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Sucessão contratual

O artigo 2026º CC prevê o contrato a par do testamento o que levaria a crer que a nossa
lei admite com a mesma amplitude o testamento e o contrato sucessório.
No entanto, não é assim, como iremos ver.
Desde logo o artigo 2028º vêm-nos dizer, no seu nº 2, que “os contratos sucessórios
apenas são admitidos nos casos previstos na lei sendo nulos todos os demais”(Faz depois
uma ressalva dizendo que não é prejudicado o disposto no nº 2 do artigo 946º que
analisaremos infra).
Ora, a nossa lei apenas admite contratos sucessórios quando inseridos em convenções
antenupciais, mais precisamente nos artigos 1700.º e ss..
Os contratos sucessórios que, estruturalmente têm a natureza de doações por morte, são
em regra nulos. Mas o artigo 946º, n.º 2, vem permitir que uma doação nula se possa
converter em testamento se tiverem sido observadas as formalidades dos testamentos:
verifica-se assim uma conversão legal.
Ou seja, uma doação por morte que não seja feita numa convenção antenupcial, mas que
seja feita por escritura pública, converte-se num negócio testamentário; ou seja, passa a
valer como testamento.
A principal diferença é esta: enquanto a doação não pode ser revogada unilateralmente, o
testamento já poderá ser livremente revogado.
É evidente que quando se referem aqui as formalidades do testamento, não são
formalidades especiais para o testamento, mas entende a doutrina que basta que tenha
sido observado a forma de escritura pública para poder operar esta conversão.
Passando agora ao artigo 2028º, verifica-se que o mesmo prevê três tipos de pactos
sucessórios:
a) Pactos renunciativos, “quando alguém renúncia à sucessão de pessoa viva”;
b) Pactos designativos, quando alguém “dispõe da sua própria sucessão”;
c) Pactos dispositivos, quando alguém dispõe da “sucessão de terceiro ainda não
aberta”.
Embora teoricamente se possam configurar estes três tipos de pactos sucessórios, o que
se vai verificar é que sendo tais pactos apenas admitidos nos casos previstos na lei, e
apenas estando previstos pactos designativos inseridos em convenção antenupcial,

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chegamos à conclusão de que só os pactos sucessórios designativos e, mais recentemente,
os renunciativos, são admitidos pela lei.
Não se admitem pactos sucessórios dispositivos que são aqueles através dos quais alguém
dispõe da sua parte na sucessão de alguém que ainda não morreu. Neste caso, a pessoa
conta sobreviver a alguém, herdar dessa pessoa e portanto dispõe já da parte que há-de
vir a herdar dessa pessoa. Ora a nossa lei não admite esta situação.

Pactos sucessórios designativos


Existe uma aparente contradição entre o artigo 1699.º que começa por dizer que não pode
ser objecto de convenção a “regulamentação da sucessão hereditária dos cônjuges ou de
terceiros...” e os artigos seguintes.
Com efeito, o artigo 1699º começa por pôr como restrição, ao objecto da convenção
antenupcial, a regulamentação da sucessão hereditária, mas logo a seguir o artigo 1700.º
vem permitir que, na convenção antenupcial, se insiram pactos sucessórios em que podem
ser contemplados os esposados ou mesmo terceiros.
Quer isto dizer que o pacto sucessório vai assumir a forma de uma doação por morte em
que é instituído um herdeiro ou nomeado um legatário, com a particularidade de o
herdeiro/legatário aceitar essa designação.
E é, precisamente, isto que distingue uma doação por morte de um testamento.
Na doação por morte, o beneficiário aceita logo, diz que está de acordo com essa
designação e aceita; no testamento, a aceitação só se verificará depois da abertura da
sucessão, ou seja, depois da morte.
Nos artigos 1700º e seguintes prevêem-se três modalidades de pactos sucessórios
designativos:
– Pactos sucessórios entre esposados, em que um dos esposados institui o outro
seu herdeiro ou legatário
– Pactos sucessórios de terceiro a favor de um ou ambos os esposados
– Pactos sucessórios de um ou ambos os esposados a favor de terceiros.
Portanto, pode haver doações entre esposados; pode haver doações de um terceiro feitas
a um ou outros os esposados e pode finalmente haver doações de um ou ambos os
esposados a favor de terceiros.
O que não se admite, obviamente, é que se façam doações de terceiros a terceiros porque
era impossível neste contrato específico (convenção antenupcial) em que uma das partes
tem de ser necessariamente um dos esposados.

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Estas três modalidades de pactos sucessórios vão ter regimes diversos quanto à
possibilidade de revogação.
Doação entre esposados
Assim, se se tratar de uma doação entre esposados (um pacto sucessório entre
esposados) dispõe o nº.1 do artigo 1701º que nunca poderão ser revogados, nem que haja
acordo de ambos os contraentes.
Portanto, as doações feitas por um dos esposados ao outro são irrevogáveis (artigos 1701º,
n.º 1 e artigo 1758º).
Porquê? Se eles estão de mútuo acordo porque não permitir que se faça a revogação? Para
evitar que, pelo ascendente que um dos nubentes pode vir a ter sobre o outro, o doador
fosse levado a revogar o que tinha feito antes da celebração do casamento. Portanto, os
pactos entre esposados são absolutamente irrevogáveis.

Doação feita por terceiro a esposado


Se se tratar de uma doação feita por um terceiro a um dos esposados; ou feita por um
esposado a terceiro já se admite a sua revogabilidade desde que haja mútuo acordo. Ou
seja, caímos no regime geral das doações: podem ser revogadas desde que haja mútuo
consentimento por parte dos contraentes.

Doação de esposado a terceiro


Neste caso, há ainda que referir a possibilidade prevista no n.º 2 do artigo 1705.º de o
pacto poder ser livremente revogável se na altura em que foi celebrado tiver sido
estipulada essa possibilidade.
Portanto, admite-se que se convencione na própria doação que esta pode ser livremente
revogada. Portanto, nesse caso em rigor o valor desse pacto sucessório equivale a um
testamento porque pode ser livremente revogado e portanto pode-se afastar aquele
sucessível livremente.
Quanto à possibilidade de revogação concluímos que:
– Há pactos sucessórios pura e simplesmente irrevogáveis;
– Outros podem ser revogados por mútuo consentimento;
– Finalmente, há outros que podem ser livremente revogáveis se tal tiver sido
expressamente convencionado.

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Pactos sucessórios que instituem herdeiros e que nomeiam legatários

O regime previsto para os pactos sucessórios designativos difere consoante se trate da


instituição de herdeiros ou da nomeação de legatários.
Isto quer dizer que, através de uma doação por morte, se pode deixar uma parte da herança
(1/3 da herança) e aí estaremos perante a instituição de um herdeiro; mas também podem
ser deixados bens determinados (o doador pode deixar a sua casa de férias; o seu
automóvel; a sua biblioteca) e ai já estaremos perante a nomeação de legatários.
Aquilo que distingue o herdeiro do legatário é precisamente o modo como lhe são
atribuídos os bens: no caso do herdeiro são atribuídos bens indeterminados, ou seja, uma
quota, uma parte, uma percentagem da herança portanto, não se sabe à partida quais os
bens que vai receber, enquanto o legatário sabe que vai receber aquele ou aqueles bens
determinados ou determináveis.
Através de um pacto sucessório podem instituir-se herdeiros ou nomear-se legatários. E
vai haver diferenças de regime consoante se tenha instituído um herdeiro ou nomeado um
legatário.
Posição do legatário contratual
Se tiver sido nomeado um legatário, se se tiver deixado um bem determinado, o regime
geral é que só pode ser revogada a doação por mútuo consentimento.
Exemplo: Vamos supor que se trata de uma doação feita por um dos esposados a um
terceiro. Neste caso, por mútuo consentimento, essa doação pode ser revogada. Não se
permite, obviamente, é que haja uma revogação unilateral, e por isso não se permite
também que tendo sido feita esta doação o doador aliene o objecto da doação, porque se
assim acontecesse estava de facto, de alguma maneira, a revogar o acto praticado.
Vamos então supor que foi deixado por um dos esposados a um terceiro a casa de férias.
O doador não pode revogar unilateralmente e por isso também não pode alienar o bem: é
o regime previsto no nº1 do artigo 1701º.
No entanto, o nº 2 vem permitir que excepcionalmente e sempre mediante autorização do
donatário, prestada por escrito ou o respetivo suprimento judicial, possa o doador alienar
os bens doados com fundamento em grave necessidade própria ou dos membros da
família a seu cargo.
Portanto, é este o regime do artigo 1701º: se tiver sido deixado um bem determinado e se
houver grave necessidade do doador ou de sua família, admite-se que, mediante prévia
autorização do legatário ou respectivo suprimento judicial, se possa alienar esse bem.

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Nesse caso, se assim vier a acontecer e for alienado o bem que era objecto da doação e
que já estava reservado para o donatário, dispõe o nº 3 que o donatário vai concorrer à
sucessão, não recebendo aquele bem porque esse já foi alienado, mas pelo valor em
dinheiro correspondente ao bem. E nesse caso, tem preferência em relação a todos os
demais legatários, uma vez que estes terão sido nomeados por testamento.
Portanto, uma vez que foi afetada a sua expectativa de receber aquele bem em concreto,
por morte, e isso só se permite se houver grave necessidade do doador ou da sua família,
a sua posição sucessória é substituída, sendo composta em dinheiro a parte
correspondente aquele bem que foi alienado.

Posição do herdeiro contratual


Se for instituído um herdeiro, por exemplo, o esposado deixa 1/3 da sua herança por
morte, rege o artigo 1702º.
Diz esse artigo que, neste caso, se tiver sido deixada uma quota dos bens, o cálculo dessa
quota será feito conferindo-se os bens de que o doador tenha disposto gratuitamente
depois da doação.
Vamos tentar perceber o que é que significa a expressão “... conferindo-se os bens de que
o devedor haja disposto gratuitamente depois da doação”.
Na última aula, quando estivemos a estudar a sucessão legitimária vimos que o artigo
2162º manda somar aos bens deixados por morte - que se chamam Relictum – o valor de
todos os bens que tivessem sido doados em vida pelo autor da sucessão – o que se chama
Donatum- e depois manda abater o passivo.
No caso da sucessão contratual, a regra é semelhante mas apenas se têm em conta os bens
doados depois do pacto sucessório.
Se não houvesse esta regra do artigo 1702º o que é que acontecia?
Se entretanto o doador fizesse uma doação em vida em que deixasse por exemplo 30 mil
euros, na altura em que fossemos ver qual era o património do autor da sucessão, e esse
momento é o da abertura da sucessão, já lá só encontrávamos 60 mil euros. Como tinha
sido deixada uma quota de 1/3, o herdeiro contratual só podia exigir 20 mil €.
Mas se somarmos os 30 000€ da doação ao 60 000€ do Relictum, encontramos 90 000€
pelo que o herdeiro irá receber 30 000€.
O regime previsto no artigo 1702.º, n.º 1 permite assim que o doador possa fazer doações
em vida mas, por outro lado, protege o herdeiro contratual porque este tem a garantia de
que, no momento da morte, se vai ter em conta não só os bens deixados mas também

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todos os bens que tenham sido objecto de liberalidades em vida depois do pacto
sucessório.
Pode, porém, acontecer que o doador tenha disposto em vida que bens que atinjam a quota
a que o herdeiro contratual tinha direito
Vamos supor então que, o autor da sucessão, tendo 90 mil € no momento em que celebra
o pacto sucessório, faz doações no valor de 70 mil € e no momento da abertura da sucessão
o Relictum é de 20 mil.
Neste caso, como temos de fazer a conta com os bens que foram doados, chegamos à
conclusão na mesma que a quota de 1/3 é de 30 mil.
Mas como no património deixado pelo falecido já só existem 20 mil, o que é que vamos
fazer? Vamos, por analogia, aplicar as mesmas regras que estão previstas para a sucessão
legitimária. Ou seja, vamos reduzir por inoficiosidade aquela doação que foi feita
posteriormente ao pacto sucessório e que está a prejudicar o herdeiro contratual.
Portanto, no fundo, este artigo 1702º/1 tem duas funções: por um lado, diz-nos como é
que se deve calcular a quota; mas, depois de calculada a quota, a consequência imediata
é permitir ao donatário utilizar o expediente previsto para o sucessível legitimário e poder
atacar logo de alguma maneira as liberalidades que o prejudiquem uma vez que não era
lícito ao doador prejudicá-lo por atos gratuitos de disposição.
Existe, assim, uma enorme semelhança entre a sucessão legitimária e a sucessão
contratual.
O nº 2 do artigo 1702º também diz respeito à instituição de herdeiro: neste caso, está
prevista a situação de alguém ter deixado por morte toda a sua herança; vamos supor que
é um terceiro que vem deixar a sua herança a um dos esposados; esse terceiro pode
eventualmente não ter herdeiros legitimários e pode querer deixar tudo a um dos
esposados. Neste caso, curiosamente, a lei vem dizer que o doador tem uma quota
disponível.
Ao contrário do que diz para a sucessão legitimária em que o que se estabelece é o
montante da quota indisponível e por inerência fica determinada a quota disponível, no
artigo 1702º/2 estabelece-se uma quota disponível: se o autor da sucessão, doador, tiver
deixado a totalidade da sua herança pode dispor de 1/3 dos seus bens.
É difícil saber como é que se calcula esta parte já que o património pode variar durante o
tempo e portanto isso pode suscitar algumas dificuldades.
No entanto, o n.º 3 desse mesmo artigo vem permitir que o doador abra mão desse direito
que tinha de dispor de uma terça parte, e pode então renunciar a esse direito, ficando

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privado da possibilidade de dispor em vida ou por morte, de todos os seus bens.
Portanto, admite-se que neste caso o doador já não possa deixar bens, em vida ou por
morte, seja a quem for. Mas isto, no fundo, é uma opção do doador; o doador ao fazer isto
entregou todos os seus bens a determinada pessoa.
Assim, como vêem é diferente o estatuto do sucessível contratual que tenha o título de
legatário e daquele que tenha o título de herdeiro.

Disposições testamentárias inseridas em convenção antenupcial


Admite-se também que numa convenção antenupcial se insiram disposições feitas por um
ou ambos os esposados a favor de terceiro, em que o terceiro não chega a aceitar.
Neste caso, dispõe o artigo 1704.º que não há um verdadeiro pacto sucessório mas sim
um negócio testamentário.
A diferença entre uma doação por morte e um negócio testamentário é tão somente esta:
ambos são negócios mortis causa, mas enquanto na doação o donatário tem de participar
no ato, tem que aceitar; na disposição com valor testamentário o beneficiário não chega
sequer a intervir no ato e portanto não há aceitação. Se não há aceitação, não estamos
perante um contrato porque para haver contrato, como sabem, tem de haver duas partes e
tem de haver um acordo de vontades entre essas duas partes.

Relação entre a sucessão contratual e a sucessão legitimária


A sucessão contratual está obviamente subordinada à sucessão legitimária. Ou seja, pode
acontecer que uma pessoa tenha feito doações por morte inseridas num pacto sucessório,
em que deixa por hipótese metade da sua herança e depois, no momento em que essa
pessoa morre, tem herdeiros legitimários, nomeadamente cônjuge e descendentes (sendo
nesse caso a quota indisponível de 2/3).
Nesse caso, é evidente que os herdeiros legitimários não podem ser prejudicados pelos
herdeiros contratuais. Então, estabelece o artigo 1705º/3 que o facto desses pactos
sucessórios serem irrevogáveis não significa que não possam vir a ser reduzidos por
inoficiosidade. Portanto, se se chegar à conclusão que aquilo que foi deixado por morte
através de uma doação era mais do que aquele que o doador podia dispor, porque havia
herdeiros legitimários que tinham direito a sua legitima, nesse caso as próprias doações
por morte vão ser objeto de redução por inoficiosidade.

Posição do sucessível contratual em vida do autor da sucessão

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Tradicionalmente, a doutrina chega à conclusão de que a posição do sucessível contratual
é muito semelhante à do sucessível legitimário. Tal como o sucessível legitimário, o
sucessível contratual já tem uma expectativa em vida do autor da sucessão.
Em nossa opinião, a medida da proteção do sucessível contratual é mesmo superior aquela
que é conferida ao sucessível legitimário, principalmente quando é nomeado legatário.
Como vimos a propósito do regime do artigo 1701º/3, o legatário, ainda em vida, tem o
direito de se opôr a que o doador aliene o objeto do seu legado: o doador não pode alienar
um bem objecto de um legado, sem consentimento do legatário. E se, eventualmente, o
doador, sem ter a necessária autorização do legatário ou sem obter o respetivo suprimento
judicial, alienar o objecto do legado, pode o legatário ainda em vida vir invocar a nulidade
desse acto.
Porquê? Porque diz o artigo 1701º/1 que não pode o doador prejudicar o donatário por
atos gratuitos de disposição. Portanto, se se verificar que há uma alienação gratuita ou
mesmo uma alienação onerosa que corresponda a uma revogação – uma vez que que se
verifica a violação de um preceito legal imperativo, a sanção prevista na lei é a da nulidade
do ato (artigo 294.º do CC).
No caso do sucessível contratual que seja instituído herdeiro, a sua posição é muito
semelhante à do sucessível legitimário, já que o regime do cálculo da quota do herdeiro
contratual é muito idêntico aquele que está previsto para o herdeiro legitimário. E em
vida, ele também não pode opor-se a que haja disposição de bens a não ser no caso em
que tendo havido doação da totalidade da herança e renúncia por parte do doador ao
direito de dispor de uma terça parte da herança (1/3). Neste caso, o herdeiro tem, de facto,
uma situação de privilégio porque qualquer ato de disposição gratuita que seja praticado
pelo autor da sucessão – doador – pode ser objeto de impugnação porque o herdeiro
contratual tinha a garantia de que todos os bens deixados pelo doador lhe pertenceriam.
Ou seja, a partir do momento em que o doador renuncia à faculdade de dispor dos seus
bens, todo o ato de alienação gratuita que praticar pode ser impugnado, ainda em vida,
pelo sucessível contratual.
Por tudo isto, parece-nos que, em vida do autor da sucessão, a proteção do sucessível
contratual é superior à do sucessível legitimário.
Após a abertura da sucessão, o sucessível legitimário tem uma situação privilegiada
porque a própria instituição contratual pode vir a ser objecto de redução por
inoficiosidade.

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Pactos sucessórios renunciativos
Com a Lei n.º 48/2018, de 14 de agosto, passou a ser possível um caso específico de
pactos sucessórios renunciativos: trata-se da renúncia recíproca à condição de herdeiro
legitimário do outro cônjuge, prevista no artigo 1700.º, n.º 1, c) e n.º 3, e no artigo 1707.º-
A.
Em primeiro lugar, exige-se que a renúncia seja recíproca, isto é, que ambos os nubentes
renunciem, embora a renúncia possa ficar sujeita a condição, não necessariamente
recíproca.
Em segundo lugar, é necessário que o regime de bens do casamento, convencional ou
imperativo, seja o da separação de bens.
Em terceiro lugar, a renúncia é apenas à qualidade de herdeiro legitimário, o que significa
que o cônjuge mantém, mesmo nestes casos a qualidade de herdeiro legítimo.
Por último, o facto de o cônjuge renunciar à sua posição de herdeiro legitimário não o
priva de uma série de direitos, consagrados no artigo 1707.º-A, nomeadamente, direito a
alimentos, nos termos do artigo 2018.º, direito a prestações sociais por morte, direito real
de habitação e direito de uso do respetivo recheio, vitalícios se o cônjuge sobrevivo tiver
mais de 65 anos à data da abertura da sucessão, se a casa de morada de família for
propriedade do cônjuge falecido, e direito de preferência em caso alienação do imóvel.

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