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DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS

Noções Conceituais:
Forma de manifestação de vontade, ordinariamente reduzida a termo e positivada
através de cláusulas aptas a representar a vontade inequívoca do testador, atribuindo,
assim, veracidade às declarações constantes no testamento.

Basicamente, é possível afirmar que, as disposições testamentárias são o conteúdo


do testamento e sendo válida a disposição testamentária, qualquer sujeito com capacidade
sucessória passiva poderá ser destinatário do patrimônio do falecido, inclusive os
necessitados em geral.

Prudente que considerar que, pode haver uma certa relação de causalidade entre
cláusulas testamentárias, no sentido de uma derivar da outra e assim sendo, se houver a
anulação de uma disposição, todas as que derivam desta, serão consideradas nulas
também.

Modalidades das disposições testamentárias:


Quanto à natureza, o doutrinador Pablo Stolze afirma que as cláusulas
testamentárias podem conter tanto natureza patrimonial quanto uma disposição de última
vontade sem conteúdo patrimonializado.

No que tange ao formato da cláusula, determina o artigo 1897 do Código Civil não
só que esta pode ser elaborada com teor simples e direto, no qual não há limitações no
plano da eficácia, mas também, que a disposição pode estar submetida à condição, ônus,
encargo ou atrelada a certo motivo. Nesse contexto, inserem-se as nomeações e seus
respectivos tipos:

Nomeação pura e simples: É aquela na qual não há limitação no plano da


eficácia e portanto, produz seus efeitos de forma imediata. (arts. 1.784 e
1.923, § 1º, do CC)
Nomeação Condicional: Submetida a um evento futuro e incerto

Nomeação Modal: Submetida a um ônus, a disposição impõe uma restrição


de liberalidade

Nomeações causais: São aquelas determinadas por justificativas expressas.


“por certo motivo”

A título de observação, é importante notar que, a codificação civil determina,


segundo seu artigo 1898 que não são admitidas as disposições
testamentárias submetidas a termo. (exceção- substituições
fideicomissárias)

Interpretação - artigo 114 e 1899 CC:


Em sua obra, o doutrinador Pablo Stolze, de forma breve, afirma a existência de
regras próprias e específicas para o testamento e ressalta a solução para hipótese de uma
cláusula testamentária ser suscetível de interpretações diferentes.

Por força do Princípio do Respeito à Vontade Manifestada, dispõe o artigo 1899 CC:
Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a
que melhor assegure a observância da vontade do testador

Sobre a nomeação de herdeiros e distribuição de quinhão


individualmente considerado
Primeiramente, cumpre asseverar que, nesse contexto, a diretriz primordial consiste
em preservar a vontade do testador e compatibilizá-la no caso de existirem imprecisões
que, numa primeira vista, impediriam sua efetivação.

De mais a mais, a obra do doutrinador traz consigo, algumas situações específicas


sobre as quais versam o Código Civil no sentido de seguir a diretriz supramencionada.
Disposição em favor dos pobres ou de instituições (não havendo
maiores especificações):

“Art. 1.902. A disposição geral em favor dos pobres, dos estabelecimentos


particulares de caridade, ou dos de assistência pública, entender-se-á
relativa aos pobres do lugar do domicílio do testador ao tempo de sua morte,
ou dos estabelecimentos aí sitos, salvo se manifestamente constar que tinha
em mente beneficiar os de outra localidade. Parágrafo único. Nos casos
deste artigo, as instituições particulares preferirão sempre às públicas”.

Se houver erro na designação do herdeiro:

Art. 1.903. O erro na designação da pessoa do herdeiro, do legatário, ou da


coisa legada anula a disposição, salvo se, pelo contexto do testamento, por
outros documentos, ou por fatos inequívocos, se puder identificar a pessoa
ou coisa a que o testador queria referir-se”.

Nomeação sem discriminar a parte de cada um:

“Art. 1.903. Se o testamento nomear dois ou mais herdeiros, sem discriminar


a parte de cada um, partilhar-se-á por igual, entre todos, a porção disponível
do testador”.

Se o testador nomear individualmente uns e coletivamente outros


(nomeação não isonômica):

“Art. 1.905. Se o testador nomear certos herdeiros individualmente e outros


coletivamente, a herança será dividida em tantas quotas quantos forem os
indivíduos e os grupos designados”.

Se o testador estabelecer quotas para cada herdeiro testamentário


mas tais cotas não absorverem toda a parte disponível:

Art, 1.906 que, se “forem determinadas as quotas de cada herdeiro, e não


absorverem toda a herança, o remanescente pertencerá aos herdeiros
legítimos, segundo a ordem da vocação hereditária”,

Se forem determinados os quinhões de um herdeiro e não de outros:

Outorgar primeiro as porções hereditárias dos herdeiros com quinhão


predeterminado, distribuindo, somente após isso, o que restar, por igual, aos
demais herdeiros, tendo sido tal conclusão estabelecida expressamente no
texto codificado
Se houverem restrições a que bens específicos sejam atribuídos a
quem quer que seja.:

“Art. 1.908. Dispondo o testador que não caiba ao herdeiro instituído certo e
determinado objeto, dentre os da herança, tocará ele aos herdeiros
legítimos”.

Validade das disposições testamentárias:


Vale a pena relembrar que, o testamento é um negócio jurídico unilateral e por isso,
decorre de uma única e exclusiva manifestação de vontade: a do testador. Também é um
negócio jurídico formal pois está submetido a diversos e rigorosos pressupostos de
validade.

Logo, aplicam-se as regras gerais de invalidade dos negócios jurídicos e também


aplicam-se regras específicas de nulidade quanto aos testamentos.

O estabelecimento dessas regras específicas, consta no artigo 1900 do CC:

“Art. 1.900. É nula a disposição:

I — que institua herdeiro ou legatário sob a condição captatória de que este


disponha, também por testamento, em benefício do testador, ou de terceiro;
* condição captatória - exprime algum benefício econômico

É nessa linha que pondera Pablo Stolze:

“Apesar de ser possível a nomeação condicional de herdeiro, não é admissível


o condicionamento de uma disposição testamentária em benefício próprio ou
de terceiro, em verdadeira e lamentável manifestação quid pro quo, como se o
testamento fosse uma via adequada para o estabelecimento de barganhas.”

II — que se refira a pessoa incerta, cuja identidade não se possa averiguar;


III — que favoreça a pessoa incerta, cometendo a determinação de sua identidade a
terceiro;
É possível sim dispor bens a uma pessoa sem individualizá-la, contudo, o
ordenamento jurídico veda a nomeação genérica, sem o mínimo de
determinabilidade, uma vez que, tal nomeação representa, inaceitável
interferência de terceiro na manifestação de vontade do testador.

IV — que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do legado;

Se o testador deixasse a terceiros a fixação do legado, estaria transferindo o


próprio direito de testar, que é personalíssimo, desse modo,“O objeto do
legado deve ser determinado ou determinável de acordo com os elementos
contidos no próprio testamento, para que a efetiva vontade do morto, e não a
do herdeiro ou legatário, seja respeitada.”
- Exceção: Caso remuneratório por serviço prestado

V — que favoreça as pessoas a que se referem os arts. 1.801 e 1.802”.

Serão nulas as disposições testamentárias dirigidas a pessoas com


impedimentos legais sucessórios, por carecerem de vocação hereditária
específica.

Validade de disposições testamentárias pouco ortodoxas trazidas pelo 1901 CC:

I — em favor de pessoa incerta que deva ser determinada por terceiro, dentre duas
ou mais pessoas mencionadas pelo testador, ou pertencentes a uma família, ou a
um corpo coletivo, ou a um estabelecimento por ele designado;

Exceção à regra de nulidade de disposição que remete para terceiro a escolha


de pessoa incerta. No caso do presente inciso, o âmbito de escolha já está
delimitado pelo testador, então, o terceiro escolheria o beneficiário dentre
certas pessoas pré determinadas, não havendo assim, vilipêndio à
manifestação de vontade do testador.

Nesse sentido, arremata o doutrinador Pablo Stolze:

“Seria absolutamente nula uma cláusula que dispusesse em favor de quem


Fulano escolhesse. Por outro lado, seria perfeitamente aceitável a disposição
para Beltrano ou Sicrano, remetendo a escolha a Fulano.”
II — em remuneração de serviços prestados ao testador, por ocasião da moléstia de
que faleceu, ainda que fique ao arbítrio do herdeiro ou de outrem determinar o valor
do legado”.

Este inciso, refere-se a existência de uma disposição geral para que o


patrimônio do testador remunere serviços prestados por ocasião da moléstia
que lhe tirou do plano de existência, remetendo ao herdeiro ou a outrem a
determinação do valor razoável para a remuneração.

Prazo para impugnação:


Havendo vício de vontade ( erro- dolo ou coação), o artigo 1909 Código Civil estipula
o prazo de 04 anos para que o interessado requeira a anulabilidade.

Obs: Direito potestativo- prazo decadencial de 04 anos, que começa a ser contado a
partir do momento no qual o interessado tome conhecimento do vício) - Deve ser proposta
: ação anulatória de testamento

Nos casos de nulidade absoluta (impugnação da validade)- 1859 CC do negócio


jurídico, aplica-se o prazo quinquenal (tal prazo é contado a partir do início do registro do
testamento). Verifica-se aqui que não há aplicação da regra geral referente a ausência de
prazo para impugnação do negócio jurídico - na parte geral, um negócio jurídico nulo
nunca poderá ser ratificado, portanto, não há prazo para a alegação.

Ação interposta será a Declaratória de Nulidade de Testamento, por qualquer pessoa que
vier a se beneficiar com tal nulidade.

Cláusulas de restrição da propriedade:


É aqui que estão inseridos os gravames de inalienabilidade, incomunicabilidade e
impenhorabilidade, caracterizados como faculdade atribuída ao testador, no sentido deste
restringir, em certos aspectos, a transmissão do legado e da herança.

inalienabilidade - restrição à transferência do bem a terceiros, seja a título


gratuito ou oneroso.

Impenhorabilidade- restrição da possibilidade de constrição judicial


.
Incomunicabilidade- restrição à transferência de fração ideal do bem ao
cônjuge (ou companheiro) quando da formação de um
núcleo familiar,com a finalidade de proteção próprio
beneficiário do testamento.

Tais institutos constam no artigo 1911 do CC:

“Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de


liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade.
Parágrafo único. No caso de desapropriação de bens clausulados, ou de sua
alienação, por conveniência econômica do donatário ou do herdeiro, mediante
autorização judicial, o produto da venda converter-se-á em outros bens, sobre
os quais incidirão as restrições apostas aos primeiros”.

Obs: Pelo exposto, inalienabilidade implica automaticamente tanto em


impenhorabilidade quanto por incomunicabilidade (recíproca não é verdadeira)

Observa-se também, certa mitigação do rigor da alienação, fundamentada em


conveniência econômica do beneficiário mediante a autorização judicial. Lembrando, que o
valor apurado deve ser convertido em outros bens, nos quais incidirão os mesmos
gravames.

A revogação de tais cláusulas pode estar relacionada com a função social da


propriedade e com a dignidade da pessoa humana ?? De acordo com Pablo Stolze, sim.

“Parece-nos plenamente razoável defender, em situações excepcionais, a


eventual possibilidade da revogação de tais cláusulas, com a finalidade de
imprimir função social à propriedade e de preservar a dignidade da pessoa do
proprietário, o que tem encontrado guarida na jurisprudência pátria.

É o caso, por exemplo, de o beneficiário precisar vender o imóvel recebido para


empregar todo o valor apurado no custeio de uma complexa cirurgia.

Anulabilidade
- Diante do erro, dolo, culpa ou coação
- Prazo distinto do da Parte Geral, referindo-se a 4 anos, a partir do conhecimento
do vício
- Ação a ser interposta é a Anulatória de Testamento

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