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PROCURADORIA GERAL DO ESTADO


PROCURADORIA DA DÍVIDA ATIVA

EXMO. SR. DR. DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO


ESTADO DO RIO DE JANEIRO

TJRJ 202200848570 11/11/2022 12:32:24 C<BH Petição Inicial Eletrônica


Ref. processo nº 0025940-32.2018.8.19.0001

O ESTADO DO RIO DE JANEIRO, tendo como referência, em primeiro grau, os


autos do processo falimentar da sociedade EMPRESA DE VIAÇÃO ALGARVE LTDA, vem,
com fulcro nos arts. 1.015 e segs. do Código de Processo Civil/15, respeitosamente,
interpor

AGRAVO DE INSTRUMENTO

contra a decisão de id. 3.877, pelas razões adiante expostas.

À luz do art. 1.016, inciso IV, do CPC/15, informa o nome e endereço dos
procuradores: I) do agravante: PROCURADORIA GERAL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO, Rua do Carmo, nº 27, Centro, Rio de Janeiro – RJ e II) da agravada: Massa
Falida da sociedade EMPRESA DE VIAÇÃO ALGARVE LTDA, exercendo a
Administração Judicial a K2 CONSULTORIA ECONÔMICA, com endereço na Rua Primeiro
de Março, nº 23, 14º andar, Centro, Rio de Janeiro/RJ.

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Embora dispensado de fazê-lo, nos termos do art. 1.017, §5º, do CPC, considerando o
grande volume de páginas dos autos e com o intuito de facilitar a apreciação da questão por
V. Exas., informa o agravante que instruiu esta petição de agravo de instrumento com as
seguintes cópias: (i) decisão de decretação de falência (Doc. 01); (ii) manifestação do
Administrador Judicial (Doc. 02); (iii) decisão de id. 3.830 (Doc. 03); (iv) petição de
embargos de declaração apresentada pelo ERJ (Doc. 04); (v) da decisão agravada que
rejeitou os embargos de declaração (Doc. 05). O agravante declara a autenticidade dessas
peças, nos termos do art. 425, IV, do CPC.

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O agravante pede e espera, após o devido processamento e cumprimento das
formalidades legais, que o recurso seja conhecido e provido.

Nesses termos,

espera deferimento.

Rio de Janeiro, 11 de novembro de 2022.

Roberta Barcia

Procuradora do Estado

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RAZÕES DO AGRAVANTE

Egrégio Tribunal,

Colenda Câmara,

Douta Procuradoria de Justiça,

Tempestividade

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A decisão ora impugnada foi proferida em 18/10/2022, sendo certo que não consta
informação de publicação no Diário de Justiça Eletrônico bem como intimação da Fazenda
Estadual, não se tendo, pois, iniciado o prazo para a interposição do presente recurso.

É de se observar que o artigo 218, §4º do Código de Processo Civil expressamente


dispõe ser tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo.

Sendo assim, forçoso concluir pela tempestividade do Agravo de Instrumento


interposto nesta data.

Breve Resumo dos Fatos

Em breve síntese, trata-se de processo falimentar da sociedade EMPRESA DE


VIAÇÃO ALGARVE, inscrita no CNPJ sob o nº 01.435.418/0001-94, tendo a falência sido
decretada em 05/11/2018, na sentença de fls. 222/225.

Na petição de fls. 2.231/2.232, o Estado do Rio de Janeiro informou os créditos


públicos havidos em face da massa falida.

No despacho de id. 3.798, o juízo determinou a intimação da falida para se


manifestar sobre o alegado pela Fazenda Estadual.

Por sua vez, o Administrador Judicial, às fls. 3.808/3.810, manifestou-se indicando


que peticionou em fls. 960, ante ao notório estado de sucata inservível dos automóveis, a fim
de que fosse informada a relação de veículos em nome da massa falida, bem como,
procedesse a baixa das referidas sucatas, que se encontravam em situação irrecuperável.
Argumentou, ainda, que em fls. 2.068, solicitou, em razão da existência de possíveis débitos
fiscais extraconcursais fosse expedido ofício ao DETRAN para baixa dos veículos, bem como

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à SEFAZ do Rio de Janeiro, para que tomassem ciência da necessidade de baixa dos veículos
e débitos posteriores a decretação de quebra desta massa, em razão dos diversos incêndios
e depredações que os bens sofreram desde a atuação do feito, sendo possível sua apreciação
conforme laudos periciais acostados à este processo falimentar. Todavia, em que pese os
requerimentos tenham sido deferidos por este Douto Juízo, até a presente data não foram
expedidos os ofícios requeridos, se encontrando pendente de digitação e encaminhamento
aos órgãos competentes para que procedam as medidas cabíveis, para fins de afastar
eventuais cobranças indevidas de valores oriundos dos bens sucateados.

Assim, requereu que fosse expedido ofício à Secretaria de Estado e Fazenda do Rio
de Janeiro – SEFAZ/RJ, para que dê baixa nos débitos dos veículos (IPVA, multas, taxa de

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licenciamento, entre outros), constituídos em datas posteriores a quebra da EMPRESA DE
VIAÇÃO ALGARVE, momento em que este juízo constatou, através do laudo do oficial de
justiça colacionado em fls. 350, que os bens se encontravam em estado de deterioração
avançada, assim como ao DETRAN/RJ, para que este informe a relação completa de todos os
RENAVAMS de veículos atualmente registrados em nome da MASSA FALIDA DE VIAÇÃO
ALGARVE, CNPJ nº 01.435.418/0001-94 e proceda a baixa dos veículos que já foram
arrecadados a este feito, conforme relação anexa à presente, ante ao notório e indubitável
estado de sucata inservível destes, como pode se depreender do decorrer do presente feito,
além dos mesmos já terem sido vendidos em forma de sucata.

Na decisão de id. 3.830, o juízo acolheu o pedido do Administrador Judicial,


determinando fosse oficiado como requerido.

Contra tal decisão, o Estado do Rio de Janeiro opôs embargos de declaração para
que fosse sanada a obscuridade apontada.

Ocorre que na decisão de id. 3.877, o d. juízo rejeitou os embargos, in verbis:

Fls. 3841/3844: conheço dos embargos, uma vez que tempestivos. Entretanto, considerando que,
como muito bem esclareceram não apenas a falida (fls. 3859/3861) como o Administrador Judicial
(fls. 3868/3873), não se trata aqui de discussão de matéria de Dívida Ativa judicial aos autos do
processo falimentar, pois, na verdade e ao contrário do percebido pela embargante, a controvérsia
trata meramente da situação fática dos bens arrecadados, pois esta competência é do juízo
falimentar, razão pela qual deixo de dar provimento aos mesmos.

É contra tal decisão que se interpõe o presente Agravo de Instrumento, considerando,


com a devida vênia, que os fundamentos adotados pelo MM. Juízo a quo não merecem
prosperar, conforme razões a seguir expostas.

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PRELIMINARMENTE

Do Cabimento do Presente Recurso

O novel Código de Processo Civil enumera, taxativamente, as hipóteses que ensejam a


interposição da presente espécie recursal, em seu artigo 1.015

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:

Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões

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interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de
sentença, no processo de execução e no processo de inventário.

O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento firme no sentido de que todas as


decisões proferidas no bojo de processos falimentares são passíveis da interposição de
Agravo de Instrumento, na medida em que a falência possui natureza jurídica de execução
concursal, amoldando-se, portanto, ao parágrafo único do artigo 1.015 do CPC.

Nesse sentido, foi firmada, inclusive, tese, no Tema 1022 do STJ, de que “É cabível
agravo de instrumento contra todas as decisões interlocutórias proferidas nos processos de
recuperação judicial e nos processos de falência, por força do art. 1.015, parágrafo único,
CPC”.

Logo, sendo a r. decisão agravada uma interlocutória proferida nos autos de processo
falimentar, é manifesto o cabimento deste agravo de instrumento.

NO MÉRITO

INADEQUAÇÃO DA VIA PARA DISCUTIR OS DÉBITOS

A decisão recorrida deferiu a expedição de ofício à Secretaria de Fazenda do Estado


do Rio de Janeiro para que dê baixa nos débitos dos veículos (IPVA, multas, taxas de
licenciamento, entre outros), em virtude da alegada deterioração dos mesmos.

Ocorre que eventual discussão acerca da natureza do crédito público e de sua


exigibilidade não pode ser feita nos autos do processo falimentar. Isso porque o
crédito regularmente inscrito em dívida ativa goza de presunção de certeza e de liquidez,

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conforme disposto no artigo 204 do CTN e no artigo 3º da Lei nº 6.830/1980, somente


podendo ser debatido no bojo do procedimento adequado para tanto, qual seja, a execução
fiscal, nos moldes do que estabelece a Lei nº 6.830/1980.

Registre-se, por oportuno, que a decretação da falência não impõe a extinção das
execuções fiscais em curso, tendo em vista serem estas instrumento legal por excelência
de cobrança de créditos públicos e a via adequada para impugnação dos créditos,
sendo certo que as constrições patrimoniais restam inviabilizadas apenas para não macular
o concurso de credores estabelecido no processo falimentar. Neste sentido, vem decidindo o
Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

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PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. OFENSA AOS ARTS. 489 E 1.022 NÃO
CONFIGURADA. FALÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL ANTERIORMENTE AJUIZADA.
HABILITAÇÃO DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO. INTERESSE DE AGIR. INTELIGÊNCIA
DOS ARTS. 187 DO CTN E 29 DA LEI Nº 6.830/1980. NÃO ENQUADRAMENTO NA
HIPÓTESE DO ART. 267, VI, DO CPC/1973. [...] 2. O Tribunal Regional entendeu que,
possuindo a União a prerrogativa de escolher entre receber seu crédito por meio da
execução fiscal ou pela habilitação de crédito, ao optar pela adoção de um
procedimento, consequentemente renunciará ao outro. 3. A prejudicialidade do
processo falimentar para a satisfação do crédito tributário não implica a ausência de
interesse processual no pedido de habilitação do crédito tributário ou na penhora no
rosto dos autos. 4. A necessidade de aguardar o término da ação de falência
para eventual satisfação do seu crédito não retira da credora/exequente a
faculdade de optar por ambas as vias de cobrança: habilitação no processo
falimentar e ajuizamento da execução fiscal. 5. A tentativa de resguardar o
interesse público subjacente à cobrança de tal espécie de crédito, através do
ajuizamento da execução fiscal e de habilitação no processo falimentar, não encontra
óbice na legislação aplicável. Inteligência dos arts. 187 do CTN e 29 da Lei nº
6.830/1980. [...] (STJ; REsp 1.866.843; Proc. 2020/0062214-5; SP; Segunda Turma;
Rel. Min. Herman Benjamin; Julg. 22/09/2020; DJE 05/10/2020)

Em verdade, a cognição do juízo falimentar é limitada às questões inerentes à


decretação da quebra e à organização do concurso de credores, não sendo lícito determinar
o cancelamento de créditos públicos inscritos em dívida ativa, haja vista que tal
determinação viola o princípio do contraditório considerando que a Fazenda Estadual (na
condição de prejudicada) não teve a oportunidade de oferecer resistência à pretensão da

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falida.

A esta altura, resta evidenciado que o processo falimentar não é a via adequada para
se discutir o débito da falida, devendo a massa diligenciar diretamente junto à Vara de
Fazenda Pública ou à SEFAZ para eventuais questionamentos quanto aos débitos.

Dessa maneira, o Estado do Rio de Janeiro requer seja a decisão recorrida


reformada para cassar a determinação judicial de cancelamento de débitos em
virtude da alegada deterioração dos veículos.

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DA INDEVIDA DETERMINAÇÃO DE CANCELAMENTO DOS DÉBITOS

É fundamental registrar que a decisão recorrida manteve a determinação de


cancelamento de débitos constituídos após a decretação de falência, relativos aos veículos
em virtude da alegada situação de absoluta deterioração. De fato, não se admite a
formulação de questionamentos acerca desses débitos no processo falimentar, conforme
razões acima aduzidas, contudo, caso tais razões sejam afastadas, o que se admite ad
argumentandum tantum, a determinação de cancelamento dos débitos revela-se
indevida em virtude da natureza dos créditos extraconcursais havidos em face da
falida.

Com efeito, não desconhece esta signatária que o Oficial de Justiça, ao lacrar a
empresa em cumprimento de mandado judicial certificou, em 11/12/2018 (Doc. 06), que os
veículos de titularidade da falida encontravam-se em estado de sucata, ipsis litteris:

“Encontramos no local cerca de 410 ônibus totalmente depredados, todos eles


tiveram seus painéis e tacógrafos retirados seguindo um padrão
sistemático, além de pneus, caixas de marcha, motores, vidros, baterias,
todo tipo de peças, de forma que todos os veículos encontrados não
estão em condições de rodar, aparentemente os mesmos foram
reduzidos à condição de sucata. O imóvel se encontra sem água e sem
energia elétrica. O sistema elétrico está inutilizado, todos os fios de cobre da
rede, bem como o próprio transformador e o gerador à diesel da central
elétrica da empresa foram saqueados.”

Ora, a decisão recorrida acolheu requerimento formulado pelo Administrador

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Judicial para determinar o cancelamento dos créditos constituídos após a decretação de


falência, em virtude do alegado estado de deterioração dos veículos, que não poderia
ensejar a cobrança de quaisquer valores.

Ocorre que as CDAs extraconcursais (Doc. 07) referem-se, em sua totalidade,


a multas aplicadas pelo DETRO, sendo certo que os autos de infração foram
lavrados no período de 03/11/2016 a 25/07/2017, é dizer, em momentos anteriores à
constatação do estado de sucata pelo OJA (certidão datada de 11/12/2018). Dessa
maneira, é possível inferir que os veículos circulavam em situação precária, quando
foram flagrados por agentes do DETRO e lavrados os autos de infração.

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Deste modo, o estado de sucata dos veículos constatado em 11/12/2018 não
impõe o cancelamento dos créditos extraconcursais, eis que relativos a multas de
trânsito aplicadas pelo DETRO nos anos de 2016 e 2017, razão pela qual a reforma
da decisão recorrida é medida que se impõe.

CONCLUSÃO

Por todo o exposto, o Agravante requer:

1. A intimação do agravado para, querendo, apresentar contrarrazões;


2. O provimento em definitivo do presente recurso, a fim de que seja reformada a r.
decisão agravada, cassando-se a determinação do juízo a quo de cancelamento dos
débitos relativos aos veículos da massa falida constituídos após a decretação de
falência.

Nesses termos,

Espera deferimento.

Rio de Janeiro, 11 de novembro de 2022.

Roberta Barcia

Procuradora do Estado

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Assinado por ROBERTA DE OLIVEIRA BARCIA


Date: 11/11/22 9:49:27 AM -03:00
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