Você está na página 1de 6

MINISTÉRIO PÚBLICO DE SERGIPE

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DOS DIREITOS DO CIDADÃO ESPECIALIZADA NA DEFESA DO


PATRIMÔNIO PÚBLICO, DA PREVIDÊNCIA PÚBLICA E DA ORDEM TRIBUTÁRIA

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 12ª VARA CÍVEL DA


COMARCA DE ARACAJU,

Processo nº 201911201984

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE, por conduto do


Promotor de Justiça infrafirmado, no exercício das atribuições destinadas à Promotoria de
Justiça Especializada na Defesa do Patrimônio Público, vem perante Vossa Excelência expor
e requerer:

I- DA AUSÊNCIA DE PROPORCIONALIDADE ENTRE OS POLICIAIS PENAIS


E O NÚMERO DE PRESOS:

Sustenta o Estado de Sergipe que os candidatos aprovados no certame realizado


em 2018 já foram convocados, o que, no seu entender, justificaria a extinção do processo pelo
cumprimento integral da obrigação imposta por este Juízo de Direito no julgamento da ACP
de nº 201311200750.

Especificamente sobre o atendimento da resolução do Conselho Nacional de


Política Criminal e Penitenciária (nº 09/2009), que dispõe expressamente sobre a proporção
de 01 policial penal para custódia de 05 presos, o Ente Público registra que o impositivo não
constou da sentença, de modo que a exigência extrapolaria o trânsito em julgado da decisão.

Atestam os documentos que instruem o presente cumprimento de sentença que os


autos originários se referem à Ação Civil Pública de nº 20131120075, movida em face do
Pág. 1

AV. CONSELHEIRO CARLOS ALBERTO SAMPAIO, 505, EDF. LUIZ GARCIA, 1º ANDAR, SALA 127 – CENTRO
ADMINISTRATIVO GOV. AUGUSTO FRANCO – Bairro: CAPUCHO – ARACAJU – SERGIPE – CEP: 49081-000 –
Tel.:79-3209-2400 RAMAIS 2598/2602/2603, e-mail: patpublico@mpse.mp.br
MINISTÉRIO PÚBLICO DE SERGIPE
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DOS DIREITOS DO CIDADÃO ESPECIALIZADA NA DEFESA DO
PATRIMÔNIO PÚBLICO, DA PREVIDÊNCIA PÚBLICA E DA ORDEM TRIBUTÁRIA

Estado de Sergipe, objetivando a realização de concurso público para servidores do sistema


prisional, o cancelamento das cessões e a observância da Resolução nº 09, de 13 de novembro
de 2009, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciaria.

O concurso público para provimento dos cargos de Guarda de Segurança do


Sistema Prisional foi realizado em 2018, com a convocação de 100 (cem) servidores. Houve,
de fato, a observância do total de vagas previsto no edital de abertura do certame, conforme
dados trazidos pelo Estado de Sergipe.

Muito embora tenham sido nomeados mais de 100 guardas prisionais, hoje
policiais penais, o quantitativo de servidores permanece aquém do que foi regulamentado
pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciaria, cuja recomendação foi no
sentido de que exista, no mínimo, 01 policial penal para custódia de 05 presos.

A informação trazida pelo Banco Nacional de Mandados de Prisão do CNJ é que


o Estado de Sergipe, na data de 08 de junho de 2021, tem 4.813 (quatro mil, oitocentos e
treze) pessoas privadas de liberdade. 1Nesta perspectiva, seriam necessários 962, 60
(novecentos e sessenta e dois) policiais penais em atuação no sistema prisional estadual,
o que não se observa no caso dos autos.

Neste ponto específico, registra este Agente Ministerial que não há qualquer
extrapolação às determinações da sentença proferida na Ação Civil Pública de nº
20131120075. Este Juízo de Direito deixou de acolher o pedido para uma adequação
permanente entre policiais penais/preso sob o argumento de que a iniciativa da política
pública caberia ao próprio Executivo, após regulamentação pelo Poder Legislativo.

No entanto, em que pese tenha afastado a obrigação para uma adequação


permanente, como dito acima, o Julgador determinou a adequação imediata do quadro

1
Disponível em https://portalbnmp.cnj.jus.br/#/estatisticas. Acesso em 08 de junho de 2021.
Pág. 2

AV. CONSELHEIRO CARLOS ALBERTO SAMPAIO, 505, EDF. LUIZ GARCIA, 1º ANDAR, SALA 127 – CENTRO
ADMINISTRATIVO GOV. AUGUSTO FRANCO – Bairro: CAPUCHO – ARACAJU – SERGIPE – CEP: 49081-000 –
Tel.:79-3209-2400 RAMAIS 2598/2602/2603, e-mail: patpublico@mpse.mp.br
MINISTÉRIO PÚBLICO DE SERGIPE
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DOS DIREITOS DO CIDADÃO ESPECIALIZADA NA DEFESA DO
PATRIMÔNIO PÚBLICO, DA PREVIDÊNCIA PÚBLICA E DA ORDEM TRIBUTÁRIA

com a convocação e posse de todos os aprovados até que atinja a proporção da relação preso/
guarda, consoante expresso em resolução do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária-CNPCP.

Vejamos:

“Julgo parcialmente procedentes os pedidos contidos na presente AÇÃO


CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO LIMINAR, tombada sob o
nº201311200750, proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
SERGIPE em face do ESTADO DE SERGIPE, com fulcro no artigo 487, I,
do Novo Código de Processo Civil, para determinar que o demandado
realize em06 (seis) meses concurso público para o Cargo de Guarda de
Segurança do Sistema Prisional (Agente Penitenciário), e por conseguinte
convoque, nomeie e emposse todos os aprovados até que atinja a
proporção da relação preso/guarda, consoante expresso em resolução
do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária-CNPCP.
Torno definitiva a tutela outrora concedida, para que o Estado de Sergipe
proceda no prazo de30 (trinta)dias com o cancelamento das cessões de
servidores do âmbito penitenciário, devolvendo-os ao mencionado cargo,
qual seja, o de Guarda de Segurança do Sistema Prisional”.(grifo nosso).

Dito de outro modo, este Juízo de Direito afastou a obrigação de forma


permanente, determinando a adequação apenas no caso apresentado nos autos, o que ainda
não foi feito pelo Estado de Sergipe. Como se vê, hoje, no dia 08 de junho de 2021, o
quantitativo de policiais penais permanece aquém do que foi recomendado pelo Conselho
Nacional e determinado pela sentença condenatória.

Percebe-se que a falta de efetivação da política social de segurança pública pelo


Estado de Sergipe constitui afronta ao princípio da eficiência da Administração. A segurança
pública foi tratada pelo legislador constituinte, em seu art. 144, como sendo um serviço
público essencial. Não será admissível, portanto, que o Chefe do Executivo estabeleça
políticas de segurança pública deficientes, operacionalizadas mediante uma atuação incapaz e
em descompasso com o princípio da eficiência.

II- DA FIXAÇÃO DE MULTA PESSOAL AO GOVERNADOR DO ESTADO:


Pág. 3

AV. CONSELHEIRO CARLOS ALBERTO SAMPAIO, 505, EDF. LUIZ GARCIA, 1º ANDAR, SALA 127 – CENTRO
ADMINISTRATIVO GOV. AUGUSTO FRANCO – Bairro: CAPUCHO – ARACAJU – SERGIPE – CEP: 49081-000 –
Tel.:79-3209-2400 RAMAIS 2598/2602/2603, e-mail: patpublico@mpse.mp.br
MINISTÉRIO PÚBLICO DE SERGIPE
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DOS DIREITOS DO CIDADÃO ESPECIALIZADA NA DEFESA DO
PATRIMÔNIO PÚBLICO, DA PREVIDÊNCIA PÚBLICA E DA ORDEM TRIBUTÁRIA

Não obstante a determinação judicial no sentido de fosse obedecida a proporção


policial penal/preso, o Estado de Sergipe permaneceu inerte. Como se vê, o Governador do
Estado, Senhor Belivaldo Chagas, em desrespeito à decisão, não adotou as medidas
necessárias para efetiva nomeação dos servidores.

Por esta razão, entende o Parquet que as astreintes devem ser custeadas
pessoalmente pela Gestor, e não pelo ente público, já que não se mostra razoável condenar o
próprio ente público (e aí entenda-se a sua população) ao pagamento de multa pelo não
cumprimento da obrigação imposta, quando a responsabilidade pelo não atendimento da
ordem judicial é atribuída ao Chefe do Executivo.

Acerca da possibilidade de fixação de multa pessoal para o caso de


descumprimento de decisões judiciais, merecem destaque os seguintes julgados:

PROCESSO CIVIL. OBRIGAÇÃO DE FAZER. DESCUMPRIMENTO DE


DECISÃO JUDICIAL. IMPOSIÇÃO DE MULTA DIÁRIA (ASTREINTE).
AGENTE PÚBLICO. POSSIBILIDADE.1. Agravo interno objetivando a
modificação da decisão monocrática que negou seguimento ao agravo de
instrumento, em que se pretendia a reforma da decisão que determinou a
manifestação da União Federal sobre a anulação de determinados atos
administrativos, advertindo que a persistência na desobediência da
ordem judicial proferida, acarretaria a multa pessoal dos servidores
nela citados, sem prejuízo das demais medidas cabíveis.2. A decisão
proferida em primeiro grau de jurisdição e mantida pela ora recorrida,
limitou-se a determinar a manifestação da União acerca da anulação de
determinados atos administrativos, cientificando-lhe que, na hipótese de
manutenção da desobediência ao comando judicial, os servidores nela
citados seriam (ainda não foram) multados pessoalmente em R$ 1.000,00
(um mil reais).3. A conclusão da decisão ora atacada encontra-se em
consonância com a jurisprudência desta Corte Regional Federal acerca
do tema, no sentido de que a aplicação ou manutenção das astreintes se
justifica nos casos em que esteja configurada a desídia do agente
público em proceder à implementação da decisão judicial.4. A decisão
recorrida não merece reparos, tendo em vista que a agravante não trouxe
argumentos que alterassem a conclusão nela exposta.5. Recurso conhecido e
desprovido. (TRF2, 7ª Turma Especializada, Proc n.: 201002010040433 RJ

Pág. 4

AV. CONSELHEIRO CARLOS ALBERTO SAMPAIO, 505, EDF. LUIZ GARCIA, 1º ANDAR, SALA 127 – CENTRO
ADMINISTRATIVO GOV. AUGUSTO FRANCO – Bairro: CAPUCHO – ARACAJU – SERGIPE – CEP: 49081-000 –
Tel.:79-3209-2400 RAMAIS 2598/2602/2603, e-mail: patpublico@mpse.mp.br
MINISTÉRIO PÚBLICO DE SERGIPE
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DOS DIREITOS DO CIDADÃO ESPECIALIZADA NA DEFESA DO
PATRIMÔNIO PÚBLICO, DA PREVIDÊNCIA PÚBLICA E DA ORDEM TRIBUTÁRIA

2010.02.01.004043-3, Relator: Juiz Federal Convocado VIGDOR TEITEL,


Data de Julg.: 02/02/2011, Data de Publ.: 09/02/2011).

ADMINISTRATIVO. REALIZAÇÃO DE SHOWS NA ORLA MARÍTIMA


DO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES.
DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO JUDICIAL. MULTA PELO
DESCUMPRIMENTO. DIMINUIÇÃO DO VALOR.
PROPORCIONALIDADE. EXIGIBILIDADE DEPENDENTE DO
TRÂNSITO EM JULGADO. - Ordem judicial condicionou a realização de
qualquer evento na orla do Município de Campos dos Goytacazes a
autorizações de diversos órgãos, entre eles a Secretaria do Patrimônio
Público da União, e a declaração de inexistência de danos à fauna e a flora
pelo Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade. Realização
de shows sem a observância dos requisitos. Descumprimento da decisão
judicial. - Possibilidade da fixação de astreintes em Ação Civil Pública.
Art. 11 c/c §2º do art. 12 da Lei n. 7.347/85. Multa devida deste o
descumprimento, mas exigível somente após o trânsito em julgado. -
Fixação do valor da multa a ser pago pelo Município pelo
descumprimento já efetivado diminuída de R$ 100.000.000,00 (cem
milhões), como fora fixado pelo Magistrado a quo, para R$ 100.00,00
(cem mil reais), em razão do princípio da razoabilidade. Redução,
ainda, da multa pessoal culminada ao Prefeito, em caso de novo
descumprimento, de 10.000.000,00 (dez milhões) fixando-a em R$
100.00,00 (cem mil reais). Afastamento da previsão de pagamento pelo
Município em caso de novo descumprimento, em proteção ao patrimônio
público. - Dado parcial provimento ao agravo de instrumento. (TRF2, 7ª
Turma Especializada, Agravo de Instrumento n.: 192272, Relator: Juiz
Convocado Flávio de Oliveira Lucas, Data da Decisão: 04/05/2011, Data da
Publ.: 17/05/2011).

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MANUTENÇÃO DE RODOVIA.


ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. DEFERIMENTO.MULTA POR
DESCUMPRIMENTO. IMPOSIÇÃO À FAZENDA E AO AGENTE
PÚBLICO.[...] 1. O Superior Tribunal de Justiça já lançou o entendimento
que é possível ao juiz, ex officio ou por meio de requerimento da parte, a
fixação de multa diária cominatória (astreintes) contra a Fazenda Pública,
em caso de descumprimento de obrigação de fazer. 2. Por outro lado, vale
registrar que, a aplicação de astreintes à Fazenda Pública é pouco eficaz
como meio de coerção psicológica, já que sujeita ao regime de
precatório. Tal coerção somente seria mais eficiente se incidisse sobre o
agente que detém responsabilidade direta pelo descumprimento da
ordem, descumprimento este que gera imediatos efeitos penais e
administrativos. (grifo nosso)(TRF da 4ª Região – AGRAVO DE
INSTRUMENTO – Processo n. 2006040001972247 UF: RS – Órgão
Julgador: 3ª Turma – Data da decisão: 13.03.2007 – Fonte: D.E. – Data:
28.03.2007 – Relatora: Dês. Federal Vânia Hack de Almeida).

Pág. 5

AV. CONSELHEIRO CARLOS ALBERTO SAMPAIO, 505, EDF. LUIZ GARCIA, 1º ANDAR, SALA 127 – CENTRO
ADMINISTRATIVO GOV. AUGUSTO FRANCO – Bairro: CAPUCHO – ARACAJU – SERGIPE – CEP: 49081-000 –
Tel.:79-3209-2400 RAMAIS 2598/2602/2603, e-mail: patpublico@mpse.mp.br
MINISTÉRIO PÚBLICO DE SERGIPE
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DOS DIREITOS DO CIDADÃO ESPECIALIZADA NA DEFESA DO
PATRIMÔNIO PÚBLICO, DA PREVIDÊNCIA PÚBLICA E DA ORDEM TRIBUTÁRIA

Desse modo, o direcionamento pessoal cumpre sua função no processo de


aceleração do cumprimento das obrigações determinadas judicialmente, porque causa pesado
receio no agente público de que suas finanças serão prejudicadas concretamente por causa da
atitude recalcitrante.

III- DOS PEDIDOS:

Ante o exposto, o Ministério Público do Estado de Sergipe reitera os termos da


manifestação já lançada em 30/11/2020, sobretudo no que se refere à majoração da multa
a ser aplicada ao Executado, a fim de que seja integralmente cumprida a decisão judicial
proferida na ACP de nº 201311200750.

Aracaju/SE, 08 de junho de 2021.

Jarbas Adelino Santos Júnior


Promotor de Justiça

Pág. 6

AV. CONSELHEIRO CARLOS ALBERTO SAMPAIO, 505, EDF. LUIZ GARCIA, 1º ANDAR, SALA 127 – CENTRO
ADMINISTRATIVO GOV. AUGUSTO FRANCO – Bairro: CAPUCHO – ARACAJU – SERGIPE – CEP: 49081-000 –
Tel.:79-3209-2400 RAMAIS 2598/2602/2603, e-mail: patpublico@mpse.mp.br

Você também pode gostar