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A Suscitação de Dúvida

Miguel Augusto Hadad1

Área do Direito: Direito Registral

Resumo

A suscitação de dúvida é o procedimento registral amparado no Art. 198


da Lei n. 6.015/73 e item 39 do Cap. XX., das Normas da Corregedoria Geral
da Justiça de São Paulo. A dúvida decorre do pedido da parte interessada que
teve título prenotado no Cartório de Registro de Imóveis sem a realização do
pretendido registro, negado pelo o Oficial, quando de sua qualificação. A
dúvida suscitada perfaz exame dos elementos extrínsecos do título à luz dos
princípios e normas do sistema jurídico (aspectos formais), obstando o ingresso
do título que não se atenha os limites da lei. O procedimento é desconhecido
por grande parte da comunidade jurídica, tão pouco explanada pelos
doutrinadores, todavia, esse procedimento integra a rotina dos registradores,
bem como de alguns juízes de competência especifica, trazendo discussões
complexas e envolvendo assuntos de direito registral.

Palavras-Chave: Registro - Imóveis – Suscitação - Dúvida – Direito.

Abstract:
The raising of doubt is the registration procedure supported by Art. 198 of
Law no. 6.015/73 and item 39 of Chap. XX., of the Rules of the Judiciary Office
of São Paulo. The doubt stems from the request of the interested party who had
the title registered at the Real Estate Registry Office without carrying out the
intended registration, denied by the Official, when qualifying. The doubt raised
is an examination of the extrinsic elements of the title in the light of the
principles and rules of the legal system (formal aspects), preventing the entry of
the title that does not adhere to the limits of the law. The procedure is unknown
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Aluno de Graduação do Curso Direito da Universidade Nove de Julho. E-mail:
miguel.hadad@uni9.edu.br.
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to a large part of the legal community, so little explained by scholars, however,


this procedure is part of the routine of registrars, as well as some judges with
specific competence, bringing complex discussions and involving issues of
registration law.

Keywords: Registry – Properties – Arousal – Doubt - Right.

1. Introdução:

O sistema do registro imobiliário exerce, por suas serventias atividade


pública em caráter privado, por profissionais do Direito, mediante delegação do
Poder Judiciário, outorgada por meio de concurso público de provas e títulos. O
Oficial tem o dever de prestar serviços a seu cargo adequadamente,
observando-se os deveres próprios da delegação, dando-se garantia a
autenticidade, publicidade, segurança, disponibilidade e eficácia dos atos
jurídicos constitutivos, translativos ou extintivos de direitos reais sobre imóveis
e atividades correlatas. Nessa esteira, o Oficial dispõe de autonomia e
independência no exercício de suas atribuições, podendo recusar títulos que
entender contrários à ordem jurídica e aos princípios que regem sua atividade,
conforme dispõe o Art. 282 da Lei 8.935/94.

Logo, o registrador tem o dever de analisar e verificar se o documento


prenotado preenche todas as formalidades legais para que seja possível o seu
ingresso ao fólio registral, observando-se o ordenamento jurídico em vigor, em
atendimento ao princípio da qualificação e seguindo-se as regras contidas no
Art. 1823 e seguintes da Lei n. 6015/73.

Verificado que o título se encontra fora da ordem a sua inscrição


imobiliária, com o correspondente império jurídico de seu registro ou
irregistração, o Oficial exara a nota de exigência, indicando de forma

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Lei n° 8.935, art. 28: “os notários e oficiais de registro gozam de independência no exercício de
suas atribuições, têm direito à percepção dos emolumentos integrais pelos atos praticados na
serventia e só perderão a delegação nas hipóteses previstas em lei”.
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Lei nº 6.015, art. 182: “Todos os títulos tomarão, no Protocolo, o número de ordem que lhes
competir em razão da sequência rigorosa de sua apresentação”. 
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concatenada, clara e objetiva, relativa ao óbice para que o título possua acesso
ao registro, em disposição ao Art. 198 4, IV da Lei n. 6015/73, combinado com o
item 395 das Normas da Corregedoria Geral da Justiça de São Paulo. Contudo,
a parte interessada pode não concordar, no todo ou em parte das exigências
formalizadas, e muitas vezes por não conseguir satisfaze-las, poderá requerer
o procedimento de suscitação de dúvida.

2. Suscitação de Dúvida e sua Evolução

Em meados do século XIX, o Brasil, país possuidor de vasto território,


todavia era necessário crédito para que seu crescimento continuasse, bem
como seu desenvolvimento. Tal investimento era de interesse das instituições,
especialmente, bancos ingleses, queriam investir de forma segura, e por essa
razão foi criado o registro geral das hipotecas, conforme dispõe o Art. 35 6 da
Lei Orçamentária 317/1843, regulamentada pelo Decreto n. 482/1846.

Nessa esteira, o Decreto 482/1846 trazia consigo, a origem à suscitação


de dúvida, conquanto em seu Art. 31, estabeleceu um procedimento célere e
compreensível para desembaraçar o registro da inscrição hipotecária. Nesse
passo, quando houvesse a recusa ou postergamento do registro, as partes
interessadas sentindo-se afetada por essa situação, deveriam justificar o fato
no prazo de cinco dias úteis em juízo, acompanhado de duas testemunhas
para dirimir a controvérsia, vejamos:

“Art. 31. As partes que se sentirem prejudicadas na recusa ou demora


de suas pretenções fundadas em justiça, deverão, para segurança do
seu direito, e procedimento contra o Tabellião, justificar o
acontecimento, dentro de cinco dias uteis, com duas testemunhas de
vista, e notificação d'aquelle perante o Juiz Municipal do Termo. Se a
recusa ou demora for julgada infundada e improcedente, a sentença
será intimada ao Tabellião, e este obrigado a averbal-a no seu
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Lei nº 6.015, art. 198: “Se houver exigência a ser satisfeita, ela será indicada pelo oficial por
escrito, dentro do prazo previsto no art. 188 desta Lei e de uma só vez, articuladamente, de
forma clara e objetiva, com data, identificação e assinatura do oficial ou preposto responsável
(...) VI - caso não se conforme ou não seja possível cumprir a exigência, o interessado requeira
que o título e a declaração de dúvida sejam remetidos ao juízo competente para dirimi-la”.
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Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, Cap. XX, item 39: “Não se conformando
o apresentante com a exigência, ou não a podendo satisfazer, será o título, a seu requerimento
e com a declaração de dúvida, remetido ao Juízo competente para dirimi-la”.
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Lei nº 317, art. 35: “fica creado um Registro geral de hypothecas, nos lugares e pelo modo
que o Governo estabelecer nos seus Regulamentos”.
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Protocolo, e a fazer menção d'esta averbação, nas certidões que


passar, relativas ao devedor, e bens cujo registro houver recusado ou
demorado. Em taes casos, a sentença de justificação supprirá a falta
do registro”. (Decreto 370/1846. Brasil, Art. 31).

Caso a recusa ou postergação fosse julgada improcedente por juízo de


competência especifica, o tabelião era intimado através da sentença
homologatória, obrigando-o a averbá-la no seu devido registro. A sentença
produz efeitos para suprir o impedimento do registro outrora negado,
conquanto trazia-se de forma eficaz e célere a resolução do entrave e a
circulação do crédito.

A par disso, a expressão dúvida, todavia, surgiu-se dos artigos 69 7 e


3288 do Decreto 3.453/1865, alterado posteriormente pelo Decreto 370/90,
conquanto o primeiro artigo do Decreto 3.453/1865, estabeleceu que, uma vez
tomada nota da apresentação do título e conferido o número de ordem, tendo
insegurança em sua legalidade, o oficial poderia recusar o registro. Nesse
diapasão, o título seria devolvido para a parte interessada, acompanhada com
a “declaração da dúvida”. Provido do título e com essa declaração, a parte
interessada poderá buscar solução no juízo competente.

Por seu turno, o Decreto 370/1890 outrora mencionado, utilizou o termo


dúvida, conforme dispõe o art. 669, tendo a palavra se repetido no Art. 30 10 do
Decreto 955-A/1890, bem como nos artigos 83411 e 83512 do Código Civil
Brasileiro de 1916, ficando assim consagrado o seu uso no direito positivo
brasileiro.
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Decreto 3453/1865, Art. 69: “tomada a nota da apresentação, e conferido o número de ordem,
o oficial, duvidando da legalidade do título, pode recusar o seu registro, entregando-o à parte
com a declaração da dúvida que achou para que esta possa recorrer ao Juiz de Direito”.
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Decreto 3453/1865, Art. 328: “se o oficial tiver dúvida sobre o título ou sobre o privilegio,
procederá na forma dos arts. 68 e seguintes”.
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Decreto 370/1890, Art. 66: “tomada a nota da apresentação, e conferido o número de ordem,
o oficial, duvidando da legalidade do título, pode recusar-lhe registro, entregando-o à parte,
com a declaração da dúvida que achou, para que ela possa recorrer ao juiz de direito”.
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Decreto 955-A/1890, Art. 30: “recebida petição, e estando em termos, submetê-la-á o oficial a
despacho, lançando nela, em caso contrário, a dúvida que tiver”.
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Lei 3.071/1916, Art. 834: “quando o oficial tiver dúvida sobre a legalidade da inscrição
requerida, declará-la-á por escrito ao requerente, depois de mencionar, em forma de
prenotação, o pedido no respectivo livro”.
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Lei 3.071/1916, Art. 835: “se a dúvida, dentro em trinta dias, for julgada improcedente, a
inscrição far-se-á com o mesmo número que teria na data da prenotação. No caso contrário,
desprezada esta, receberá a inscrição o número correspondente à data, em que se tornar a
requerer”.
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3. Conceito

Entrementes, a dúvida possui consistência em segundo exame


qualificador – a ser realizado por juiz de competência especifica, direcionado
pelo oficial registrador, precedido de oportunidade de manifestação conferida à
parte interessada (na qual é intimado para impugnação da dúvida); do parecer
do Ministério Público (denominado fiscal da lei), e se for o caso, a possibilidade
de um recurso. O processo da dúvida registral conforme prevê a Lei n.
6.015/7313, atende na esfera administrativa do Registro de Imóveis, os
princípios da ampla defesa e contraditório.

O procedimento de dúvida é pertinente somente quando o ato colimado


é suscetível de registro em sentido estrito. Contudo, cuida-se, em verdade, de
pedido de providências em face da negativa de pedidos, ou documentos fora
dos parâmetros legais.

José Manuel de Arruda Alvim Neto, com a clareza que lhe é peculiar, ao
examinar a matéria, assim pontificou “in verbis”:

“A dúvida registraria é, principalmente, uma objeção fundada,


um obstáculo motivado, à prática do registro (lato sensu, ou
seja, abrangendo a averbação), um juízo – em rigor,
concludente de alguma forma de argumentação – negativo de
uma qualificação. Nesse sentido, A dúvida é a negativa de um
registro e também a razão pela qual se julga que um dado título
não pode inscrever-se no Registro Imobiliário”. (Lei de
Registros Públicos Comentada, 2ª Ed., 2019, Conceito de
dúvida registral, p. 1.113).

Contudo, de modo geral, os conceitos trazidos pela doutrina colocam em


destaque a natureza jurídica e o fim a que ela se destina. A função de seu
singular processamento, bem como de sua natureza jurídica não se pode
deixar de reconhecer que o procedimento de dúvida registral é recurso

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BRASIL. Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015compilada.htm. Acesso em: 30
abr. 2023.
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administrativo, iniciado por requerimento da parte interessada ao Oficial


registrador, todavia submetido aos colendos juízes competentes.

4. Natureza Jurídica

A natureza jurídica do procedimento de dúvida encontra-se elencada


no Art. 20414 da Lei n. 6.015/73, na qual estabelece que: “a decisão da dúvida
tem natureza administrativa e não impede o uso do processo contencioso
competente”. A lei é altissonante, portanto, ao atempar a natureza jurídica da
suscitação de dúvida como tão-somente administrativa.

Aliás, vale aqui lembrar a lição de Venício Antônio de Paula Salles, “in
verbis”:

“A jurisdição representa o poder de dizer o direito ao caso


concreto de maneira definitiva, sem limites, a não ser aqueles
indicados no Texto Maior. O procedimento administrativo, ao
reverso, até pode gerar o fenômeno reconhecido pelo Prof.
Celso Antônio Bandeira de Mello, como de “trânsito em julgado
administrativo”, mas não é capaz de transformar ou blindar sua
decisão final prolatada na esfera administrativa correcional,
imune ao próprio controle jurisdicional”. (Direito Registral
Imobiliário. 3³ Ed., 2011, Procedimento de Dúvida, p. 15).
5. Procedimento

O processo de dúvida inicia-se requerimento da parte interessada, em


razão da não concordância no todo ou em parte das exigências formalizadas.
O Oficial dará ciência dos termos da dúvida, fornecendo-lhe cópia da
suscitação e notificando-o para impugná-la no prazo de 15 15 dias úteis, sendo
procedimento administrativo, não se curva à necessidade de interlocutor
técnico16. Contudo, estando a declaração feita, o Oficial fará a declaração para
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Lei 6015/73, Art. 204: “a decisão da dúvida tem natureza administrativa e não impede o uso
do processo contencioso competente”. 
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Lei nº 6.015, art. 198 e 199: “Se houver exigência a ser satisfeita, ela será indicada pelo
oficial por escrito, dentro do prazo previsto no art. 188 desta Lei e de uma só vez,
articuladamente, de forma clara e objetiva, com data, identificação e assinatura do oficial ou
preposto responsável, para que (...) III - em seguida, o oficial dará ciência dos termos da dúvida
ao apresentante, fornecendo-lhe cópia da suscitação e notificando-o para impugná-la perante o
juízo competente, no prazo de 15 (quinze) dias”. Art. 199: “se o interessado não impugnar a
dúvida no prazo referido no item III do artigo anterior, será ela, ainda assim, julgada por
sentença”.
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Colendo Venício Antônio de Paula Salles, com suas nobres palavras, prolatou que: “a
impugnação que instrui o processo de dúvida deve ser apresentada pelo interessado no prazo
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defender seu posicionamento, narrando-se os motivos da recusa do título,


descrevendo-se suas razões e fundamento dos óbices apontados.
Figura 1 – Procedimento de Dúvida

Fonte: (Noções Fundamentais de Direito Registral e Notarial. Editora Saraiva, 2022.,


Procedimento de Dúvida, p. 44).

No mais, na opinião abalizada de Venício Antônio de Paula Salles, “in


verbis”:

“O interessado deve ser notificado pelo Oficial, passando a fluir


o prazo para a declaração. Evidente que, se a declaração
inicial deflagradora da suscitação de dúvida deve ser feita por
quem ostenta interesse jurídico no registro, não se pode admitir
que a impugnação se curve a requisito de legitimidade diversa.
A impugnação, com mais razão, somente pode ser feita por
quem comprove o interesse jurídico. Formado os autos da
suscitação capeada pelas razões do Oficial, será remetida a
juízo que responda pela corregedoria permanente.” (Direito
Registral Imobiliário. 3³ Ed., 2011, Procedimento de Dúvida, p.
16).

6. Participação Ministério Público

A participação do Ministério Público no processo de dúvida registral é


denominada como agente de intervenção, na qualidade de fiscal da lei,
conquanto no Art. 20017 da Lei n. 6.015/73, foi estabelecido que o Ministério
Público será ouvido no processo da dúvida, após a impugnação pela parte
interessada, no prazo de 10 dias. Não obstante, a manifestação do Ministério
Público é crucial para o processo de dúvida, porquanto é inegável que a
intervenção é essencial à regularidade formal do procedimento, de forma que,
sem a sua intervenção, o processo será nulo.

de 15 (quinze) dias contados da notificação. Pode ser produzida diretamente pelo próprio
interessado, por mandatário ou por advogado constituído. Sendo procedimento administrativo,
não se curva à necessidade de interlocutor técnico”. (Direito Registral Imobiliário. 3³ Ed., 2011,
Procedimento de Dúvida, p. 17).
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Lei nº 6.015, art. 200: “impugnada a dúvida com os documentos que o interessado
apresentar, será ouvido o Ministério Público, no prazo de dez dias”.
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Na opinião abalizada de Venício Antônio de Paula Salles, “in verbis”:

“A Lei de Registros Públicos contempla a participação


ministerial no processo de dúvida, o que é, atualmente,
questionável, pois o Ministério Público foi redesenhado na
Constituição de 1988, recebendo sérias incumbências ligadas à
tutela geral dos bens e recursos públicos, deixando de atuar
em demandas onde o interesse privado se revela
preponderante ou único, como no caso da qualificação ou
desqualificação de um título no Registro Imobiliário, desde que
não exista interesse coletivo ou público, ou não se faça
presente direitos de incapazes”. (Direito Registral Imobiliário. 3³
Ed., 2011, Procedimento de Dúvida, p. 17).

7. Sentença

A sentença no processo de dúvida, conforme estabelece o Art. 201 18 da


Lei n. 6.015/73, compreenderá a análise de mérito, no sentindo de revisão do
juízo qualificador, mantendo-se a desqualificação registral do título ou reforma
o entendimento do Oficial. Podendo, não obstante, ser extintiva, no caso dúvida
encontrar-se prejudicada em razão do cumprimento dos óbices apontados pelo
registrador no curso do processo, bem como nas situações de irresignação
parcial.

A sentença possui características e formalidades inerentes a qualquer


outra sentença. Nesse diapasão, a decisão deverá conter os elementos
necessário, sendo o relatório, os fundamentos e o respectivo dispositivo.

A doutrina calcada nos lapidares conceitos expendidos por Venício


Antônio de Paula Salles, assim nos ensina:
 
“A decisão da dúvida ou confirma o ato de desqualificação
registral ou reforma o entendimento do Oficial, abrindo ensejo
para o ingresso tabular. A situação é bastante simples, mas
gera muita confusão por parte dos interessados, pois a
procedência da dúvida equivale à derrota do interessado, e
este resultado (procedência) é encarado equivocadamente por
quem instiga a suscitação como vitória. Seria muito mais
prático se a decisão proclamasse o direito ao registro ou o

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Lei nº 6.015, art. 201: “se não forem requeridas diligências, o juiz proferirá decisão no prazo
de quinze dias, com base nos elementos constantes dos autos”.
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negasse”. (Direito Registral Imobiliário. 3³ Ed., 2011,


Procedimento de Dúvida, p. 18).

8. Hipótese Recursal

Acaso a dúvida seja julgada procedente, não obstante o interessado se


sentir insatisfeito com a desqualificação registral proferida pelo juízo de
competência especifica, ainda resta a via do recurso de apelação, prevista no
Art. 20219 da Lei n. 6.015/73, sendo estabelecido o prazo para recorrer de 15
dias. Contudo, no presente caso, não cabe recurso extraordinário ou especial,
sendo o procedimento de dúvida em caráter administrativo, não jurisdicional.

Delinea-se, assim, na síntese magistral de Venício Antônio de Paula


Salles20, “in verbis”:

“A imprecisão do legislador ordinário não deve impressionar o


intérprete, pois o termo “apelação” não tem o condão de
transformar a suscitação de dúvida em processo judicial, bem
como não autoriza o reexame de decisão e das razões
apresentadas por colegiado dotado de competência
jurisdicional, como impropriamente ocorre com as retificações
de registro”. (Direito Registral Imobiliário. 3³ Ed., 2011,
Procedimento de Dúvida, p. 17).

No mais, o recurso “apelação” disposto no Art. 202 21 da Lei n. 6015/73,


somente pode ser interposto pelo interessado e pelo Ministério Público,
podendo-se concluir na primeira hipótese a recusa do título pelo Oficial
registrador é mantida até o julgamento final e na segunda pelo Ministério
Público o ato do registro permanece prorrogado.

9. Trânsito em Julgado

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Lei nº 6.015, art. 202: “da sentença, poderão interpor apelação, com os efeitos devolutivo e
suspensivo, o interessado, o Ministério Público e o terceiro prejudicado”.
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Nobre e colendo Venício Antônio de Paula Salles dissertou-se quanto ao recurso em face da
decisão da corregedoria permanente, no sentindo que a presente tramitação será amparada
pelo duplo efeito, suspensivo e devolutivo. (Direito Registral Imobiliário. 3³ Ed., 2011,
Procedimento de Dúvida, p. 17).
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Lei nº 6.015, art. 202: “da sentença, poderão interpor apelação, com os efeitos devolutivo e
suspensivo, o interessado, o Ministério Público e o terceiro prejudicado”.
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A sentença proferida no processo de dúvida, devidamente transitada em


julgado seguirá, se porventura julgada procedente, nos moldes do Art. 203 22,
Inciso I da Lei n. 6.015/73, da seguinte maneira: “se for julgada procedente, os
documentos serão restituídos à parte independentemente de traslado, dando-
se ciência da decisão ao oficial, para que consigne no Protocolo e cancele a
prenotação”.

A par disso, acaso julgada improcedente, seguirá, nos moldes do


referido artigo, Inciso II, o seguinte: “se for julgada improcedente, o interessado
apresentará, de novo, os seus documentos, com o respectivo mandado, ou
certidão da sentença, que ficarão arquivados, para que, desde logo, se proceda
ao registro, declarando o oficial o fato na coluna de anotações do Protocolo”.

Referências Bibliográficas

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Lei nº 6.015, art. 203: “transitada em julgado a decisão da dúvida, proceder-se-á do seguinte
modo (...) I - se for julgada procedente, os documentos serão restituídos à parte,
independentemente de translado, dando-se ciência da decisão ao oficial, para que a consigne
no Protocolo e cancele a prenotação (...) II - se for julgada improcedente, o interessado
apresentará, de novo, os seus documentos, com o respectivo mandado, ou certidão da
sentença, que ficarão arquivados, para que, desde logo, se proceda ao registro, declarando o
oficial o fato na coluna de anotações do Protocolo”.

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