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AO JUÍZO DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DO TERMO JUDICIÁRIO DE SÃO

LUÍS/MA DA COMARCA DA GRANDE ILHA.

SUMÁRIO:1. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA 2.


PRELIMINARMENTE 2.1 DO JUÍZO PREVENTO 2.2 DA
LEGITIMIDADE E INTERESSE DE EXIGIR CONTAS 2.3 DO
INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL INFRUTÍFERO 2.4 DO
CABIMENTO 3. DOS FATOS 4. DO MÉRITO 4.1 DA NECESSIDADE
DE HAVER PRESTAÇÃO DE CONTAS PARA PRESERVAR A
HERANÇA 4.2 DA PRESTAÇÃO DE CONTAS DOS BENS
OCULTADOS PELO INVENTARIANTE 5. DOS PEDIDOS

ÂNGELA CRISTINA RIBEIRO FERREIRA, brasileira, solteira, portadora

do RG n° 000052917096-5 e do CPF n° 774.962.803-72, residente e domiciliada à Rua José

Cândido de Moraes, Quadra 23, Casa 21, Bairro Cohama, São Luís/MA, CEP 65073-830,

por intermédio de meu advogado, vem, respeitosamente, à presença do r. Juízo, propor

a presente

AÇÃO DE EXIGIR CONTAS

Em face de ANDERSON ROBERT RIBEIRO FERREIRA, brasileiro,

solteiro, advogado, inscrito na Ordem dos Advogados do Maranhão sob o número

15.511 e e-mail: andersonrf27@hotmail.com, portador da carteira de identidade nº

000050169396-3 e do CPF nº 679.726.083-34, residente e domiciliado na Avenida São

Sebastião, nº123-B, Cruzeiro do Anil, CEP 65060-700, São Luís/MA, inventariante, com

base nos seguintes fundamentos:

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1. DA JUSTIÇA GRATUITA

Requer a autora que se digne o r. juízo lhe conceder os benefícios da justiça

gratuita nos termos do artigo 5º, inciso LXXIV da Constituição Federal e art. 98 e

seguintes do CPC, pois a sua situação econômico-financeira não lhe permite pagar as

custas do processo e os honorários de advogados sem prejuízo de seu sustento próprio,

posto que não trabalha mais na empresa do seu falecido pai e apenas recebeu a quantia

que lhe era devida mensalmente correspondente à sua cota societária por um mês, não

mais recebendo valores desde novembro de 2022.

Entretanto, caso este Douto Juízo não entenda pela concessão do benefício

da Justiça Gratuita, requer que as custas sejam cobradas ao fim do processo, em

homenagem ao princípio do amplo acesso à justiça.

2. PRELIMINARMENTE

2.1 Do Juízo Prevento

Inicialmente faz-se necessário definir a competência para processar a

presente ação de exigir contas.

Consoante a legislação e jurisprudência pátrias, compete ao juízo que

decretou a interdição o processamento de ações que advêm dos efeitos desta, a exemplo

da presente ação, que decorre de má administração e falta de prestação de contas do

curador/inventariante.

Ressalta-se que a obrigação de prestar contas sobrevive ao falecimento do

curatelado, em razão de ser direito dos herdeiros e credores tais informações, de modo

que, não obstante o óbito do Sr. Carlos Alberto Ferreira, o seu filho e curador Anderson,

ora demandado possui o dever de apresentar as contas da sua gestão, que ultrapassou

os limites da curatela e atingiu os de inventariante, no curto período em que este

documento possuiu selo válido, senão vejamos:

Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO


DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS Gabinete do Des.
Gilberto Pereira de Oliveira Número do processo: 0716024-
32.2019.8.07.0000 Classe judicial: CONFLITO DE
COMPETÊNCIA CÍVEL (221) SUSCITANTE: JUÍZO DA
PRIMEIRA VARA CÍVEL, DE FAMÍLIA E DE ÓRFÃOS E
SUCESSÕES DE BRAZLÂNDIA SUSCITADO: JUÍZO DA

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SEGUNDA VARA CÍVEL, DE FAMÍLIA E DE ÓRFÃOS E
SUCESSÕES DE BRAZLÂNDIA EMENTA DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE
COMPETÊNCIA. MODIFICAÇÃO DE CURATELA.
PREVENÇÃO DO JUÍZO ONDE SE PROCESSOU E
DECRETOU A INTERDIÇÃO DA PESSOA CURATELADA.
AÇÃO ACESSÓRIA. PRINCÍPIO DA GRAVITAÇÃO
JURÍDICA. Compete ao Juízo que decretou a interdição de
determinada pessoa o processamento de eventual ação em que
se pretenda a modificação, remoção e/ou levantamento da
curatela, prestação de contas, autorização acerca de ato que
dependa de autorização judicial, etc, porquanto estas demandas
se revelam como secundárias daquela ação (interdição) dita
raiz, nos termos do primado da gravitação jurídica, em que o
acessório segue o principal. Conflito não acolhido, pelo que se
declarou competente para julgar o feito originário o JUÍZO
(suscitante) JUÍZO DA PRIMEIRA VARA CÍVEL, DE FAMÍLIA
E DE ÓRFÃOS E SUCESSÕES DE BRAZLÂNDIA.
(TJ-DF 07160243220198070000 DF 0716024-32.2019.8.07.0000,
Relator: GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA, Data de
Julgamento: 07/10/2019, 1ª Câmara Cível, Data de Publicação:
Publicado no PJe : 07/11/2019 . Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Portanto, o juízo competente para processar e julgar a presente demanda é o

da 1° Vara de Interdição e Sucessões.

2.2 Da Legitimidade e do Interesse de Exigir Contas

É notório no Ordenamento Jurídico Pátrio que no procedimento ora

abordado a legitimidade é conferida unicamente a quem tem o direito de exigir contas.

Nesse sentido é que a Autora, na qualidade de herdeira necessária do espólio

do Sr. Carlos Alberto Ferreira, seu genitor, diante da não prestação de contas referente

aos ganhos da Microempresa Individual Carlos A Ferreira – ME, GELMOAR, assim

como ocultação e possível dilapidação de patrimônio, vem a juízo compelir o

curador/inventariante dos bens a apresentar as devidas contas e sujeita-las à deliberação

judicial.

Outrossim, faz-se mister reconhecer o caráter dúplice da presente ação

porque no plano de direito material tanto a Requerente quanto o curador/inventariante

têm igual interesse no preparo e na conclusão das contas, o que se reflete no curso do

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acertamento judicial, em que pode influir na respectiva composição pode ser exercido

indistintamente pelos dois litigantes. Assim satisfeito este requisito requer seu devido

deferimento.

2.3 Do Cabimento

O Código de Processo Civil, em sua política de eliminar procedimentos

especiais desnecessários, manteve em seu rol apenas a ação de exigir contas, retirando a

divisão que existia no antigo Código em dar contas e outro procedimento

separadamente para exigi-las.

Por sua vez, o procedimento especial da ação de exigir contas foi concebido

no direito processual com a destinação específica de compor litígios em que a pretensão,

no fundo, se volta para o esclarecimento de certas situações resultantes, no geral, da

administração de bens alheios.

Assim, não importa a posição do autor quanto ao saldo, vez que tanto o

credor como o devedor têm igual direito a exigir e prestar contas. Desse modo, o gestor

de valores ou recursos alheios que se acha sujeito a prestar contas tem não só a obrigação

como também o direito de as prestar.

Portanto, como a presente ação vem sendo proposta pela herdeira e não por

parte do curador/inventariante, é completamente cabível.

2.4 Do Inventário Extrajudicial Infrutífero.

Preliminarmente aos fundamentos que lastreiam a exordial, há de se

esclarecer acerca da atual situação da escritura pública de inventário e partilha pelo

falecimento do Sr. Carlos Alberto Ferreira.

Sucede que, ao procederem com o encerramento do livro de notas nº 52 do

8º Tabelionato de Notas, não foram encontradas as folhas nºs 158, 159 e 160, relativas ao

inventário extrajudicial (Doc. 02).

Assim, considerando a não localização da escritura pública, procedeu o

interventor ao cancelamento do selo de fiscalização, ajuizando ação posteriormente,

instruída nos autos n° 0869452-42.2022.8.10.0001 (Doc. 03), a fim de buscar providências.

A partes interessadas demonstraram em juízo a regularidade do inventário

realizado (pagamento de emolumentos, taxas e demais documentos), resultando em

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decisão favorável do Juízo da Vara Especial do Idoso e Registros Públicos para a

restauração do selo de fiscalização, sem custas.

No entanto, ao reunirem os documentos necessários para a restauração do

selo, notou-se a falta da certidão estadual de negativa de débitos que não pôde ser

fornecida em razão da pendência de dívidas de IPVA (Doc. 04).

Ora, a regularização do selo não foi possível em razão do costumeiro

inadimplemento dos atuais administradores da empresa, o Curador, Réu, e seus dois

irmãos, Erlon e Carlos.

Por tal razão, a transferência do CNPJ da empresa para o espólio também

não restou exitosa, haja vista que se faz necessário o inventário extrajudicial.

Desse modo, a situação dos bens do espólio é temerário, posto que a Autora,

não obstante ser igualmente herdeira, não tem conhecimento acerca da atual situação

econômica da empresa, nem dos bens que a integram.

Portanto, atualmente a Demandante não consegue restaurar o selo de

fiscalização do Inventário Extrajudicial, posto restarem dívidas acumuladas pelos atuais

administradores da empresa GELOMAR, deixando de receber a quantia mensal

supostamente correspondente às suas cotas societárias e vendo todo o patrimônio

conquistado por seu pai ser destruído, o que colabora para a necessidade de prestação

de contas do outrora curador e Réu desta demanda, Sr. Anderson Robert Ribeiro

Ferreira.

3. Dos Fatos

Nobre Julgador, para demonstrar a necessidade de haver uma prestação de

contas por parte do inventariante é preciso esclarecer detalhadamente os fatos para então

deixar claro o porquê da indispensabilidade de uma prestação de contas neste momento.

A Autora é filha e herdeira necessária do Sr. Carlos Alberto Ferreira e possui

outros três irmãos, Erlon Robson, Carlos Alberto Júnior e Anderson Robert, este último,

ora demandado, era curador do pai, nos termos do processo n° 0835975-

96.2020.8.10.0001 (Doc 05).

Importante ressaltar que, à época, o Sr. Carlos Alberto possuía uma empresa

para fabricação de gelo, a GELOMAR, que sempre teve um retorno lucrativo, com uma

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extensa carta de clientes, como se demonstra pelo fluxo de caixa e auditoria realizada a

pedido do Réu, em fevereiro de 2021, logo após ter seu pedido de curatela deferido, a

respeito da administração da empresa no período anterior à sua gestão. (Doc. 06).

Contudo, de maneira arbitrária, assim que concedida a curatela ao

Demandado, este iniciou um projeto de dilapidação patrimonial, sem anuência da

Autora e funcionários da empresa GELOMAR, atualmente gerida pelo Sr. Anderson

Robert, que usurpou funções como proprietário e chefe da empresa, com gerência

administrativa dos Srs. Erlon Robson e Carlos Júnior. Enquanto a demandante, a Sra.

Ângela Cristina, tratada como simples funcionária e subordinada.

Frise-se que a Sra. Ângela Cristina foi impedida de entrar nas

dependências do estabelecimento da empresa. Foi demitida da condição de

funcionária, acusada de desvios, sob ameaças de boletins de ocorrência e investigação,

concretizando o terror psicológico e a natureza autoritária do demandante (Doc. 07).

Tal situação insustentável motivou o ajuizamento da ação de remoção e

substituição de curatela, que foi processada nos autos do processo n° 0858806-

07.2021.8.10.0001 (Doc. 08), tendo como principais motivos os seguintes atos perpetrados

pelo Réu e seus dois irmãos:

1. A venda de veículo Strada, placa PTN 9592, cor preta, cujo o valor da

venda não foi devidamente registrado e contabilizado no livro caixa

(Doc. 09);

2. O demandado realizou a venda de um caminhão da empresa, esse valor

foi registrado no livro caixa, mas não se percebeu o retorno e aplicação

do valor da venda, em maquinários ou outra tecnologia para a empresa;

3. O cartão de crédito da empresa que permanecia no estabelecimento,

passou a ser usado para despesas particulares, na gestão do demandado,

tais como passagens aéreas, pizzaria, hospedagem em hotéis de luxo,

posto de combustível etc (Doc. 10);

4. Inicialmente, nomeou o Sr. Erlon Robson como o gerente administrativo,

que é irmão do curador. Vindo a afastar o mesmo ao dia 13 de março,

após ter agredido verbalmente uma ex funcionária, a Sra. Maria Doralice.

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Como medida do afastamento, manteve-se em casa, recebendo a

integralidade do salário, somado à vultosa comissão, além do pagamento

de todos encargos trabalhistas, todos os pagamentos realizados e

homologados pelo curador Sr. Anderson Robert;

5. Os compromissos de pagamento da empresa começaram a atrasar,

injustificadamente, tais como CAEMA, EQUATORIAL, internet, entre

outros;

6. A demissão do corpo administrativo da empresa, como exemplo a Sra.

Doralice, responsável pelo setor administrativo, funcionária há mais de

6 anos. Demitida após ser agredida verbalmente pelo Sr. Erlon Robson,

irmão do demandado. A demissão do Sr. Messias, terceiro gerente de

vendas e detentor de extensa carta de clientes da empresa. Tais

demissões efetivam a concentração de poder do Sr. Anderson, Sr. Erlon

e Sr. Junior;

7. O retorno do Sr. Erlon Robson no dia 18/11/21, gerente administrativo,

que estava afastado desde o dia 16/03/21 da empresa, após agredir

verbalmente uma funcionária. No seu afastamento, tomou posse

indevida do veículo Strada para uso pessoal, contraindo várias multas,

que foram pagas pela empresa. Mesmo veículo que foi posteriormente

vendido;

8. Registro do boletim de ocorrência pela Sra. Ângela Cristina no dia

16/09/2021, em face do Sr. Anderson Robert e Sr. Alberto Júnior.

Lamentavelmente, o Sr. Carlos Alberto Ferreira veio a óbito no ano de 2022

(Doc. 11), razão pela qual a ação foi arquivada por perda do objeto.

Neste diapasão, foi realizado inventário extrajudicial a fim de partilhar os

bens do espólio entre a meeira e os herdeiros, de forma justa e igualitária.

Assim, importante elencar os bens objeto de partilha constantes no

Inventário Extrajudicial n° 6873 registrado no 8° Tabelionato de Notas desta Capital:

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1. Lote de Terreno desmembrado do terreno que compõe o imóvel n.123, na

Rua São Sebastião, Cruzeiro do Anil, medindo 8.00m de largura na linha de

frente e de fundo e 45,00m nas laterais;

2. Imóvel em nome do falecido, constante na matrícula n° 8.217, às folhas 150

do Livro n° 2 A-Q do Cartório de Registro de Imóveis da 1° Zona de São Luís,

no valor declarado de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais) e avaliado por

R$413.268,00 (quatrocentos e treze mil duzentos e sessenta e oito reais);

3. Os Direitos da Microempresa Individual Carlos A Ferreira – ME, com

nome fantasia GELOMA, inscrita no CNPJ sob o n° 10.992.449/0001-60, com

capital social de R$56.000,00 (cinquenta e seis mil reais);

Frise-se a existências de outros bens assessórios aos acima descritos que,

avaliados em conjunto pela Secretaria de Fazenda do Estado do Maranhão perfizeram

a quantia de R$ 1.144.615,55 (um milhão cento e quarenta e quatro mil seiscentos e

quinze reais e cinquenta e cinco centavos).

Pois bem. Nos termos do inventário extrajudicial, foi avençado que o

percentual de 12,5% dos bens e haveres do espólio, que totalizam R$ 456.550,59

(quatrocentos e cinquenta e nove mil quinhentos e cinquenta reais e cinquenta e nove

centavos), seriam destinados aos filhos do falecido, no valor de R$ 57.068,82 (cinquenta

e sete mil sessenta e oito reais e oitenta e dois centavos).

Ainda, na mesma proporção seria partilhado o imóvel após a venda e, por

fim, as cotas societárias da empresa alhures citada.

Sucede que, após o registro do inventário extrajudicial, no dia 19 de

setembro de 2022, em razão da partilha das cotas societárias, ficou acordado que a

Demandante receberia mensalmente o equivalente a 12.5% (cota societária de lucro

estipulada em inventario extrajudicial), o que foi cumprido apenas no mês

subsequente de outubro, restando a Requerente até a presente data sem receber

qualquer outra quantia ou justificativa quando à não percepção de sua parte do lucro

da empresa ou dos bens.

Outrossim, o Réu não apresentou quaisquer esclarecimentos à Autora acerca

dos bens que a ela competem, ocultando e, possivelmente, dilapidando o patrimônio,

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uma vez que teve a notícia da venda de um gerador de aproximadamente R$ 180.000,00

(cento e oitenta mil reais), o que foi confirmado pelo anúncio do mesmo no site de

compras OLX, vejamos:

Ainda, a Autora teve notícias de que dois caminhões que fazem parte da

frota da empresa não estão estacionados no pátio da sede, sendo desconhecido o seu

destino.

Da mesma forma diversos itens de menor porte já encontram-se em

desfazimento por parte dos herdeiros dilapidadores, como: formas de gelo avaliadas em

cerca de R$20.000,00 (vinte mil reais), mobília e demais itens que são de fácil venda.

Outrossim, a empresa está com sede fechada há mais de 20 dias, posto que

o fornecimento de energia elétrica foi suspenso, o que dá indícios de um possível

declínio produtivo e, possivelmente, total abandono desta.

Portanto, é imprescindível que o Demandado, outrora curador do pai e

inventariante dos seus bens, preste contas referentes às propriedades que compõem o

1
Foto retirada da OLX onde se vê o Sr. Erlon, herdeiro e atual gerente administrativo da empresa, na
frente do gerador anunciado.

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espólio, a fim de tornar transparente as movimentações ocorridas no patrimônio

comum aos herdeiros, visto haver sólidos indícios de dilapidação do patrimônio.

4.DO MÉRITO

4.1 Da Necessidade de Haver uma Prestação de Contas para Preservar a Herança

Conforme narrado no tópico anterior e na sessão fática, a Demandante se

sente prejudicada por todas as condutas ilegítimas, para não dizer ilícitas, praticadas

pelo Réu, a exemplo de ocultar informações acerca da real situação financeira da fábrica,

afastar a Autora de qualquer relação com a empresa e deixar de arcar com o

compromisso financeiro firmado no inventário extrajudicial, em razão das cotas

societárias de propriedade da Demandante.

Frise-se que, mesmo após inúmeras tentativas do causídico que esta

subscreve, a advogada da empresa GELOMAR, administrada pelo Réu e seus dois

irmãos, jamais forneceu os relatórios financeiros, direito da Autora, requeridos desde

janeiro do ano corrente (Doc. 12).

Portanto, o mais correto neste caso é haver a devida prestação de contas por

parte deste, antes que dilapide todo o patrimônio do de cujus, restando nada mais a ser

partilhado entre os herdeiros.

Ora, é sabido que algumas relações jurídicas impõem a obrigação de uma

das partes prestar contas à outra. Essa situação se configura em casos que, por força

dessa relação jurídica, uma parte administra negócios ou interesses alheios, como no

presente caso em questão.

Assim, quem administra deve indicar de forma detalhada todos os créditos

e débitos da sua gestão. Essa prestação de contas demostra o resultado da gestão,

proporcionando a possibilidade de saber a existência de saldo em favor de alguém.

O Código de Processo Civil contemplou a ação de exigir contas como

procedimento especial, sendo uma ação especial de conhecimento com predominante

ação condenatória, pois a meta última de sua sentença é dotar aquele que se reconhecer

a qualidade de credor, segundo o saldo final do balanço aprovado em juízo, de título

executivo extrajudicial para executar o devedor, nos moldes da execução por quantia

certa (art. 552, NCPC).

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Não há duas prestações jurisdicionais distintas, ou seja, uma de acertamento

das parcelas que compõem o acerto de contas entre os litigantes, e outra para condenar

o devedor ao pagamento do saldo apurado. A demanda é única. Somente quando

inexiste saldo devedor no acertamento de contas é que o procedimento não redunda na

formação imediata de título executivo, por inexistir evidentemente, o que executar.

Assim, Nobre Julgador, o objetivo da ação é liquidar o dito relacionamento

jurídico existente entre as partes no aspecto econômico, de tal modo que, ao final se

determine, com exatidão, a existência ou não de um saldo, fixando, no caso positivo, o

seu montante, com efeito de condenação judicial contra a parte que se qualifica como

devedora.

O montante fixado no saldo será conteúdo de título executivo judicial, de

modo que poderá ser exigido nos próprios autos, segundo o procedimento de

cumprimento de sentença. Ou seja, o principal objetivo da ação de exigir contas é o de

obter a condenação do pagamento da soma que resultar a débito de qualquer das partes

no acerto de contas.

Importante mencionar que, em regra, a pretensão de acertar contas tem em

mira definir por sentença o saldo final de uma gestão de bens alheios. Com dito

acertamento forma-se um título de força executiva em favor daquele que for titular do

direito de exigir o pagamento da soma apurada na sentença.

Nesse diapasão, vejamos o que entende a jurisprudência dos Tribunais

pátrios, in verbis:

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 2039959 - GO


(2021/0390576-3) DECISÃO Trata-se de agravo nos próprios
autos contra decisão que negou seguimento ao recurso especial,
ante a incidência da Súmula n. 7 do STJ (e-STJ fls. 378/380). O
acórdão recorrido está assim ementado (e-STJ fl. 270):
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE EXIGIR CONTAS. PRIMEIRA
FASE. VÍNCULO JURÍDICO E OBRIGACIONAL
DEMONSTRADO. CURADORA. OBRIGAÇÃO DE PRESTÁ-
LAS. HERDEIROS DA INTERDITADA. DIREITO DE EXIGI-
LAS. LEGITIMIDADE. SENTENÇA CASSADA. 1. A ação de
prestação de contas apresenta um procedimento composto de
duas fases. Na primeira, busca-se esclarecer se existe ou não
obrigação de prestar contas, enquanto na segunda, avalia-se a

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adequação ou não das contas prestadas, impondo, quando for
o caso, a condenação à restituição de eventual saldo credor. 2.
Ao teor dos artigos 1.755 e 1.774 do Código Civil do Código
Civil, o curador tem obrigação de prestar contas da
administração dos bens do curatelado. 3. Ora, se o curatelado,
em vida, pode exigir a prestação de contas em relação ao seu
próprio patrimônio, sobrevindo seu óbito, esse direito se
transfere aos herdeiros, que passam a ser titulares daquele
patrimônio, em razão do princípio da saisine. 4. Conforme
jurisprudência do colendo Superior Tribunal de Justiça, o
coerdeiro possui legitimidade ativa para a propositura de ação
que visa à defesa do patrimônio comum deixado pelo de cujus.
[...]
(STJ - AREsp: 2039959 GO 2021/0390576-3, Relator: Ministro
ANTONIO CARLOS FERREIRA, Data de Publicação: DJ
28/03/2022)

PRESTAÇÃO DE CONTAS - Curatela –– Cerceamento de defesa


inexistente – Ainda que da morte do interditando sobrevenha a
perda do objeto da ação de interdição, devendo ser extinta, por
ser intransmissível (art. 485, IX, CPC/2015), subsiste o dever do
curador nomeado, de prestar contas de sua gestão, em
conformidade com o art. 1.781 c.c. art. 1.755 e seguintes do
Código Civil, sem prejuízo da ação de prestação de contas, com
fundamento no art. 550 do CPC/2015, por parte de qualquer
interessado, por ter exercido múnus público - Cabe a quem foi
nomeado para o exercício da curatela provar que cuidou e
administrou o patrimônio do interditado com zelo e boa-fé, de
maneira que não comporta a extinção deste processo pelo
morte do interdito – Contas rejeitadas - Recurso desprovido.
(TJ-SP - AC: 11303901320158260100 SP 1130390-
13.2015.8.26.0100, Relator: Alcides Leopoldo, Data de
Julgamento: 06/08/2020, 4ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 17/08/2020)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - PRESTAÇÃO DE CONTAS -


CURATELA - ÓBITO DO INTERDITADO - PERDA DO OBJETO
- INOCORRÊNCIA - OBRIGAÇÃO DA CURADORA À
PRESTAÇÃO DE CONTAS - SUCESSÃO PROCESSUAL. - A
prestação de contas tem por escopo a proteção do patrimônio da
pessoa declarada incapaz - O fato de a curatela ter cessado, em
razão do óbito da curatelada, não dispensa a curadora em
relação aos deveres a que ficou obrigada quando da sua
nomeação, ao contrário, deve esta demonstrar a adequada

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administração dos rendimentos e bens do curatelado enquanto
durou o encargo, para fins de fiscalização do seu exercício, que
tem caráter público - Os sucessores do curatelado tem
legitimidade para se habilitar na prestação de contas. V.v:
APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO DE FAMÍLIA E DAS
SUCESSÕES - CURATELA - INTERDIÇÃO - FALECIMENTO
DO CURATELADO - PRESTAÇÃO DE CONTAS -
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO - ARTIGO 553, DO
CPC/15 - AUSÊNCIA DE LITIGIOSIDADE - CONSTITUIÇÃO
DE CRÉDITO EM FAVOR DO CURADOR QUE DEVE
OCORRER EM PROCEDIMENTO PRÓPRIO - MANUTENÇÃO
DA SENTENÇA QUE EXTINGUIU O PROCESSO SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO - O procedimento desencadeado
espontaneamente pela curadora/apelante, na forma do art. 553,
do CPC/15, possui natureza meramente administrativa, sem
formalidades e exigências típicas de ação de dar ou exigir contas
- Constatado o falecimento do curatelado ao longo da ação,
eventual debate a respeito de crédito ou débito em relação à
administração da requerente, para fins de habilitação em
inventário, deve ser relegado a palco próprio, sob pena de restar
verificado o malferimento de direito de terceiros que não
integram a relação processual, o que não se admite (art. 5º, LV,
da CF/88)- Recurso desprovido.
(TJ-MG - AC: 10000210260709001 MG, Relator: Ana Paula
Caixeta, Data de Julgamento: 05/08/2021, Câmaras Cíveis / 4ª
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 09/08/2021)

Portanto, diante de todo o exposto, resta demonstrado que o Demandado

tem obrigação de prestar constas, nos termos do artigo 550 e 1.759 do CPC, posto ser,

além de inventariante, curador do de cujus.

4.2 Da Prestação de Contas dos Bens Ilicitamente Locupletados pelo Inventariante

Conforme narrado no tópico fatídico, os bens do de cujus estão sob

administração do Requerido, desde o ano de 2021, quando foi nomeado curador.

No entanto, a partir desse momento, começou a agir de maneira suspeita,

demitindo funcionários, inclusive a Autora, sua irmã, vendendo bens da empresa e

ocultando todos os trâmites administrativos que lhe cabiam da mesma.

Ainda, após o falecimento do Sr. Carlos Alberto, tornou-se inventariante dos

bens, assumindo compromissos que jamais cumpriu, como o de pagar quantia mensal

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equivalente à cota societária de direito da Autora, omitindo, ainda, os pormenores da

administração da empresa.

Logo, é provável que o patrimônio que pertence ao espólio esteja sendo

apropriado indebitamente pelo o Inventariante, ação essa que merece ser reprovada por

este Douto Juízo e deferida a presente ação, ordenando a prestação de contas com a

devolução, corrigida, dos valores.

Ora, não há como se ignorar que, após o exercício de curadoria dos bens

pelo Réu dívidas se acumularam e as obrigações arcadas pelo à época do inventário

extrajudicial não mais foram cumpridas, a exemplo da quantia mensal referente à cota

societária da Autora, paga por um único mês.

Ainda, referente à empresa, o que se observa é uma lenta dilapidação dos

seus bens, posto que um gerador foi vendido e dois caminhões não mais foram vistos

nas dependências da sede, o que se agrava pelo corte no fornecimento de energia em

razão de inadimplemento.

Isto posto, é imprescindível a determinação que o Sr. Anderson Robert

Ribeiro Ferreira faça a devida PRESTAÇÃO DE CONTAS e posteriormente efetue a

devolução corrigida e atualizada de todos os valores indevidamente apropriados, para

que seja igualmente distribuído, respeitados os direitos sucessórios de todos os

herdeiros.

5. DOS PEDIDOS

Nestes termos requer que:

a) Seja concedido os Benefícios da Justiça Gratuita à Requerente, conforme


disposto no art. 98 e seguintes do CPC, por ser o autor hipossuficiente
financeiramente;
b) que a presente ação seja recebida e conhecida, nos termos do artigo 550 do
CPC;
c) a citação do réu, para prestar contas no prazo de 15 (quinze) dias ou
contestar a presente ação, sob pena de sofrer os efeitos da revelia, nos termos
do artigo 550 do CPC;
d) A procedência da ação para o fim de obrigar o réu a prestar contas no
prazo de 15 (quinze) dias, com a cominação de não ser lhe lícito impugnar as
contas eventualmente apresentadas pelo autor, nos termos do artigo 550 do
CPC;

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e) que o réu posteriormente a prestação de contas venha a efetuar a
devolução corrigida e atualizada de todos os valores indevidamente
apropriados, para que seja igualmente distribuído entre os demais herdeiros,
respeitados os direitos sucessórios de todos, ou seja, a devolução do valor,
até a presente data, de R$ 1.144.615,55 (um milhão cento e quarenta e quatro
mil seiscentos e quinze reais e cinquenta e cinco centavos), bem como de
todo e qualquer valor que tenha descontado e ainda não localizado, o qual
será apurado em perícia contábil determinada por vossa excelência em
conformidade com o art. 550 § 6º do Código de Processo Civil.
f) que caso não seja apresentada as contas pelo Inventariante, ou se não
forem aceitas pelos Autores, requer o prosseguimento do presente feito, com
a aplicação das normas do art. 550, § 5º e art. 552, do CPC;
g) a condenação do réu ao pagamento das custas, despesas processuais e
honorários advocatícios, nos termos do §1º, §2º e § 11 do artigo 85 do Código
de Processo Civil;
h) pede, por fim, a produção de todos e quaisquer meios de prova em direito
admitidos, mormente prova testemunhal e pericial a serem produzidas no
momento processual oportuno.

Dá a causa o valor de R$ 1.144.615,55 (um milhão cento e quarenta e quatro

mil seiscentos e quinze reais e cinquenta e cinco centavos).


Termos em que,
Pede deferimento.

São Luís/MA, data do sistema.

Hugo Maciel Silva


Advogado, OAB/MA n° 16.865

Luciana Mécia Fernandes de Carvalho


Advogada, OAB/MA n° 24.284

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