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APELAÇÃO CÍVEL

Nº 5628375.28.2019.8.09.0051
COMARCA DE GOIÂNIA
APELANTE : HANNAN DUCAN SANTANA
APELADO : JOSÉ FERREIRA DE MOURA JÚNIOR
RELATOR : DES. ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO

VOTO

Presentes os pressupostos de admissibilidade do recurso, dele conheço.

Como relatado, trata-se de apelação cível interposta contra a sentença (movimentação nº. 37)
preferida nos autos das “Ações de Anulação de Casamento e de Divórcio”, respectivamente, na
qual o magistrado singular julgou improcedente o pedido de anulação de casamento e, na outra
vertente, acolheu o de divisório, condenando a apelante, de consequência, ao pagamento das
despesas processuais e honorários advocatícios, sendo estes fixados na importância de R$
1.000,00 (um mil reais) em cada uma delas.

Pois bem. Eis os fatos que estão a exigir devida apreciação. Examino-os sob o enfoque devolvido
pelo apelo.

A princípio, convém salientar que a possibilidade de anulação do casamento em decorrência de


erro quanto à pessoa do cônjuge encontra-se prevista no artigo 1.556 do Código Civil, senão
vejamos:

“Artigo 1.556 - O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se


houve por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto
à pessoa do outro”.

Por oportuno, importante ressaltar não ser qualquer espécie de equívoco que a legislação admite
como sendo causa de anulabilidade do casamento. É mister que o erro seja substancial a ponto
de influenciar na declaração de vontade do nubente.

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


Documento Assinado e Publicado Digitalmente em 01/03/2021 16:41:51
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A propósito do tema em debate, leciona com muita propriedade o doutrinador Arnaldo Rizzardo,
em seu livro “Direito Família” - Volume 1 - 1ª edição - in verbis:

“O erro é a falsa ideia a respeito de alguma coisa ou uma pessoa.


Significa a opinião que não corresponde à verdade, levando alguém a
não formular livremente seu consentimento. Forma-se uma concepção
não real do outro, envolvendo aspectos essenciais, ou substanciais,
viciando a vontade da pessoa. Daí corresponder à divergência entre a
vontade e a declaração ou vontade externada. Há uma falsa imaginação
ou visão do celebrando a respeito do negócio que está realizando. Por
isso, o consentimento não se expressa de modo livre e real”.

E quanto ao erro essencial, o artigo subsequente, em seu inciso I, define seu alcance:

“Art. 1.557 - Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro


cônjuge:

I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse
erro tal que o conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum
ao cônjuge enganado”.

Destarte, pela leitura do dispositivo legal acima transcrito, depreende-se que a anulação do
vínculo conjugal, baseada em erro substancial quanto à identidade, honra e boa-fé reveste-se de
alguns requisitos, a saber: I) existência de atos e fatos, anteriores ao matrimônio, acerca da
identidade do outro cônjuge; II) descoberta da verdade pelo cônjuge enganado, ulterior ao
casamento, tornando intolerável a vida em comum.

Daí porque e, na ausência de tais pressupostos, fica inviabilizado a alegação de erro e,


consequentemente, a procedência do pedido.

No caso em estudo, o que se observa é que as alegações da apelante acham-se alicerçadas no


simples fato de que o apelado teria faltado com a verdade acerca de suas condições financeiras,
apresentando uma situação econômica que não correspondia a realidade, em sendo assim, ainda
que verdadeira tal situação, compreendo que não seria o suficiente como causa determinante de
anulação do casamento a não ser que sentimentos que uniram os cônjuges estejam escorados
apenas em interesses materiais e não nos valores que devem pautar o instituto do casamento,
principalmente porque o regime adotado como o de “comunhão parcial de bens”.

Nessa quadra, se a qualidade civil do cônjuge não foi a causa determinante do casamento,
descabe a sua anulação, mormente se a autora sabia em data anterior a sua celebração a

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atividade desempenhada pelo réu. E em relação à suposta conduta violenta do recorrido cabe
perquirir se tal desvio de comportamento existia antes da celebração, pois somente a constatação
da condição anterior caracteriza o erro, ou seja, deve-se aferir se a circunstância ignorada pela
apelante era preexistente ao casamento, o que não ficou demonstrado pelas provas colacionadas
nestes autos.

Nesse contexto, assevera a apelante que durante o namoro, o requerido era atencioso, carinhoso
e honesto; contudo, após o casamento, assumiu conduta agressiva, desequilibrada e
descompromissada com os interesses que devem pautar a relação conjugal. Desse modo, a
alteração do comportamento, por si só, não configura erro substancial quanto à pessoa, cabendo
à apelante comprovar o desvio de conduta preexistente ao casamento, repriso, ônus do qual não
se desincumbiu, nos termos do que prescreve o artigo 373, inciso I, do Código de Processo Civil.

Com efeito, para que a ação de anulação de casamento seja julgada favoravelmente tornar-se-ia
imprescindível a prova de que somente após o casamento veio o cônjuge enganado a tomar
conhecimento sobre determinado fato que figure em erro essencial sobre a pessoa; caso não haja
comprovação de que esses fatos tenham ocorrido antes do casamento, mas após, o caso é de
divórcio judicial.

Enfim, em razão do seu caráter de excepcionalidade, a anulação de casamento somente é


possível quando presentes os requisitos da ulterioridade do conhecimento sobre o “error in
persona” e da insuportabilidade da vida em comum dele decorrente, razão pela qual e, não
havendo provas da conduta desabonadora e desonrosa do apelado antes do enlace matrimonial,
o caso é de divórcio judicial e não anulação de casamento, por último, o registro de que a ação de
divórcio não constitui instrumento adequado para a cobrança de despesas realizadas no período
de duração da sociedade conjugal.

Ante o exposto, sem maiores considerações sobre o tema em debate, conheço da apelação cível
e lhe nego provimento, a fim de manter a sentença recorrida por estes e seus próprios e jurídicos
fundamento, contudo, nos termos do que dispõe o § 11, do artigo 85, do Código de Processo
Civil, majoro a verba honorária anteriormente arbitrada no primeiro grau de jurisdição para o
importe de R$ 1.200,00 (hum mil e duzentos reais) em cada uma das ações.

É o voto.

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ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO

RELATOR

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RELATOR : DES. ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÕES DE ANULAÇÃO DE


CASAMENTO E DE DIVÓRCIO. ANULAÇÃO CASAMENTO. ERRO
ESSENCIAL. REQUISITOS. NÃO COMPROVAÇÃO. DIVÓRCIO.
PRESSUPOSTOS DEMONSTRADOS. 1. A anulação do casamento por
erro substancial quanto à identidade, honra e boa fama está sujeita à
presença dos requisitos elencados no art. 1.557, inciso I, quais sejam,
circunstância ignorada preexistente ao casamento e descoberta da
verdade, tornando a vida em comum insuportável. 2. Se a qualidade civil
não foi causa determinante do casamento, a ponto de influenciar a
vontade do nubente enganado, descabe a anulação. 3. Inexistindo
comprovação da personalidade agressiva e violenta do apelado, antes de
contrair núpcias, o caso é de divórcio judicial e não anulação do
casamento, mormente por se tratar de medida excepcional. APELAÇÃO
CÍVEL CONHECIDA E DESPROVIDA. SENTENÇA MANTIDA.

ACÓRDÃO

VISTOS, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as mencionadas em


linhas volvidas.

ACORDA o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, em sessão pelos integrantes da


Segunda Turma Julgadora da Quinta Câmara Cível, por unanimidade, em conhecer do
recurso e lhe negar provimento, nos termos do voto do relator.

VOTARAM com o relator os Desembargadores Guilherme Gutemberg Isac Pinto e


Marcus da Costa Ferreira.

PRESIDIU a sessão o Desembargador Guilherme Gutemberg Isac Pinto.

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REPRESENTOU a Procuradoria-Geral de Justiça o ilustre Dr. Osvaldo Nascente
Borges.

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ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO


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