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CASOS PRÁTICOS DE DIREITO DA FAMÍLIA

1) Amália e Bernardo, respetivamente, de 15 e 20 anos, casam civilmente em janeiro


de 2017. Com efeito, um erro não identificado quanto à data do nascimento de
Amália, noutro continente, assim o permitiu. Em fevereiro de 2020, Amália,
acompanhada de três primas, dirige-se a uma conservatória do registo civil com o
objetivo de validar o seu casamento. Dois meses mais tarde, Carlota, tia de
Bernardo, intenta uma ação judicial para anular o casamento civil de Amália e
Bernardo.
Quid juris?

RESPOSTA: De acordo com o Artigo 1600º do Código Civil, “Têm capacidade para
contrair casamento todos aqueles em quem se não verifique algum dos impedimentos
matrimoniais previstos na lei.” Neste caso, estamos perante um impedimento dirimente
absoluto, previsto no artigo 1601, dada a falta de idade núbil da nubente Amália (que só
tem 15 anos). Esta situação não pode ser autorizada pelos pais, somente quando maiores
de 16 anos (art.º 1612). Desta forma, o casamento em questão é anulável, à luz do artigo
1631 alínea a). No entanto, partindo do princípio de que em fevereiro de 2020, Amália
já era maior de idade, esta pode validar o casamento e sanar a anulabilidade do mesmo,
como disposto no artigo 1633º, alínea a), sendo que os dois requisitos são já ser maior
de idade, e ir ao notário com, no mínimo, 2 testemunhas. Sendo que Amália cumpre os
requisitos, o casamento passa a ser válido e não mais anulável. Assim sendo, mesmo
que Carlota, sendo tia e, portanto, parente colateral em 3º grau de Bernardo, tenha
legitimidade para pedir a anulação do casamento (artigo 1639º nº1), não o poderia fazer
porque a) este foi confirmado, e b) não o poderia fazer de toda a forma já que, de acordo
com o artigo 1643 alínea a) só o poderia fazer até Amália atingir a maioridade.

2) Imagine que Afonso e Benedita casam em 2016. Um ano mais tarde, é


diagnosticada a Afonso uma perturbação mental grave e incurável. Benedita
intenta uma ação de divórcio com esse fundamento e o divórcio é decretado em
2018.
O acompanhamento de Afonso é deferido a seu pai, Cristóvão.
Em 2020, Benedita e Cristóvão decidem contrair casamento civil.
Quid juris?

RESPOSTA: De acordo com o artigo 1781 alínea b), atendendo à alteração das
faculdades mentais de Afonso, Benedita tem fundamentos para iniciar o processo de
divórcio litigioso e pelo artigo 1783 nº 1 2ª parte verificamos que ela tem legitimidade
para tal. Através do artigo 1788º concluímos que “O divórcio dissolve o casamento e
tem juridicamente os mesmos efeitos da dissolução por morte, salvas as exceções
consagradas na lei.”
Recuando um pouco, através do 1584º, verificamos que Benedita e Cristóvão têm uma
relação de afinidade, em 1º grau, como definido pelos artigos 1580º e 1585º. Desta
forma, a princípio, e atendendo ao disposto nos artigos 1600º e 1602º alínea d), o
casamento de Benedita e Cristóvão seria anulável por um impedimento dirimente
relativo. No entanto, o artigo 1585º especifica que os laços de afinidade não cessam
com a morte, no entanto eles cessam sim com o divórcio, sendo uma das exceções do
artigo 1788º. Em conclusão, à data do casamento de Benedita e Cristóvão, como
Benedita e Afonso estavam já divorciados, não existe esse impedimento dirimente
relativo e então o casamento é válido.

3) Antoninho e Benedita há muito pensavam casar e até deram início ao processo


preliminar de casamento. Entretanto, o processo ainda não terminou completamente
e a Benedita diz ao Antoninho que está prestes a ter uma criança.
São ambos pessoas que professam uma crença que diz que ter um filho nascido fora
do casamento é imoral e pecaminoso. Assim, decidem contrair um casamento
urgente, e assim anunciam à porta de casa que o casamento vai ser contraído e
casam, nos termos da lei, acompanhados das testemunhas necessárias.
Posteriormente, resolvem homologar este casamento porque sabem que, de outra,
será considerado inexistente.
Antoninho e Benedita eram tio e sobrinha.
Isso vai ter alguma consequência no casamento celebrado?
RESPOSTA:
 1590º
 1604º
 1622º
 1610º
 1623º
 1650º/2
 Se caso urgentemente vou sempre ficar casada no regime de separação de bens.

4) A e B, irmãos sem o saberem, decidem casar. Porém, ainda antes da celebração do


casamento, B vem a saber que é irmão de A.
a) Este casamento é válido?
b) Judite, parente no 5º grau da linha colateral, pretende invalidar o casamento.
Tem legitimidade para tal?
c) A mãe destes cônjuges sempre pretendeu a invalidação do casamento mas
não tinha coragem para ser ela própria a agir, por isso solicitou a intervenção
do Ministério Público. Entretanto, A e B morrem num acidente. A mãe
morre três meses depois e pretende saber-se se o Ministério Público ainda
pode intentar a ação.
RESPOSTA:
 Impedimento dirimente relativo, art.º 1602/a, logo casamento é inválido
(anulável) + 1631º/a.
 1639/1 – Não tem legitimidade.
 1643/2 o MP não pode, pois o casamento já está dissolvido. Desta forma,
pelo art.º 1643/1/c, a mãe sim teria legitimidade para intentar uma ação
de anulabilidade, no entanto como morreu não se pode anular.

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