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Direito da Família Perguntas de Orais

FILIAÇÃO
1. Como se chama o filho de um só dos progenitores? E de ambos?
O parentesco é uma relação de consanguinidade, ou de laços de sangue, entre duas
pessoas. Dois irmãos são, à partida, parentes no 2º grau da linha colateral. Quando duas
pessoas são parentes quer na linha paterna, quer na linha materna, fala-se de duplo parentesco
ou parentesco bilateral. Se são irmãos, diz-se que são irmãos germanos ou bilaterais (artigo
2146º do C.C.).
O parentesco é unilateral se se verifica por via de uma das linhas, seja a paterna ou a
materna. Fala-se em irmãos consaguíneos, quando o progenitor comum for do sexo
masculinho; diz-se que são irmãos uterinos, se o progenitor comum for a mãe.

2. Qual a relevância jurídica dos irmãos unilaterais?


Ao abrigo do disposto no artigo 2146º do C.C., os irmãos unilaterais (que são parentes
no 2º grau da linha colateral, porque descendem de um progenitor comum; mas são
unilaterais, uma vez que só têm em comum ou o pai ou a mãe) têm a mesma relevância
jurídica que os irmãos bilaterais.

3. Uma mulher solteira tem um filho e declara que é a mãe. Não sabe quem é o pai.
O registo fica omisso quanto à paternidade. O que se faz?
Desconhecendo-se quem é o pai, deve intentar-se a averiguação oficiosa da
paternidade, que consiste numa atividade imposta por lei com o objetivo de estabelecer a
paternidade por um dos modos possíveis. Deve ser feita ao abrigo do artigo 1864º do C.C..
E se a mãe era casada, e disser que não sabe quem é o pai? Afasta-se a presunção
de paternidade?
Quando a mãe é casada, existe um modo de estabelecer a paternidade dentro do
casamento, que é a presunção de paternidade, segundo o artigo 1826º do C.C.. Contudo, se a
mãe constatar que não sabe quem é o pai, declarando que o filho não é o marido, nos termos
do artigo 1832º/ 1 do C.C., a presunção é afastada. A partir daí, é imediatamente admissível a
perfilhação.

4. Porque é que a mãe não pode declarar a maternidade quando a perfilhação


esteja estabelecida, mas a maternidade não esteja constituída?
Como estatui o artigo 1806º/ 1 do C.C., se existir perfilhação por pessoa que não seja
o marido, a mãe não tem a possibilidade de fazer a declaração da maternidade.
É assim, porque, se o fizesse, existiria um conflito entre a paternidade estabelecida
por perfilhação e a paternidade presumida. Neste sentido, a paternidade teria de ser
impugnada, nos termos do artigo 1859º do C.C..
Como faz a mãe para estabelecer a maternidade, quando já se encontre feita a
perfilhação?
A mãe pode pedir ao tribunal, como revela o artigo 1824º do C.C., que se intente uma
ação de reconhecimento judicial.

Ana Maria Varela 1


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5. O que é a posse de estado?


A posse de estado é uma circunstância que decorre do artigo 1816º/ 2, a) do C.C.,
inserindo-se no âmbito do reconhecimento judicial como modo de estabelecer a maternidade;
ou do artigo 1871º/ 1, a) do C.C., em relação à filiação paterna.
Acontece quando o autor da ação da investigação beneficia de uma presunção de
maternidade/ de paternidade, que se refere ao facto de o filho haver sido reputado ou tratado
como tal pela pretensa mãe ou pelo pretenso pai, assim como reputado também como filho
pelo público.

6. A e B são casados em regime de separação de bens. Têm dois filhos (C e D). Por
sua vez, C tem dois filhos (E e F) e D outros tantos (G e H). Qual o grau de
parentesco entre A e os filhos dos seus filhos?
A e os filhos dos seus filhos (C, D, E e F) são parentes no 2º grau da linha reta - avós
e netos, à luz dos artigos 1579º, 1580º e 1581º do C.C..

7. D é filho de C e A. A está casado com B. Qual a relação entre B e D?


A afinidade é uma relação jurídica familiar (e não uma fonte de relação jurídica
familiar). É, segundo o artigo 1584º do C.C., o vínculo que se estabelece entre um dos
cônjuges (neste caso, B) e os parentes do outro (neste caso, com os parentes de A; em
concreto, com D). Esta depende da celebração de um casamento (casamento entre A e B).
B é padrasto ou madrasta de D, que é, por sua vez, seu enteado/ sua enteada. Como
tal, são afins no 1º grau da linha reta.

8. Qual a relação de família entre tio-avô e sobrinho-neto? E entre primos direitos?


E entre tio e sobrinho?
Estabelece-se uma relação familiar de parentesco entre tios-avós e sobrinhos-netos,
assim como entre primos direitos, e entre tios e sobrinhos. O parentesco é, como consta do
artigo 1578º do C.C., o vínculo que liga duas pessoas por laços de sangue, em virtude de uma
descender da outra, ou de ambas procederem de um progenitor comum. A fonte da relação
jurídica familiar do parentesco é a procriação.
A determinação do parentesco (dos graus e das linhas) faz-se nos termos dos artigos
seguintes, nomeadamente dos artigos 1579º, 1580º e 1581º do C.C..
Tios-avós e sobrinhos-netos são parentes no 4º grau da linha colateral. Primos direitos
são parentes no 4º grau da linha colateral. Tios e sobrinhos são parentes no 3º grau da linha
colateral.

9. A e B casam, mas há um impedimento dirimente relativo que é o facto de serem


irmãos. Ambos casam. Após anulação do casamento, mantém-se a presunção de
paternidade?
Os impedimentos dirimentes relativos são os que obstam à realização de um
matrimónio com determinada pessoa. Neste caso, é um obstáculo à celebração do casamento
ser com uma pessoa que se constitua como parente no 2º grau da linha colateral (irmão ou

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irmã). Nos termos do artigo 1602º/ c) do C.C., assim como do artigo 1631º/ a) do C.C., este
casamento é anulável.
Está-se num caso de um matrimónio considerado anulado, que continua, porém, a
produzir efeitos. Neste sentido aplica-se o regime do casamento putativo, previsto no artigo
1827º do C.C., porquanto que o casamento foi contraído de má fé (número 1 do preceito).
Desde que o casamento tenha sido registado, pode inserir-se no âmbito deste artigo, e a
presunção de paternidade não se afasta.

10. É possível uma perfilhação de um nascituro?


Sim. A perfilhação pode ser feita a todo o tempo, antes ou depois do nascimento do
filho, como consta do artigo 1854º do C.C.. Esta perfilhação tem, no entanto, como dispõe o
artigo 1855º do C.C., posterior à conceção do filho, sob pena de ser nula.

11. Se não houvesse perfilhação, porque o pai morreu, como se estabelecia a


paternidade?
A paternidade teria de ser estabelecida através de uma ação de reconhecimento
judicial.

12. Quais os modos de estabelecimento da paternidade?


A filiação é uma relação de parentesco que se define juridicamente como aquela que
se estabelece entre as pessoas que procriam e as pessoas que foram geradas. Quanto à
paternidade, ou seja, em relação à filiação paterna, existem três modos de a constituir: a
presunção de paternidade, o reconhecimento judicial e a perfilhação.
A presunção de paternidade (ou presunção ​pater is est)​ é regulada pelos artigos 1826º
e seguintes do C.C.. Esta abrange os casos de conceção e nascimento do filho em constância
de matrimónio: seja durante o casamento, seja a conceção antes do casamento em que o
nascimento tenha sucedido durante o mesmo, seja a conceção de filho durante o matrimónio
em que o filho tenha nascido em momento posterior. Nos termos do artigo 1827º do C.C., a
presunção de paternidade também abrange os casos de casamentos anulados ou declarados
nulos, desde que tenham sido registados. A paternidade presumida tem de constar
obrigatoriamente do registo do nascimento. E, se o registo do casamento dos pais só vier a ser
efetuado após o registo do nascimento, e deste não constar a paternidade do marido da mãe, a
paternidade será mencionada oficiosamente, como dispõe o artigo 1835º do C.C.. Há certos
casos em que a presunção de que o marido da mãe é o pai da criança é afastada: nas situações
do artigo 1828º (em que o filho foi concebido antes do casamento, mas nasceu nos 180 dias
posteriores à celebração do casamento, e a mãe ou o marido dela declaram no assento do
nascimento que o segundo não é o pai da criança); nas hipóteses do artigo 1829º - número 1
(se o filho nascer após 300 dias desde que a coabitação entre os cônjuges cessou) e número 2
(que enumera as situações, embora não seja um elenco taxativo, em que a coabitação dos
cônjuges se considera finda) -; e nos casos do artigo 1832º (em que a mãe pode afastar a
presunção de paternidade, declarando que o seu marido não é o pai do seu filho). Havendo
um novo casamento da mãe dentro dos 300 dias após a dissolução do primeiro casamento,

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surge um conflito de presunções de paternidade, que é resolvido pelo artigo 1834º/ 1 do C.C.,
prevalecendo a presunção de que o pai da criança é o segundo marido da mãe.
A perfilhação é um modo de estabelecer a paternidade fora do casamento, e
constitui-se como o ato pelo qual uma pessoa do sexo masculinho declara relevantemente que
um ser vivo da espécie humana é seu filho. Este é um ato pessoal (porque deve ser feito pelo
próprio pai ou por intermédio de procurador com poderes especiais, como consta do artigo
1849º do C.C.), livre (pois não deve estar viciado por coação moral, nos termos do artigo
1860º/ 1 do C.C.; ainda que não seja um ato facultativo, uma vez que o pai biológico tem o
dever jurídico de perfilhar, sob pena de ter de indemnizar o seu filho), solene (visto que deve
revestir uma das formas indicadas no artigo 1853º do C.C.) e irrevogável (pois que, uma vez
feita, não se pode voltar atrás, como estatui o artigo 1858º do C.C.). Para perfilhar, é
necessário, em primeiro lugar, que o ato corresponda à verdade, à luz do artigo 1859º do
C.C.. Quanto ao perfilhante, deve ter mais de 16 anos, não ser maior acompanhado, nem estar
afetado com alguma perturbação mental notória no momento da declaração, sob pena de ser
anulável, como prevê o artigo 1850º/ 1. Além disso, o seu consentimento deve ser puro e
simples, não estando viciado por coação moral ou por erro (artigo 1860º/ 1 do C.C.). Quanto
ao perfilhando, não é admitida a perfilhação em contrário da paternidade que conste do
registo de nascimento, enquanto esta não seja retificada, declarada nula, ou cancelada (ou
seja, exige-se a ausência de outra paternidade estabelecida, como resulta do artigo 1848º/ 1
do C.C.).
O terceiro modo de estabelecimento da filiação paterna é o reconhecimento judicial,
que surge fora do casamento. Realiza-se através de uma ação autónoma especialmente
intentada para o efeito de investigação de quem é o pai. Em primeira instância, deve estar
estabelecida a maternidade para que a ação possa ser proposta, como dispõe o artigo 1869º do
C.C.. A ação de investigação da paternidade deve ser intentada pelo filho contra o pretenso
pai, como sugere o artigo 1969º do C.C.. Também é conferida legitimidade à mãe menor para
intentar a ação em representação do seu filho, sem que seja necessária a autorização dos seus
pais; porém, tem de estar representada em juízo por um curador especial nomeado pelo
tribunal, tal como define o artigo 1870º do C.C..Neste caso, a paternidade presume-se caso se
verifique uma das situações do artigo 1871º do C.C. [se o filho tiver sido tratado como tal
pelo pretenso pai e reputado como filho pelo público - alínea a) -, ao que se chama posse de
estado de filho; quando exista carta ou escrito em que o pretenso pai declare inequivocamente
a paternidade - alínea b); quando tenha existido comunhão duradoura de vida em condições
análogas às dos cônjuges ou concubinato duradouro entre a mãe e o pretenso pai, durante o
período legal da conceção - alínea c); na hipótese de o pretenso pai ter seduzido a mãe, se
esta era virgem ou menor nesse momento, ou se o consentimento da mesma foi obtido por
meio de promessa de casamento, abuso de confiança ou abuso de autoridade, durante o
período legal da conceção - alínea d); e quando se prove que o pretenso pai teve relações
sexuais com a mãe durante o período legal de conceção - alínea e)]. Esta presunção não
constitui a paternidade, apenas facilita a sentença favorável que a estabelece.

13. A presunção da paternidade funcionava se vivessem em união de facto?

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Não. A presunção de paternidade é um modo de constituir a paternidade em relação


ao marido da mãe. Por conseguinte, só pode existir quando se verifique a constância de um
casamento.
A união de facto não é um casamento.

14. Por que razão existe presunção de paternidade no casamento?


A presunção ​pater is est é um modo de estabelecer a filiação paterna dentro do
casamento, segundo o artigo 1826º do C.C.. A paternidade presume-se na constância de
matrimónio, pois existe um elevado grau de probabilidade de que o filho nascido ou
concebido nesse período tenha como pai o marido da mãe. Relembre-se que o casamento
pressupõe uma comunhão duradoura de vida, em que existe uma partilha de leito, que integra
a existência de relações sexuais entre os cônjuges.

15. A mãe pode afastar a presunção de paternidade do marido?


Sim, a mãe pode afastar a presunção de paternidade do marido, indicando que ele não
é o pai, nos termos do artigo 1832º/ 1 do C.C..

16. Se a mãe não afasta a presunção de paternidade do marido (que não é o pai
biológico), quem pode perfilhar, e como?
A perfilhação - ou reconhecimento voluntário da paternidade -, prevista nos artigos
1849º e seguintes do C.C., é um ato pessoal, livre, solene e irrevogável, pelo qual uma pessoa
do sexo masculinho declara inequivocamente que é pai de um ser vivo humano.
Se a paternidade estabelecida, por presunção (que não foi afastada pela mãe), não
corresponder à verdade, existe a possibilidade de recorrer à impugnação da mesma. Esta é a
única forma, nos termos do artigo 1838º do C.C. de destruir a presunção. A impugnação da
paternidade pode ser feita pelas pessoas enunciadas no artigo 1839º/ 1 do C.C. e nos prazos
enunciados no artigo 1842º do C.C..

17. Quais as formas de estabelecimento da maternidade que conhece?


A filiação, sendo a relação que se constitui entre as pessoas que procriam e as pessoas
que foram geradas, pode estabelecer-se em relação à mãe e em relação ao pai. No caso da
filiação materna, existem dois modos de estabelecimento: a declaração de maternidade e o
reconhecimento judicial.
A declaração de maternidade diz respeito a uma indicação da maternidade no
momento do nascimento da criança, que pode ser efetuada pela mãe (em sentido restrito) ou
por terceiro (em sentido amplo), nos dítames dos artigos 1803º, 1804º e 1805º do C.C.. É,
assim, o modo normal de estabelecimento da maternidade, assentando numa declaração de
ciência (pois é um facto conexo com o nascimento), mas também num princípio de confiança.
Contudo, a declaração de maternidade não é, nem pode ser, um reconhecimento do filho (por
isso é que se diz que a mãe não perfilha). O nascimento é um facto sujeito a registo
obrigatório, como impõe o artigo 97º/ 1 do C.R.C., que deve ser declarado dentro dos 20 dias
imediatos numa conservatória do registo civil ou em unidade de saúde até que a parturiente
receba alta. No caso de o nascimento ter ocorrido há mais de 1 ano, a declaração só pode ser

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prestada por qualquer dos pais, ou pelo próprio interessado se tiver mais de 14 anos (artigo
99º/ 1 do C.R.C.). Então, se o nascimento tiver sucedido há menos de 1 ano, a maternidade
indicada considera-se estabelecida, nos termos do artigo 1804º/ 1 do C.C.. Não se verificando
nenhuma destas situações, a mãe será notificada para, no prazo de 15 dias, declarar se
confirma a maternidade e se tem o filho havido como seu, como prevê o artigo 1805º/ 2 do
C.C.. Se a pretensa mãe negar a maternidade ou não puder ser notificada, a menção da
maternidade fica sem efeito (artigo 1805º/ 3 do C.C.); se confirmar, pelo contrário, que é a
mãe, ou se nada declarar, tendo sido notificada, a filiação materna considera-se estabelecida.
Outro modo de estabelecer a maternidade é o reconhecimento judicial, que ocorre
através de uma ação autónoma de investigação de quem é a mãe da criança. É indispensável a
impugnação prévia da maternidade registada, como refere o artigo 1815º do C.C.. Esta ação
de investigação, caso seja comum ou simples, deve ser intentada pelo filho contra a pretensa
mãe, como consta do artigo 1819º do C.C.. E, se a pretensa mãe tiver falecido, a mesma deve
ser proposta contra o cônjuge sobrevivo não separado de pessoas e bens; sucessivamente,
contra os descendentes, ascendentes ou irmãos. Na falta destas pessoas, a ação é instaurada
contra um curador especialmente nomeado para se opor à pretensão do investigante. Caso a
ação seja especial ou complexa, é porque se destina a reconhecer a maternidade de filho
nascido ou concebido na constância de matrimónio da pretensa mãe, nos termos do artigo
1822º do C.C.. O autor deve provar, aqui, que o filho nasceu da pretensa mãe, e beneficia de
duas presunções de maternidade (artigo 1816º/ 2 do C.C.): a filiação materna presume-se
quando o filho tenha sido tratado como tal pela pretensa mão e reputado como filho também
pelo público - alínea a) -, que é o que se chama de posse de estado; e quando exista carta ou
outro escrito no qual a mãe indique inequivocamente a maternidade - alínea b). Para a
proposição desta ação de investigação, o artigo 1817º regula o prazo da menoridade do
investigante ou os 10 anos posteriores à sua maioridade ou emancipação.

18. Qual o procedimento que deve ter início, se não houver pai para registar a
criança?
Se a identidade do pai da criança não estiver declarada, é necessário averiguar
oficiosamente quem é o mesmo. Isto é, como consta do artigo 1864º do C.C., deve intentar-se
uma ação de averiguação oficiosa da paternidade.
A averiguação oficiosa da paternidade não é um modo de estabelecer a paternidade,
mas constitui-se como uma atividade imposta por lei com o objetivo de o fazer por um dos
dois modos possíveis: ou por perfilhação ou por reconhecimento judicial.
A ação é intentada pelo Ministério Público, se concluir pela viabilidade da mesma.
Se o pretenso pai confirmar a filiação (que é o pai da criança em questão), o processo
termina e a filiação encontra-se estabelecida, aplicando-se o artigo 1865º/ 3 do C.C.. Caso o
pai negue ou se recuse a confirmar a paternidade, o tribunal procede às diligências
necessárias para averiguar a viabilidade ou inviabilidade da ação de investigação da
paternidade, ao abrigo do preceituado no artigo 1865º/ 4 do C.C..

19. O que é preciso para filiar um filho no caso de pessoas não casadas entre si?

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Os modos de estabelecimento da paternidade fora do casamento são a perfilhação e o


reconhecimento judicial.
A perfilhação é feita nos termos do artigos 1849º e seguintes do C.C. e o
reconhecimento judicial corresponde a uma ação especialmente intentada para esse fim, à luz
do artigo 1869º e seguintes do C.C..

20. No caso de o pai biológico recusar perfilhar, quem pode perfilhar?


A perfilhação é uma forma de estabelece a filiação paterna fora do casamento.
Portanto, só pode ser feita por uma pessoa do sexo masculino, com mais de 16 anos (artigo
1850º/ 1 do C.C.), se não for maior acompanhado, nem tiver perturbações mentais notórias no
momento da perfilhação, sob pena de ser anulável.
Neste caso, a perfilhação pode ser feita pelo companheiro da mãe (que não esteja
casado com ela no momento da conceção ou nascimento do filho).

21. A lei permite a perfilhação de um filho já morto?


O artigo 1854º do C.C. permite que a perfilhação seja feita a todo o tempo, antes ou
depois do nascimento do filho, ou mesmo depois da sua morte. Também o artigo 1856º do
C.C. aborda a perfilhação de filho falecido, confirmando que esta produz efeitos em favor dos
seus descendentes. Ou seja, o pai que perfilhar o filho falecido não beneficia de direitos
enquanto sucessível deste.
E se não tiver descendentes (artigo 1856º do Código Civil)? Imagine-se que deixa
cônjuge: não devia este poder beneficiar?

22. Quando A soube que era pai de B, B já tinha 30 anos. A pode perfilhar?
Para que A possa perfilhar B, é necessário o consentimento do segundo. É assim,
porque B tem 30 anos, e é maior de idade. Esta informação está prevista no artigo 1857º/ 1 do
C.C..
E se B não der consentimento? Não viola o direito do pai?

23. Se uma criança não é perfilhada, que processo deve o notário desencadear no
acto de registo?
Se uma criança não é perfilhada, e não se encontra estabelecida a sua paternidade,
deve iniciar-se uma ação de averiguação oficiosa da paternidade, atividade imposta com o
objetivo de estabelecer a paternidade por um dos modos possíveis. Segundo o artigo 1864º do
C.C., inicia-se quando a paternidade é desconhecida.
O pai pode confirmar a paternidade, caso em que a filiação paterna se estabelece por
perfilhação, nos termos do artigo 1865º/ 3 do C.C., terminando o processo. Ou pode negar a
paternidade, procedendo o tribunal às diligências necessárias para averiguar a viabilidade de
uma ação de investigação da paternidade - reconhecimento judicial -, nos dítames do artigo
1865º/ 4 do C.C..

24. Como se faz o reconhecimento judicial da paternidade?

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O reconhecimento judicial da paternidade consiste num modo de estabelecer a filiação


paterna fora do casamento. Decorre através de uma ação de investigação especialmente
intentada para o efeito, como menciona o artigo 1869º do C.C.. Esta ação não pode ser
proposta enquanto a maternidade não se encontrar estabelecida e deve ser intentada pelo filho
contra o pretenso pai. A mãe menor também tem legitimidade para o fazer, segundo o artigo
1870º do C.C., não necessitando da autorização dos pais.
Depois, pode operar uma presunção de paternidade, nos termos do artigo 1871º, que
funciona apenas como uma presunção de prova e não como modo de estabelecer a
paternidade (é diferente da que consta do artigo 1826º do C.C.).

25. Reconhecimento judicial e averiguação oficiosa são a mesma coisa?


Não são a mesma coisa.
Em primeiro lugar, o reconhecimento judicial constitui um modelo de
estabelecimento da filiação, seja materna ou paterna. Por sua vez, a averiguação oficiosa não
é um modo de estabelecer a filiação.
O reconhecimento judicial, no caso da maternidade, ocorre através de uma ação
autónoma de investigação da maternidade ou de declaração da maternidade. No caso da
filiação paterna, é um modo de estabelecer a paternidade fora do casamento, que se realiza
através de uma ação autónoma de investigação.
A averiguação oficiosa da maternidade é uma atividade imposta por lei com o
objetivo de conduzir ao estabelecimento da filiação por um dos dois modos possíveis: ou por
declaração ou por reconhecimento judicial. Na situação da paternidade, acontece o mesmo,
mas com o objetivo de conduzir ao estabelecimento da filiação por perfilhação ou por
reconhecimento judicial.

26. Em que consistem as responsabilidades parentais?


As responsabilidades parentais surgem como um meio de suprimento da incapacidade
de exercício dos menores não emancipados. Como a criança carece de capacidade genérica de
exercício (artigo 123º do C.C.), não pode praticar pessoalmente atos e negócios jurídicos. Por
isso, tem de ser representada pelos seus pais no exercício dos seus direitos e no cumprimento
das suas obrigações. Os seus pais são, em princípio, os titulares das responsabilidades
parentais, como atestam os artigos 124º, 1878º e 1881º do C.C..
Este conjunto de situações jurídicas emerge, normalmente, do vínculo de filiação e
incumbe aos pais, que devem ter em vista a proteção e promoção do desenvolvimento
integral do filho menor não emancipado, como expressam os artigos 1877º e 1878º do C.C..
É obrigatório o registo das decisões em matéria de exercício das responsabilidades
parentais, tal como estipulam os artigos 1920º-B do C.C. e 1º/ 1, f), h) do C.R.C.. Esse registo
é feito por averbamento no momento de nascimento do filho, como dita o artigo 69º/ 1, e), f)
do C.R.C..
Compete aos pais o poder de guarda e educação, o dever de prover ao sustento, o
poder de representação e o poder de adminsitração dos filhos do menor - artigo 1878º/ 1 do
C.C.. Por sua vez, estão so filhos vinculados ao dever de obediência perante os pais, como
resulta do artigo 1878º/ 2 do C.C..

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27. A filiação não registada produz efeitos?


Em princípio, a filiação não produz efeitos enquanto não tiver sido legalmente
constituída e registada. A filiação só pode ser invocada depois de registada, como se retira do
artigo 1º/ 1, b) e c) e do artigo 2º do C.R.C..

28. A e B são casados. Depois separam-se de facto. Entretanto, B vai viver com
Xavier. B agora está grávida e não dissolveu casamento com A. Quem vai ser
considerado pai? O que é que B podia fazer? Base legal?
A separação de facto entre A e B significa que ambos deixaram de habitar juntos e
que não pretendem restabelecer a coabitação. Contudo, o casamento entre A e B não foi
dissolvido, o que significa que, para todos os efeitos, A é marido de B e, portanto, funciona,
em relação a si, a presunção de paternidade descrita no artigo 1826º/ 1 do C.C.. É pai da
criança o marido da mãe.
Contudo, como a paternidade de A em relação ao filho de B pode não corresponder,
certamente, à verdade, B poderia declarar que o marido não é o pai da criança, nos dítames do
artigo 1832º/ 1 do C.C.. Esta indicação faz cessar a presunção de paternidade em relação a A,
segundo o artigo 1832º/ 2 do C.C..
Assim, é imediatamente admissível a perfilhação por parte de Xavier, e nos termos do
artigo 1849º e seguintes do C.C..

29. A averiguação oficiosa é uma forma de estabelecimento da paternidade?


A averiguação oficiosa (artigo 1864º do C.C.) não constitui um modo de
estabelecimento da paternidade (nem da maternidade). É apenas uma atividade imposta por
lei com o objetivo de conduzir a esse estabelecimento, por um dos dois modos possíveis -
seja a perfilhação, seja o reconhecimento judicial, no caso da filiação paterna.

30. Quais os direitos e deveres das responsabilidades parentais?


O conteúdo das responsabilidades parentais incorpora direitos e deveres, tanto
provenientes dos pais, como dos filhos.
No que compete aos pais que tenham a titularidade das responsabilidades parentais
em relação ao filho, estes têm o poder-dever de guarda, o poder-dever de dirigir a educação, o
dever de prover ao sustento, o poder-dever de representação e o poder-dever de administração
dos bens.
O poder-dever de guarda relaciona-se com o zelo pela saúde dos filhos, implicando
que eles vivam com os seus pais no mesmo lar, e que estejam na sua companhia. Os filhos
menores não podem ser separados dos pais, salvo em casos de não cumprimento dos deveres.
Não podem abandonar, por conseguinte, a casa dos pais, nem dela ser retirados, como sugere
o artigo 1877º/ 1 do C.C.. Se isso acontecer, podem os pais ‘’reclamar’’ o filho, recorrendo a
tribunal ou a autoridade competente, como estatuem os artigos 1887º/ 2 do C.C. e 49º a 51º
do RGPTC. O poder-dever de guarda abarca a vigilância das ações do filho e a regulação das
relações deste com outrem. Também confere aos pais a faculdade de decidir no que respeita
aos cuidados de saúde, como intervenções e tratamentos médicos.

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O poder-dever de dirigir a educação reporta ao artigo 36º/ 5 C.R.P., que indica que os
pais têm o direito e o dever de educar os seus filhos. Este poder-dever prepara o filho para
uma vida enquanto ser autónomo. De acordo com o artigo 1885º do C.C., há duas
incumbências no âmbito do poder-dever de dirigir a educação: o número 1 indica que se deve
promover o desenvolvimento físico, intelectual e moral dos filhos, na medida das
possibilidades; e o número 2 traduz a necessidade de proporcionar aos filhos uma instrução
geral e profissional adequada. No que toca à educação religiosa dos filhos, os pais menores
de 16 anos podem decidir sobre a matéria (artigo 1886º do C.C.).
O dever de prover ao sustento corresponde ao dever de manutenção dos filhos,
estando os pais obrigados a proporcionar aos seus filhos um nível de vida idêntico ao próprio.
Ficam apenas desobrigados de prover ao sustento dos filhos, na medida em que estes estejam
em condições de suportar os encargos autonomamente, como dispõe o artigo 1879º do C.C..
O poder-dever de representação incumbe aos pais dos filhos menores, ainda que
nascituros, como afirma o artigo 1878º/ 1 do C.C.. Compreende o exercício de todos os
direitos e o cumprimento de todas as obrigações. Ficam excetuados os atos puramente
pessoais, aqueles que o menor tem o direito de praticar pessoal e livremente e os atos
respeitantes a bens cuja administração não pertença aos pais.
O poder-dever de administração dos bens aponta para a administração dos bens dos
filhos menores a ser feita pelos seus pais, com exceção dos que são mencionados no artigo
1888º/ 1 do C.C.. Contudo, nem sempre estes atos podem ser praticados sozinhos pelos pais.
O poder de administração dos bens do menor cessa com a emancipação; por isso, os bens
levados pelo filho para o casal ou que posteriormente lhe advenham a título gratuito até à
maioridade continuam a ser administrados pelos pais até que o filho complete 18 anos, assim
como indica o artigo 1649º do C.C.. Os atos indevidamente praticados pelos pais sem
autorização do Ministério Público são anuláveis, à luz do artigo 1893º do C.C., podendo ser
confirmados, mais tarde (artigo 1894º do C.C.). Por fim, exige-se que a administração dos
bens por parte dos bens dos bens dos filhos seja cuidada, como impõe o artigo 1897º do C.C..
Os bens devem ser entregues ao filho, assim que ele atinja a maioridade ou seja emancipado,
nos termos do artigo 1900º/ 1 do C.C..
Por seu lado, os filhos têm o dever de obediência para com os seus pais.

31. O que são, no âmbito do artigo 1906º/ 3 do C.C., ‘’orientações relativas mais
relevantes’’? É a mesma coisa que ‘’questões de particular importância’’?
As ‘’orientações educativas mais relevantes’’ referem-se à vida corrente.
As ‘’questões de particular importância’’ são as que devem ser decididas em conjunto
pelos cônjuges, por terem um grau superior de relevância.

32. Uma pessoa com 19 anos pode continuar a beneficiar de alimentos dos pais,
relativamente ao regime que vigorava antes? É um prolongamento do exercício
das responsabilidades parentais?
Segundo os artigos 1905º/ 2 e 1880º do C.C., uma pessoa com 19 anos pode continuar
a beneficiar da pensão fixada em seu benefício durante a menoridade. Tal sucede até que o

Ana Maria Varela 10


Direito da Família Perguntas de Orais

filho complete 25 anos de idade, ou até que complete o seu processo de formação
profissional.
O dever de obediência mantém-se?
O dever de obediência vai-se mitigando. De acordo com o artigo 1878º/ 2 do C.C., os
filhos têm o direito à sua autodeterminação, consoante a sua maturidade.

33. F e G estavam casados. Divorciaram-se em janeiro de 2020. F começa a viver


imediatamente com M. Em março, nasce a criança, A. M foi ao registo, declarou
o nascimento, disse que a mãe era F e que ele próprio era o pai da criança.
Pode haver perfilhação? O que era necessário para que M passasse a constar
como pai desta criança?
A filiação materna estabeleceu-se em relação à mãe por declaração, à luz do artigo
1803º/ 1 e 2. A mãe de A é F.
Quanto à paternidade, visto que a criança nasceu apenas dois meses após o divórcio
entre F e o seu primeiro marido, existe uma presunção de paternidade relativamente a G. A
presunção ​pater is est é um modo de estabelecer a paternidade nos casos em que a mãe esteja
casada. Aplica-se aos filhos nascidos ou concebidos na constância do matrimónio, como
consta do artigo 1826º/ 2 do C.C..
Para que houvesse perfilhação, era necessário que F declarasse que G não era o pai de
A ou que houvesse impugnação da paternidade presumida, segundo os artigos 1838º e
seguintes do C.C..

34. Suponha que F casou com M em fevereiro. Pode casar? Há algum impedimento?
Antes, previa-se um prazo internupcial de 180 dias para poder voltar a casar. Desde
2019, é possível casar imediatamente após o divórcio ou viuvez. Agora é possível
divorciar-se em janeiro e casar em fevereiro, de acordo com o prazo internupcial estabelecido
no artigo 1834º/ 1 do C.C..

35. Suponha que F sabe que o pai não é o M. O que pode fazer para afastar a
presunção relativamente a M?
Para afastar a presunção de paternidade relativamente a M, F pode sempre declarar
que o filho não é do marido, nos termos do artigo 1832º/ 1 do C.C.. Cessa, assim, a presunção
de paternidade, como consta do número 2. Por outro lado, renasce a presunção de paternidade
relativamente ao anterior marido da mãe, à luz do artigo 1831º do C.C..

36. Qual é o prazo legal de conceção?


O prazo legal de conceção encontra-se no artigo 1798º do C.C. e corresponde aos
primeiros 120 dias dos 300 que precederam o nascimento da criança.

37. A questão dos alimentos devidos a filhos maiores insere-se na área da filiação?
Segundo os artigos 1905º/ 2 e 1880º do C.C., podem ainda os pais dever alimentos
aos filhos, no caso de ainda não terem terminado a sua formação profissional. A não ser que o
filho maior tenha completado a sua formação profissional, ou que se consiga sustentar

Ana Maria Varela 11


Direito da Família Perguntas de Orais

sozinho (artigos 1880º e 1879º do C.C.), mantém-se a obrigação de prover ao sustento dos
filhos.
Por conseguinte, pode dizer-se que esta questão se insere na área da filiação, e, mais
concretamente, no domínio das responsabilidades parentais.

38. Acha que os pais devem financiar o mestrado de um filho? O que é a ‘’formação
profissional’’ referida no artigo 1880º do Código Civil?
A obrigação mantém-se durante o tempo normalmente requerido para aquela
formação. Se o curso é de 4 anos, não pode persistir a obrigação se o filho fizer o curso em 10
anos.

39. O que é o dever de alimentos? Insere-se nas responsabilidades parentais?


A obrigação de alimentos devidos ao filho insere-se no artigo 1905º do C.C. e é o
dever parental de pagamento das despesas com o sustento, a segurança, a saúde e a educação
dos filhos. Pode enquadrar-se no dever de prover ao sustento do filho, que, por sua vez, faz
parte das responsabilidades parentais.

40. Qual o instrumento mais importante a que Portugal está vinculado em matéria
de crianças?
Desde 1999, Portugal está vinculado à ​Convenção Relativa à Proteção das Crianças e
à Cooperação em matéria de Adoção Internacional​, assinada na Conferência de Haia.

41. Uma adolescente de 16 anos emancipa-se quando é mãe? Quem exerce as


responsabilidades parentais sobre essa criança?
Uma adolecende de 16 anos apenas se emancipa com o casamento.
Quem exerce as responsabilidades parentais sobre a adolescente são os seus pais, pois
tem de ser assim até à sua maioridade ou emancipação, como estabelece o artigo 1877º do
C.C.. Sobre a criança nascida, quem exerce as responsabilidades parentais é a adolescente de
16 anos. Contudo, de acordo com o artigo 1913º/ 2 do C.C., estão parcialmente inibidos das
responsabilidades parentais os menores não emancipados (artigo 1913º/ 2 do C.C.).

42. O que é a inibição de pleno direito? Dê exemplos.


O titular das responsabilidades parentais pode ser juridicamente privado do seu
exercício, ao que se designa inibição.
A inibição de pleno direito aplica-se a pessoas que tenham sido condenadas
definitivamente pelos crimes a que a lei atribua esse efeito, quando o tribunal assim decidir;
aos menores; aos maiores acompanhados; aos ausentes; aos pais, depois de decretada a
medida de promoção e proteção de confiança com vista a futura adoção (artigo 1978º-A do
C.C.).
Pode decidir que a criança terá educação religiosa católica?
À partida, sim. Apenas quanto aos bens do filho não pode.

Ana Maria Varela 12


Direito da Família Perguntas de Orais

43. Imagine que A e B se separam de facto e enquanto a separação não transita em


julgado, nasce um filho. Há presunção de paternidade?
A separação de facto implica a observância de dois pressupostos: a ausência de
coabitação entre os cônjuges, e a falta de vontade em restabelecer a coabitação entre os dois.
Quanto à presunção de paternidade, esta consiste num modo de estabelecimento da
paternidade dentro do casamento, nos termos do artigo 1826º/ 1 do C.C.. Quando duas
pessoas estejam separadas de facto, continua a haver a presunção de paternidade, segundo o
artigo 1830º/ c) do C.C.. Como não houve termo no processo da sentença, não se pressupõe
que haja novo casamento, e, por isso, permanece o anterior.

44. A e B nunca foram casados. Separam-se. Fazem acordo em que se permite que o
pai veja a criança uma vez por semana na casa da mãe. ​Quid iuris?
Este acordo está sujeito à apreciação do Ministério Público.
Em princípio, o acordo não será aceite porque não defende o interesse superior da
criança. O facto de a criança apenas ver o pai uma vez por semana não promove a
proximidade e o contacto que o artigo 1906º/ 8 do C.C. sugere que exista entre pais e filhos.

45. De acordo com a lei, qual é o interesse superior da criança?


O interesse superior da criança corresponde, como resulta do artigo 1906º/ 8 do C.C.,
na manutenção do contacto e da proximidade com os pais.

46. O que pode ser uma ‘’questão de particular importância’’?


Analisando o artigo 1906º/ 1 do C.C., as questões de particular importância devem ser
decididas por ambos os progenitores. Podem respeitar à educação religiosa do filho, a um
tratamento médico, ou à prática de um desporto radical.

47. Em que casos não chega a operar a presunção de paternidade, mesmo em que a
mãe é casada?
A presunção de paternidade cessa nos casos dos artigos 1828º, 1829º e 1832º do C.C.,
mesmo quando a mãe seja casada. Segundo o artigo 1832º/ 1 do C.C., a mãe pode indicar que
o marido não é o pai do seu filho.

PROCRIAÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA


48. É admissível a inseminação ​post mortem​ em Portugal?
O artigo 22º/ 1 da LPMA determina que não é lícito que a mulher seja inseminada
com material biológico depois de ele falecer.

49. E se for violada a proibição ​post mortem​?


Se a proibição de inseminar a mulher depois que o seu marido morra for violada, a
criança que nascer é tida como filha do falecido, como menciona o artigo 23º/ 1 da LPMA.
Logo, a parentalidade pode ser estabelecida após a morte.

Ana Maria Varela 13


Direito da Família Perguntas de Orais

50. A é casada com B. Mas, por alguma razão, A acha que B não tem características
genéticas ideais para ser pai do seu filho. Resolve recorrer à PMA, com recurso a
dador. Pode?
Sim, pode. Segundo o artigo 4º/ 3 da LPMA, e também de acordo com o artigo 6º da
mesma lei, todas as mulheres podem recorrer às técnicas de PMA. Significa que a mulher
pode optar livremente entre procriação mediante ato sexual ou procriação assistida.
A chegou ao registo civil e declarou que B é o pai. Estabelece-se a paternidade?
Se A era casada com B, presume-se que o marido seja o pai da criança, nos termos do
artigo 1826º do C.C..
Mas não corresponde à verdade e B não quer ser o pai da criança. O que pode
fazer? Qual o meio?
Quando a paternidade não corresponde à verdade, B pode impugná-la, de modo a
destruir a presunção, como resulta do artigo 1838º do C.C..

51. Quando já recorreu à PMA heteróloga, que acontece se o marido se arrepende e


diz, mais tarde, que o filho não é dele?
É necessário o consentimento, nos termos do artigo 14º da LPMA. Além disso, de
acordo com o artigo 20º/ 1 da LPMA, a parentalidade é estabelecida em relação àquele que
consentiu no recurso às técnicas.
O que pode fazer a mãe, se o pai se recusar?
Se o pai recusar estabelecer a filiação em relação à criança, a mãe pode, ao abrigo do
disposto no artigo 20º/ 2 da LPMA, mostrar o documento de que consta o consentimento do
pai, de forma a provar que o mesmo assentiu no recurso às técnicas.

52. Qual é o regime aplicável à gestação de substituição?


A gestação de substituição, prevista no artigo 8º da LPMA, é um fenómeno de
gestação para outrem, através do qual uma mulher suporta uma gravidez para, no fim,
entregar a criança àquela que será a sua mãe em termos jurídicos.
Contudo, esta norma foi declarada como inconstitucional pelo Tribunal
Constitucional, por causa de a grávida não se poder recusar a entregar a criança após o
nascimento.

53. Pode ter acesso à PMA um casal de homens?


Não. O acesso à PMA é negado a homens, solteiros ou casados.
Quem tem acesso à procriação mediamente assistida são, como afere o artigo 6º/1 da
LPMA, os casais de sexo diferente ou os casais de mulheres, desde que casados, ou em
condições análogas às dos cônjuges; também podem recorrer as mulheres, mesmo que
solteiras.

54. Não será uma violação do princípio da igualdade? Porque é assim?


À partida, como estatui o artigo 69º/ 2 da C.R.P., o direito de procriar é condicionado
pelo interesse superior da criança. Por esta razão, dá-se uma preferência à biparentalidade;
ainda assim, se a criança não pode ter um pai, que tenha dois.

Ana Maria Varela 14


Direito da Família Perguntas de Orais

Porém, o facto de a PMA ser negada a homens deve-se à não permissão da gestação
de substituição. Se esta é inconstitucional, os homens não têm forma de ‘’carregar’’ o seu
filho.

55. Uma criança que nasceu de PMA heteróloga pode conhecer o dador?
Como dispõe o artigo 15º da LPMA, o dador tem direito a ver a sua identidade em
regime confidencial.
No entanto, o número 2 do mesmo preceito permite que as pessoas nascidas em
consequência de processos de PMA, desde que tenham mais de 18 anos, possam conhecer a
identificação civil do dador, assim como obter informações acerca dele.

CASAMENTO
56. A e B casam catolicamente. B desapareceu muitos anos. Há declaração de morte
presumida. A casa com C. Este casamento é válido?
A modalidade de casamento católico é aquela que se rege pelas normas de Direito
Canónico da Igreja Católica. Como tal, é celebrado por uma autoridade eclesiástica. Do
casamento, resultam deveres conjugais recíprocos: dever de respeito, dever de cooperação,
dever de assistência e dever de fidelidade. Este último consagra um dever duplo de
abstenção: impedindo, por um lado, o adultério (prática de atos sexuais com terceiro) e, por
outro, a ligação amorosoa (não carnal) de um cônjuge com terceiro.
Ademais, existe um princípio, enraizado na nossa ordem jurídica, que é o princípio da
monogamia, segundo o qual uma pessoa que se comprometa a esta comunhão plena de vida
com alguém, vincula-se a não estabelecer qualquer tipo de relação com outrem, por existir
exclusividade.
A morte de um dos cônjuges acarreta a cessação da generalidade dos efeitos pessoais
e patrimoniais do casamento. Contudo, a declaração de morte presumida não dissolve o
casamento, nos termos do artigo 115º do C.C.. Após esta declaração, o cônjuge do ausente,
apenas se estiver casado civilmente, pode contrair novo casamento, como prevê o artigo 116º/
1 do C.C.. Isto, porque o casamento do ausente torna-se dissolúvel, no momento em que o
seu cônjuge contrai novo casamento (opondo-se à tese de bigamia). Caso o ausente regresse,
ou haja notícias suas e da sua vitalidade, quando tenham sido celebradas as novas núpcias, o
primeiro casamento considera-se dissolvido por divórcio (à data da declaração de morte
presumida, como determina o artigo 116º, 2ª parte do C.C.). Na hipótese de o ausente não
regressar, considera-se o primeiro casamento dissolvido por morte (à data da declaração de
morte presumida). Se se provar que o ausente faleceu antes de ser celebrado o segundo
matrimónio, o primeiro casamento dissolveu-se à data do óbito.
Assim se conclui que o casamento entre A e C, porque o casamento anterior de A era
católico, não e válido. Para que o casamento católico entre A e B cesse, é necessário que lhe
seja atribuído o desvalor de nulidade, que compete aos tribunais eclesiásticos, mas produz
efeitos civis.

57. Os primos podem casar?

Ana Maria Varela 15


Direito da Família Perguntas de Orais

Os primos direitos são parentes no 4º grau da linha colateral, à luz do artigo 1581º do
C.C.. O que os une é uma relação familiar de parentesco, que é a ligação que se constitui
entre duas pessoas, em consequência de uma descender da outra, ou de ambas procederem de
um progenitor comum, como dispõe o artigo 1578º do C.C.. A fonte da relação familiar do
parentesco é, assim, a procriação.
Apesar de os efeitos do parentesco se produzirem, com relevância, e como dita o
artigo 1582º do C.C., até ao 6º grau da linha colateral, não há nenhum impedimento
matrimonial que obste ao casamento entre primos. Seja dentro dos impedimentos dirimentes -
absolutos ou relativos -, seja dentro dos impedimentos impedientes, não é feita nenhuma
menção ao parentesco no 4º grau da linha colateral.

58. Quais os requisitos do casamento putativo?


O casamento putativo é aquele que, nos termos do artigo 1647º/1 do C.C., foi
declarado nulo ou anulado, continuando a produzir efeitos válidos até ao trânsito em julgado
da respetiva sentença. Deve ter sido contraído de boa fé, aferindo-se à luz do artigo 1648º do
C.C..
Conhece algum caso em que o casamento produz efeitos, havendo má fé de um
dos cônjuges?
O casamento putativo produz efeitos, se tiver sido realizado de má fé: tem eficácia
quanto aos filhos.

59. A presunção ​pater is est​ funciona no casamento putativo?


Como refere o artigo 1827º/ 1 e 2 do C.C., a presunção de paternidade não é afastada,
ainda que tenha sido celebrado um casamento putativo.

60. O casamento católico tem de ser registado?


O casamento é, como consta do artigo 1577º do C.C., um contrato celebrado entre
duas pessoas, que pretendem formar família mediante uma plena comunhão de vida. O
casamento pode assumir duas modalidades, de acordo com o artigo 1578º do C.C.: sendo
civil, pode ser laico (feito na conservatória) e pode ser religioso (quando celebrado numa
igreja que não seja a católica); sendo católico, é celebrado segundo o Direito Canónico da
Igreja Católica.
Aos casamentos católicos são reconhecidos efeitos civis, com regula o artigo 1589º do
C.C..
O registo civil do casamento consiste no assento, que é lavrado por inscrição ou
transcrição (artigo 1652º do C.C.). O registo civil é obrigatório. Além disso, o artigo 1651º do
C.C. indica quais os casamentos que estão sujeitos a registo, onde se incluem os casamentos
celebrados em Portugal - sejam comuns, ou urgentes, civis ou católicos, civis sob forma civil
ou sob forma religiosa.

61. Pode falar-se em homologação do casamento católico urgente? Pode haver


recusa na transcrição do dito casamento?

Ana Maria Varela 16


Direito da Família Perguntas de Orais

Não. O casamento católico não pode ser homologado, de acordo com o artigo 1624º/
d) do C.C..

62. Qual é a consequência da falta de homologação do casamento civil?


A homologação consiste numa espécie de reconhecimento pela autoridade competente
de um ato, que é o casamento, conferindo-lhe aprovação.
Depois das formalidades preliminares, que antecedem a cerimónia, seguem-se as
formalidades subsequentes, correspondentes ao registo. Portanto, o processo preliminar do
casamento destina-se à verificação da inexistência de impedimentos. Confirmada esta parte, e
após a celebração, o casamento é homologado.
O casamento que não for homologado é inválido. No entanto, podem os cônjuges,
seus herdeiros, ou o Ministério Público recorrer para tribunal, com o objetivo de que seja
declarada a sua validade, ao abrigo do disposto no artigo 1624º/ 3 do C.C..

63. A inexistência é compatível com o regime do casamento putativo?


O casamento putativo é aquele que foi declarado nulo ou que foi anulado, mas que
continua a produzir efeitos, e segue sendo válido, até à data da sentença de anulação ou até ao
averbamento no registo civil da declaração de nulidade, nos termos do artigo 1647º/ 1 e 3 do
C.C..
A inexistência é um valor negativo do casamento civil. As causas que levam a que um
casamento seja inexistente são as que figuram no artigo 1628º do C.C.. Esta é invocável a
todo o tempo por qualquer pessoa, independentemente de declaração do tribunal, como
dispõe o artigo 1630º/ 2 do C.C.. Além disso, como resulta do artigo 1630º/ 1 do C.C., os
casamentos considerados inexistentes não produzem qualquer efeito jurídico e não são
havidos como putativos.

64. Porque é que aplica ao casamento simulado um regime diferente do casamento


putativo?
O casamento simulado é aquele em que existe falta de vontade dos cônjuges na sua
celebração. Por isso, aplica-se o regime do artigo 1635º/ d) do C.C.. Quando tenha sido
simulado, o casamento é anulável. É indispensável que não haja vontade de assumir a
obrigação e que as partes recusem a totalidade dos efeitos essenciais do casamento.
No casamento putativo, há, em princípio, vontade dos cônjuges em celebrar o
casamento, que o fazem de boa fé. É tutelado pelo artigo 1647º do C.C., produzindo efeitos
em relação a terceiros até ao trÂnsito em julgado da sentença.

65. É possível que duas pessoas que vivem união de facto e que já têm dois filhos
façam uma convenção antenupcial e estabeleçam a comunhão geral de bens?
Segundo o número 2 do artigo 1699º do C.C., não pode ser convencionado o regime
de comunhão geral de bens em convenção antenupcial. Contudo, este impedimento apenas se
aplica a filhos de um dos nubentes com terceiro. Significa que essas pessoas, que têm filhos
comuns, podem estipular este regime de bens para casamento.

Ana Maria Varela 17


Direito da Família Perguntas de Orais

66. Qual a sanção no casamento entre pessoas do mesmo sexo?


O casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido desde 2010.

67. O que acontece a um casamento católico urgente celebrado entre 2 parentes do


2º grau da linha colateral?
Parentes no 2º grau da linha colateral são irmãos, pelo que não podem contrair
matrimónio. Os impedimentos matrimoniais são circunstâncias que, de qualquer modo,
obstam à celebração do casamento e são apenas os que se encontram na lei. Havendo
impedimentos matrimoniais, o casamento não deve ser realizado. Neste caso, os
impedimentos mantêm-se porque a relação entre estas duas pessoas deriva de uma ligação
biológica.
O artigo 1602º/ c) do C.C., que se refere aos impedimentos dirimentes relativos,
impede o casamento entre parentes no 2º grau da linha colateral. Os impedimentos dirimentes
são aqueles que tornam o casamento anulável se se verificarem [artigo 1631º/ a) do C.C.], e
podem ser absolutos ou relativos: no segundo caso, quer dizer que obstam à celebração de um
casamento entre duas pessoas. A celebração do casamento com impedimentos dirimentes
acarreta a anulabilidade do ato (que tem de ser decretada por sentença em ação especialmente
intentada para esse fim, como refere o artigo 1932º do C.C.).

68. Dois casais diferentes, cada um com um filho, prometem filhos em casamento.
Um deles diz que não quer casar. ​Quid iuris?​
O contrato-promessa de casamento é aquele em que as partes se vinculam a casar uma
com a outra. Pode suceder que exista incumprimento por uma das partes, que desista do
matrimónio. Nesse caso, não existirá direito a exigir a celebração do mesmo, mas pode haver
lugar a uma indemnização por parte do nubente que desistiu, nos termos dos artigos 1591º e
1594º do C.C..

69. Um casamento urgente não homologado padece de que vício? Aplica que artigo?
Classifica-se o casamento urgente como aquele que é celebrado, de acordo com o
artigo 1622º/ 1 do C.C., quando exista receio de morte próxima de um dos nubentes ou
quando se verifique a iminência do parto. Esta celebração dispensa o processo preliminar e a
intervenção de um funcionário do registo civil.
A homologação pode considerar-se uma espécie de prova ou de aprovação por parte
de uma autoridade competente, que reconhece o ato - neste caso, o casamento.
O casamento urgente que não tenha sido homologado é inexistente, nos termos do
artigo 1628º/ b) do C.C.. Para que seja juridicamente existente, carece de um ato posterior -
homologação pelo funcionário do registo civil, salvo se tiver sido considerado católico pelas
autoridades eclesiásticas, à luz do artigo 1624º/ d) do C.C..

70. Descreva em termos sucintos os trâmites do processo preliminar de casamento.

Ana Maria Varela 18


Direito da Família Perguntas de Orais

A celebração do casamento está sujeita a formalidade estabelecidas na lei, no artigo


1615º do C.C.. As formalidades variam consoante a modalidade e a forma de casamento, bem
como consoante o local de celebração e a nacionalidade dos nubentes.
O processo preliminar de casamento é aquele que diz respeito às formalidades que
antecedem a cerimónia. O casamento celebrado sem precedência de um processo preliminar é
válido, mas considera-se contraído sob o regime imperativo da separação de bens, como se
verifica pelo artigo 1720º/ 1, a) do C.C..
O processo preliminar destina-se à verificação da inexistência de impedimentos
matrimoniais, como resulta do artigo 1610º do C.C., e é realizado por qualquer conservatória
do registo civil (artigo 134º do C.R.C.), inciando com a declaração para casamento. A
declaração para casamento é onde os nubentes, pessoalmente ou por intermédio de
procurador, comunicam a intenção de casar e requerem a instauração do processo (artigo 135º
do C.R.C.). O conservador consulta a base de dados do registo civil e verifica a identidade e
capacidade dos nubentes para contrair matrimónio (artigo 143º/ 1 do C.R.C.). A existência de
impedimentos pode ser declarada por qualquer pessoa até ao momento da celebração do
casamento.
Levado o despacho final a autorizar a realização do casamento, este deve celebrar-se
nos 6 meses seguintes, como resulta do artigo 1614º do C.C..

71. O casamento de portugueses feito no estrangeiro pode ser registado a qualquer


momento?
O casamento contraído no estrangiro entre dois portugueses ou entre português e
estrangeiro pode ser celebrado perante os ministros do culto católico, perante os agentes
diplomáticos ou consulares portugueses (pela forma prevista na lei portuguesa), ou perante as
autoridades locais competentes (pela forma estabelecida na lei do lugar da celebração), como
dispõe o artigo 161º do C.R.C..
O casamento produz efeitos civis no território português.
O casamento entre dois portugueses celebrado no estrangeiro será registado no
consulado português competente (artigo 184º/ 1 do C.R.C.). Aquele que for realizado perante
o agente diplomático ou consular português é registado por inscrição, à luz do artigo 184º/ 2
do C.R.C.. O casamento católico é transcrito, com base no assento paroquial (artigo 178º/ 1
do C.R.C.). Em qualquer das hipóteses, a transcrição é subordinada à prévia organização do
processo preliminar de casamento (artigo 185º/ 1 do C.R.C.) e deve ser recusada caso exista
algum impedimento à celebração.

72. O casamento entre dois muçulmanos tem efeitos civis?


A lei reconhece valor e eficácia civil, nos termos do artigo 1587º/ 2 do C.C., ao
casamento católico. Assim sendo, o casamento entre dois muçulmanos não tem efeitos civis.

73. Quais as consequências de uma promessa unilateral de casamento?

Ana Maria Varela 19


Direito da Família Perguntas de Orais

A promessa de casamento (artigos 1591º e seguintes do C.C.) é o contrato pelo qual


duas pessoas se comprometem a contrair matrimónio. As partes ficam vinculadas a casar uma
com a outra.
Portanto, não existe promessa unilateral do casamento, visto que se pressupõe que a
mesma envolva duas partes.

74. O que é o casamento putativo?


O casamento putativo é o casamento anulado ou declarado nulo que produz efeitos,
como se fosse válido, normalmente, até ao trânsito em julgado da sentença de anulação ou até
ao averbamento no registo civil da decisão de nulidade, como consta do artigo 1647º/ 1 e 3 do
C.C..

75. Qual a sanção pela quebra de uma promessa de casamento?


A promessa de casamento corresponde ao contrato pelo qual as partes se vinculam a
contrair matrimónio, a casar uma com a outra, ao abrigo do disposto no artigo 1591º do C.C..
Esta pode assumir a forma de pedido de casamento, ou de oferta de um anel de noivado, por
exemplo, como expressam os artigos 135º e 137º do C.R.C..
Na falta de cumprimento de uma promessa de casamento, a sanção é a da atribuição
de uma indemnização, nos termos do artigo 1594º do C.C., ao esposado inocente, bem como
aos pais deste ou terceiros que tenham agido em nome dos pais (pelas despesas ou pelas
obrigações contraídas na previsão do casamento).

76. Dê exemplo de um casamento não registado que possa ser invocado?


O registo civil do casamento consiste no assento, que é lavrado por inscrição ou
transcrição, como consta do artigo 1652º do C.C.. O casamento é um ato sujeito a registo
obrigatório, nos casos do artigo 1651º/ 1 do C.C.. O casamento cujo registo é obrigatório não
pode ser invocado, de acordo com o artigo 1669º do C.C..

77. Um casamento realizado fora de Portugal, produz ou não efeitos quando


invocado?
Os casamentos podem ser celebrados no estrangeiro. Os casamentos de portugueses
celebrados no estrangeiro estão sujeitos a registo obrigatório, como indica o artigo 1651º/ 1,
b) do C.C.. Assim, se tiver sido registado, o casamento produz efeitos.

78. Não estando registado, em que situação específica se poderá invocar um


casamento?
Nos casos de casamento urgente (artigo 1622º do C.C.), se não estiver registado, o
mesmo produz efeitos e pode ser invocado.

IMPEDIMENTOS
79. Supondo que há um divórcio, sogra e nora podem casar?

Ana Maria Varela 20


Direito da Família Perguntas de Orais

Se houve divórcio, o vínculo de afinidade cessa, por isso não se constitui mais como
um impedimento matrimonial ao casamento [impedimento dirimente relativo, segundo o
artigo 1602º/ d) do C.C.]. Logo, sogra e nora podem casar.
O facto de serem ambas mulheres impede o casamento?
O casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido, desde 2010.

80. Os menores podem celebrar uma convenção antenupcial? E se não houver


autorização dos pais (representantes legais)?
A convenção antenupcial é o negócio realizado tendo em vista uma futura realização
de um casamento. Deve contar com a necessária intervenção de, pelo menos, uma das partes.
É também o único modelo pelo qual é permitido às partes fazerem estipulações sobre regimes
de bens, como preceitua o artigo 1698º do C.C..
Têm capacidade para celebrar convenções antenupciais todos os que tenham
capacidade para contrair matrimónio, como estatui o artigo 1708º/ 1 do C.C.. Segundo o
número 2 do mesmo preceito, aos menores só é permitido celebrar estes negócios se tiverem
autorização dos seus representantes legais, sob pena de a convenção antenupcial ser anulável,
nos termos do artigo 1709º do C.C..
E no casamento, se não houver autorização? E se a falta de autorização não for
suprida? Que tipo de impedimento está em causa? Qual é a consequência?
Pessoas com idade inferior a 16 anos não podem, por não ter capacidade, celebrar
casamento, segundo o artigo 1601º/ a) do C.C.. A falta de idade nupcial constitui um
impedimento dirimente absoluto, obstando à celebração do matrimónio. É um impedimento
dirimente, porque, caso se verifique, torna o casamento anulável, ao abrigo do disposto no
artigo 1631º/ a) do C.C; e é absoluto, pois obsta ao casamento de uma pessoa seja com quem
for.
Se os menores de 16 anos e de 17 anos celebrarem casamento sem autorização dos
pais ou do tutor, isso já se insere no elenco dos impedimentos impedientes, constante do
artigo 1604º do C.C.. Estes obstam à celebração do casamento, embora não se
consubstanciem em anulabilidade, se o casamento se chegar a realizar. A autorização cabe
aos pais que exerçam as responsabilidades parentais ou ao tutor e deve ser concedida antes da
celebração do matrimónio ou na própria cerimónia, à luz do artigo 1612º do C.C..
Se o menor casar sem ter obtido a autorização dos pais ou do tutor, ou o respetivo
suprimento, ele não fica totalmente emancipado, como determinam os artigos 133º do C.R.C.
e 1649º do C.C..

81. O conservador pode ou não recusar a transcrição de um casamento realizado


com base num impedimento impediente?
Os impedimentos impedientes, dispostos no artigo 1604º do C.C., são impedimentos
matrimoniais, obstando à celebração do casamento. Embora sejam um obstáculo ao
casamento, não o tornam anulável no caso de ele se chegar a realizar.
O anterior artigo 1657º do C.C., relativo à recusa de transcrição, foi revogado. Por
isso, presume-se que não pode ser feita.

Ana Maria Varela 21


Direito da Família Perguntas de Orais

82. Os impedimentos dirimentes (absolutos ou relativos) geram a anulabilidade? E


os impedimentos impedientes?
Os impedimentos matrimoniais são circunstâncias que, de qualquer modo, obstam à
realização do casamento. Estão sujeitos a um princípio de tipicidade, pois são apenas o que
estão previstos na lei. Se houver impedimentos matrimoniais, o casamento não deve ser
celebrado, sob pena de se anulável, como tutela o artigo 1631º/ a) do C.C. Também pode
implicar que sejam aplicadas às partes sanções de carácter patrimonial, como estatuem os
artigos 1649º e 1650º do C.C.. Além disto, o funcionário do registo civil sujeita-se a
responsabilidade civil, penal e disciplinar, nos termos dos artigos 294º e 297º/ b) e c) do
C.R.C.. Os impedimentos matrimoniais dividem-se em nominados (são aqueles que a lei
designa) e inominados (os restantes, como sejam o vínculo de adoção e da filiação por PMA
heteróloga, assim como o matrimónio religioso anterior não dissolvido). Podem ser
dirimentes, tornando o casamento anulável, nos termos do artigo 1631º/ a) do C.C., ou podem
se impedientes, resultando do artigo 1604º do C.C.. Caracterizam-se, ainda, como absolutos
(opondo-se à celebração do matrimónio por uma pessoa seja com quem for) ou como
relativos (obstando à realização de um casamento entre determinadas pessoas). Por fim,
podem ser impedimentos suscetíveis de dispensa, que não obstam ao casamento se houver um
ato de autorização de uma autoridade, ou impedimentos insuscetíveis de dispensa, que não
permitem a celebração do casamento independentemente de qualquer pedido de autorização.
A celebração de um casamento com impedimentos dirimentes, sejam absolutos (artigo
1601º do C.C.), sejam relativos (artigo 1602º do C.C.), determina a sua anulabilidade, nos
termos do artigo 1631º/ a) do C.C.. Esta anulação tem de ser decretada por sentença em ação
especialmente intentada para esse fim, como estabelece o artigo 1632º do C.C..
Já os impedimentos impedientes, constantes do artigo 1604º do C.C., embora obstem
à celebração do casamento, não o tornam anulável se ele chegar a celebrar-se.

83. O que distingue impedimentos relativos dos absolutos?


Os impedimentos matrimoniais são circunstâncias que obstam à celebração de um
casamento. Existindo impedimentos, o matrimónio não deve ser concebido, nos termos do
artigo 1600º do C.C., sob pena de anulabilidade - artigo 1631º/ a) - e de responsabilidade -
artigos 294º e 279º/ b), c) do C.R.C.. Os impedimentos estão sujeitos a um princípio de
tipicidade, significando que são apenas aqueles que constam da lei.
Dentro dos impedimentos dirimentes, que são os que, observando-se, tornam o
casamento anulável - artigo 1631º/ a) do C.C. -, podem distinguir-se os impedimentos
absolutos e os impedimentos relativos.
Os impedimentos dirimentes absolutos correspondem ao impedimento de uma pessoa
casar com qualquer outra, seja quem for. Os impedimentos dirimentes relativos referem-se,
já, aos obstáculos que surgem em relação a certas e determinadas pessoas, que impedem a
realização do casamento. Ambos se consubstanciam em anulabilidade.

84. Qual a sanção do casamento celebrado por um bígamo?


Consolidou-se, na ordem jurídica portuguesa, um princípio de monogamia. Este
aponta para a exclusividade conjugal. Como tal, constitui um obstáculo ao casamento que

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uma das pessoas já seja casada. Isto é, é um impedimento matrimonial - dirimente absoluto -,
nos termos do artigo 1601º/ c) do C.C.. O casamento anterior não dissolvido, seja católico ou
civil, constitui um impedimento se o primeiro casamento for juridicamente existente.
Este impedimento apenas cessa com a dissolução do casamento anterior.
Caso contrário, sendo um impedimento dirimente, a sua consequência é a
anulabilidade do casamento-ato, nos termos do artigo 1631º/ a) do C.C.. Para intentar esta
ação, deve seguir-se o regime do artigo 1639º do C.C, bem como o tutelado no artigo 1643º/
3 do C.C..
O casamento não é, por conseguinte, válido, como sugere o artigo 1627º do C.C..
Pode ser sanado?
É admissível a convalidação do casamento contraído com impedimentos dirimentes
absolutos, ao abrigo do artigo 1633º do C.C.. A anulabilidade do casamento bígamo
considera-se sanada nos termos da alínea c) desta estatuição.
Se o primeiro casamento for dissolvido por divórcio, sana o vício do segundo?
O divórcio é uma causa de dissolução do casamento, decretado pelo tribunal ou pelo
conservador do registo civil, a pedido de um ou de ambos os cônjuges (artigo 1788º do C.C.).
Nesta medida, o impedimento dirimente absoluto que existe contra um matrimónio que tenha
um casamento anterior cessa aquando da dissolução desse primeiro.

85. A e B divorciam-se. A tem filho de outro casamento. Pode esse filho casar com
B?
O divórcio constitui a dissolução de um casamento, e pode ocorrer por mútuo
consentimento ou com consentimento apenas de um dos cônjuges.
No que respeita à afinidade (que é uma relação jurídica familiar, cujas fontes são o
casamento-ato e a procriação, pois a mesma respeita ao vínculo que une os parentes de um
cônjuge ao outro), nos termos do artigo 1585º do C.C., a mesma não cessa se o casamento for
dissolvido por morte. A afinidade constitui, inclusivamente, um impedimento matrimonial -
dirimente relativo -, quando seja na linha reta, como dispõe o artigo 1602º/ d) do C.C..
Porém, no âmbito dos efeitos consequentes do divórcio, já é diferente: a afinidade que
ligava os filhos de A a B, por ser seu padrasto ou madrasta (e, portanto, eram afins no 1º grau
da linha reta), cessa com o divórcio.

86. Em que casos a lei atribui relevância à relação familiar de afinidade?


A afinidade é o vínculo que une cada um dos cônjuges aos parentes do outro, como
estatui o artigo 1584º do C.C., tendo como fontes a conjugação do casamento-ato com a
procriação.
A relação familiar de afinidade é relevante nos casos relativos aos impedimentos
matrimoniais, que obstam à celebração do casamento: em concreto, constitui um
impedimento dirimente relativo o matrimónio contraído entre afins na linha reta [artigo
1602º/ d) do C.C.], sendo este ato suscetível de anulabilidade.
A afinidade também importa para os casos de averiguação oficiosa da maternidade,
ação que não pode ser intentada, nos termos do artigo 1809º/ a) do C.C., se, quando haja
perfilhação, a pretensa mãe e o perfilhante forem afins em linha reta.

Ana Maria Varela 23


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Nos casos de designação de tutor, este pode ser escolhido entre os parentes ou afins
do menor, pelo que a relação de afinidade também é importante, como refere o artigo 1931º/
1 do C.C..
Igualmente em situações de escolha dos vogais do conselho de família se opta entre os
parentes ou afins do menor, como prevê o artigo 1952º/ 1 do C.C., razão pela qual a relação
de afinidade é relevante.
Além disso, também releva em situações de obrigação de prestar alimentos, por parte
do afim no 1º grau da linha reta - padrasto ou madrasta -, como define o artigo 2009º/ f) do
C.C..

87. No âmbito dos impedimentos, onde se enquadra a adopção plena?


A adoção, que é o vínculo que se estabelece independentemente dos laços de sangue
entre duas pessoas, através de uma sentença que produz os mesmos efeitos que a filiação
natural, encontra-se prevista nos artigos 1586º e 1973º e seguintes do C.C..
Como a ligação que se cria entre os adotados e os adotantes se equipara à relação de
filiação biológica, os pais e filhos são parentes no 1º grau da linha reta, e os irmãos adotivos e
irmãos filhos do casal que adotou são parentes no 2º grau da linha colateral. Assim sendo, e
porque se extinguem as relações familiares entre o adotado e os seus ascendentes naturais
(artigo 1986º/ 1 do C.C.), no âmbito dos impedimentos, a adoção integra-se no artigo 1602º
do C.C., relativa aos impedimentos dirimentes relativos.
Estes são impedimentos que obstam à realização do casamento entre certas e
determinadas pessoas. Neste caso concreto, enquadra-se a adoção nas alíneas a), b) e c) do
C.C..

88. Qual a diferença entre casamento inexistente e casamento nulo?


Tanto a inexistência como a nulidade são valores negativos do casamento,
constituindo-se como consequências da sua dissolução.
A inexistência é um desvalor associado ao casamento civil. E a nulidade só incide
sobre casamentos religiosos católicos.
Quanto aos seus regimes, as causas da inexistência são unicamente as que estão
tipificadas do artigo 1628º do C.C.. A inexistência do casamento é invocável a todo o tempo
por qualquer pessoa, independentemente da declaração do tribunal e exclui quaisquer dos
efeitos produzidos pelo casamento, como determinam os números 1 e 2 do artigo 1630º do
C.C..
O casamento católico não pode ser declarado inexistente ou anulado, pelo que a sua
consequência só pode ser a nulidade. A declaração de nulidade compete aos tribunais
eclesiásticos, que aplicam Direito Canónico. Esta produz efeitos civis, a requerimento de
qualquer das partes, após confirmação pelo tribunal do Estado português. Os efeitos da
nulidade são, contudo, semelhantes aos da anulação civil.

​ o prazo inter-nupcial?
89. Qual a ​ratio d
Revogado. Hoje em dia, pode casar-se imediatamente após a dissolução do casamento
por divórcio ou por morte.

Ana Maria Varela 24


Direito da Família Perguntas de Orais

90. Quando os representantes legais dão autorização para a convenção antenupcial,


essa autorização serve também para o casamento?
Nos termos do artigo 1708º/ 2 do C.C., os menores necessitam de autorização dos
seus representantes legais para celebrar convenções antenupciais, sob pena de serem
anuláveis, nos dítames do artigo 1709º do C.C.
Contudo, essa autorização não serve também para o casamento. A falta de idade
nupcial constitui um impedimento dirimente absoluto, como dispõe o artigo 1601º/ b) do
C.C.. Por isso, segundo o artigo 1612º/ 1 do C.C., a autorização para que casem deve ser
concedida antes da celebração do casamento ou na própria cerimónia.

91. A e B casam em 2004. Depois da celebração do casamento descobriram que eram


irmãos. Não havia filiação estabelecida.​ ​Quid iuris?
O artigo 1602º/ c) do C.C. impede que irmãos casem, sob pena de o casamento ser
anulável. Para efeitos de prova, deve observar-se o disposto no artigo 1603º do C.C..
Alterava alguma coisa à sua resposta se estes já fossem casados há 5 anos?

92. Quais os efeitos dos impedimentos dirimentes?


Os impedimentos dirimentes são impedimentos matrimoniais que obstam à celebração
do casamento. Podem ser absolutos, caso sejam um obstáculo ao casamento de alguém com
outra pessoa, seja quem for. Ou podem ser relativos, quando a realização do casamento seja
proibida entre certas pessoas. Estes, dispostos nos artigos 1601º e 1602º do C.C., são, em
qualquer das circunstâncias, anuláveis, nos termos do artigo 1631º/ a) do C.C..

93. Qual a vantagem de anular um casamento quando ele já está dissolvido?


A anulabilidade de um casamento é um desvalor (valor negativo) do mesmo. O
casamento só pode ser anulado mediante sentença em ação especialmente intentada para esse
fim, como decorre do artigo 1632º do C.C..
Os efeitos da anulação resumem-se à cessação dos efeitos do matrimónio, com
carácter retroativo, à luz dos artigos 289º/ 1 e 1688º do C.C., tudo se passando como se o
casamento não houvesse sido celebrado.

94. Conhece impedimentos matrimoniais sem sanção?


Os impedimentos matrimoniais são circunstâncias que obstam à celebração do
casamento. Se forem dirimentes, tornam o casamento anulável. Se forem impedimentos, não
se consubstanciam em anulabilidade, mas é aplicada uma sanção aos cônjuges, nos termos do
artigo 1650º/ 2 do C.C..

95. Qual a sanção para impedimentos impedientes?


A sanção aplicável aos impedimentos impedientes, no caso de se observarem, é a do
artigo 1650º/ 2 do C.C.: a incapacidade de se receber do outro cônjuge qualquer benefício por
doação ou testamento.

Ana Maria Varela 25


Direito da Família Perguntas de Orais

96. Imagine que, da constância de um casamento católico urgente, se descobre a


existência de um impedimento. Está sujeito a homologação?
O casamento urgente não homologado é juridicamente inexistente, como refere o
artigo 1628º/ b) do C.C.. Mas ao casamento civil não se aplica esta norma.

FALTA DE VONTADE/ ERRO/ VÍCIO


97. O que é a propriedade do erro?
O erro que vicia a vontade dos cônjuges releva, para efeitos do artigo 1636º do C.C.,
quando seja fundado nas qualidades essenciais da pessoa do outro cônjuge, quando seja
desculpável e quando se demonstre que, se ele não existisse, o casamento não seria realizado.
O casamento fundado em erro que vicia a vontade é anulável.

98. Distinga coacção física de coacção moral (no regime de casamento).


A coação física diz respeito a uma forma de uma pessoa, seja o cônjuge futuro ou não,
ameaçando fisicamente ou agredindo a pessoa, a force a contrair matrimónio e esta o faça
com receio da consumação da ameaça.
A coação moral consiste, aplicando-se o regime do artigo 1638º do C.C., numa
circunstância que leva à celebração de um casamento quando um dos nubentes seja
ameaçado, com receio da consumação dessa agressão.

99. A e B casam. Depois, descobrem que são pai e filho. Podem invocar o erro?
A anulação do casamento fundada em erro pode ser feita quando se prove que, sem o
erro, o casamento não teria sido celebrado, como indica o artigo 1636º do C.C.. Assim, se se
conseguir provar que A e B são pai e filho e, como tal, essa é uma circunstância que obstaria
ao matrimónio, não só legalmente [por constituir um impedimento matrimonial, segundo o
artigo 1602º/ a) do C.C.], como por questões de ética e moral, podem estas pessoas invocar o
erro.

100. A tem uma dívida de 10.000 € sobre B. Se B não casar com A, este executa a
dívida. ​Quid iuris​?
Não existe, nesta situação, coação moral, de acordo com o artigo 1638º/ 1 do C.C..
Isto corresponde ao exercício normal de um direito, nos termos do artigo 255º/ 3 do C.C..

101. A é credor de B, ambos de sexo diferente. A vai ter com B e ameaça executar
a dívida se B não casar com ele. B aceita. ​Quid iuris​?
Quando A ameaça executar a dívida, no caso de B não se casar com ele, está apenas a
exercer normalmente um direito, para efeitos do artigo 255º do C.C.. Como tal, não existiria
coação moral neste caso (artigo 1638º do C.C.).

102. Tem presente a divergência doutrinária do artigo 1636º do Código Civil?

Ana Maria Varela 26


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CONVENÇÃO ANTENUPCIAL
103. Qual a razão de ser do artigo 1714º do C.C.? Estará em causa um interesse
eventual de terceiros?
O artigo 1714º do C.C., referente ao princípio da imutabilidade das convenções
antenupciais e do regime de bens fixado, surge como condição de proteção dos cônjuges em
relação um ao outro.
Isto é, não se pode, depois da celebração do matrimónio, alterar estas disposições,
para evitar que a proximidade que exista entre os membros do casal os leve a tomar decisões
precipitadas. A isso se chama o ascendente psicológico.

104. A convenção antenupcia1 é acessória do casamento? Concebe um casamento


sem regime de bens?
A convenção antenupcial surge no âmbito do Direito Matrimonial e diz respeito ao
negócio realizado com vista à futura celebração de um casamento, que deve contar com, pelo
menos, um interveniente. A convenção antenupcial rege principalmente aspetos de índole
patrimonial, como preceitua o artigo 1698º do C.C., sendo que é o modo pelo qual as partes
podem elaborar estipulações sobre o regime de bens que pretendem para o matrimónio.
Todavia, nada obsta à validade da convenção antenupcial que não contenha disposições sobre
regimes de bens, podendo estipular-se doações para casamento, nos termos do artigo 1756º/ 1
do C.C., ou certas estipulações por morte, como indica o artigo 1700º do C.C..
Não é obrigatório celebrar convenção antenupcial, uma vez que o artigo 1717º do
C.C. prevê que, ‘’Na falta de convenção antenupcial’’, vigore um regime de bens supletivo,
que será o da comunhão de adquiridos.

105. No que consiste o princípio da inalterabilidade das convenções antenupciais?


Este princípio tem alguma coisa a ver com a alteração da administração dos bens
dos menores?
O princípio da imutabilidade das convenções antenupciais, estipulado no artigo 1714º/
1 do C.C., indica que não é permitido alterar as convenções antenupciais e os regimes de bens
fixados, depois de se estar casado. Este pressuposto destina-se a evitar que os cônjuges
alterem as disposições anteriormente feitas, por estarem influenciados, ou por estarem mais
próximos do outro membro do casal. Diz-se que é uma forma de proteção de um cônjuge em
relação ao outro, de forma a evitar que um deles, por causa do ascendente psicológico ou
afetivo do outro, aceite alterações que prejudiquem sob o ponto de vista matrimonial.
A indicação de alterações posteriores à celebração do casamento abarca
fundamentalmente o regime de bens, os pactos sucessórios e as doações para casamento.

106. Em relação à convenção antenupcial o que é que acontece? Se houver


anulabilidade da convenção qual é a consequência?
A convenção antenupcial é o negócio pelo qual as partes (pelo menos, uma) estipula
certas disposições do campo patrimonial, e não só, para o futuro matrimónio (artigo 1698º do
C.C.). Para além de aspetos de índole patrimonial, como é o caso do regime de bens que se
convenciona para o casamento, pode ser aditadas cláusulas de outra espécie.

Ana Maria Varela 27


Direito da Família Perguntas de Orais

Em matéria de regime de bens, vigora o princípio da liberdade de estipulação, contido


no artigo 1698º do C.C., o que significa que os nubentes podem fixar livremente o regime de
bens do seu casamento. Contudo, há restrições neste domínio: por exemplo, não pode ser
convencionada a comunicabilidade dos bens enumerados no artigo 1733º do C.C. [como
estipula o artigo 1699º/ 1, d) do C.C.], nem dos bens objeto de doações entre casados, como
dita o artigo 1764º/ 2 do C.C.. Outro limite é o imposto pelo artigo 1699º/ 2 do C.C., que
proíbe que quem tenha filhos convencione o regime da comunhão geral de bens e a
comunicabilidade dos bens referidos no artigo 1722º/ 1 do C.C. (este preceito é, no entanto,
unicamente aplicável ao nubente que tenha filhos com terceiro; se os nubentes tiverem
descendentes comuns, é permitida esta escolha).
A convenção pode ter como objeto outros aspetos, não respeitantes a regimes de bens,
conexos ou não com o futuro casamento. É admissível a realização na convenção antenupcial
de quaisquer atos de negócios que possam constar de escritura pública (por exemplo, compra
e venda), desde que um dos nubentes figure como autor, parte ou beneficiário. Também pode
incluir estipulações por morte e doações para casamento, integrando a instituição de herdeiro
ou a nomeação de legatário, desde que seja feita por qualquer dos esposados ou a favor de um
deles, como indica o artigo 1700º/ 1, a) do C.C.. É válida a condição sob condição ou termo.
à luz do artigo 1713º/ 1 do C.C..
No concernente à capacidade para celebrar convenções antenupciais, deve aplicar-se o
regime do artigo 1708º do C.C.. As pessoas que podem celebrar convenções antenupciais são
as mesmas que podem contrair casamento (número 1), e, aos menores, só é admissível esta
celebração caso tenham autorização dos seus representantes legais, sob pena de o ato ser
anulável.
Quanto à forma, as convenções antenupciais são apenas válidas, caso sejam
celebradas por declaração prestada perante o funcionário do registo civil ou por escritura
pública, como se verifica pela análise do artigo 1710º do C.C.. A convenção está sujeita a
registo civil obrigatório, como consta do artigo 1º/ 1, e) do C.R.C., que se faz por menção no
texto do assento do casamento, ou por averbamento ao mesmo assento. O registo é condição
legal de eficácia da convenção antenupcial perante terceiros, como estatui o artigo 1711º do
C.C..
No que toca à anulabilidade, à convenção antenupcial aplica-se as normas gerais
sobre a invalidade dos negócios jurídicos. Existe um regime especial para a incapacidade de
exercício, que é tutelada pelo artigo 1709º do C.C. (a anulabilidade só pode ser invocada pelo
incapaz pelos seus herdeiros ou a quem competir conceder a autorização que faltava, dentro
de 1 ano a contar da celebração do casamento; a anulabilidade sana se o casamento for
celebrado depois de terminar a incapacidade).

107. Relativamente ao principio da imutabilidade da convenção antenupcial,


explique e diga quais são as excepções.
O princípio da imutabilidade da convenção antenupcial, constante do artigo 1714º do
C.C., refere-se à proibição de alterar as estipulações feitas na convenção, nomeadamente no
que toca aos regimes de bens legalmente fixados. Portanto, depois da celebração do
casamento, não é permitida a revogação ou modificação deste negócio, nem a alteração do

Ana Maria Varela 28


Direito da Família Perguntas de Orais

regime de bens estipulado, a não ser nos casos previstos na lei. Este princípio tem vista a
proteção de um cônjuge perante o outro.
No entanto, afiguram-se como exceções à regra que veda a modificação do regime
inicial as disposições do artigo 1715º/ 1 do C.C.: admitem-se alterações pela revogação das
disposições do artigo 1700º, nos casos e sob a forma em que é permitida pelos preceitos
1701º e 1707º - alínea a); pela simples separação judicial de bens - alínea b); pela separação
judicial de pessoas e bens - alínea c); e em todos os outros casos que a lei preveja de
separação de bens na vigência da sociedade conjugal - alínea d).

108. O princípio da imutabilidade é uma forma de garantia dos direitos


adquiridos?
O princípio da imutabilidade do regime de bens, consagrado no artigo 1714º/ 1 do
C.C., funciona como uma forma de proteção de um cônjuge perante o outro.

109. P​ode ser constituída uma convenção antenupcial a termo? E sob condição?
É possível constituir-se, à luz do artigo 1713º do C.C., uma convenção antenupcial a
termo e sob condição. Esta é, segundo o número 1 desta estatuição, válida.
Por exemplo, e admissível determinar a vigência sucessiva de regimes de bens para
um mesmo casamento: os esposados podem convencionar que o regime de bens adotado é o
da separação, nos primeiros 5 anos de casamento; estipular o regime de comunhão de
adquiridos para os 5 anos subsequentes; e determinar o regime de comunhão geral a partir do
10º ano de casamento.

110. Os menores podem celebrar uma convenção antenupcial?


Tem capacidade para celebrar convenções antenupciais quem tenha capacidade para
contrair matrimónio, como prevê o artigo 1708º/ 1 do C.C.. O número 2 da mesma disposição
permite, apenas que os menores celebrem estes negócios com autorização dos seus
representantes legais. Caso tal não aconteça, o ato é anulável, nos termos do artigo 1709º do
C.C..

111. Se houver anulabilidade da convenção qual é a consequência?


Se a convenção antenupcial for declarada nula ou for anulada, esta caduca, segundo as
linhas do artigo 1716º do C.C..

112. Quais são os limites à liberdade de celebração da convenção antenupcial?


Em princípio, existe uma regra de liberdade na celebração da convenção antenupcial,
como sugere o artigo 1698º do C.C., que permite aos nubentes fixar livremente qual o regime
de bens que pretendem. Contudo, existem alguns limites e restrições a este princípio de
liberdade, que são enunciados no artigo 1699º do C.C.: são a regulamentação da sucessão
hereditária dos cônjuges ou de terceiro - alínea a); a alteração dos direitos ou deveres, sejam
parentais, sejam conjugais - alínea b); a modificação das regras sobre administração de bens
do casal - alínea c); e a estipulação da comunicabilidade dos bens elencados no artigo 1733º
do C.C. - alínea d). Estes aspetos não podem ser objeto de convenção antenupcial. Outra

Ana Maria Varela 29


Direito da Família Perguntas de Orais

restrição é a estipulação do regime de comunhão geral, quando o casamento for celebrado no


caso de um dos nubentes ter filho de terceiro - número 2.
Conhece mais algum limite para além dos referidos no artigo 1699º do C.C.?
Na convenção antenupcial também não pode constar a estipulação da
comunicabilidade dos bens objeto de doações entre casados, como prevê o artigo 1764º/ 2 do
C.C.. Igualmente não se permite que se fixa, total ou parcialmente, um regime de bens por
remissão genérica para uma lei estrangeira, para um preceito revogado, ou para usos e
costumes locais, como resulta do artigo 1718º do C.C..

113. Numa convenção antenupcial é possível alterar a administração dos bens dos
filhos?
Não.

114. Imagine que me vou casar, mas quero fazer uma convenção antenupcial. No
entanto, tenho um filho. Há alguma limitação à liberdade de convenção?
O artigo 1699º/ 2 do C.C. impede que quem tenha filhos, ainda que sejam maiores ou
emancipados, estipule, em convenção antenupcial, o regime da comunhão geral de bens,
assim como proíbe que se convencione a comunicabilidade dos bens referidos no artigo
1722º/ 1 do C.C.. Esta limitação aplica-se, porém, unicamente aos filhos de um dos nubentes
com terceiro.
Significa que, no caso de o filho ser comum, ou seja, de ambos os nubentes, é
permitida a escolha deste regime de bens e também a comunicabilidade dos bens já
mencionados.

115. A e B contraem casamento acordando no que respeita às relações


extra-matrimoniais que cada um fizesse o que quisesse. ​Quid iuris?
Esta estipulação não pode ser feita, pois, apesar de existir um princípio de liberdade
quanto ao regime de bens fixado e a outras matérias constantes da convenção (artigo 1698º do
C.C.), existem aspetos que não podem ser objeto da convenção antenupcial.
Integra-se nesta lista a alteação dos deveres conjugais, como tutela a alínea b) do
número 1 do artigo 1699º do C.C.. O dever de fidelidade é um dos deveres conjugais que
vincula reciprocamente os cônjuges, pelo que não pode ser suprido.
Além disso, refere o artigo 1618º/ 2 que a vontade de contrair matrimónio importa a
aceitação de todos os efeitos legais do mesmo.

116. Imagine uma convenção antenupcial entre A e B. A administração dos bens


cabe a B. Qual o desvalor?
O desvalor de uma convenção antenupcial que tenha por objeto a alteração das regras
sobre administração dos bens do casal relaciona-se com o artigo 1699º/ 1, c) do C.C.. Esta
cláusula deve reduzir-se, nos termos dos artigos 292º e 294º do C.C..
Aplicar-se-ia o artigo 1618º/2 do C.C., aqui?
Aplicar-se-ia, em princípio, o artigo 1618º/ 2 do C.C., tendo-se por não escritas as
cláusulas sem efeito.

Ana Maria Varela 30


Direito da Família Perguntas de Orais

117. A celebra uma convenção antenupcial. A era fiel e B fazia o que queria. Qual
o desvalor jurídico desta cláusula?
Esta cláusula, por violar o disposto no artigo 1699º/ 1, b) do C.C., que impede que
conste de convenção antenupcial a alteração dos deveres dos cônjuges (nesta situação, o
dever de fidelidade), seria reduzida, aplicando-se os artigos 292º e 294º do C.C..
Afecta a validade do casamento?
Não afeta a validade do casamento.

118. A e B celebram convenção antenupcial. Imóvel ​x ​para o primeiro filho.


Celebram o casamento e antes do 1º filho nascer, A vende o imóvel a 3º. ​Quid
iuris?​
Esta estipulação em convenção antenupcial pode ser feita, como prevê o artigo 1700º/
1, b) do C.C.. Quanto à alienação do imóvel antes de o filho nascer, também pode acontecer,
ao abrigo do disposto no artigo 1704º do C.C..

119. Em que casos a convenção antenupcial pode ser lavrada em auto pelo
conservador do registo civil?
A convenção antenupcial é, à luz do artigo 1710º do C.C., feita no registo civil
quando se escolhe um regime de bens típico.

120. A e B convencionam em convenção antenupcial que se o casamento se vier a


dissolver por divórcio, este será em separação de bens. Pode?
Sim. São válidas as convenções antenupciais sujeitas a condição, como resulta do
artigo 1713º/ 1 do C.C..

121. Pode haver uma convenção antenupcial em que se convencione que os bens
adquiridos após o casamento não podem ser alienados?

122. “Todos os bens presentes são próprios. Todos os bens futuros são comuns”.
Pode? Se sim, qual o regime em que estão casados?
O regime em causa não pode ser o da comunhão de adquiridos, pois apenas fazem
parte da comunhão os bens referidos no artigo 1724º do C.C.: o produto do trabalho dos
cônjuges - alínea a); e os bens adquiridos durante o casamento a título oneroso - alínea b).
Também não pode figurar o regime da comunhão geral de bens, uma vez que os bens
que se levam para o casamento, neste, tendem a ser bens comuns, mais os bens adquiridos a
título gratuito futuramente, como dispõe o artigo 1732º do C.C..
Não podem estar casados no regime da separação de bens, pois neste não há bens
comuns, sendo que todos são próprios, ao abrigo do artigo 1735º do C.C.
Deste modo, pode apenas estar constituído um regime atípico de bens.

123. A e B convencionam em convenção antenupcial. “Eu, A, renuncio à herança


de B. Eu, B, renuncio à herança de A.”. ​Quid iuris?

Ana Maria Varela 31


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Segundo o artigo 1699º/ 1, a) do C.C., não pode constar de convenção antenupcial a


regulamentação da sucessão hereditária dos cônjuges. Portanto, estas estipulação não
poderiam ser feitas, sob pena de a convenção realizada ser considerada nula, nos termos do
artigo 294º do C.C..
E se fizer doação por morte?
À luz do artigo 1755º/ 2 do C.C., as doações que venham a produzir efeitos com a
morte do doador são tidas como pactos sucessórios. Por isso, devem ser avaliadas nos termos
dos artigos 1701º a 1703º do C.C.. Portanto, sim, uma doação por morte pode ser feita por
convenção antenupcial.

124. Uma convenção antenupcial define que os bens levados para o casamento por
A são comuns, e que os de B, através do trabalho, são comuns. Em que regime
estão casados?
A e B estão casados num regime atípico, pois: não podem estar em separação de bens,
uma vez que existem bens comuns, e neste regime isso não pode ocorrer; não estão casados
em comunhão de adquiridos, pois os bens comuns são apenas os que figuram no artigo 1724º
do C.C., não estando inseridos os bens que se levam para o casamento; não podem estar
casados em comunhão geral de bens, tendo em conta que os bens futuros que se adquiram são
comuns, mas apenas a título gratuito.

125. Numa convenção antenupcial é possível definir que os bens comuns possam
ser alienados por qualquer um dos cônjuges sem o consentimento do outro?
Apesar de existir um princípio de liberdade subjacente à celebração da convenção
antenupcial (artigo 1698º do C.C.), não é permitido que conste de convenção antenupcial a
alteração de regras sobre a administração de bens do casal, como dispõe o artigo 1699º/ 1, c)
do C.C..
A alienação de bens do casal diz respeito a um ato de administração, nos termos do
artigo 1682º/ 1 do C.C.. Consequentemente, se se tratar de um ato de administração
extraordinária, será sempre exigido o consentimento dos dois cônjuges para a sua prática.

126. Pode alterar-se a natureza do fruto dos bens próprios numa convenção
antenupcial?

127. A e B fixam em convenção antenupcial, em regime de separação de bens, que


‘’os bens que A vier a receber por doação passam a ser próprios de B’’.
Não se admite, porque configura uma doação, que ficaria sujeita ao princípio da
imutabilidade e da revogabilidade. Ora, se a convenção não se pode alterar, mas as doações
podem ser revogáveis, estas duas situações convergem.

ADMINISTRAÇÃO DE BENS/ DÍVIDAS


128. Conhece casos de administração extraordinária exclusiva de um cônjuge
relativa a bens próprios do outro?

Ana Maria Varela 32


Direito da Família Perguntas de Orais

A administração extraordinária é aquela que corresponde à gestão de bens conjunta,


para a qual se exige o consentimento de ambos os cônjuges.
O caso do artigo 1678º/ e) do C.C. refere uma possibilidade de os cônjuges terem a
administração dos bens móveis próprios do outro cônjuge, exclusivamente utilizados por ele
como instrumento de trabalho.

129. Os bens comuns são sempre administrados por ambos os cônjuges?


Nem sempre. Na hipótese do artigo 1678º/ 2, e) do C.C., pode apenas um dos
cônjuges administrar bens próprios do outro cônjuge ou bens comuns, desde que sejam por si
utilizados exclusivamente para trabalho.
Ambos os cônjuges são taxistas. Têm os dois automóveis. É retirada a
administração?
Não, o bem tem de ser utilizado em exclusividade para trabalho.

130. Quem administra o produto do trabalho, na comunhão de adquiridos?


No regime da comunhão de adquiridos, o produto do trabalho é um bem comum dos
cônjuges, como resulta do artigo 1724º/ a) do C.C.. Contudo, os proventos que o cônjuge
receba do seu trabalho devem ser exclusivamente por si administrados, como estatui o artigo
1678º/ 2, a) do C.C..

131. Uma dívida contraída por um dos cônjuges para ir passear às Maldivas com
o outro cônjuge, é uma dívida comum?
Na circunstância de ter sido uma dívida contraída com o consentimento de ambos os
membros do casal, insere-se no âmbito do artigo 1691º/ 1, a) do C.C., e é da responsabilidade
dos dois.

132. O que é a comunhão em mão comum?


A comunhão em mão comum - ou comunhão germânica - é o mesmo que dizer
comunhão conjugal de bens. Caracteriza-se pela presença de quotas, que cada um dos
cônjuges tem nessa comunhão (quota essa, designada por meação dos bens comuns) - artigos
1685º/ 1, 1696º/ 1 e 1730º/ 2 do C.C..
Nesta situação, ao contrário da hipótese em que haja compropriedade, o cônjuge não
pode dispor válida e eficazmente da sua meação nos bens comuns, enquanto não terminar a
própria comunhão patrimonial. A comunhão conjugal de bens subsiste enquanto se não
verificar uma das situações legalmente estabelecidas de cessação das relações patrimoniais
dos cônjuges, ou separação superveniente de bens. Por conseguinte, não basta uma simples
manifestação da vontade das partes para pôr fim à contitularidade.
As quotas na comunhão conjugal são idênticas (50/50), e os cônjuges participam por
metade no património comum.

133. Por uma dívida da responsabilidade de um dos cônjuges, responde um bem


comum. É possível?

Ana Maria Varela 33


Direito da Família Perguntas de Orais

Em princípio, por uma dívida contraída por um cônjuge, que é da sua exclusiva
responsabilidade, respondem os seus próprios bens, nos termos do artigo 1696º/ 1 do C.C..
Contudo, no caso de se estar em comunhão geral, podem responder os bens comuns, quando
se esteja numa situação do artigo 1696º/ 2, a) do C.C. (respondem os bens levados para o
casal); no caso de se estar em regime de comunhão de adquiridos, também podem responder
bens comuns, como resulta do artigo 1696º/ 2, b), 1ª parte do C.C. (pois responde o produto
do trabalho, que é bem comum neste regime).

134. O que é preciso saber para que possa ou não vender?


Para se averiguar se um bem pode ou não ser vendido pelo cônjuge, é necessário
compreender se esse ato se trata de uma prática normal ou anormal. Ou seja, se é uma prática
de ato de administração ordinária ou de administração extraordinária.
No primeiro caso, podem vender-se os bens livremente, existindo legitimidade para
tal, de acordo com o artigo 1678º/ 3 do C.C.. No segundo caso, aplica-se a 2ª parte do mesmo
preceito, referindo-se aos atos que necessitam do consentimento dos dois cônjuges para
serem praticados.

135. Um PC adquirido no regime de comunhão de bens pode ser alienado por um


dos cônjuges?
No regime da comunhão geral de bens, os bens comuns são os que os cônjuges
levaram para o casamento, assim como aqueles que venham a adquirir futuramente a título
gratuito, como comprova o artigo 1732º do C.C..
Neste sentido, à partida, um PC não é um bem adquirido a título gratuito, pelo que
não deve integrar a comunhão. Mas, quanto à sua alienação, devem observar-se as regras
sobre a administração dos bens, e, nomeadamente, o artigo 1682º do C.C., que respeita à
alienação e oneração de bens móveis. Como o artigo 1678º/ 1 do C.C. indica que os bens
próprios de cada membro do casal são unicamente por si administrados, conclui-se,
aplicando-se o artigo 1682º/ 2 do C.C., cada um dos cônjuges tem legitimidade para alienar
os seus próprios bens móveis.
É um bem próprio ou comum num casamento em regime de comunhão de
adquiridos?
No regime de bens da comunhão de adquiridos, são bens comuns aqueles que sejam
adquiridos na constância de matrimónio a título oneroso, como tutela o artigo 1724º/ b) do
C.C.. Portanto, este será em princípio, um bem comum.

136. A e B querem casar. Os bens levados por A para o casamento são comuns e
os que B adquire na constância do matrimónio também são comuns. No restante
aplica-se a comunhão de adquiridos. ​Quid iuris​?
Deve atentar-se à matéria de regime de bens, nesta hipótese.
Se os bens levados para o casamento por A são comuns, pensar-se-ia que se estaria no
regime da comunhão geral de bens, aplicando-se o artigo 1732º do C.C.. Se os bens
adquiridos por B durante o casamento também são comuns, resta saber se são os que são
adquiridos a título oneroso - caso em que se aplica o regime da comunhão de adquiridos -, ou

Ana Maria Varela 34


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os que são adquiridos gratuitamente - situação em que se rege pelo regime da comunhão
geral.
Contudo, como não se sabe, e porque se estipulou que não eram ambos os cônjuges
que ‘’partilhavam’’ os seus bens, mas apenas A ou B, num e noutro caso, está-se perante um
regime de bens atípico.

137. Em matéria de administração de bens comuns, qual é a regra?


A regra de administração de bens comuns do casal encontra-se prevista no número 3
do artigo 1678º do C.C.. Isto é, cada um dos cônjuges pode praticar atos de administração
ordinária (de gestão disjunta dos bens) relativamente a bens que sejam de ambos.

138. O que é administração ordinária e extraordinária?


No domínio da administração de bens do casal, cada um dos cônjuges tem
legitimidade para a prática de atos de administração ordinária, mas os restantes atos só podem
ser praticados com o consentimento de ambos os cônjuges. Ou seja, a gestão de bens é
conjunta, se se tratar de um ato de administração extraordinária. Mas, quando se trate de um
ato de administração ordinária, a gestão é disjunta, porque a administração ordinária
corresponde à administração normal.
O que distingue um ato de administração ordinária de um ato de administração
extraordinária é o critério da normalidade da sua prática. Por exemplo, comprar comida para
casa ou ir tratar do carro são atos de administração ordinária, porque existe uma normalidade
da gestão, porque são feitos muitas vezes. Na administração extraordinária, a prática de atos é
esporádica, pelo que exige o consentimento de ambos os cônjuges: como é o caso de fazer
obras à casa, ou contratar uma empregada de limpeza.
Os atos de administração ordinária podem ser feitos por um ou por outro cônjuge, daí
a gestão ser disjunta; ao passo que, na administração extraordinária, se não houver o
consentimento de um dos cônjuges, os atos são anuláveis, nos termos do artigo 1687º do
C.C..

139. Um ato de alienação pode ser um ato de administração ordinária?


Se a alienação do bem disser respeito a um bem móvel que seja comum aos membros
do casal, cabendo a administração aos dois, é necessário o consentimento dos dois cônjuges,
pelo que dirá respeito a um ato de administração ordinária. Contudo, o artigo 1682º do C.C.
ressalva os casos de administração ordinária: na hipótese de se tratar da prática de atos de
administração ordinária, não é necessário o consentimento de ambos os membros do casal
para que seja feita a alienação do bem.

140. Regime da comunhão geral de bens: um dos cônjuges herdou um bem. É bem
comum? Quem administra?
O regime da comunhão geral de bens vigora como um regime convencional (a não ser
nos casos dos artigos 1792º/ 1 e 1699º/ 2 do C.C.) Neste, são bens comuns todos os que a lei
não considere incomunicáveis. Segundo o artigo 1732º do C.C., inserem-se na comunhão

Ana Maria Varela 35


Direito da Família Perguntas de Orais

todos os bens presentes que tinham ao tempo da celebração do casamento, assim como os
bens futuros dos cônjuges adquiridos a título gratuito.
Neste caso, o bem herdado por um dos cônjuges é próprio. Para saber quem o
administra, deve atentar-se ao constante do artigo 1678º/ 2, c), que propõe a administração
deste bem pelo cônjuge que o adquiriu após o casamento. Assim é, porque cada um dos
cônjuges administra os seus direitos patrimoniais.

141. Há alguma situação em que um bem comum seja administrado apenas por
um dos cônjuges?
Existem algumas exceções aplicáveis à regra geral de administração dos bens
comuns: por exemplo, o produto do trabalho que um dos cônjuges aufere é bem comum no
regime da comunhão de adquiridos. Porém, esse é administrado pelo cônjuge que o aufere,
nos termos do artigo 1678º/ 2, a) do C.C.. Mas ele é livre de aplicar os seus rendimentos do
trabalho como entender, apenas depois de ter contribuído para os encargos da vida familiar
ou pretensões de alimentos a que esteja vinculado.

142. Na comunhão geral, os bens adquiridos por sucessão são bens próprios ou
comuns?
Os bens que advenham ao cônjuge após o casamento, por via sucessória, são bens
comuns, como revela o artigo 1722º/ 1, b) do C.C..

143. É possível que a partilha se faça segundo um regime diferente do que vigora
para o casamento?
De acordo com os artigos 1719º e 1790º do C.C., podem os cônjuges fixar um regime
diferente para a partilha, no caso de dissolução do casamento. Este regime deve ser o da
comunhão geral de bens, e não deve beneficiar em excesso nenhum dos membros do casal.

144. Conhece alguma situação em que seja possível alterar o regime de bens
durante o casamento?
O artigo 1714º do C.C. consagra o princípio da imutabilidade do regime de bens, o
que significa que, após a celebração do casamento, não é permitida a revogação ou
modificação da convenção antenupcial, nem a alteração do regime de bens legalmente fixado.
Este princípio tem em vista a proteção de um cônjuge em função do outro.
Todavia, há exceções a esta regra, contidas no artigo 1715º/ 1 do C.C.. São os casos
da revogação das disposições do artigo 1700º do C.C. - alíne a); da simples separação judicial
de bens - alínea b); da separação judicial de pessoas e bens - alínea c); e em todos os restantes
casos de separação de bens na vigência da sociedade conjugal - alínea d).

145. Se se tratar de um bem comum faz sentido aplicar o artigo 1678º/ 2 ou o


número 3?
Em matéria de administração de bens comuns do casal, a regra geral encontra-se
prevista no número 3 do artigo 1678º do C.C..

Ana Maria Varela 36


Direito da Família Perguntas de Orais

O número 2 aplica-se apenas quando somente um dos cônjuges tem a administração


dos bens.

146. Num regime de comunhão de adquiridos, os frutos dos bens próprios são
próprios ou comuns?
Para responder à questão, deve olhar-se para o disposto no artigo 1728º/ 1 do C.C.,
que determina que os bens que sejam frutos de outros são bens comuns.

147. O que são dívidas que oneram bens. Exemplos?


As dívidas que oneram bens, referidas no artigo 1694º do C.C., estão em estreita
ligação com bens adquiridos a título oneroso. Se as dívidas oneram bens comuns,
responsabilizam ambos os cônjuges, como dita o número 1 do mesmo artigo. Se as dívidas
oneram bens próprios, então são da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges, como
resulta do número 2.
Para haver oneração é indispensável uma ligação entre o bem e a dívida.
Um dos exemplos referentes ao número 2 do artigo 1694º são as dívidas de imposto
sobre o rendimento de bens.

148. Uma dívida contraída no exercício do comércio é comum?


O regime das dívidas dos cônjuges vem previsto no artigo 1690º do C.C. e seguintes.
Para determinar se uma dívida é comum, ou seja, comunicável - responsabilizando ambos os
cônjuges -, deve atentar-se ao disposto no artigo 1691º do C.C..
Neste caso, as dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges no exercício do comércio
são da responsabilidade de ambos os cônjuges, de acordo com a alínea d) do artigo 1691º do
C.C.. Só não o serão no caso de se provar que não foram contraídas em proveito comum do
casal, ou se vigorar o regime da separação de bens.

149. No artigo 1682º-A do Código Civil, o que entende por oneração?


O artigo 1682º-A do C.C. menciona as situações em que é imprescindível o
consentimento dos dois cônjuges para a alienação ou oneração de imóveis, assim como de
estabelecimentos comerciais (com exceção no regime da separação de bens).
A oneração a que se refere o preceito relaciona-se, em princípio, com contratos que
sejam avaliáveis em termos pecuniários.

150. A casa de morada de família tem algum regime associado? Tem alguma
especialidade relativamente aos demais imóveis?
A casa de morada de família tem um regime especial. Por exemplo, o constante do
artigo 1682º-A/ 2, que é o caso da alienação, oneração ou arrendamento do imóvel,
necessitando sempre do consentimento de ambos os cônjuges para o efeito. O artigo seguinte,
o 1682º- B do C.C. também estabelece algumas particularidades.
E no caso do divórcio?
O regime previsto para o caso do divórcio quando à casa de morada de família é o
disposto no artigo 1793º do C.C..

Ana Maria Varela 37


Direito da Família Perguntas de Orais

O que precisa de acontecer para se aplicar o artigo 1793º do C.C.?


Para se aplicar o artigo em questão, pressupõe-se que o bem seja próprio ou comum.
Ou seja, a casa não pode ser arrendada.

151. A e B divorciaram-se. A proprietário da casa de morada de família. B


pretende ficar com a casa porque tem 4 cães e a casa tem um grande terreno
para eles. O facto de um dos cônjuges ter 4 cães é motivo para que se requeira ao
tribunal que B fique com a casa?
O artigo 1793º-A do C.C. aplica-se quando os animais de companhia são comuns.
Deve entender-se que se requer o bem-estar do animal. Contudo, não constitui um motivo
para que B alegue ao tribunal o seu direito de permanecer com o imóvel.

152. Comprei um automóvel e não paguei. Estou casado no regime de comunhão


de adquiridos. Quem é que responde pela dívida?
No regime da comunhão de adquiridos, são bens comuns o produto do trabalho dos
cônjuges [artigo 1724º/ a) do C.C.] e os bens adquiridos na constância do casamento a título
oneroso [artigo 1724º/ b) do C.C.]. Todos os demais bens tendem a ser próprios, à luz do
artigo 1722º do C.C..
O princípio geral no que respeita às dívidas conjugais é o de que só responde pelas
dívidas quem as contraiu. No entanto, elas podem ser comunicáveis, responsabilizando
ambos os cônjuges. Essas situações estão enunciadas no artigo 1691º do C.C..
À partida, se foi feita uma compra de um veículo que não foi pago, presume-se que se
esteja na constância de um ilícito, de um crime. Nessa medida, as dívidas provenientes de
crimes são sempre incomunicáveis, nos termos do artigo 1692º do C.C.. Significa que apenas
o cônjuge devedor responde pela dívida.

153. O consentimento do artigo 1691º do C.C. tem de ser explícito?


O artigo 1691º do C.C. elenca as dívidas que são da responsabilidade dos dois
membros do casal, sendo comunicáveis.
Como forma de proteção do outro cônjuge, é necessário que seja dado o seu
consentimento [alínea a) da mesma estatuição], para o ressalvar de uma eventual
responsabilização por dívidas contraídas pelo outro cônjuge.

154. Como é que distingue, para efeitos do artigo 1678º/ 3 do C.C., os atos de
administração ordinária dos actos de administração extraordinária?
A disposição em análise respeita à administração dos bens do casal. O número 1
define a administração de bens próprios. O número 2 determina o que cada cônjuge pode
administrar. O número 3 consagra a principal regra de administração de bens comuns do
casal.
Os atos de administração ordinária são aqueles que são praticados com frequência,
com normalidade. E, por isso, envolvem uma gestão disjunta dos bens, pois que, cada um dos
cônjuges tem legitimidade para a prática desses atos recorrentes.

Ana Maria Varela 38


Direito da Família Perguntas de Orais

Por outro lado, os atos de administração extraordinária referem-se aos que são
praticados esporadicamente, contrariando o regime da normalidade. Como tal, é necessário o
consentimento do outro membro do casal, ao abrigo do artigo 1678º/ 3 do C.C., pois que a
gestão dos bens deve ser conjunta.

155. O que é uma cláusula de comunicabilidade?


Uma cláusula de comunicabilidade corresponde a uma estipulação feita no sentido de
permitir que os bens recebidos por doação, herança ou legado, por exemplo, integrem o
património comum dos cônjuges.

156. É possível que uma venda de um bem configure um ato de administração


ordinária?
Sim.
Nos termos do artigo 1682º/ 1 do C.C., a alienação ou oneração de bens móveis
comuns pode tratar-se de um ato de administração ordinária, para o qual não será necessário o
consentimento de ambos os cônjuges.

157. A, solteiro, contrai dívida para compra de casa. Após compra, A casa com B
no regime da comunhão geral. ​P​ode o banco exigir o pagamento do empréstimo?
No regime da comunhão geral de bens, as dívidas são comunicáveis,
responsabilizando tanto um como outro membro do casal, nos casos em que tenham sido
contraídas antes do casamento, como explicita o artigo 1691º/ 2 do C.C.. Ademais, nos
termos do artigo 1694º/ 1 do C.C., as dívidas que onerem bens comuns são da
responsabilidade dos dois cônjuges.
Assim sendo, o banco deve demandar os dois, ao abrigo do disposto no artigo 1695º/
1 do C.C., respondendo os bens comuns de A e B.

158. A é casado no regime de comunhão de adquiridos. A recebe por via


sucessória um imóvel. De quem é o imóvel?
O regime da comunhão de adquiridos pressupõe que sejam bens comuns do casal o
produto do trabalho dos seus membros [artigo 1724º/ a)], assim como os bens adquiridos
durante o matrimónio a título oneroso [artigo 1724º/ b)]. Os restantes bens tendem a ser
próprios, nos termos do artigo 1722º do C.C..
No caso de bens recebidos depois do casamento por via sucessória, à luz da alínea b)
do artigo 1722º/ 2 do C.C., são bens próprios do cônjuge que recebeu. O imóvel é de A.
Para alienação, carece de autorização?
Carece do consentimento dos dois cônjuges, ao abrigo do disposto no artigo 1682º-A
do C.C., a alienação do imóvel, como consta do número 1, alínea a).
Com a venda do imóvel ele compra outro imóvel. É próprio ou comum?
Se o cônjuge utilizar o imóvel, que é seu, para comprar outro bem, esse segundo é,
também bem próprio, segundo o artigo 1723º/ c) do C.C..

159. Qual a diferença entre bens comuns e encargos da vida familiar?

Ana Maria Varela 39


Direito da Família Perguntas de Orais

Os bens comuns são aqueles que pertencem a ambos os cônjuges.


Os encargos da vida familiar constituem-se como as obrigações a que os cônjuges
devem acorrer para a prosperidade do casal.

160. O que é que define a titularidade dos bens no regime de comunhão de


adquiridos?
No regime da comunhão de adquiridos, todos os bens são próprios de cada cônjuge,
com exceção do produto do trabalho dos cônjuges e dos bens adquiridos na constância do
matrimónio a título oneroso, como estatui o artigo 1724º/ a) e b). Os bens próprios são os que
constam dos artigos 1722º e 1723º do C.C..

161. Acha que se se verificarem os pressupostos da separação de bens, não há uma


dívida de um cônjuge perante o outro? Essa dívida é judicialmente exigível?
No regime da separação de bens, todos os bens tendem a ser próprios, não existindo
comunhão. Ou seja, os bens pertencem em propriedade exclusiva a um dos cônjuges, que
pode dispor deles livremente (artigo 1735º do C.C.), ou em compropriedade aos dois.
Como no regime de separação de bens, a responsabilidade não é solidária, tal como
dita o número 2 do artigo 1695º, significa que as dívidas que um cônjuge contrai são
unicamente da sua responsabilidade.

162. Todos os bens são comuns, com exceção da casa da morada de família, que é
um bem de A. Em que regime estão casados?
O casal não pode ter fixado o regime da separação de bens, uma vez que, neste, não
existem bens comuns, sendo que todos são próprios e deles podem dispor livremente os
cônjuges, como prevê o artigo 1735º do C.C..
No regime da comunhão geral de bens, não podem estar casados, porque os bens que
são levados para o casamento (pressupõe-se que a casa que A tem foi levada para o
casamento) são comuns.
O regime da comunhão de adquiridos permite que os cônjuges tenham os seus bens
próprios, que estão dispostos no artigo 1722º do C.C..
Logo, os cônjuges estão casados num regime atípico.

163. Durante casamento, A vende imóvel. Que pode fazer B (cônjuge), se não tiver
consentido, nem viverem separação de bens?
No regime da separação de bens, não há bens comuns. Os bens pertencem a um
cônjuge em propriedade exclusiva, ou a ambos, em compropriedade. Os cônjuges podem,
portanto, dispor livremente dos seus bens, como refere o artigo 1735º do C.C.
Se A e B não estipularam o regime da separação de bens, à partida terão bens comuns.
Nesta situação, tem de se observar o disposto no artigo 1682º-A, que reporta à alienação ou
oneração de bens imóveis. Esta carece do consentimento dos dois cônjuges. Por isso, se B
não deu o seu assentimento, tem a possibilidade de reagir nos termos do artigo 1687º do C.C.,
podendo anular o negócio realizado.

Ana Maria Varela 40


Direito da Família Perguntas de Orais

164. Imagine que A e B são casados no regime de comunhão de adquiridos, têm


uma casa de férias, que é bem comum. A decide fazer uma piscina sem
autorização de B, que contraiu uma dívida partilhada da herança de A.
O regime de bens da comunhão de adquiridos é aquele em que os cônjuges estipulam
que o produto do seu trabalho e os bens que sejam adquiridos a título oneroso na constância
de matrimónio são comuns, como refere o artigo 1724º/ a) e b) do C.C.. Os demais bens
tendem a ser próprios de cada um, segundo os artigos 1722º e 1723º do C.C..
A casa, que é um bem imóvel, é um bem comum. O ato de construir uma piscina na
casa de A e B constitui um ato de administração extraordinária, já que não é algo que seja
feito com normalidade e frequência. Neste sentido, à partida, o consentimento de B era
indispensável, como tutela o artigo 1678º/ 3 do C.C..
Quanto à dívida relativa à herança, a mesma deve inserir-se no âmbito do artigo 1693º
do C.C.. As dívidas que oneram aquisições a título gratuito estão em ligação com bens
adquiridos a título gratuito, como seja a herança. Segundo o número 1 deste artigo, a
responsabilidade por esta dívida é exclusiva de A. Unicamente se se estivesse perante o
regime da comunhão geral ou um regime supletivo é que se aplicaria o número 2 e, aí, a
dívida seria dos dois cônjuges.

165. Imagine que A e B são casados no regime da comunhão de adquiridos. B


recebe rendas do imóvel ​x,​ que já lhe pertencia antes do casamento. As rendas
são próprias ou comuns do casal?
No regime da comunhão de adquiridos, os bens adquiridos a título oneroso durante o
casamento são parte da comunhão, como enuncia o artigo 1724º/ b) do C.C..

166. A e B são casados em separação de bens e são comproprietários do imóvel ​x.​


Pode um deles vender a sua quota parte do imóvel?
No regime da separação de bens, os bens pertencem a um cônjuge em propriedade
exclusiva, ou a ambos em compropriedade.
Havendo bens, móveis ou imóveis, que pertençam em compropriedade a ambos os
cônjuges, qualquer um deles pode pôr termo à comunhão romana a todo o tempo, como
referem os artigos 1412º e 1413º do C.C., salvo se houver cláusula de indivisão.

167. A e B são casados em comunhão geral de bens. Têm um imóvel na Costa da


Caparica onde passam férias. Não pagam o condomínio. Quem é o responsável?
Que bens vão responder pela dívida?
O regime da comunhão geral de bens é regulado pelos artigos 1732º e seguintes do
C.C.. Caracteriza-se pela comunhão de todos os bens que sejam incomunicáveis, abrangendo
os bens presentes dos cônjuges e os bens futuros adquiridos gratuitamente (artigo 1732º).
A dívida responsabiliza ambos os cônjuges, ao abrigo do artigo 1691º/ 1 do C.C.,
respondendo os bens comuns do casal, de acordo com o artigo 1695º/ 1 do C.C..

168. Na comunhão geral há bens próprios?

Ana Maria Varela 41


Direito da Família Perguntas de Orais

No regime da comunhão geral de bens, são bens comuns todos os que a lei não
considere incomunicáveis. Como dispõe o artigo 1732º do C.C. fazem parte da comunhão os
bens que os cônjuges tinham ao tempo da celebração do casamento e os bens futuros dos
cônjuges, adquiridos a título gratuito.
Os bens que compõem o elenco do artigo 1733º do C.C. são os bens que não fazem
parte da comunhão, sendo, por isso, próprios de um dos cônjuges.

169. A e B são casados em separação de bens. B contrai uma dívida para fazer
uma reparação na casa de morada de família. O empreiteiro pretende executar a
dívida. Contra quem? A dívida é comum e eles são casados em separação de
bens? Pode ser? Que bens respondem?
O regime da separação de bens é aquele em que não há bens comuns aos cônjuges,
sendo que todos os bens são próprios de cada um. Pode, assim, um e outro, dispor livremente
dos mesmos, como estatui o artigo 1735º do C.C..
Neste sentido, a dívida contraída por B é, em princípio, uma dívida incomunicável,
sendo da sua exclusiva responsabilidade. Neste sentido, responde o património de B, como
menciona o artigo 1695º/ 1 e 2 do C.C..

170. Pode o cônjuge do executado adquirir o bem na venda judicial como um


adquirente normal?

171. A e B são casados em separação de bens. Contraem uma dívida. A é pobre. B


tem posses. Não pagam. Pode o credor demandar apenas quem tem posses?
O regime da separação de bens caracteriza-se pela inexistência de bens comuns. Ou
seja, todos os bens são próprios de um ou de outro cônjuge, podendo deles dispor livremente,
como menciona o artigo 1735º do C.C..
No que respeita às dívidas, em certos casos, ambos respondem por dívidas contraídas
apenas por um dos membros do casal, como sejam os casos do artigo 1691º do C.C..
Contudo, o credor não pode demandar apenas quem tem podes (B, aqui), uma vez
que, ao abrigo do disposto no artigo 1695º/ 2 do C.C., a responsabilidade dos cônjuges não é
solidária neste regime de bens.

172. Frutos de bens próprios são comuns?


Quando os nubentes não fixam, antes do casamento, qual o regime de bens por que
querem optar, o regime que vigora supletivamente é o da comunhão de adquiridos. Neste
regime, mantém-se como bens próprios de cada um dos cônjuges todos os que cada já um já
detinha à data do casamento e também aqueles que se venham a adquirir após o casamento a
título gratuito.
Portanto, são considerados comuns os bens produto do trabalho de cada um dos
cônjuges e os bens adquiridos durante o casamento onerosamente. Também fazem parte da
comunhão os frutos produzidos, seja pelos bens comuns do casal, seja pelos bens próprios de
cada um dos membros do casal.

Ana Maria Varela 42


Direito da Família Perguntas de Orais

Com efeito, o artigo 1728º/ 1 do C.C. dispõe que são bens próprios aqueles que se
adquiram por virtude da titularidade de bens próprios, quando não se possam considerar
como frutos desses. Os frutos dos bens próprios de cada um dos cônjuges, sejam naturais ou
civis, são considerados, assim, como bens comuns do casal.

173. Como funciona a responsabilidade por dívidas do casal quando um dos


cônjuges é comerciante?
Quando um dos cônjuges contrai uma dívida no exercício do comércio, caso em que
se aplica a alínea d) do artigo 1691º/ 1 do C.C., considera-se que a mesma é da
responsabilidade de ambos os cônjuges. Ou seja, é uma dívida comunicável, a não ser que se
prove que a dívida foi contraída para efeitos que não se relacionam com o benefício comum
do casal.

174. O dono de uma sociedade vende um imovel valioso à sua mulher por um
preço reduzido. ​Quid iuris?​
A compra e venda é um dos contratos proibidos entre cônjuges, de acordo com o
artigo 1714º/ 2, a não ser que o casal se encontre em regime de separação de bens.

175. A, casada com B em regime de comunhão geral de bens, adquire um PC


exclusivamente para lazer. Depois decide vender, sem o consentimento de B.
Pode fazer essa alienação?
O regime da comunhão geral de bens é aquele em que o património comum é
formado, como sugere o artigo 1732º do C.C., pelos bens que os cônjuges tenham ao tempo
da celebração do matrimónio, assim como pelos bens futuros, adquiridos a título gratuito. São
bens comuns todos os que a lei não considere incomunicáveis. Logo, os bens referidos no
artigo 1733º do C.C. não estão abrangidos pela comunhão.
Ao abrigo do disposto no artigo 1733º/ 1, f) do C.C. pode considerar-se o PC que A
adquire como um objeto de uso pessoal, exclusivo de A. Quanto à administração desse bem, e
mais concretamente, no que se refere à venda desse bem - móvel -, deve atentar-se ao
disposto no artigo 1682º/ 1 do C.C.. Se a administração couber aos dois cônjuges, A carece
do consentimento de B para poder alienar o PC.
Quem tem a administração deste PC?
Caso se considere que o PC é um bem próprio de A, é A que tem a administração do
mesmo, nos termos do artigo 1678º/ 1 do C.C..
Quem é que pode alienar este PC?
Como se trata de bem próprio de A, à partida pode alienar o PC, segundo o artigo
1682º/ 2 do C.C..

176. Os cônjuges podem estabelecer uma sociedade entre si?


Nos termos do artigo 1714º/ 2 do C.C., se os cônjuges não estiverem separados
judicialmente de pessoas e bens, não lhes é permitido estabelecer um contrato de sociedade
entre si.

Ana Maria Varela 43


Direito da Família Perguntas de Orais

177. Como se admite o regime de separação de bens?


O regime da separação de bens pode ser convencionado em convenção antenupcial,
subjacente ao princípio do artigo 1698º do C.C.. É um regime em que não existem bens
comuns, sendo que todos são próprios de um ou de outro membro do casal. Ao abrigo do
disposto no artigo 1735º do C.C., cada um dos cônjuges pode dispor livremente dos seus
bens.
Os casos em que a prática de atos de disposição de bens próprios do respetivo titular
carecem de consentimento do outro cônjuge são os do artigo 1682º/ 3, a), os do artigo
1682º-A/ 2 e os do artigo 1682º-B do C.C..

178. A casa de morada de família é um bem próprio?


A casa de morada de família pode ser um bem próprio de apenas um dos cônjuges.

179. Existem bens comuns num regime de separação de bens?


No regime da separação de bens, todos os bens tendem a ser próprios de um ou de
outro cônjuge, pertencendo em propriedade exclusiva a esses; ou em compropriedade a
ambos. Segundo o artigo 1735º do C.C., o cônjuge pode dispor livremente dos seus bens
próprios. Assim sendo, não há, à partida, bens comuns num regime de separação de bens.

180. Adquiro um bem, parte com bens comuns e parte com bens próprios. Vigora
o regime da comunhão de adquiridos. O bem é comum ou próprio?
O artigo 1726º do C.C. resolve a questão, estipulando, no número 1, que os bens que
sejam adquiridos em parte com dinheiro próprio e em parte com dinheiro comum (ou bens,
nesta situação), revestem a natureza da mais valiosa das duas prestações. Teria de se aferir
qual dos bens (próprio ou comum) seria mais valioso e, daí, se concluía se o bem adquirido
posteriormente era de um só ou dos dois membros do casal.

181. Em convenção antenupcial, A e B estipulam que ‘’a casa do Porto, bem de A,


passa a ser comum. Os saldos das contas bancárias que cada um dos cônjuges
tem à data continuam a ser bens próprios de cada um deles. Com exceção dos
bens previstos no artigo 1733º do C.C., todos os bens móveis adquiridos após o
casamento serão comuns.’’. Qualifique o regime de bens.
Nesta situação, não se pode configurar o regime da comunhão de adquiridos, pois
artigo 1722º/ 1, a) do C.C. estabelece que os bens que cada um dos membros do casal tiver ao
tempo da celebração do matrimónio - é o caso da casa de A - é próprio.
Não pode, igualmente, ser o regime da comunhão geral, pois os saldos bancários
permanecem próprios de cada cônjuge.
Não se tem o regime da separação de bens, pois, neste, não devem haver bens
comuns.
Nesta medida, só pode ser um regime atípico.
É válido?

Ana Maria Varela 44


Direito da Família Perguntas de Orais

Sim, pois o artigo 1733º do C.C. prevê que esses bens sejam incomunicáveis. E, nesta
convenção, fez-se a ressalva para esses bens, indicando-se que todos os bens seriam comuns,
com exceção dos elencados nesse artigo.

182. Os bens doados não se comunicam?


Nas doações entre casados, os bens doados não se comunicam, aplicando-se o artigo
1764º/ 2.

183. Quais os bens doados que não se comunicam, nos termos do artigo 1733º?
Não se comunicam, estando afastados da comunhão, os bens em que haja uma
cláusula de incomunicabilidade [alínea a)].

184. Há algum regime de bens que exclua a responsabilidade por dívidas?


O regime da separação de bens permite afastar a responsabilidade por dívidas.
Nomeadamente quando as pessoas se dedicam ao comércio, devem casar em separação de
bens, para efeitos do artigo 1691º/ 1, d) do C.C..

185. O que significa o artigo 1695º/ 2 do Código Civil?


O artigo 1695º/ 2 do C.C. estatui que ‘’No regime de separação de bens, a
responsabilidade dos cônjuges não é solidária.’’.
Ora, a responsabilidade é solidária quando o credor possa demandar, quer de um, quer
de outro, a totalidade da dívida. Se tal acontecer, quem pagou a totalidade do preço, adquire
um direito de regresso sobre o outro cônjuge, que, depois, terá de restituir na sua parte.

186. É possível um mandato entre cônjuges irrevogável?


Segundo o artigo 1678º/ 2, g) do C.C., permite-se a administração dos bens próprios
do outro cônjuge se o outro lhe conferir mandato para tal. A partir daqui, o cônjuge a quem
foi conferido um mandato, está submetido ao regime da responsabilidade civil obrigacional,
nos termos dos artigos 798º e 799º do C.C..
O mandato conjugal é livremente revogável, ainda que tenha sido conferido no
interesse do mandatário ou de terceiro. Presume-se, de igual modo, que seja gratuito, mesmo
que tenha por objeto atos que o mandatário pratique por profissão.

187. A e B estão casados no regime de comunhão de adquiridos. A adquire


automóvel de colecção por sucessão e pretende vendê-lo sem autorização de B.
Pode?
O regime de comunhão de adquiridos, previsto nos artigos 1721º e seguintes do C.C.,
vigora como regime convencional. Fazem parte da comunhão o produto do trabalho dos
cônjuges e os bens que eles adquiram na constância do matrimónio a título oneroso, como
refere o artigo 1724º do C.C.. Os demais bens tendem a ser próprios de um ou de outro
membro do casal.
No entanto, o artigo 1722º do C.C. enuncia um elenco de bens que são próprios. Nesta
lista, inserem-se, nomeadamente na alínea b) do número 1, os bens que advenham a um

Ana Maria Varela 45


Direito da Família Perguntas de Orais

cônjuge por sucessão depois do casamento. Ora, se A adquiriu o automóvel por sucessão,
esse bem é próprio de A.
Como tal, A tem o poder de administração desse bem e pode, sem o consentimento de
B, vender o bem móvel, nos termos do artigo 1682º/ 2 do C.C..

188. É possível um contrato de troca entre cônjuges?


O contrato de troca, ou escambo, é um contrato de natureza onerosa. Como se
assemelha ao contrato de compra e venda, integra-se no artigo 1714º/ 2 do C.C., e não pode
ser feito.

189. O que leva à proibição do contrato de compra e venda entre os cônjuges?


O contrato de compra e venda é proibido entre cônjuges, ao abrigo do constante do
artigo 1714º/ 2 do C.C., exceto no regime da separação de bens.
Esta proibição deve-se ao facto de ser difícil provar simulações e de tentar evitar
doações simuladas.

190. Porque é que a lei permite a doação e proíbe a compra e venda?


A doação é revogável e a compra e venda não é.

DEVERES CONJUGAIS
191. Quais os casos em que se deve aplicar o artigo 1678º/ f) e o artigo 1679º do
Código Civil (qual é a diferença)?
O artigo 1678º/2, f) do C.C. deve ser exclusivamente aplicado quando se verifique a
observância de dois pressupostos cumulativos: a impossibilidade de exercer a administração
por parte de um dos cônjuges que está em lugar remoto ou não conhecido; e a falta de
procuração conferida para administração desses bens. Assim, estes bens são da administração
de apenas um dos cônjuges.
O artigo 1679º do C.C. refere-se aos casos em que o cônjuge que não administra os
bens pode tomar providências relativamente a essa mesma administração, feita, neste caso,
pelo outro membro do casal.

192. O que define a coabitação?


A coabitação corresponde a um dever conjugal, que vincula reciprocamente os
cônjuges. Como tal, engloba uma tripla comunhão: comunhão de leito (partilha de cama e
prática de atos sexuais), comunhão de mesa (refeições tomadas em conjunto e partilha de
recursos) e comunhão de habitação (convivência dos cônjuges a tempo inteiro ou habitual na
casa de morada de família), como consta do artigo 1673º do C.C..

193. Quais são os deveres dos cônjuges?


Os cônjuges estão vinculados, entre si, a deveres recíprocos, dispostos no artigo 1672º
do C.C.. Esses deveres são: o dever de respeito, o dever de fidelidade, o dever de cooperação
e o dever de assistência. Estes são irrevogáveis, ao abrigo dos artigos 1618º e 1699º/ 1 do

Ana Maria Varela 46


Direito da Família Perguntas de Orais

C.C.. Se algum destes deveres for violado, existe a permissão para que o outro cônjuge
obtenha o divórcio, sem depender de um prazo de separação de facto [artigo 1781º/ d) do
C.C.], aplicando-se, de igual modo, o instituto da responsabilidade civil.
O dever de respeito constitui a obrigação de não lesar a honra do parceiro, sendo
ilícitos os comportamentos daquele que lesar a integridade moral do outro.
O dever de fidelidade incorpora um dever duplo de abstenção: um dever de fidelidade
física, que impede o adultério e a prática de atos sexuais com terceiro; e um dever de
fidelidade mora, que impede qualquer ligação amorosa não carnal de um cônjuge com
terceiro. A obrigação de exclusividade sexual decorre da imagem legal do casamento como
plena comunhão de vida, de acordo com o artigo 1577º do C.C., e monogâmica, segundo o
artigo 1601º/ c) do C.C..
O dever de coabitação consiste numa comunhão tripla: de leito, de mesa e de
habitação. A comunhão de leito envolve a prática de atos sexuais. A comunhão de mesa
refere-se às refeições tomadas em conjunto, assim como à partilha de recursos. A comunhão
de habitação diz respeito à convivência habitual dos membros do casal na casa de morada da
família, como consta do artigo 1673º do C.C..
O dever de cooperação tem a ver com a obrigação de socorro e auxílio mútuos (artigo
1674º do C.C.), pressupondo a intervenção na esfera do outro cônjuge, apoiando o outro na
doença, ajudando-o a recuperar. Envolve a cooperação no sustento e educação dos filhos e
apoio a outros familiares que estejam a cargo de um e de outro cônjuge (artigo 1676º/ 1 do
C.C.).
O dever de assistência é um dever estruturalmente patrimonial, requisitando a
obrigação de prestar alimentos e a obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar,
como resulta do artigo 1675º/ 1 do C.C..

194. Distinga o dever de assistência do dever de cooperação?


O dever de assistência é um dever recíproco dos cônjuges, que os vincula, e que é
essencialmente de índole patrimonial, envolvendo prestações suscetíveis de avaliação
pecuniária. Por conseguinte, integra as obrigações de prestar alimentos e de contribuir para os
encargos da vida familiar, como dita o artigo 1675º/ 1 do C.C..
O dever de cooperação engloba, segundo o artigo 1674º, a obrigação de socorro e
auxílio entre os dois membros, assim como o apoio no sustento dos filhos e o apoio a outros
familiares a seu cargo, como refere o artigo 1676º/ 1 do C.C.. Este dever vincula os cônjuges
a trabalhar para a prosperidade comum.

195. O dever de assistência abrange apenas os encargos normais ou todos os


encargos?
O dever de assistência é um dever estruturalmente patrimonial, que envolve, por isso,
prestações suscetíveis de avaliação monetária. Incorpora, designadamente, a obrigação de
prestar alimentos e a obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar, expressa no
artigo 1675º/ 1 do C.C.. Este dever vincula reciprocamente os cônjuges ao seu cumprimento.

196. Imagine que o cônjuge violou o dever de fidelidade. Pode pedir o divórcio?

Ana Maria Varela 47


Direito da Família Perguntas de Orais

O dever de fidelidade constitui a obrigação de ser fiel para com o outro cônjuge,
abstendo-se da prática de atos sexuais com terceiro e da formação de qualquer ligação
amorosa com outrem. Diz respeito a uma obrigação de exclusividade sexual e monogâmica.
A violação deste dever conjugal (ou de qualquer outro) permite a obtenção imediata
do divórcio por um dos cônjuges, assim como a aplicação do instituto geral da
responsabilidade civil.
Contudo, assente no princípio da rutura, este dever conjugal só constitui fundamento
para divórcio se significar uma rutura no matrimónio, ao abrigo do artigo 1781º/ d) do C.C..

197. Como é cumprido o dever de contribuir para os encargos da vida familiar? O


cônjuge que ganha menos fixa eximido de contribuir?
A obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar insere-se no dever de
assistência, segundo o artigo 1675º/ 1 do C.C.. Este é um dever de índole estruturalmente
patrimonial, pelo que envolve prestações suscetíveis de avaliação pecuniária.
Nesta medida, e de acordo com o artigo 1676º/ 1 do C.C., o dever de contribuir para
os encargos da vida familiar deve fazê-lo em harmonia com as suas possibilidades, e, neste
caso, na medida do rendimento que aufere. O mesmo preceito refere que esta obrigação
incumbe a ambos os cônjuges. Portanto, qualquer dos membros deve fazê-lo,
independentemente de ganhar mais ou menos do que o outro.

198. O que pode um cônjuge fazer se o outro não contribuir para os encargos da
vida familiar?
O outro cônjuge pode reagir nos termos do artigo 1676º/ 4, exigindo que lhe seja
diretamente entregue a parte dos rendimentos que o tribunal fixar, e que não haja sido paga.

199. O que é a ‘’renúncia de forma excessiva’’ expressa no artigo 1676º/ 2 do


Código Civil?
Suponha-se que o Cristiano Ronaldo deixa de trabalhar e passa a dedicar-se ao lar. O
outro cônjuge terá de compensar de forma excessiva.

DOAÇÕES PARA CASAMENTO


200. É possível a doação entre casados?
As doações para casados inserem-se no âmbito dos contratos entre cônjuges.
Regem-se pelos artigos 1761º a 1766º do C.C. e, subsidiariamente, pelas regras dos artigos
940º a 979º do C.C., atinentes ao contrato de doação.
As doações entre casados estão sujeitas a redução por inoficiosidade, como resulta do
artigo 2168º e seguintes do C.C..
Só não são válidas quando vigore imperativamente o regime da separação de bens,
como dita o artigo 1762º do C.C. (artigo 1720º do C.C.).
Quanto à forma, a doação de coisas móveis só é válida se constar de documento
escrito, como impõe o artigo 1763º/ 1 do C.C.. A doação de bens imóveis realiza-se por

Ana Maria Varela 48


Direito da Família Perguntas de Orais

escritura pública ou documento particular autenticado, nos termos gerais do artigo 947º/ 1 do
C.C..
O artigo 1763º/ 2 do C.C. proíbe os membros do casal de fazerem doações recíprocas
no mesmo ato. E só podem ser doados bens próprios do doador, como afirma o artigo 1764º/
1 do C.C.. Por fim, é inválida a doação entre cônjuges de bens comuns.

201. Pode ser revogada (a doação)?


Sim.
As doações estão sujeitas a um princípio de livre revogabilidade, previsto no artigo
1765º do C.C.. Esta revogação só pode ser feita por quem doa (número 1).

202. Imagine que A e B casam. A é o tio e B sobrinha. Depois do casamento, A faz


uma doação a B. Isto é possível?
Em primeiro lugar, A e B casaram com um impedimento matrimonial em constância.
Segundo o artigo 1604º/ c) do C.C., o parentesco no terceiro grau da linha colateral é um
impedimento impediente que obsta à celebração do matrimónio. Ora, A e B são parentes no
terceiro grau da linha colateral, pois são tio e sobrinha. Contudo, apesar de obstar ao
casamento, este impedimento não o torna anulável se chegar a celebrar-se. Pode, inclusive,
confirmar-se por dispensa de uma autoridade, como resulta do artigo 1609º/ 1, a) do C.C..
Neste seguimento, estando casados com impedimento impediente, uma das sanções
atribuídas, já que o casamento se pode convalidar, é a incapacidade para receber do seu
cônjuge qualquer benefício por doação ou testamento, como se retira do artigo 1650º/ 2 do
C.C..

203. A e B são casados no regime da separação de bens. Durante a vigência do


casamento, A doa a B um bem. Pode?
Quando vigore o regime de separação de bens entre os cônjuges, não há bens comuns.
Os bens são próprios de cada um, que pode dispor deles livremente, aplicando-se o artigo
1735º do C.C..
Assim, de acordo com o artigo 1762º do C.C., este regime impede que seja feita a
doação entre casados. Também existe esta proibição quando vigore o regime imperativo da
separação de bens, ao abrigo do disposto no artigo 1720º do C.C..
Concluindo, A não poderia doar um bem a B.
A podia revogar unilateralmente a doação?
Sim, A teria essa faculdade. Como consta do artigo 1765º/ 1 do C.C., as doações entre
casados podem ser revogadas a todo o tempo pelo doador.

204. Em que casos são proibidas as doações entre casados?


As doações entre casados não são permitidas no caso de vigorar um regime de
separação de bens entre eles, como dispõe o artigo 1762º do C.C., aplicando-se, também, ao
artigo 1720º do C.C..

Ana Maria Varela 49


Direito da Família Perguntas de Orais

205. O que distingue o regime das doações entre cônjuges do regime geral das
doações?

206. Porque é que as doações entre casados de bens móveis só podem ser feitas por
escrito?
Ao abrigo do constante do artigo 1763º/ 1 do C.C., a doação de coisas móveis está
sujeita a uma forma especial, que é a de documento escrito. É assim, porque se trata de um
contrato entre cônjuges, que merece uma proteção especial.

207. É possível um contrato de sociedade entre os cônjuges?


Existe um impedimento ao contrato de sociedade entre os cônjuges, apontado pelo
artigo 1714º/ 2 do C.C.. Porém, se os cônjuges se encontrarem separados de pessoas e bens,
esse contrato já é lícitio.
Também é possível a participação dos dois cônjuges na mesma sociedade de capitais,
como estatui o artigo 1714º/ 3 do C.C..

208. A e B, em regime de comunhão de adquiridos, podem constituir uma


sociedade de advogados?
Não.
Só é possível aos cônjuges constituir uma sociedade se se encontrarem separados de
pessoas e bens. Caso contrário, como dita o artigo 1714º/ 2 do C.C., o contrato de sociedade é
proibido.

209. Que contratos entre cônjuges são proibidos por lei?


São proibidos, pelo artigo 1714º/ 2 do C.C., os contratos de compra e venda e os
contratos de sociedade celebrados entre cônjuges (exceto quando se encontrem separados de
pessoas e bens).

210. Qual a razão de ser da proibição legal da venda entre cônjuges? Base legal?
O contrato de compra e venda é proibido por lei entre membros do casal (artigo
1714º/ 2 do C.C.). Este impedimento existe, uma vez que os contratos de compra e venda não
são revogáveis. Deste modo, protegem-se os cônjuges.

211. O que acontece se houver uma doação para casamento e depois os cônjuges se
divorciam? A doação é válida?
Nos termos do artigo 1766º/ 1, c) do C.C., ocorrendo divórcio ou separação judicial
de pessoas e bens, após ter havido uma doação para casamento, essa mesma caduca.
Imagine que o cônjuge ficou muito amigo do outro e quer que o bem continue a
pertencer ao outro. O que pode fazer nesse caso?
Pode fazer uma nova doação.

212. O legislador previu algum caso em que a doação não caduca?

Ana Maria Varela 50


Direito da Família Perguntas de Orais

O legislador previu, no artigo 1791º/ 2 do C.C., um caso em que a doação possa


reverter para os seus filhos. Isto é, o doador pode determinar que o benefício se transfira para
os filhos comuns do casal.

DIVÓRCIO/ SEPARAÇÃO
213. O divórcio em Portugal é um divórcio-sanção?
O divórcio resulta da extinção do vínculo matrimonial, sendo uma causa da sua
dissolução. Pode constituir, como dispõe o artigo 1773º do C.C., divórcio por mútuo
consentimento ou divórcio sem consentimento de um dos cônjuges. O primeiro é requerido
na conservatória do registo civil por ambos os cônjuges, que estão em acordo, ou no tribunal,
caso os cônjuges não acompanhem o requerimento de divórcio com todos os acordos que são
exigidos nos termos do artigo 1775º/ 1 do C.C.. O segundo é requerido por apenas um dos
cônjuges, contra o outro, no tribunal, com fundamento em determinada causa, como consta
do artigo 1773º/ 3 e 1781º do C.C..
Dentro do divórcio sem consentimento de um dos cônjuges, a que se pode chamar
divórcio litigioso em sentido restrito, existem diversas causas a apreciar, que fazem distinguir
entre variados modelos. Existe o modelo divórcio-sanção, que pressupõe um ato ilícito e
culposo de um cônjuge e pretende constituir-se como uma consequência desse ato, razão pela
qual só pode ser apelado pelo cônjuge inocente. Existe o modelo de divórcio-falência, que
resulta de um estado de vida conjugal intolerável, a que se pretende pôr termo; neste caso,
qualquer um dos cônjuges pode requerer o divórcio, independentemente de ter contribuído
mais ou menos para esse estado de crise matrimonial. Existe, por fim, o modelo de
divórcio-remédio, que também pressupõe um estado de vida conjugal intolerável, mas que
emerge, com ou sem culpa, por causa de um dos cônjuges, visando permitir ao outro que se
liberte do casamento.
O sistema português atual de divórcio litigioso é um sistema misto, que combina os
modelos de divórcio-falência e de divórcio-remédio, como se retira do artigo 1785º/ 1 do
C.C..
Antes da vigência da Lei n.º 61/ 2008, de 31 de outubro, o sistema português
combinava os três modelos, incluindo o divórcio-sanção. Contudo, verificou-se uma mudança
em 2008, pois não fazia sentido manter o divórcio fundado em violação de deveres conjugais.
Hoje em dia, considera-se que os cônjuges devem ser sancionados neste âmbito, mas no
âmbito da responsabilidade civil.

140. Onde estão previstos os efeitos do divórcio?


Os efeitos do divórcio estão consagrados nos artigos 1788º do C.C. e seguintes.

214. A e B são casados. Um dia, B decide que não paga nada do que estiver
relacionado com A. Deixa de pagar a água da casa, a luz, telefone, etc. O que é
que A pode fazer? Só pode pedir odivórcio? Ou tem outros meios?
Se A e B estão unidos por um vínculo matrimonial, existem deveres conjugais que os
vinculam reciprocamente. Um desses deveres é o dever de assistência (artigo 1675º do C.C.),

Ana Maria Varela 51


Direito da Família Perguntas de Orais

que corresponde à obrigação de contribuir patrimonialmente para com o outro cônjuge.


Inserem-se nele a obrigação de prestar alimentos e a obrigação de contribuir para os encargos
da vida familiar (artigo 1675º/ 1 do C.C.). Como tal, se B violar esse dever conjugal, A tem
legitimidade para requerer imediatamente o divórcio, se assim pretender. Esta situação
integra-se na alínea d) do artigo 1781º do C.C., constituindo-se como um fundamento para
pedir o divórcio - dissolução do casamento.
À partida, A também pode pedir uma indemnização a B pela falta de pagamento.

215. Que modalidades de divórcio é que conhece?


O divórcio constitui uma causa da dissolução do casamento, decretada pelo tribunal
ou pelo conservador do registo civil, a pedido de um ou de ambos os cônjuges.
O artigo 1773º/ 1 do C.C. aponta para a distinção entre divórcio por mútuo
consentimento e devórcio sem consentimento de um dos cônjuges.
O divórcio por mútuo consentimento é consequência, naturalmente, do acordo entre
os dois cônjuges quando à dissolução do matrimónio. É requerido na conservatória do registo
civil pelos dois, ou no tribunal se eles não acompanharem o requerimento de divórcio com
todos os acordos que são exigidos no disposto no artigo 1775º/ 1 do C.C.. Este pode ser por
mútuo consentimento no que se refere à dissolução do casamento, ou quanto a matérias
complementares.
O divórcio sem consentimento de um dos cônjuges acontece quando as duas partes
não se encontram de acordo, em princípio, quanto ao fim do matrimónio. É requerido no
tribunal por um dos cônjuges contra o outro, e fundamenta-se em certa causa, como
explicitam os artigos 1773º/ 3 e 1781º do C.C.. Também se designa como divórcio litigioso
em sentido restrito. Pode ser convertido em divórcio por mútuo consentimento, na hipótese
de existir acordo entre os cônjuges, como resulta do artigo 1779º/ 2 do C.C..
Outra distinção faz-se entre o divórcio judicial e o divórcio administrativo. A primeira
modalidade surge quando o divórcio é decretado pelo tribunal, e é onde se pode inserir o
divórcio litigioso em sentido amplo, visto que só pode ser requerido no e decretado pelo
tribunal. Já o divórcio administrativo acontece quando é decretado pela conservatória do
registo civil, onde se pode enquadrar o divórcio por mútuo consentimento.

216. O que é o divórcio-ruptura?


O modelo de divórcio constatação da rutura do casamento, ou modelo
divórcio-falência constitui uma das causas de extinção do vínculo matrimonial. Surge em
situações em que o estado de vida conjugal já seja intolerável para os cônjuges, quer tenha
sido causado por um ou por outro cônjuge. Nesta medida, qualquer uma das partes pode pôr
fim ao casamento, requerendo o divórcio.

217. O cônjuge culpado pode pedir o divórcio-ruptura?


No divórcio rutura, qualquer um dos cônjuges pode pedir o divórcio,
independentemente de ter contribuído mais ou menos para o estado de vida conjugal
intolerável em que se encontrava o seu matrimónio.

Ana Maria Varela 52


Direito da Família Perguntas de Orais

218. A separação de facto é um tipo de divórcio?


Um casal pode viver em separação de facto durante anos, sem que venha a ser
decretado o divórcio ou a separação de pessoas e bens. Aliás, podem assim viver até à morte
de um deles, momento em que se dissolverá o casamento.
A separação de facto não é, por conseguinte, um tipo de divórcio. No entanto, uma
das suas causas, quando se vejam preenchidos os elementos objetivo (ausência de coabitação)
e subjetivo (propósito de não retomar a coabitação), é o divórcio. Se as partes tencionarem,
podem requerer o divórcio, pois a separação de facto, constitui um dos fundamentos do
divórcio por rutura da vida em comum, como prevê artigo 1781º/ a) do C.C..

219. O que é a separação de facto?


A separação de facto é uma circunstância que resulta do preenchimento de dois
elementos: a falta de vida em comum dos cônjuges (ausência de coabitação) e o propósito de
não restabelecer a vida em comum (de não retomar a coabitação) - propósito que pode ser de
um ou de ambos os cônjuges.
Tem como principais efeitos o divórcio e a separação de pessoas e bens [constitui um
fundamento do divórcio por rutura da vida em comum, como resulta da alínea a) do artigo
1781º], a conversão da obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar (dever de
assistência) em obrigação de prestar alimentos, e o afastamento da presunção de paternidade -
no campo da filiação - do marido da mãe se o nascimento do filho ocorrer passados 300 dias
desde a data da sentença de cessação da coabitação, como dispõe o artigo 1829º/ 1 e 1829º/ 2,
b) do C.C..

220. Interprete o artigo 1675º/ 2 do C.C..


O artigo 1675º/ 2 do C.C. dispõe que o dever de assistência se mantém quando haja
separação de facto, não imputável a qualquer dos cônjuges.
O dever de assistência é um dever conjugal de índole estruturalmente patrimonial, que
envolve a obrigação de prestar alimentos e a obrigação de contribuir para os encargos da vida
familiar, como revela o artigo 1675º/ 1 do C.C..
A separação de facto pressupõe o preenchimento de dois pressupostos: a ausência de
coabitação dos cônjuges e a falta de vontade em restabelecer a coabitação.
Este preceito significa, assim, que quem se encontre nestas circunstâncias não fica
inibido de prestar assistência patrimonial ao outro cônjuge, nomeadamente de contribuir com
alimentos e para os encargos da vida familiar. Isto acontece quando nenhum dos cônjuges
tenha culpa na separação.

221. Um marido e mulher podem viver em separação de facto na mesma casa?


À partida, não. Para existir separação de facto, é imprescindível a reunião dos dois
elementos: elemento objetivo, que se relaciona com a falta de vida em comum dos cônjuges e
consequente ausência de coabitação; e elemento subjetivo, que se refere à vontade de um ou
dos dois cônjuges de não retomar a coabitação.
Contudo, a verdade é que pode existir separação de facto mesmo que os cônjuges
vivam na mesma casa. Para tal, basta que não convivam um com o outro e que um deles não

Ana Maria Varela 53


Direito da Família Perguntas de Orais

pretenda restabelecer a vida em comum. Basta, igualmente, que não tenham comunhão de
leito, que não tomem refeições juntos e que evitem a companhia um do outro.

222. Suponha que um dos cônjuges vai trabalhar para o estrangeiro. Haverá
separação de facto?
Não há separação de facto quando os cônjuges não possam viver juntos, porque um
deles se deslocou para o estrangeiro para exercer funções públicas, numa localidade distante
da casa de morada de família,

223. Qual o sentido e efeito da separação judicial de pessoas e bens?


Quanto aos efeitos que provoca, no âmbito dos deveres conjugais, a separação de
pessoas e bens afeta dois deles, nos termos do artigo 1795º-A do C.C.. Extingue-se o dever de
coabitação, pois deixa de haver uma casa de morada de família. E extingue-se o dever de
assistência, ou assume a configuração de obrigação de alimentos a cargo de um dos cônjuges
(artigo 2016º/ 1, 2 e 3 do C.C.).
No domínio do nome e da filiação, os efeitos são diferentes dos que são estabelecidos
para a situação de divórcio: o cônjuge que acrescentou ao seu nome apelidos do outro
conserva-os, à luz do artigo 1677º-B do C.C. (sendo o seu uso privado quando ‘’lese
gravemente os interesses morais do outro cônjuge ou da sua família’’ - artigo 1677º-C do
C.C.). No concernente à filiação, cessa a presunção de paternidade do marido da mãe se o
nascimento do filho ocorrer passados 300 dias depois da conferência de separação de pessoas
e bens, como afirma o artigo 1829º/ 1 e o artigo 1829º/ 2, a) e b) do C.C.. Já não está vedado
o acesso à PMA dos cônjuges.
No que toca aos bens, a separação de facto produz os efeitos que produz a dissolução
do casamento (artigo 1795º-A, 2ª parte do C.C.). Cessam, para o futuro, as relações
patrimoniais entre o casal e deixam de ser aplicáveis as regras sobre administração e
disposição de bens, tal como as regras sobre dívidas dos cônjuges. Deixam de haver
restrições quanto aos contratos de compra e venda e de sociedade entre os dois, que são
permitidos, como consta do artigo 1714º/ 2 do C.C.. Por fim, quem esteja separado de
pessoas e bens não tem o direito de suceder como herdeiro legal do seu cônjuge, ao abrigo
dos artigos 2133º/ 3 e 2157º do C.C..

224. O que é a separação de pessoas e bens?


A separação de pessoas e bens é um instituto que modifica o vínculo matrimonial,
extinguindo as relações patrimoniais e o dever de coabitação entre os cônjuges. A si, é
aplicável o regime do divórcio, como estatui o artigo 1794º do C.C..

225. Comente o artigo 1675º/ 2 do C.C..


Um dos efeitos da separação de facto (que pressupõe a falta de coabitação dos
cônjuges e o propósito de não restabelecer a vida em comum) é ao nível do dever de
assistência. Este é convertido em obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar
em obrigação de prestar alimentos. Se a separação for imputável a um dos cônjuges, ou a

Ana Maria Varela 54


Direito da Família Perguntas de Orais

ambos, a obrigação só incumbe ao principal culpado. E esta obrigação só pode ser imposta
pelo tribunal ao cônjuge inocente.

226. O sistema de divórcio em Portugal é um sistema de divórcio-sanção.


Concorda ou discorda?
A afirmação é incorreta. O sistema jurídico português integra um modelo de div´rocio
misto, com os divórcio-rutura e divórcio-remédio, ambos relacionados com um estado de
vida conjugal intolerável.
O divórcio-sanção não é um dos modelos que Portugal integra desde 2008, pois não
se atribui mais uma sanção a um dos cônjuges pelo ato ilícito e culposo que praticou contra a
outra parte, antes ficando confinado a responsabilidade civil.

227. Em que situação é que a culpa não é aferida?


No modelo divórcio constatação de rutura, ou modelo de divórcio-falência, a culpa
dos cônjuges não é aferida para o requerimento da dissolução do matrimónio. Isto é,
independentemente do maior grau ou menor grau de culpa dos cônjuges quanto ao estado de
vida conjugal intolerável, qualquer um dos dois pode requerer o divórcio.

228. O cônjuge pretensamente culpado pode exigir o divórcio? Em que


circunstâncias?
O cônjuge que se considere culpado pode requerer o divórcio apenas no domínio do
modelo de divórcio-rutura.
Assim é, pois no caso do divórcio-sanção, como o requerimento de dissolução do
casamento é resultado de um ato ilícito e culposo praticado por um dos membros do casal,
apenas o outro - inocente - tem legitimidade para exigir o divórcio, para que se possa libertar
da união. Também na hipótese do modelo de divórcio-remédio, a culpa dos cônjuges importa
para o pedido de divórcio, sendo que apenas o cônjuge que não é culpado pela situação
intolerável que o casal atravessa pode fazer esse requerimento, igualmente para se liberar do
casamento.
Quanto ao modelo de divórcio-constatação de rutura, qualquer dos cônjuges pode
requerer o divórcio, independentemente do grau de culpa com que contribuiu para o estado de
vida conjugal intolerável em que se encontram.

229. Imagine que o cônjuge violou o dever de fidelidade. Pode pedir o divórcio?
A violação de qualquer dos deveres conjugais permite a obtenção imediata do
divórcio por um dos cônjuges, ao abrigo do artigo 1781º/ d) do C.C.. Contudo, esta
disposição aplica-se apenas nos casos em que se verifique a rutura definitiva do casamento,
pelo que, se os cônjuges prosseguirem com a sua vida normal, ignorando este facto, o pedido
não tem razão fundamentada para ser feito.
Se o requerimento de divórcio fosse legítimo, poderia ser, porém, unicamente feito
pelo cônjuge culpado no domínio de um modelo de divórcio-constatação de rutura, que é
independente da culpa.

Ana Maria Varela 55


Direito da Família Perguntas de Orais

230. Imagine que o cônjuge sabia da relação extra matrimonial do outro cônjuge.
Soube durante 4 anos. Pode vir agora pedir o divórcio?
O cônjuge pode vir a pedir o divórcio com fundamento em violação de um dos
deveres conjugais - o dever de fidelidade - [que se insere no artigo 1781º/ d) do C.C.], quando
isso signifique a rutura definitiva do casamento.
Num caso em que um dos membros do casal ignore o facto de o outro permanecer em
violação do dever de fidelidade e, mesmo assim, se manter o casamento, sem qualquer tipo de
intolerância no estado de vida conjugal, isso não constitui um fundamento para requerer o
divórcio.

231. Qual é a entidade competente para declarar o divórcio?


O divórcio pode ser declarado na conservatória do registo civil, pelo conservador, nos
casos dos artigos 1775º e 1776º do C.C., por exemplo. Ou pode, no caso de existir uma
remessa para o tribunal, sê-lo feito pelo juiz.

232. A compensação de culpa extingue o direito ao divórcio?


Caso o divórcio seja provocado por um ato ilícito e culposo de um dos cônjuges, o
outro cônjuge (inocente) pode fazer o pedido de divórcio. Este modelo de divórcio
(divórcio-sanção) não é, contudo, hoje parte da ordem jurídica portuguesa. O que se pode
fazer nestas situações é requerer o divórcio, mas o outro cônjuge, o culpado, fica sujeito a
responsabilidade civil. Ou seja, deve indemnizar o outro pelos prejuízos causados. A isso se
chama de compensação.
A compensação não deve extinguir o direito ao divórcio.

233. O que significa a cessão de afinidade entre as pessoas que se divorciam?


O vínculo de afinidade é, como dispõe o artigo 1584º do C.C., aquele que liga cada
um dos cônjuges aos parentes do outro. Por isso, depende da celebração de um casamento,
conjugado com a procriação.
Ora, quando termina o casamento, a afinidade cessa. Mas isto apenas acontece, se
houver divórcio, pois se o casamento se dissolver por morte, o vínculo da afinidade continua
a existir.

234. Em que casos na separação de facto se permite a conversão em divórcio?


Para efeitos do artigo 1795º-C do C.C., permite-se a conversão da separação em
divórcio. Nos termos do número 1, se tiver passado 1 ano desde a sentença que tiver
decretado a separação judicial de pessoas e bens sem o consentimento do outro cônjuge ou
por mútuo consentimento, sem que os cônjuges se tenham reconciliado, pode converter-se a
separação em divórcio. Segundo o número 2, basta que os cônjuges peçam ambos esta
conversão e deixa de ser necessário o decurso do prazo referido no artigo 1795º-C/ 1 do C.C..

235. Qual o impedimento que deixa de existir entre as pessoas divorciadas?


Deixa de existir o impedimento dirimente absoluto constante do artigo 1601º/ c) do
C.C., pressupondo-se que o casamento anterior tenha sido dissolvido por divórcio.

Ana Maria Varela 56


Direito da Família Perguntas de Orais

Também deixa de figurar o impedimento relativo à afinidade, nos termos do artigo


1602º/ d) do C.C., pois a relação de afinidade cessa com o divórcio.

236. O que distingue a separação de pessoas e bens da simples separação de


pessoas e bens?
A separação de pessoas e bens respeita ao instituto que altera o vínculo matrimonial,
extinguindo as relações patrimoniais e o dever de coabitação entre os cônjuges. A este regime
é aplicável o mesmo do divórcio, segundo o artigo 1794º do C.C.. Quanto às modalidades,
pode ser por mútuo consentimento ou sem consentimento de um dos cônjuges (artigo 1733º
do C.C.), sendo que a primeira não é necessariamente decretada pelo tribunal. Em matéria de
efeitos, relativamente aos deveres conjugais, a separação de pessoas e bens afeta o dever de
coabitação e o dever de assistência (que também pode assumir a natureza de obrigação de
prestar alimentos). Os demais deveres conjugais tendem a persistir. No domínio do nome, o
cônjuge que acrescentou apelidos do outro conserva-os (artigo 1677º-B/ 1), a não ser que isso
signifique que possa lesar os interesses morais do cônjuge ou da sua família, como é visível
pelo artigo 1677º-C do C.C.. No campo da filiação, cessa a presunção de paternidade do
marido da mãe se o nascimento ocorrer passados 300 dias depois da conferência de separação
de pessoas e bens por mútuo consentimento, como refere o artigo 1829º/ 1 e 2, a) e b) do
C.C.. No tocando aos efeitos predominantemente matrimoniais, a separação de pessoas e bens
produz os mesmos efeitos que produziria a dissolução do casamento, assim como determina o
artigo 1795º-A, 2ª parte do C.C.. Cessam as relações patrimoniais entre os cônjuges para o
futuro e deixa de haver o direito de suceder como herdeiro legal do outro cônjuge, ao abrigo
dos artigos 2133º/ 3 e 2157º do C.C.. A separação de bens pode cessar se se verificar uma das
causas enunciadas no artigo 1795º-B do C.C.: ou a reconciliação dos cônjuges ou a
dissolução do casamento.
Por sua vez, a simples separação judicial de pessoas e bens corresponde a uma
hipótese superveniente de bens que se traduz numa modificação da relação matrimonial,
apresentando carácter necessariamente litigioso. Por outras palavras, a separação só pode ser
decretada em ação intentada por um dos cônjuges contra o outro, aplicando-se o artigo 1768º
do C.C.. Tem por fundamento o perigo de um cônjuge ‘’perder o que é seu pela má
administração do outro’’ membro do casal (artigo 1767º do C.C.). A legitimidade para
intentar a ação de simples separação judicial de pessoas e bens incumbe, normalmente, ao
cônjuge lesado, como se retira do artigo 1769º/ 1, 1ª parte do C.C.. Na hipótese de o lesado
ser maior acompanhado, então a ação pode ser intentada pelo seu acompanhante e mediante
autorização judicial (2ª parte do mesmo artigo). Supondo-se que o acompanhante do cônjuge
lesado é o outro cônjuge, a ação só pode ser intentada em nome dele, por um parente na linha
reta ou até ao terceiro grau da linha colateral, ou pelo Ministério Público, seguindo-se o que
tutela o artigo 1769º/ 2 do C.C.. Como efeito da simples separação judicial de pessoas e bens,
passa a vigorar o regime matrimonial da separação, partilhando-se o património comum, ao
abrigo do constante do artigo 1770º/ 1 do C.C.. Por fim, a simples separação judicial de
pessoas e bens é irrevogável, nos termos do artigo 1771º do C.C..

Ana Maria Varela 57


Direito da Família Perguntas de Orais

237. Bens levados para o casamento adquiridos a título gratuito são bens próprios
ou comuns?
Depende do regime.
Na comunhão de adquiridos, os bens seriam próprios. Na comunhão geral de bens, os
mesmos seriam comuns.
E os rendimentos destes bens, são próprios ou comuns na comunhão de
adquiridos?
Pela interpretação do artigo 1728º do C.C., conclui-se que os frutos são bens comuns.

238. O produto do trabalho e os direitos de autor, no regime da comunhão de


adquiridos, são bens próprios ou comuns?
Nos termos do artigo 1724º/ a) do C.C., no regime da comunhão de adquiridos, o
produto do trabalho é um bem comum dos cônjuges.
No que respeita aos direitos de autor, se, por exemplo, o livro foi escrito depois do
casamento, entra na comunhão. Se foi escrito antes, não entra na comunhão.

239. Os bens do artigo 1696º/ 2 do C.C. são bens comuns?


O bens do artigo 1696º/ 2 do C.C. são, no caso da alínea a), bens comuns (em regime
de comunhão geral de bens); no caso da alínea b), o produto do trabalho é bem comum (no
regime da comunhão de adquiridos), ao passo que os direitos de autor são bens próprios; no
caso da alínea c), os bens-subrogados também são bens comuns.

240. O que é a meação?


A comunhão conjugal de bens corresponde a uma contitularidade de mão comum, o
que é distinto da compropriedade. A comunhão conjugal não se caracteriza pela ausência de
quotas. Cada cônjuge tem necessariamente uma quota na comunhão, que é designada por
meação nos bens comuns, como vem referido no artigo 1685º/ 1, no artigo 1696º/ 1 e no
artigo 1730º/ 2 do C.C..

241. Duas pessoas que se separaram de pessoas e bens continuam vinculadas ao


dever de fidelidade?
A separação de pessoas e bens é um instituto que modifica o vínculo matrimonial,
extinguindo as relações patrimoniais e o dever de coabitação entre os cônjuges. É aplicável o
regime do divórcio, que consta do artigo 1794º do C.C..
Relativamente aos deveres conjugais, a separação de pessoas e bens afeta o dever de
coabitação - que se extingue, deixando de haver uma casa de morada de família - e o dever de
assistência - que assume a configuração de obrigação de alimentos a cargo de um dos
cônjuges (artigo 2016º/ 1, 2 e 3). Os restantes deveres subsistem, ainda que o seu
incumprimento tenha pouca relevância.

242. Hoje em dia, ainda se aplica o princípio da culpa para o divórcio?

Ana Maria Varela 58


Direito da Família Perguntas de Orais

ADOÇÃO
243. Cônjuge adota filho de outro cônjuge. Lei é mais exigente ao estabelecer os
seus requisitos? Em que termos a lei favorece?
O cônjuge pode adotar o filho do outro cônjuge, nos termos do artigo 1979º/ 2 do
C.C.. A lei não exige um requisito especial para estas pessoas, inclusivamente, podem fazê-lo
desde que tenham 25 anos.
Existe uma restrição, demonstrada pelo número 5 do mesmo artigo, que impede que
se aplique o número 3. Ou seja, mesmo que o cônjuge tenha mais 60 anos (o que se configura
como uma proibição para a adoção), pode adotar a criança. Por isso, a lei favorece estas
pessoas, ao abrigo do artigo 1979º/ 3 e 5 do C.C..

244. A sentença de adopção pode ser revista na falta das responsabilidades


parentais?
O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, como consta do artigo 1973º/ 1
do C.C.. Existem alguns casos, tutelados no artigo 1990º do C.C., em que essa sentença pode
ser revista. Porém, nada no elenco deste artigo menciona a falta de responsabilidades
parentais.

245. Pessoas do mesmo sexo podem adotar?


Pessoas do mesmo sexo podem adotar em Portugal, desde 2016.

246. S e uma amiga sua decidem adotar. Podem?


Para se poder adotar, é preciso que sejam duas pessoas casadas há mais de 4 anos e
terem mais de 25 anos, nos termos do artigo 1979º do C.C..

247. Pessoas em união de facto há mais de 4 anos podem adotar?


Podem adotar uma criança pessoas que estejam em união de facto há mais de 4 anos,
pois essa é uma união de facto protegida (como consta da LUF). Aplica-se analogicamente o
artigo 1979º/ 1 do C.C. sobre quem pode adotar. Esta adoção é permitida se ambas as pessoas
tiverem mais de 25 anos de idade.

248. Em que momento se constitui o vínculo de adoção?


A adoção é, de acordo com o artigo 1586º do C.C., o vínculo que se constitui entre
duas pessoas, através da emissão de uma sentença judicial. Equipara-se à filiação biológica,
mas é independente dos laços de sangue.
Como filiação constituída por sentença (artigo 1973º/ 1 do C.C.), os efeitos da filiação
adotiva produzem-se a partir do momento do trânsito em julgado da decisão judicial. Pela
adoção, segundo o artigo 1986º do C.C., extinguem-se as relações familiares entre o adotado
e os seus ascendentes e colaterais normais e o adotado adquire a posição de filho do adotante,
integrando-se na família do segundo.

249. O que distingue a adoção plena da adoção restrita?

Ana Maria Varela 59


Direito da Família Perguntas de Orais

A Lei n.º 143/ 2015, de 8 de setembro, revogou o artigo 1977º do C.C., sob a epígrafe
‘’espécies de adoção’’. Este distinguia entre adoção plena e adoção restrita, com fundamento
no critério dos efeitos.
A adoção plena significava a integração total e exclusiva do adotado na família do
adotante. Isto é, a criança adquiria a situação de filho do adotante, e cessavam as relações que
a primeira tinha com a sua família biológica.
A adoção restrita caracterizava-se pela atribuição de poder paternal ao adotante, mas
mantinham-se, no geral, os laços de sangue entre a criança adotada e a sua família natural.
Esta dicotomia desapareceu no Direito português.

UNIÃO DE FACTO
250. A união de facto tem alguns aspetos semelhantes ao casamento?
A união de facto corresponde à convivência de duas pessoas em condições análogas
às dos cônjuges, com uma tripla vertente de comunhão de leito, mesa e habitação. Nesta
linha, a união de facto é semelhante ao casamento.
Contudo, a união de facto não pode ser considerada uma relação jurídica familiar,
antes uma relação parafamiliar. Isto é, para constituir e cessar a união de facto, não é
necessária a intervenção de um ato estatal, e não se consegue registar uma união de facto. Ao
mesmo tempo, não existe a vinculação recíproca a deveres, como existe no casamento,
quanto aos deveres conjugais. Por isso, existem muitos aspetos em que estes dois institutos
diferem um do outro.

251. O que entende por "situação análoga à dos cônjuges"?


O artigo 1º/ 2 da LUF utiliza a expressão ‘’condições análogas às dos cônjuges’’ para
definir a união de facto como uma relação que pressupõe a vivência íntima de duas pessoas,
que partilham casa, cama e mesa.

252. O acordo da união de facto é um contrato?


Sim.
A estes acordos, dá-se o nome de contrato de coabitação. É um contrato, mediante o
qual as partes estipulam a relação da união de facto, já constituída ou a constituir, e um
regime semelhante ao que vigora para o casamento.
Não é possível, contudo, integrar no contrato deveres conjugais específicos, pelo que,
se assim for, é inválido nesta parte. Serão inválidas, igualmente, as cláusulas de
administração e disposição de bens próprios que imponham o consentimento do outro.
Apesar disso, pode fazer-se uma constituição negocial de uma obrigação de
alimentos, que não se deve confundir com a obrigação de fonte legal que se inclui no dever
de assitência. Também são válidas as cláusulas que tenham por objeto matérias de regimes de
bens, administração, disposição e dívidas. Se o contrato de coabitação regulamentar direitos
associados à cessação da união de facto, também é válido.

Ana Maria Varela 60


Direito da Família Perguntas de Orais

253. Se um dos unidos de facto contrair uma dívida em proveito comum do casal
em união de facto, aplica que regime?
Na hipótese de um dos membros da união de facto contrair uma dívida em proveito
comum do casal, aplica-se analogicamente o regime do artigo 1691º/ 1, c) do C.C.. São da
responsabilidade de ambos os ‘’cônjuges’’ (aqui, dos unidos), as dívidas contraídas em
proveito comum do casal, na constância da união de facto.

254. Aplica os impedimentos do casamento à união de facto?


Não se aplicam os impedimentos do casamento à união de facto.
Por exemplo, uma pessoa que esteja casada, não tendo dissolvido esse casamento,
pode viver em união de facto com outra pessoa, sem que isso constitua um impedimento para
a união. Ou o caso de existir duas uniões de facto simultaneamente também não se constitui
como um impedimento à subsistência da outra, nos termos do artigo 2º da LUF.
No entanto, para que a união de facto seja protegida, já é necessário que se verifiquem
alguns requisitos, como a idade superior a 18 anos à data do reconhecimento da união de
facto; e que não haja a demência notória, a situação de acompanhamento de maior, o
parentesco na linha reta ou no 2º grau da linha colateral, a afinidade na linha reta, a
condenação anterior de uma das pessoas como autor ou cúmplice por homicídio doloso.

255. Há alguma presunção de paternidade nas uniões de facto? Se sim, esta é uma
presunção legal?
Sim.
O artigo 1871º/ 1 c) do C.C. consagra uma presunção ​iuris tantum​, relevante para
efeitos de prova na ação de investigação, que institui a presunção da paternidade do filho
concebido na constância de união de facto.

256. O que diz a doutrina relativamente aos deveres nas uniões de facto?
No que respeita aos deveres nas uniões de facto, e, em concreto, no que respeita aos
deveres conjugais que existem no casamento, eles não persistem na união de facto. O dever
de fidelidade e o dever de assistência, por exemplo, não são exigidos para esta relação
parafamiliar. Não é permitido, inclusivamente, estipular em contrato de coabitação que algum
desses deveres se deva observar, cláusula que será inválida, no caso de se observar. Assim
sendo, porque não existem estes deveres, a sua violação também não se coloca.

257. Um unido de facto tem direitos sucessórios?


Uma das causas que leva à cessação da união de facto é, como estatui o artigo 8º/ 1 da
LUF, a morte de um dos unidos.
Pode dizer-se que, com a morte um dos membros da união de facto, o outro adquire
alguns benefícios: o direito a alimentos e às prestações por morte previstas na LUF, direitos
sobre a casa de morada da família e o respetivo recheio, direito a uma indemnização por
danos não patrimoniais.

Ana Maria Varela 61


Direito da Família Perguntas de Orais

258. Quais os direitos que tem no caso de morte do outro unido?


No caso de morte de um dos unidos, a união de facto cessa, como dispõe o artigo 8º/ 1
da LUF.
O unido sobrevivo de união de facto protegida adquire o direito a alimentos. Pode
exigir alimentos da herança do companheiro falecido, se carecer deles. Este crédito
extingue-se se não for exercido nos 2 anos subsequentes à data da morte do autor da sucessão
(artigo 2002º/ 2 do C.C.), cessando se o alimentado contrair casamento, iniciar uma nova
união de facto, ou se tornar indigno do benefício pelo seu comportamento moral (artigo 2019º
do C.C.).
O direito a outras prestações a que se refere o artigo 3º/ 1 da LUF confere ao membro
da união de facto protegida a pensão de sobrevivência e subsídio de morte - alínea e);
prestações por morte resultante de acidente de trabalho ou doença profissional - alínea f); e
pensão de preço de sangue e por serviços excecionais e relevantes prestados ao país - alínea
g).
Se quem morreu foi o proprietário da casa de morada de família, o outro membro da
união de facto goza de direito real de habitação pelo prazo de 5 anos sobre o imóvel, e o
direito de preferência na sua venda, segundo os artigos 5º/ 1 e 9º da LUF. Se a união de facto
tiver iniciado há mais de 5 anos antes do falecimento, o direito de habitação é conferido por
tempo igual ao da duração da união, como prevê o artigo 5º/ 2 da LUF. Mas, se o membro
sobrevivo tiver casa própria no respetivo concelho da casa de morada de família, esse direito
de habitação já não lhe é dado, impondo o artigo 5º/ 6 da LUF. Este direito caduca se o
interessado não habitar a casa por mais de 1 ano, a não ser que isso se deva a força maior,
como se retira do artigo 5º/ 5 da LUF.
É também atribuído o direito do uso do recheio da casa de morada de família
pertencente ao companheiro falecido. Pode o unido sobrevivo usar o recheio da casa
pertencente ao unido que morreu, pelo prazo de 5 anos ou por prazo igual ao que durou a
união de facto, se tiver durado mais de 5 anos (artigo 5º/ 1 e 2 da LUF). O direito de uso
caduca, nos termos dos números 4 e 5 do artigo 5º da LUF. Se os membros da união de facto
fossem comproprietários do recheio da casa de morada de família, o membro sobrevivo
mantém a sua posição.
O unido sobrevivo adquire, também, o direito ao arrendamento para habitação da casa
antes arrendada ao companheiro falecido (artigo 1106º/ 1 e 2 do C.C.), desde que a relação
durasse há mais de 1 ano e desde que o tempo de residência do sobrevivo no locado tivesse
sido superior a 1 ano.

259. Quais os requisitos da união de facto, para que seja protegida?


O artigo 2º da LUF enumera as circunstâncias que obstam à aplicação dos efeitos de
uma união de facto protegida: idade inferior a 18 anos à data do reconhecimento da união,
demência notória mesmo com intervalos lúcidos, situação de acompanhamento de maior,
casamento anterior não dissolvido (a não ser que tenha sido decretada a separação de pessoas
e bens), parentesco na linha reta ou no 2º grau da linha colateral, afinidade na linha reta e

Ana Maria Varela 62


Direito da Família Perguntas de Orais

condenação anterior de uma das pessoas como autor ou cúmplice por homicídio doloso
consumado ou tentado contra o cônjuge do outro.

260. Passados 3 anos, um casal em união de facto separa-se, vivendo um no Porto


e outro em Lisboa (por razões profissionais). Isto descaracteriza a união de
facto?

261. O que distingue a união de facto da economia comum?


A união de facto e a convivência em economia comum aproximam-se em alguns
aspetos, como sejam a comunhão de mesa e habitação. Também se exige um prazo de dois
anos para que, tanto uma, como outra, beneficiem do estatuto de proteção. Alguns dos efeitos
da união de facto também são semelhantes aos da convivência em economia comum. Ambas
não se constituem como relações jurídicas familiares, tendo natureza parafamiliar.
No que concerne às diferenças, ao contrário da convivência em economia comum, a
união de facto exige uma comunhão sexual e só é protegida se for composta apenas por 2
pessoas.

262. O que é a união de facto?


A união de facto diz respeito a uma tripla comunhão, nas vertentes de de comunhão
de leito, comunhão de mesa e comunhão de habitação. Assemelha-se às condições de vida
dos cônjuges (‘’condições análogas às dos cônjuges’’).

263. Entre duas pessoas unidas há 1 ano, há união de facto?


Entre duas pessoas unidas há 1 ano, existe união de facto. Porém, não é uma união de
facto protegida. Para o ser, teria de durar há, pelo menos, 2 anos.

264. Podem os unidos de facto vincular-se ao dever de fidelidade?


As cláusulas que façam estipulações acerca de deveres conjugais, como é o caso do
dever de fidelidade, são inválidas.

Ana Maria Varela 63

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