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A extinção do vínculo matrimonial pode assumir duas formas: retroativa, que corresponde à
invalidade do casamento; não retroativa, que se identifica com a dissolução do casamento e abrange,
nomeadamente, a dissolução por morte e por divórcio.
● Invalidade do casamento
Inexistência
Causas da insistência do casamento: são unicamente as que figuram no ART. 1628º.
Regime da inexistência do casamento: a inexistência do casamento é invocável a todo o
tempo por qualquer pessoa, independentemente de declaração do tribunal (ART. 1630º/ 2). A
inexistência exclui a produção de quaisquer efeitos jurídicos do casamento, incluindo os putativos
(ART. 1630º/ 1).
Anulabilidade
Causas de anulação do casamento: tendo em conta o ART. 1627º, não há outras causas de
anulabilidade do casamento além das especificadas na lei. ART. 1631º - enuncia três causas de
anulabilidade: impedimento dirimente, falta ou vícios da vontade, ausência de testemunhas,
quando a presença das mesmas seja exigida por lei.
Regime da ação de anulação: o casamento só pode ser anulado mediante sentença em ação
especialmente intentada para esse fim (ART. 1632º). Antes disso, a anulabilidade não é invocável para
nenhum efeito, judicial ou extrajudicial. ARTS. 1639º a 1642º - determinam a legitimidade para
intentar a ação de anulação, em função de anulabilidade que é invocada. ARTS. 1643º-1646º -
prevêem os prazos da ação de anulação do casamento, também em função da causa de anulabilidade
invocada. ART. 1633º/ 1 - situações em que se considera sanada a anulabilidade do casamento.
Efeitos da anulação: a anulação implica a cessação dos efeitos do casamento, com carácter
retroativo (ARTS. 289º/ 1 e 1688º); tudo se passa, em princípio, como se o casamento não tivesse sido
celebrado. As disposições testamentárias feitas por um cônjuge em benefício do outro caducam [ART.
2317º/ d)].
ART. 16º/ 1 da Concordata + ART. 1626º - as decisões eclesiásticas que declarem a nulidade
do casamento produzem efeitos civis, a requerimento de qualquer das partes, após revisão e
confirmação, nos termos do direito português, pelo competente tribunal do Estado português.
CASAMENTO PUTATIVO
O casamento putativo é o casamento anulado ou declarado nulo que produz efeitos,
como se fosse válido, normalmente, até ao trânsito em julgado da sentença de anulação ou até ao
averbamento no registo civil da decisão de nulidade - ART. 1647º/ 1 e 3.
O instituto não se aplica a casamentos inexistentes (ART. 1630º/ 1).
ART. 1648º/ 1 - considera-se de boa fé o cônjuge que tiver contraído o casamento na ignorância
desculpável do vício causador da nulidade ou anulabilidade, ou cuja declaração de vontade tenha sido
extorquida por coação física ou moral. A boa fé dos cônjuges presume-se e o seu conhecimento
compete aos tribunais do Estado português, mesmo que se esteja perante casamento católico que foi
declarado nulo (nº. 2 e 3).
Regime geral de eficácia putativa: ARTS. 1647º e 1648º, varia em razão do número de
cônjuges de boa fé, ambos ou um deles.
➔ boa fé de ambos os cônjuges: o casamento anulado ou declarado nulo, quando
contraído de boa fé por ambos os cônjuges, produz os seus efeitos em relação aos
cônjuges e a terceiros (ART. 1647º/ 1 e 3).
➔ boa fé de apenas um dos cônjuges: se apenas um dos cônjuges tiver contraído o
casamento de boa fé, só ele pode recorrer ao instituto geral do casamento putativo,
havendo, porém, que distinguir a eficácia do casamento que é oponível ao outro
cônjuge daquela que se produz perante terceiros (ART. 1647º/ 2 e 3); o cônjuge de
boa fé pode invocar, perante o cônjuge de má fé, todos os efeitos do casamento; o
cônjuge de boa fé não pode invocar, perante terceiros, a subsistência do vínculo de
afinidade ou da doação para casamento feita por terceiro, por se estar perante efeitos
emergentes de relações diretas entre os cônjuges e terceiros.
O segundo casamento celebrado por pessoa que ainda esteja casada é inválido [ARTS. 1601º/
c) e 1631º/ a)]. No entanto, sendo configuráveis situações de bigamia em que, pelo menos, um dos
cônjuges do segundo casamento esteja de boa fé, o instituto do casamento putativo obsta ao carácter
absoluto do princípio da monogamia. Ou seja, é possível pensar em situações de eficácia simultânea
de dois ou mais casamentos contraídos pela mesma pessoa.
Casos especiais de eficácia putativa: 1) presunção de paternidade: ao abrigo do ART. 1827º,
a anulação ou declaração de nulidade do casamento, ainda que contraído de má fé por ambos os
cônjuges, não exclui a presunção de que o pai é o marido da mãe; não se exige o requisito da boa fé
para a produção do efeito do casamento que consiste na presunção de paternidade; 2) alimentos:
tendo sido declarado nulo ou anulado o casamento, o ART. 2017º determina que o cônjuge de boa fé
conserva o direito de alimentos após o trânsito em julgado da decisão respetiva; a eficácia putativa do
casamento ultrapassa a data do trânsito em julgado da sentença de anulação ou do averbamento no
registo civil da decisão de nulidade; 3) nacionalidade: ART. 3º/ 2 da Lei da Nacionalidade -
estabelece que a declaração de nulidade ou anulação do casamento não prejudica a nacionalidade
adquirida pelo cônjuge que o contraiu de boa fé.
Efeitos do casamento não afetados pela morte do cônjuge: apesar da extinção do casamento,
as relações de afinidade que ligam o cônjuge sobrevivo aos parentes do outro subsistem (ART.
1585º, 2ª parte). O cônjuge sobrevivo que tiver acrescentado ao seu nome apelidos do outro
conserva-os (ART. 1677º-A, 1ª parte), contudo, o viúvo pode perder os apelidos do cônjuge
falecido em duas situações: segundas núpcias, se não declarar até à celebração do novo casamento
que pretende conservar tais apelidos (ART. 1677º-A, 2ª parte); privação judicial do uso do nome, a
pedido dos descendentes, ascendentes e irmãos do cônjuge falecido ‘’quando aquele uso lese
gravemente os interesses morais’’ da família do defunto.
● Divórcio
O divórcio é uma causa da dissolução do casamento decretada pelo tribunal ou pelo
conservador do registo civil, a requerimento de um ou dos dois cônjuges.
MODALIDADES
ART. 1773º/ 1
1. Divórcio por mútuo consentimento: é requerido na conservatória do registo civil
por ambos os cônjuges, de comum acordo, ou no tribunal se os cônjuges não
acompanharem o requerimento de divórcio com todos os acordos que são exigidos
nos termos do ART. 1775º/ 1 (ART. 1773º/ 2). Pode ser: por mútuo consentimento
quanto à dissolução do casamento e quanto a matérias complementares; e litigioso
quanto a matérias complementares.
O regime do divórcio litigioso em sentido amplo (que abarca o divórcio sem mútuo
consentimento quanto à dissolução ou/ e quanto a matérias complementares) pode ter por base o
princípio da culpa - modelo francês - ou o princípio da rutura - modelo alemão.
Inspirando-se no princípio da culpa, a lei faz depender a obtenção de divórcio litigioso por
parte de um cônjuge de uma violação culposa dos deveres conjugais pelo outro ou/ e sujeita o cônjuge
a quem é imputável o fim da vida em comum a consequências patrimoniais negativas no campo da
dissolução do casamento.
Inspirando-se no princípio da rutura, o legislador regula, em regra, os pressupostos e os
efeitos do divórcio sem o consentimento de um dos cônjuges, abstraindo da questão da
responsabilidade na rutura.
Havendo consenso quanto ao pedido de divórcio, mas divergência relativamente aos assuntos
que deviam ser objeto de acordo entre as partes, o divórcio por mútuo consentimento terá de ser
requerido no tribunal.
Direito de divórcio: ART. 36º/ 2 C.R.P. - é admissível a dissolução por divórcio de qualquer
casamento, seja qual for a modalidade ou a forma do ato. O divórcio pode ser requerido por quem
tenha celebrado casamento civil por forma civil, casamento civil religioso ou casamento católico.
❏ o divórcio por mútuo consentimento pode ser instaurado na conservatória do registo civil, mediante
requerimento assinado pelos cônjuges ou seus procuradores, acompanhado pelos documentos enumerados no
ART. 1775º/ 1.
Recebido o requerimento, o conservador informa os cônjuges da existência dos serviços de mediação familiar.
Mantendo os cônjuges o propósito de se divorciarem, o conservador convoca os cônjuges para uma conferência, em que
verifica o preenchimento dos pressupostos legais e aprecia os acordos que foram apresentados pelas partes com o
requerimento de divórcio (ART. 1777º/ 1, 1ª parte).
- se os acordos apresentados acautelarem suficientemente os interesses de ambos os cônjuges e dos filhos, o
conservador homologa os acordos e decreta o divórcio; no caso contrário, o conservador convida os cônjuges a alterar
os acordos.
- se forem efetuadas as modificações necessárias para salvaguardar o interesse de ambos os cônjuges, o conservador
homologa os acordos e decreta o divórcio, procedendo-se ao correspondente registo.
- não sendo efetuadas tais modificações, a homologação é recusada e o processo de divórcio é integralmente remetido
para o tribunal.
Se for apresentado pelos cônjuges acordo sobre o exercício das responsabilidades parentais, a tramitação do processo de
divórcio por mútuo consentimento na conservatória será distinta (ART. 1776º-A).
O processo é enviado ao Ministério Público para que se pronuncie sobre o acordo - no prazo de 30 dias - antes da conferência
de divórcio.
Se o Ministério Público considerar que o acordo acautela devidamente os interesses dos menores ou se o acordo tiver sido
alterado pelos cônjuges nos termos indicados pelo Ministério Público, será marcada a conferência.
O conservador não pode recusar a homologação do acordo. Com o divórcio, é homologado o acordo.
❏ o divórcio por mútuo consentimento é requerido no tribunal, se os cônjuges não o acompanharem de algum
dos acordo previstos no ART. 1775º/1; nesta hipótese, a tramitação é regulada pelo ART. 1778º-A.
Recebido o requerimento, os cônjuges são informados da existência dos serviços de mediação familiar.
Em seguida, o juiz aprecia os acordos que os cônjuges tiverem apresentado, convidando-os a alterá-los se esses acordos não
acautelarem os interesses de algum deles ou dos filhos.
O juiz deve ainda promover o acordo dos cônjuges quanto a assuntos mencionados no ART. 1775º/1 que dividam as partes.
Depois, o juiz procede à fixação das consequências do divórcio, ponderando a vontade comum dos cônjuges no campo dos
efeitos da dissolução do casamento.
Com vista à apreciação dos acordos apresentados e da fixação das consequência do divórcio sobre as quais não haja consenso
entre as partes, o juiz pode determinar a prática de atos e a produção da prova eventualmente necessária.
➔ O processo de divórcio é remetido para o tribunal nos casos em que as partes insistam em apresentar acordos
que não acautelem devidamente os interesses de ambos os cônjuges e dos filhos menores (ARTS. 1776º-A e
1778º).
➔ O divórcio sem consentimento de um dos cônjuges pode ser convertido em divórcio por mútuo consentimento,
que prosseguirá para tribunal (ART. 1779º).
DIVÓRCIO SEM CONSENTIMENTO DE UM DOS CÔNJUGES (ou divórcio litigioso em sentido restrito)
1. Pressupostos:
O divórcio sem consentimento de um dos cônjuges implica o preenchimento de uma das situações enumeradas no ART.
1781º: separação de facto por um ano consecutivo - a); alteração das faculdades mentais do outro cônjuge, quando dure há
mais de um ano e, pela sua gravidade, comprometa a possibilidade de vida em comum - b); ausência, sem que do ausente haja
notícias, por tempo não inferior a um ano - c); quaisquer outros factos que, independentemente da culpa dos cônjuges,
mostrem a rutura definitiva do casamento - d) [cabem as violações graves de deveres conjugais, como violência doméstica].
2. Processo:
A legitimidade na ação de divórcio é disciplinada pelo ART. 1785º.
- nº1: o divórcio litigioso pode ser requerido por qualquer dos cônjuges, a não ser que tenha como fundamento a
alteração das faculdades mentais ou a ausência do cônjuge, hipóteses em que a legitimidade assiste apenas ao outro
cônjuge.
- se o cônjuge que pode pedir o divórcio for maior acompanhado, a ação pode ser proposta por ele ou, quando tenha
poderes de representação, pelo seu acompanhante, obtida autorização judicial; quando o acompanhante for o outro
cônjuge, a ação pode ser intentada, em nome do ofendido, por qualquer parente deste na linha reta ou até ao terceiro
grau da linha colateral ou pelo Ministério Público (nº2).
- se uma ou ambas partes falecerem na pendência da causa, a ação pode ser continuada pelos herdeiros do autor ou
contra os herdeiros do réu, mas exclusivamente para efeitos patrimoniais (nº3), entre os quais se destaca a exclusão da
sucessão legal.
Tramitação do processo: o divórcio litigioso, ou sem consentimento do outro cônjuge, segue uma forma de processo especial,
submetida ao disposto nos ARTS. 931º e 932º do CPC.
Ao receber o requerimento do divórcio, o tribunal informa o cônjuge que pretende a dissolução do casamento sobre a
existência e os objetivos dos serviços de mediação familiar - ART. 1774º.
No processo de divórcio, há uma tentativa de conciliação dos cônjuges (ART. 1779º/ 1 + 931º/ 1 CPC).
- se a tentativa de conciliação não resultar, o juiz tentará obter o acordo dos cônjuges para o divórcio por mútuo
consentimento (ART. 1779º/2 + 931º/ 2 CPC).
- na falta de acordo para o divórcio por mútuo consentimento, o juiz procurará obter o acordo dos cônjuges quando aos
alimentos, quanto à regulação do exercício das responsabilidades parentais e quanto à utilização da casa de morada de
O sistema português atual de divórcio litigioso constitui um sistema misto, que combina os modelos de divórcio-constatação
da rutura e de divórcio-remédio (ART. 1785º/ 1).
EFEITOS DO DIVÓRCIO
➢ Princípio da equiparação do divórcio à dissolução por morte: ART. 1788º - consagra o
princípio de que o divórcio tem juridicamente os mesmos efeitos da dissolução por morte. Por
conseguinte, o divórcio determina a cessação da generalidade dos efeitos pessoais e
patrimoniais do casamento (ART. 1688º), que opera para o futuro. O divórcio permite a
partilha dos bens do casal.
➢ Oponibilidade dos efeitos do divórcio: os efeitos predominantemente pessoais do divórcio
produzem-se a partir do trânsito em julgado da sentença ou do despacho do conservador que
decretar o divórcio (ARTS. 1789º/ 1, 1ª parte; 1776º/ 3). A cessação dos efeitos
predominantemente patrimoniais do casamento entre partes produz-se, por retroação, à
data da apresentação do requerimento do divórcio (ART. 1789º/ 1, 2ª parte).
Se a separação de facto entre os cônjuges estiver provada no processo judicial, qualquer deles
pode requerer que os efeitos do divórcio - predominantemente patrimoniais ou
predominantemente pessoais - produzam efeito, por retroação, à data que a sentença fixará
como sendo a do início da separação (ART. 1789º/ 2).
Os efeitos patrimoniais do divórcio só podem ser opostos a terceiros a partir da data do
registo do divórcio (ARTS. 1789º/ 3 + 1776º/ 3).
Explicitação dos efeitos específicos do divórcio: há exceções à tendencial equiparação dos efeitos do
divórcio aos da morte.
EXEMPLO: o divórcio produz as seguintes consequências específicas: a afinidade que ligava cada um dos
cônjuges aos parentes do outro cessa (ART. 1585º); o ex-cônjuge não pode conservar os apelidos do outro, salvo
consentimento deste ou autorização do tribunal (ART. 1677º-B); nenhum dos cônjuges pode na partilha -
familiar - receber mais do que receberia se o casamento tivesse sido celebrado segundo o regime da comunhão
de adquiridos (ART. 1790º).
O destino da casa de morada da família: há que distinguir a situação em que a casa de morada de
família pertence a um dos cônjuges ou a ambos daquela situação em que a casa está arrendada.
Se os membros da união deixarem de coabitar, sem que haja da parte de qualquer um deles o
propósito de pôr fim à comunhão de habitação, o prazo suspende-se.
EXEMPLO: forma-se união de facto; um ano depois, por motivos exclusivamente profissionais, um dos
membros tem de passar a residir em localidade distante da residência comum do casal. Aqui, a falta de
coabitação não representa rutura da ligação. Logo que as partes retomem a vida em comum, volta a correr o
prazo que é condição da união de facto protegida; e o ano anterior à situação de afastamento involuntário será
incluído.
ART. 2º LUF - enumera as circunstâncias que obstam à aplicação dos efeitos próprios de uma
união de facto protegida: idade inferior a 18 anos à data do reconhecimento da união de facto;
demência notória, mesmo com intervalos lúcidos; situação de acompanhamento de maior,s e
assim se estabelecer na sentença que a haja decretado, salvo se posteriores ao início da união;
casamento não dissolvido, salvo se tiver sido decretada a separação de pessoas e bens; parentesco
na linha reta ou no 2º grau da linha colateral ou afinidade na linha reta; condenação anterior de
uma das pessoas como autor ou cúmplice por homicídio doloso, consumado ou tentado, contra o
cônjuge do outro.
- A união de facto de uma pessoa não é referida (na LUF, ART. 2º) como impedimento à
relevância de uma união posterior entre essa pessoa e terceiro.
ART. 8º/ 1 - uma união de facto dissolve-se com o falecimento de um dos companheiros,
por vontade de um dos seus membros ou com o casamento de um deles (o casamento
posterior extingue a união de facto).
A hipótese de uma pessoa constituir uma união de facto com alguém e a seguir com outrem
não significa que a iniciativa de formação da segunda união se confunda com uma vontade de
dissolver a primeira. Esta pessoa pode querer ter duas uniões de facto com companheiros
diferentes, que ignoram a situação real.
- Contudo, não é concebível que o legislador tenha abdicado do princípio da monogamia
quando estão em causa somente uniões de facto. Há dois elementos que revelam a
necessidade de a união de facto ser única para alcançar relevância: 1) propósito que o
legislador teve de regular a união de facto tendo em conta a semelhança social da ligação
com a união matrimonial, que está sujeita ao princípio da monogamia; 2) uso da expressão
‘’em condições análogas às dos cônjuges’’ - ART. 1º/ 2 LUF - para definir união de facto,
expressão que pressupõe uma vivência íntima exclusiva entre duas pessoas.
Prova dos requisitos: à pessoa que pretenda beneficiar do regime da união de facto protegida, cabe a
prova de que vive ou viveu em união de facto há mais de 2 anos. A prova faz-se nos termos legais -
ART. 2º-A/ 1 LUF). Por vezes, é feita mediante declaração emitida pela junta de freguesia da
residência do interessado. As falsas declarações são penalmente puníveis (ART. 2º-A/ 5). Porém, o
documento emitido pela junta de freguesia pode ser afastado por qualquer interessado, que demonstre
que o facto não é verdadeiro, porque a união de facto não existiu ou porque não teve lugar durante o
período mencionado na declaração.
Os membros de uniões de facto não protegidas (por exemplo, membros da união de facto
compostas por uma pessoa casada que esteja meramente separada de facto do seu cônjuge) podem
invocar o regime da convivência em economia comum protegida, se estiverem preenchidos os
requisitos desta figura.
Aos membros das próprias uniões de facto protegidas assiste igual faculdade. É certo que o
regime da união de facto protegida é mais favorável do que o da convivência em economia comum,
mas pode haver um interesse atendível na invocação da proteção própria do último instituto.
Havendo dissolução por rutura de união de facto em que vigorasse o exercício conjunto das
responsabilidades parentais (ART. 1911º/ 2, ART. 1904º-A/ 1) aplicam-se, no essencial, as regras
sobre responsabilidades parentais no caso de divórcio (ART. 1911º/ 2, 1905º, 1906º e 1904º-A/ 5).
A regra da subordinação ao regime comum (não matrimonial): As disposições legais sobre
efeitos do casamento não se aplicam em bloco à união de facto.
À aplicação em bloco opõe-se, por um lado, o direito de celebrar casamento, na vertente
negativa de direito de não casar, e, por outro lado, o princípio de que a um ato com efeitos profundos
numa esfera jurídica deve estar associada uma forma que permite à pessoa interessada refletir sobre a
decisão a tomar.
O carácter informal da constituição da união de facto não é suficiente para desencadear
todas as consequências de um casamento. O casamento é celebrado solenemente perante um
funcionário do registo civil ou perante um sacerdote e é precedido por um processo - processo
preliminar de casamento, que se inicia com um documento em que os nubentes declaram pretender
casar.
Não fica, porém, excluída a possibilidade de aplicação analógica à união de facto de algumas
normas próprias da união conjugal.
A lei não impõe aos membros da união de facto deveres análogos aos que vinculam
reciprocamente os cônjuges (ART. 1672º).
- os membros da união de facto estão naturalmente vinculados ao dever geral de respeito, que é
mais intenso sempre que existe uma relação de intimidade, proximidade ou dependência entre
as pessoas.
- contudo, a fidelidade, a coabitação, a cooperação e a assistência são, quando muito, deveres
morais ou éticos dos membros da união de facto.
Nada obsta, porém, a que surja entre membros da união e facto uma obrigação de alimentos,
distinta daquele que cabe no dever de assistência. Poderá haver entre os companheiros uma obrigação
natural de alimentos, subordinada às normas dos ARTS. 402º a 404º; ou até uma obrigação de
alimentos judicialmente exigível, desde que as partes tenham celebrado validamente um negócio
jurídico com esse objetivo (ART. 2014º/ 1).
- se o contrato tiver por objeto deveres conjugais específicos, como o de fidelidade, ele será
inválido nesta parte (pelos mesmo motivos que levam à recusa da aplicação em bloco dos
efeitos legais do casamento à união de facto).
- mas será possível a constituição negocial de uma obrigação de alimentos, que não se
confunde com a obrigação de fonte legal que se inclui no dever conjugal de assistência (ART.
2014º/ 1).
- se o contrato de coabitação tiver por objeto matérias de regimes de bens, administração,
disposição e dívidas, as cláusulas serão válidas em tudo o que se conforme com as regras de
direito comum.
- a estipulação de um regime de comunhão de bens levanta dúvidas quanto à sua validade,
dada a excecionalidade da contitularidade de mão comum no nosso ordenamento (ART.
1404º).
- as cláusulas de administração e disposição de bens próprios que imponham a necessidade do
consentimento do outro membro da união de facto serão inválidas, por afetarem interesses de
terceiros.
- as cláusulas sobre dívidas serão válidas na medida em que ampliem a proteção que assiste aos
credores, e desde que não sejam usurárias para um dos membros da união de facto (ART.
282º).
- se o contrato de coabitação tiver por objeto a regulamentação de direitos associados à
cessação da união de facto, as cláusulas serão válidas se, por exemplo, não contrariarem
medidas legais de proteção da união de facto, com carácter imperativo, não limitarem
significamente a liberdade da rutura e não violarem a proibição de pactos sucessórios.
➔ a morte, a rutura e o casamento de um unido de facto com o outro são causas de extinção
comuns à união de facto protegida e não protegida.
➔ para a dissolução da união de facto por rutura, basta a manifestação da vontade de um dos
seus membros, sem que se exija intervenção estatal ou especial formalismo; a declaração
judicial a que alude o ART. 8º/ 2 LUF não é condição da cessação da união de facto, mas de
efetivação dos direitos que são legalmente conferidos a um companheiro no caso de rutura de
uma união protegida.
Seja como for, é preciso ter em conta que a coabitação cria confusão quanto à titularidade
de bens móveis não sujeitos a registo (o recheio da casa). Não se conseguindo demonstrar a
propriedade exclusiva de um dos membros da união de facto, entende-se (por presunção natural ou
judicial) que esses bens pertencem em compropriedade (e em quotas iguais) aos membros, pelo que
qualquer um deles poderá requerer a divisão da coisa comum (ARTS. 1412º e 1413º).
2. Direito a outras prestações: ART. 3º/ 1 LUF - confere ao membro da união de facto
protegida o direito às seguintes prestações por morte do companheiro: pensão de
sobrevivência e subsídio de morte - e); prestações por morte resultante de acidente de
trabalho ou doença profissional - f); pensão de preço de sangue e por serviços
excecionais e relevantes prestados ao País - g).
- o direito a exigir alimentos da herança do companheiro falecido (ART. 2020º), que tem
um certo paralelo com o apanágio do cônjuge sobrevivo (ART. 2018º).
- o direito à transmissão por morte do arrendamento habitacional.
- os direitos de habitação e de preferência na venda da casa de morada de família, bem
como o direito de uso de recheio pertencente ao companheiro falecido (ART. 5º/ 1 e 9
LUF), que configuram um certo paralelo com as atribuições preferenciais do cônjuge
sobrevivo (ARTS. 2103º-A a 2103º-C) e que também são conferidos ao viúvo que na
convenção antenupcial tenha validamente renunciado à condição de herdeiro legitimário do
cônjuge falecido [ART. 1700º/ 1 c) e 1700º/ 3].
- o direito a indemnização por danos não patrimoniais sofridos com a morte do
companheiro, que assiste igualmente ao cônjuge do falecido (ART. 496º).
- o exercício exclusivo das responsabilidades parentais sobre os filhos menores do casal ou
do companheiro falecido (A RT. 1904º + ART. 1911º).
Apesar de tudo, as consequências da dissolução da união de facto estão muito aquém das que
decorrem da dissolução por morte do vínculo matrimonial:
- havendo casamento, a morte extingue a sujeição a um regime inerente ao status ou estado de
casado (ART. 1688º); na união de facto, a morte de um dos companheiros não implica a
cessação de um regime similar, até porque o mesmo nem sequer chegou a vigorar.
- o cônjuge sobrevivo tem o direito de suceder como herdeiro legal, salvo separação de pessoas
e bens [ARTS. 2133º/ 1 a), b) + 2133º/ 3 + 2157º], e sucede como herdeiro legítimo e
legitimário; o companheiro sobrevivo não pode ser herdeiro legal do de cuius, beneficiando
de meros legados legais que têm por objeto a casa de morada de família e o respetivo recheio
(ART. 5º LUF).
- ...
ART. 2º/ 1 LEC - elementos que respeitam somente à convivência em economia comum
protegida (prazo de 2 anos e estabelecimento de uma vivência em comum de entreajuda ou partilha de
recursos).
Contudo, no ART. 3º/ b) LEC, o legislador admite que haja convivência em economia comum
(que não será protegida) sem ‘’entreajuda ou partilha de recursos.
A doutrina considera que a comunhão de mesa e habitação por período inferior a 2 anos
beneficia do regime consagrado em normas que se refiram à convivência em economia comum, a não
ser que estas exijam uma duração mínima de 2 anos. Em rigor, os cônjuges que não estão separados e
os membros da união de facto também vivem em economia comum.
Por fim, os direitos de exigir alimentos à herança do falecido e de usar o recheio da casa de
morada, reconhecidos ao companheiro, não são atribuídos ao convivente.
Semelhança social e distância jurídica entre o casamento e a união de facto: é limitada qualquer
aproximação entre o casamento e a união de facto com recurso ao elemento coabitação. Ao invés
da convivência em economia comum, a união de facto exige comunhão sexual e só é protegida se for
composta apenas por duas pessoas. Mas a coabitação não é objeto de um dever jurídico na união de
facto.