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FILIAÇÃO
1. Como se chama o filho de um só dos progenitores? E de ambos?
O parentesco é uma relação de consanguinidade, ou de laços de sangue, entre duas
pessoas. Dois irmãos são, à partida, parentes no 2º grau da linha colateral. Quando duas
pessoas são parentes quer na linha paterna, quer na linha materna, fala-se de duplo parentesco
ou parentesco bilateral. Se são irmãos, diz-se que são irmãos germanos ou bilaterais (artigo
2146º do C.C.).
O parentesco é unilateral se se verifica por via de uma das linhas, seja a paterna ou a
materna. Fala-se em irmãos consaguíneos, quando o progenitor comum for do sexo
masculinho; diz-se que são irmãos uterinos, se o progenitor comum for a mãe.
3. Uma mulher solteira tem um filho e declara que é a mãe. Não sabe quem é o pai.
O registo fica omisso quanto à paternidade. O que se faz?
Desconhecendo-se quem é o pai, deve intentar-se a averiguação oficiosa da
paternidade, que consiste numa atividade imposta por lei com o objetivo de estabelecer a
paternidade por um dos modos possíveis. Deve ser feita ao abrigo do artigo 1864º do C.C..
E se a mãe era casada, e disser que não sabe quem é o pai? Afasta-se a presunção
de paternidade?
Quando a mãe é casada, existe um modo de estabelecer a paternidade dentro do
casamento, que é a presunção de paternidade, segundo o artigo 1826º do C.C.. Contudo, se a
mãe constatar que não sabe quem é o pai, declarando que o filho não é o marido, nos termos
do artigo 1832º/ 1 do C.C., a presunção é afastada. A partir daí, é imediatamente admissível a
perfilhação.
6. A e B são casados em regime de separação de bens. Têm dois filhos (C e D). Por
sua vez, C tem dois filhos (E e F) e D outros tantos (G e H). Qual o grau de
parentesco entre A e os filhos dos seus filhos?
A e os filhos dos seus filhos (C, D, E e F) são parentes no 2º grau da linha reta - avós
e netos, à luz dos artigos 1579º, 1580º e 1581º do C.C..
irmã). Nos termos do artigo 1602º/ c) do C.C., assim como do artigo 1631º/ a) do C.C., este
casamento é anulável.
Está-se num caso de um matrimónio considerado anulado, que continua, porém, a
produzir efeitos. Neste sentido aplica-se o regime do casamento putativo, previsto no artigo
1827º do C.C., porquanto que o casamento foi contraído de má fé (número 1 do preceito).
Desde que o casamento tenha sido registado, pode inserir-se no âmbito deste artigo, e a
presunção de paternidade não se afasta.
surge um conflito de presunções de paternidade, que é resolvido pelo artigo 1834º/ 1 do C.C.,
prevalecendo a presunção de que o pai da criança é o segundo marido da mãe.
A perfilhação é um modo de estabelecer a paternidade fora do casamento, e
constitui-se como o ato pelo qual uma pessoa do sexo masculinho declara relevantemente que
um ser vivo da espécie humana é seu filho. Este é um ato pessoal (porque deve ser feito pelo
próprio pai ou por intermédio de procurador com poderes especiais, como consta do artigo
1849º do C.C.), livre (pois não deve estar viciado por coação moral, nos termos do artigo
1860º/ 1 do C.C.; ainda que não seja um ato facultativo, uma vez que o pai biológico tem o
dever jurídico de perfilhar, sob pena de ter de indemnizar o seu filho), solene (visto que deve
revestir uma das formas indicadas no artigo 1853º do C.C.) e irrevogável (pois que, uma vez
feita, não se pode voltar atrás, como estatui o artigo 1858º do C.C.). Para perfilhar, é
necessário, em primeiro lugar, que o ato corresponda à verdade, à luz do artigo 1859º do
C.C.. Quanto ao perfilhante, deve ter mais de 16 anos, não ser maior acompanhado, nem estar
afetado com alguma perturbação mental notória no momento da declaração, sob pena de ser
anulável, como prevê o artigo 1850º/ 1. Além disso, o seu consentimento deve ser puro e
simples, não estando viciado por coação moral ou por erro (artigo 1860º/ 1 do C.C.). Quanto
ao perfilhando, não é admitida a perfilhação em contrário da paternidade que conste do
registo de nascimento, enquanto esta não seja retificada, declarada nula, ou cancelada (ou
seja, exige-se a ausência de outra paternidade estabelecida, como resulta do artigo 1848º/ 1
do C.C.).
O terceiro modo de estabelecimento da filiação paterna é o reconhecimento judicial,
que surge fora do casamento. Realiza-se através de uma ação autónoma especialmente
intentada para o efeito de investigação de quem é o pai. Em primeira instância, deve estar
estabelecida a maternidade para que a ação possa ser proposta, como dispõe o artigo 1869º do
C.C.. A ação de investigação da paternidade deve ser intentada pelo filho contra o pretenso
pai, como sugere o artigo 1969º do C.C.. Também é conferida legitimidade à mãe menor para
intentar a ação em representação do seu filho, sem que seja necessária a autorização dos seus
pais; porém, tem de estar representada em juízo por um curador especial nomeado pelo
tribunal, tal como define o artigo 1870º do C.C..Neste caso, a paternidade presume-se caso se
verifique uma das situações do artigo 1871º do C.C. [se o filho tiver sido tratado como tal
pelo pretenso pai e reputado como filho pelo público - alínea a) -, ao que se chama posse de
estado de filho; quando exista carta ou escrito em que o pretenso pai declare inequivocamente
a paternidade - alínea b); quando tenha existido comunhão duradoura de vida em condições
análogas às dos cônjuges ou concubinato duradouro entre a mãe e o pretenso pai, durante o
período legal da conceção - alínea c); na hipótese de o pretenso pai ter seduzido a mãe, se
esta era virgem ou menor nesse momento, ou se o consentimento da mesma foi obtido por
meio de promessa de casamento, abuso de confiança ou abuso de autoridade, durante o
período legal da conceção - alínea d); e quando se prove que o pretenso pai teve relações
sexuais com a mãe durante o período legal de conceção - alínea e)]. Esta presunção não
constitui a paternidade, apenas facilita a sentença favorável que a estabelece.
16. Se a mãe não afasta a presunção de paternidade do marido (que não é o pai
biológico), quem pode perfilhar, e como?
A perfilhação - ou reconhecimento voluntário da paternidade -, prevista nos artigos
1849º e seguintes do C.C., é um ato pessoal, livre, solene e irrevogável, pelo qual uma pessoa
do sexo masculinho declara inequivocamente que é pai de um ser vivo humano.
Se a paternidade estabelecida, por presunção (que não foi afastada pela mãe), não
corresponder à verdade, existe a possibilidade de recorrer à impugnação da mesma. Esta é a
única forma, nos termos do artigo 1838º do C.C. de destruir a presunção. A impugnação da
paternidade pode ser feita pelas pessoas enunciadas no artigo 1839º/ 1 do C.C. e nos prazos
enunciados no artigo 1842º do C.C..
prestada por qualquer dos pais, ou pelo próprio interessado se tiver mais de 14 anos (artigo
99º/ 1 do C.R.C.). Então, se o nascimento tiver sucedido há menos de 1 ano, a maternidade
indicada considera-se estabelecida, nos termos do artigo 1804º/ 1 do C.C.. Não se verificando
nenhuma destas situações, a mãe será notificada para, no prazo de 15 dias, declarar se
confirma a maternidade e se tem o filho havido como seu, como prevê o artigo 1805º/ 2 do
C.C.. Se a pretensa mãe negar a maternidade ou não puder ser notificada, a menção da
maternidade fica sem efeito (artigo 1805º/ 3 do C.C.); se confirmar, pelo contrário, que é a
mãe, ou se nada declarar, tendo sido notificada, a filiação materna considera-se estabelecida.
Outro modo de estabelecer a maternidade é o reconhecimento judicial, que ocorre
através de uma ação autónoma de investigação de quem é a mãe da criança. É indispensável a
impugnação prévia da maternidade registada, como refere o artigo 1815º do C.C.. Esta ação
de investigação, caso seja comum ou simples, deve ser intentada pelo filho contra a pretensa
mãe, como consta do artigo 1819º do C.C.. E, se a pretensa mãe tiver falecido, a mesma deve
ser proposta contra o cônjuge sobrevivo não separado de pessoas e bens; sucessivamente,
contra os descendentes, ascendentes ou irmãos. Na falta destas pessoas, a ação é instaurada
contra um curador especialmente nomeado para se opor à pretensão do investigante. Caso a
ação seja especial ou complexa, é porque se destina a reconhecer a maternidade de filho
nascido ou concebido na constância de matrimónio da pretensa mãe, nos termos do artigo
1822º do C.C.. O autor deve provar, aqui, que o filho nasceu da pretensa mãe, e beneficia de
duas presunções de maternidade (artigo 1816º/ 2 do C.C.): a filiação materna presume-se
quando o filho tenha sido tratado como tal pela pretensa mão e reputado como filho também
pelo público - alínea a) -, que é o que se chama de posse de estado; e quando exista carta ou
outro escrito no qual a mãe indique inequivocamente a maternidade - alínea b). Para a
proposição desta ação de investigação, o artigo 1817º regula o prazo da menoridade do
investigante ou os 10 anos posteriores à sua maioridade ou emancipação.
18. Qual o procedimento que deve ter início, se não houver pai para registar a
criança?
Se a identidade do pai da criança não estiver declarada, é necessário averiguar
oficiosamente quem é o mesmo. Isto é, como consta do artigo 1864º do C.C., deve intentar-se
uma ação de averiguação oficiosa da paternidade.
A averiguação oficiosa da paternidade não é um modo de estabelecer a paternidade,
mas constitui-se como uma atividade imposta por lei com o objetivo de o fazer por um dos
dois modos possíveis: ou por perfilhação ou por reconhecimento judicial.
A ação é intentada pelo Ministério Público, se concluir pela viabilidade da mesma.
Se o pretenso pai confirmar a filiação (que é o pai da criança em questão), o processo
termina e a filiação encontra-se estabelecida, aplicando-se o artigo 1865º/ 3 do C.C.. Caso o
pai negue ou se recuse a confirmar a paternidade, o tribunal procede às diligências
necessárias para averiguar a viabilidade ou inviabilidade da ação de investigação da
paternidade, ao abrigo do preceituado no artigo 1865º/ 4 do C.C..
19. O que é preciso para filiar um filho no caso de pessoas não casadas entre si?
22. Quando A soube que era pai de B, B já tinha 30 anos. A pode perfilhar?
Para que A possa perfilhar B, é necessário o consentimento do segundo. É assim,
porque B tem 30 anos, e é maior de idade. Esta informação está prevista no artigo 1857º/ 1 do
C.C..
E se B não der consentimento? Não viola o direito do pai?
23. Se uma criança não é perfilhada, que processo deve o notário desencadear no
acto de registo?
Se uma criança não é perfilhada, e não se encontra estabelecida a sua paternidade,
deve iniciar-se uma ação de averiguação oficiosa da paternidade, atividade imposta com o
objetivo de estabelecer a paternidade por um dos modos possíveis. Segundo o artigo 1864º do
C.C., inicia-se quando a paternidade é desconhecida.
O pai pode confirmar a paternidade, caso em que a filiação paterna se estabelece por
perfilhação, nos termos do artigo 1865º/ 3 do C.C., terminando o processo. Ou pode negar a
paternidade, procedendo o tribunal às diligências necessárias para averiguar a viabilidade de
uma ação de investigação da paternidade - reconhecimento judicial -, nos dítames do artigo
1865º/ 4 do C.C..
28. A e B são casados. Depois separam-se de facto. Entretanto, B vai viver com
Xavier. B agora está grávida e não dissolveu casamento com A. Quem vai ser
considerado pai? O que é que B podia fazer? Base legal?
A separação de facto entre A e B significa que ambos deixaram de habitar juntos e
que não pretendem restabelecer a coabitação. Contudo, o casamento entre A e B não foi
dissolvido, o que significa que, para todos os efeitos, A é marido de B e, portanto, funciona,
em relação a si, a presunção de paternidade descrita no artigo 1826º/ 1 do C.C.. É pai da
criança o marido da mãe.
Contudo, como a paternidade de A em relação ao filho de B pode não corresponder,
certamente, à verdade, B poderia declarar que o marido não é o pai da criança, nos dítames do
artigo 1832º/ 1 do C.C.. Esta indicação faz cessar a presunção de paternidade em relação a A,
segundo o artigo 1832º/ 2 do C.C..
Assim, é imediatamente admissível a perfilhação por parte de Xavier, e nos termos do
artigo 1849º e seguintes do C.C..
O poder-dever de dirigir a educação reporta ao artigo 36º/ 5 C.R.P., que indica que os
pais têm o direito e o dever de educar os seus filhos. Este poder-dever prepara o filho para
uma vida enquanto ser autónomo. De acordo com o artigo 1885º do C.C., há duas
incumbências no âmbito do poder-dever de dirigir a educação: o número 1 indica que se deve
promover o desenvolvimento físico, intelectual e moral dos filhos, na medida das
possibilidades; e o número 2 traduz a necessidade de proporcionar aos filhos uma instrução
geral e profissional adequada. No que toca à educação religiosa dos filhos, os pais menores
de 16 anos podem decidir sobre a matéria (artigo 1886º do C.C.).
O dever de prover ao sustento corresponde ao dever de manutenção dos filhos,
estando os pais obrigados a proporcionar aos seus filhos um nível de vida idêntico ao próprio.
Ficam apenas desobrigados de prover ao sustento dos filhos, na medida em que estes estejam
em condições de suportar os encargos autonomamente, como dispõe o artigo 1879º do C.C..
O poder-dever de representação incumbe aos pais dos filhos menores, ainda que
nascituros, como afirma o artigo 1878º/ 1 do C.C.. Compreende o exercício de todos os
direitos e o cumprimento de todas as obrigações. Ficam excetuados os atos puramente
pessoais, aqueles que o menor tem o direito de praticar pessoal e livremente e os atos
respeitantes a bens cuja administração não pertença aos pais.
O poder-dever de administração dos bens aponta para a administração dos bens dos
filhos menores a ser feita pelos seus pais, com exceção dos que são mencionados no artigo
1888º/ 1 do C.C.. Contudo, nem sempre estes atos podem ser praticados sozinhos pelos pais.
O poder de administração dos bens do menor cessa com a emancipação; por isso, os bens
levados pelo filho para o casal ou que posteriormente lhe advenham a título gratuito até à
maioridade continuam a ser administrados pelos pais até que o filho complete 18 anos, assim
como indica o artigo 1649º do C.C.. Os atos indevidamente praticados pelos pais sem
autorização do Ministério Público são anuláveis, à luz do artigo 1893º do C.C., podendo ser
confirmados, mais tarde (artigo 1894º do C.C.). Por fim, exige-se que a administração dos
bens por parte dos bens dos bens dos filhos seja cuidada, como impõe o artigo 1897º do C.C..
Os bens devem ser entregues ao filho, assim que ele atinja a maioridade ou seja emancipado,
nos termos do artigo 1900º/ 1 do C.C..
Por seu lado, os filhos têm o dever de obediência para com os seus pais.
31. O que são, no âmbito do artigo 1906º/ 3 do C.C., ‘’orientações relativas mais
relevantes’’? É a mesma coisa que ‘’questões de particular importância’’?
As ‘’orientações educativas mais relevantes’’ referem-se à vida corrente.
As ‘’questões de particular importância’’ são as que devem ser decididas em conjunto
pelos cônjuges, por terem um grau superior de relevância.
32. Uma pessoa com 19 anos pode continuar a beneficiar de alimentos dos pais,
relativamente ao regime que vigorava antes? É um prolongamento do exercício
das responsabilidades parentais?
Segundo os artigos 1905º/ 2 e 1880º do C.C., uma pessoa com 19 anos pode continuar
a beneficiar da pensão fixada em seu benefício durante a menoridade. Tal sucede até que o
filho complete 25 anos de idade, ou até que complete o seu processo de formação
profissional.
O dever de obediência mantém-se?
O dever de obediência vai-se mitigando. De acordo com o artigo 1878º/ 2 do C.C., os
filhos têm o direito à sua autodeterminação, consoante a sua maturidade.
34. Suponha que F casou com M em fevereiro. Pode casar? Há algum impedimento?
Antes, previa-se um prazo internupcial de 180 dias para poder voltar a casar. Desde
2019, é possível casar imediatamente após o divórcio ou viuvez. Agora é possível
divorciar-se em janeiro e casar em fevereiro, de acordo com o prazo internupcial estabelecido
no artigo 1834º/ 1 do C.C..
35. Suponha que F sabe que o pai não é o M. O que pode fazer para afastar a
presunção relativamente a M?
Para afastar a presunção de paternidade relativamente a M, F pode sempre declarar
que o filho não é do marido, nos termos do artigo 1832º/ 1 do C.C.. Cessa, assim, a presunção
de paternidade, como consta do número 2. Por outro lado, renasce a presunção de paternidade
relativamente ao anterior marido da mãe, à luz do artigo 1831º do C.C..
37. A questão dos alimentos devidos a filhos maiores insere-se na área da filiação?
Segundo os artigos 1905º/ 2 e 1880º do C.C., podem ainda os pais dever alimentos
aos filhos, no caso de ainda não terem terminado a sua formação profissional. A não ser que o
filho maior tenha completado a sua formação profissional, ou que se consiga sustentar
sozinho (artigos 1880º e 1879º do C.C.), mantém-se a obrigação de prover ao sustento dos
filhos.
Por conseguinte, pode dizer-se que esta questão se insere na área da filiação, e, mais
concretamente, no domínio das responsabilidades parentais.
38. Acha que os pais devem financiar o mestrado de um filho? O que é a ‘’formação
profissional’’ referida no artigo 1880º do Código Civil?
A obrigação mantém-se durante o tempo normalmente requerido para aquela
formação. Se o curso é de 4 anos, não pode persistir a obrigação se o filho fizer o curso em 10
anos.
40. Qual o instrumento mais importante a que Portugal está vinculado em matéria
de crianças?
Desde 1999, Portugal está vinculado à Convenção Relativa à Proteção das Crianças e
à Cooperação em matéria de Adoção Internacional, assinada na Conferência de Haia.
44. A e B nunca foram casados. Separam-se. Fazem acordo em que se permite que o
pai veja a criança uma vez por semana na casa da mãe. Quid iuris?
Este acordo está sujeito à apreciação do Ministério Público.
Em princípio, o acordo não será aceite porque não defende o interesse superior da
criança. O facto de a criança apenas ver o pai uma vez por semana não promove a
proximidade e o contacto que o artigo 1906º/ 8 do C.C. sugere que exista entre pais e filhos.
47. Em que casos não chega a operar a presunção de paternidade, mesmo em que a
mãe é casada?
A presunção de paternidade cessa nos casos dos artigos 1828º, 1829º e 1832º do C.C.,
mesmo quando a mãe seja casada. Segundo o artigo 1832º/ 1 do C.C., a mãe pode indicar que
o marido não é o pai do seu filho.
50. A é casada com B. Mas, por alguma razão, A acha que B não tem características
genéticas ideais para ser pai do seu filho. Resolve recorrer à PMA, com recurso a
dador. Pode?
Sim, pode. Segundo o artigo 4º/ 3 da LPMA, e também de acordo com o artigo 6º da
mesma lei, todas as mulheres podem recorrer às técnicas de PMA. Significa que a mulher
pode optar livremente entre procriação mediante ato sexual ou procriação assistida.
A chegou ao registo civil e declarou que B é o pai. Estabelece-se a paternidade?
Se A era casada com B, presume-se que o marido seja o pai da criança, nos termos do
artigo 1826º do C.C..
Mas não corresponde à verdade e B não quer ser o pai da criança. O que pode
fazer? Qual o meio?
Quando a paternidade não corresponde à verdade, B pode impugná-la, de modo a
destruir a presunção, como resulta do artigo 1838º do C.C..
Porém, o facto de a PMA ser negada a homens deve-se à não permissão da gestação
de substituição. Se esta é inconstitucional, os homens não têm forma de ‘’carregar’’ o seu
filho.
55. Uma criança que nasceu de PMA heteróloga pode conhecer o dador?
Como dispõe o artigo 15º da LPMA, o dador tem direito a ver a sua identidade em
regime confidencial.
No entanto, o número 2 do mesmo preceito permite que as pessoas nascidas em
consequência de processos de PMA, desde que tenham mais de 18 anos, possam conhecer a
identificação civil do dador, assim como obter informações acerca dele.
CASAMENTO
56. A e B casam catolicamente. B desapareceu muitos anos. Há declaração de morte
presumida. A casa com C. Este casamento é válido?
A modalidade de casamento católico é aquela que se rege pelas normas de Direito
Canónico da Igreja Católica. Como tal, é celebrado por uma autoridade eclesiástica. Do
casamento, resultam deveres conjugais recíprocos: dever de respeito, dever de cooperação,
dever de assistência e dever de fidelidade. Este último consagra um dever duplo de
abstenção: impedindo, por um lado, o adultério (prática de atos sexuais com terceiro) e, por
outro, a ligação amorosoa (não carnal) de um cônjuge com terceiro.
Ademais, existe um princípio, enraizado na nossa ordem jurídica, que é o princípio da
monogamia, segundo o qual uma pessoa que se comprometa a esta comunhão plena de vida
com alguém, vincula-se a não estabelecer qualquer tipo de relação com outrem, por existir
exclusividade.
A morte de um dos cônjuges acarreta a cessação da generalidade dos efeitos pessoais
e patrimoniais do casamento. Contudo, a declaração de morte presumida não dissolve o
casamento, nos termos do artigo 115º do C.C.. Após esta declaração, o cônjuge do ausente,
apenas se estiver casado civilmente, pode contrair novo casamento, como prevê o artigo 116º/
1 do C.C.. Isto, porque o casamento do ausente torna-se dissolúvel, no momento em que o
seu cônjuge contrai novo casamento (opondo-se à tese de bigamia). Caso o ausente regresse,
ou haja notícias suas e da sua vitalidade, quando tenham sido celebradas as novas núpcias, o
primeiro casamento considera-se dissolvido por divórcio (à data da declaração de morte
presumida, como determina o artigo 116º, 2ª parte do C.C.). Na hipótese de o ausente não
regressar, considera-se o primeiro casamento dissolvido por morte (à data da declaração de
morte presumida). Se se provar que o ausente faleceu antes de ser celebrado o segundo
matrimónio, o primeiro casamento dissolveu-se à data do óbito.
Assim se conclui que o casamento entre A e C, porque o casamento anterior de A era
católico, não e válido. Para que o casamento católico entre A e B cesse, é necessário que lhe
seja atribuído o desvalor de nulidade, que compete aos tribunais eclesiásticos, mas produz
efeitos civis.
Os primos direitos são parentes no 4º grau da linha colateral, à luz do artigo 1581º do
C.C.. O que os une é uma relação familiar de parentesco, que é a ligação que se constitui
entre duas pessoas, em consequência de uma descender da outra, ou de ambas procederem de
um progenitor comum, como dispõe o artigo 1578º do C.C.. A fonte da relação familiar do
parentesco é, assim, a procriação.
Apesar de os efeitos do parentesco se produzirem, com relevância, e como dita o
artigo 1582º do C.C., até ao 6º grau da linha colateral, não há nenhum impedimento
matrimonial que obste ao casamento entre primos. Seja dentro dos impedimentos dirimentes -
absolutos ou relativos -, seja dentro dos impedimentos impedientes, não é feita nenhuma
menção ao parentesco no 4º grau da linha colateral.
Não. O casamento católico não pode ser homologado, de acordo com o artigo 1624º/
d) do C.C..
65. É possível que duas pessoas que vivem união de facto e que já têm dois filhos
façam uma convenção antenupcial e estabeleçam a comunhão geral de bens?
Segundo o número 2 do artigo 1699º do C.C., não pode ser convencionado o regime
de comunhão geral de bens em convenção antenupcial. Contudo, este impedimento apenas se
aplica a filhos de um dos nubentes com terceiro. Significa que essas pessoas, que têm filhos
comuns, podem estipular este regime de bens para casamento.
68. Dois casais diferentes, cada um com um filho, prometem filhos em casamento.
Um deles diz que não quer casar. Quid iuris?
O contrato-promessa de casamento é aquele em que as partes se vinculam a casar uma
com a outra. Pode suceder que exista incumprimento por uma das partes, que desista do
matrimónio. Nesse caso, não existirá direito a exigir a celebração do mesmo, mas pode haver
lugar a uma indemnização por parte do nubente que desistiu, nos termos dos artigos 1591º e
1594º do C.C..
69. Um casamento urgente não homologado padece de que vício? Aplica que artigo?
Classifica-se o casamento urgente como aquele que é celebrado, de acordo com o
artigo 1622º/ 1 do C.C., quando exista receio de morte próxima de um dos nubentes ou
quando se verifique a iminência do parto. Esta celebração dispensa o processo preliminar e a
intervenção de um funcionário do registo civil.
A homologação pode considerar-se uma espécie de prova ou de aprovação por parte
de uma autoridade competente, que reconhece o ato - neste caso, o casamento.
O casamento urgente que não tenha sido homologado é inexistente, nos termos do
artigo 1628º/ b) do C.C.. Para que seja juridicamente existente, carece de um ato posterior -
homologação pelo funcionário do registo civil, salvo se tiver sido considerado católico pelas
autoridades eclesiásticas, à luz do artigo 1624º/ d) do C.C..
IMPEDIMENTOS
79. Supondo que há um divórcio, sogra e nora podem casar?
Se houve divórcio, o vínculo de afinidade cessa, por isso não se constitui mais como
um impedimento matrimonial ao casamento [impedimento dirimente relativo, segundo o
artigo 1602º/ d) do C.C.]. Logo, sogra e nora podem casar.
O facto de serem ambas mulheres impede o casamento?
O casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido, desde 2010.
uma das pessoas já seja casada. Isto é, é um impedimento matrimonial - dirimente absoluto -,
nos termos do artigo 1601º/ c) do C.C.. O casamento anterior não dissolvido, seja católico ou
civil, constitui um impedimento se o primeiro casamento for juridicamente existente.
Este impedimento apenas cessa com a dissolução do casamento anterior.
Caso contrário, sendo um impedimento dirimente, a sua consequência é a
anulabilidade do casamento-ato, nos termos do artigo 1631º/ a) do C.C.. Para intentar esta
ação, deve seguir-se o regime do artigo 1639º do C.C, bem como o tutelado no artigo 1643º/
3 do C.C..
O casamento não é, por conseguinte, válido, como sugere o artigo 1627º do C.C..
Pode ser sanado?
É admissível a convalidação do casamento contraído com impedimentos dirimentes
absolutos, ao abrigo do artigo 1633º do C.C.. A anulabilidade do casamento bígamo
considera-se sanada nos termos da alínea c) desta estatuição.
Se o primeiro casamento for dissolvido por divórcio, sana o vício do segundo?
O divórcio é uma causa de dissolução do casamento, decretado pelo tribunal ou pelo
conservador do registo civil, a pedido de um ou de ambos os cônjuges (artigo 1788º do C.C.).
Nesta medida, o impedimento dirimente absoluto que existe contra um matrimónio que tenha
um casamento anterior cessa aquando da dissolução desse primeiro.
85. A e B divorciam-se. A tem filho de outro casamento. Pode esse filho casar com
B?
O divórcio constitui a dissolução de um casamento, e pode ocorrer por mútuo
consentimento ou com consentimento apenas de um dos cônjuges.
No que respeita à afinidade (que é uma relação jurídica familiar, cujas fontes são o
casamento-ato e a procriação, pois a mesma respeita ao vínculo que une os parentes de um
cônjuge ao outro), nos termos do artigo 1585º do C.C., a mesma não cessa se o casamento for
dissolvido por morte. A afinidade constitui, inclusivamente, um impedimento matrimonial -
dirimente relativo -, quando seja na linha reta, como dispõe o artigo 1602º/ d) do C.C..
Porém, no âmbito dos efeitos consequentes do divórcio, já é diferente: a afinidade que
ligava os filhos de A a B, por ser seu padrasto ou madrasta (e, portanto, eram afins no 1º grau
da linha reta), cessa com o divórcio.
Nos casos de designação de tutor, este pode ser escolhido entre os parentes ou afins
do menor, pelo que a relação de afinidade também é importante, como refere o artigo 1931º/
1 do C.C..
Igualmente em situações de escolha dos vogais do conselho de família se opta entre os
parentes ou afins do menor, como prevê o artigo 1952º/ 1 do C.C., razão pela qual a relação
de afinidade é relevante.
Além disso, também releva em situações de obrigação de prestar alimentos, por parte
do afim no 1º grau da linha reta - padrasto ou madrasta -, como define o artigo 2009º/ f) do
C.C..
o prazo inter-nupcial?
89. Qual a ratio d
Revogado. Hoje em dia, pode casar-se imediatamente após a dissolução do casamento
por divórcio ou por morte.
99. A e B casam. Depois, descobrem que são pai e filho. Podem invocar o erro?
A anulação do casamento fundada em erro pode ser feita quando se prove que, sem o
erro, o casamento não teria sido celebrado, como indica o artigo 1636º do C.C.. Assim, se se
conseguir provar que A e B são pai e filho e, como tal, essa é uma circunstância que obstaria
ao matrimónio, não só legalmente [por constituir um impedimento matrimonial, segundo o
artigo 1602º/ a) do C.C.], como por questões de ética e moral, podem estas pessoas invocar o
erro.
100. A tem uma dívida de 10.000 € sobre B. Se B não casar com A, este executa a
dívida. Quid iuris?
Não existe, nesta situação, coação moral, de acordo com o artigo 1638º/ 1 do C.C..
Isto corresponde ao exercício normal de um direito, nos termos do artigo 255º/ 3 do C.C..
101. A é credor de B, ambos de sexo diferente. A vai ter com B e ameaça executar
a dívida se B não casar com ele. B aceita. Quid iuris?
Quando A ameaça executar a dívida, no caso de B não se casar com ele, está apenas a
exercer normalmente um direito, para efeitos do artigo 255º do C.C.. Como tal, não existiria
coação moral neste caso (artigo 1638º do C.C.).
CONVENÇÃO ANTENUPCIAL
103. Qual a razão de ser do artigo 1714º do C.C.? Estará em causa um interesse
eventual de terceiros?
O artigo 1714º do C.C., referente ao princípio da imutabilidade das convenções
antenupciais e do regime de bens fixado, surge como condição de proteção dos cônjuges em
relação um ao outro.
Isto é, não se pode, depois da celebração do matrimónio, alterar estas disposições,
para evitar que a proximidade que exista entre os membros do casal os leve a tomar decisões
precipitadas. A isso se chama o ascendente psicológico.
regime de bens estipulado, a não ser nos casos previstos na lei. Este princípio tem vista a
proteção de um cônjuge perante o outro.
No entanto, afiguram-se como exceções à regra que veda a modificação do regime
inicial as disposições do artigo 1715º/ 1 do C.C.: admitem-se alterações pela revogação das
disposições do artigo 1700º, nos casos e sob a forma em que é permitida pelos preceitos
1701º e 1707º - alínea a); pela simples separação judicial de bens - alínea b); pela separação
judicial de pessoas e bens - alínea c); e em todos os outros casos que a lei preveja de
separação de bens na vigência da sociedade conjugal - alínea d).
109. Pode ser constituída uma convenção antenupcial a termo? E sob condição?
É possível constituir-se, à luz do artigo 1713º do C.C., uma convenção antenupcial a
termo e sob condição. Esta é, segundo o número 1 desta estatuição, válida.
Por exemplo, e admissível determinar a vigência sucessiva de regimes de bens para
um mesmo casamento: os esposados podem convencionar que o regime de bens adotado é o
da separação, nos primeiros 5 anos de casamento; estipular o regime de comunhão de
adquiridos para os 5 anos subsequentes; e determinar o regime de comunhão geral a partir do
10º ano de casamento.
113. Numa convenção antenupcial é possível alterar a administração dos bens dos
filhos?
Não.
114. Imagine que me vou casar, mas quero fazer uma convenção antenupcial. No
entanto, tenho um filho. Há alguma limitação à liberdade de convenção?
O artigo 1699º/ 2 do C.C. impede que quem tenha filhos, ainda que sejam maiores ou
emancipados, estipule, em convenção antenupcial, o regime da comunhão geral de bens,
assim como proíbe que se convencione a comunicabilidade dos bens referidos no artigo
1722º/ 1 do C.C.. Esta limitação aplica-se, porém, unicamente aos filhos de um dos nubentes
com terceiro.
Significa que, no caso de o filho ser comum, ou seja, de ambos os nubentes, é
permitida a escolha deste regime de bens e também a comunicabilidade dos bens já
mencionados.
117. A celebra uma convenção antenupcial. A era fiel e B fazia o que queria. Qual
o desvalor jurídico desta cláusula?
Esta cláusula, por violar o disposto no artigo 1699º/ 1, b) do C.C., que impede que
conste de convenção antenupcial a alteração dos deveres dos cônjuges (nesta situação, o
dever de fidelidade), seria reduzida, aplicando-se os artigos 292º e 294º do C.C..
Afecta a validade do casamento?
Não afeta a validade do casamento.
119. Em que casos a convenção antenupcial pode ser lavrada em auto pelo
conservador do registo civil?
A convenção antenupcial é, à luz do artigo 1710º do C.C., feita no registo civil
quando se escolhe um regime de bens típico.
121. Pode haver uma convenção antenupcial em que se convencione que os bens
adquiridos após o casamento não podem ser alienados?
122. “Todos os bens presentes são próprios. Todos os bens futuros são comuns”.
Pode? Se sim, qual o regime em que estão casados?
O regime em causa não pode ser o da comunhão de adquiridos, pois apenas fazem
parte da comunhão os bens referidos no artigo 1724º do C.C.: o produto do trabalho dos
cônjuges - alínea a); e os bens adquiridos durante o casamento a título oneroso - alínea b).
Também não pode figurar o regime da comunhão geral de bens, uma vez que os bens
que se levam para o casamento, neste, tendem a ser bens comuns, mais os bens adquiridos a
título gratuito futuramente, como dispõe o artigo 1732º do C.C..
Não podem estar casados no regime da separação de bens, pois neste não há bens
comuns, sendo que todos são próprios, ao abrigo do artigo 1735º do C.C.
Deste modo, pode apenas estar constituído um regime atípico de bens.
124. Uma convenção antenupcial define que os bens levados para o casamento por
A são comuns, e que os de B, através do trabalho, são comuns. Em que regime
estão casados?
A e B estão casados num regime atípico, pois: não podem estar em separação de bens,
uma vez que existem bens comuns, e neste regime isso não pode ocorrer; não estão casados
em comunhão de adquiridos, pois os bens comuns são apenas os que figuram no artigo 1724º
do C.C., não estando inseridos os bens que se levam para o casamento; não podem estar
casados em comunhão geral de bens, tendo em conta que os bens futuros que se adquiram são
comuns, mas apenas a título gratuito.
125. Numa convenção antenupcial é possível definir que os bens comuns possam
ser alienados por qualquer um dos cônjuges sem o consentimento do outro?
Apesar de existir um princípio de liberdade subjacente à celebração da convenção
antenupcial (artigo 1698º do C.C.), não é permitido que conste de convenção antenupcial a
alteração de regras sobre a administração de bens do casal, como dispõe o artigo 1699º/ 1, c)
do C.C..
A alienação de bens do casal diz respeito a um ato de administração, nos termos do
artigo 1682º/ 1 do C.C.. Consequentemente, se se tratar de um ato de administração
extraordinária, será sempre exigido o consentimento dos dois cônjuges para a sua prática.
126. Pode alterar-se a natureza do fruto dos bens próprios numa convenção
antenupcial?
131. Uma dívida contraída por um dos cônjuges para ir passear às Maldivas com
o outro cônjuge, é uma dívida comum?
Na circunstância de ter sido uma dívida contraída com o consentimento de ambos os
membros do casal, insere-se no âmbito do artigo 1691º/ 1, a) do C.C., e é da responsabilidade
dos dois.
Em princípio, por uma dívida contraída por um cônjuge, que é da sua exclusiva
responsabilidade, respondem os seus próprios bens, nos termos do artigo 1696º/ 1 do C.C..
Contudo, no caso de se estar em comunhão geral, podem responder os bens comuns, quando
se esteja numa situação do artigo 1696º/ 2, a) do C.C. (respondem os bens levados para o
casal); no caso de se estar em regime de comunhão de adquiridos, também podem responder
bens comuns, como resulta do artigo 1696º/ 2, b), 1ª parte do C.C. (pois responde o produto
do trabalho, que é bem comum neste regime).
136. A e B querem casar. Os bens levados por A para o casamento são comuns e
os que B adquire na constância do matrimónio também são comuns. No restante
aplica-se a comunhão de adquiridos. Quid iuris?
Deve atentar-se à matéria de regime de bens, nesta hipótese.
Se os bens levados para o casamento por A são comuns, pensar-se-ia que se estaria no
regime da comunhão geral de bens, aplicando-se o artigo 1732º do C.C.. Se os bens
adquiridos por B durante o casamento também são comuns, resta saber se são os que são
adquiridos a título oneroso - caso em que se aplica o regime da comunhão de adquiridos -, ou
os que são adquiridos gratuitamente - situação em que se rege pelo regime da comunhão
geral.
Contudo, como não se sabe, e porque se estipulou que não eram ambos os cônjuges
que ‘’partilhavam’’ os seus bens, mas apenas A ou B, num e noutro caso, está-se perante um
regime de bens atípico.
140. Regime da comunhão geral de bens: um dos cônjuges herdou um bem. É bem
comum? Quem administra?
O regime da comunhão geral de bens vigora como um regime convencional (a não ser
nos casos dos artigos 1792º/ 1 e 1699º/ 2 do C.C.) Neste, são bens comuns todos os que a lei
não considere incomunicáveis. Segundo o artigo 1732º do C.C., inserem-se na comunhão
todos os bens presentes que tinham ao tempo da celebração do casamento, assim como os
bens futuros dos cônjuges adquiridos a título gratuito.
Neste caso, o bem herdado por um dos cônjuges é próprio. Para saber quem o
administra, deve atentar-se ao constante do artigo 1678º/ 2, c), que propõe a administração
deste bem pelo cônjuge que o adquiriu após o casamento. Assim é, porque cada um dos
cônjuges administra os seus direitos patrimoniais.
141. Há alguma situação em que um bem comum seja administrado apenas por
um dos cônjuges?
Existem algumas exceções aplicáveis à regra geral de administração dos bens
comuns: por exemplo, o produto do trabalho que um dos cônjuges aufere é bem comum no
regime da comunhão de adquiridos. Porém, esse é administrado pelo cônjuge que o aufere,
nos termos do artigo 1678º/ 2, a) do C.C.. Mas ele é livre de aplicar os seus rendimentos do
trabalho como entender, apenas depois de ter contribuído para os encargos da vida familiar
ou pretensões de alimentos a que esteja vinculado.
142. Na comunhão geral, os bens adquiridos por sucessão são bens próprios ou
comuns?
Os bens que advenham ao cônjuge após o casamento, por via sucessória, são bens
comuns, como revela o artigo 1722º/ 1, b) do C.C..
143. É possível que a partilha se faça segundo um regime diferente do que vigora
para o casamento?
De acordo com os artigos 1719º e 1790º do C.C., podem os cônjuges fixar um regime
diferente para a partilha, no caso de dissolução do casamento. Este regime deve ser o da
comunhão geral de bens, e não deve beneficiar em excesso nenhum dos membros do casal.
144. Conhece alguma situação em que seja possível alterar o regime de bens
durante o casamento?
O artigo 1714º do C.C. consagra o princípio da imutabilidade do regime de bens, o
que significa que, após a celebração do casamento, não é permitida a revogação ou
modificação da convenção antenupcial, nem a alteração do regime de bens legalmente fixado.
Este princípio tem em vista a proteção de um cônjuge em função do outro.
Todavia, há exceções a esta regra, contidas no artigo 1715º/ 1 do C.C.. São os casos
da revogação das disposições do artigo 1700º do C.C. - alíne a); da simples separação judicial
de bens - alínea b); da separação judicial de pessoas e bens - alínea c); e em todos os restantes
casos de separação de bens na vigência da sociedade conjugal - alínea d).
146. Num regime de comunhão de adquiridos, os frutos dos bens próprios são
próprios ou comuns?
Para responder à questão, deve olhar-se para o disposto no artigo 1728º/ 1 do C.C.,
que determina que os bens que sejam frutos de outros são bens comuns.
150. A casa de morada de família tem algum regime associado? Tem alguma
especialidade relativamente aos demais imóveis?
A casa de morada de família tem um regime especial. Por exemplo, o constante do
artigo 1682º-A/ 2, que é o caso da alienação, oneração ou arrendamento do imóvel,
necessitando sempre do consentimento de ambos os cônjuges para o efeito. O artigo seguinte,
o 1682º- B do C.C. também estabelece algumas particularidades.
E no caso do divórcio?
O regime previsto para o caso do divórcio quando à casa de morada de família é o
disposto no artigo 1793º do C.C..
154. Como é que distingue, para efeitos do artigo 1678º/ 3 do C.C., os atos de
administração ordinária dos actos de administração extraordinária?
A disposição em análise respeita à administração dos bens do casal. O número 1
define a administração de bens próprios. O número 2 determina o que cada cônjuge pode
administrar. O número 3 consagra a principal regra de administração de bens comuns do
casal.
Os atos de administração ordinária são aqueles que são praticados com frequência,
com normalidade. E, por isso, envolvem uma gestão disjunta dos bens, pois que, cada um dos
cônjuges tem legitimidade para a prática desses atos recorrentes.
Por outro lado, os atos de administração extraordinária referem-se aos que são
praticados esporadicamente, contrariando o regime da normalidade. Como tal, é necessário o
consentimento do outro membro do casal, ao abrigo do artigo 1678º/ 3 do C.C., pois que a
gestão dos bens deve ser conjunta.
157. A, solteiro, contrai dívida para compra de casa. Após compra, A casa com B
no regime da comunhão geral. Pode o banco exigir o pagamento do empréstimo?
No regime da comunhão geral de bens, as dívidas são comunicáveis,
responsabilizando tanto um como outro membro do casal, nos casos em que tenham sido
contraídas antes do casamento, como explicita o artigo 1691º/ 2 do C.C.. Ademais, nos
termos do artigo 1694º/ 1 do C.C., as dívidas que onerem bens comuns são da
responsabilidade dos dois cônjuges.
Assim sendo, o banco deve demandar os dois, ao abrigo do disposto no artigo 1695º/
1 do C.C., respondendo os bens comuns de A e B.
162. Todos os bens são comuns, com exceção da casa da morada de família, que é
um bem de A. Em que regime estão casados?
O casal não pode ter fixado o regime da separação de bens, uma vez que, neste, não
existem bens comuns, sendo que todos são próprios e deles podem dispor livremente os
cônjuges, como prevê o artigo 1735º do C.C..
No regime da comunhão geral de bens, não podem estar casados, porque os bens que
são levados para o casamento (pressupõe-se que a casa que A tem foi levada para o
casamento) são comuns.
O regime da comunhão de adquiridos permite que os cônjuges tenham os seus bens
próprios, que estão dispostos no artigo 1722º do C.C..
Logo, os cônjuges estão casados num regime atípico.
163. Durante casamento, A vende imóvel. Que pode fazer B (cônjuge), se não tiver
consentido, nem viverem separação de bens?
No regime da separação de bens, não há bens comuns. Os bens pertencem a um
cônjuge em propriedade exclusiva, ou a ambos, em compropriedade. Os cônjuges podem,
portanto, dispor livremente dos seus bens, como refere o artigo 1735º do C.C.
Se A e B não estipularam o regime da separação de bens, à partida terão bens comuns.
Nesta situação, tem de se observar o disposto no artigo 1682º-A, que reporta à alienação ou
oneração de bens imóveis. Esta carece do consentimento dos dois cônjuges. Por isso, se B
não deu o seu assentimento, tem a possibilidade de reagir nos termos do artigo 1687º do C.C.,
podendo anular o negócio realizado.
No regime da comunhão geral de bens, são bens comuns todos os que a lei não
considere incomunicáveis. Como dispõe o artigo 1732º do C.C. fazem parte da comunhão os
bens que os cônjuges tinham ao tempo da celebração do casamento e os bens futuros dos
cônjuges, adquiridos a título gratuito.
Os bens que compõem o elenco do artigo 1733º do C.C. são os bens que não fazem
parte da comunhão, sendo, por isso, próprios de um dos cônjuges.
169. A e B são casados em separação de bens. B contrai uma dívida para fazer
uma reparação na casa de morada de família. O empreiteiro pretende executar a
dívida. Contra quem? A dívida é comum e eles são casados em separação de
bens? Pode ser? Que bens respondem?
O regime da separação de bens é aquele em que não há bens comuns aos cônjuges,
sendo que todos os bens são próprios de cada um. Pode, assim, um e outro, dispor livremente
dos mesmos, como estatui o artigo 1735º do C.C..
Neste sentido, a dívida contraída por B é, em princípio, uma dívida incomunicável,
sendo da sua exclusiva responsabilidade. Neste sentido, responde o património de B, como
menciona o artigo 1695º/ 1 e 2 do C.C..
Com efeito, o artigo 1728º/ 1 do C.C. dispõe que são bens próprios aqueles que se
adquiram por virtude da titularidade de bens próprios, quando não se possam considerar
como frutos desses. Os frutos dos bens próprios de cada um dos cônjuges, sejam naturais ou
civis, são considerados, assim, como bens comuns do casal.
174. O dono de uma sociedade vende um imovel valioso à sua mulher por um
preço reduzido. Quid iuris?
A compra e venda é um dos contratos proibidos entre cônjuges, de acordo com o
artigo 1714º/ 2, a não ser que o casal se encontre em regime de separação de bens.
180. Adquiro um bem, parte com bens comuns e parte com bens próprios. Vigora
o regime da comunhão de adquiridos. O bem é comum ou próprio?
O artigo 1726º do C.C. resolve a questão, estipulando, no número 1, que os bens que
sejam adquiridos em parte com dinheiro próprio e em parte com dinheiro comum (ou bens,
nesta situação), revestem a natureza da mais valiosa das duas prestações. Teria de se aferir
qual dos bens (próprio ou comum) seria mais valioso e, daí, se concluía se o bem adquirido
posteriormente era de um só ou dos dois membros do casal.
Sim, pois o artigo 1733º do C.C. prevê que esses bens sejam incomunicáveis. E, nesta
convenção, fez-se a ressalva para esses bens, indicando-se que todos os bens seriam comuns,
com exceção dos elencados nesse artigo.
183. Quais os bens doados que não se comunicam, nos termos do artigo 1733º?
Não se comunicam, estando afastados da comunhão, os bens em que haja uma
cláusula de incomunicabilidade [alínea a)].
cônjuge por sucessão depois do casamento. Ora, se A adquiriu o automóvel por sucessão,
esse bem é próprio de A.
Como tal, A tem o poder de administração desse bem e pode, sem o consentimento de
B, vender o bem móvel, nos termos do artigo 1682º/ 2 do C.C..
DEVERES CONJUGAIS
191. Quais os casos em que se deve aplicar o artigo 1678º/ f) e o artigo 1679º do
Código Civil (qual é a diferença)?
O artigo 1678º/2, f) do C.C. deve ser exclusivamente aplicado quando se verifique a
observância de dois pressupostos cumulativos: a impossibilidade de exercer a administração
por parte de um dos cônjuges que está em lugar remoto ou não conhecido; e a falta de
procuração conferida para administração desses bens. Assim, estes bens são da administração
de apenas um dos cônjuges.
O artigo 1679º do C.C. refere-se aos casos em que o cônjuge que não administra os
bens pode tomar providências relativamente a essa mesma administração, feita, neste caso,
pelo outro membro do casal.
C.C.. Se algum destes deveres for violado, existe a permissão para que o outro cônjuge
obtenha o divórcio, sem depender de um prazo de separação de facto [artigo 1781º/ d) do
C.C.], aplicando-se, de igual modo, o instituto da responsabilidade civil.
O dever de respeito constitui a obrigação de não lesar a honra do parceiro, sendo
ilícitos os comportamentos daquele que lesar a integridade moral do outro.
O dever de fidelidade incorpora um dever duplo de abstenção: um dever de fidelidade
física, que impede o adultério e a prática de atos sexuais com terceiro; e um dever de
fidelidade mora, que impede qualquer ligação amorosa não carnal de um cônjuge com
terceiro. A obrigação de exclusividade sexual decorre da imagem legal do casamento como
plena comunhão de vida, de acordo com o artigo 1577º do C.C., e monogâmica, segundo o
artigo 1601º/ c) do C.C..
O dever de coabitação consiste numa comunhão tripla: de leito, de mesa e de
habitação. A comunhão de leito envolve a prática de atos sexuais. A comunhão de mesa
refere-se às refeições tomadas em conjunto, assim como à partilha de recursos. A comunhão
de habitação diz respeito à convivência habitual dos membros do casal na casa de morada da
família, como consta do artigo 1673º do C.C..
O dever de cooperação tem a ver com a obrigação de socorro e auxílio mútuos (artigo
1674º do C.C.), pressupondo a intervenção na esfera do outro cônjuge, apoiando o outro na
doença, ajudando-o a recuperar. Envolve a cooperação no sustento e educação dos filhos e
apoio a outros familiares que estejam a cargo de um e de outro cônjuge (artigo 1676º/ 1 do
C.C.).
O dever de assistência é um dever estruturalmente patrimonial, requisitando a
obrigação de prestar alimentos e a obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar,
como resulta do artigo 1675º/ 1 do C.C..
196. Imagine que o cônjuge violou o dever de fidelidade. Pode pedir o divórcio?
O dever de fidelidade constitui a obrigação de ser fiel para com o outro cônjuge,
abstendo-se da prática de atos sexuais com terceiro e da formação de qualquer ligação
amorosa com outrem. Diz respeito a uma obrigação de exclusividade sexual e monogâmica.
A violação deste dever conjugal (ou de qualquer outro) permite a obtenção imediata
do divórcio por um dos cônjuges, assim como a aplicação do instituto geral da
responsabilidade civil.
Contudo, assente no princípio da rutura, este dever conjugal só constitui fundamento
para divórcio se significar uma rutura no matrimónio, ao abrigo do artigo 1781º/ d) do C.C..
198. O que pode um cônjuge fazer se o outro não contribuir para os encargos da
vida familiar?
O outro cônjuge pode reagir nos termos do artigo 1676º/ 4, exigindo que lhe seja
diretamente entregue a parte dos rendimentos que o tribunal fixar, e que não haja sido paga.
escritura pública ou documento particular autenticado, nos termos gerais do artigo 947º/ 1 do
C.C..
O artigo 1763º/ 2 do C.C. proíbe os membros do casal de fazerem doações recíprocas
no mesmo ato. E só podem ser doados bens próprios do doador, como afirma o artigo 1764º/
1 do C.C.. Por fim, é inválida a doação entre cônjuges de bens comuns.
205. O que distingue o regime das doações entre cônjuges do regime geral das
doações?
206. Porque é que as doações entre casados de bens móveis só podem ser feitas por
escrito?
Ao abrigo do constante do artigo 1763º/ 1 do C.C., a doação de coisas móveis está
sujeita a uma forma especial, que é a de documento escrito. É assim, porque se trata de um
contrato entre cônjuges, que merece uma proteção especial.
210. Qual a razão de ser da proibição legal da venda entre cônjuges? Base legal?
O contrato de compra e venda é proibido por lei entre membros do casal (artigo
1714º/ 2 do C.C.). Este impedimento existe, uma vez que os contratos de compra e venda não
são revogáveis. Deste modo, protegem-se os cônjuges.
211. O que acontece se houver uma doação para casamento e depois os cônjuges se
divorciam? A doação é válida?
Nos termos do artigo 1766º/ 1, c) do C.C., ocorrendo divórcio ou separação judicial
de pessoas e bens, após ter havido uma doação para casamento, essa mesma caduca.
Imagine que o cônjuge ficou muito amigo do outro e quer que o bem continue a
pertencer ao outro. O que pode fazer nesse caso?
Pode fazer uma nova doação.
DIVÓRCIO/ SEPARAÇÃO
213. O divórcio em Portugal é um divórcio-sanção?
O divórcio resulta da extinção do vínculo matrimonial, sendo uma causa da sua
dissolução. Pode constituir, como dispõe o artigo 1773º do C.C., divórcio por mútuo
consentimento ou divórcio sem consentimento de um dos cônjuges. O primeiro é requerido
na conservatória do registo civil por ambos os cônjuges, que estão em acordo, ou no tribunal,
caso os cônjuges não acompanhem o requerimento de divórcio com todos os acordos que são
exigidos nos termos do artigo 1775º/ 1 do C.C.. O segundo é requerido por apenas um dos
cônjuges, contra o outro, no tribunal, com fundamento em determinada causa, como consta
do artigo 1773º/ 3 e 1781º do C.C..
Dentro do divórcio sem consentimento de um dos cônjuges, a que se pode chamar
divórcio litigioso em sentido restrito, existem diversas causas a apreciar, que fazem distinguir
entre variados modelos. Existe o modelo divórcio-sanção, que pressupõe um ato ilícito e
culposo de um cônjuge e pretende constituir-se como uma consequência desse ato, razão pela
qual só pode ser apelado pelo cônjuge inocente. Existe o modelo de divórcio-falência, que
resulta de um estado de vida conjugal intolerável, a que se pretende pôr termo; neste caso,
qualquer um dos cônjuges pode requerer o divórcio, independentemente de ter contribuído
mais ou menos para esse estado de crise matrimonial. Existe, por fim, o modelo de
divórcio-remédio, que também pressupõe um estado de vida conjugal intolerável, mas que
emerge, com ou sem culpa, por causa de um dos cônjuges, visando permitir ao outro que se
liberte do casamento.
O sistema português atual de divórcio litigioso é um sistema misto, que combina os
modelos de divórcio-falência e de divórcio-remédio, como se retira do artigo 1785º/ 1 do
C.C..
Antes da vigência da Lei n.º 61/ 2008, de 31 de outubro, o sistema português
combinava os três modelos, incluindo o divórcio-sanção. Contudo, verificou-se uma mudança
em 2008, pois não fazia sentido manter o divórcio fundado em violação de deveres conjugais.
Hoje em dia, considera-se que os cônjuges devem ser sancionados neste âmbito, mas no
âmbito da responsabilidade civil.
214. A e B são casados. Um dia, B decide que não paga nada do que estiver
relacionado com A. Deixa de pagar a água da casa, a luz, telefone, etc. O que é
que A pode fazer? Só pode pedir odivórcio? Ou tem outros meios?
Se A e B estão unidos por um vínculo matrimonial, existem deveres conjugais que os
vinculam reciprocamente. Um desses deveres é o dever de assistência (artigo 1675º do C.C.),
pretenda restabelecer a vida em comum. Basta, igualmente, que não tenham comunhão de
leito, que não tomem refeições juntos e que evitem a companhia um do outro.
222. Suponha que um dos cônjuges vai trabalhar para o estrangeiro. Haverá
separação de facto?
Não há separação de facto quando os cônjuges não possam viver juntos, porque um
deles se deslocou para o estrangeiro para exercer funções públicas, numa localidade distante
da casa de morada de família,
ambos, a obrigação só incumbe ao principal culpado. E esta obrigação só pode ser imposta
pelo tribunal ao cônjuge inocente.
229. Imagine que o cônjuge violou o dever de fidelidade. Pode pedir o divórcio?
A violação de qualquer dos deveres conjugais permite a obtenção imediata do
divórcio por um dos cônjuges, ao abrigo do artigo 1781º/ d) do C.C.. Contudo, esta
disposição aplica-se apenas nos casos em que se verifique a rutura definitiva do casamento,
pelo que, se os cônjuges prosseguirem com a sua vida normal, ignorando este facto, o pedido
não tem razão fundamentada para ser feito.
Se o requerimento de divórcio fosse legítimo, poderia ser, porém, unicamente feito
pelo cônjuge culpado no domínio de um modelo de divórcio-constatação de rutura, que é
independente da culpa.
230. Imagine que o cônjuge sabia da relação extra matrimonial do outro cônjuge.
Soube durante 4 anos. Pode vir agora pedir o divórcio?
O cônjuge pode vir a pedir o divórcio com fundamento em violação de um dos
deveres conjugais - o dever de fidelidade - [que se insere no artigo 1781º/ d) do C.C.], quando
isso signifique a rutura definitiva do casamento.
Num caso em que um dos membros do casal ignore o facto de o outro permanecer em
violação do dever de fidelidade e, mesmo assim, se manter o casamento, sem qualquer tipo de
intolerância no estado de vida conjugal, isso não constitui um fundamento para requerer o
divórcio.
237. Bens levados para o casamento adquiridos a título gratuito são bens próprios
ou comuns?
Depende do regime.
Na comunhão de adquiridos, os bens seriam próprios. Na comunhão geral de bens, os
mesmos seriam comuns.
E os rendimentos destes bens, são próprios ou comuns na comunhão de
adquiridos?
Pela interpretação do artigo 1728º do C.C., conclui-se que os frutos são bens comuns.
ADOÇÃO
243. Cônjuge adota filho de outro cônjuge. Lei é mais exigente ao estabelecer os
seus requisitos? Em que termos a lei favorece?
O cônjuge pode adotar o filho do outro cônjuge, nos termos do artigo 1979º/ 2 do
C.C.. A lei não exige um requisito especial para estas pessoas, inclusivamente, podem fazê-lo
desde que tenham 25 anos.
Existe uma restrição, demonstrada pelo número 5 do mesmo artigo, que impede que
se aplique o número 3. Ou seja, mesmo que o cônjuge tenha mais 60 anos (o que se configura
como uma proibição para a adoção), pode adotar a criança. Por isso, a lei favorece estas
pessoas, ao abrigo do artigo 1979º/ 3 e 5 do C.C..
A Lei n.º 143/ 2015, de 8 de setembro, revogou o artigo 1977º do C.C., sob a epígrafe
‘’espécies de adoção’’. Este distinguia entre adoção plena e adoção restrita, com fundamento
no critério dos efeitos.
A adoção plena significava a integração total e exclusiva do adotado na família do
adotante. Isto é, a criança adquiria a situação de filho do adotante, e cessavam as relações que
a primeira tinha com a sua família biológica.
A adoção restrita caracterizava-se pela atribuição de poder paternal ao adotante, mas
mantinham-se, no geral, os laços de sangue entre a criança adotada e a sua família natural.
Esta dicotomia desapareceu no Direito português.
UNIÃO DE FACTO
250. A união de facto tem alguns aspetos semelhantes ao casamento?
A união de facto corresponde à convivência de duas pessoas em condições análogas
às dos cônjuges, com uma tripla vertente de comunhão de leito, mesa e habitação. Nesta
linha, a união de facto é semelhante ao casamento.
Contudo, a união de facto não pode ser considerada uma relação jurídica familiar,
antes uma relação parafamiliar. Isto é, para constituir e cessar a união de facto, não é
necessária a intervenção de um ato estatal, e não se consegue registar uma união de facto. Ao
mesmo tempo, não existe a vinculação recíproca a deveres, como existe no casamento,
quanto aos deveres conjugais. Por isso, existem muitos aspetos em que estes dois institutos
diferem um do outro.
253. Se um dos unidos de facto contrair uma dívida em proveito comum do casal
em união de facto, aplica que regime?
Na hipótese de um dos membros da união de facto contrair uma dívida em proveito
comum do casal, aplica-se analogicamente o regime do artigo 1691º/ 1, c) do C.C.. São da
responsabilidade de ambos os ‘’cônjuges’’ (aqui, dos unidos), as dívidas contraídas em
proveito comum do casal, na constância da união de facto.
255. Há alguma presunção de paternidade nas uniões de facto? Se sim, esta é uma
presunção legal?
Sim.
O artigo 1871º/ 1 c) do C.C. consagra uma presunção iuris tantum, relevante para
efeitos de prova na ação de investigação, que institui a presunção da paternidade do filho
concebido na constância de união de facto.
256. O que diz a doutrina relativamente aos deveres nas uniões de facto?
No que respeita aos deveres nas uniões de facto, e, em concreto, no que respeita aos
deveres conjugais que existem no casamento, eles não persistem na união de facto. O dever
de fidelidade e o dever de assistência, por exemplo, não são exigidos para esta relação
parafamiliar. Não é permitido, inclusivamente, estipular em contrato de coabitação que algum
desses deveres se deva observar, cláusula que será inválida, no caso de se observar. Assim
sendo, porque não existem estes deveres, a sua violação também não se coloca.
condenação anterior de uma das pessoas como autor ou cúmplice por homicídio doloso
consumado ou tentado contra o cônjuge do outro.