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Conselho da Europa: criado em 1949, não se prevendo nos seus estatutos qualquer
transferência ou exercício em comum de partes da soberania nacional, sendo todas as decisões
tomadas por unanimidade, podendo assim qualquer país opor um veto à adoção de uma
decisão. Constitui um organismo de cooperação internacional, levando à conclusão de diversas
convenções em inúmeros domínios (Ex: Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do
Homem e das Liberdades Fundamentais- 1950, que permitiu um nível mínimo de proteção dos
direitos humanos e um sistema de garantias jurídicas que habilitam os órgãos- Comissão
Europeia dos Direitos do Homem e o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem- a condenar
quaisquer violações da Convenção).
União Europeia: esta organização distingue-se das restantes por reunir países que renunciaram
a uma parte da respetiva soberania a favor da União Europeia, conferindo a esta poderes
próprios e independentes dos Estados-Membros.
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11Teve de vencer alguns obstáculos na fase de ratificação: foram precisos dois referendos na Dinamarca para a sua
aprovação e na Alemanha foi interposto um recurso no Tribunal Constitucional contra a aprovação parlamentar do
Tratado.
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➢ Tratado que institui a Comunidade Europeia da Energia Atómica: institui a CEEA e foi
modificado apenas pontualmente e as modificações especificas foram incluídas nos
protocolos inseridos em anexo ao Tratado de Lisboa.
A União Europeia constitui o modelo de integração com maior sucesso. A integração europeia é
um efeito direto da Segunda Guerra Mundial e da tentativa de criar condições que impedissem
o desenvolvimento de novos conflitos militares. É a Winston Churchill que se deve a ideia de
necessidade de construir “uma espécie de Estados Unidos da Europa”, apelando especialmente
a uma cooperação paritária entre a França e a Alemanha. Contudo, existiam 2 dificuldades:
rivalidade franco-alemã marcada por uma tendência hegemónica da Alemanha e a falta de
experiência de trabalho em comum.
Declaração Schuman: preparada por Jean Monnet, foi uma declaração de Schuman na qual
França afirma a sua disponibilidade para promover uma união de mercado de carvão e aço sobre
o patrocínio de uma comissão supranacional- Alta Autoridade Comum. É a esta declaração que
se liga o arranque do processo de integração europeia, concretizando a ideia expressa antes por
Churchill. Esta declaração mostra-se como uma significativa vitória da diplomacia alemã, visto
que a Alemanha consegue romper o veto à sua industrialização e evitar o projeto de
transformação do Estado num país essencialmente agrícola, reintegrando no conjunto das
nações prósperas. Esta solução era igualmente benéfica para França que dispunham das fontes
de energia e da indústria alemãs. A Alemanha deixou que França fosse a cara da paz e da
integração e, ao mesmo tempo, recuperaram o poder económico e político. A declaração inicia
um método de construção faseada, visto que proclamou que a Europa não se construiria de uma
só vez, mas pela concretização de um projeto global predeterminado, resultado de realizações
concretas.
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Desde a sua entrada que o Reino Unido mostra uma posição distante, não aderindo ao euro nem
aceitando a Carta Social Europeia, por exemplo- “casamento sem casamento”.
Foi na segunda metade do século XIX que surgiram as primeiras organizações internacionais de
caráter regional amplo, tendencialmente extensivas a todo o continente europeu e algumas
mesmo de caráter universal: Comissão Internacional dos Correios/União Geral dos Correios/
União Postar Universal; União Telegráfica Internacional; Organização Mundial da Propriedade
Industrial. Surge também nesta altura a criação de organizações internacionais, ao nível dos
transportes, do conhecimento dos recursos naturais e da agricultura. Em 1919 foi criada a
Organização Internacional do Trabalho e em 1930 o Banco de Pagamentos Internacionais. A
Cooperação Económica Europeia desenvolveu-se no início do século XX, mas a partir de 1929 a
doutrina protecionista toma conta da política económica internacional.
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inicialmente o seu grau de apreciação da democracia era extremo (o que já não é tanto
após a queda do muro de Berlim).
➢ Portugal começa por aderir ao Conselho da Europa em 1976 (manifestando o desejo de
adesão em 1974). Para aderir à CEE, Portugal apresenta argumentos de ordem política
e económica, sendo a complexidade dos segundos a razão da demora do processo de
adesão. A entrada de Portugal e também da Grécia e de Espanha vão levar ao
surgimento de novos desafios para a CEE, visto que passaria de um conjunto de países
ricos para um conjunto de nações heterogéneas, em que o princípio da solidariedade se
deve fazer sentir. A adesão da Grécia foi mais fácil, visto que já estava ligada Às
Comunidades por acordo de associação, que fora congelado durante a ditadura. Neste
alargamento, o aumento acentuado de regiões desfavorecidas em relação à média
europeia levaria à necessidade de reforçar o FEDER, criado em 1975.
➢ Ato único Europeu: primeira alteração do Tratado de Roma, com vista a concluir a
realização do mercado interno. Este Ato Único prevê um aumento do número de casos
em que o Conselho pode deliberar por maioria qualificada e não por unanimidade, para
facilitar a realização do mercado interno, o que promove a tomada de decisões,
impedido os bloqueios que surgem da necessidade de unanimidade. Assim, a
unanimidade deixa de ser necessária quanto a medidas com vista ao estabelecimento
do mercado interno, com exceção das relativas à fiscalidade, livre circulação de pessoas
e direitos e interesses dos trabalhadores assalariados. Passa a ser necessário um parecer
favorável do Parlamento aquando da conclusão de um acordo de associação. Institui o
Conselho Europeu que oficializa as conferências ou cimeiras dos Chefes de Estado e de
Governo. Criou bases para a criação do Tribunal de Primeira Instância. O artigo 30º do
Ato apresenta que os Estados Membros devem esforçar-se para formular e aplicar em
comum uma política externa europeia.
➢ Tratado de Maastricht: expressa uma verdadeira união económica e política, A ideia de
moeda única deve-se a Mitterrand que considerava que se deveria substituir o marco
alemão por uma moeda única que permitira o equilibro europeu. A moeda única seria
integrada na União Económica e Monetária. A necessidade de um novo tratado surge
com o alargamento resultante da entrada de novos países ocidentais e de Estados que
anteriormente se encontravam na área de influência soviética. Para rever o Tratado de
Roma, em 1991 convocou-se duas conferências intergovernamentais: uma destinada a
discutir assuntos relativos à união económica monetária e outra relativa à união política
(sendo essas indissociáveis). Isto vai culminar no Tratado de Maastricht que entrou em
vigor em 1993. Foi consagrada uma regra de subsidiariedade: “o nível mais alto só deve
intervir quando o mais baixo se revelar impotente”. A União Europeia assentava em 3
pilares: a Comunidade, resultante da unificação das suas anteriores comunidades; a
Política Externa e de Segurança Comum; e a Cooperação Policial e Judiciária em matéria
penal. O Tratado reforçou os poderes do Parlamento em matéria legislativa. Foi
introduzida a ideia de cidadania europeia, dando uma sensação de envolvimento da
generalidade dos cidadãos dos Estados-Membros. Contudo, esta cidadania é entendia
em termos restritos e é vista como uma ideia distante para os seus titulares. A cidadania
europeia materializava-se em: direito de circular e residir em qualquer Estado; votar
para o Parlamento Europeu no Estado em que residam; de votar e de ser eleito nas
eleições locais; apresentar queixa ao Provedor da Justiça Europeu; proteção consular
num Estado terceiro em que não exista representação do Estado de Origem. Foi criado
o Fundo de Coesão, destinado a projetos no domínio do ambiente e dos transportes em
Estado cuja média do PIB fosse inferior a 90%. As dúvidas sobre a natureza do Tratado
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Atual Estrutura Unitária: o Tratado de Lisboa confere à União Europeia uma estrutura europeia,
e, por isso, esta sucede às Comunidades Europeias e aos pilares intergovernamentais e passa a
deter personalidade jurídica (47º TUE). Note-se que a unificação formal, não foi acompanhada
da uniformização de todos os procedimentos de decisão, do sistema de fontes nem do controlo
jurisdicional dos Tribunais da União, visto que se mantêm significativas diferenças entre as
matérias que integram as Comunidades e as matérias dos pilares intergovernamentais- existem
claros resquícios da estrutura tripartida.
Objetivos da União: estão presentes no artigo 3º TUE e nos artigos 8º-17º TFUE. O TJ considerou
que os objetivos não podem ter por efeito impor obrigações aos Estados Membros ou conferir
direitos aos indivíduos, visto que dependem de implementação de políticas por parte da União
ou dos Estados Membros. Contudo, afiguram-se bastante relevantes em questão de
interpretação, pois as normas sobre as atribuições da União bem como algumas disposições
relativas à competência dos órgãos constantes dos Tratados são lidas em consonâncias com os
objetivos da união.
Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (CDFUE): desde cedo surge a ideia de que a
Comunidade e, mais tarde a União Europeia, deveriam não só respeitar como também proteger
os direitos fundamentais. Portanto, a Carta enquadra-se num contexto de afirmação de direitos
das pessoas por parte da União, feita através da jurisprudência que defende que as
Comunidades devem assegurar o respeito dos direitos fundamentais consagrados nas tradições
constitucionais comuns aos Estados Membros e no Direito Internacional dos Direitos Humanos,
em especial na CEDH. A Carta foi criada por uma Convenção, que decorre em simultâneo com a
GIG 2000, na qual se aprova o Tratado de Nice. O objetivo da Carta era tornar visíveis os direitos
já existentes, de forma a aumentar a segurança jurídica e a proteção dos cidadãos. Tinha-se
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como finalidade atribuir caráter vinculativo à Carta, através da sua inserção no TUE, mas a falta
de consenso quanto a isso, não permitiu, sendo esta Carta proclamada pela Comissão, PE e
Conselho e politicamente aprovada pelos Estados Membros no Conselho Europeu de Nice em
2000. O estatuo jurídico da Carta foi incluindo na declaração nº23 anexa ao Tratado de Nice. A
CDFUE pretendia ainda constituir um impulso ao processo de constitucionalização da União e
consolidar um movimento de implicação dos indivíduos no processo de integração europeia. A
Carta tem 7 títulos, sendo respetivos à Dignidade, Liberdade, Igualdade, Solidariedade,
Cidadania, Justiça e Disposições Finais. A Carta não tinha até ao Tratado de Lisboa (6º/1 TUE tem
valor jurídico idêntico ao dos Tratados) força jurídica vinculativa, mas tal não impediu que as
suas normas fossem invocadas por exemplo pela Comissão, Advogados-Gerais do Tribunal de
Justiça, TPI e TJUE- era considerada soft law.
Princípio da cooperação leal (4º/3, 2º e 3º/3 TUE e 222º TFUE): existe uma comunhão
de interesses que fundamenta vínculos de solidariedade entre a União e os seus
membros e vice versa. Este princípio é uma manifestação do princípio da boa fé. A União
só pode exercer plenamente as suas tarefas se existir uma total colaboração,
cooperação e fidelidade dos seus Estados Membros, visto que a União se serve das
administrações nacionais para executar o seu Direito e do aparelho judiciário dos
Estados para o executar. Este princípio tem um conteúdo positivo, os Estados devem
tomar todas as medidas necessárias ao cumprimento da missão da União, e tem um
conteúdo negativo, ou seja, devem abster-se de praticar atos que ponham ao perigo a
aplicação dos Tratados. Este princípio serve de base ao TJUE para fundamentar certos
princípios: primado do direito da união sobre os direitos dos Estados; princípio da tutela
judicial efetiva; princípio do efeito direto; e princípio da responsabilidade do Estado por
violação de normas e atos da União. Este princípio desempenha um papel importante
no domínio da ação externa da União e é também aplicado nas relações das instituições,
órgãos e organismos da União entre si.
Princípio do acervo da União: passa a integrar os Tratados após o Tratado de
Maastricht, podendo atualmente ser retirado do artigo 1º/3 TUE, que afirma que a
União substitui e sucede à Comunidade Europeia, reconhecendo-se assim todo o direito
anteriormente produzido. Este princípio traduz-se na imposição de os novos Estados
que aderem à União respeitarem na integra todo o seu direito, no estádio de
desenvolvimento em que se encontre, bem como as decisões políticas tomados até esse
momento. Ou seja, os novos Estados devem respeitar as disposições de tratados
originários e dos atos atotados pela União (Direito Originário, Direito Derivado e
Jurisprudência dos Tribunais da União). Por outro lado, obrigam-se a aderir às
convenções internacionais e a respeitar todos os acordos internacionais de que a União
e Comunidade fazem parte. Por fim, ficam vinculados pelas decisões e acordos adotados
pelos representantes dos Governos reunidos no Conselho e por todas as declarações,
resoluções ou outros atos adotados pelos Estados Membros em relação à Comunidade.
Note-se que podem existir sempre períodos de transição, para os recentes Estados se
adaptem.
Princípio do respeito das identidades nacionais: o artigo 3º/3 4º parte TUE afirma que
a União respeita a riqueza da sua diversidade cultural e linguística e vela pela
salvaguarda e pelo desenvolvimento do património cultural europeu. O artigo 4º/2
apresenta que a União respeita a identidade nacional dos Estados Membros, refletida
nas estruturas políticas e constitucionais fundamentais de cada um deles, incluindo no
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Atribuições da União
As atribuições exclusivas estão enunciadas no artigo 3º/1 TUE, gozando estas matérias de
presunção de exclusividade, o que implica que nestas matérias só a União pode legislar e adotar
atos juridicamente vinculativos, sendo que os Estados Membros só podem fazê-lo mediante
habilitação da União ou para implementar atos da União. É competência exclusiva da União a
celebração de acordos internacionais: quando tal celebração esteja prevista num ato legislativo;
quando seja necessária para dar à União a possibilidade de exercer a sua competência interna;
e quando seja suscetível de afetar regras comuns ou de alterar o alcance das mesmas. Este
preceito deve ser conjugado com o artigo 216º/1 TFUE (não se deve considerar apenas aplicável
às competências exclusivas) em que se determina que a União pode celebrar acordos
internacionais com um ou mais países terceiros e com Organizações Internacionais quando: os
Tratados o prevejam; a celebração do acordo seja necessária para alcançar, no âmbito das
políticas da União, um dos objetivos previstos nos Tratados; a celebração do acordo esteja
prevista num ato juridicamente vinculativo da União; e a celebração do acordo seja suscetível
de afetar as normas comuns ou de alterar o seu alcance.
As atribuições partilhadas estão enunciadas no artigo 4º/2 TUE, não sendo essa enunciação
exaustiva, mas meramente exemplificativa (“principais domínios), o que implica que nestas
matérias tanto a União como os Estados Membros podem legislar e adotar atos juridicamente
vinculativos, e os Estados Membros exercem a sua competência na medida em que a União não
tenha exercido a sua e voltam a exercer na medida em que a União tenha deixado de exercer a
sua. Os artigos 4º/3 e 4 apresentam domínios em que a União dispõe de competência para
desenvolver ações, mas isso não pode impedir os Estados de exercerem a sua própria
competência. O grau de partilha de cada uma das atribuições previstas nesta categoria diverge
consoante a matéria que está em causa.
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Disposições Gerais no domínio da Ação Externa (21º e 22º TUE): a União deve pautar-se pelos
princípios da democracia, Estado de Direito, universalidade e indivisibilidade dos direitos do
Homem e das liberdades fundamentais, respeito pela dignidade humana, igualdade e
solidariedade e princípios da Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional. Estes princípios
são decorrentes dos valores definidos no Direito Originário, sendo estes partilhados pelos
Estados Membros e tendencialmente aceites ao nível internacional. A União assume-se como
um verdadeiro sujeito de Direito Internacional, com preocupações e responsabilidades
semelhantes às dos Estados. Na definição e prossecução das políticas e ações comuns, a União
deve contribuir para solucionar os principais problemas mundiais, tendo desempenhado um
paral bastante importante neste âmbito. Por outro lado, desempenha também missões de
preservação da paz, de prevenção dos conflitos e de reforço da segurança internacional. O
Conselho Europeu, o Conselho e o Alto Representante dispõem de uma posição privilegiada em
relação aos outros órgãos (PE, Comissão e TJ) por poderem atuar em matéria de PESC e PCSD,
não existindo em matéria de ação externa uma competência dos órgãos idêntica. A identificação
e definição dos interesses e objetivos estratégicos da União é da competência do Conselho
Europeu que delibera por unanimidade, por recomendação do Conselho (22º/1 TUE).
Política Externa e de Segurança Comum da União Europeia (PESC): esta abrange todos os
domínios da política externa, bem como todas as questões relativas à segurança da União,
incluindo a definição gradual de uma política de defesa comum que poderá conduzir a uma
defesa comum (24º/1 TUE). Cabe ao Conselho e à Comissão, assistidos pelo Alto Representante
assegurar a coerência entre os diferentes domínios da política externa da União e entre estes e
as outras políticas, cooperando para esse efeito. A PESC está sujeita a regras e procedimentos
específicos, e nestes a intervenção da Comissão e do PE não é tão alargada como no processo
ordinário- a Comissão e o PE não têm qualquer poder decisório. A Comissão apenas apoia ou
não as iniciativas do Alto Representante ou em certos casos, podem submeter iniciativas
conjuntas, mas mantém o seu poder se apresentar propostas no domínio da ação externa nas
matérias que estejam fora da PESC. O PE tem apenas função consultiva, dirigindo
recomendações ao Conselho e ao Alto Representante, apesar de poder exercer algum controlo
político através da competência que dispõe em matéria de orçamento. No âmbito da PESC, a
tomada de decisões cabe ao Conselho (quando não está em causa matérias com implicações no
domínio da defesa), com respeito pelas orientações gerais e linhas estratégicas definidas pelo
Conselho Europeu. Em regra, o Conselho e o Conselho Europeu, deliberam por unanimidade,
com exceção nos casos previstos no 31º/2 TUE, em que os Estados podem invocar razões vitais
e expressas de política nacional para impedir a votação. Os Estados têm poder de iniciativa em
matéria de política externa e segurança comum. O Alto Representante para os Negócios
Estrangeiros e para a Política Externa (vem “substituir” no mandato da GIG 2007 a figura do
Ministro dos Negócios Estrangeiros criada no TECE) é nomeado, com acordo do Presidente da
Comissão, pelo Conselho Europeu, por maioria qualificada, que o pode destituir a qualquer
momento. É simultaneamente Vice-Presidente da Comissão (onde é responsável pelas relações
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externas e coordena outros aspetos da política externa, conduz a PESC, assegura com o Conselho
a unidade, consistência e efetividade da ação da União no domínio da PESC) e Presidente do
Conselho de Negócios Estrangeiros, do que pode surgir dificuldades, visto que estes órgãos
prosseguem interesses diversos. É responsável perante o Presidente do Conselho Europeu,
perante o Presidente da Comissão (podendo estes dois destituí-lo), ainda, perante o PE por ser
membro da Comissão pelas atividades que desenvolva no âmbito da comissão e deve demitir-
se da Comissão caso o PE aprove uma moção de censura à Comissão. O Alto Representante faz
a ponte entre os dois órgãos, contribuindo para uma maior unidade, coerência e eficácia da
política externa da União. O principal objetivo do Tratado ao instituir a figura de Alto
Representante é conferir maior visibilidade e maior estabilidade à representação externa nos
assuntos da PESC e maior consistência e coerência entre os diferentes aspetos da política
externa da União. Exerce o direito de iniciativa e apresenta propostas no domínio da PESC com
conjunto ou com o apoio da Comissão. Negocia acordos internacionais exclusivamente ou
principalmente no domínio da PESC, representa a União, conduzindo o diálogo político com
terceiros, expressa a posição da União nas organizações e conferências internacionais e
apresenta a posição da União perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Executa as
decisões da PESC, consulta regularmente o PE, exerce autoridade sobre os representantes
especiais nomeados pelo Conselho e sobre o SEAE, incluído as delegações da União nos Estados
terceiros ou nas Organizações Internacionais. O Alto Representante propõe, conjuntamente
com a Comissão, as sanções a adotar pela União com base numa decisão PESC. Propõe ainda
juntamente com a Comissão as regras de execução da clausula de solidariedade e informa
periodicamente o PE, juntamente com a Comissão, da evolução das cooperações reforçadas,
emite parecer sobre a coerência da cooperação reforçada em matéria de PESC e sobre o
preenchimento das condições da participação de um Estado em cooperações reforçadas em
curso no domínio da PESC. O Alto Representante é apoiado por um Serviço Europeu para a Ação
Externa (SEAE- pretende tornar a ação externa da União mais consistente e mais visível),
constituído por uma administração central e pelas delegações da Comissão e do Conselho no
exterior, que passaram a delegações da União, devendo estas representá-la. Veja-se que o
procedimento da União em sede da PESC ainda está muito caracterizado pelo seu caráter
intergovernamental: apesar do princípio da lealdade parecer ter sido estendido à PESC, as
normas especificas da PESC não são em geral suscetíveis de ser sindicadas pelo Tribunal de
Justiça, pelo que o cumprimento das obrigações decorrentes do artigo 24º/3 TUE depende
basicamente da vontade dos Estados. Portanto, as disposições especificas relativas à PESC estão
excluídas da jurisdição do TJ, salvo a competência para verificar a observância do artigo 40º TUE
e a fiscalização da legalidade de certas decisões previstas no 275º TFUE. Nos termos do artigo
25º TUE, as fontes de direito derivado da PESC são as orientações gerais, decisões que definam
as ações a desenvolver, as posições a tomar pela União e as regras de execução dessas decisões
e ainda as decisões de cooperação sistemática entre os Estados Membros, sendo excluída a
adoção de atos legislativos. Os acordos internacionais concluídos no âmbito da PESCA estão
sujeitos ao procedimento geral previsto no artigo 218º TFUE e são vinculativos para os Estados
Membros e para a União (37º TUE e 216º/2 TFUE).
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Lisboa é introduzida uma “clausula de assistência mútua” (42º/7 TUE), no caso de um Estado vir
a ser vítima de agressão armada no seu território, salvaguardando-se, no entanto, os
compromissos assumidos na NATO pelos Estados que são membros dessa Organização. O artigo
222º TFUE consagra uma clausula de solidariedade, no caso de um Estado Membro ser alvo de
um ataque terrorista ou de uma catástrofe natural ou de origem humana. O artigo 44º TUE
permite que a União confie as missões previstas no artigo 43º TUE a um grupo de Estados que
o desejem e que tenham os meios necessários, como forma de maior flexibilização a certas crises
em que a capacidade de reação é essencial. Outra inovação é a cooperação estruturada
permanente, isto é, uma cooperação entre Estados cujas capacidades militares preencham
critérios mais elevados e que tenham assumido compromissos mais vinculativos tendo em vista
a realização de missões mais exigentes (42º/6 e 46º TUE). A Agência Europeia de Defesa é
mencionada no Direito Originário (45º TUE).
O Tratado de Lisboa clarifica e estende o âmbito de aplicação das atribuições exclusivas da União
no domínio da política comercial comum, a qual passa a incluir o comércio de serviços e aspetos
comerciais da propriedade comercial, bem como o investimento estrangeiro. As hipóteses de
decisão do Conselho por maioria qualificada alargam-se. Os poderes do PE saem reforçados,
visto que se exige o seu consentimento para acordos que abranjam domínios que se deve adotar
o processo legislativo ordinário e deve manter-se o PE imediata e permanentemente informado.
O Tratado de Lisboa2 procura tornar a Ação Externa da União mais coerente e eficiente, mas
note-se que o sucesso ou insucesso das disposições depende muito da vontade dos Estados.
Esta matéria está prevista nos artigos 67º a 89º do TFUE. Ao contrário do que aconteceu com a
PESC, quanto a esta matéria não houve praticamente oposição na Convenção sobre o Futura da
Europa, GIG 2004 e GIG 2007 quando à comunitarização. Estando agora o espaço de liberdade,
segurança e justiça sujeito ao método comunitário, há uma tentativa de aproximação deste aos
procedimentos comuns de decisão, às fontes comuns de Direito Derivado e à jurisdição do TJ.
Note-se que os efeitos jurídicos dos atos adotados com base no tratado anterior se mantêm,
não podendo a jurisdição do TJ se aplicar imediatamente às normas relativas a matérias que
anteriormente faziam parte do terceiro pilar. Só passado 5 anos, o TJ adquiria competência,
mantendo-se até lá o regime jurídico constante do anterior TUE na versão de Nice. Com o
Tratado de Lisboa, o processo legislativo ordinário passa a aplicar-se às matérias do espaço de
liberdade, segurança e justiça. Ora, veja-se que os poderes do PE passaram de meramente
consultivos a um verdadeiro poder legislativo (decisório), o que se justifica atendendo aos
efeitos importantes que esta legislação tem sobre direitos fundamentais. Contudo, as matérias
dos artigos 76º, 81º/3, 86º/1, 87º/3 e 89º TFUE estão excluídos da aplicação do processo
legislativo ordinário, visto que são matérias muito marcadas pelo princípio da territorialidade
nacional, e por isso, muito ligadas à soberania dos Estados. As fontes comuns de Direito
Derivado presentes no artigo 288º TFUE aplicam-se a todas as matérias abrangidas pelo espaço
de liberdade, segurança e justiça. Os parlamentos nacionais avaliam a execução das políticas da
União dentro do espaço de liberdade, segurança e justiça, nos termos do artigo 70º TFUE e estão
associados ao controlo político da Europol e à avaliação das atividades da Eurojust (85º e 85º
TFUE). Sabemos que os Parlamentos Nacionais podem dirigir um parecer aos Presidentes do PE,
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Tomar em atenção a influência que o Tratado de Lisboa sofreu do projeto de TECE elaborado pela Convenção sobre
o Futuro da Europa, TECE saído da GIG 2004 e o mandato da GIG 2007, anexo às conclusões do Conselho Europeu.
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Conselho e Comissão em que exponham as razões segundo as quais consideram que o projeto
em causa não respeita o princípio da subsidiariedade (Protocolos 1 e 2 relativos ao papel dos
parlamentos nacionais e à aplicação dos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade).
Se os pareceres representarem um terço do total dos votos atribuídos aos parlamentos
nacionais, o projeto deve ser reanalisado. Mas se estiver em causa matéria prevista no artigo
76º TFUE- cooperação judiciária em matéria penal e cooperação policial- é apenas necessário
um quarto do total de votos para que seja reanalisado (nestas matérias o peso dos parlamentos
nacionais é superior, visto que o afastamento da proposta depende de um número menor de
votos). Depois da reanálise, a Comissão pode decidir manter a proposta, alterá-la ou retirá-la,
sendo que se decidir mantê-la deverá especificar em parecer fundamentado a razão por que a
mesma obedece ao princípio da subsidiariedade. Se por maioria de 55% dos membros do
Conselho ou por maioria dos votos expressos do PE, considerar que a proposta não é compatível
com o princípio da subsidiariedade, a proposta não continuará a ser analisada. O Tratado de
Lisboa estende a jurisdição do TJUE a todo o espaço de liberdade, segurança e justiça, contudo,
o artigo 276º TFUE prevê exceções a essa jurisdição: a) fiscalização da validade ou da
proporcionalidade de operações de polícia; b) decisão sobre o exercício das responsabilidades
que incumbem aos Estados Membros em matéria de manutenção da ordem pública e de
garantia da segurança interna. Por outro lado, pense-se também na existência de período
transitório já apresentado, o que leva a que o TJUE só possa ter jurisdição em matéria de
cooperação policial e cooperação judiciária em matéria penal 5 anos após a entrada do Tratado
de Lisboa.
O protocolo nº20 rege a situação do Reino Unido e Irlanda quanto ao espaço de liberdade,
segurança e justiça. Note-se que estes Estados não fazem parte dos acordos Schengen, gozando
de um opt-out, isto é, podem, a todo o tempo, requerer a possibilidade de aplicar as disposições
deste. Assim, o Reno Unido e a Irlanda, segundo o Protocolo nº21 não participam na adoção
pelo Conselho de medidas cuja base jurídica seja o título V da parte III do TFUE relativo ao espaço
de liberdade, segurança e justiça, não lhes sendo aplicadas as disposições tomadas, a menos
que estes Estados decidam participar na adoção e aplicação dessas disposições. A Dinamarca
recusa a comunitarização de todas as matérias pelo espaço de liberdade, segurança e justiça,
sendo que o Protocolo nº21 lhe concede um regime de exceção, que pode vir a ser prescindido
em moldes um pouco mais limitados do que o Reino Unido e a Irlanda. Note-se que esta
diversidade implica que nem todos os cidadãos europeus gozem dos mesmos direitos e não
tenham acesso aos mesmos meios de defesa, sendo um atentado ao direito de a uma tutela
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Os Estados, quando instituem a União Europeia, transferem para esta parte dos seus poderes
de soberania para uma pessoa coletiva diversa destes (a partir do Tratado de Lisboa). A União
Europeia distingue-se das Organizações internacionais clássicas, pois: nestas últimas estamos
presentes da cooperação dos Estados, não existindo transferência do soberania, não podendo
uma decisão, em regra, ser imposta, visto que os membros decidem através da unanimidade
(veja-se que nem sempre é assim, como no caso da ONU); por outro lado, no caso da União
Europeia, existe uma integração, que pressupõe a transferência de soberania dos Estado para a
União, podendo portanto as decisões ser impostas aos Estados membros mesmo que estes não
concordem com essas. O facto de a União Europeia ser uma ordem de direito autónoma,
significa que o direito de União não será desvirtuado pela interação com o direito natural e será
aplicado uniformemente em todos os Estados-Membros. Mais, os próprios conceitos jurídicos
são interpretados à luz das exigências do direito e dos objetivos da união, e não à luz dos direitos
nacionais dos Estados-membros. A ordem jurídica da União e as ordens jurídicas são
interdependentes e cooperação entre si.
Veja-se o artigo 4º/3 TUE, que mostra que a União não constitui um sistema autossuficiente,
sendo dependente dos sistemas nacionais que estão na sua base para a respetiva aplicação do
seu direito. Assim, as autoridades nacionais devem, não só respeitar os tratados da União e
respetivas normas emanadas as instituições da União, mas também aplicá-las e dar-lhes vida.
Ilustrações da ligação entre as ordens jurídicas: sistema de diretiva, processo de questão
prejudicial quanto à interpretação ou validade do direito da União, recorrer às ordens nacionais
para colmatar lacunas do direito da União, execução do direito da União.
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
Tribunal de Justiça que fixou este principio no acórdão Costa/ENEL (1964), fixando que
os Estados transferiram de forma definitiva para a União certos direitos soberanos,
sendo as medidas unilaterais posteriores incompatíveis com o conceito de direito da
União Europeia e, por outro lado, que o Tratado estabelece com principio fundamental
que um Estado-Membro, não pode pôr em causa a particularidade do Direito de União
se impor uniforme e completamente no conjunto da União. Assim, o direito da União
prevalece sobre qualquer norma nacional, ainda que posterior a si, sendo essa norma
inaplicável, não podendo ser introduzidas nocas disposições de direito interno
contrárias à legislação da União. Acórdão do Tribunal de Justiça de 1993, Administração
das Finanças do Estado c. Sociedade Anónima Simmenthal, Recueil 1978: “O juiz
nacional responsável, no âmbito das suas competências, por aplicar disposições de
direito comunitário, tem obrigação de assegurar o pleno efeito de tais normas,
decidindo, por autoridade própria, se necessário for, da não aplicação de qualquer
norma de direito interno que as contrarie, ainda que tal norma seja posterior, sem que
tenha de solicitar ou esperar a prévia eliminação da referida norma por via legislativa
ou por qualquer outro processo constitucional”. A partir da altura desse acórdão, o
Tribunal desenvolveu este primado, passando a afirmar que este existia até quanto ao
direito constitucional dos Estados. Em certos Estados isto é até reconhecido pelas
constituições (Países Baixos), mas noutros esta ideia levou ao surgimento de problemas:
os tribunais constitucionais da RFA e da República Italiana começaram por não aceitar
este primado, em especial no que se refere a garantias nacionais em matéria de direitos
fundamentais. Portanto, apenas permitiam o primado quando a proteção dos direitos
fundamentais na ordem jurídica da União tinha atingido um nível correspondente ao
que consagram as constituições nacionais.
Cidadania da União
A cidadania deve ser vista como tendo 3 dimensões: estatuto jurídico que confere um conjunto
coerente de direitos e deveres aos indivíduos; pressupõe um sentimento de ligação de um
individuo a uma comunidade particular; e pressupõe o direito de participar politicamente na
vida dessa comunidade. A cidadania da União foi inserida no Tratado de Maastricht e veja-se
que, ao contrário do pensamento comum, neste caso, quem atribui a nacionalidade, o Estado,
não coincide com a entidade em relação à qual se vão exercer os direitos de cidadania (conceitos
de nacionalidade e cidadania separam-se). A inclusão da cidadania tem a si inerente a noção de
igualdade, visto que esta cidadania traduz uma ideia de pertença a uma comunidade de direitos
e deveres, nos quais se inclui a igualdade. A criação da cidadania no Tratado de Maastricht deve-
se à transformação de ume europa económica numa europa política, em que se introduz uma
dimensão política na integração europeia e se desenvolve a sua dimensão social. A discussão
sobre a cidadania europeia opõe aqueles que defendiam a tese federalista (apoiavam) e os que
defendiam a tese intergovernamental (negavam), o que levou a que fosse a cidadania fosse
aceite, mas incluída no TCE (e não TUE), fosse esvaziada parcialmente de conteúdo e estivesse
dependente da atribuição de nacionalidade por parte dos Estados Membros.
Veja-se que a atribuição da nacionalidade é uma competência exclusiva dos Estados, e essa
competência é mantida intacta, podendo estes definir o modo como atribuem a nacionalidade
(afirmado nos casos Kaur e Micheletti, ainda que deva ser feito com respeito pelo Direito
Comunitário). Portanto, a União não pode atribuir cidadania com base em critérios
independentes. O conceito de cidadania europeia encontra-se totalmente dependente da
atribuição da nacionalidade pelos Estados Membros, visto que a ligação entre a União e seus
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
cidadãos é indiretamente criada através da nacionalidade dos Estados Membros (20º/1 TFUE)-
a cidadania é uma cidadania de sobreposição. Se a condição de cidadania europeia é a atribuição
de nacionalidade a pessoas dos Estados Membros, veja-se a desigualdade nas condições de
acesso que condicionam a atribuição da cidadania da União (e os direitos das pessoas,
consequentemente), pela diversidade de processos que existem nos diferentes Estados
Membros. A partir de Maastricht os nacionais dos Estados Membros passaram a ter duas
cidadanias- dos Estados Membros e da União. Note-se que este critério exclui da cidadania
europeia todos aqueles que residam nos países membros, mas que não tenham nacionalidade
dos mesmos e aqueles que percam a nacionalidade dos mesmos, visto que perdem também a
cidadania europeia e os direitos que lhes estão inerentes (ainda que possa manter a qualidade
de trabalhador migrante que lhe permite conservar alguns direitos). A cidadania realça o
individuo como elemento essencial da construção europeia, assim como avança no sentido de
afirmação de uma identidade europeia, na medida em que a inclusão da cidadania pressupõe a
aceitação de que os Europeus partilham alguns valores e provém de uma herança cultural
comum.
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
por vezes a unanimidade do Conselho. O direito à não discriminação (18º TFUE) passou a ser
utilizado pelo TJ como um direito inerente à cidadania (20º TFUE), sendo esta relação expressa
pela primeira vez no caso Martinez Sala e confirmada nos casos Bickel-Franz e Grzelczyk. Nos
casos Wijsenbeek, Kaba I e Kapa II o TJ procede a interpretações mais restritivas do direito à não
discriminação.
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
Justiça (288º/1 TFUE). Um Estado mais populoso representa mais cidadãos do que um
país menos populoso e nenhum estado com menos população dispõe de mais lugares
do que um estado com mais habitantes. O limite mínimo de deputados é 6 e o limite
máximo é 96. Os membros são eleitos por sufrágio universal direto a partir de 1979. A
União Europeia garante o princípio da democracia representativa, isto é, todos os
cidadãos estão diretamente representados no PE e têm o direito de participarem
ativamente na vida democrática na União Europeia (10º TUE). Regra geral, as decisões
são tomadas por maioria absoluta dos votos expressos, mas existem matéria e decisões
que têm de ser tomadas por maioria absoluta do número legal de deputados.
➢ Conselho Europeu: representa o mais alto nível de cooperação política entre os Estados
Membros, reunindo em Cimeiras normalmente trimestrais. É uma instituição autónoma
da União Europeia. A verdadeira função é estabelecer as diretrizes políticas gerais para
a atuação da União, aprovando decisões políticas de fundo e formulando diretrizes e
recomendações relacionadas com o trabalho do Conselho ou da Comissão Europeia.
Não exerce a função legislativa, mas tem poderes diversos quanto a organização e
formação das restantes instituições: delibera as formações e presidências do Conselho
(236º TFUE); designa a pessoa a ser eleita para Presidente da Comissão Europeia pelo
PE; nomeia a Comissão Europeia (17º/7 TUE); nomeia o Alto Representante para os
Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança (18º/1 TUE); nomeia os membros da
Comissão Executiva do Conselho do Banco Central Europeu (283º/2 TFUE); e decide
sobre a abertura de um processo de revisão dos Tratados, bem como decidir de
alterações de determinadas disposições dos Tratados (48º TUE), utilizando o processo
de revisão simplificada, sendo que é exigido o assentimento de todos os Parlamentos
Nacionais.
➢ Conselho: é composto por um representante de cada Estado-Membro ao nível
ministerial, como poderes para vincular o Governo do respeito Estado e exercer o direito
de voto. O artigo 1º TUE apresenta que o Conselho exerce funções legislativas,
orçamentais, de definição das políticas e de coordenação (Ex. elabora a política externa
e de segurança comum- 26º/2 TUE; coordena as políticas económicas-121º TFUE; 150º
TFUE e 160º TFUE). Quanto à função legislativa, o processo ordinário legislativo é
conseguido pela decisão conjunta do Parlamento Europeu e do Conselho, sob proposta
da Comissão (289º/1 e 294º). A função orçamental é também dividida com o PE (314º e
322º TFUE). O Conselho exerce competências no alargamento das competências das
outras instituições (352º TFUE) e ainda competências para aprovar decisões de natureza
constitucional no que toca a recursos próprios da União Europeia (311º/3 TFUE). Por
fim, tem o poder de execução dos seus atos legislativos, reservando para si a execução
de atos juridicamente vinculados, em casos devidamente justificados (291º/2 TFUE). A
Presidência do Conselho é exercida rotativamente pelos Estados-Membros por períodos
de seis meses. A tarefa prioritária do Conselho é a elaboração de legislação (codecisão
com PE). Cabe-lhe ainda coordenar políticas económicas dos Estados-Membros e
elaborar um orçamento que será aprovado pelo PE. O Conselho nomeia os membros do
Tribunal de Contas, do Comité Económico e Social Europeu e do Comité das Regiões. É
ainda responsável pelo estabelecimento de acordos entre a União Europeia e países
terceiros ou organizações internacionais.
➢ Comissão Europeia: a sua principal atribuição é a representação e defesa dos interesses
da União Europeia na sua globalidade. O artigo 17º do TUE apresenta as funções desta:
promove o interesse geral da União, vela pela aplicação dos Tratados, controla a
aplicação do direito da União (tem a capacidade de controlar e impugnar
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Fontes Imediatas: Direito Originário, princípios gerais de Direito, Direito Derivado e o Direito
Internacional.
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3O TJ no caso Francovich e Boniface de 1991 reconheceu a responsabilidade dos Estados por danos causados por
ausência de transposição ou por transposição errónea. Esta indemnização está intimamente relacionada com a
especificidade da ordem jurídica europeia, na medida em que se não fosse possível a indemnização dos danos
causados por não transposição da diretiva estaria em causa a integridade e eficácia dos direitos por ela atribuídos aos
particulares
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esse efeito direto quando a situação do cidadão perante lei alterada pela
diretiva é mais favorável do que perante a lei inalterada- efeito direto vertical
(ainda que o benefício do cidadão implique o prejuízo de outro- diretiva de
duplo efeito), existindo aqui uma situação de “cidadão contra o Estado-
Membro”. O TJEU não reconheceu ainda o efeito direto das diretivas nas
relações entre os próprios cidadão- efeito direto horizontal. VER ABC UNIÃO
EUROPEIA 099- o TJ tem relativizado esta recusa do efeito direto horizontal, as
limita-se a permiti-lo, isto é, não recusá-lo de todo, nos casos em que uma parte
queira invocar um direito previsto na diretiva e contrapô-lo a outro direito de
outra parte decorrente do direito nacional.
Decisão: após o Tratado de Lisboa, a decisão é o ato principal da PESC e pode
consubstanciar-se num ato legislativo ou não. Esta é obrigatória em todos os
seus elementos. A decisão pode ou não ter efeito direto, consoante os seus
destinatários ou seu conteúdo: se se dirige aos particulares ou empresas pode
ser invocada em tribunal diretamente; se se dirige aos Estados, apesar da
possível controvérsia, o Tribunal de Justiça, no caso Fratz Grad, reconheceu o
efeito direto dessas decisões. Poderá existir decisões com o objetivo de
completar os Tratados (Decisão do Conselho relativa à eleição do PE por
sufrágio direto e universal e Decisão da criação do Tribunal de Primeira
Instância) e as decisões com alcance meramente interno ou orgânico. As
decisões são o ato típico através do qual as instituições da União regulam
situações concretas.
Recomendações e Pareceres: são atos não vinculativos. A recomendação
sugere um determinado comportamento ao destinatário e é adotada por
iniciativa do seu autor. O parecer expressa uma opinião de um órgão com
respeito a uma situação e emite-se por iniciativa de outro órgão ou sujeito de
Direito de União, muitas vezes no âmbito de um processo de formação de um
ato vinculativo ou como pressuposto processual. Os destinatários podem ser os
Estados-Membros e os particulares determinados ou indeterminados. Se a
emissão do parecer ou recomendação for obrigatória, a sua ausência acarreta
um vício, a violação de formalidades essenciais, que é um dos fundamentos do
recurso de anulação previsto no artigo 236º TFUE.
Atos não previstos: resoluções4, conclusões, programas de ação5,
comunicações, declarações6 e códigos de conduta. As resoluções e declarações
políticas do Conselho visam muitas vezes estabelecer os princípios gerais na
base dos quais a União deve fundamentar a sua atuação no futuro fixando
prazos. As comunicações da Comissão são atos de alcance geral em domínios
4 Podem ser emanadas do Conselho Europeu, Conselho e PE e consubstanciam posições e intenções comuns em
relação ao processo geral de integração e a ações especificas tanto no plano da União como fora dela. Estas acabam
por exprimir a orientação para os trabalhos futuros do Conselho.
5 Elaborados pelo Conselho e pela Comissão, por iniciativa própria ou a pedido do Conselho Europeu, e têm por
objetivo a realização de programas legislativos e a consecução dos objetivos gerais que os tratados consagram.
Existem programas que estão expressamente previstos nos Tratados, sendo que a União publica-os habitualmente
sob a forma de livros brancos. Há ainda outros, que funcionam como simples orientações desprovidos que qualquer
efeitos juridicamente vinculativo, que apresentam uma vontade política das instituições da União de se conformarem
às disposições que deles emanam e são habitualmente publicados sob a designação de livros verdes.
6 Podem ser de dois tipos: as que dizem respeito ao desenvolvimento da União, equiparando-se às resoluções e
servem essencialmente para atingir um vasto público ou um grupo específico de destinatários; e as emanadas do
processo decisório do Conselho, através das quais os membros expressam pareceres conjuntos ou individuais sobre
a interpretação das decisões que o Conselho aprova- declarações interpretativas, devendo estas ser publicitadas.
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em que a Comissão tem apenas poderes de decisão a exercer caso a caso. Nos
acordos interinstitucionais (295º TFUE e presenta ainda o artigo 13º/2 TUE que
as instituições mantém entre si uma cooperação leal) as instituições e órgãos da
União estabelecem entre eles uma cooperação através de diretivas,
recomendações e pareceres que dirigem uns aos outros no quadro de
mecanismos de decisão ou através de acordos que estabelecem entre eles, sob
formas muito diversas.
Direito Internacional Geral ou Comum: os Tribunais da União reconhecem a
vinculação da União a este direito, designadamente à CVDT, utilizando normas
desta Convenção para resolverem as questões relativas aos acordos
internacionais de que a Comunidade era parte. O Tribunal considera nos casos
Rack e Herbert Weber que as disposições da CVDT, sendo Direito Internacional
Geral, vinculam a Comunidade. O TPI decidiu que deve considerar-se que a
Comunidade está vinculada pelas obrigações resultantes da CNU da mesma
forma que estão os seus membros, por força do próprio tratado que a instituiu.
Não pode, por outro lado, violar as obrigações que incumbem aos Estados por
força da CNU, nem obstar à sua execução, estando obrigada a adotar todas
disposições necessárias para permitir que os Estados cumpram essas
obrigações. Por isso, segundo o TPI, o Direito da ONU prima sobre o Direito
Comunitário, escapando as disposições do primeiro à fiscalização jurisdicional
do TPI. Podendo fiscalizar a legalidade das resolução à luz do ius cogens,
considera que essas não violam os direitos fundamentais reconhecidos pelo
Direito Comunitário.
Direito Internacional Convencional: a União detém capacidade para celebrar
acordos internacionais. Podermos falar em acordos propriamente ditos, nas
matérias em que a União detém competência exclusiva, ela pode celebrar
acordos com Estados terceiros ou Organizações Internacionais, aos quais fica
vinculada assim como os Estados (216º/2 TFUE). Por outro lado, menciona-se
os acordos mistos, visto que nos domínios em que a união não possui
competência exclusiva, os acordos tem de ser concluídos pela União ao lado dos
Estados-Membros. Existem também os acordos pré-união, celebrados pelos
Estados-Membros com terceiros Estados antes da criação das Comunidades ou
da sua adesão às Comunidades, que se mantêm em vigor segundo o 351º TFUE,
na medida em que são compatíveis. Se não forem o Estado Membro em causa
vai fazer todos os esforços para eliminar as incompatibilidades existentes.
Jurisprudência do Tribunal de Justiça da União: O Tribunal assume relevância
ao interpretar, desenvolver e aprofundar os Tratados, contribuindo de forma
decisiva para a elaboração e sedimentação progressivas da Ordem Jurídica da
União Europeia. Assume o papel de verdadeiro motor de integração jurídica no
âmbito da União. O TJUE nunca rejeitou os métodos de interpretação previstos
no artigo 31º CVDT, mas utilizou outros: método subjetivista, que consiste na
interpretação em função da intenção dos autores da norma, tendo sido um
método pouco utilizado; método textual, em que o juiz parte do texto para
resolver as dificuldades de interpretação, recorrendo ao contexto,
interpretação gramatical, efeito útil (regra do efeito útil e regra do efeito
necessária- utilizada particularmente em matéria de extensão das atribuições
da União para conclusão de acordos internacionais) e confrontação entre as
várias versões; método teológico ou funcional, baseado nos objetivos dos textos
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Atos Legislativos: são atos jurídicos adotados no processo legislativo ou num processo
legislativo especial (289º TFUE).
Atos jurídicos delegados: são atos jurídicos sem cariz legislativo, mas com aplicação geral e
vinculativa, que permitem alterar ou completar determinados elementos não essenciais de um
ato legislativo. O poder deve ser delegado por meio de um ato legislativo na Comissão. A
delegação de poderes pode ser revogada a qualquer momento pelo Conselho e pelo Parlamento
Europeu. O ato delegado só pode entrar em vigor se, no prazo fixado pelo ato legislativo, o PE e
o Conselho não formularem objeções (290º TFUE).
Os acordos entre os Estados Membros da União Europeia também constitui uma fonte desta,
pois têm em vista a regulamentação de questões que têm ligação estreita com a atividade da
União, mas para as quais nenhuma competência foi atribuída às instituições da União. Estes
podem também alargar o campo de aplicação das normas nacionais e criar um direito
uniformemente na União.
O Tratado de Lisboa eliminou a estrutura tripartida da União, levando à unificação dos 3 pilares
com a consequente eliminação dos instrumentos jurídicos dos antigos segundo e terceiro
pilares. Introduz ainda uma distinção entre atos legislativos e não legislativos, com o intuito de
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clarificar o sistema, sendo essa distinção apurada através do procedimento de decisão segundo
o qual o ato vai ser adotado.
O artigo 289º/3 apresenta que os atos jurídicos adotados por processo legislativo constituem
atos legislativos. A categoria de atos não legislativos é residual, nela se incluindo todos os
instrumentos jurídicos de direito derivado que são adotados através de um processo não
legislativo. A distinção tem consequências: os parlamentos só podem opor-se a medidas da
União que, no seu entender, violem o principio da subsidiariedade, quanto aos projetos de atos
legislativos; a publicidade das reuniões do Conselho só é obrigatória quando está em causa
votação de atos legislativos; a distinção tem também relevância quanto à possibilidade de
pessoas singulares e coletivas interporem recurso de anulação dos respetivos atos.
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cooperação leal. Mas quando forem necessárias condições uniformes dos atos
juridicamente vinculativos da União, serão usados os atos de execução
adotados pela Comissão, ou em casos específicos pelo Conselho. O artigo
291º/3 TFUE, estabelece que o PE e o Conselho através de regulamentos,
criados pelo processo legislativo ordinário, definem previamente as regras e os
princípios gerais relativos aos mecanismos de controlo que os Estados podem
aplicar ao exercício das competências de execução da Comissão.
Processos de Decisão da União Europeia no domínio internacional: existem vários
processos de decisão, consoante o tipo de acordo que está em causa. O processo
comum está previso no 218º TFUE (mesmo quanto à PESC e JAI, ainda que com algumas
particularidades).
Processo Comum de Decisão Internacional: aplica-se nos casos em que os
Tratados preveem que a União pode celebrar acordos com Estados terceiros ou
Organizações Internacionais. O processo inicia-se com fase inicial de contatos,
que estão a cargo da Comissão ou do Alto Representante (quando os acordos
dizem respeito a domínios integrados na PESC). O Conselho deve ser informado,
visto que ele é que autoriza a abertura formal das negociações (aprova uma
decisão de aprovação da abertura das negociações e designa, em função da
matéria, o negociador ou chefe de equipa de negociação), sendo-lhe entregue
recomendações para o autorizar a começar as negociações. O Conselho
acompanha as negociações, podendo fornecer diretrizes ao negociador e
designar um comité especial (para ser consultado durante as negociações). Uma
vez negociado, o negociador apresenta ao Conselho a proposta da celebração
bem como a sua aplicação a título provisório, devendo o Conselho aprovar uma
decisão para que o acordo seja assinado e, se for caso disso, a sua aplicação
antes da entrada em vigor. O Conselho adota igualmente uma decisão de
celebração do acordo. A regra de votação em tudo o que foi afirmado é a
maioria qualificada, exceto quando o acordo incida sobre um domínio em que
seja exigida a unanimidade para que seja adotado um ato da União, bem como
nos acordos de associação, de cooperação com os estados candidatos à adesão
e no acordo de adesão da União à CEDH. A participação do PE varia consoante
o tipo de acordo internacional, sendo necessária a sua aprovação nos casos de
acordos de associação, no acordo de adesão da União à CEDH, nos acordos que
criem um quadro institucional especifico, mediante a organização de processos
de cooperação, acordos com consequências orçamentais significativas e dos
acordos que abranjam domínios aos quais seja aplicado o processo legislativo
ordinário ou o processos legislativos especiais quando a aprovação do PE é
obrigatória. Nos restantes casos, o PE é apenas consultado.
Processos Internacionais Específicos: especificidades dos acordos comerciais
(207º TFUE) dizem respeito a: negociação compete à Comissão, cabendo a esta
com o Conselho assegurar que os acordos são compatíveis com as políticas e
normas internas da União; a Comissão apresenta ao Comité Especial e PE um
relatório sobre a situação das negociações; Conselho delibera por maioria
qualificada, em regra, no que diz respeito à negociação e celebração, exceto,
em relação ao acordos nos domínios do comércio de serviços e nos aspetos
comerciais da propriedade intelectual, bem como do investimento estrangeiro,
quando esses acordos incluem disposições relativamente às quais é exigida a
unanimidade para a adoção de normas internas- delibera por unanimidade,
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7“O direito comunitário deve ser interpretado no sentido de que, quando o órgão jurisdicional nacional ao qual foi
submetido um litígio que se prende com o direito comunitário considere que o único obstáculo que se opõe a que ele
conceda medidas provisórias é uma norma do direito nacional, deve afastar a aplicação dessa norma.”
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União que são contra a sua Constituição. Ver os casos de Itália, Alemanha, França e
Portugal- páginas 505 a 516. Artigo 8º/4 CRP afirma que se a União respeitar as
competências que lhe foram atribuídas e se forem respeitados os princípios
fundamentais do Estado de Direito democrático, as disposições dos Tratados que regem
a União e as nomas emanadas das instituições da União são aplicáveis na ordem interna,
nos termos definidos pelo Direito da União (isto é, nos termos da jurisprudência do TJ).
É a própria Constituição que reconhece e impor a prevalência do Direito da União
Europeia. Ora, não se responde sobre quem tem competência para decidir se as normas
são emanadas no âmbito das competências da União ou se respeitam os princípios
fundamentais do Estado de Direito Democrático. Note-se que o Estado deve adequar a
sua Constituição aos compromissos que assumiu tanto interna como externamente, não
podendo, nos domínio que foram atribuídos à União, invocar as suas normas
Constitucionais para se furtar ao cumprimento de normas da União.
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vertical (nas disposições que contêm proibições ou impõe abstenções aos Estados;
disposições que impõem obrigações de resultado precisos; disposições que impõem
obrigações insuscetíveis de apreciação) como o efeito direto horizontal (disposições em
matéria de concorrência que se dirigem diretamente aos particulares; 45º e 157º TFUE).
O TJ defendeu também o efeito direto nas normas de Direito Derivado. Quanto aos
regulamentos, é necessário saber se o regulamento necessita ou não de medidas de
execução por parte dos Estados membros. No caso de ser necessário, atendimento à
margem de discricionariedade que terão os Estados pode fazer sentido que os
particulares invoquem os direitos consagrados no regulamento se as medidas de
execução não forem adotadas. Atendendo ao caso concreto veremos se o regulamento
tem efeito direto horizontal e vertical ou não. Quanto às diretivas, o reconhecimento do
seu efeito direto começou a surgir com a prática de emanação por parte do Conselho
de diretivas cada vez mais pormenorizadas que acabavam por impor obrigações
incondicionais que se assemelhavam às impostas pelos regulamentos. O efeito direto
das diretivas foi afirmado pelo TJ pela primeira vez no caso Van Duyn (efeito obrigatório
do artigo 288º e artigo 267º). No caso Ursula Becker o TJ afirma que o facto da diretiva
deixar uma certa margem de manobra aos Estados não exclui que certas disposições se
puderem ser destacadas do conjunto e invocadas pelos particulares. Note-se que não
existe efeito vertical invertido, isto é, o Estado não pode invocar a diretiva contra o
particular. O TJ defendeu ainda que mesmo depois da transposição da diretiva o
particular pode invocá-la contra o Estado se as normas nacionais de transposição não
forem aplicadas adequadamente na prática. Podem ser dados vários argumentos para
o TJ não aceitar o efeito direto horizontal, sendo o mais relevante o de que este é
negado para evitar as dificuldades que isso geraria nos tribunais nacionais, assim como
o conflito com entre esses e o TJ. O acórdão Marshall o TJ negou o efeito direto
horizontal por as diretivas serem apenas serem obrigatórias para os Estados Membros,
não sendo possível serem invocadas contra particulares. O TJ tem, no entanto, alargado
o conceito de Estado para incluir as autoridades regionais e locais, autoridades
constitucionalmente independentes responsáveis pela manutenção da ordem e da
segurança e quaisquer entidades públicas, mesmo que não estejam a agir no uso do seu
ius imperii. A diretiva tem ainda um efeito indireto, isto é, é imposto ao juiz nacionais
que interprete as disposições nacionais anteriores e posteriores à diretiva conforme o
texto e finalidade da mesma. É ainda imposto aos Estados que no período que media
entre a aprovação e o decurso do prazo de transposição da diretiva, evitem adotar
medidas que ponham seriamente em causa o resultado previsto pela diretiva. Em caos
como Mangold, Kücükdeveci e Birgit Bartsch, o Tribunal permitiu o efeito direto
horizontal, por considerar que a diretiva consagrava um princípio geral de Direito da
União. O TJ admite implicitamente o efeito direto horizontal acidental da diretiva, isto
é, a possibilidade de esta ao ser invocada contra o Estado causar efeitos adversos num
terceiro. Quanto às decisões, o TJ reconheceu-lhes efeito direto vertical quando o seu
destinatário é um ou mais Estados, nos mesmos termos que o da diretiva. Se a decisão
tem como destinatários particulares ou empresas, admite-se o efeito direto horizontal
(podendo nem ser necessário se não existir necessidade de medidas de
implementação). A decisão aplicada no âmbito da PESC (permitida a partir do Tratado
de Lisboa), dificilmente pode ser invocada nas Ordens Jurídicas Internas. O TJ
reconheceu ainda o efeito direto das disposições das convenções internacionais e dos
atos adotados em sua aplicação de que a União é parte. Este efeito direto é admitido
quando as disposições tenham caráter claro, preciso e incondicional (ver acórdãos). O
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Princípio da Tutela Judicial Efetiva: “a cada direito deve corresponder um meio jurisdicional que
permita efetivá-lo”. Está presente nos casos SPA Salgoil, Rewe Zentrale e Johnston (onde se
qualifica o princípio como um direito fundamental que se baseia nas tradições constitucionais
comuns aos Estados Membros e na CEDH). A partir da década de 90 consagraram-se dois
princípios: da tutela cautelar perante os tribunais nacionais e o da responsabilidade do Estado
por violação do Direito Comunitário. O primeiro consiste na possibilidade de os tribunais
nacionais, quando tal lhes for requerido, decretarem providências cautelares para protegerem
situações jurídicas ou direitos subjetivos reconhecidos pelo Direito da União e que sejam
invocados perante tribunais nacionais. Os tribunais nacionais devem conceder proteção cautelar
a direitos reconhecidos pelo Direito da União nas mesmas circunstâncias que os Tribunais da
União à luz do artigo 279º TFUE. A primeira vez que se afirmou esse princípio foi no caso
Factortame (questão prejudicial pedida pela Câmara dos Lordes Britânica) e reforçada nos casos
Zuckerfabrik e Atlanta. Este princípio pode exigir a aplicação de providências cautelares que no
direito nacional não estão previstas ou até que são proibidas. O segundo princípio apresentado
surge como uma forma de compensar a recusa do efeito direto horizontal das diretivas. O TJ
reconhece aos particulares o direito de obterem da parte de um Estado Membro a reparação
dos prejuízos que sofreram na sequência da ausência de transposição de uma diretiva da União
na ordem jurídica interna. Este principio é reconhecido no acórdão Francovich e Bonifact,
afirmando-se que na medida em que estejam reunidas as condições de responsabilidade do
Estado (atribuição de direitos aos particulares pela norma ou pelo ato de Direito Comunitário
concretamente considerado, a possibilidade de identificação concreta desses direitos e uma
relação de causalidade entre a violação da obrigação que incumbe ao Estado e o prejuízo sofrido
pelos lesados), nasce a favor dos particulares lesados um direito a obter a reparação, que se
funda diretamente do Direito Comunitário. O fundamento desta responsabilidade é a plena
eficácia das normas da união e a proteção dos direitos que elas reconhecem (princípio da tutela
judicial efetiva). No caso Köbler o TJ parece aceitar a responsabilidade o juiz por incumprir a
obrigação de suscitar uma questão prejudicial, estendendo a responsabilidade à função judicial.
Sabemos que a Ordem Jurídica da União Europeia não seria verdadeiramente eficaz se as suas
normas não beneficiassem de garantia jurisdicional, sendo os tribunais comuns desta Ordem
Jurídica os tribunais nacionais, que aplicam, em primeira linha, um número considerável de
normas e de atos da União constituídos por disposições diretamente aplicáveis ou que gozam
de efeito direto. O TJ tem desenvolvido uma jurisprudência em relação à responsabilidade
extracontratual dos Estados Membros por incumprimento da União e à competência dos
tribunais nacionais para decretarem providências cautelares, fundadas no DUE com o objetivo
de proteger direitos subjetivos conferidos pela Ordem Jurídica da União, mesmo em contradição
com disposições internas, o que permite alargar o âmbito de jurisdição dos tribunais nacionais.
É necessário que as relações entre o TJ e os tribunais nacionais se reja por um princípio de
cooperação ou colaboração horizontal, sendo certo que a jurisprudência do TJ baseada
essencialmente no processo das questões prejudiciais (267º TFUE) tornou estas relações
multilaterais e até certo sentido verticais.
Questões Prejudiciais: o juiz nacional pode ver-se confrontado com a necessidade de aplicar
uma norma da União, visto que esse goza por vezes de aplicabilidade ou efeito direto, podendo
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
ser invocado pelas partes. Nesse seguimento, o juiz pode ter dúvidas sobre a interpretação ou a
validade da norma ou do ato do Direito da União e, se lhe fosse permitido resolver essa dúvida
sozinho, a longo prazo, existiria um fracionamento do Direito da União, que quebrava a
uniformidade. Para evitar estas divergências de jurisprudência, o artigo 267º expressa o
mecanismo das questões prejudiciais, que consiste na possibilidade de todo e qualquer tribunal
nacional submeter ao TJ questões de interpretação ou de validade do Direito da União que sejam
relevantes para a boa decisão da causa. Existem casos em que a submissão da questão ao TJ é
obrigatória: quando o tribunal nacional julga a última instância. Este mecanismo é essencial à
preservação do caráter comunitário do Direito instituído pelo Tratado e tem como efeito
assegurar que em todas as circunstâncias este Direito se aplica da mesma forma em todos os
Estados Membros. O Estatuto do TJ pode conferir competência ao TG para apreciar questões
prejudiciais, mas não a concedeu ainda, sendo o TJ o único tribunal a resolver as questões
prejudiciais suscitadas pelos tribunais nacionais. Este mecanismo impede que qualquer lacuna
que surgisse no sistema pusesse em causa a eficácia das disposições dos Tratados e do Direito
Derivado.
As questões prejudiciais apreciadas pelo TJ podem incidir sobre a interpretação dos Tratados e
sobre a interpretação e validade dos atos adotados pelas instituições, órgãos ou organismos da
União.
Questões prejudiciais de interpretação: interpretar, para efeitos do artigo 267º TFUE, significa
esclarecer o sentido material das disposições do DUE e determinar o seu alcance e definir os
seus efeitos. Estas questões prejudiciais podem incidir sobre os Tratados (TUE, TFUE, anexos,
protocolos, CDFUE e todo o Direito Originário), atos adotados pelas instituições, órgãos ou
organismos da União (sendo que o TJ considera que a sua competência de interpretação se
estende a todos os atos de Direito Derivado, mesmo sendo atos atípicos (Resolução do
Conselho), diretamente aplicáveis ou não, com ou sem efeito direto, obrigatório ou não e até
quanto a direito não escrito, como os princípios gerais de direito, e, por fim, seus acórdãos
anteriores) e sobre os acordos internacionais em que a União é parte (incluindo os acordos
mistos, os acordos concluídos pelos Estados Membros em que a União lhes sucedeu e os acordos
concluídos pelos Estados, agindo por conta e no interesse da União). A competência do TJ
estende-se também às decisões tomadas pelos órgãos instituídos por um acordo internacional
concluído pela Comunidade e aos atos não obrigatórios concluídos por esses órgãos. Por fim, o
TJ admitiu a sua competência para interpretar o acordo que cria o Espaço Económico Europeu,
mas excluindo a sua aplicação aos Estados Membros da AELE.
40
Inês Godinho Turma A 2019/2020
trata de decisões dirigidas aos Estados Membros. Por outro lado, TJ admite também em matéria
de acordos internacionais, mas a invalidade só tem efeitos dentro da União.
O que é um órgãos jurisdicional para efeitos do 267º TFUE? Será um órgão jurisdicional aquele
que tiver as seguintes características: a) composição do órgão não deve ser deixada à livre
escolha das partes; b) a nomeação dos membros do organismo, a designação do presidente e a
adoção do seu regulamento de processo é de competência ministerial ou então o organismo
exerce as suas funções com aprovação das autoridades públicas e funciona por concurso, tendo
assim origem na lei; c) o órgão deve estar submetido a regras de processo contraditório análogas
às que regem o funcionamento dos tribunais de Direito Comum; d) o organismo é chamado a
aplicar regras de Direito; e) as decisões, apesar de recorríveis nos tribunais ordinários, devem
ser de facto reconhecidas como definitivas. Se estes critérios não estiverem preenchidos o TJ
rejeita as questões prejudiciais. Esta noção releva visto que o TJ pode admitir questões que lhe
sejam suscitadas por órgãos que não tenham caráter jurisdicional, do ponto de vista das regras
internas, ou pode negar a qualidade de órgão jurisdicional a órgãos a que o direito interno
reconhece essa qualidade. A legislação nacional não deve impedir os juízes de suscitarem
questões prejudiciais, visto que é contrário ao 267º, violando o primado do Direito da União.
Sabemos já em que consistem as questões prejudiciais obrigatórias, mas imporá agora analisar
problemas que têm surgido à sua volta:
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
A decisão de suscitar uma questão prejudicial é da competência exclusiva do juiz nacional, não
sendo exigido nenhum formalismo especial para o pedido, bastando um despacho em que
formula a questão e expõe os seus fundamentos, ainda que cada vez mais o TJ exija a
necessidade de fundamentação do pedido. Cabe também exclusivamente ao juiz nacional
apreciar a pertinência da questão e determinar o momento em que suscita a questão prejudicial.
O conteúdo material é também da competência exclusiva do juiz nacional, devendo este
formular a questão de tal maneira que permita ao TJ dar uma resposta útil, ou seja, deve explicar
as razões pelas quais tem necessidade de uma resposta, transmitindo dessa forma todas as
informações suficientes. Nesse sentido, são manifestamente inadmissíveis questões prejudiciais
que contenham referências insuficientemente precisas às situações de direito ou que
apresentem um caráter puramente hipotético.
O processo das questões judiciais baseia-se numa repartição de poderes entre o TJ e os tribunais
nacionais. A inicial posição do TJ, a que voltou ultimamente, era a de que o direito nacional e o
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
O juiz nacional não deve suscitar a questão prejudicial nos casos em que não existe litigio (casos
em que não existe a necessidade de resposta objetiva relativamente à solução a um caso
concreto) e nos casos em que manifestamente o DUE não se aplica (no caso BIAO o TJ afastou-
se desta jurisprudência mais restritiva).
Efeitos do acórdão proferido no âmbito do processo das questões prejudiciais: (1) efeitos
materiais: o acórdão interpretativo obriga o juiz nacional que suscitou a questão, não podendo
este basear-se noutra interpretação (tanto a decisão como a fundamentação) para resolver o
litigo, e obriga ainda todos os outros juízes nacionais (caso Milch, Fett und Eierkontor), mesmo
que se tratem de tribunais superiores ao que formulou a questão prejudicial. A interpretação só
pode ser posta em causa se posteriormente houver uma modificação da norma ou das normas
que com ela se relacionam e só o próprio TJ podem alterar a sua interpretação anterior. O TJ
admite que um tribunal nacional possa suscitar questões prejudiciais mesmo que o TJ já tenha
respondido a questões idênticas se ainda não se encontrar suficientemente esclarecido. A
declaração de validade de uma questão prejudicial limita-se a declarar que o exame das
questões não releva nenhum elemento de natureza a afetar a validade do ato, podendo mais
tarde o mesmo ou outros tribunais invocar novos fundamentos de invalidade. Esta declaração
produz efeitos obrigatórios, impedido que o tribunal nacional e outros tribunais recusem a
aplicação do ato ao caso concreto, com fundamento na sua invalidade. A declaração de
invalidade obriga o juiz que formula a questão por este não poder aplicar o ato ferido de
invalidade, mas também obriga todo e qualquer tribunal nacional, visto que um ato inválido não
deve ser aplicado. Os tribunais nacionais poderão suscitar novas questões prejudiciais sobre este
ato, se subsistirem dúvidas relativas aos fundamentos, extensões ou consequências da
invalidade. Esta declaração pode ter implicações para as instituições e órgãos legislativos da
União e para os órgãos nacionais e a ilegalidade pode ser invocada pelo particular na exceção
de ilegalidade e na ação de responsabilidade, sem ter de ser reapreciada; (2) efeitos temporais:
o acórdão interpretativo tem efeito retroativo, o que significa que a interpretação apresentada
pode e deve ser aplicada pelo juiz às relações jurídicas nascidas e constituídas antes do acórdão
interpretativo, tendo como fundamento a natureza declarativa do acórdão, a necessidade de
interpretação e aplicação uniformes do DUE e o principio da legalidade, na medida em que essa
é a interpretação correta, só devendo ceder perante considerações de segurança jurídica,
confiança legitima e estabilidade nas relações jurídicas em situações excecionais. A declaração
de invalidade de um ato da União produz efeitos retroativos e o TJ limita no tempo os efeitos da
declaração de invalidade com base na aplicação analógica do artigo 264º parte 2º TFUE. A
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
jurisprudência do TJ afirma a competência exclusiva deste para limitar o tempo dos efeitos do
acórdão.
• Ação por Incumprimento dos Tratados (258º TFUE): este processo aplica-se no caso de
um Estado-Membro não cumprir as obrigações que lhe incumbem por força do direito
da União. A iniciativa parte quase sempre da Comissão, mas pode partir também de um
Estado Membro (269º TFUE), recorrendo estes ao TJ por incumprimento do Tratado. O
TJ instrui um processo e determina se existe ou não incumprimento. Se existir
incumprimento, o Estado Membro deve tomar as medidas necessárias para que este
cesse, sob pena de a Comissão dispor de possibilidade de condenar por incumprimento
do Tratado ao pagamento de uma quantia fixa ou sanção pecuniária compulsória,
através da submissão do caso ao TJ e se este considerar que o acórdão não foi cumprido
(260º TFUE).
• Recurso de Anulação (263º TFUE): permite a possibilidade de um controlo judicial e
objetivo das ações das instituições da União e abre ao cidadão , embora com restrições
o acesso à jurisdição da União Europeia. Podem ser contestadas toda as medidas da
União que produzam efeitos jurídicos vinculativos que interfiram com os interesses do
queixoso. O recurso pode ser interposto pelos Estados Membros, PE, Conselho,
Comissão, Tribunal de Contas, Banco Central Europeu e Comité das Regiões, na medida
em que se queiram opor a uma violação dos direitos que lhes foram conferidos. Os
cidadãos e as empresas, por outro lado, só podem interpor o recurso de anulação se
forem destinatários das decisões ou essas, embora dirigidas a terceiros, lhes digam
direta e individualmente respeito, isto é, segundo a jurisprudência do TJ se a decisão a
tiver efeito direito e individualizar o destinatário de uma forma que o distinga de todos
os outros agentes económicos. Se o recurso tiver fundamento, o TJ ou o TG podem
anular, com efeitos retroativos (em certos casos devidamente fundamentados podem
limitar o recurso de anulação a partir da data da sentença), o ato em causa.
• Ação por Omissão (265º TFUE): possibilidade de interposição judicial contra uma
omissão ilegal de um ato da União, devendo anteriormente existir um procedimento no
qual o demandante convida a instituição da União a agir. A sentença final apenas
constata a ilegalidade da omissão e expressa medidas a tomar pela instituição, mas esta
não pode ordenar a adoção obrigatória das medidas necessárias. Esta ação pode ser
iniciada por pessoa singular ou coletiva, Estados Membros e instituições da União.
• Ação de Indemnização (268º e 340º/2 TFUE): os cidadãos da União, pessoas coletivas e
Estados Membros que tenham suportado danos em virtude de um erro dos agentes da
União podem recorrer ao TJ para solicitar uma indemnização por estes danos. A
jurisprudência do TJ desenvolveu, com base nos princípios gerais de direito que as
ordens jurídicas dos Estados partilham, as condições para a reparação de danos: a)
comportamento ilícito (violação qualificada de uma norma do direito da União aprovada
para conferir direitos ou proteger pessoa singular ou coletiva ou um Estado Membro,
sendo suficientemente qualificada quando a instituição interveniente ultrapassou as
suas competências de forma flagrante e considerável) por parte de uma instituição da
União ou de um agente dessa no exercício das suas funções: b) existência de um dano;
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
c) nexo causal entre o ato da instituição da União e o dano; d) não é necessário provar
a culpa da instituição da União.
• Recurso dos Funcionários (270º TFUE): o TJ é competente em matéria de litigo entre a
União e os seus funcionários ou familiares sobrevivos que nele possam ser dirimidos no
contexto das condições de trabalho. O responsável pela receção destas queixas passou
a ser o tribunal especial para o serviço público da União Europeia.
• Litígio sobre Patentes da União (257º e 262º TFUE)
• Processo de Recurso (256º/2 TFUE): as decisões do TG são passíveis de recurso para o
TJ, limitado às questões de direito, tendo o recurso apenas por fundamento a
incompetência do TG, irregularidades processuais que prejudiquem os interesses do
recorrente ou uma violação do direito da União pelo TG. Se o recurso for procedente, o
TJ anula a decisão do TG. Se o litígio não estiver em condições de ser julgado, o TJ remete
o processo para o TG para novo julgamento, que está vinculado à solução dada às
questões de direito pela decisão do TJ. Veja-se que o TG aprecia as sentenças dos
tribunais especializados como se fosse uma instância de recurso.
• Proteção Jurídica Provisória (278º e 279º TFUE)
• Pedido de Decisão Prejudicial (267º TFUE): quando uma questão relacionada com um
litígio sobre disposições do DUE for apresentada a um órgãos jurisdicional nacional, este
pode suspender a instância e submeter ao TJ a questão da validade e/ou interpretação
do ato jurídico adotado pelas instituições da União à luz dos tratados da União. O TJ
responde com um acórdão. Este processo não é contencioso, como os anteriormente
apresentados. Este processo permite para além da preservação da uniformidade do
DUE, a possibilidade de os tribunais nacionais verificarem a conformidade da legislação
nacional com o direito da União, sendo que se houver incompatibilidade prevalece o
direito da União. O TJ no âmbito deste processo não é competente para interpretar o
direito nacional nem para decidir a sua conformidade com o direito da união, mas nem
sempre isto é respeitado. Os órgãos jurisdicionais que podem formular estas questões
são aqueles que são independentes e a quem compete resolver litígios num Estado de
Direito e cujas decisões produzem efeitos jurídicos (podendo ser os TC e instâncias de
arbitragem que não integram o sistema judiciário, com exceção das privadas). O
conceito de recurso para este efeito engloba todas as vias de recurso que permitam
verificar decisões de facto e de direito ou só de direito tomadas por um órgão
jurisdicional de uma instância superior (não se incluem aqui os recursos ordinários com
efeitos limitados ou específicos). Veja-se que se um tribunal nacional, nos casos em que
é obrigatório o reenvio prejudicial, pretender invocar a invalidade de um ato da União,
é obrigado a introduzir um pedido de reenvio ao TJ, visto que é competência exclusiva
deste rejeitar disposições que violem o direito da União. Nesse sentido, os tribunais
nacionais devem aplicar e respeitar o direito da União enquanto o Tribunal de Justiça
não tiver decidido a respetiva invalidade. A violação da obrigação de reenvio implica a
violação dos Tratados da União e pode levar à instauração de uma ação por
incumprimento contra esse Estado Membro ou então a ações de indemnização por
danos causados pelo desrespeito da obrigação de reenvio, devido à responsabilidade
contratual dos Estados Membros. Os acórdãos do TJ que respondem às questões
prejudiciais funcionam como um precedente, visto que têm efeitos sobre outros
processos similares.
• Responsabilidade dos Estados Membros por violações do Direito da União: tem sido
desenvolvida pela Jurisprudência do TJ, sendo reconhecido como um princípio geral (vai
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
8 Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias sintetiza no acórdão Schul designadamente a noção de mercado
comum.
9 União Aduaneira: liberdade de circulação de bens entre os territórios dos Estados ou de territórios aduaneiros
autónomos que a formam, sem a necessidade de imposição ou cobrança de quaisquer direitos aduaneiros nos atos
de entrada ou de saída de bens entre esses territórios nacionais. Por outro lado, exige a adoção de uma Pauta
Aduaneira Única em toda a extensão territorial abrangida, tanto nas impostações como nas exportações de bens, de
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
e para países terceiros. Tudo se passa como se os territórios de os vários Estados que formam a União Aduaneira
constituíssem uma só unidade.
10 Estas modalidades podem ser consideradas fases, mas não são necessariamente uma sequência, visto que: o
Tratado de Roma decidiu criar uma união aduaneira simultaneamente com um mercado comum; e a reunificação
alemã pós queda de Berlim traduziu-se numa integração económica e política conjuntamente.
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
Os direitos aduaneiros são imposições pecuniárias ou tributos exigidos pelo Estado aos
importadores ou exportadores de produtos, respetivamente, provenientes de outros Estados
para consumo ou outro tipo de utilização e também como origem neste último e destinados a
outros Estados, aquando da respetiva entrada ou saída de um território aduaneiro autónomo.
O montante pecuniário pode ser calculado e basear-se na natureza, peso ou volume do bem
(direitos aduaneiros específicos) ou então no seu valor aduaneiro (direitos aduaneiros ad
valorem). Os direitos aduaneiros da União Aduaneira da União estão previstos no Código
Aduaneiro da União. Quando o Tratado de Roma entra em vigor estabelece o congelamento
imediato dos níveis de proteção aduaneira vigentes na altura e a eliminação gradual dos direitos
aduaneiros durante o período transitório estabelecido (até ao final da década de 60), mas isso
foi alcançado antes desse período. O Tratado impõe também que os EM não criem obstáculos
comerciais e não agravem os anteriormente vigentes nas relações com outros Estados
Membros, o que foi reconhecido no Acórdão Van Gend em Loos pelo Tribunal de Justiça.
Sabemos que a União Aduaneira tem duas vertentes: (i) intracomunitária ou Intra União:
proíbe direitos aduaneiros de entrada no território nacional de produtos provenientes de EM e
de encargos de efeito equivalente, bem como de direitos aduaneiros de saída de bens do
território de cada EM com destino a outros EM e de encargos de efeito equivalente12; (ii)
11 São aqueles que têm origem num país terceiro que cumpriram as formalidades de importação da União Europeia
e em relação às quais foi efetuado o pagamento dos direitos aduaneiros exigidos na Pauta Aduaneira da União.
Cumpridos estes requisitos já podem circular livremente no território da União, segundo o artigo 29º TFUE.
12 O Tribunal de Justiça definiu-os como um encargo pecuniário, ainda que diminuto, unilateralmente imposto,
qualquer que seja a sua designação, ou a técnica utilizada, quer incida sobre mercadorias nacionais ou estrangeiras,
comunitárias ou não, em razão do simples facto de transporem a fronteira, independentemente do momento da
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
respetiva cobrança, desde que aquando ou em razão da importação. Estes encargos de efeito equivalente a direitos
aduaneiros deverão ter projeção comunitária, não exclusivamente no interior do EM.
13 Todos os obstáculos à livre circulação de mercadorias consistentes na imposição de contingentes ou quotas de
importação ou exportação de mercadorias, produzidas num EM ou em livre prática no seu território. Regulamento
do Conselho de 1998: entrave atual ou potencial à livre circulação de mercadorias, isto é, qualquer comportamento
atribuível a um EM e que envolve uma ação ou omissão por parte deste, que possa constituir uma violação dos 34º a
36º TFUE, e que provoque uma perturbação séria à livre circulação de mercadorias, que cause um prejuízo grave às
pessoas e que exija uma ação imediata para impedir a continuação ou o agravamento da perturbação ou prejuízos
apontados. Se os EM não agirem imediata e eficazmente com vista a cessar os enclaves à livre circulação com origem
em perturbações sérias causadas por particulares, o regulamento institui um mecanismo conduzido pela Comissão,
o qual pode justificar a solicitação de cessação imediata do entrave existente, para além da sujeição do princípio da
transparência.
14 Tribunal de Justiça no acórdão Dassonville em 1974 determina que são medidas de efeito equivalente “qualquer
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
que segundo a jurisprudência do Tribunal de Justiça considera que estas disposições têm efeito
direto, podendo ser imediatamente invocadas perante autoridades públicas, incluindo os
tribunais. Só são admitidas as exceções do artigo 36º, desde que cumpram os critérios da
necessidade, proporcionalidade e uniformidade, não podendo ser discriminatórias em razão da
nacionalidade.
Veja-se que não vigora na União a liberdade de circulação de nacionais de países terceiros,
independentemente de já terem sido reconhecidos como trabalhadores num EM. Contudo, o
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
direito derivado ampliou os benefícios de circulação de trabalhadores15 aos seus familiares, seja
qual for a sua nacionalidade (cônjuge e descendentes menores de 21 anos ou a seu cargo e os
ascendentes do trabalhador e os do seu cônjuge que se encontrem a cargo).
O que implica o direito de livre circulação dos trabalhadores (45º a 48º)? Direito de entrar e
permanecer no território de outro EM, mesmo que apenas para procurar emprego, o direito ao
tratamento igual ao dado aos nacionais (18º e 45º/2 TFUE) com implicações em diversos
domínios, como a procura de emprego, remuneração e outras condições laborais, sendo
proibida a sujeição a regras de contratação ou de obrigações exigíveis diversas das aplicáveis
aos nacionais do próprio EM ou a imposição de clausulas de nacionalidade (Acórdão Bosman de
1995 e Regulamento nº 1612/68). O direito de circulação não depende de um documento do
EM de acolhimento, mas este pode exigir que a permanência no respetivo território seja
comprovada por um certificado de registo ou cartão de residência permanente, com efeito
declarativo, cuja não obtenção ou perda de validade não deve determinar a não admissão no
território do Estado, quer para o trabalhador como para os seus familiares- Caso MRAX vs.
Estado Belga TJ de 2002, Regulamento nº 1612/68 e Acórdão Maria Teixeira 2010.
O direito fundamental de circulação entre EM, consagrado no acórdão Heylens, deverá ceder
(apesar de não poder em princípio ser objeto de restrições em razão da nacionalidade) se
necessário para assegurar interesses públicos relevantes, como a exigências do domínio
suficiente da língua oficial do país de acolhimento no exercício de certas funções ou profissões
(45º/4 TFUE). Por outro lado, a circulação de pessoas encontra-se restringida por razões de
ordem pública, segurança pública e saúde pública (45º/3 TFUE). Veja-se, contudo, que as
restrições terão de ser aplicadas restritivamente, pois trata-se de um direito fundamental.
Tendo em vista as coordenação das medidas nacionais nestes domínios o Conselho adotou uma
Diretiva, que foi posteriormente revogada pela Diretiva 2004/38/CE do PE e do Conselho, com
um regime específico para a reserva de saúde pública (previsão da lista de doenças que podiam
impedi a entrada no território16- Maria Luísa Duarte considera que se a doença for adquirida no
país de acolhimento não pode ser fundamento para supressão do direito de circulação) e outro
assente na harmonização de diretrizes para situações de ordem pública e segurança pública- as
medidas nacionais deveriam fundamentar-se exclusivamente no comportamento pessoal do
individuo em causa (limita bastante a possibilidade de invocação desta restrição pelos EM), o
qual foi descrito no acórdão Roland Rutili de 1975 no qual o TJ como “uma ameaça grave e atual
a interesses fundamentais da comunidade nacional”, não podendo os Estados invocar esta
reserva por motivos económicos (ou devido a condenações penais).
15 É considerado trabalhador qualquer pessoa humana que já tenha exercido, que exerça ou que pretenda exercer
uma atividade económica assalariada- Tribunal de Justiça no acórdão Walrave (…) de 1974- sendo esta aquela que é
exercida por conta de outrem ou equiparada tratada como tal para efeitos da legislação de segurança social do Estado
Membro em que a mesma é exercida ou em que a situação equiparada se verifique (Regulamento nº 883/2004 CE.
Não obstante gozam de liberdade de circulação também os desempregados involuntários, os incapacitados e as
pessoas abrangidas por um sistema de segurança social aplicável aos trabalhadores. O trabalho prestado deve ser
real, efetivo, mesmo que de curta duração ou a tempo parcial, mas não meramente acessório (acórdão Franca Ninni-
Orasche de 2003), independentemente de os rendimentos auferidos atingirem o nível mínimo de subsistência
previsto pelo Estado de acolhimento, lugar de residência do trabalhador e da natureza e duração do vínculo contratual
existente. A não verificação destes pressupostos só leva a que não exista livre circulação de trabalhadores, pois todos
os nacionais dos EM gozam do direito de circular.
16 Contudo, não vigora na União um regime uniforme e dificilmente poderá servir de justificação para a rejeição da
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
A liberdade de circulação de serviços está prevista nos artigos 49º a 62º, sendo dividido em
direito de estabelecimento e prestação de serviços, sendo estas duas formas alternativas e não
cumulativa de circulação ou prestação transfronteiriça de serviços. O artigo 57º define serviços.
Veja-se que a livre circulação de serviços pode ser considerado como uma mera decorrência da
livre circulação de pessoas, ou no respeito pelo princípio da não discriminação, próximo do
tratamento nacional. A liberdade de prestação de serviços no Mercado Interno abrange quer os
serviços prestados no território do EM em que o operador económico da União tenha residência
ou em que se encontre estabelecido, a quem aí pretenda deles beneficiar (prestação passiva-
cidadão belga vai a um advogado em Lisboa) quer os serviços prestador no território de um EM
ao qual se desloque o operador económico (prestação ativa- médico vai a outro EM prestar um
serviço), bem como os serviços prestador por um operador económico de um EM, ou nele
estabelecido, a um consumidor residente ou estabelecido no território de outro EM sem que a
prestação desse serviço implique a deslocação fronteiriça dos dois operadores (ex. projeto
desenvolvido por arquiteto num EM para pessoa de outro EM).
A distinção entre estas figuras foi abalada pela Proposta Bolkenstein que abrange ambas as
liberdades de circulação de serviços e todos os setores da economia, com exceção dos
especialmente regulados ao nível da União, e que tem em conta a jurisprudência do TJ. A
Diretiva 2006/123/CE introduz alterações que contribuíram para uma realização mais eficaz do
mercado interno de serviços, ainda que não reflita na totalidade a Proposta. Prevê o princípio
geral do deferimento tácito dos requerimentos de autorização para o exercício da prestação de
serviços, invertendo a prática dos ordenamentos nacionais (incluindo Portugal). Reconheceu o
princípio do reconhecimento mútuo das habilitações no acesso e no exercício da livre circulação
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
de serviços e estabelece o princípio geral das autorizações concedidas para todo o território
nacional e com duração ilimitada. Em caso de autorização temporária, passou a haver lugar à
sua renovação automática, presumindo-se que se mantêm condições para a respetiva
concessão, exceto se razões imperiosas de interesse público justificarem solução diversa.
Note-se que nenhum EM pode, por legislação interna, restringir os efeitos da atribuição de
nacionalidade por outro Estado, devendo reconhecer essa atribuição, exceto se violasse
disposições imperativas de DI ou DUE.
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
A Diretiva 2005/36/CE impôs aos EM o reconhecimento das qualificações obtidas pelo prestador
de serviços noutro EM sem excluir a exigência de um nível mínimo de qualificações quanto a
atividades em que o acesso, o exercício ou a modalidade de exercício se encontram
subordinadas à posse de qualificações profissionais especificas. O regime nesta diretiva é
supletivo, aplicando-se na ausência de regras especificas de harmonização e quando não se
verifiquem as condições de aplicação de regimes especiais.
Está presente nos artigos 63º a 66º do TFUE e integra a competência partilhada17 da União com
os Estados Membros, cujo exercício se rege pelo disposto no artigo 2º/2 TFUE. No Tratado de
Roma (atual artigo 63º TFUE) foi expressa a supressão das restrições aos movimentos de
capitais, na medida do necessário para o bom funcionamento do mercado comum, o que foi
interpretado como a atribuição de um poder discricionário às instituições europeias quanto ao
momento e à forma de abolição, levando a que o TJ não reconhecesse efeito direto a essa
norma. O Conselho adota em 1960 a primeira diretiva sobre movimentos de capitais,
modificada em 1962, que eliminou as restrições de certos tipos de movimentos de capitais
privados e comerciais, incluindo a aquisição de bens imobiliários, os créditos a curto e médio
prazo conexos com transações comerciais e a aquisição de valores mobiliários negociados em
bolsa. Alguns EM, como a Alemanha, Países do BENELUX e depois o Reino Unido, eliminaram
unilateralmente a generalidade das restrições vigentes aos movimentos de capitais.
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
O Tratado da União Europeia extraiu do artigo 67º (atual 63º TFUE) o excerto que justificava a
não atribuição do efeito direito pelo TJ, o que leva a que este a reconheça, no acórdão Sanz de
Lera de 1995. Veja-se que o artigo 63º proíbe todas as restrições aos movimentos de capitais
entre EM e países terceiros e igualmente entre EM, ou seja, os nacionais de países terceiros
passaram a beneficiar da liberdade de circulação europeia de capitais. O acórdão
Comissão/França de 2001 determina que são proibidas todas as medidas discriminatórias e
aquelas que impeçam, limitem ou apenas dissuadam os movimentos de capitais. As únicas
restrições possíveis estão previstas no artigo 65º TFUE, tendo estas como objetivo evitar
infrações à legislação nacional, particularmente nos domínios fiscal e da supervisão prudencial
dos serviços financeiros, bem como procedimentos de contabilização, verificação e controlo dos
movimentos de capitais, designadamente para fins estatísticos, e ainda medidas fundadas em
razões de ordem pública ou segurança pública, desde que preenchidas as condições especificas
para a respetiva aplicação (principio necessidade e proporcionalidade). O artigo 75º TFUE e 215º
TFUE mostram ainda outras exceções possíveis ao princípio geral presente no 63º TFUE. Para
além estas exceções, existem aquelas se aplicam somente a movimentos de capitais com países
terceiros: 64º/1 e 3; 65º/4; 65º e 66º TFUE. O TJ entende que estas últimas exceções devem ser
entendias mais permissivamente que as entre os EM.
A proibição geral do 63º TFUE necessitou de ser complementada: diretiva 2007/64/CE que
estabelece a base jurídica das normas aplicáveis a todos os serviços de pagamento (DSP), para
que os pagamentos fronteiriços fossem fáceis, eficientes e seguros e para promover a eficácia e
a redução de custos através do reforço da concorrência resultante dos mercados de pagamentos
a novos operadores; Regulamento nº 260/2012 que fixa os requisitos técnicos para as
transferências bancárias e débitos diretos em euros com a imposição de prazos limite para a
migração dos sistemas de transferências e débitos direitos nacionais para os instrumentos do
Espaço único de Pagamentos Europeu (SEPA); Diretiva 2015/2366 relativa aos serviços de
pagamentos do Mercado Interno, que reforça a transparência e a proteção dos consumidores e
adapta as normas então vigentes aos novos serviços de pagamentos; criação em 2015 da União
dos Mercados de Capitais, com o objetivo de criar um mercado único de capitais até 2019, que
é necessário para a realização de uma verdadeira UEM.
No acórdão Liga Portuguesa de Futebol Profissional, o TJ esclarece que no caso de uma medida
nacional respeitar simultaneamente a várias liberdades fundamentais, o TJ aprecia-a, em
principio, à luz de apenas uma dessas, se se revelar que, nas circunstâncias do caso, as outras
liberdades são totalmente secundárias relativamente à primeira e podem estar-lhe
subordinadas.
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Para os países aderirem ao euro têm (e tiveram, para entrar na UEM) de ser membros da
Comunidade e terem cumprido os critérios de convergência (estabilidade de preços- inflação
média com desvio inferior a 1,5% em relação à media dos Estados Membros com melhores
resultados- taxas de juros- taxa de juro nominal com desvio inferior a 2% em relação à media
dos Estados Membros com melhores resultados- estabilidade cambial e disciplina das finanças
públicas- limites máximos de dívida pública e défice) e os requisitos institucionais, que se podem
resumir na independência dos bancos centrais nacionais e a proibição de financiamento da
dívida junto destes. Foram 11 Estados considerados pelo Conselho Europeu como cumpridores
dos critérios de convergência. O critério da dívida pública foi agilizado, sendo considerado
cumprido por aqueles países que apresentavam valores elevados, mas que tinham vindo a
descer. O critério do défice foi bastante criticado, atendendo à dificuldade de reduzir os défices
no período de crise económica que se atravessava, e levou muitos países a reduzi-lo através de
uma contabilidade criativa (Ex. desorçamentação de despesas). Sendo que praticamente todos
o fizeram, não foram questionados os valores de défice orçamentais.
A UEM vem permitir completar o Mercado Único e a sua viabilidade depende do sucesso do
primeiro.
Vantagens da UEM:
a) Estabilidade de preços
b) Finanças Públicas Saudáveis e Estabilidade Económica: exige-se aos participantes que
atinjam valores referenciais de défice e dívida públicos como condição de entrada, mas
ainda depois da sua entrada, através do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Este fato
permite o bom desempenho da moeda comum nos mercados cambiais e para a
contenção da inflação.
c) Ganhos de senhoriagem: o euro assume um papel no mercado internacional que poderá
levar a que operadores estrangeiros usem Euros nas suas transações e que os Bancos
Centrais dos outros países os detenham como reservas cambiais.
d) Fim da Especulação Cambial: o euro é menos sensível à especulação cambial do que
cada uma das moedas dos participantes individualmente considerada.
e) Economia de Reservas Cambiais (?)
f) Reforço do papel Internacional da União e do Euro: a Europa ganha peso ao nível das
trocas mundiais, visto que o euro é uma divisa de expressão mundial. Por outro lado, o
prestígio da moeda europeia está associado ao prestígio e peso da própria União nos
fóruns mundiais, nomeadamente nos que lidam com matérias económicas, financeiras
ou monetárias.
g) Eliminação dos custos de transação: os custos de transação na zona ficam mais baixos,
devido à eliminação do risco cambial, à atenuação do risco contabilístico e à não
necessidade de fazer gestão dos fundos com divisas.
h) Transparência nos preços: os atores económicos passam a poder, com maior facilidade,
comparar os preços dos bens e serviços nos vários Estados Membros.
i) Estímulo ao comércio interno dentro da Zona
Desvantagens da UEM:
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Se um país da União Europeia que participe na UEM sofrer um choque económico adverso,
quais são os instrumentos ao seu dispor para o combater?
Teoria das Zonas Monetárias Ótimas: defende que numa zona monetária ótima, os
custos de um choque assimétrico são atenuados, quando não evitados de todo, pela
própria dinâmica interna da Zona Monetária. Nesta os ciclos económicos dos países
participantes tendem a ser cada vez mais sincronizados, o que na teoria afastaria os
choques assimétricos. Se todos os participantes sofressem um choque assimétrico
simultaneamente, continuavam a ser válidos os instrumentos tradicionais como as
medidas cambiais e monetárias pelo BCE. A sincronização dos ciclos depende não só do
grau de integração, mas também de uma flexibilidade de salários e preços
acompanhada de uma elevada mobilidade dos fatores de produção que permitirá ao
mercado absorver por si os choques. O país incluindo numa Zona Monetária Ótima
beneficia da possibilidade de usar os recursos tornados livres pela inexistência da moeda
nacional para outros fins, mas pode vir a suportar as consequências da perda dos
instrumentos tradicionais de política económica, existindo nesta figura uma política
orçamental centralizada. Numa Zona Monetária Ótima os choques assimétricos não
existem. Mas nenhum Zona Monetária é totalmente imune a crises geograficamente
setoriais. Vejamos agora se a União Económico e Monetária é ou não uma Zona
Monetária Ótima: é certo que a UEM é uma Zona Monetária Única; a maioria dos
Estados Membros não tem uma estrutura de salários e preços suficientemente flexíveis
para fazerem face a um choque económico, o que é reforçado pela intenção do BCE de
manter a estabilidade de preços; a mão-de-obra não se desloca com tanta flexibilidade
para que se possa esperar daí uma solução a uma crise económica, pois a movimentação
de trabalhadores e capitais dentro da Zona Monetária permitia resolver os choques
sobre o emprego e a produção, mas subsistem na EU barreiras culturais e linguísticas
que tornam pouco recorrente a mobilidade dentro da Zona Euro; a política orçamental
na UEM foi deixada aos Estados Membros18, mas já sabemos que a capacidade de um
Estado Membro de reagir a uma fase negativa é bastante restringida pelos Tratados e
PEC. Pelos argumentos, percebe-se que a UEM não é uma Zona Económica Ótima,
existindo, portanto, choques assimétricos. As políticas cambiais e monetárias únicas e a
integração a todos os níveis no contexto do mercado único reduzem em certo modo as
probabilidades de choques assimétricos. Por outro lado, os fundos comunitários
estruturais têm capacidade para reduzir as diferenças estruturais produtivas o que
previne os choques assimétricos. Muitos autores consideram que a unificação
18Visto que a centralização orçamental comporta a necessidade de transferir mais fundos para o orçamento
comunitário e iria aumentar os riscos de cada país com os demais.
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19Em Novembro, começa o Semestre Europeu com a publicação da AGS, AMR e o Projeto de Relatório Conjunto de
Emprego e recomendações para a área do euro. Os líderes da EU consideram em Março esses documentos, sendo as
recomendações adotadas pelo Conselho em Fevereiro. Nesse mês ainda a Comissão publica o relatório nacional para
cada estado membro que analisa a situação económica e o progresso na implementação da agenda de reforma do
EM. Em Abril os EM apresentam os seus programas de reforma nacionais e os seus programas de estabilidade e
convergência (primeiros para os países da área do euro e os segundos para todos os EM) à Comissão, devendo esses
programas informar sobre as políticas especificas para impulsionar o emprego e o crescimento, prevenir e corrigir os
desequilíbrios macroeconómicos e os seus planos concretos para garantir o cumprimento das imposições europeias.
Para os países da zona euro, devem apresentam à Comissão projetos de planos orçamentais para o ano seguinte até
15 de Outubro, sendo estes avaliados pela Comissão através dos requisitos do PEC e recomendações especificas e
esta emite um parecer sobre cada um deles em Novembro.
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parte dos EM. Foi criado também o Tratado Orçamental que prevê que se devem limitar
os défices estruturais a 0,5% do PIB ou a 1% se a sua relação entre a dívida pública e o
PIB for bem superior a 60%. Exige que se criem mecanismos de correção automática
para ser desencadeados se o limite do défice estrutural20 for violado. Se houver um
desvio significativo do objetivo a médio prazo ou do caminho de ajustamento para o
mesmo, a Comissão endereça um aviso ao EM que será endossado pelo Conselho,
podendo este aviso ser tornado público. Esta situação será acompanhada e, se não for
corrigida, a Comissão pode propor um depósito de 0.2% do PIB (apenas na zona euro)
que deve ser aprovado pelo Conselho, podendo o montante ser desenvolvido ao EM
que corrigir o desvio. Se os EM violarem o critério do défice ou da dívida, eles são
colocados em um Procedimento de Défice Excessivo, estando sujeitos a uma supervisão
adicional, sendo fixados prazos para a correção do défice. A Comissão monitora o
cumprimento ao longo do ano, com base em previsões económicas e nos dados no
Eurostat. O novo regime prevê sanções mais progressivas e mais rápidas, visto que para
os EM da área do euro, no Processo de Défice Excessivo, as penalidades financeiras são
iniciadas antes e podem ser gradualmente intensificadas: a falta de redução pode
resultar em multas de 0,2% do PIB ou 0,5% se tiver havido a ocultação da estatística do
desequilíbrio; as sanções no âmbito desse processo são aprovadas pelo Conselho, a
menos que a uma maioria qualificada dos EM vote contra essa aplicação (votação por
maioria qualificada reserva). Os Estados Membros que sofrem dificuldades financeiras
ou sob programas de assistência preventiva do MEE são submetidos a vigilância
reforçada, isto é, missões periódicas de revisão pela Comissão. Se tal não permitir
resolver a questão, os EM podem ser convidados a preparar programas completos de
ajuste macroeconómico, sendo essa decisão tomada pelo Conselho deliberando por
maioria qualificada, sob proposta da Comissão. O Procedimento de Desequilíbrio
Macroeconómico (MIP) tem como objetivo monitorar e prevenir desenvolvimentos que
possam comprometer a estabilidade macroeconómica e promover o ajuste por meio de
políticas apropriadas. Este Procedimento é aplicado no Semestre Europeu sendo
desenvolvido através de 4 etapas principais: (1) Relatório de Mecanismo de Alerta, ou
seja, os EM são analisados quanto a possíveis desequilíbrios com base num conjunto d
variáveis principais, bem como indicadores auxiliares e outras informações, para medir
a evolução económica ao longo do tempo, sendo este Relatório publicado em
Novembro pela Comissão, indicando os EM que exigem uma analise mais profunda; (2)
Análise Aprofundada, ou seja, a Comissão analisa os EM que estão potencialmente em
risco de desequilíbrios, verificando a existência destes e da sua gravidade, sendo a
Revisão Aprofundada (IDR) publicada na primavera e fazem parte dos relatórios dos
países do semestre europeu; (3) Recomendações da Comissão que fazer parte do pacote
de recomendações especificas para cada país emitidas em Maio; (4) Monitoramento. Se
no final a Comissão entender que existem desequilíbrios excessivos no EM, pode lançar
o Procedimento de Desequilíbrio Excessivo (EIP), implicando a entrega e a adoção de
um plano de ação corretivo dentro dos prazos, sendo esse acompanhado pela Comissão,
sendo que a falta de conformidade repetidamente com os objetivos estipulados pode
levar a sanções.
20 Défice estrutural: mede a saúde das contas públicas abstraindo do momento da Economia e das medidas
extraordinárias. Assenta em conceitos como o PIB potencial (assenta na multiplicação ponderada do desemprego
natural, capital existente e a produtividade) e as receitas e despesas do Estado que existiriam nesse cenário.
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A concorrência está estritamente ligada à proteção do bem estar dos consumidores contra o
exercício de poder de mercado por uma ou mais empresas, sendo o conceito de poder de
mercado definido pela Comissão Europeia como “a capacidade de manter, de forma rentável,
os preços acima dos níveis concorrenciais durante um determinado período de tempo ou de
manter, de forma rentável, a produção, em termos de quantidade, qualidade e diversidade do
produto ou de inovação, abaixo dos níveis concorrenciais durante um determinado período de
tempo (Orientações da Comissão Europeia sobre a cooperação horizontal). Neste seguimento o
que releva para efeito de aplicação das regras de concorrência é o exercício sustentado desse
poder, durante um período relevante, sendo necessário ponderar também a magnitude do
poder de mercado exercido, as condições concorrenciais existentes e a norma de concorrência
em causa.
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É essencial que todas as fontes de pressão concorrencial relevantes foram tidas em conta, antes
de concluirmos pela existência de poder de mercado, sendo a definição de poder de mercado
apenas um instrumento para orientar a aplicação das regras de concorrência a casos concretos
(acordos entre empresas, abusos da posição dominante ou concentrações).
O artigo 3º/1 alínea b) TFUE determina que o estabelecimento das regras de concorrência
necessárias ao funcionamento do mercado interno são competência exclusiva da União. As
principais normas substantivas de concorrência são os artigos 101º e 102º TFUE e o
Regulamento nº139/2004 que fixa o Regime de Controlo de Concentrações.
O artigo 101º proíbe os acordos e práticas concertadas entre empresas bem como as decisões
de associações de empresas que tenham por objetivo ou como efeito impedir, restringir ou
falsear a concorrência e sejam suscetíveis de afetar o comércio entre EM, sob pena de nulidade
desses acordos ou práticas (101º/2 TFUE- o 101º/1 estabelece um principio de ordem publica
económica imperativo, negado a garantia das cláusulas restritivas). Está em causa a proibição à
restrição da liberdade das partes quanto às condições que irão praticar no mercado junto dos
respetivos clientes. Veja-se que se num determinado mercado onde existem apenas 5 empresas
concorrentes estas se reúnem para fixar os preços que cada uma irá praticar, teremos um caso
claro de uma prática restritiva da concorrência (um cartel). O nº3 do artigo 101º permite excluir
do âmbito da proibição do número 1 aqueles comportamentos que, embora preenchendo os
requisitos da proibição, são compatíveis com o mercado interno por preencherem os requisitos
do nº3, que procuram fazer um balanço entre os efeitos anticoncorrenciais da prática e os
eventuais benefícios (balanço económico), e se traduzem na exigência de ganhos objetivos de
eficiência (contribuem para melhorar a produção ou distribuição dos bens ou serviços em causa
ou para promover o progresso técnico e económico), no facto de as vantagens se repercutirem
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na sociedade, devendo os utilizadores receber uma parte equitativa desses ganhos. Por outro
lado, é exigido ainda que a restrições sejam indispensáveis à prossecução dos objetivos legítimos
em causa e que não possam dar às partes a capacidade de eliminar a concorrência numa parte
substancial dos produtos em causa- eliminação da concorrência é um parâmetro ultrapassável.
A aplicação do artigo 101º/3 TFUE é facilitada pela existência de regulamentos da Comissão que
atribuem o benefício da inaplicabilidade do nº1 aos acordos que preencham certos requisitos
(regulamentos de isenção por categoria).
O artigo 102º é aplicável apenas a empresas que tenham a detenção de uma posição dominante,
ao contrário do artigo 101º/1 que é aplicável potencialmente a qualquer empresa. A existência
por si só de posição dominante não é proibida, mas apenas o abuso dessa posição. Por outro
lado, estas empresas, atendendo à sua posição dominante, estão sujeitas a especiais deveres de
conduta. Este artigo apresenta uma cláusula geral, prevendo uma tipologia exemplificativa que
concretiza o tipo de condutas que podem ser consideradas abusivas. Note-se que o tratado não
fixa uma exceção ao 102º, mas a prática da Comissão e da Jurisprudência do TJUE tem
reconhecido uma exceção decalcada do nº3 do 101º TFUE. Note-se que o facto de um acordo
ser abrangido pelo artigo 101º/3 ou por um regulamento de isenção por categoria não afasta a
aplicação do artigo 102º, desde que estejam reunidos os pressupostos desta última disposição.
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O artigo 42º TFUE estabelece que os artigos 101º a 109º apenas se aplicam à produção e
comercialização de produtos agrícolas (elenco taxativo anexo I TFUE), na medida do estabelecido num
Regulamento de execução, a aprovar com base no procedimento do artigo 43º e tendo em conta os
princípios estabelecidos pelo artigo 39º- TJ afirma que há aqui uma primazia da política agrícola
relativamente às regras de concorrência e o poder conferido ao Conselho de definir em que medida as
regras seriam aplicáveis ao setor agrícola (acórdão Maizena c. Conselho 1989). Quanto aos auxílios de
Estado, o Conselho aprova mediante proposta da Comissão, a concessão de auxílios às explicações em
situação desfavorável devido a condições estruturais ou naturais no âmbito de um programa de
desenvolvimento económico. O artigo 102º TFUE aplica-se.
22
Regulamento nº17/62.
23Competência reservada aos EM, prevendo o artigo 346º/1 alínea b) TFUE uma exceção quanto a medidas tomadas
por estes relativas à proteção dos interesses essenciais à sua segurança, desde que relativas à produção ou comércio
de armas, munições e material de guerra, sujeita a uma condição de não distorcerem as condições de concorrência
quanto a produtos não destinados a fins especialmente militares. Este artigo não autoriza legalmente as práticas
anticoncorrenciais no setor da defesa, visto que as derrogações têm de ser vistas restritivamente, podendo apenas
ser relevante quanto a medidas tomadas pelos EM que, de outra forma, poderiam ser contrárias às obrigações
impostas pelas regras de concorrência. O Regulamento nº139/2004 permite aos EM tomar medidas quanto a
concentrações de dimensão europeia, que sejam adequadas e proporcionais à proteção de interesses legítimos,
sendo um desses fins a defesa.
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Restrição da Concorrência
Num mercado concorrencial, cada agente económico deve determinar livremente e de forma
autónoma o respetivo comportamento no mercado. Nesse sentido, o artigo 101º/1 TFUE
pretende impedir que as empresas restrinjam a concorrência entre si ou relativamente a
terceiros mediante a coordenação da respetiva conduta concorrencial. O direito da concorrência
visa preservar uma estrutura concorrencial que conduza a um grau de concorrência suscetível
de beneficiar os consumidores, em termos de preço, qualidade, variedade e inovação. Não
existe, no entanto, o objetivo de criar e proteger um equilíbrio nas relações entre os produtores
e distribuidores. O conceito de restrição da concorrência exige que se analise o cenário real de
evolução do mercado, na medida em que o controlo jusconcorrencial seja exercido após a
prática estar em execução, avaliando a forma como a concorrência se processa na vigência das
práticas em causa, e exige que se analise o cenário hipotético da evolução do mercado (cenário
contrafactual), isto é, como se desenvolveria a concorrência na ausência da prática. Assim, só
existira restrição da concorrência se, devido ao acordo ou prática em cauda, a concorrência fosse
restringida relativamente ao que sucederia num cenário sem a conduta controvertida (Acórdão
56/65 de 1996). A qualificação das restrições como sendo por objetivo ou por efeito é
determinante para a maior facilidade ou dificuldade da demonstração de uma restrição de
concorrência, na medida em que conduz-nos à delimitação de uma fronteira entre
comportamentos prima facie ilegais e outros em que será necessária uma demonstração de
efeitos anticoncorrenciais. Por outro lado, veja-se que a Comissão considera que as condições
de isenção do 101º/3, sendo em tese aplicáveis às duas categorias, na prática, é improvável que
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
restrições graves de concorrência (restrições por objetivo) satisfaçam as condições exigidas pelo
artigo (Comunicação da Comissão- Orientações relativas à aplicação do nº3 do artigo 81º do
Tratado). Existe uma prioridade lógica das restrições por objetivo sobre as restrições por efeito,
na medida em que se uma prática tem por objetivo restringir a concorrência e, reúne os
requisitos do artigo 101º/1 TFUE, a mesma será proibida, apenas podendo ser resgatada pela
exceção do artigo 101º/3 TFUE. Constituem restrições por objeto aquelas condutas que, pela
sua própria natureza, são prejudiciais ao funcionamento da concorrência. Para o efeito, é
necessário ter em conta o teor das disposições controvertidas, os seus objetivos e o contexto
económico e jurídico em que se inserem. Apenas quando a análise da prática não revela um
objetivo anti-concorrencial é que será necessário examinar o seu efeito (acórdão Cartes
Bancaires). Isto não significa que o resultado da conduta seja indiferente para a análise por
objetivo, visto que a própria qualificação de uma restrição por objetivo assenta num juízo de
que a conduta em questão é apta a restringir a concorrência no mercado interno. A restrição
por efeito implica uma análise mais detalhada do mercado e, sobretudo, do potencial poder de
mercado das partes ou, no caso de coexistência de redes de contratos de distribuição com a
mesma natureza, do poder de mercado coletivo, expresso na capacidade de um encerramento
anti-concorrencial do mercado (Acórdão LTM). Note-se a regra de minimis, isto é, exige-se uma
apreciabilidade da restrição da concorrência para que a mesma atinga o patamar da ilegalidade
substancial do 101º/1 TFUE (acórdão Völk c. Vervaecke de 1969 e comunicações interpretativas
da Comissão, com relevância da de 2014).
O requisito das práticas serem suscetíveis de afetar o comércio entre os EM, pretende distinguir
as práticas que apenas têm relevância nacional ou local das que são suscetíveis de afetar o
mercado interno. Nesse sentido, se não ocorrer tal afetação, as restrições não são abrangidas
pelas regras do Tratado, sem prejuízo de puderem violar disposições da legislação do Estado. A
jurisprudência tem definido o termo comércio englobando toda a atividade económica
transfronteiriça e não apenas o comércio de bens ou serviços. O TJ reconhece que se preenche
este requisito também se um acordo ou prática abusiva afetam a própria estrutura concorrencial
do mercado (ex. eliminar ou criar o risco de eliminação de uma empresa). Na Comunicação de
2004, a Comissão estabelece uma presunção negativa ilidível, segundo a qual,
independentemente da natureza das restrições em causa, os acordos que preencham os
critérios da regra NASC (quota de mercado agregada das partes em qualquer mercado relevante
na Comunidade afetado pelo acordo não ultrapassa 5% e no caso de acordos horizontais, o
volume de negócios anual agregado na comunidade das empresas em relação aos produtos
objeto do acordo não é superior a 40 milhões de euros) não são considerados abrangidos pelas
regras dos artigos 101º e 102º TFUE.
Já vimos que o artigo 102º aplica o princípio da proibição da exploração abusiva de uma posição
dominante sem prever qualquer possibilidade de exceção. No entanto, veja-se que é necessário
um elemento de conduta qualificável como abusivo e distinto da situação especial do agente,
visto que o que é ilícito é o abuso da posição dominante e não a criação desta ou a mera
detenção da mesma.
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
como uma posição de poder económico detida por uma empresa que lhe permite afastar a
manutenção de uma concorrência efetiva no mercado em causa e lhe possibilita comportar-se,
em medida apreciável, de modo independente em relação aos seus concorrentes, aos seus
clientes e aos consumidores. Note-se que a existência de posição dominante não depende da
demonstração da exclusão de toda e qualquer concorrência, na medida em que apenas é
necessário que a pressão concorrencial existente seja insuficiente para garantir uma
concorrência efetiva, permitindo à empresa que se comporte de forma relativamente
independente face à reação dos concorrentes, clientes, fornecedores e consumidores- o
conceito de posição dominante não é incompatível com a existência de concorrência. Para
definir a existência de posição dominante é necessário definir previamente o mercado
relevante. Posteriormente deve-se apurar as quotas de mercado da empresa em causa, sendo
que a jurisprudência tem apresentado que uma quota de 10% do mercado só pode dar lugar a
uma posição dominante em circunstâncias excecionais e nos casos em que existe um
concorrente com uma parte de mercado igual, uma quota de 33% também e insuficiente para
estabelecer a existência de uma posição dominante. Por outro lado, nas Orientações sobre
abusos de exclusão, a Comissão considera que é pouco provável que uma empresa seja
considerada dominante quando a sua quota se situe abaixo dos 40% (exemplo em que tal não
se observa: British Airways). Na faixa entre os 40% e os 50% o critério da quota de mercado é
considerado insuficiente para estabelecer uma posição dominante, sendo necessário apreciar
os dados da quota de mercado face ao poder económico e aos número de concorrentes (caso
United Brands). Quanto existe uma quota de 50% existe uma presunção ilidível de que existe
uma posição dominante. Acima dos 50% uma empresa dificilmente deixará de ser considera
dominante, sendo relevante o tempo em que a empresa conseguiu manter uma quota tão
preponderante. A determinação de uma posição dominante não se pode limitar à avaliação das
características objetivas dos produtos em causa, devendo ter em conta as condições de
concorrência e a estrutura da oferta e da procura em causa. Note-se que o abuso da posição
dominante para ser proibida pressupõe a possibilidade de a empresa não abusar, isto é, de
adotar voluntariamente um comportamento compatível com a manutenção da concorrência
efetiva, devendo existir capacidade de agir independentemente das forças disciplinadoras do
mercado.
O abuso da posição dominante consiste no exercício da margem ampla de apreciação que lhe é
conferida pela especial posição que ocupa de forma a obter vantagens que, na presença de um
grau de concorrência efetiva, não poderia alcançar. O abuso da posição poderá traduzir-se em
duas vantagens: lesão atual ou potencial de um bem jurídico protegido, sendo este a estrutura
concorrencial do mercado enquanto elemento propiciador da participação dos concorrentes
numa concorrência não falseada pelo recurso a métodos que não os da concorrência pelo mérito
e, por outro lado, de um tratamento equitativo dos clientes, fornecedores e dos consumidores
que interagem, direta ou indiretamente com a empresa dominante. Existem duas categorias de
abuso: a) abuso de exploração, em que a vantagem é auferida mediante o exercício de poder de
mercado sobre os clientes, fornecedores ou consumidores dos bens ou serviços da empresa
dominante. Esta vantagem pode corresponder à prática de preços de monopólio ou à aptidão
para lhes impor um encargo, obstáculo ou ónus injustificado. Assim, a empresa em posição
dominante deve comportar-se como se estivesse sujeita a uma pressão concorrencial efetiva,
abusando da mesma quando a sua confuta lhe confira uma vantagem que decorre dessa posição
de preponderância. Exemplos desta conduta: prática de preços excessivos ou imposição de
outras condições não equitativas; discriminação de preços entre clientes ou fornecedores;
imposição de uma proibição de exportação a clientes ou fornecedores; subordinação de
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
Sabemos que o artigo 102º não reconhece uma causa de exclusão da ilicitude do abuso da
posição dominante, mas veja-se que pode ser tido em conta o contexto em que o
comportamento é tomado ou mesmo a intenção que lhe é subjacente, na fase de qualificação
da conduta como abusiva, podendo essa conduta não ser qualificada como abusiva por se
encontrar uma justificação objetiva (aferição da necessidade objetiva e da proporcionalidade do
comportamento em causa face a fatores externos à empresa em posição dominante. Por outro
lado, também é apresentado nas Orientações sobre o abuso de exclusão que uma empresa pode
invocar uma justificação objetiva defendendo-se de uma alegação de abuso pela demonstração
de que a sua conduta gera ganhos de eficiência substanciais, que compensam qualquer efeito
anti-concorrencial a nível dos consumidores (veja-se acórdão Post Danmark I).
Veja-se o Regulamento nº 1/2003 que atribui competência à Comissão e aos tribunais nacionais
para aplicar regras de concorrência do TFUE. Existe um sistema de aplicação em rede, pela
Comissão e pelas Autoridades Nacionais de Concorrência (ANC), com a primeira a assumir, em
conformidade com o seu papel de guardiã dos Tratados, um papel de coordenação e de garante
da uniformidade na interpretação e aplicação administrativa dos artigos 101º e 102º TFUE. As
ANC têm o dever de abrir um processo ao abrigo dos artigos 101º e 102º sempre que iniciem
uma investigação por condutas equivalentes ao abrigo da legislação nacional de concorrência
(princípio da aplicação simultânea). O regulamento apresenta que o direito nacional não pode
proibir acordos que afetem o comércio entre EM, mas que não restrinjam a concorrência, na
aceção do artigo 101º/1 TFUE nem podem proibir acordos que afetem o comércio e restrinjam
a concorrência, que sejam abrangidos pelo artigo 101º/3 ou por um regulamento comunitário
de isenção. Quanto ao artigo 102º, o regulamento permite que a legislação nacional seja mais
restritiva, proibindo atos unilaterais de empresas ou que imponha sanções por esses atos.
Quanto ao controlo nacional de concentrações, as regras apresentadas anteriormente não se
aplicam, sem prejuízo dos princípios gerais e de outras disposições de direito comunitário (esta
ressalva aponta para o primado do direito da União e para as regras europeias sobre o controlo
de concentrações).
A Comissão aplica os artigos 101º e 102º através de diversos instrumentos: a) atos individuais:
decisões de verificação e cessação da infração; decisões que decretam medidas provisórias;
decisões que aceitem compromissos e concluem pela inexistência de fundamento para a adoção
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Controlo de Concentrações
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As medidas estatais que colidem com o bom funcionamento do mercado interno são objeto, por
excelência das regras relativas à eliminação de obstáculos ao comércio no domínio das quatro
liberdades. Ainda assim, o TJ não tem entendido que os artigos 101º e 102º não são aplicáveis a
medidas estatais, na medida em que o artigo 4º/3 TUE e o Protocolo relativo ao mercado interno
e à concorrência atribuem aos EM o dever de respeito pelas regras de concorrência do TFUE. No
acórdão INNO c. ATAB o TJ apresenta que o artigo 102º é dirigido às empresas, mas o Tratado
impõe aos EM que não adotem ou mantenham em vigor medidas suscetíveis de eliminar o efeito
útil dessa disposição. A aplicação conjunta do princípio da garantia de uma concorrência não
falseada, do dever de lealdade dos Estados previsto no 4º/3 TUE e dos artigos 101º e 102º TFUE
a medidas estatais resulta da obrigação dos EM de não pôr em causa o efeito útil daquelas
últimas disposições. Veja-se que as disposições não proíbem medidas estatais que distorçam a
concorrência na ausência de um comportamento subsumível àquelas disposições. Segundo o
acórdão Van Eycke de 1988 uma medida estatal será considerada contrária às obrigações
decorrentes com do artigo 4º/3 TFUE, tendo em conta o objetivo de salvaguarda de uma
concorrência não falseada quando esse Estado impõe ou favorece a conclusão de acordos
contrários ao artigo 101º ou reforça os efeitos de tais acordo ou retira à própria regulamentação
o seu caráter estatal, delegando em operadores económicos privados a responsabilidade de
tomar decisões de intervenção em matéria económica. É, portanto, necessário um
comportamento de empresas subsumível ao 101º e que seja demonstrado um elemento de
conexão entre esse comportamento e a medida estatal em causa.
O artigo 106º estabelece que os EM não podem tomar ou manter em vigor medidas contrárias
ao Tratado no que respeita às empresas públicas e às empresas titulares de direitos exclusivos
ou especiais, remetendo para outras disposições do Tratado com as quais tem de ser conjugado
para que possa ser operativo. Este artigo enfatiza um dever de neutralidade concorrencial no
tratamento dado pelo Estado às empresas. O nº 2 do artigo 106º determina uma isenção para
as empresas encarregadas da gestão de serviços de interesse económico geral e para os
monopólios fiscais, visto que em relação a estas serão aplicadas as regras da concorrência, na
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O regime dos auxílios de Estado é um ramo do direito da concorrência da União, mas que tem
como característica ser estritamente um direito europeu, na medida em que no direito nacional
não existe auxílios de Estado. Veja-se que a regulação da atribuição de auxílios de Estado mostra-
se bastante relevante para que não exista uma situação em que todos os Estados se veriam
forçados a replicar os auxílios atribuídos pelos restantes, sob pena de verem as suas empresas
perderem no jogo da concorrência, na medida em que é uma tendência natural os Estados
tentarem favorecer as suas empresas na concorrência com as de outros Estados. Nesse sentido,
o TFUE e o direito secundário que o implementa criaram um sistema de controlo supranacional
da atribuição de vantagens financeiras a empresas por entidades públicas, cabendo à Comissão
o poder de implementação desse sistema. O direito europeu dos auxílios de Estado pode ser
visto como um instrumento do processo de construção do mercado interno, sendo utilizado
como moeda de troca para a aceitação política da criação de um mercado unificado, mas
também é um instrumento que permite o controlo da despesa pública, o que coloca questões
políticas sobre a perda de soberania e a extensão do poder que se coloca na esfera da Comissão.
Veja-se que as regras de auxílio de Estado não impedem totalmente distorções concorrenciais,
na medida em que os poderes da União em matéria fiscal são muito limitados, não existindo
verdadeiramente uma harmonização das políticas fiscais dos Estados, conseguindo estes
concorrer entre si atribuindo condições fiscais mais favoráveis para atrair empresas para o seu
território. Ora, isto cria obviamente uma distorção concorrencial, mas essa não pode ser
controlada pelas normas dos auxílios de Estado. O regime dos auxílios de Estado destaca-se dos
outros dois ramos de direito da concorrência por ter uma componente política mais acentuada
e por implicar um maior grau de insegurança jurídica. Isto significa que tanto para determinar a
existência de um auxílio de Estado como para determinar o preenchimento dos requisitos para
autorização de um auxílio, a Comissão tem uma ampla margem de discricionariedade, que está
sujeita a um controlo judicial muito limitado.
Fontes de Direito: a) direito primário: 107º a 109º TFUE; b) direito secundário: diplomas de
direito substantivos e de direito processual, que, respetivamente, estabelecem os requisitos
para a qualificação de medidas como auxílios de Estado e definem as condições da sua
legalidade; e regulam o modo de notificação, avaliação e autorização de auxílios; c) soft law:
documentos da Comissão, que acabam por definir parâmetros normativos que têm de ser
respeitados pelos sujeitos de direito.
Para que uma medida pública seja considerada um auxílio de Estado proibido pelo Tratado
deverão verificar-se as seguintes condições:
a) Deve ser atribuída uma vantagem: segundo o TJUE deve determinar-se se a empresa
beneficiária recebe uma vantagem económica que não teria obtido em condições
normais de mercado (2009- Espanha v. Comissão). Não interessa ao direito europeu a
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forma nem a configuração exata do auxilio, mas sim que o beneficiário dique, direta ou
indiretamente, numa posição económica melhor do que aquela em que estaria na
ausência dessa medida, por esta aumentar a utilidade económica na sua esfera
patrimonial ou por diminuir a desutilidade, por comparação à situação que se verificaria
na ausência da medida pública em causa (acórdão Altmark de 2003). O TJUE no acórdão
GEMO de 2003 determina que no conceito de auxílio podem enquadrar-se tanto as
prestações positivas como intervenções que aliviam encargos que normalmente
oneram o orçamento de uma empresa. Veja-se que a intenção por detrás da medida é
irrelevante, apenas sendo relevante o seu efeito ou potencial efeito (acórdão TGUE
Ladbroke Racing de 1998). A atribuição de um benefício para restabelecer a legalidade
não é uma vantagem, desde que o benefício respeito o princípio da proporcionalidade
e a legalidade não seja contrária ao direito europeu. Para identificar uma vantagem
importa atender ao critério do operador numa economia de mercado, ou seja, não
existe benefício se a interação entre o Estado e a empresa ocorrer nos termos que se
teriam verificado num mercado livre, aferido em função da informação disponível no
momento da transação (acórdão SFEI 1996), cabendo ao Estado o ónus de provar o
respeito por este critério. Veja-se que, de modo geral, se a troca tiver ocorrido na
sequência de um concurso competitivo, transparente, não discriminatória e
incondicional, ou se intervierem nela entidades públicas e operadores privados nos
mesmos termos e condições pode assumir-se que a transação ocorreu de acordo com a
lógica de um operador numa economia de mercado. No acórdão Altmark, o TJUE fixa os
seguintes requisitos para que uma compensação por obrigações de serviço público não
seja qualificada como um auxilio de Estado e, portanto, não tendo de ser notificada e
autorizada pela Comissão Europeia: a) a empresa beneficiária deve ser efetivamente
incumbida do cumprimento de obrigações de serviços públicos e essas obrigações
devem estar claramente definidas; b) os parâmetros com base nos quais será calculada
a compensação devem ser previamente estabelecidos de forma objetiva e transparente,
a fim de evitar que essa implique uma vantagem económica suscetível de favorecer a
empresa beneficiária em relação a empresas concorrentes: c) a compensação não pode
ultrapassar o que é necessário para cobrir total ou parcialmente os custos que advém
do cumprimento de obrigações de serviço público, atendendo às receitas obtidas assim
como um lucro razoável pela execução destas obrigações: d) quando a escolha da
empresa não seja efetuada através de um processo de concurso público que permita
selecionar o candidato capaz de fornecer esses serviços ao menor custo para a
coletividade, o nível de compensação necessária deve ser determinado com base numa
análise dos custos que uma empresa média, bem gerida e adequadamente equiparada
em meios de transporte para poder satisfazer as exigências de serviço público
requeridas, teria suportado para cumprir essas obrigações. A Comissão vai
posteriormente detalhar a aplicação destes requisitos.
b) Essa vantagem deve ter origem estatal: o TJUE determinou que as vantagens terão de
ser concedidas direta ou indiretamente através de recursos estaduais, ou seja, é
necessário que da medida resulte um encargo para o Estado (Acórdão França v.
Comissão de 2002). Esta jurisprudência apresenta um exemplo de interpretação
restritiva da esfera de competências da União, na medida em que se pretendeu que não
coubesse no âmbito do regime europeu de controlo de auxílios de Estado toda e
qualquer regulação económica nacional que aumentasse receitas ou reduzisse custos
das empresas, mesmo que a soberania para regular essas matérias não tivesse sido
transferida ou não tivesse ainda sido exercida pela União. Um auxílio é imputável ao
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Estado se for adotado por qualquer autoridade pública ainda que descentralizada ,
desconcentrada, com autonomia jurídica ou independência. Pode ocorrer ainda que
seja imputável ao Estado o auxilio atribuído por uma empresa pública (quando exista
um exercício específico de controlo, bastando indícios associados às circunstâncias e
contexto do caso concreto) ou até entidade privada, não sendo possível que o simples
facto de o Estado criar instituições autónomas encarregadas da distribuição dos auxílios
permita contornar as regras relativas aos auxílios de Estado. A ideia de que se utiliza
recursos estatais implica a transferência de recursos ou a abdicação de receitas de
qualquer entidade do Estado no sentido lato. Veja-se que os fundos europeus são
também considerados recursos estatais na medida em que a sua atribuição tenha sido
decidida por um EM no exercício da sua margem de discricionariedade. Os mecanismos
indiretos de financiamento público são também considerados recursos estatais desde
que antes da transferência direta ou indireta para o beneficiário, os recursos sejam
colocados sobre o controlo público.
c) Deve ser seletiva: só são proibidos os auxílios que favoreçam certas empresas ou certas
produções e, portanto, se beneficiarem (ou puderem beneficiar) todos os agentes no
mercado não são suscetíveis e distorcer a concorrência não sendo proibidos. Estamos
presentes de uma medida seletiva de direito se resultar da sua configuração formal que
só algumas empresas/setores têm acesso a esses benefícios. Por outro lado, será uma
medida seletiva de facto se, analisando-se as consequências factuais da medida,
identifica-se um benefício significativo de um determinado grupo de agentes
económicos. Do artigo 107º/1 TFUE conseguimos perceber que o Estado pode distorcer
as regras de concorrência desde que o faça através de medidas gerais. Contudo, existem
ainda medidas estatais que favorecem um universo seleto de pessoas, mas que não são
consideradas seletivas, porque decorrem da aplicação dos objetivos intrínsecos ao
sistema. Quanto a medidas regionais, a seletividade das medidas é aferida em relação
ao quadro de referência aplicável nessa ária infranacional (acórdão Portugal c. Comissão
2006)- a seletividade geográfica da medida dependerá do grau de autonomia da
autoridade regional relativamente à administração central.
d) Deve ser atribuída a uma empresa (ou produções): é uma empresa qualquer entidade
que desenvolve uma atividade económica, independentemente do seu estatuto e do
modo como é financiada, abrangendo qualquer entidade que ofereça bens/serviços
num mercado. O conceito de empresa é funcional, isto é, a mesma entidade pode ser
empresas para umas coisas (quando atua no âmbito de uma atividade económica) e não
para outras.
e) Deve falsear ou ameaçar distorcer a concorrência e afetar as trocas entre os Estados:
haverá um efeito distorcido da concorrência quando um auxílio financeiro concedido
por um Estado ou através de receitas de Estado reforça a posição de uma empresa
relativamente a outras empresas concorrentes nas trocas comerciais intracomunitárias.
Veja-se que não é necessário demonstrar efetivas importações/exportações ou a
presença de concorrentes de outros EMs, mas apenas a potencialidade do impacto nas
trocas entre EM. Normalmente, os apoios com efeitos em mercados de âmbito local não
terão efeitos nas trocas entre EMs, ainda que já tenham ocorrido exceções. Não se inclui
neste âmbito os auxílios de minimis, estando fixado em regulamento (nº 1407/2012 da
Comissão) os valores e critérios específicos que devem estar preenchidos para afastar a
aplicação da proibição.
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Mesmo que uma medida preencha todos os requisitos do artigo 107º/1 TFUE, tal não significa
que ela seja incompatível com o Tratado necessariamente, podendo ser compatível por
beneficiar de uma isenção de direito, ao abrigo do 107º/2 TFUE, de uma isenção categorial, ao
abrigo de um regulamento europeu, ou de uma isenção individual, ao abrigo do artigo 107º/3
TFUE.
São de direito compatíveis com o mercado interno os auxílios de Estado que se enquadrem num
dos 3 casos previstos no artigo 107º/2: a) auxílios sociais atribuídos diretamente a consumidores
individuais que não discriminem consoante a origem dos produtos: b) auxílios para remediar
danos causados por calamidades naturais (artigo 50º regulamento mº 651/2014) ou
acontecimentos extraordinários, na medida em que se limitem a compensar os danos que
resultam diretamente da calamidade ou acontecimento extraordinário (acórdão Grécia c.
Comissão de 2004); c) e auxílios para apoiar a convergência económica dos Länder da Alemanha
oriental. Visto que são exceções terão de ser interpretadas restritivamente (acórdão Alemanha
c. Comissão 2000). Os EM têm de notificar a Comissão destas medidas, mas esta não tem
margem de discricionariedade, limitando-se a verificar se estão preenchidos os requisitos. No
caso de estarem, a Comissão está vinculada a adotar uma decisão de isenção.
Os artigos 109º e 108º/4 TFUE determinam que a Comissão pode, dentro de limites definidos
pelo Conselho, adotar regulamentos de isenção categorial. OS regulamentos terão por efeito
declarar a compatibilidade com o mercado interno dos auxílios de Estado que cumpram os
requisitos por eles definidos, dispensado a notificação prévia à Comissão, sem prejuízo dos
deveres de informação. A grande maioria de isenções categoriais está reunida no Regulamento
Geral de Isenção Categorial, que define os requisitos gerais (capítulo I) e específicos (capítulo III)
para diferentes tipos de auxílios. A cada EM cabe avaliar se as medidas que pretende adotar
preenchem os requisitos do regulamento de isenção categorial. Mas a Comissão pode vir a
discordar e exigir a notificação de uma determinada medida e ainda, enquanto mecanismo
sancionatório e de reação a uma prática abusiva, que a Comissão possa retirar, num caso
concreto, o benefício da isenção categorial, se um EM tiver alegado incorretamente que um
determinado auxílio estava abrangido pelo regulamento.
Veja-se que, mesmo que um auxílio de Estado caia na proibição do artigo 107º/1, não se
enquadre no artigo 107º/2 nem goze de proteção de uma isenção categorial, pode ainda
beneficiar de uma isenção individual, isto é, o caso concreto pode ser apreciado e autorizado
pela Comissão ao abrigo das alíneas do artigo 107º/3 TFUE. A Comissão pode então autorizar
auxílios individuais (ad hoc) ou autorizar regimes de auxílio, isto é, esquemas gerais ao abrigo
dos quais, na medida em que se verifiquem todas as condições, poderão ser concedidos auxílios
individuais. Para que a Comissão aplique uma isenção individual terá de ponderar os efeitos
positivos e negativos de uma medida, ao nível dos objetivos prosseguidos e do funcionamento
do mercado interno, e a aplicação do teste da proporcionalidade. Veja-se, portanto, que a
Comissão goza de ampla margem de discricionariedade na aplicação do 107º/3. O TJUE tem
imposto alguns limites, mas fá-lo normalmente por adesão aos critérios previamente
estabelecidos pela própria comissão. Note-se que a dimensão política da autorização de auxílios
de Estado traduz-se ainda, na previsão de um direito de recurso do EM causa para o Conselho
e, este pode, por unanimidade autorizar um auxílio proibido pela Comissão em derrogação do
artigo 107º e 109º TFUE. A Comissão tem vindo a concretizar o seu entendimento sobre as
situações que podem beneficiar destas isenções em documentos de soft-law horizontais ou
setoriais, isto é, aplicáveis a todos ou alguns setores da economia. Cabe ao EM o ónus de
alegação e de prova do preenchimento dos requisitos para beneficiar de uma isenção, não sendo
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a) Auxílios existentes: legais, não tendo de ser notificados, sem prejuízo de deveres de
informação, nomeadamente através da submissão de relatórios anuais sobre os auxílios
existentes.
a. Auxílios preexistentes à adesão de um EM que perduram
b. Auxílios autorizados, por decisão expressa ou tácita da Comissão, ou medidas
individuais adotadas estritamente nos termos de um regime de auxílios
autorizado
c. Medidas que só se tornaram auxílios após a sua execução, devido a uma
evolução das circunstâncias
b) Auxílios novos: não são existentes, incluindo alterações de auxílios existentes.
a. Notificados: foram notificados à Comissão e não foram implementados antes
de uma decisão favorável, sendo-lhes aplicável o processo previsto nos artigos
2º a 11º do Regulamento nº 2015/1589.
b. Não notificados: executados sem notificação ou antes de decisão favorável,
sendo ilegais e nunca produzem efeitos nem podem criar expectativas legitimas
nos seus beneficiários, sendo-lhes aplicável o processo previsto nos artigos 12º
a 16º do Regulamento nº 2015/1589. É muito comum a apresentação de
denúncias à Comissão por terceiros interessados relativas a auxílios de Estado
ilegais sendo este o principal meio para a deteção de auxílios não notificados.
Em ambos os casos, após notificação completa à Comissão esta decidirá: a) que o auxilio é
incompatível com o mercado interno, sendo o EM proibido de conceder o auxilio e obrigado a
recuperar todo o beneficio que foi atribuído, acrescido de juros; ou b) que o auxilio é compatível
com o mercado interno, podendo o auxilio ser atribuído ou, no caso dos não notificados, o
auxilio em si não pode ser recuperado, mas tem de se recuperar do beneficiário os juros relativos
ao período durante o qual beneficiou do auxilio enquanto este ainda era ilegal. Note-se que isto
expressa que o regime dos auxílios de Estado é uma lei especial que derroga as regras gerais do
TFUE sobre o processo de incumprimento.
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frequente a notificação de medida por cautela, ainda que o EM entenda que não constituem
auxílios de Estado.
Controlo Judicial das decisões da Comissão Europeia: estão sujeitas a controlo judicial as
decisões que põem termo a uma análise preliminar, decisões que dão início a uma investigação
formal e decisões sobre a compatibilidade de um auxílio de Estado, que o autorizam, proíbem
ou obrigam à recuperação. Estas decisões são sempre endereçadas aos EM que têm o direito
de recorrer contra atos gerais e abstratos, incluindo documentos e soft-law da Comissão. Os
terceiros interessados também poderão ter o direito de recurso de decisões concretas, na
medida em que se lhes aplica os requisitos gerais do artigo 263º TFUE. Pode haver ainda recursos
por omissão e recursos que invoquem a responsabilidade extracontratual da União por danos
causados por estas decisões. Veja-se que o Tribunal exerce um controlo pleno da qualificação
de uma medida como auxílio de Estado ao abrigo do 107º/1 TFUE e um controlo limitado à
identificação de erros manifestos de apreciação na aplicação dos artigos 107º/2 e 3 TFUE.
Mesmo na identificação de um auxílio é necessário juízos técnicos e económicos complexos, o
que leva o TJUE a permitir uma ampla margem de discricionariedade à Comissão. Portanto, o
domínio dos auxílios de Estado é a área do direito da concorrência em que a Comissão está
sujeita ao menos grau de controlo judicial do exercício dos seus poderes, o que se compreende
face à natureza eminentemente política de muitas das decisões em causa24. Por outro lado, no
direito dos auxílios de Estado existe uma maior relevância e apego judicial ao soft-law da
Comissão, visto que ela se autovincula a uma determinada interpretação e modo de aplicação
do direito dentro da sua margem de discricionariedade. O Tribunal tende a compensar a sua
limitação com a maior exigência na fundamentação das decisões, permitindo-lhe ordenar a
anulação com base em motivos processuais, podendo a decisão voltar a ser adotada sem o vício
processual. Por outro lado, a decisão anulada com base em vícios substantivos não pode voltar
a ser adotada com o mesmo conteúdo, ficando a Comissão obrigada a atuar de modo a cumprir
a legalidade.
Papel dos Tribunais Nacionais: os tribunais nacionais têm um papel importante a desempenhar
na garantia do respeito pelas regras dos auxílios de Estado, podendo para o efeito formular
pedidos de suspensão de decisão ou recuperação de um auxílio de Estado ilegal, pedidos de
indemnização por danos causados por auxílios de Estado ilegais e pedidos de revisão da
legalidade de uma decisão de recuperação de um auxílio ilegal. Como os artigos 107º/1 e 108º/3
TFUE tem efeito direito, os tribunais podem e devem decidir sobre a qualificação de uma
determinada medida como um auxílio de Estado e sobre a eventual violação do dever de
notificação prévia, protegendo os direitos reflexos dos particulares. Contudo, não podem
apreciar a compatibilidade nos termos dos artigos 107º/2 e 3 TFUE, visto que é uma decisão
exclusiva da Comissão. Existem mecanismos de cooperação entre a Comissão e os tribunais
neste tipo de ações, nomeadamente para garantir o respeito pelo primado do direito da União
24 O controlo do tribunal é pleno no exercício dos poderes da Comissão no caso da aplicação dos critérios de
jurisprudência Altmark, visto que nesses casos a Comissão tem de respeitar a margem de discricionariedade dos EM.
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