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Processo: 0033996/2016

Parecer: 002/2023

Assunto: Apuração de irregularidade referente ao pagamento de fornecimento


de alimentação

Remetente: Gerência da Auditora Interna - EMSERH.

A Comissão de Sindicância da EMSERH, composta pelos membros Christiano


Batista Mesquita, Mat. 013099, Luan Cutrim Araujo Mat. 006796, Maria Carolina
Sousa Mello Mat. 010985, Lennon Franco Costa da Silva Mat. 013243 e Danielle
Maria Pires da Fonseca de Britto Mat. 013462, sendo o primeiro para a
presidência, tendo por base o aludido no art. 67 do Regulamento de Pessoal da
Empresa Maranhense de Serviços Hospitalares – EMSERH, em verificação ao
processo n. 0031560/2016, desta empresa, vem, mediante orientação em
despacho da Procuradoria Geral do Estado, manifestar-se sobre o que foi
apurado.

RELATÓRIO:

Trata-se o presente de processo de pagamento por indenização da empresa


NUTRINDUS ALIMENTOS LTDA, portadora do CNPJ nº 03.160.100/0001-73,
com endereço sito a Rua Adolfo Donato da Silva, sn – Bairro Praia Comprida –

Empresa Maranhense de Serviços Hospitalares


Av. Borborema Q - 22, casa 02A, Calhau CNPJ: 18.519.709/0001-63
CEP: 65071-360 – São Luís/MA Tel: (98) 3235-7333
São José/SC, para efetuar fornecimento de alimentação para as seguintes
unidades referente ao Hospital Geral Tarquinio Lopes , no valor de R$
297.308,72(duzentos e noventa e sete mil, trezentos e oito reais e setenta e dois
centavos), pelo período de 1º de janeiro de 2016 a 31 de janeiro de 2016 .

Os autos tramitaram dentro do esperado até a satisfação do objetivo, ou seja


pagamento da referida nota fiscal do serviço prestado.

Na época, a direção financeira havia sugerido a necessidade de pagamento nos


seguintes parâmetros: Não interrupção dos serviços hospitalares; Não prejuízo à
população maranhense; Competência da EMSERH em gerir as unidades
hospitalares; Ademais, a Justificativa do Diretor Financeiro da EMSERH para a
escolha do fornecedor foi a que o serviço já estava sendo prestado, de forma
satisfatória e é de suma relevância à sociedade.

A Assessoria Jurídica da EMSERH em parecer de nº 331/2016, de 04 de março


de 2016, elencou os seguintes parâmetros: Competência da EMSERH em gerir
unidades hospitalares; Necessidade imperiosa de não interrupção dos serviços
hospitalares; Rompimento dos contratos de gestão com o Instituto de Cidadania
e Natureza – ICN, por decisão judicial oriunda da operação da Polícia Federal
“Sermão aos Peixes”; A EMSERH não estava devidamente estrutura para
recepcionar os hospitais antes sob a égide do ICN; Dado o vício formal, pela
contratação não precedida por ditame licitatório, cabe a Administração Pública
restituir os fornecedores, sob a forma de indenização, com vistas a elidir o
enriquecimento sem causa (art. 884, CC); A nulidade do contrato não impele a
Administração do dever de indenizar (art. 59, parágrafo único, Lei 8.666/93).

O Parecer da Procuradoria Judicial da Saúde – PGE/MA acostado nos autos,


em apertada síntese relata que:

a. Citou que a prestação de serviço foi realizada dada a existência de nota


fiscal devidamente atestada;

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b. Apontou que prestação de serviços sem o prévio procedimento licitatório
gera situação de nulidade (art. 37, inciso XXI, CF/88);

c. Indicou que Pagamento de despesas pelos órgãos públicos sem prévia


licitação ou procedimento de dispensa/inexigibilidade é prática viciada sob
o aspecto formal;

d. Percebeu que a nulidade não exonera a Administração do dever de


indenizar (art. 59, parágrafo único, Lei Federal 8.666/93);

e. Expos que a liquidação de despesa, por fornecimentos feitos ou serviços


prestados, terá por base os comprovantes de entrega do material ou da
prestação efetiva dos serviços (art. 63, §2º, III, Lei Federal 4.320/64);

f. Citou que houve a efetiva entrega do material e/ou prestação de serviços


à Administração (art. 63, §2º, Lei Federal 4.320/64), posto que conste no
bojo do processo a nota fiscal devidamente atestada (presunção juris
tantum);

g. Notou a ausência de cobertura contratual no período da prestação dos


serviços não é óbice para o adimplemento da obrigação;

h. Solicitou a apuração da responsabilidade dos que deram azo à assunção


da despesa sem o prévio procedimento licitatório (art. 82, V, Lei Estadual
8.959/09).

Ao final, a Gerência da Auditora Interna - EMSERH determinou remessa dos


autos para esta Comissão de Sindicância para análise e deliberações.

DISPOSITIVO:

Para a apuração do aqui disposto, deve-se estabelecer alguns critérios, vamos


a eles:

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1 – SOBRE A SINDICÂNCIA E SEU PROCEDIMENTO:

A sindicância pode ser entendida como sendo a etapa preliminar de uma


investigação administrativa.

A principal finalidade da sindicância é esclarecer se houve, ou não, algum fato


ou ato irregular, mesmo que no início não haja uma pessoa a ser investigada.

Se for concluído que existe um potencial ato ilícito, é iniciado o processo


administrativo disciplinar contra o servidor responsável.

2 – SOBRE A APLICABILIDADE DO ART. 142 DA LEI 8.112/90 NO ÂMBITO


DAS EMPRESAS ESTATAIS:

Nesse viés, há se se perceber que na quando algumas lacunas existem no


aspecto de aplicação da Lei das Estatais ao caso específico em tela. Para tanto,
observe-se que devido ao regime privado a que se sujeitam, aos empregados
das empresas estatais não se aplicaria – via de regra - o art. 5º, inc. LV, da
Constituição Federal, segundo o qual “aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
Dessa forma, a aplicação de sanções disciplinares no âmbito das estatais
independe de prévio processo administrativo. Contudo, é possível que referidas
empresas, em seus estatutos, prevejam procedimentos prévios à imposição de
penalidades, como é o caso aqui em análise e tal como explicado pelo Manual
de Direito Disciplinar para Empresas Estatais editado pela Controladoria-Geral
da União:
“Nada impede que as citadas empresas públicas e
sociedades de economia mista, que se regem pelo
mesmo regime das empresas privadas, inclusive no que
toca aos direitos e obrigações trabalhistas, possam
editar regulamento interno em que sejam contemplados

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procedimentos prévios de apuração para imposição de
penalidades aos seus empregados. (…) Nesse sentido,
uma vez prevista em regulamento interno a
necessidade de realização de prévio processo para a
aplicação de pena disciplinar, a estatal não poderá
dispensá-lo e aplicar sanção a um empregado alegando
que a legislação trabalhista não prevê esta garantia.
Terá ela que realizar o procedimento previsto em seus
regulamentos, sempre que verificar a necessidade de
exercício do poder disciplinar”.  (Grifamos.) (CGU,
2015, p. 49.)
Do mesmo manual destaca-se: “Então, como Inexistente normativo interno no
âmbito da empresa estatal que estabeleça o rito processual prévio à aplicação
de penalidades, admite-se a adoção, no que couber, do procedimento disciplinar
previsto na Lei nº 8.112/90 para a apuração de responsabilidade de
empregados públicos.”
Nesse contexto, questiona-se se, no caso de o regulamento de pessoal da
Emserh ser omisso quanto ao rito procedimental disciplinar a ser adotado,
considerando a preclusão, poderá a entidade fazer uso de disposições da Lei nº
8.112/90.

3 – SOBRE A PRECLUSÃO:

O limite temporal tem que ser observado, em atendimento ao que determina o


instituto da prescrição, pois ao Poder Público, suprir-se-á a prerrogativa sua
pretensão de competência disciplinar se deixar escoar o prazo fixado na lei
dentro do qual lhe é possível atuar.

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Diante desse contexto, conclui-se que, de acordo com o Enunciado nº 15 da
CGU, é possível a adoção do rito processual disciplinar previsto pela Lei nº
8.112/90 às empresas estatais. Senão vejamos:

Art. 142. A ação disciplinar prescreverá:


I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com
demissão, cassação de aposentadoria ou
disponibilidade e destituição de cargo em comissão;
II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;
III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à advertência.
§ 1o O prazo de prescrição começa a correr da data em
que o fato se tornou conhecido.
Voltando o entendimento ao que já estabeleceu de parâmetro nossos tribunais
pátrios quanto à preclusão de processos administrativos, resgata-se o que
determina a Súmula 635 do STJ, com a seguinte redação:
Súmula 635-STJ: Os prazos prescricionais previstos no
art. 142 da Lei nº 8.112/1990 iniciam-se na data em que
a autoridade competente para a abertura do
procedimento administrativo toma conhecimento do
fato, interrompem-se com o primeiro ato de instauração
válido - sindicância de caráter punitivo ou processo
disciplinar - e voltam a fluir por inteiro, após decorridos
140 dias desde a interrupção.

Destarte, considerando o enunciado 15/2017 da CGU, está encampado no art.


142 da lei 8112/90, resta evidente que foi decorrido o prazo legal máximo para o
exercício da competência punitiva. Então, certa é a prescrição do poder
disciplinar na espécie. A natureza de ordem pública dos prazos e as
características conceituais que lhe são intrínsecas deixam evidente a

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possibilidade da decretação de ofício da prescrição administrativa. Com efeito,
deve a Administração Pública reconhecer a sua ocorrência, de ofício, em estrito
cumprimento aos princípios da legalidade e veracidade, da moralidade, da
impessoalidade, da eficiência, da segurança jurídica e da supremacia do
interesse público já se encontra contemplado.

Portanto, não tendo mais o que levantar e apurar, considerando a eficiência do


instituto da preclusão, pois a contagem de se deu quando do conhecimento da
autoridade dos presentes autos em março de 2016, devendo os presentes ser
arquivados

Salvo melhor juízo, é o parecer.

São Luís/MA, 07 de fevereiro de 2023

Christiano Batista Mesquita

Presidente da Comissão de Sindicância – EMSERH

Mat. 013099

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