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PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS - Registro de Imóveis - Alegada abertura irregular de matrícula - Remessa dos
interessados às vias ordinárias – Sugestão de revogação da determinação de averbação nas matrículas da
existência de possível duplicidade, dada pela Corregedoria Permanente.
íntegra
PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS - Registro de Imóveis - Alegada abertura irregular de matrícula - Remessa dos
interessados às vias ordinárias – Sugestão de revogação da determinação de averbação nas matrículas da
existência de possível duplicidade, dada pela Corregedoria Permanente.
Trata-se de apelação interposta por Antonio Donaires Fernandes contra a decisão (fls. 221/224) proferida pelo
MM. Juiz Corregedor Permanente do 1º Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil das
Pessoas Jurídicas de Catanduva/SP, que indeferiu o pedido de encerramento (cancelamento, em verdade) ou,
subsidiariamente, de retificação da matrícula nº 32.660 do 1º Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e
Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas de Catanduva/SP.
O recorrente, preliminarmente, argui a nulidade da sentença proferida, eis que não deferidas as diligências
requeridas. No mais, aduz que o imóvel não mais lhe pertence, razão pela qual pretende o cancelamento da
matrícula. Afirma que o imóvel em questão foi desmembrado e vendido, o que pode ter sido a causa da
sobreposição constatada e da equivocada abertura da matrícula nº 32.660. Alega que todos os titulares de
domínio que constam da matrícula estão de acordo com seu cancelamento, inexistindo prejuízos a terceiros.
Ainda que assim não fosse, diz estar renunciando à propriedade do imóvel matriculado em seu nome (fls.
228/249).
A douta Procuradoria de Justiça opinou pelo não provimento do recurso (fls. 273/277).
Opino.
De início, em se tratando de pedido de providências – e não de dúvida, pois o ato buscado é de averbação - a
apelação interposta deve ser recebida como recurso administrativo, na forma do art. 246 do Código Judiciário
do Estado de São Paulo[1].
A preliminar arguida merece ser afastada, eis que não há que se falar em nulidade da sentença por
cerceamento de defesa, na medida em que incabível a produção de provas, no presente procedimento, para
questionamento do conteúdo da matrícula.
Como é sabido, somente a nulidade extrínseca ao título causal, ou seja, inerente ao procedimento de
registro, permite o cancelamento do registro independente de ação direta (art. 214 da Lei nº 6.015/73).
A nulidade de pleno direito de que cuida o art. 214 da Lei nº 6.015/73 é a do próprio registro (não a de seu ato
causal), de ordem formal, extrínseca e, por isso, suscetível de ser declarada diretamente em processo
Por essa razão, para o seu reconhecimento deve o vício ser evidente ao simples exame da face das tábuas
registrárias, sem necessidade de verificações outras concernentes ao título que, se necessárias, afastam a
solução na esfera administrativa, tornando indispensável, como no caso concreto, a via jurisdicional para
análise dos elementos intrínsecos. Nesse sentido, diversos são os precedentes da Corregedoria Geral da
Justiça.
E para além da impossibilidade de se analisar os elementos intrínsecos ao título, importa ressaltar que o
pedido de eliminação da suposta duplicidade de matrículas - o que se daria, em tese, pelo cancelamento de
uma delas – não pode ser acolhido nesta via administrativa.
Veja-se que o duplo registro faz desaparecer a presunção relativa de verdade de seu conteúdo, certo que sua
restauração depende da eliminação da duplicidade pelo titular, por meio do cancelamento do registro
contraditório nas vias ordinárias.
Em outras palavras: havendo suposto conflito de interesses oriundo de correntes filiatórias diversas, apenas
por intermédio de processo contencioso, em que respeitados os princípios da ampla defesa e do
contraditório, é que se poderá aferir qual o registro merece prevalecer.
Somente por meio de sentença judicial com trânsito julgado material é que a duplicidade poderá ser desfeita.
Até lá, não há razão para o pretendido cancelamento, eis que evidenciada a higidez da cadeia filiatória
relativa à matrícula nº 32.660.
Por outro lado, também não é caso de encerramento da referida matrícula, pois o bem nela descrito não foi
objeto de divisão, de destaques parciais sucessivos ou fracionamentos que a esgotasse (fls. 58/60).
Tampouco há provas de que tenha se desfigurado em outro imóvel identificado em matrícula diversa, ou que
tenha se exaurido sua disponibilidade porque envolvido em processo de unificação.
Por fim, respeitada a convicção do MM. Juiz Corregedor Permanente, mostra-se conveniente, com base no
poder hierárquico desta E. Corregedoria Geral da Justiça, a revogação da ordem de averbação da existência
de possível duplicidade nas matrículas nº 32.660, 28.203 e demais matrículas delas originadas (38.770 e
38.771), todas do 1º Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas de
Catanduva/SP.
É que tal inscrição contraria a segurança jurídica, própria dos registros públicos, implicando em restrição ou
enfraquecimento do direito de propriedade atualmente existente, decorrente da matrícula que foi aberta em
conformidade com a lei, pois, como previsto no art. 1.245, § 2º, do Código Civil:
"Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e
o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel".
Diante do exposto, o parecer que apresento ao elevado critério de Vossa Excelência é no sentido de negar
provimento ao recurso e, de ofício, revogar a determinação de averbação nas matrículas nº 32.660, 28.203 e
demais matrículas delas originadas (38.770 e 38.771), todas do 1º Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e
Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas de Catanduva/SP, da existência de possível duplicidade de
matrícula.
Sub censura.
DECISÃO
Aprovo o parecer da MM.ª Juíza Assessora da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, nego
provimento ao recurso administrativo e revogo a determinação de averbação nas matrículas nº 32.660, 28.203
e demais matrículas delas originadas (38.770 e 38.771), todas do 1º Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e
Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas de Catanduva/SP, da existência de possível duplicidade de
matrícula.
Publique-se.
[1] Artigo 246 - De todos os atos e decisões dos Juízes corregedores permanentes, sobre matéria
administrativa ou disciplinar, caberá recurso voluntário para o Corregedor Geral da Justiça, interposto no prazo
de 15 (quinze) dias, por petição fundamentada, contendo as razões do pedido de reforma da decisão.