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ESTADO DE SANTA CATARINA

COLEGIADO SUPERIOR DE SEGURANÇA PÚBLICA E PERÍCIA OFICIAL


DELEGACIA-GERAL DA POLÍCIA CIVIL
ASSESSORIA JURÍDICA

Informação Técnica nº: 189/2022/ASJUR/DGPC


Referência: PCSC 60560/2022
Assunto: Afastamento das funções

Excelentíssimo Senhor Coordenador da ASJUR/DGPC,

Do relatório

Trata-se de solicitação da Gerência de Gestão de Pessoas/GEPES para


averiguação da situação do servidor Carlos Eugênio Avila de Arruda, afastado administrativamente
e por decisão judicial, tendo em vista a alteração estatutária trazida pela Lei nº 18.281/2021.

Os autos em tela vieram a esta ASJUR/DGPC, via cadeia hierárquica, para


manifestação.

É a breve síntese.

Da análise/fundamentação

Inicialmente, verificou-se que o servidor foi afastado administrativamente de suas funções,


de acordo com a Portaria nº 550/PCSC/DGPC/CORPC, de 19/06/2020, com fundamento no inciso I do art.
29 da Lei nº 6.843/1986 (Estatuto da Polícia Civil), em virtude de ter sido preso preventivamente (Autos nº
5004595-18.2020.8.24.0064), após indiciamento no Auto de Prisão em Flagrante nº 480.20.00180.

Posteriormente houve a conversão da prisão preventiva em prisão domiciliar, determinada


pela instância ad quem no julgamento do Habeas Corpus nº 5009526-62.2020.8.24.0000, sendo cumulada
com as seguintes medidas cautelares diversas da prisão:

a) proibição de ausentar-se da residência e da comarca sem autorização judicial; b)

Av. Governador Ivo Silveira, nº 1521, Bloco B 6º andar


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proibição de mudança de logradouro residencial sem antes informar o juízo; c)


suspensão do direito de portar armas de fogo; d) manutenção da entrega junto ao
DEIC da arma de fogo e munições de sua propriedade; e) afastamento prévio do
trabalho junto à instituição da Polícia Civil do Estado de Santa Catarina.
(evento 12, HC n. 5009526-62.2020.8.24.0000).

O procedimento citado inicialmente originou a Ação Penal nº 5006655-61.2020.8.24.0064,


na qual o servidor foi condenado em 1º grau às penas de 12 (doze) anos, 9 (nove) meses e 2 (dois) dias de
reclusão, 6 (seis) meses de detenção e ao pagamento de 12 (doze) dias-multa, quantificada a unidade em
1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, por infração ao disposto no artigo 159,
caput, e no artigo 308, ambos c/c artigo 61, inciso II, alínea “g”, na forma do artigo 69, todos do Código
Penal, em regime inicial fechado e absolvido do crime do artigo 288 do Código Penal, com fulcro no artigo
386, inciso VII, do Código de Processo Penal. Foi decretada a perda do cargo público, considerando que o
delito implicou violação de dever para com a Administração Pública, sendo negado o direito de recorrer em
liberdade – sentença datada de 24/09/2020.

Em sede recursal (Apelação Criminal nº 5006655-61.2020.8.24.0064), o Tribunal de Justiça


do Estado de Santa Catarina proveu parcialmente o recurso para ‘’reduzir a pena ao patamar de 10 anos, 10
meses e 20 dias de reclusão, em regime inicial fechado e 5 meses e 13 dias de detenção, em regime inicial
aberto, e pagamento de 12 dias-multa, cada qual no mínimo legal’’ – decisão datada de 13/04/2021. 

Irresignado, o servidor interpôs o Recurso Especial 1952922/SC (2021/0253228-9),


alegando, em síntese, ‘’violação aos arts. 23, III, 59, 92, parágrafo único, 158, § 3°, e 159, todos do Código
Penal, e arts. 301 e 386, VI e VII, ambos do Código de Processo Penal (evento 56)’’.

Referido recurso foi admitido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina e
encontra-se em trâmite no Superior Tribunal de Justiça, concluso ao relator em 27/09/2021.

Além disso, interpôs Recurso Extraordinário alegando ‘’violação aos arts. 5°, XLVI, e 93,
IX, ambos da Constituição da República (evento 56).’’, o qual não foi admitido pelo Tribunal de Justiça de
Santa Catarina.

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Dianto disso, o servidor interpôs agravo à decisão denegatória do Recurso Extraordinário


(evento 93). Posteriormente, intimado para se manifestar ‘’sobre a via recursal eleita, o agravante informou
que se trata do agravo previsto no art. 1.042 do CPC’’. Sendo assim, ‘’em observância ao procedimento
inserto no art. 1.042, § 4º, do CPC, mantém-se a decisão agravada por seus próprios e jurídicos fundamentos,
ressaltando que se encontra preclusa a matéria objeto do TEMA 339 do STF, não impugnada por agravo
interno, remeta-se à Corte de destino, dando-se baixa no registro para fins estatísticos.’’

Cumpre esclarecer que, com relação aos fatos apurados nesta ação penal, foi instaurado junto
a Corregedoria da Polícia Civil o Processo Administrativo Disciplinar nº 10/2021 (PCSC nº 00048592/2020).
Verificou-se, ainda, que os autos estão conclusos ao Delegado de Polícia, para elaboração do Relatório de
Instrução ou demais diligências.

Fixadas tais premissas, quanto ao afastamento administrativo do servidor Carlos Eugênio


Avila de Arruda, necessário tecer algumas considerações.

O art. 29 da Lei nº 6.843/1986 que embasou a Portaria de afastamento nº


550/PCSC/DGPC/CORPC, de 19/06/2020 foi revogado na íntegra pela Lei nº 18.281/2021, com efeitos a
contar a partir de 1º de janeiro de 2022.

Dessa forma, afastamentos administrativos com fundamento neste artigo não são mais
possíveis.

Entretanto, havendo necessidade de se manter o afastamento administrativo ao servidor que


responde a Processo Administrativo Disciplinar, imperiosa a edição de Portaria que pode ser justificada no
art. 76 e parágrafos, da Lei Complementar nº 491/2010 (Estatuto Jurídico Disciplinar no âmbito da
Administração Direta e Indireta do Estado de Santa Catarina), que assim dispõe:
Art. 76. Como medida cautelar e a fim de que o servidor não venha a influenciar na
apuração da irregularidade, a autoridade instauradora do procedimento
administrativo disciplinar poderá determinar o seu afastamento do exercício do
cargo, pelo prazo de 60 (sessenta) dias, sem prejuízo da remuneração.
§ 1º O afastamento poderá ser prorrogado por igual prazo, findo o qual cessarão os
seus efeitos, ainda que não concluído o processo.

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§ 2º Deverá constar da portaria de afastamento a determinação de que o servidor


afastado ficará à disposição do órgão ao qual é vinculado, bem como da Comissão
Processante durante o horário normal do expediente, em local certo e conhecido, a
contar da ciência do ato.
§ 3º O não atendimento pelo servidor acusado à determinação disposta no
parágrafo anterior configura prática de nova irregularidade e impõe a instauração de
novo procedimento administrativo disciplinar.
§ 4º O não cumprimento será informado ao setor de pessoal e os dias ausentes
serão descontados.
§ 5º É facultado ao órgão, dependendo da infração cometida, designar o servidor
acusado para ter exercício em outro setor até o término do procedimento
administrativo disciplinar.

Desse modo, verifica-se ser possível o afastamento do servidor pelo período de 60


(sessenta) dias, prorrogável por igual prazo, a fim de que não interfira na instrução do procedimento
disciplinar e desde que o afastamento ocorra por determinação da autoridade processante.

Vale ressaltar ainda, neste ponto, que também há possibilidade de afastamento preventivo
de servidor, com fulcro no § 2º, do art. 224, da Lei nº 6.843/1986 1 (Estatuto da Polícia Civil), por tempo
indeterminado.

No caso em tela, porém, o servidor encontra-se afastado em razão da decretação de sua


prisão preventiva, posteriormente convertida em prisão domiciliar. Salienta-se que na esfera judicial ainda
não ocorreu o trânsito em julgado da ação penal que decretou a perda do cargo público do servidor.

Da Conclusão

Isto posto, considerando o vertido no tópico análise/fundamentação, conclui-se que o


servidor permanece afastado de suas funções em decorrência de decisão judicial que decretou sua prisão
domiciliar, bem como outras medidas cautelares, dentre as quais o afastamento prévio do trabalho junto à

1
Art. 224. As autoridades policiais, Diretores de órgãos policiais e Corregedores, que tiverem notícia de irregularidade cometida por
policial civil, são obrigados a promover sua apuração imediata por meio de sindicância, no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogáveis
mediante despacho fundamentado da autoridade sindicante, se tratar-se de subordinado seu, ou comunicá-la dentro de 48 (quarenta e
oito) horas a autoridade competente sob pena de se tornar conivente.
[...]
§ 2º Pode ser afastado preventivamente das funções, sem prejuízo da remuneração, ate completa apuração dos fatos, o policial civil ao
qual foi imputada falta ou infração que, por sua natureza, aconselhe tal providencia.
[...]

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Polícia Civil do Estado de Santa Catarina.

Verifica-se também que na esfera judicial ainda não ocorreu o trânsito em julgado da ação
penal que decretou a perda do cargo público do servidor, estando pendente de julgamento o Recurso
Especial.

É a Informação Técnica.

À distinta consideração da Coordenadoria da ASJUR/DGPC.

Florianópolis/SC, data da assinatura digital.

(Assinatura digital SGP-e)


Gabrielle Bandeira
Escrivã de Polícia
Matr. 322.873-8

Despacho: de acordo.

Florianópolis/SC, data da assinatura digital.

(Assinatura digital SGP-e)


Adriano Spolaor
Coordenador da ASJUR/DGPC
Delegado de Polícia
Matr. 392.407-6

Av. Governador Ivo Silveira, nº 1521, Bloco B 6º andar


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