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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Guarulhos-SP

Nº Processo: 1001452-86.2020.8.26.0338

Registro: 2022.0000080705

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso Inominado Cível nº


1001452-86.2020.8.26.0338, da Comarca de Mairiporã, em que é recorrente ANTHONY
CARDOSO SILVA, é recorrido PREFEITURA MUNICIPAL DE MAIRIPORÃ .

ACORDAM, em 3ª Turma Cível do Colégio Recursal - Guarulhos,


proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso, por V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos MM. Juízes MAURO CIVOLANI


FORLIN (Presidente), RODRIGO DE OLIVEIRA CARVALHO E PAULO ROGÉRIO
BONINI.

Guarulhos, 13 de junho de 2022.

Mauro Civolani Forlin


PRESIDENTE E RELATOR

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Guarulhos-SP

Nº Processo: 1001452-86.2020.8.26.0338

Recurso nº: 1001452-86.2020.8.26.0338


Recorrente: Anthony Cardoso Silva
Recorrido: PREFEITURA MUNICIPAL DE MAIRIPORÃ

Voto nº 862

“Anulatória de Ato Administrativo c.c Cobrança – Concurso


Público para Guarda Civil do Município de Mairiporã - Anulação
do Ato de Posse em decorrência da ausência de carteira nacional
de habilitação Categoria "C" – Sentença de improcedência –
Inexistência de ilegalidade no ato administrativo – Incontroversa a
falta de preenchimento do requisito constante do item 2.1 “e” do
edital nº 07/2018 – Constatada a irregularidade na documentação
no mesmo dia da assinatura do ato de posse – Aplicabilidade do
enunciado da Súmula 473 do STF – Inteligência do princípio da
Autotutela – Ato de posse eivado de vício sem produção de efeitos
concretos – Prescindível a instauração de processo administrativo
prévio – Tema 138 do STF – Não verificada afronta aos princípios
do contraditório e da ampla defesa – Processo Administrativo
diferido – Ato administrativo dentro da legalidade e motivado –
Sentença mantida – Recurso não provido”.

Trata-se de ação ajuizada pelo recorrente em face do recorrido na


qual se pretende a anulação do ato administrativo que ensejou a exoneração/anulação do
ato de nomeação e posse no cargo de guarda civil municipal 3ª Classe de Mairiporã, com
a consequente reintegração no cargo, além da condenação do Município ao pagamento
de todas as verbas salariais e remuneratórias devidas desde a data do desligamento.
O pedido foi julgado improcedente.
Irresignado, o autor interpôs recurso (fls. 519/534) sustentando
que foi exonerado em 17/02/2020, ou seja, três dias após a investidura no cargo
(14/02/2020), sem a instauração de processo administrativo com contraditório e ampla
defesa. Defendeu a produção de efeitos concretos da investidura no cargo ante a
matrícula efetuada no ato da posse, conforme documento juntado a fls. 51, tanto que
foram fornecidos login e senha para registro no ponto eletrônico (fls. 52), além do
exercício do cargo entre os dias 14 e 17/02/2020. No mais, pontuou o envio da foto da
CNH em 11/02/2020, consoante comprovam os documentos juntados a fls. 59/62, e
enfatizou a inércia da Administração até a investidura no cargo. Ao final, invocou
afronta ao princípio da proporcionalidade previsto no art. 2º da Lei nº 9.784/99 e repeliu

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conduta de má-fé. Protestou pela reforma da sentença, com o consequente acolhimento


dos pedidos formulados na inicial.
Recurso tempestivo e isento de preparo, tendo em vista a
gratuidade concedida ao autor (fls. 580).
Juntada de documentos pelo autor (fls. 591/630), com
manifestação do réu a fls. 631 e 637/638.
Manifestação do autor a fls. 642/644.
Conquanto desnecessário, é o relatório.
CONHEÇO do recurso interposto e NEGO-LHE provimento.
Em que pese o inconformismo do recorrente, a r. sentença não
merece censura.
Restou incontroverso, pois admitido na inicial (fls. 10 e 15), e não
impugnado em nenhum momento nas razões recursais, que o recorrente não preenche o
requisito exigido no item 2.1 “e” do Edital nº 07/2018 “Possuir Carteira Nacional de
Habilitação, no mínimo, categoria C” (fls. 368).
Veja-se que o item 2.5 do edital é claro em relação à necessidade
de comprovação dos requisitos estampados no item 2.1 no ato da posse:

“No ato da inscrição não serão solicitados


comprovantes das exigências contidas neste Edital, no entanto, o
candidato que não as satisfizer no ato da posse, mesmo que tenha
sido aprovado, será automaticamente eliminado do Concurso
Público”.

Os argumentos do recorrente no sentido de que enviou a foto da


CNH antes da posse e a Administração manteve-se inerte na conferência são irrelevantes
para o deslinde do feito, na medida em que o enunciado da Súmula 266 do STJ
expressamente estabelece que “O diploma ou habilitação legal para o exercício do
cargo deve ser exigido na posse e não na inscrição para o concurso público”, nos
mesmos termos em que redigido o item supracitado do edital.
O item 2.4 do edital também preconiza “O candidato que prestar
declaração falsa, inexata, ou ainda, que não satisfaça a todas as condições
estabelecidas neste Edital, terá sua inscrição cancelada e, em consequência, anulados
todos os atos dela decorrentes, mesmo que aprovado na prova e que o fato seja
constatado posteriormente”, tal como ocorreu no caso em testilha, eis que constatada a

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ausência do preenchimento do requisito previsto no item 2.1 no mesmo dia em que o


recorrente tomou posse.
Muito embora constatada tal pendência após a assinatura do termo
de posse e fornecimento de login e senha para registro de ponto eletrônico (fls. 52), os
documentos juntados aos autos comprovam que a investidura no cargo não produziu
efeitos concretos, ao contrário do que sustenta o recorrente.
Afinal, extrai-se do procedimento administrativo nº 3004/2020
(fls. 459/460) que no mesmo dia da assinatura do termo de posse, após a conferência
dos documentos admissionais, o Departamento de Gestão de Pessoas verificou a falta de
comprovação do requisito de ingresso (CNH Categoria C) e remeteu a situação à
Senhora Secretária de Administração, Tecnologia e Modernização, que apreciou o caso,
ensejando a anulação do ato de posse pelo Sr. Prefeito, com fundamento na Súmula 473
do STF, além da comunicação ao Comando da Guarda Civil por meio de contato
telefônico.
No documento supracitado consta inclusive a informação de que o
recorrente foi notificado a respeito da anulação do ato de posse e tomou ciência da
decisão no dia 17/02/2020.
Daí porque, uma vez anulado o ato de posse eivado de vício, sem a
produção de efeitos concretos, revela-se prescindível a instauração de procedimento
administrativo prévio, por força da tese fixada no tema 138 do STF.
Nesse particular, bem assinalou a magistrada “a quo” na r.
sentença atacada:

“(...) Nesse aspecto, importante colacionar a tese


fixada em sede de Recurso Extraordinário nº. 594.296, com
repercussão geral, que resolvendo o Tema nº. 138, restou decidido
que "ao Estado é facultada a revogação de atos que repute
ilegalmente praticados; porém, se de tais atos já tiverem
decorrido efeitos concretos, seu desfazimento deve ser precedido
de regular processo administrativo".
E, no presente caso, verifica-se que o ato de posse
não surtiu efeitos concretos, haja vista que sua anulação foi
imediata, sequer entrando o requerente em exercício, não havendo
qualquer prestação de serviço, evitando-se, igualmente, prejuízo à
Administração Pública, prescindindo, portanto, de processo
administrativo, principalmente disciplinar, já que não fora
apurada qualquer conduta do autor, tampouco aplicado
penalidade/sanção. Ademais, importante destacar que, ainda que
desnecessário para o presente caso concreto, houve procedimento
administrativo diferido, o que, no específico caso, supre qualquer
irregularidade pela ausência de produção de efeitos concretos do

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ato de posse que fora posteriormente anulado, eis que não se pode
considerar o cumprimento das fases/etapas do concurso como
efeitos concretos do ato de posse, posto que além de serem
anteriores, constituem fases/etapas, sendo irrelevante o fato de ter
percebido verbas enquanto estava no Curso de Formação, além de
que a anulação foi correta (...)”.

Diante desse panorama, mormente considerando o procedimento


administrativo diferido, não se verifica violação aos princípios do contraditório e da
ampla defesa.
Ainda que assim não fosse, inviável outro deslinde para o feito, já
que restou incontroversa a ausência de carteira nacional de habilitação na categoria C na
data da posse.
Tampouco socorre o recorrente a suposta desproporcionalidade da
Administração ou ausência de prejuízo, eis que o requisito exigido no item 2.1 “e” do
edital encontra respaldo no art. 27, VII, da Lei Complementar Municipal nº 411/18, que
dispõe sobre a reorganização da Guarda Civil Municipal de Mairiporã, como também
consignado na r. sentença hostilizada.
A pretendida aplicação do disposto no art. 8º, III, da Lei
Complementar Municipal nº 421/2020, igualmente deve ser rechaçada.
A uma porque o referido diploma foi revogado pela Lei
Complementar nº 445/2022.
A duas porque, a despeito da redação semelhante no art. 8, III, na
lei revogadora, que estabelece o ingresso na carreira mediante concurso público e com
CNH válida, categoria mínima “B”, que permita a condução de veículos automotores, tal
dispositivo não pode ser aplicado ao caso em testilha em decorrência do princípio
“tempus regit actum”.
Por fim, a inclusão do nome do recorrente no Diário Oficial do
Município em 14/08/2021 em virtude da sentença proferida pelo Sr. Auditor Josué
Romero (fls. 591), não ampara a anulação do ato de posse, porquanto o recorrido
ponderou que a decisão do Tribunal de Contas se referiu “tão somente a regularidade de
convocações sob a ótica de limites orçamentários de despesa com pessoal” (fls.
637/638).
Em suma, diante da inexistência de ilegalidade no ato de anulação
de posse no concurso público nº 07/2018, de rigor a manutenção da sentença pelos seus
próprios e sólidos fundamentos.

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Ante o exposto, conheço do recurso interposto e nego-lhe


provimento.
Deixo de condenar o recorrente ao pagamento da verba honorária
ao procurador do recorrido, porquanto ausente contrarrazões.
É como voto.

Mauro Civolani Forlin


Juiz Relator

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