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Direito da Família

Extinção do vínculo matrimonial

A extinção do vínculo matrimonial pode assumir duas formas: ​retroativa​, que corresponde à
invalidade do casamento; ​não retroativa, que se identifica com a dissolução do casamento e abrange,
nomeadamente, a dissolução por morte e por divórcio.

● Invalidade do casamento

VALORES NEGATIVOS DO CASAMENTO CIVIL


Os valores negativos do casamento civil (celebrado por forma civil ou religiosa) são dois:
inexistência e ​anulabilidade (​ART. 1627º​). A inexistência é qualificada como invalidade pela lei
matrimonial. A nulidade é um desvalor exclusivo do casamento católico.

Inexistência
Causas da insistência do casamento​: são unicamente as que figuram no ​ART. 1628º​.
Regime da inexistência do casamento​: a inexistência do casamento é invocável a todo o
tempo por qualquer pessoa, independentemente de declaração do tribunal (​ART. 1630º/ 2​). A
inexistência exclui a produção de quaisquer efeitos jurídicos do casamento, incluindo os putativos
(​ART. 1630º/ 1​).

Anulabilidade
Causas de anulação do casamento​: tendo em conta o ​ART. 1627º​, não há outras causas de
anulabilidade do casamento além das especificadas na lei. ​ART. 1631º - enuncia três causas de
anulabilidade: ​impedimento dirimente​, ​falta ou vícios da vontade​, ​ausência de testemunhas,
quando a presença das mesmas seja exigida por lei​.
Regime da ação de anulação​: o casamento só pode ser anulado mediante sentença em ação
especialmente intentada para esse fim (​ART. 1632º​). Antes disso, a anulabilidade não é invocável para
nenhum efeito, judicial ou extrajudicial. ​ARTS. 1639º a ​1642º ​- determinam a legitimidade para
intentar a ação de anulação, em função de anulabilidade que é invocada. ​ARTS. 1643º-1646º -
prevêem os prazos da ação de anulação do casamento, também em função da causa de anulabilidade
invocada. ​ART. 1633º/ 1​ - situações em que se considera sanada a anulabilidade do casamento.
Efeitos da anulação​: a anulação implica a cessação dos efeitos do casamento, com carácter
retroativo (​ARTS. 289º/ 1 e ​1688º​); tudo se passa, em princípio, como se o casamento não tivesse sido
celebrado. As disposições testamentárias feitas por um cônjuge em benefício do outro caducam [​ART.
2317º/ d)​].

NULIDADE DO CASAMENTO CATÓLICO


A ​nulidade ​é um desvalor exclusivo do casamento católico, que não pode ser inexistente nem
anulado (​ART. 1625º ​+​ ART. 16º da Concordata entre a República Portuguesa e a Santa Sé​, de 2004).
A declaração de nulidade compete aos ​tribunais eclesiásticos​, que aplicam Direito Canónico.

ART. 16º/ 1 da Concordata + ​ART. 1626º - as decisões eclesiásticas que declarem a nulidade
do casamento ​produzem efeitos civis​, a requerimento de qualquer das partes, após revisão e
confirmação, nos termos do direito português, pelo competente tribunal do Estado português.

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No processo de revisão e confirmação, o tribunal do Estado português verifica se as decisões


de nulidade são autênticas, se dimanam do tribunal competente, se respeitam os princípios do
contraditório e da igualdade e se não colidem, nos resultados, com os princípios da ordem pública
internacional do Estado português (​ART. 16º/ 2 da Concordata​). Após revisão e confirmação das
decisões eclesiásticas, estas são averbadas aos assentos de casamento (​ART. 7º/ 3 C.R.C.​). Os efeitos
da nulidade do casamento católico são idênticos aos da anulação do casamento civil.

CASAMENTO PUTATIVO
O ​casamento putativo ​é o ​casamento anulado ou declarado nulo que produz efeitos,
como se fosse válido, normalmente, até ao trânsito em julgado da sentença de anulação ou até ao
averbamento no registo civil da decisão de nulidade​ - ​ART. 1647º/ 1 e 3​.
O instituto não se aplica a casamentos inexistentes (​ART. 1630º/ 1​).

Requisitos gerais do casamento putativo​:


ART. 1630º/ 1​ e ​ART. 1647º
- existência do casamento
- anulação do casamento civil ou declaração de nulidade do casamento católico
- casamento contraído de boa fé pelo menos por um dos cônjuges

ART. 1648º/ 1 - considera-se de ​boa fé o cônjuge que tiver contraído o casamento na ignorância
desculpável do vício causador da nulidade ou anulabilidade, ou cuja declaração de vontade tenha sido
extorquida por coação física ou moral. A boa fé dos cônjuges presume-se e o seu conhecimento
compete aos tribunais do Estado português, mesmo que se esteja perante casamento católico que foi
declarado nulo (​nº. 2 e 3​).

Regime geral de eficácia putativa​: ​ARTS. 1647º e 1648º​, varia em razão do número de
cônjuges de boa fé, ambos ou um deles.
➔ boa fé de ambos os cônjuges​: o casamento anulado ou declarado nulo, quando
contraído de boa fé por ambos os cônjuges, produz os seus efeitos em relação aos
cônjuges e a terceiros (​ART. 1647º/ 1 e 3​).
➔ boa fé de apenas um dos cônjuges​: se apenas um dos cônjuges tiver contraído o
casamento de boa fé, só ele pode recorrer ao instituto geral do casamento putativo,
havendo, porém, que distinguir a eficácia do casamento que é oponível ao outro
cônjuge daquela que se produz perante terceiros (​ART. 1647º/ 2 e 3​); o cônjuge de
boa fé pode invocar, perante o cônjuge de má fé, todos os efeitos do casamento; o
cônjuge de boa fé não pode invocar, perante terceiros, a subsistência do vínculo de
afinidade ou da doação para casamento feita por terceiro, por se estar perante efeitos
emergentes de relações diretas entre os cônjuges e terceiros.

O segundo casamento celebrado por pessoa que ainda esteja casada é inválido [​ARTS. 1601º/
c) e ​1631º/ a)​]. No entanto, sendo configuráveis situações de bigamia em que, pelo menos, um dos
cônjuges do segundo casamento esteja de boa fé, o instituto do casamento putativo obsta ao carácter
absoluto do princípio da monogamia. Ou seja, ​é possível pensar em situações de eficácia simultânea
de dois ou mais casamentos contraídos pela mesma pessoa​.

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A invalidade do segundo casamento não exclui pretensões patrimoniais do segundo cônjuge


que esteja de boa fé, que, por vezes, concorrem com as pretensões patrimoniais do primeiro cônjuge
do bígamo.

Casos especiais de eficácia putativa​: ​1) presunção de paternidade​: ao abrigo do ​ART. 1827º​,
a anulação ou declaração de nulidade do casamento, ainda que contraído de má fé por ambos os
cônjuges, não exclui a presunção de que o pai é o marido da mãe; não se exige o requisito da boa fé
para a produção do efeito do casamento que consiste na presunção de paternidade; 2) alimentos​:
tendo sido declarado nulo ou anulado o casamento, o ​ART. 2017º determina que o cônjuge de boa fé
conserva o direito de alimentos após o trânsito em julgado da decisão respetiva; ​a eficácia putativa do
casamento ultrapassa a data do trânsito em julgado da sentença de anulação ou do averbamento no
registo civil da decisão de nulidade; ​3) nacionalidade​: ​ART. 3º/ 2 da Lei da Nacionalidade -
estabelece que a declaração de nulidade ou anulação do casamento não prejudica a nacionalidade
adquirida pelo cônjuge que o contraiu de boa fé.

● Dissolução por morte

EFEITOS DA DISSOLUÇÃO POR MORTE


A morte de um dos cônjuges acarreta a cessação da generalidade dos efeitos pessoais e
patrimoniais do casamento (​ART. 1688º​), que opera para o futuro. Deste modo, pode proceder-se à
partilha dos bens do casal.

Efeitos do casamento não afetados pela morte do cônjuge​: apesar da extinção do casamento,
as relações de afinidade que ligam o cônjuge sobrevivo aos parentes do outro subsistem (​ART.
1585º, 2ª parte​). O cônjuge sobrevivo que tiver acrescentado ao seu nome apelidos do outro
conserva-os (​ART. 1677º-A, 1ª parte​), contudo, ​o viúvo pode perder os apelidos do cônjuge
falecido em duas situações: segundas núpcias, se não declarar até à celebração do novo casamento
que pretende conservar tais apelidos (​ART. 1677º-A, 2ª parte​); privação judicial do uso do nome, a
pedido dos descendentes, ascendentes e irmãos do cônjuge falecido ‘’quando aquele uso lese
gravemente os interesses morais’’ da família do defunto.

Atribuição de direitos e prerrogativas ao cônjuge sobrevivo​: com a morte do cônjuge, cabem


ao outro os seguintes direitos e prerrogativas:
- direito de suceder como herdeiro legítimo e legitimário do ​de cuius​, se não estiver
separado de pessoas e bens ​[​ARTS. 2133º/ 1 a) e b)​, ​2133º/ 3 e ​2157º​] ​e não tiver havido
renúncia à condição de herdeiro legitimário ​- ​ART. 1700º/ 1 c)​, ​1700º/ 3​.
- direito de suceder somente como herdeiro legítimo, se tiver ocorrido a referida renúncia,
implica direitos semelhantes aos que cabem ao companheiro sobrevivo sobre a casa de
morada de família e o recheio desta​ (​ART. 1707º-A/ 3​).
- direito a ser alimentado pelos rendimentos dos bens deixados pelo falecido, que é
conhecido como apanágio do cônjuge sobrevivo ​(​ART. 2018º​).
- direito à transmissão por morte da posição de arrendatário habitacional que pertencia
ao ​de cuius,​ se, no momento da morte, o cônjuge sobrevivo residia no locado,
independentemente de estar ou não separado de pessoas e bens ou de facto ​[​ART. 1106º/
1 a)​].

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- a atribuição preferencial, na partilha, do direito de habitação da casa de morada de


família e do direito de uso do respetivo recheio ​(​ART. 2103º-A e 2103º-C​).
- direito à indemnização por danos não patrimoniais sofridos com a morte da vítima, se
não estiver separado de pessoas e bens ​(A
​ RT. 496º/ 2​).
- a legitimidade para requerer providências preventivas ou atenuantes da ofensa à
memória do cônjuge falecido ​(​ARTS. 71º/ 2, 73º, 75º/ 2, 76º/ 2 e​ ​ 79º/ 1​).
- exercício exclusivo das responsabilidades parentais sobre os filhos menores do casal
(​ART. 1904º/ 1​).
- eventual exercício das responsabilidades parentais sobre os filhos menores do cônjuge
falecido​ (​ART. 1904º/ 2​).

● Divórcio
O ​divórcio é uma ​causa da dissolução do casamento decretada pelo tribunal ou pelo
conservador do registo civil, a requerimento de um ou dos dois cônjuges​.

MODALIDADES
ART. 1773º/ 1
1. Divórcio por mútuo consentimento​: é requerido na conservatória do registo civil
por ambos os cônjuges, de comum acordo, ou no tribunal se os cônjuges não
acompanharem o requerimento de divórcio com todos os acordos que são exigidos
nos termos do ​ART. 1775º/ 1 (​ART. 1773º/ 2​). Pode ser: por mútuo consentimento
quanto à dissolução do casamento e ​quanto a matérias complementares​; e ​litigioso
quanto a matérias complementares​.

O regime do ​divórcio litigioso em sentido amplo (que abarca o divórcio sem mútuo
consentimento quanto à dissolução ou/ e quanto a matérias complementares) pode ter por base o
princípio da culpa - modelo francês - ou o princípio da rutura - modelo alemão.
Inspirando-se no ​princípio da culpa​, a lei faz depender a obtenção de divórcio litigioso por
parte de um cônjuge de uma ​violação culposa dos deveres conjugais pelo outro ou/ e sujeita o cônjuge
a quem é imputável o fim da vida em comum a consequências patrimoniais negativas no campo da
dissolução do casamento​.
Inspirando-se no ​princípio da rutura​, o legislador regula, em regra, os pressupostos e os
efeitos do divórcio sem o consentimento de um dos cônjuges, abstraindo da questão da
responsabilidade na rutura.

2. Divórcio sem consentimento de um dos cônjuges​: é requerido no tribunal por um


dos cônjuges contra o outro, com fundamento em determinada causa (​ART. 1773º/ 3​),
correspondendo a um divórcio litigioso em sentido restrito. Se houver acordo dos
cônjuges, o divórcio sem consentimento dos cônjuges pode ser convertido em
divórcio por mútuo consentimento (​ART. 1774º/ 2​).

3. Divórcio judicial​: se for decretado pelo tribunal. O ​divórcio litigioso em sentido


amplo​ é necessariamente judicial: só pode ser requerido no e decretado pelo tribunal.

4. Divórcio administrativo​: se for decretado pela conservatória do registo civil. O


divórcio por mútuo consentimento é tendencialmente administrativo. Se o

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requerimento de divórcio por mútuo consentimento for acompanhado pelos acordos


acessórios exigidos, o divórcio será requerido na conservatória. Contudo, se esses
acordos não foram homologados ou aprovados pela entidade estatal competente, o
processo será remetido ao tribunal, ao qual competirá decretar o divórcio (​ART.
1778º​).

Havendo consenso quanto ao pedido de divórcio, mas divergência relativamente aos assuntos
que deviam ser objeto de acordo entre as partes, o divórcio por mútuo consentimento terá de ser
requerido no tribunal.

Direito de divórcio​: ​ART. 36º/ 2 C.R.P. - é admissível a dissolução por divórcio de qualquer
casamento, seja qual for a modalidade ou a forma do ato. ​O divórcio pode ser requerido por quem
tenha celebrado casamento civil por forma civil, casamento civil religioso ou casamento católico​.

DIVÓRCIO POR MÚTUO CONSENTIMENTO


1. Pressupostos​:
- pressupõe que ​ambos os cônjuges estejam de acordo quanto à dissolução do casamento​ (​ART. 1773º/ 2​).
- o respetivo requerimento pode ser apresentado a todo o tempo, não sendo exigido um período mínimo de
duração do casamento.
2. Processo​:
No início do processo de divórcio, a conservatória do registo civil ou o tribunal devem informar os cônjuges sobre a
existência e os objetivos dos serviços de mediação familiar (​ART. 1774º​).
As regras processuais do divórcio por mútuo consentimento encontram-se nos ​ART.S 1775º a 1778º-A​; ​ARTS. 271º-274º do
C.R.C.​.
O processo de divórcio por mútuo consentimento varia consoante corra na conservatória do registo civil ou no
tribunal​.

❏ o divórcio por mútuo consentimento pode ser instaurado na ​conservatória do registo civil​, mediante
requerimento assinado pelos cônjuges ou seus procuradores, acompanhado pelos documentos enumerados no
ART. 1775º/ 1​.

Recebido o requerimento, o conservador informa os cônjuges da existência dos serviços de mediação familiar.
Mantendo os cônjuges o propósito de se divorciarem, o conservador convoca os cônjuges para uma conferência, em que
verifica o preenchimento dos pressupostos legais e aprecia os acordos que foram apresentados pelas partes com o
requerimento de divórcio (​ART. 1777º/ 1, 1ª parte​).
- se os acordos apresentados acautelarem suficientemente os interesses de ambos os cônjuges e dos filhos, o
conservador homologa os acordos e decreta o divórcio; no caso contrário, o conservador convida os cônjuges a alterar
os acordos.
- se forem efetuadas as modificações necessárias para salvaguardar o interesse de ambos os cônjuges, o conservador
homologa os acordos e decreta o divórcio, procedendo-se ao correspondente registo.
- não sendo efetuadas tais modificações, a homologação é recusada e o processo de divórcio é integralmente remetido
para o tribunal.

Se for apresentado pelos cônjuges acordo sobre o exercício das responsabilidades parentais, a tramitação do processo de
divórcio por mútuo consentimento na conservatória será distinta (​ART. 1776º-A​).
O processo é enviado ao Ministério Público para que se pronuncie sobre o acordo - no prazo de 30 dias - antes da conferência
de divórcio.
Se o Ministério Público considerar que o acordo acautela devidamente os interesses dos menores ou se o acordo tiver sido
alterado pelos cônjuges nos termos indicados pelo Ministério Público, será marcada a conferência.

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O conservador não pode recusar a homologação do acordo. Com o divórcio, é homologado o acordo.

❏ o divórcio por mútuo consentimento é requerido no ​tribunal​, se os cônjuges não o acompanharem de algum
dos acordo previstos no ​ART. 1775º/1​; nesta hipótese, a tramitação é regulada pelo​ ART. 1778º-A​.

Recebido o requerimento, os cônjuges são informados da existência dos serviços de mediação familiar.
Em seguida, o juiz aprecia os acordos que os cônjuges tiverem apresentado, convidando-os a alterá-los se esses acordos não
acautelarem os interesses de algum deles ou dos filhos.
O juiz deve ainda promover o acordo dos cônjuges quanto a assuntos mencionados no ​ART. 1775º/1​ que dividam as partes.

Depois, o juiz procede à fixação das consequências do divórcio, ponderando a vontade comum dos cônjuges no campo dos
efeitos da dissolução do casamento.
Com vista à apreciação dos acordos apresentados e da fixação das consequência do divórcio sobre as quais não haja consenso
entre as partes, o juiz pode determinar a prática de atos e a produção da prova eventualmente necessária.

Por fim, o divórcio é decretado pelo juiz, procedendo-se ao respetivo registo.

➔ O processo de divórcio é remetido para o tribunal nos casos em que as partes insistam em apresentar acordos
que não acautelem devidamente os interesses de ambos os cônjuges e dos filhos menores (​ARTS. 1776º-A e
1778º​).
➔ O divórcio sem consentimento de um dos cônjuges pode ser convertido em divórcio por mútuo consentimento,
que prosseguirá para tribunal ​(​ART. 1779º​).

DIVÓRCIO SEM CONSENTIMENTO DE UM DOS CÔNJUGES​ (ou divórcio litigioso em sentido restrito)
1. Pressupostos​:
O divórcio sem consentimento de um dos cônjuges implica o preenchimento de uma das situações enumeradas no ​ART.
1781º​: separação de facto por um ano consecutivo - ​a)​; alteração das faculdades mentais do outro cônjuge, quando dure há
mais de um ano e, pela sua gravidade, comprometa a possibilidade de vida em comum - ​b)​; ausência, sem que do ausente haja
notícias, por tempo não inferior a um ano - ​c)​; quaisquer outros factos que, independentemente da culpa dos cônjuges,
mostrem a rutura definitiva do casamento - ​d)​ [cabem as violações graves de deveres conjugais, como violência doméstica].

2. Processo​:
A legitimidade na ação de divórcio é disciplinada pelo ​ART. 1785º​.
- nº1​: o divórcio litigioso pode ser requerido por qualquer dos cônjuges, a não ser que tenha como fundamento a
alteração das faculdades mentais ou a ausência do cônjuge, hipóteses em que a legitimidade assiste apenas ao outro
cônjuge.
- se o cônjuge que pode pedir o divórcio for ​maior acompanhado​, a ação pode ser proposta por ele ou, quando tenha
poderes de representação, pelo seu acompanhante, obtida autorização judicial; quando o acompanhante for o outro
cônjuge, a ação pode ser intentada, em nome do ofendido, por qualquer parente deste na linha reta ou até ao terceiro
grau da linha colateral ou pelo Ministério Público (​nº2​).
- se uma ou ambas partes falecerem na pendência da causa, a ação pode ser continuada pelos herdeiros do autor ou
contra os herdeiros do réu, mas exclusivamente para efeitos patrimoniais (​nº3​), entre os quais se destaca a exclusão da
sucessão legal.

Tramitação do processo​: o divórcio litigioso, ou sem consentimento do outro cônjuge, segue uma forma de processo especial,
submetida ao disposto nos ​ARTS. 931º​ e ​932º do CPC​.
Ao receber o requerimento do divórcio, o tribunal informa o cônjuge que pretende a dissolução do casamento sobre a
existência e os objetivos dos serviços de mediação familiar - ​ART. 1774º​.
No processo de divórcio, há uma tentativa de conciliação dos cônjuges (​ART. 1779º/ 1​ +​ 931º/ 1 CPC​).
- se a tentativa de conciliação não resultar, o juiz tentará obter o acordo dos cônjuges para o divórcio por mútuo
consentimento (​ART. 1779º/2​ + ​931º/ 2 CPC​).
- na falta de acordo para o divórcio por mútuo consentimento, o juiz procurará obter o acordo dos cônjuges quando aos
alimentos, quanto à regulação do exercício das responsabilidades parentais e quanto à utilização da casa de morada de

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família (​ART. 931º/ 2 CPC​).


Em qualquer altura do processo, ​é admissível a conversão do divórcio litigioso em divórcio por mútuo consentimento (​ART.
1779º/ 2​ + ​931º/ 3 CPC​).

3. Apreciação do sistema português de causas de divórcio sem consentimento de um dos cônjuges​:


- modelo de divórcio-sanção​: o divórcio pressupõe um ​ato ilícito e culposo de um cônjuge e pretende ser uma
sanção para esse ato; por conseguinte, só pode ser requerido pelo cônjuge inocente.
- modelo de divórcio constatação da rutura do casamento ​(ou de divórcio-falência): a concessão do
divórcio exige um ​estado de vida conjugal intolerável e pretende pôr fim a essa situação; qualquer um dos
cônjuges pode requerer o divórcio, independentemente do seu maior ou menor contributo para o estado de
crise matrimonial.
- modelo de divórcio-remédio​: o divórcio pressupõe um ​estado de vida conjugal intolerável​, mas essa situação
é causada, com ou sem culpa, por um dos cônjuges, e o divórcio visa permitir ao outro cônjuge que se liberte
do casamento; o divórcio só pode ser requerido pelo cônjuge afetado pela crise matrimonial que não
provocou.

O sistema português atual de divórcio litigioso constitui um sistema misto, que ​combina os modelos de divórcio-constatação
da rutura e de divórcio-remédio​ (​ART. 1785º/ 1​).

EFEITOS DO DIVÓRCIO
➢ Princípio da equiparação do divórcio à dissolução por morte​: ​ART. 1788º - consagra o
princípio de que o divórcio tem juridicamente os mesmos efeitos da dissolução por morte. Por
conseguinte, o divórcio determina a cessação da generalidade dos efeitos pessoais e
patrimoniais do casamento (​ART. 1688º​), que opera para o futuro. ​O divórcio permite a
partilha dos bens do casal​.
➢ Oponibilidade dos efeitos do divórcio​: os ​efeitos predominantemente pessoais do divórcio
produzem-se a partir do trânsito em julgado da sentença ou do despacho do conservador que
decretar o divórcio (​ARTS. 1789º/ 1, 1ª parte​; ​1776º/ 3​). A cessação dos ​efeitos
predominantemente patrimoniais do casamento entre partes produz-se, por retroação, à
data da apresentação do requerimento do divórcio (​ART. 1789º/ 1, 2ª parte​).
Se a separação de facto entre os cônjuges estiver provada no processo judicial, q​ualquer deles
pode requerer que os efeitos do divórcio - predominantemente patrimoniais ou
predominantemente pessoais - ​produzam efeito, por retroação, à data que a sentença fixará
como sendo a do início da separação​ (​ART. 1789º/ 2​).
Os efeitos patrimoniais do divórcio só podem ser opostos a terceiros a partir da data do
registo do divórcio​ (​ARTS. 1789º/ 3 ​+ ​1776º/ 3​).

Explicitação dos efeitos específicos do divórcio​: há exceções à tendencial equiparação dos efeitos do
divórcio aos da morte.
EXEMPLO: o divórcio produz as seguintes consequências específicas: a afinidade que ligava cada um dos
cônjuges aos parentes do outro cessa (ART. 1585º); o ex-cônjuge não pode conservar os apelidos do outro, salvo
consentimento deste ou autorização do tribunal (ART. 1677º-B); nenhum dos cônjuges pode na partilha -
familiar - receber mais do que receberia se o casamento tivesse sido celebrado segundo o regime da comunhão
de adquiridos (ART. 1790º).

O destino da casa de morada da família​: há que distinguir a situação em que a casa de morada de
família pertence a um dos cônjuges ou a ambos daquela situação em que a casa está arrendada.

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- se os cônjuges vivia em casa pertencente a um deles ou pertencente a ambos, na sequência de


divórcio, ​o direito de nela habitar poderá vir a ser atribuído exclusivamente àquele que não
era proprietário do imóvel ou que era somente um dos contitulares​, através da formação de
uma relação de arrendamento.
- a relação de arrendamento pode ser constituída por acordo ou sentença; as partes podem
acordar que a casa seja arrendada ao cônjuge que não era proprietário ou exclusivo
proprietário.
- o conteúdo do contrato será estipulado pelos cônjuges.

● Outros casos de dissolução do casamento, além da morte e do divórcio


a. dissolução do casamento pela celebração de novo casamento, após a declaração de morte
presumida​: a declaração de morte presumida não dissolve o casamento (​ART. 115º​); após a
declaração de morte presumida, o cônjuge do ausente, casado civil ou catolicamente, pode
contrair novo casamento (​ART. 116º/ 1​); o ART. 116º permite a celebração do novo
casamento apenas ao cônjuge do ausente casado civilmente.
- sendo estranha a tese da bigamia legal, porque demasiado adversa aos dados do nosso
sistema, a única explicação plausível é a seguinte: a declaração de morte presumida
torna o casamento do ausente dissolúvel; no momento em que o cônjuge do ausente
contrai novo casamento, dissolve-se o anterior.
- se o ausente regressar, ou houver notícias de que era vivo quando foram celebradas as
novas núpcias, considera-se o primeiro casamento dissolvido por divórcio à data da
declaração de morte presumida (​ART. 116º, 2ª parte​).
- se o ausente não regressar, considera-se o primeiro casamento dissolvido por morte à
data da declaração de morte presumida.
- se se provar que o ausente morreu antes de ser celebrado o segundo casamento, o
primeiro casamento dissolveu-se à data do óbito.
b. a mudança de sexo na constância do matrimónio deixou de ser caso autónomo de
dissolução do casamento​: na versão originária do ​ART. 1628º​, o casamento contraído por
duas pessoas do mesmo sexo era inexistente; mas a lei não previa a inexistência do casamento
contraído por duas pessoas de sexo diferente quando uma delas venha a mudar de sexo, na
sequência de uma operação cirúrgica; a doutrina discutia as consequências de mudança de
sexo sobre o vínculo amtrimonial; assumiu-se a seguinte posição: ​os efeitos de alegada
inexistência superveniente coincidem com os da dissolução do casamento e não com os da
inexistência propriamente dita (​ART. 1630º/ 1​); ​a mudança de sexo constitui uma causa de
dissolução do casamento​; ​para ocorrer a dissolução do casamento por transsexualidade, é
necessário que a mudança de sexo tenha sido reconhedica por sentença judicial​; ​a dissolução
do casamento por transsexualidade produz os seus efeitos a partir da data da mudança de
sexo, fixada na sentença, e não a partir da data do trânsito em julgado da sentença​.
c. e a dispensa do casamento rato e não consumado​: corresponde a uma causa particular de
dissolução do casamento católico (regulada pelos cânones 1142 e 1697 a 1706 do CDC); a
dispensa é concedida a pedido de ambos os cônjuges ou de um só deles, mesmo contra a
vontade do outro; pressupõe um casamento rato não consumado, bem como uma justa causa
para a dissolução; casamento rato é aquele que foi validamente celebrado; ​casamento não
consumado ​é aquele em que não houve cópula entre os cônjuges (a consumação tem, no
casamento católico, um papel que não tem no casamento civil; só depois de consumado é que
o casamento católico é indissolúvel).

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Constituição da união de facto

A ​união de facto ​identifica-se com a ​convivência de duas pessoas em condições análogas


às dos cônjuges ou com uma coabitação, na tripla vertente de comunhão de leito, mesa e
habitação​.
A reconciliação não renova a união de facto, origina uma nova união com os mesmos
membros da anterior.

Se os membros da união deixarem de coabitar, sem que haja da parte de qualquer um deles o
propósito de pôr fim à comunhão de habitação, o prazo suspende-se.
EXEMPLO: forma-se união de facto; um ano depois, por motivos exclusivamente profissionais, um dos
membros tem de passar a residir em localidade distante da residência comum do casal. Aqui, a falta de
coabitação não representa rutura da ligação. Logo que as partes retomem a vida em comum, volta a correr o
prazo que é condição da união de facto protegida; e o ano anterior à situação de afastamento involuntário será
incluído.

ART. 2º LUF - enumera as circunstâncias que obstam à aplicação dos efeitos próprios de uma
união de facto protegida: ​idade inferior a 18 anos à data do reconhecimento da união de facto​;
demência notória​, mesmo com intervalos lúcidos; ​situação de acompanhamento de maior​,s e
assim se estabelecer na sentença que a haja decretado, salvo se posteriores ao início da união;
casamento não dissolvido​, salvo se tiver sido decretada a separação de pessoas e bens; ​parentesco
na linha reta ou no 2º grau da linha colateral ou ​afinidade na linha reta​; ​condenação anterior de
uma das pessoas como autor ou cúmplice por homicídio doloso​, consumado ou tentado, contra o
cônjuge do outro.

Não constitui obstáculo à união de facto protegida a relação anterior de responsabilidades


parentais, aditada ao elenco de impedimentos matrimoniais relativos. Ou seja, beneficia de proteção
jurídica, por exemplo, a união de facto integrada por filho do ex-companheiro do outro membro, ainda
que este tenha exercido responsabilidades parentais sobre o novo companheiro (​ART. 1904º-A​).

- A união de facto de uma pessoa não é referida (na ​LUF, ART. 2º​) ​como impedimento à
relevância de uma união posterior entre essa pessoa e terceiro​.
ART. 8º/ 1 - uma união de facto ​dissolve-se ​com o ​falecimento de um dos companheiros​,
por vontade de um dos seus membros ​ou com o ​casamento de um deles (o casamento
posterior extingue a união de facto).
A hipótese de uma pessoa constituir uma união de facto com alguém e a seguir com outrem
não significa que a iniciativa de formação da segunda união se confunda com uma vontade de
dissolver a primeira. Esta pessoa pode querer ter duas uniões de facto com companheiros
diferentes, que ignoram a situação real.
- Contudo, não é concebível que o legislador tenha abdicado do ​princípio da monogamia
quando estão em causa somente uniões de facto. ​Há dois elementos que revelam a
necessidade de a união de facto ​ser única ​para alcançar relevância​: 1) propósito que o
legislador teve de regular a união de facto tendo em conta a semelhança social da ligação
com a união matrimonial​, que está sujeita ao princípio da monogamia; ​2) uso da expressão
‘’em condições análogas às dos cônjuges’’ - ​ART. 1º/ 2 LUF - para definir união de facto,
expressão que pressupõe uma vivência íntima exclusiva entre duas pessoas.

Ana Maria Varela 9


Direito da Família

Prova dos requisitos​: à pessoa que pretenda beneficiar do regime da união de facto protegida, cabe a
prova de que vive ou viveu em união de facto ​há mais de 2 anos​. A prova faz-se nos termos legais -
ART. 2º-A/ 1 LUF​). Por vezes, é feita mediante ​declaração emitida pela junta de freguesia da
residência do interessado​. As falsas declarações são penalmente puníveis (​ART. 2º-A/ 5​). Porém, o
documento emitido pela junta de freguesia pode ser afastado por qualquer interessado, que demonstre
que o facto não é verdadeiro, porque a união de facto não existiu ou porque não teve lugar durante o
período mencionado na declaração.

● Efeitos da união de facto

Possibilidade de benefício das medidas de proteção da convivência em economia comum​:


ART. 1º/ 3 LEC - dispõe que a coabitação em união de facto não constitui facto impeditivo das
medidas de proteção das pessoas que vivam em economia comum; em paralelo, o ​ART. 3º/ 2 LUF
estabelece que nenhuma das normas constantes do diploma prejudica a aplicação de qualquer outra
disposição legal ou regulamentar tendente à proteção de uniões de facto ou de situações de economia
comum.

Os membros de uniões de facto não protegidas (por exemplo, membros da união de facto
compostas por uma pessoa casada que esteja meramente separada de facto do seu cônjuge) podem
invocar o regime da convivência em economia comum protegida, se estiverem preenchidos os
requisitos desta figura.
Aos membros das próprias uniões de facto protegidas assiste igual faculdade. É certo que o
regime da união de facto protegida é mais favorável do que o da convivência em economia comum,
mas pode haver um interesse atendível na invocação da proteção própria do último instituto.

REPERCUSSÕES DA UNIÃO DE FACTO NO DOMÍNIO DA FILIAÇÃO


DECORRENTE DE ATO SEXUAL E DE PMA​: ​ART. 1871º/ 1 c) ​- institui uma presunção ​iuris
tantum de paternidade do filho concebido na constância da união de facto, relevante no âmbito da
ação de investigação.

As técnicas de PMA podem ser utilizadas em benefício de membros de união de facto


compostas por mulheres ou pessoas de sexo diferente (​ART. 6º/ 1 LPMA​). A filiação da criança
nascida graças à aplicação consentida das técnicas de PMA será fixada relativamente a ambos os
membros do casal.
Constituída a filiação relativamente a ambos os progenitores unidos de facto, as
responsabilidades parentais serão plenamente exercidas pelos dois (​ART. 1911º/ 1​). Em caso de
dissolução da união de facto por morte, ​as responsabilidades parentais incumbirão, em regra, ao
companheiro sobrevivo (​ART. 1911º/ 1 e 1904º​). É possível o exercício conjunto das
responsabilidades parentais pelo único progenitor da criança e pelo seu companheiro (​ART. 1904º-A​).

Em caso de morte ou impedimento do único progenitor da criança, o exercício das


responsabilidades parentais poderá caber ao companheiro, por decisão judicial - ​ARTS. 1903º​ e ​1904º​.

Ana Maria Varela 10


Direito da Família

Havendo dissolução por rutura de união de facto em que vigorasse o exercício conjunto das
responsabilidades parentais (​ART. 1911º/ 2​, ​ART. 1904º-A/ 1​) aplicam-se, no essencial, as regras
sobre responsabilidades parentais no caso de divórcio (​ART. 1911º/ 2​,​ 1905º​, ​1906º​ e ​1904º-A/ 5​).

A regra da subordinação ao regime comum (não matrimonial)​: ​As disposições legais sobre
efeitos do casamento não se aplicam em bloco à união de facto.
À aplicação em bloco opõe-se, por um lado, o direito de celebrar casamento, na vertente
negativa de direito de não casar, e, por outro lado, o princípio de que a um ato com efeitos profundos
numa esfera jurídica deve estar associada uma forma que permite à pessoa interessada refletir sobre a
decisão a tomar.
O carácter informal da constituição da união de facto não é suficiente para desencadear
todas as consequências de um casamento. ​O casamento é celebrado solenemente perante um
funcionário do registo civil ou perante um sacerdote e é precedido por um processo - processo
preliminar de casamento, que se inicia com um documento em que os nubentes declaram pretender
casar.
Não fica, porém, excluída a possibilidade de aplicação analógica à união de facto de ​algumas
normas próprias da união conjugal.

A lei não impõe aos membros da união de facto deveres análogos aos que vinculam
reciprocamente os cônjuges​ (​ART. 1672º​).
- os membros da união de facto estão naturalmente vinculados ao dever geral de respeito, que é
mais intenso sempre que existe uma relação de intimidade, proximidade ou dependência entre
as pessoas.
- contudo, a fidelidade, a coabitação, a cooperação e a assistência são, quando muito, deveres
morais ou éticos dos membros da união de facto.

Nada obsta, porém, a que surja entre membros da união e facto uma obrigação de alimentos,
distinta daquele que cabe no dever de assistência. Poderá haver entre os companheiros uma obrigação
natural de alimentos, subordinada às normas dos ​ARTS. 402º a 404º​; ou até uma obrigação de
alimentos judicialmente exigível, desde que as partes tenham celebrado validamente um negócio
jurídico com esse objetivo (​ART. 2014º/ 1​).

A lei não estabelece, para a união de facto, regras semelhantes às do casamento em


matéria de regimes de bens, administração, disposição e dívidas​, pelo que tais regras não são, em
princípio, aplicáveis à união de facto.
No entanto, é analogicamente aplicável à união de facto o ​ART. 1691º/ 1 b)​, que institui a
comunicabilidade das dívidas contraídas para ocorrer aos encargos normais da vida familiar.

A relevância dos chamados contratos de coabitação​: ​contratos de coabitação ​são


contratos mediante os quais as partes estipulam a relação da união de facto, já constituída ou a
constituir, um regime semelhante ao que vigora para o casamento​.

Ana Maria Varela 11


Direito da Família

- se o contrato tiver por objeto deveres conjugais específicos, como o de fidelidade, ele será
inválido nesta parte (pelos mesmo motivos que levam à recusa da aplicação em bloco dos
efeitos legais do casamento à união de facto).
- mas será possível a constituição negocial de uma obrigação de alimentos, que não se
confunde com a obrigação de fonte legal que se inclui no dever conjugal de assistência (​ART.
2014º/ 1​).
- se o contrato de coabitação tiver por objeto matérias de regimes de bens, administração,
disposição e dívidas, as cláusulas serão válidas em tudo o que se conforme com as regras de
direito comum.
- a ​estipulação de um regime de comunhão de bens levanta dúvidas quanto à sua validade,
dada a excecionalidade da contitularidade de mão comum no nosso ordenamento (​ART.
1404º​).
- as cláusulas de administração e disposição de bens próprios que imponham a necessidade do
consentimento do outro membro da união de facto serão inválidas, por afetarem interesses de
terceiros.
- as cláusulas sobre dívidas serão válidas na medida em que ​ampliem a proteção que assiste aos
credores, e desde que não sejam usurárias para um dos membros da união de facto (​ART.
282º​).
- se o contrato de coabitação tiver por objeto a regulamentação de direitos associados à
cessação da união de facto​, as cláusulas serão válidas se, por exemplo, não contrariarem
medidas legais de proteção da união de facto, com carácter imperativo, não limitarem
significamente a liberdade da rutura e não violarem a proibição de pactos sucessórios.

● Efeitos específicos da união de facto protegida

EFEITOS DE DIREITO NÃO CIVIL DA FAMÍLIA


ART. 3º LUF ​- os membros da união de facto protegida têm direito a: ​proteção da casa de morada
de família ​- ​a)​; ​beneficiar do regime jurídico de férias, faltas, licenças e preferências na
colocação dos trabalhadores da Administração Pública previsto para os cônjuges destes​ -​ b)​; ​…
Todos estes efeitos se inserem no âmbito do Direito não civil. Ou seja, não cabem no Direito
civil da Família.
Em comparação com o casamento, a eficácia civil da união de facto protegida é, aliás, muito
escassa: as manifestações mais significativas de relevância civil da ligação em apreço verificam-se no
momento de cessação e estão associadas à casa de morada de família e aos alimentos.

1. Efeitos no domínio da nacionalidade, da entrada e permanência no território português​:


a ​Lei da Nacionalidade prevê que ​pode adquirir a nacionalidade portuguesa, mediante
declaração, o estramgeiro que viva em união de facto há mais de 3 anos com o nacional
português, após o reconhecimento judicial dessa relação​ (​ART. 3º/ 3​).
2. Adoção​: ​ART. 7º LUF - reconhece Às pessoas que vivam em união de facto protegida o
direito de adoção conjunta​, em condições análogas às previstas no ​ART. 1979º​: mais de 25
anos de idade e duração da ligação superior a 4 anos; ou, se o adotando for o filho do
companheiro, idade mínima de 25 anos, bastando que a união de facto dure há mais de 2 anos.

Ana Maria Varela 12


Direito da Família

Cessação da união de facto

● Causas de cessação da união de facto


ART. 8º/ 1 LUF - ​morte de um dos membros - ​a)​; ​rutura ​- ​b)​; por vontade de um ou de
ambos os companheiros; ​e o ​casamento de um dos unidos de facto - c) - ​com o outro ou com
terceiro​.
Uma quarta causa é a ​reconciliação de um membro da união de facto casado​, separado de
pessoas e bens, ​com o respetivo cônjuge​. A reconciliação põe fim à separação de pessoas e bens,
implicando o restabelecimento da vida em comum entre os contraentes do casamento e de todas as
situações jurídicas conjugais (​ART. 1795º-C/ 1​), o que é incompatível com a subsistência da união de
facto protegida (​ART. 2º/ c) LUF​).

➔ a morte, a rutura e o casamento de um unido de facto com o outro são causas de extinção
comuns à união de facto protegida e não protegida.
➔ para a dissolução da união de facto por ​rutura​, basta a ​manifestação da vontade de um dos
seus membros​, sem que se exija intervenção estatal ou especial formalismo; a declaração
judicial a que alude o ​ART. 8º/ 2 LUF não é condição da cessação da união de facto, mas de
efetivação dos direitos que são legalmente conferidos a um companheiro no caso de rutura de
uma união protegida.

Liquidação dos interesses patrimoniais​: a liquidação dos interesses patrimoniais no caso de


rutura é tida como um dos aspetos da maior relevância nas relações dos companheiros entre si.
- para certa doutrina, cessada a união de facto, ‘’cada um dos sujeitos da relação tem direito a
participar na liquidação do património adquirido pelo esforço comum’’, devendo essa
liquidação fazer-se ‘’de acordo com os princípios das sociedades de facto quando os
respetivos pressupostos se verifiquem’’
- na jurisprudência, havendo património adquirido pelo esforço comum, admite-se que a
respetiva liquidação seja feita de harmonia com as regras do instituto do enriquecimento sem
causa ou com os princípios das sociedades de facto

Seja como for, é preciso ter em conta que ​a coabitação cria confusão quanto à titularidade
de bens móveis não sujeitos a registo (o recheio da casa). Não se conseguindo demonstrar a
propriedade exclusiva de um dos membros da união de facto, entende-se (por presunção natural ou
judicial) que esses bens pertencem em ​compropriedade (e em quotas iguais) aos membros, pelo que
qualquer um deles poderá requerer a divisão da coisa comum (​ARTS. 1412º e 1413º​).

● Efeitos específicos da cessação da união de facto

EFEITOS DA CESSAÇÃO POR MORTE


Com a morte de um membro da união de facto, cabem ao outro os seguintes benefícios:
- direito a alimentos e às prestações por morte previstas na LUF
- direitos sobre a casa de morada da família e o respetivo recheio
- direito a uma indemnização por danos não patrimoniais

Ana Maria Varela 13


Direito da Família

1. Direito a alimentos​: o membro sobrevivo da união de facto protegida que careça de


alimentos pode exigir alimentos da herança do companheiro falecido.
Este crédito de alimentos perante a herança extingue-se se não for exercido nos dois anos
subsequentes à data da morte do autor da sucessão (​ART. 2002º/ 2​), ​cessando se o alimentado
contrair casamento​, ​iniciar nova união de facto​, ​‘’ou se tornar indigno do benefício pelo seu
comportamento moral’’​ (​ART. 2019º​).

2. Direito a outras prestações​: ​ART. 3º/ 1 LUF - confere ao membro da união de facto
protegida o direito às seguintes prestações por morte do companheiro: ​pensão de
sobrevivência e subsídio de morte - ​e)​; ​prestações por morte resultante de acidente de
trabalho ou doença profissional ​- ​f)​; ​pensão de preço de sangue e por serviços
excecionais e relevantes prestados ao País​ - ​g)​.

3. Direitos sobre a casa de morada de família pertencente ao companheiro falecido​: em


caso de morte do membro da união de facto proprietário da casa de morada de família, o
membro sobrevivo goza de ​direito real de habitação​, pelo prazo de 5 anos, sobre a casa de
morada de família, e ​direito de preferência na sua venda ‘’durante o tempo em que a habitar
por qualquer título’’ (​ART. 5º/ 1 e 9 LUF​).
Se a união de facto tiver começado há mais de 5 anos antes da morte, o direito de habitação é
conferido por tempo igual ao da duração da união (​ART. 5º/ 2 LUF​).
O direito de habitação não é conferido ao membro sobrevivo se este tiver casa própria na área
do respetivo concelho da casa de morada de família ou nos concelhos limítrofes, se a casa de
morada se situar nas áreas ds concelhos de Lisboa ou Porto (​ART. 5º/ 6 LUF​). O direito
caduca se o interessado não habitar a casa por mais de 1 ano, salvo se a falta de habitação for
devida a força maior (​ART. 5º/ 5 LUF​).

4. Direito do uso do recheio da casa de morada de família pertencente ao companheiro


falecido​: é conferido ao membro sobrevivo da união de facto o direito de uso do recheio da
casa de morada de família pertencente ao falecido, pelo prazo de 5 anos ou por prazo igual ao
da duração da união de facto, se esta tiver durado mais de 5 anos (​ART. 5º/ 1 e 2 LUF​). O
direito do uso ​caduca​, e o respetivo prazo pode ser prorrogado, nos mesmos termos que o
direito de habitação sobre a casa de morada de família (​ART. 5º/ 4 e 5 LUF​). Se os membros
da união de facto fossem comproprietários do recheio da casa de morada de família, o
membro sobrevivo mantém a sua posição de comproprietário, que nunca perdeu.

5. Direito ao arrendamento para habitação da casa antes arrendada ao companheiro


falecido​: ​ART. 1106º/ 1 e 2​. Agora, a lei faz depender a transmissão em benefício de
companheiro ou de convivente em economia comum do preenchimento dos seguintes
requisitos cumulativos no momento da morte do arrendatário: ​duração da relação há mais de 1
ano​ e ​tempo de residência do sobrevivo no locado superior a 1 ano​.

COMPARAÇÃO COM OS EFEITOS CIVIS DA EXTINÇÃO POR MORTE DO


VÍNCULO MATRIMONIAL
O membro sobrevivo da união de facto beneficia de alguns direitos e prerrogativas que são
idênticos ou semelhantes aos que cabem ao viúvo:

Ana Maria Varela 14


Direito da Família

- o ​direito a exigir alimentos da herança do companheiro falecido ​(​ART. 2020º​), que tem
um certo paralelo com o apanágio do cônjuge sobrevivo (​ART. 2018º​).
- o ​direito à transmissão por morte do arrendamento habitacional​.
- os ​direitos de habitação e de preferência na venda da casa de morada de família​, bem
como o ​direito de uso de recheio pertencente ao companheiro falecido ​(​ART. 5º/ 1 e 9
LUF​), que configuram um certo paralelo com as atribuições preferenciais do cônjuge
sobrevivo (​ARTS. 2103º-A a 2103º-C​) e que também são conferidos ao viúvo que na
convenção antenupcial tenha validamente renunciado à condição de herdeiro legitimário do
cônjuge falecido [​ART. 1700º/ 1 c)​ e ​1700º/ 3​].
- o ​direito a indemnização por danos não patrimoniais sofridos com a morte do
companheiro​, que assiste igualmente ao cônjuge do falecido (​ART. 496º​).
- o ​exercício exclusivo das responsabilidades parentais sobre os filhos menores do casal ou
do companheiro falecido ​(A ​ RT. 1904º​ + ​ART. 1911º​).

Apesar de tudo, as consequências da dissolução da união de facto estão muito aquém das que
decorrem da dissolução por morte do vínculo matrimonial:
- havendo casamento, a morte extingue a sujeição a um regime inerente ao ​status ou estado de
casado (​ART. 1688º​); na união de facto, a morte de um dos companheiros não implica a
cessação de um regime similar, até porque o mesmo nem sequer chegou a vigorar.
- o cônjuge sobrevivo tem o direito de suceder como herdeiro legal, salvo separação de pessoas
e bens [​ARTS. 2133º/ 1 a), b) ​+ ​2133º/ 3 + ​2157º​], e sucede como herdeiro legítimo e
legitimário; o companheiro sobrevivo não pode ser herdeiro legal do ​de cuius​, beneficiando
de meros legados legais que têm por objeto a casa de morada de família e o respetivo recheio
(​ART. 5º LUF​).
- ...

EFEITOS DA CESSAÇÃO POR RUTURA OU CASAMENTO DE UM DOS


MEMBROS DA UNIÃO DE FACTO COM TERCEIRO
A morte não é a única causa de extinção da união de facto. A união pode dissolver-se com o
casamento de um dos membros [​ART. 8º/ 1 c) LUF​].
➔ se os companheiros casarem um com o outro, a relação passará a ser regulada pelo Direito
Matrimonial.
➔ a dissolução por rutura terá de ser judicialmente declarada quando se pretendam fazer valer
direitos que dependam daquela e tal declaração judicial deve ser proferida na ação em que os
direitos reclamados são exercidos, ou em ação que siga o regime processual das ações de
estado (​ART. 8º/ 2 e 3 LUF​).
Os efeitos principais que a lei associa à rutura da união de facto referem-se à casa de morada de
família.

Convivência em economia comum

A ​convivência em economia comum ​corresponde a uma ​comunhão de mesa e habitação


entre duas ou mais pessoas​ (​ART. 2º LEC​).

Ana Maria Varela 15


Direito da Família

ART. 2º/ 1 LEC ​- elementos que respeitam somente à convivência em economia comum
protegida (prazo de 2 anos e estabelecimento de uma vivência em comum de entreajuda ou partilha de
recursos).
Contudo, no ART. 3º/ b) LEC​, o legislador admite que haja convivência em economia comum
(que não será protegida) sem ‘’entreajuda ou partilha de recursos.
A doutrina considera que a comunhão de mesa e habitação por período inferior a 2 anos
beneficia do regime consagrado em normas que se refiram à convivência em economia comum, a não
ser que estas exijam uma duração mínima de 2 anos. Em rigor, ​os cônjuges que não estão separados e
os membros da união de facto também vivem em economia comum​.

● Modalidades de convivência em economia comum


1. convivência em economia comum protegida / não protegida
1.1. a convivência em economia comum protegida é aquela que goza das medidas de
proteção previstas na LEC, tendo, para o efeito, de preencher cumulativamente, os
seguintes requisitos: ​duração superior a 2 anos - ​ART. 2º/ 1 LEC​; ​vivência com
entreajuda ou partilha de recursos​; ​existência de pelo menos um membro que seja
maior de idade - ​ART. 2º/ 2 LEC​; ​convivência que não esteja ‘’relacionada com a
prossecução de finalidades transitórias’’ - ​ART. 3º/ c) LEC​; ​integração livre de todos
os membros do grupo​ - ​ART. 3º/ d) LEC​.
2. convivência em economia comum familiar / não familiar
2.1. a convivência em economia comum é familiar conforme os membros do grupo
estejam unidos por laços familiares (parentesco, afinidade).

A LEC não nega proteção à convivência em economia comum não familiar.

● Efeitos específicos da convivência em economia comum protegida

EFEITOS DE DIREITO NÃO CIVIL DA FAMÍLIA


ART. 4º/ 1 LEC - estende à convivência em economia comum protegido os benefícios do
regime não civil do casamento quanto a férias, faltas e licenças e preferência na colocação dos
funcionários da Administração Pública - a)​; a férias, feriados e faltas, por efeito do contrato individual
de trabalho - ​b)​; e ao imposto de rendimento das pessoas singulares - ​c)​.
ART. 4º/ 2 LEC - estabelece que, quando a convivência em economia comum integrar duas
ou mais pessoas, os benefícios previstos nas alíneas ​a) ​e ​b) do número 1 do artigo em causa só podem
ser exercidos, em cada ocorrência, por uma delas.

EFEITOS CIVIS DA CONVIVÊNCIA EM ECONOMIA COMUM PROTEGIDA


Resumem-se, essencialmente, à ​tutela da casa de morada comum​ - ​ART. 4º/ d), e) LEC​.
- em caso de ​morte da pessoa proprietária da casa de morada comum​, as pessoas que com
ela tenham vivido em economia comum têm o ​direito real de habitação​, pelo prazo de 5 anos,
sobre aquela casa, e ​direito de preferência na sua venda também pelo mesmo prazo (​ART. 5º/
1 LEC​).
- mas estes direitos não serão atribuídos quando se verifique uma das situações indicadas no
ART. 5º/ 2 e 3 LEC​: ​sobrevivência ao proprietário de parentes na linha reta ​que com ele

Ana Maria Varela 16


Direito da Família

vivessem há pelo menos 1 ano e pretendam continuar a habitar a casa; ​disposição


testamentária do proprietário em contrário​; e ​sobreviv^ncia de descendentes menores
que, não coabitando com o proprietário, demonstrem ter absoluta carência de casa para
habitação própria.
- no caso de ​morte do membro da convivência em economia comum que era arrendatário
da casa de morada comum​, um dos membros sobrevivos pode beneficiar da transmissão por
morte do arrendamento para habitação - ​ART. 1106º​; a posição de arrendatário transmite-se
para a pessoa que convivesse com o arrendatário em economia comum há mais de um ano e
residisse no locado também há mais de um ano.

COMPARAÇÃO COM OS EFEITOS DA UNIÃO DE FACTO PROTEGIDA


No domínio do Direito da Função Pública, do Direito do Trabalho e do Direito Fiscal, a lei
confere benefícios idênticos à convivência em economia protegida e à união de facto protegida [​ART.
4º/ 1 a), b), c) LEC​ + ​ART. 3º/ 1 b), c), d) LUF​].
No entanto, outros efeitos não civis são ​exclusivos da união de facto [​ART. 3º/ 1 e), f), g)
LUF​]: pensão de sobrevivência e subsídio de morte; prestação por morte resultante de acidente de
trabalho ou doença profissional; pensão de preço de sangue e por serviços excecionais e relevantes
prestados ao País.

Na convivência em economia comum como na união de facto, é assegurada proteção da casa


de morada comum pertencente ou arrendada a um dos membros que tenha falecido (essa proteção é,
porém, ​maior para a união de facto​).

Não há transmissão ​inter vivos,​ nem constituição forçada do arrendamento na hipótese de


cessação da convivência em economia comum, em contraste com o que ocorre se se verificar rutura
da união de facto.

Por fim, os direitos de ​exigir alimentos à herança do falecido e de ​usar o recheio da casa de
morada​, reconhecidos ao companheiro, ​não são atribuídos ao convivente​.

★ NATUREZA JURÍDICA DA UNIÃO DE FACTO E DA CONVIVÊNCIA EM


ECONOMIA COMUM
- União de facto enquanto figura que se aproxima mais da convivência em economia
comum do que da união conjugal​: a afinidade entre a união de facto e a convivência
em economia comum é maior do que aquela que se verifica entre a primeira e a união
conjugal. ​1) tal como a convivência em economia comum, a união de facto
pressupõe ‘’comunhão de mesa e habitação’’​; ​2) tal como na união de facto,
exige-se um prazo de ​dois anos para que a convivência em economia comum
beneficie de medidas de proteção​; ​3) ​alguns efeitos da convivência em economia
comum protegida são idênticos aos da união de facto protegida;

Semelhança social e distância jurídica entre o casamento e a união de facto​: ​é limitada qualquer
aproximação entre o casamento e a união de facto com recurso ao elemento coabitação​. Ao invés
da convivência em economia comum, a união de facto exige comunhão sexual e só é protegida se for

Ana Maria Varela 17


Direito da Família

composta apenas por duas pessoas. Mas ​a coabitação não é objeto de um dever jurídico na união de
facto​.

- União de facto e convivência em economia comum protegidas enquanto relações


parafamiliares​: ​a união de facto e a convivência em economia comum não são
relações jurídicas familiares​. A constituição ou, pelo menos, a extinção de uma
relação jurídica familiar por facto distinto da morte implica um ​ato de uma autoridade
estatal ou de autoridade equivalente​. Atualmente, união de facto e convivência em
economia comum constituem-se e extinguem-se livremente, sem que se imponha uma
intervenção estatal.

A natureza parafamiliar da união de facto e da convivência em economia comum protegidas​: ​são


relações parafamiliares, por preencherem o critério da similitude mínima com as relações
familiares​. Por um lado, traduzem-se ​numa comunhão de vida análoga à de que ​de iure é​ exigida
entre sujeitos das relações familiares (na união de facto, há comunhão de leito, mesa e habitação; na
convivência em economia comum, verifica-se uma comunhão de mesa e habitação entre duas ou mais
pessoas). Por outro lado, a união de facto e a convivência em economia comum protegidas ​têm de
durar há mais de 2 anos​, requisito que introduz o paralelo que é possível com a durabilidade
tendencial das relações jurídicas familiares.

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