅ
34 ei; tij peina/|( evn oi;kw| evsqie,tw( i[na mh. eivj kri,ma sune,rchsqeÅ
ta. de. loipa. w`j a'n e;lqw diata,xomaiÅ

14
2.2 Tradução
De forma quem comer o pão ou beber (de uma maneira imprópria) culpado
de (pecado) será do corpo e do sangue do Senhor. De sorte quem comer o
pão ou beber o cálice do senhor indignamente, culpado será do corpo e do
sangue do Senhor.28 mas examine-se (aprouve) a pessoa a si mesma, então
do pão coma e do cálice beba 29 pois que comendo e bebendo não
discernindo o corpo, come e bebe juízo para si mesmo. 30 Por isso entre vós
muitos fracos e doentes e muitos estão morrendo 31Se a nós mesmos
discerníssemos (examinássemos) não seriamos julgados; 32 mas quando
somos julgados, pelo Senhor somos disciplinados, para que não com o mundo
sejamos condenados. 33 De sorte que, irmãos meus reunido-vos para comer,
uns pelos outros esperai.34 Se alguém tem fome, coma em casa para que
não reunais para juizo juízo sobre vós quando reunais. As e demais coisas eu
for ordenarei.

2.3 Análise morfológica e sintática dos verbos principais.

e;stai verbo de futuro indicativo médio 3ª pessoa singular (será)


O verbo no imperativo indica uma ordem. Por ter aqui o uso como aoristo em
certa conexão com o tempo futuro, dá a idéia de “futuramente” “deixará” (o
homem seu pai e sua mãe... a;nqrwpoj to.n pate,ra auvtou/ kai. th.n mhte,ra...) uma
única vez, pois a o aoristo indica uma ação acontecida no passado unicamente
(uma só vez) ou pontilear. A voz ativa indica que é o sujeito (homem a;nqrwpoj)
que pratica a ação verbal. A terceira pessoa no singular indica que “ele”, o
homem é o sujeito da frase.
dokimaze,tw verbo presente imperativo, ativo 3ª pessoa singular (examine-se),
discirna, aprouve. Testar, aceitar como comprovado, aprovar.
Verbo imperativo presente, ativo. O verbo no modo imperativo indica uma
ordem, exortação ou um pedido/súplica. Quando usado no tempo presente,
ordena que haja continuidade de uma ação que já foi iniciada no passado. A

15
voz ativa, apenas apresenta o sujeito em ação. Por estar na 3º pessoa do
singular indica , portanto, o sujeito da frase39.
evsqi,wn verbo particípio presente ativo nominativo masculino singular (que
come)
O particípio presente, simplesmente descreve uma ação ou um estado
presente. No caso deste verbo, trata-se de uma ação presente. A voz ativa,
apenas apresenta o sujeito em ação. O “masculino” é seu gênero. 40 O singular
refere-se ao sujeito da frase.
pi,nwn verbo particípio presente ativo nominativo masculino singular (o que
bebe)
O particípio presente, simplesmente descreve uma ação ou um estado
presente. No caso deste verbo, trata-se de uma ação presente. A voz passiva
refere-se ao sujeito sofrendo a ação do agente. O “masculino” é seu gênero.
Por estar na 2º pessoa do plural, indica, portanto, o sujeito da frase, “vós”.41
katakriqw/men verbo aoristo subjuntivo 1º plural de pessoa passivo
“condenação”. O verbo esta no Aoristo indica uma ação pontilear. Uma ação
pontilear indica que a ação é vista como um todo. Não especifica a maneira em
que é realizada nem o tempo de duração do processo verbal. Quando a ação é
concebida no passado, entende-se que é uma ação acabada, concluída.
Quando a ação é descrita como durativa ou linear, refere-se ao fato da ação
ser contínua, estar se desenvolvendo, em andamento, acontecendo,
progredindo. É incompleta no sentido de ainda não estar concluída 42 . No
subjuntivo, expressa o fato como possível tendo a possibilidade da ação
ocorrer. Na voz passiva, significa que o sujeito está sob a ação de um agente
externo.

2.4 Análise etimológica e semântica das palavras principais


avnaxi,wj advérbio de (indignamente, de uma maneira imprópria).
A palavra é formada da partícula “a” e o elemento de negação “n”, mais axioj
axios que significa “merecedor”, “digno”, portanto o significado é indigno.

39
William Douglas CHAMBERLAIN, p.110., Carlos Osvaldo C. PINTO, p.32., Lourenço Stelio
REGA; Johannes BERGMANN, p.269.
40
Johannes BERGMANN, p.225,226., William Douglas CHAMBERLAIN, p.105.
41
William Douglas CHAMBERLAIN, Op. Cit. p.106., Lourenço Stelio REGA; Johannes BERGMANN,
p.225,226., Leonardo SCHALKWIJK, p.48.
42
Lourenço Stelio REGA, Johannes BERGMANN, Noções do Grego Bíblico – Gramática Fundamental,
. p.26:.

16
“A raiz é da palavra axios que tem o sentido original no clássico, aquilo que
inclina a balança, “contrabalança”, que é “de igual valor”“. Se o relacionamento
tem o peso correspondente é digno, ou seja, tem um valor correspondente43. Já
anaxioj “Anaxios” não tem o valor correspondente é um peso desigual,
diferente. A figura é uma balança de dois pratos e coloca um axios em um
prato da balança para no outro prato ter o mesmo valor. Anaxioj é um furto, ou
um valor que não corresponde o outro lado do prato da balança. Axios é digno
da verdade, valioso, enquanto que anaxios é uma forma negativa impróprio,
indigno. Paulo usa axios para a conduta Cristã, que viver de modo digno, é
viver com o mesmo peso do evangelho, ou seja, de conformidade, com o valor
correspondente do evangelho (Ef 4.1; Fil 1.27;Col 1.10; 1 Tes 2.12).
e;nocoj adjetivo normal nominativo masculino singular (culpado) merecedor de
uma penalidade. responsável, culpado; merecendo (de morte); culpado de
pecado contra (1 Cor 11.27).
Tem uma figura de culpado de um tribunal, sendo passível ou merecedor de
uma penalidade. Até mesmo passivo de morte, caso do qual acontecia com
alguns que participavam da ceia de forma indigna. Culpado do sangue e do
sangue do Senhor. O Senhor se entregou a morte por amor aos irmãos; ação
oposta, comportamento desamoroso para com o próximo (Mt 5.21-22), resulta
em culpa44.
dokima,zw testam, examine; interprete, discirna, descubra; aprove; Vem da
raiz de dokimoj, que significa testado, aprovado, genuíno. O sentido de Paulo é
interpretar, testar, tem um sentido de reconhecer. No A.T dokimoj emprega para
reconhecer moedas validas. Moeda ou metal sem valor é adokimoj. “O verbo
dokimazw representa a palavra hebraica bahan, que tem o sentido de teste de
fogo para genuidade” quando transferido para Deus aponta para o teste ou
prova que Deus faz aos homens. A palavra tem a conexão de teste pelo fogo 45.
dokimos é um termo comercial usado para denotar o teste de moedas, as que
eram aprovadas eram dinheiro genuíno, não falsificado46. No N.T. Paulo usa no
sentido de “reconhecido”, “aprovado”, “aceito” Rm 14:18; 16:10; 1Cor 11:19; 2

43
Lothar COENEN, Colin BROWN, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. p. 2105.
44
Lothar COENEN, Colin BROWN, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. p. 495.
45
Lothar COENEN, Colin BROWN, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. p. 2490.
46
MARTIN, R. P., Filipenses, Introdução e comentário. p. 81.

17
Cor 10;18). Adokimoj significa sem valor rejeitado. O verbo tem o sentido na
linguagem paulina de “interpretar”, “testar’ “aprovar” e “reconhecer”. A palavra
tem aspectos diretos em ser aprovado. Ressalta um resultado positivo em que
aquilo que é testado é aprovado como genuíno47.
kri,ma julgamento, decisão, veredicto; condenação, castigo; processo (1 Cor
6.7); poder ou autoridade para julgar (Re 20.4). É a sentença pronunciada, o
veredicto, a condenação, a decisão resultante de uma investigação 48. Esta raiz
é muito usada em nosso texto analisado kri, É um termo jurídico e de tribunal.
diakri,nw verbo particípio presente ativo. Avalie, reconheça, discirna; faça uma
distinção.Fazer uma distinção, julgar corretamente, fazer uma decisão.
No grego clássico tem uma figura da separação de rebanhos de ovelhas 49.
Tem um aspecto de separação e tomada de decisão. A palavra é literalmente
separe inteiramente formado de dia “à parte” e krino “julgar”50.
sw/ma “corpo” físico; o corpo de Cristo, a igreja;
Paulo expressa seu entendimento da comunidade como igreja como um melhor
conceito sendo o corpo. Paulo usa apontando que a própria igreja é o corpo de
Cristo, e o individuo faz parte de um mesmo organismo (1Cor 12.27) pertencer
a Cristo trás a idéia de ser membro do corpo de Cristo, ou seja, do mesmo
organismo51. A igreja é um corpo por que é uma unidade. É somente quando
os membros se reúnem e convivem, que o amor, que se descreve em 1 Cor 13
como dádiva suprema. A palavra soma tem relação com o corpo físico de
Cristo, identificando a sua morte. O pão na ceia também denota o aspecto do
corpo de Cristo que seria cortado na cruz.
avsqenei/j adjetivo plural masculino nominativo. avsqenh,j doente; fraco; delicado
(de partes do corpo); desamparado (Ro 5.6). astenej aponta para a fraqueza do
corpo, um corpo debilitado, literalmente sem força. jthenoj significa força com a
presença da partícula a “a”, transmite a idéia de incapacidade, fraqueza52. A
palavra com um sentido figurado é mais presente na literatura paulina 53. Em
Paulo tem o aspecto da natureza pecaminosa do homem, também em
47
Lothar COENEN, Colin BROWN, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. p. 2492.
48
VINE, W. E. Merril F. Unger, William White Jr. Dicionário Vine. p. 489.
49
Lothar COENEN, Colin BROWN, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. p. 2492
50
VINE, W. E. Merril F. Unger, William White Jr. Dicionário Vine. p.503.
51
Lothar COENEN, Colin BROWN, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. p. 993.
52 Lothar COENEN, Colin BROWN, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. p. 878.
53
Lothar COENEN, Colin BROWN, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. p. 879.

18
questões éticas. Paulo nomeia de grupo mais fraco em Corinto aqueles que
tinham uma consciência mais fraca, que não atingia o pleno conhecimento da
fé (1 Cor 8.7)54.
paideuo,meqa verbo presente indicativo 1º plural de pessoa passivo
paideu,w instruem, treine, ensine; disciplina, correto; chicote, açoite, batida.
O termo tem ligação direta com o processo de educação, de ensino e
aprendizado. A palavra tem ligação com o termo paidagogoj que significa líder
de meninos. o paidagogoj tinha a função de levar o aluno para escola e
supervisionar a sua conduta de modo geral55.

5. ESTRUTURA

1 Cor 11:27-34
I-O problema da indignidade (da falta do discernimento) na ceia do
Senhor em Corinto.
27 Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor
indignamente, avnaxi,wj(

e;stai será réu e;nocoj do corpo e do sangue do Senhor. (sentença)


.
29 por isso quem come e bebe sem “discernir mh. diakri,nwn o
corpo”, come evsqi,wn e bebe pi,nwn
juízo kri,ma para si.

II- a condição para a participação da ceia do Senhor em Corinto.


1- O auto-exame (dokimazetw)

54
Ibid. 881.
55
Ibid. p. 1160.

19
2- O discernimento. (diakrinwn diekrinomen).

28 Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do


cálice; (Ordenança de Paulo. examinar, comer e beber. Se não há
discernimento, há pois uma penalidade). As conseqüências..
(conseqüências) .31 Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos
julgados.

III- A disciplina de Deus quanto a ceia na igreja de Corinto. As


conseqüências da falta do discernimento.
32 30 Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos
que dormem ,Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para
não sermos condenados com o mundo. ( explicação e exortação)
Conclusão. Ligação com todos os aspectos trabalhados.
Resumo geral e sinterização das ordenanças pastorais.
33 Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos
outros. 34 Se alguém tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes
para juízo. Quanto às demais coisas, eu as ordenarei quando for ter convosco.
(Um outro aspecto do ensino e exortação).

6. ANALISE DO TEXTO-ARGUMENTAÇÃO TEOLOGICA.

(O objetivo desta parte é compreendermos de maneira mais especifica o


sentido de 1 Cor 11.27-34).
O contexto remoto mostra que a nossa perícope esta dentro da
exortação de Paulo, quanto à maneira do culto Cristão celebrado pela igreja de
Corinto. Paulo vem trabalhando sobre as irregularidades da igreja quanto a
vários aspectos e nesta sessão ele aborda a maneira errada nas reuniões da
igreja. O contexto específico identifica diretamente as irregularidades que
acontecia durante a celebração da ceia do Senhor. Primeiro no verso 17 O
apostolo Paulo reprova a reunião, mostrando que o ajuntamento era para pior,
por causa das divisões de classes na igreja. Os mais ricos que traziam suas
refeições e se banqueteavam e sem embebedavam enquanto que os pobres
que não traziam nada eram desprezados. Eles se sentiam envergonhados e
menosprezados e os ricos se sentiam vangloriosos pelos seus bens e status

20
sociais. Segundo a partir dos versos 23 até 26, o apostolo Paulo remonta todo
aspecto e tradição da ceia que era do Senhor Jesus. Paulo trata a respeito da
nova aliança e da profunda participação da igreja com o corpo de Cristo.
Mostrando a centralidade da ceia ser Cristo. A igreja precisava olhar para ele e
sua volta. Terceiro a conscientização dos perigos e juízos de Deus pelos erros
cometidos diante da ceia de Senhor. Então o apostolo Paulo reprova a reunião
da ceia na igreja de Corinto, depois mostra o centro da ceia e em nossa parte
analisada, segue-se a explicação, e a conclusão do assunto da Ceia do
Senhor. Ele mostra os perigos de participar da ceia de modo indigno, seus
juízos pela falta de discernimento e os imperativos diante da ceia do Senhor.
Todos estes aspectos serão necessários para a nossa analise abaixo
concernente a ceia do Senhor, seguiremos a estrutura acima para um melhor
entendimento do texto.
Então nossa pergunta central para o melhor entendimento do texto em
análise é quais os perigos da santa ceia?

I- O perigo de participar indignamente do corpo de Cristo.


O parágrafo começa com a conjunção subordinada Wste “de sorte que”, ela
indica a subordinação do assunto anterior sobre as questões da nova aliança e
dos aspectos escatológicos da ceia, dos quais os participantes faziam parte do
corpo e do sangue de Cristo, ou seja, eram unidos em Cristo Jesus. A
centralidade de cristo e sua volta com a beleza da comunhão da igreja com o
seu senhor na mesa e na participação. Tais questões demonstram a
importância, a singularidade de um momento tão profundo que era a reunião da
ceia do Senhor. As palavras (a;rton) pão e (poth,rion) “cálice” concretizam e
direcionam apenas para os elementos da ceia do Senhor que apontam para o
corpo e o sangue de Cristo Jesus na cruz para a comunhão com Deus que foi
morto, que indicam diretamente para a ceia do Senhor. Os verbos evsqi,h
“comer” e pi,nh| “beber”, que estão no presente do subjuntivo ativo, apontam
que Paulo estava ressaltando a possibilidade do perigo da participação de
forma indigna. Paulo aqui mostra cuidado, pois os verbos estão ligados
diretamente com a participação do comer do pão e beber do cálice na ceia.

21
Agora vemos o verbo e;stai “será” que esta ligado com a condenação
daqueles que porventura estavam participando de forma indigna. O verbo está
no futuro do indicativo, isso implica em uma certeza futura da penalidade de
Deus na vida dos que participavam de forma indigna na ceia do Senhor. Este é
um grande perigo comer de modo indigno. Mas o que significa comer de modo
indigno?
Primeiro para entendermos o que seja a participação indigna, é preciso
analisar o que venha ser o termo indignidade. A palavra avnaxi,wj “indigno” é um
modo negativo e vem da raiz de axioj “digno”, a palavra axioj tem o sentido
daquilo que inclina a balança, “contrabalança”, que é “de igual valor”“. A figura
é uma balança de dois pratos e coloca um axios em um prato da balança para
no outro prato ter o mesmo valor. Axioj é digno da verdade, valioso. Anaxioj é
um furto, ou um valor que não corresponde o outro lado do prato da balança,
mostra um valor desigual, diferente, injusto, indigno. O apostolo Paulo usa axioj
para a conduta Cristã, que viver de modo digno, é viver com o mesmo peso do
evangelho, ou seja, de conformidade, também com o valor correspondente do
evangelho, não de forma relaxada, descompromissada, mas sim de forma
digna do evangelho (Ef 4.1; Fil 1.27;Col 1.10; 1 Tes 2.12). Ainda no uso do
termo axioj, Paulo mostra em Ef 4. 1-6; Fil 1.27 que o modo de viver com o
mesmo peso é viver em unidade dos relacionamentos, lutando pela comunhão
entre os irmãos. Anaxios no uso do apostolo seria uma vida
descompromissada, relaxada do evangelho, sem esforço, e não vivendo com o
mesmo valor do evangelho, pois viver com o mesmo valor é viver na unidade
da igreja, na santidade e na busca de manter a comunhão nos relacionamentos
entre irmão. a participação de forma indigna nos remota ao contexto próximo e
também de toda a forma como a igreja estava vivendo, em viver sem a plena
consciência dos seus erros. Nos remete também ao senso de orgulho
recorrente da cidade que refletia na vida dos membros em se acharem dignos
por eles mesmos de participar da ceia. Enquanto que a dignidade era
puramente pelos elementos representados o sangue e o corpo de Cristo. A
dignidade verdadeira é se achar indigno, porém confiado no sacrifício de Cristo
Jesus.

22
É um esforço de viver em preservar a unidade no corpo de Cristo, sendo
o contrario disso um anaxioj que é não refletir a comunhão nos
relacionamentos. Viver em divisões afetando assim a unidade da igreja, e
afetando na comunhão dos irmãos. Então, com isso podemos observar o uso
desta palavra no contexto de Paulo para ceia que a indignidade para o apostolo
é agir de uma forma que não reflete o valor da ceia. A participação da igreja de
Corinto na ceia do Senhor revelava que eles fugiam do sentido real da ceia e
não expressavam com vida, aquilo que era a mensagem, o significado, o valor
e a profundidade da relação na celebração da ceia do Senhor.
Segundo para um entendimento sobre a indignidade precisa-se
observar a estrutura gramatical das frases e das palavras no texto. Observa-se
que há um paralelismo entre os versos 27 e 29. O apostolo Paulo vai explicar
no verso 29 que “quem come sem discernir o corpo”, trás para si juízo de Deus,
de forma paralela há uma explicação mais especifica sobre a indignidade na
participação da ceia do Senhor. A indignidade liga-se direto a falta de
discernimento do corpo de Cristo. “Pois quem come sem discernir o corpo,
come e bebe juízo para si”. Este termo está ligado também com o verbo
“examine-se o homem a si mesmo”, então seguindo a estrutura gramatical, a
indignidade é o resultado da falta do discernimento, a falta do autoexame
termos dos quais trataremos a seguir. Portanto os de Corinto estavam de forma
imprudente, falsa, desprezível, indigna participando da celebração da ceia pela
falta de discernimento e de e autoexame.
Em terceiro lugar para chegarmos ao sentido da indignidade precisa-se
observar o contexto anterior, e as circunstancias da ocasião. O contexto
anterior que vai dos versos 17 a 22, Paulo não elogia a atitude dos
participantes das reuniões da celebração da ceia do Senhor. Por que a
explicação de Paulo que o resultado do ajuntamento era para pior e não para
melhor. O apostolo Paulo foi informado sobre as divisões existentes na
comunidade durante as reuniões. Esta divisão não está relacionada com os
partidos do começo da carta quando a Apolo, Cefas, Paulo, Cristo. Aqui está
relacionada diretamente a divisão de nível social, entre pobres e ricos. Alguns
estavam comendo a sua própria refeição, antecipadamente e também se
embriagando ao passo que outros estavam com fome.

23
Paulo levanta algumas perguntas retóricas e centraliza dois aspectos da
irregularidade da comunidade “ou menosprezais a igreja de Deus e
envergonhais os que nada têm?”. Estes dois aspectos centralizam o problema
da igreja o menosprezo e a humilhação dos pobres. Com base na analise sócio
histórica havia uma ligação da celebração da ceia do Senhor com a festa do
ágape. A festa do amor era uma refeição comum feita nas casas que tinha um
significado central na celebração e demonstração da comunhão. Era o
momento de culto que dava a oportunidade de expressar a prática do amor, em
ação social generosa para com os mais pobres e necessitados. Algo que não
estava acontecendo na igreja de Corinto, visto que aconteciam abusos, quando
os mais ricos traziam suas comidas e eles mesmos comiam, e não esperavam
os trabalhadores que precisavam cumprir as suas cargas horárias, como no
caso dos escravos e trabalhadores comuns pertencentes da comunidade.
Os mais pobres se sentiam envergonhados na distribuição de lugares,
tendo em vista que muitos ficavam sem lugar para a refeição e outros quando
assim tinham um lugar, os lugares eram os menos privilegiados, tanto da
atenção, quanto da posse da própria comida. A diferença na quantidade e valor
da comida, juntamente com os lugares diante da mesa era um símbolo dos
povos em mostrar os status sociais, e privilegiar uns e desfavorecer outros, é o
momento que fica transparente em que classe a pessoa de fato se encontra na
sociedade.
Ainda que poucos da comunidade não pensassem nestas categorias, a
ação envergonhava os mais pobres. Para muitos era o momento de mostrar os
seus bens e importâncias, e também mostrar que muitos precisavam das suas
doações. Outro erro diante da festa do amor era que muitos se embriagavam, e
não diferenciavam a ceia do Senhor de uma refeição comum.
Portanto diante destes aspectos que eles não refletiam o mesmo valor que
a santa ceia do Senhor mostrava, significava e anunciava. É interessante notar
que o viver de modo digno é viver no esforço em manter a unidade e a
comunhão, sendo que no momento da mais importante celebração da santa
ceia ficava evidenciada a separação. A própria a reunião servia para a
comunidade como o momento de quebra da comunhão, por causa das divisões
entre ricos e pobres, discriminações vergonha e orgulho, falta de
discernimento.

24
A palavra e;nocoj “culpado” Tem uma figura de culpado de um tribunal,
sendo passível ou merecedor de uma penalidade e Até mesmo passivo de
morte. Culpado diante do sangue e do corpo do Senhor, em vez de estar diante
de um momento de vida, e benção, Paulo acentua que aqueles que
participavam de forma indigna eram merecedores da sentença de condenatória
de Deus56.
Ainda abaixo vamos trabalhar aquilo que centraliza esta primeira parte da
analise. O ponto central é sobre a indignidade de Ceia do Senhor na igreja de
Corinto, pois existe uma sentença condenatória para aqueles que são indignos
na participação.

II- A Condição para a Participação da Ceia do Senhor em Corinto.


O versículo 28 consta com a presença da conjunção adversativa de.
“mas”, contraria a idéia anterior, que é a participação de forma indigna,
mostrando a forma correta de participar da Ceia do Senhor. dokimaze,tw de.
a;nqrwpoj e`auto.n kai. ou[twj “mas examine-se o homem a si mesmo”. O modo
correto da participação da ceia em primeiro momento é fazer um auto-exame.
O verbo dokimaze,tw “examine-se” esta no presente do imperativo ativo. Isso
implica em uma ordem, que no tempo presente a partir daquele momento
precisa ser atendida continuamente. A ordem é que ao participar precisa-se ter
esta postura continua diante da mesa do Senhor. A voz é ativa implica que é
uma ação apenas do próprio individuo, aqui não é uma voz passiva em que o
sujeito sofre a ação, mas sim uma voz ativa que o sujeito pratica a ação. Ainda
mais com a presença da sentença a “si mesmo” ficando claro que a ação é
apenas do próprio individuo para com ele próprio, ficando para um critério de
foro intimo da pessoas. É uma ordem dada pelo apostolo Paulo que deve ser
atendida continuamente ficando somente para o próprio individuo o
discernimento correto.
O verbo dokimaze,tw vem da raiz dokimoz que tem o sentido literal de
“aprovar” ou “testar”. Dokimos é um termo comercial usado para denotar o teste

56Estes aspectos da condenação e juízo de Deus abordaremos abaixo, no ponto três deste
capitulo.

25
de moedas validas, sendo que as aprovadas eram dinheiros genuínos, não
falsificados57. O termo trás o sentido do metal que necessita de passar pelo
fogo para observar a sua validade. A palavra tem aspectos diretos em ser
aprovado e ressalta um resultado positivo em que aquilo que é testado é
aprovado como genuíno. Neste sentido o uso do verbo dokimaze,tw revela a
ação feita pelo próprio individuo para consigo mesmo com um caráter
cuidadoso, um auto-exame criterioso, como que testado pelo fogo, que resulta
em um discernimento com todo temor, tremor, reverência diante da situação,
mas com um fator de aprovação. É um teste de prova de fogo, mas que o
sujeito se sinta aprovado. O sentido do termo, ainda que, levando em conta
todo o cuidado e zelo e temor, existe no termo uma ação positiva de aprovação
pelo discernimento alcançado.
A presença das conjunções kai. ou[twj “e” “para que”, a primeira é aditiva
que adiciona a frase anterior com a seguinte “ e “ assim coma do pão e beba
do cálice. A segunda é um conjunção final, que aponta para um alvo, para uma
finalidade. O processo da aprovação com reverencia e temor tem a finalidade e
o um outro convite que trás o mesmo peso da ordem anterior em comer do pão
e beber do cálice. Todo o processo de dokimaze,tw de “auto-exame” tem um alvo
da ordem da participação. O verbo evsqie,tw “comer” e pine,tw\ “beber” tem a
mesma classificação de dokimaze,tw “examine-se”. Os verbos estão no presente
do imperativo ativo, que indicam também uma ordem dada pelo apostolo Paulo.
Em comer o pão e em beber do cálice. Implica em uma participação continua
da ceia do senhor, é um convite que fortalece a prova de fogo do auto exame,
a finalidade da aprovação é o participar da ceia do Senhor. É o convite da
graça, é o convite do amor, é o convite da certeza da participação, depois de
um momento criterioso de analise e discernimento próprio existe uma outra
ordem que é a ordem da participação do corpo e do sangue de Cristo.
A presença da conjunção ga.r “tendo em vista que” faz a ligação do
versículo anterior com o versículo seguinte, apontando para uma explicação do
versículo anterior descrevendo que a ação do não dicernimento resulta em
juízo. Paulo vem trabalhando nos termos e ligando o sentido, mostrando que
há uma relação direta do termo dokimaze,tw com o termo diakri,nwn “discernindo”.

57 MARTIN, R. P., Filipenses, Introdução e comentário. p. 81.

26
Uma tradução melhor para o verso 29 seria “tendo em vista que quem
comendo e bebendo não discernindo o copo, come e bebe juízo para si”. Os
verbos evsqi,wn “comendo”, pi,nwn “bebendo” diakri,nwn “discernindo” ambos
estão classificados no particípio, presente, ativo que dá a condição de uma
ação em andamento. Paulo diz que estiver comendo e bebendo sem fazer a
distinção do corpo será penalizado. A palavra literalmente significa julgar
aparte, de dia “à parte” e krino “julgar”. Fazer uma distinção, julgar
corretamente, fazer uma decisão.
O verbo vem da raiz diakrino que tem uma figura da separação de
rebanhos de ovelhas. O sentido da palavra tem um aspecto de separação e
tomada de decisão. O verbo diakri,nwn vem precedido pela partícula de
negação mh. apontando a negação da sentença. Paulo diz que quem não faz
separação do corpo. A palavra soma “corpo” é de total importancia para a nossa
analise. Primeiro a palavra denota o aspecto do corpo de Cristo, identificando o
com relação o corpo físico de Cristo.
No contexto nosso do texto esta relacionado com o pão da ceia que é o
corpo de Cristo que seria cortado na cruz, identifica a sua morte. E em um
segundo momento também aponta para a igreja. Paulo usa esta palavra para
em seu melhor entendimento da igreja como um melhor conceito sendo o
corpo. Paulo usa apontando que a própria igreja é o corpo de Cristo, e o
individuo faz parte de um mesmo organismo (1Cor 12.27) pertencer a Cristo
trás a idéia de ser membro do corpo de Cristo, ou seja, do mesmo organismo58.
A igreja é um corpo por que é uma unidade. É somente quando os membros se
reúnem e convivem, que o amor, que se descreve em 1 Cor 13 como dádiva
suprema. Paulo usa esta palavra muitas vezes na epístola estudada e em sua
maioria das vezes identificando como corpo de Cristo a igreja e pertencente do
seu corpo.
Tanto no capitulo anterior, quanto no posterior que serve como o nosso
contexto remoto encontramos Paulo dizendo que 1 Cor 10:17 Porque nós,
embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos
participamos do único pão. Aqui Paulo unifica o conceito de pão da ceia e o
corpo de cristo a igreja. o que acontece o mesmo em nosso capitulo estudado.

58 Lothar COENEN, Colin BROWN, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento.


p. 993.

27
A unificação destes dois aspectos. Em 1 Cor 12:20 O certo é que há muitos
membros, mas um só corpo. Aqui aponta para a unidade da igreja como corpo
de Cristo. E em 1 Cor 12:27 Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente,
membros desse corpo, aqui aponta para o mesmo aspecto da união com Cristo
como sua igreja.
Com base em nosso contexto podemos identificar o que Paulo esta
dizendo que a comunidade de Corinto não estava fazendo a separação da ceia
do senhor de uma refeição normal. Eles não estavam tendo o discernimento
necessário em separar um ato tão importante e místico de uma refeição
comum. E pesa ainda mais o fato de ocorrer badernas como embriaguez e falta
de ordem e reverencia na ocasião da festa do amor juntamente com a ceia do
Senhor. Uma outra implicação do contexto quanto à falta de discernimento é a
questão de não entender o que é o corpo de Cristo. A comunidade se reunia
para pior por causa da divisão existente dos de classe alta e dos de classe
baixa. A comunidade não entendia o que é ser realmente corpo de Cristo, e a
unidade dos relacionamentos como um só corpo.
Portanto a condição para a participação da ceia que o apostolo Paulo
estava ordenando era fazer uma auto-avaliação criteriosa de si mesmo. Tem
um aspecto em não chegar de qualquer modo, sem uma reverente contrição,
mas tendo uma certeza de aprovação por causa do sangue e do corpo de
Cristo que foi morto justamente para selar a comunhão com o próprio Deus
através do corpo e do sangue de Jesus. Também de separar o pão, distinguir a
ceia de qualquer outra refeição. Não celebrando de qualquer jeito, pois é um
momento sublime do anuncio da volta e a envolve os aspectos da morte de
Cristo. Também em discernir a igreja como corpo de Cristo, o lugar da
igualdade e da unidade.

III- A disciplina de Deus na igreja de Corinto.


No primeiro tópico foi observado sobre a indignidade da ceia do Senhor,
vimos que o resultado de uma participação apontava para um “culpado” indica
um procedimento de um tribunal quando já sentenciado para a penalidade
devida. No segundo tópico o qual denominamos a condição para a participação
da ceia do senhor, encontramos uma sentença de penalidade para o individuo

28
que não discernia o corpo de Cristo. A classificação dos verbos ligados as
palavras enoxoj “culpado”e krima “juízo” estão sempre no modo indicativo, que
aponta para uma certeza da condenação divina. Com relação a primeira
palavra o tempo é futuro que indica ainda uma certeza na condenação, já a
sentença ligada a segunda palavra que indica o juízo de Deus esta no tempo
presente, uma ação em andamento para aqueles que comiam sem discernir o
corpo.
O juízo de Deus já estava acontecendo na comunidade de Corinto. No
verso 30 observa-se a presença da preposição dia que esta no caso genitivo,
indicando origem. Paulo mostra a razão de alguns estarem fracos, doentes e
outros que estavam morrendo na comunidade. Isso demostra já presente a
penalidade de Deus na igreja, isso por causa das irregularidades diante da
mesa do Senhor. A palavra avsqenh,j aponta para a fraqueza do corpo, um
corpo debilitado, literalmente sem força. A palavra com um sentido figurado é
mais presente na literatura Paulina. Paulo aqui usa esta palavra para mostrar a
fraqueza de alguns da comunidade em ter um discernimento espiritual. O
comportamento e debilidade espiritual da igreja, Paulo já ver como um juízo de
Deus. O termo a;rrwstoj “doente” já não é usado no sentido figurado tem um
aspecto de doença no corpo físico, algo que estava acontecendo na igreja que
já era penalidade de Deus. O verbo koimw/ntai é usado por Paulo no sentido
de morte física. O verbo esta no presente do indicativo mostra que casos de
morte estavam realmente acontecendo como disciplina de Deus.
O verso 31 começa com uma condicional ei “se” seguido de uma
conjunção adversativa de “mas” que demonstra a ação contraria da penalidade
se o prosseguimento da igreja de Corinto for diekrinomen “discernimento” ou
“exame próprio”. Paulo repete o termo e a mesma idéia, pois o verbo esta no
presente do imperativo, se a comunidade observa-se a ordem seria livre da
penalidade de Deus. Paulo diz que não seriamos julgados, é interessante que
Paulo agora muda de pronome e se coloca também diante do argumento.
Assumindo também como filho as devidas penalidades do seu pai. Mas Paulo
diz que sendo disciplinado por Deus tem um objetivo de não ser condenado
com o mundo. O termo paideuo,meqa tem ligação direta com o processo de
educação, de ensino e aprendizado. A palavra tem ligação com o termo

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paidagogoj que significa líder de meninos. Paulo usa este verbo para mostrar
que o processo de disciplina visa o aprendizado do povo. O propósito é
conduzir para o caminho certo, e como responsável por eles, Deus tinha como
um pai, direito a penalizá-los para que eles não fossem condenados ao castigo
eterno. Portanto no processo de justo juízo, a disciplina de Deus para aqueles
que são dele, ainda sim é um processo de graça e de amor feita pelo próprio
Deus.
Portanto os últimos capítulos, o apostolo Paulo faz uma síntese de todo
o assunto tratado até aqui, e podemos observar claramente o seu propósito
que diz Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns
pelos outros. Se alguém tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes
para juízo (33-34). Ele resume as questões das diferenças em uma
participação de igual forma e todos juntos sem desprezo e também que faça a
separação de uma refeição normal individual da ceia do Senhor para não
serem disciplinados pelo Deus todo poderoso

Conclusão:
A comunidade em Corinto agia diante da ceia de uma forma que não
refletia o valor da ceia. A participação da igreja de Corinto na ceia do Senhor
revelava que eles fugiam do sentido real e não expressavam com vida, aquilo
que era a mensagem, o significado, o valor e a profundidade da relação na
celebração da ceia do Senhor.
Eles tratavam os elementos da ceia de forma como uma coisa comum.
Não davam a devida importancia, não compreendiam. Fica –se bastante claro
ao observar que a questão da dignidade não esta relacionada diretamente as
questões morais dos participantes, contudo sim, fazer a distinção do que é ceia
e também observa-la e procurar um modo de vida de acordo com o evangelho,
do amor mutuo, pois é graça que torna digno os homens indignos a comunhão
com Deus

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A condição é uma profunda auto-analise não é chegar de qualquer forma
diante da ceia, mas sim com exame tendo o discernimento. A ação deve ser
feita pelo próprio individuo para consigo mesmo com um caráter cuidadoso, um
auto-exame criterioso, como que testado pelo fogo, que resulta em um
discernimento com todo temor, tremor, reverência diante da situação, mas com
um fator de aprovação. É um teste de prova de fogo, mas que o sujeito se sinta
aprovado.
A indignidade liga-se direto a falta de discernimento do corpo de Cristo.
a igreja no menosprezo e a humilhação dos pobres. O corpo de Cristo é o lugar
de expressar a pratica do amor, em ação social generosa para com os mais
pobres e necessitados. No corpo de Cristo e em sua visão não há diferenças
de classes, diferença de cor, de raça, de sexo, há contudo uma unidade.
Precisamos olhar o ser humano com dignidade. Pois só assim seremos
capazes de servir, quando a nossa visão é afetada e quando o nosso coração
é alcançado por Cristo. Vemos que todo o ensino de Jesus baseava-se na
anulação das diferenças e o ponto de partida para essa anulação é o amor em
serviço.
É interessante notar que o viver de modo digno é viver no esforço em
manter a unidade e a comunhão, sendo que no momento da mais importante
celebração da santa ceia ficava evidenciada a separação. A própria a reunião
servia para a comunidade como o momento de quebra da comunhão, por
causa das divisões entre ricos e pobres, discriminações vergonha e orgulho,
falta de discernimento. As penalidades acontecem quando há uma falta de
compromisso com as coisas de Deus. Os seus filhos são penalizados pelo pai,
ainda sim é um meio de graça por que visa o livramento de um juízo ainda
maior.
Portanto a condição para a participação da ceia que o apostolo Paulo
estava ordenando era fazer uma auto-avaliação criteriosa de si mesmo. Tem
um aspecto em não chegar de qualquer modo, sem uma reverente contrição,
mas tendo uma certeza de aprovação por causa do sangue e do corpo de
Cristo que foi morto justamente para selar a comunhão com o próprio Deus
através do corpo e do sangue de Jesus. Também de separar o pão, distinguir a
ceia de qualquer outra refeição. Não celebrando de qualquer jeito, pois é um
momento sublime do anuncio da volta e a envolve os aspectos da morte de

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Cristo. Também em discernir a igreja como corpo de Cristo, o lugar da
igualdade e da unidade.

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