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12. Compropriedade
12.1. Noção
a) Fontes
1
Recorde-se que “podem adquirir a posse todos os que têm uso da razão, e ainda os que o não têm,
relativamente às coisas suceptíveis de ocupação” — art. 1266.º CCv.
2
Esta composse (em termos de compropriedade) é uma das composses a que se refere o art. 1286.º (pois
que este abrange todos os casos de composse, i. e., de posse de qualquer direito real em comunhão), artigo
por meio do qual — e em paralelo ao que se prevê para a defesa do direito (v. infra) — se admite que “cada
um dos compossuidores, seja qual for a parte que lhe cabe [possa] usar contra terceiros dos meios facultados
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MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
compram um prédio a non domino e entram na respectiva posse3); 2) que a composse seja
pública e pacífica (art. 1297.º); 3) perdure um determinado período de tempo; 4) e,
finalmente, seja invocada a aquisição do direito de propriedade em comunhão (arts.
1292.º e 303.º).
Lê-se no art. 1291.º que “a usucapião por um compossuidor relativamente ao
objecto da posse comum aproveita igualmente aos demais compossuidores.” Temos aqui,
então, “uma regra de solidariedade entre os compossuidores”, “em oposição à regra geral
de que os efeitos jurídicos dos actos só atingem os que os praticaram ou as pessoas em
nome de quem foram praticados.”4 Por outra parte, este preceito permite ainda que a
melhor posse entre os compossuidores aproveite a todos. Concretizando: se, por exemplo,
um dos compossuidores estiver de boa fé o outro de má fé, com os consequentes efeitos
ao nível da contagem dos prazos, “a aquisição por parte do compossuidor de boa fé
aproveita a todos demais, embora de má fé”5 (o que é imediatamente relevante para
efeitos de contagem do tempo).
nos artigos precedentes [meios de defesa da posse], quer para defesa da sua própria posse, quer para defesa
da posse comum, sem que ao terceiro seja lícito opor-lhe que ela não lhe pertence por inteiro.
3
Exemplo de HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 89.
Sublinhe-se que quando determinados herdeiros do possuidor, após a partilha, se tornam compossuidores
de certo bem, a lei ficciona a sua composse desde a data da morte de cuius, consagrando, assim, uma posse
ficta e desconsiderando a posse efectiva que possa ter sido exercida, por todos ou outros herdeiros, entre a
data da abertura da herança e a partilha. De facto, nos termos do art. 1255.º: “por morte do possuidor, a
posse continua nos seus sucessores desde o momento da morte, independentemente da apreensão material
da coisa”.
Recordamos que a posse de quem sucede, por tradição derivada ficta, é a mesma do de cuius — ou, de
outro modo, “com a abertura da herança não se inicia uma posse nova” (HENRIQUE MESQUITA, Direitos
Reais, p. 104 — substituímos o sublinhado por itálico). O que quer dizer que temos aqui algo de diferente
por comparação com as restantes formas de aquisição derivada da posse, em que a posse do adquirente
possuidor se filia na do anterior possuidor, mas tem um título novo e, consequentemente, uma
caracterização própria. Ainda que a acessão da posse (art. 1256.º) permita, com limitações é certo, juntar
as posses consecutivas (ainda HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 103 e ss.).
4
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 70.
5
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 70.
2
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entre prédios rústicos, ou entre pátios e quintais de prédios urbanos, se não houver sinal
em contrário (n.º 2). O legislador partiu do pressuposto, por um lado, de que a linha
divisória se devia ao investimento de ambos os proprietários (ou seus antecessores) atento
o interesse comum que ela serve; e, por outro, não descurou a comunhão coactiva prevista
no art. 1370.º6 (v. infra). Tratando-se de uma presunção legal, admite-se prova em
contrário (art. 350.º, n.º 2). Mas não é disso que se trata no n.º 3 do art. 1371.º, onde se
elencam os sinais que excluem a presunção (i. e., os sinais que não fazem funcionar a
presunção de que há compropriedade).
Também é por intervenção da lei que se adquire a compropriedade nos termos do
art. 1324.º: “se aquele que descobrir coisa móvel de algum valor, escondida ou enterrada,
torna-se proprietário de metade do achado; a outra metade pertence ao proprietário da
coisa móvel ou imóvel onde o tesouro estava escondido ou enterrado.” Note-se que,
embora a apreensão seja um acto voluntário7, é a lei que determina a repartição do direito
de propriedade quando o tesouro encontrado consista em coisa autónoma, certa e
determinada.
6
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 246.
7
“É indiscutível que o acto de apreensão tem de ser voluntário, embora não seja requerida para o efeito
capacidade de exercício ou mesmo o uso da razão. (...) Mas não é já necessária a intenção de ocupar e muito
menos a intenção de adquirir a propriedade. (...) Em consonância com esta ideia, a aquisição da propriedade
dá-se por simples acto de aprensão, e nesse mesmo momento, como expressamente estabelece o art. 1317.º,
al. d)” — cfr. CARVALHO FERNANDES, Lições de Direitos Reais, p. 316.
Posição contrária é defendida por PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p.
123-124. De facto, segundo estes autores, resulta do disposto no art. 1318.º que: “podem ser adquiridas por
ocupação” as coisas que nele se identificam, do que se retira que não basta ocupar/achar; é necessário ainda
que intervenha um elemento subjectivo que consiste na “intenção de adquirir”.
8
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 244.
3
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acordo (ou adquirida por usucapião), poderá obter-se coercivamente, por meio de decisão
judicial.”9
9
HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 242 (substituímos o sublinhado por itálico).
10
Resulta do n.º 1 do art. 689.º que “é susceptível de hipoteca a quota de coisa ou direito comum”. Interessa-
nos, para já, esta última hipótese, pois que a primeira tem a ver com a oneração da coisa (só todos os
comproprietários — vide infra). Estando a quota onerada com uma hipoteca e não sendo cumprido o crédito
que é apoiado pela garantia real, é, obviamente, a quota que é levada à execução judicial, caso em que,
antes da entrada de um terceiro (o adquirente judicial), será dada aos restantes consortes a oportunidade de
exercer o seu direito de preferência (v. arts. 819.º e 823.º e ss. CPCv).
11
Também aceitam estes pactos PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 388.
12
V. os nossos sumários desenvolvidos sobre obrigações reais.
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13
HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 249, nt. 1, PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil
Anotado, vol. III, p. 367.
14
HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 253, nt. 2; seguem-no PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA,
Código Civil Anotado, vol. III, p. 375.
Para maiores desenvolvimentos sobre o direito legal de preferência, vide os nossos sumários desenvolvidos
sobre os direitos de qualificação duvidosa.
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11. O regime jurídico relativo à coisa comum encontra as suas duas traves mestras
na primeira parte do n.º 2 do art. 1403.º e no n.º 1 do art. 1405.º.
O primeiro pacifica qualitativamente os direitos dos consortes enquanto se declara
que são “qualitativamente iguais” — não fossem eles, aliás, e como decorre do n.º 1 do
mesmo artigo, “simultaneamente titulares do direito de propriedade sobre a mesma
coisa”. Daqui que os comproprietários exerçam, “em conjunto, todos os direitos que
pertencem ao proprietário singular” (primeira parte do n.º 1 do art. 1405.º). Obviamente,
quando todos — i. e., quando todos os titulares do direito de propriedade — actuam
simultaneamente, como um só, preenchem, completam, esgotam a titularidade do direito,
pelo que assim não aparecem problemas específicos da compropriedade. Tomando de
empréstimo as palavras de MOTA PINTO, “quanto à possibilidade que todos têm de, por
unanimidade, praticar quaisquer actos sobre a coisa, ela é evidente — não constitui
problema.”16 Mas uma rápida e transversal leitura dos arts. 1405.º e ss. logo permite
perceber que é possível que apenas um ou um grupo de comproprietários actue sobre a
coisa, tornando premente que se conheçam as regras que orientam tal actuação. Ou, o que
é o mesmo, que marcam a extensão dos poderes dos comproprietários (individualmente
considerados) sobre a coisa comum. Mas já lá vamos.
12. Se os direitos dos consortes são qualitativamente iguais, nada impede, porém,
que sejam “quantitativamente diferentes” (ainda a primeira parte do n.º 2 do art. 1403.º).
15
HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 250, nt. 1.
Ao invés, como se sabe, após a notificação para preferir, o preferente pode optar por exercer o seu direito
potestativo por um dos seguintes modos: i) preferir; ii) renunciar; iii) nada dizer e, assim, conduzir à sua
caducidade.
16
Direitos Reais, p. 260.
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Colocamos a expressão entre aspas enquanto se não trata aqui de uma presunção legal, mas de uma norma
supletiva. Por isto mesmo, não valem aqui as regras que constam dos arts. 249.º e ss.. Concretizando: “a
presunção de igualdade das quotas só pode ser afastada com recurso a elementos do próprio título
constitutivo e não por elementos externos, sendo inadmissível a prova testemunhal para o efeito” — Ac.
RC de 12 de Setembro de 2007 (disponível em acessível em jurisprudência.csm.org.pt).
18
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 352-353.
19
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 349.
20
“É nula a cláusula que exclui um sócio da comunhão nos lucros ou que o isenta de participar nas perdas
da sociedade, salvo disposto no n.º 2 do artigo 992.º.”
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i. Uso da coisa
13. Por regra, qualquer comproprietário pode usar a coisa comum (art. 1406.º, n.º
1). Ou, o que é o mesmo, todos os comproprietários podem usar toda a coisa
simultaneamente (uso directo promíscuo ou simultâneo, nas expressões de PIRES DE
LIMA e ANTUNES VARELA21). Porém, este uso não é arbitrário, pois que, embora
todos sejam proprietários, todos também terão de contar, necessária e evidentemente, com
a posição dos restantes. Daí que a lei logo avance com duas limitações: ninguém pode
usar a coisa para fim diferente daquele a que ela se destina e do uso que dela se faça não
pode resultar privação para o uso dos restantes consortes.
21
Código Civil Anotado, vol. III, p. 357.
22
No Ac. RC de 4 de Outubro de 2005 discutiu-se se um dos três comproprietários de um prédio urbano
poderia, depois de se ter feito a divisão do uso por partes da coisa comum, permitir que um terceiro, em
vez dele, usar o terço que lhe foi reservado. Pesou o tribunal que “acordado entre os comproprietários que
cada um ficaria a gozar de uma parte determinada da coisa comum, não se vê impedimento (…) a que todos
ou alguns exerçam os respectivos direitos através de terceira pessoa”; “não querendo ou não podendo os
(…) comproprietários usar pessoalmente as partes que na divisão lhes couberam, nada impede que
permitam o respectivo uso a terceiro.”
23
Contra não procede o argumento de que em causa não está um terceiro para efeitos do art. 5.º do
Cód.Reg.Pred., pois, a verdade é que o benefício de invocar a inoponibilidade é atribuído a alguns sujeitos
que podem não ser considerados terceiros em sentido estrito. Precisamente por isso, o art. 94.º do
Cód.Reg.Pred. determina que do extrato das inscrições constarão obrigatoriamente determinadas
convenções ou cláusulas acessórias.
Mas explicitemos o acabado de referir com um exemplo: quando em causa esteja uma cláusula susceptível
de gerar a resolução de um acto de disposição ou de oneração sujeito a registo, o subadquirente que regista
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primeiro o seu título vê o seu direito prevalecer sobre o do alienante inicial que negligenciou o registo do
acto que continha a cláusula de resolução; ora, nesta hipótese, obviamente, o conflito não opõe dois
adquirentes de um autor comum, mas o disponente inicial e um seu subadquirente.
24
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 358.
25
HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 255. Seguem-no PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código
Civil Anotado, vol. III, p. 358.
26
Código Civil Anotado, vol. III, p. 359.
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17. A este propósito do uso da coisa comum é conveniente deixar uma ou outra
nota sobre a composse em termos de compropriedade.
Diz-se no n.º 2 do art. 1406.º que “o uso da coisa comum por um dos
comproprietários não constitui posse exclusiva ou posse de quota superior à dele”. Não
poderia ser de outra maneira. Se a todos os comproprietários é lícito servir-se da coisa
comum, naturalmente não pode o exercício da faculdade de uso de um sobre toda a coisa
ou sobre uma parte dela ser entendido como posse em termos do direito de propriedade
singular ou de uma posse em termos superiores à quota que lhe pertence.
Coerentemente, estabelece-se no n.º 2 do art. 1286.º que “nas relações entre
compossuidores não é permitido o exercício da acção de manutenção” — como escrevem
PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, “se qualquer dos compossuidores pode
exercer, em relação à coisa, os actos materialmente correspondentes ao direito possuído,
os actos turbativos são incaracterísticos.” Todavia, “o mesmo já não pode dizer-se quanto
à acção de restituição, porque o exclusivismo de um dos compossuidores, conseguido
através do esbulho, afecta a posição jurídica e os direitos dos restantes.”27
Na parte final do n.º 2 do art. 1406.º acautela-se, porém, a inversão do título da
posse (arts. 1263.º, al. d) e 1265.º). Ou seja, prevê-se aqui a possibilidade de o
compossuidor em termos de compropriedade passar a actuar como possuidor em termos
de propriedade (portanto, em nome próprio e exclusivo) sobre toda a coisa ou continuar
a actuar como compossuidor mas sobre uma quota superior à que lhe pertence (por
exemplo, três comproprietários dividiram o uso da coisa comum prédio rústico em
correspondência à igual quota-parte no direito que a cada um deles pertencia; mas um
deles passou a actuar como se lhe pertencessem 2/3 do direito de propriedade cultivando
2/3 do prédio). Como se sabe, dá-se a inversão do título da posse quando um detentor
passa, espontaneamente, a actuar como possuidor28 — no caso que agora nos interessa,
temos compossuidores que são detentores da parte da coisa que não corresponde à sua
quota, mas que passam a actuar sobre essa parte como se ela tivesse correspondência com
27
Código Civil Anotado, vol. III, p. 63.
28
“Trata-se de uma substituição psicológica da razão a cujo título se exercem esses poderes, ou, com alguma
elipse (e alguma incorrecção), do título pelo qual se possui (rectius: do título pelo qual se actua, antes
detendo e depois possuindo). Daí o nome latino interversio possessionis e o português: inversão do título
de posse. Sabendo-se que o título não é aqui documento, ou fundamento, ou sequer título de posse, no
sentido de posse titulada. É apenas a razão pela qual se actua. E que a inversão não tem aqui nenhum alcance
preciso — de retorno ou colocação ao contrário, do ponto de vista de alguma ortopedia — mas apenas de
alteração ou transformação. Anote-se, aliás, que a intervensio latina era um étimo mais rico, pois
intervertere significa desviar, subtrair, o que ilumina o sentido usurpatório do fenómeno em exame” —
ORLANDO DE CARVALHO, Direito das Coisas, p. 298-299.
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a sua quota (simplisticamente, aumentam o seu poder e a sua influência no bem comum),
razão pela qual se diz, então, haver aqui uma inversão do título da posse.
19. Muito embora o texto positivado o não diga expressamente, parece-nos que
esta é, contudo, uma norma supletiva. Não vemos razão para impedir os comproprietários
de, no uso da sua autonomia, organizarem a partilha dos frutos e de outras vantagens de
modo não correspondente à quota que a cada um deles pertence. Pense-se no caso de os
comproprietários, para benefício de um deles, acordarem que o que é titular da menor
quota é, todavia, o que receberá a maior parte dos frutos (relembre-se, todavia, o que há
pouco dissemos a propósito da aplicação analógica da proibição do pacto leonino).
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um dos consortes que, posteriormente, entre na comunhão, desde que a forma tenha sido
respeitada e o Registo o publicite29, bem entendido.
29
No mesmo sentido vide PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA (Código Civil Anotado, vol. III, p. 361). Para
lhes sermos fiéis, reproduzamos o que escreveram: “o regulamento a que os consortes eventualmente
subordinem a administração da coisa comum assume natureza real (neste sentido, Oliveira Ascensão,
Direito Civil — Direitos Reais, 4.ª ed., pág. 261), dependendo a sua eficácia em relação a terceiros da
inscrição no registo (quando seja caso disso).” HENRIQUE MESQUITA parece opinar em sentido semelhante,
ao afirmar: “os preceitos legais sobre uso e administração da coisa têm natureza meramente supletiva (…)
[; m]as parece dever entender-se que a alterações convencionais ao regime da lei só terão eficácia em
relação a terceiros se forem inscritas no registo predial” — Direitos Reais, p. 260.
Ainda no mesmo sentido e fundamentadamente vide o parecer do Conselho Técnico do Instituto dos
Registos e do Notariado P.º R. P. 307/2007 DSJ-CT — Regulamento de administração de prédio em
compropriedade sua (não) sujeição a registo —, no qual pode ler-se que: “II- Ao permitir que, por
convenção, se estabeleçam regras diversas de administração da coisa comum, a lei confere aos
comproprietários a liberdade de conformar algum do conteúdo do seu direito, resultando, assim, do
conjunto das disposições normativas que definem e compõem o tipo legal e da convenção dos interessados
o estatuto real ou erga omnes a que o mesmo se acha subordinado.” “III- Por conseguinte, à consecução
dos fins do registo predial, destinado essencialmente a dar publicidade à situação jurídica dos prédios, tendo
em vista a segurança do comercio jurídico imobiliário –artigo 1o do Código do Registo Predial - e aos seus
efeitos — artigos 5o e 7o do Código do Registo Predial - convirá também a publicitação da existência do
regulamento de administração da coisa comum, enquanto conteúdo da compropriedade e parte integrante
do seu estatuto real, por menção no extracto da inscrição, quando o regulamento conste do titulo constitutivo
da compropriedade, ou por averbamento à inscrição respectiva, quando a convenção tiver sido feita
posteriormente.” Acrescenta-se aqui esta nota: “[c]om efeito, não se tratará, quanto a nós, de um novo facto
sujeito a registo, antes se realiza estar em causa uma definição tabular do conteúdo do direito real a
publicitar, ou já publicitado, tanto mais próxima da realidade jurídica quanto verdadeira, de forma a
reforçar o princípio da confiança, permitindo que os terceiros conheçam o regime do direito real na parte
em que ele é modelado por via negocial e que, igualmente, lhe é oponível, e a estender a presunção que do
registo deriva ao conteúdo que, efectivamente, compõe o estatuto real ou erga omnes a que se encontra
subordinado aquele direito” — itálico nosso. “Dir-se-á, em sentido oposto ao registo, que a menção da
existência do regulamento de administração da coisa comum não se encontra prevista no elenco das
menções a que se refere o artigo 95o do CRP, ao contrario do que acontece, por exemplo, no usufruto (…)
na constituição do direito de habitação periódica ou na propriedade horizontal em que o conteúdo dos
direitos ou a existência do regulamento de condomínio, quando fixados no titulo no âmbito da relativa
autonomia privada de conformação do regime do direito ou do estatuto regulador do condomínio, deverão
constar do extracto da inscrição — artigo 95o, n.º 1, alíneas a), q) e p) do CRP.” Porém, conclui-se, “é
precisamente esta preocupação ínsita no artigo 95o , no 1, a), p) e q) do CRP de dar a conhecer a regulação
convencional do conteúdo do direito e, desta forma, publicitar, ainda que sumariamente e por extracto, a
dimensão do estatuto real a que o mesmo se acha subordinado, que, quanto a nós, autoriza à revelação
tabular da existência do regulamento da administração da coisa comum, afigurando-se, na verdade, que a
falta de disposição legal expressa que demande a menção da existência daquele regulamento no extracto da
inscrição da constituição da compropriedade não comporta um silêncio significativo porquanto não traduz
uma intenção de exclusão de publicidade.” “Parece-nos, aliás, que há-de valer nesta matéria o mesmo
critério valorativo adoptado pelo legislador em sede de inscrição do usufruto, da propriedade horizontal e
do direito de habitação periódica, encontrando-se, justamente, no contexto da lei, nos seus lugares paralelos,
na coerência normativa e na salvaguarda do princípio da confiança, o instrumento de enquadramento legal
da registabilidade do regulamento da administração da coisa comum (...).”
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um dos consortes. A oposição funciona, assim, como o expediente que cerceia o igual
poder para administrar que é atribuído a todos os condóminos.30 O impasse ultrapassar-
se-á pelo cumprimento de um procedimento próprio, previsto na lei e que tem por
objectivo determinar o mérito da oposição. Coligindo, então, os n.os 2 e 4 do art. 985.º,
verificamos que a maioria se encontrará na reunião do maior número de consortes —
portanto, maioria per capita (ou elemento pessoal). Embora, acrescenta-se no n.º 1 do art.
1407.º, esta maioria tenha de representar, pelo menos, metade do valor das quotas (no
mínimo, um valor igual a 50 do direito de propriedade) — elemento real. Claramente,
quis o legislador encontrar o sistema mais equitativo possível, enquanto, se apenas
atendesse à maioria pessoal, entregaria o domínio da comunhão àqueles que, mesmo
sendo mais, poderiam não suportar o maior risco; e, se apenas considerasse o elemento
real, negligenciaria a opinião do maior número de consortes.31 Assim, se tal maioria —
per capita e representativa de, pelo menos, 50% do valor das quotas — aprovar a
oposição, o comproprietário-administrador não poderá praticar o acto pretendido (ou terá
de interromper o processo de concretização da decisão administrativa). Caso contrário,
será o acto anulável (actos jurídicos, bem entendido — em se tratando de um acto
material, a sanção será, sempre que tal seja possível, a restituição da coisa ao estado em
que se encontrava antes da prática do acto32) e o seu autor responsável pelo prejuízo a que
der causa (art. 1407.º, n.º 3). Regime que se aplicará também caso o acto (jurídico ou
material) seja praticado entre a oposição e a decisão.33 Já se a oposição não merecer a
aprovação prevista na lei, o acto poderá ser praticado, sendo simplesmente
desconsiderada a referida oposição.
22. Por vezes, não será possível perfazer a maioria nos termos que acabámos de
descrever — é o que acontece, por exemplo, quando sejam apenas dois os
comproprietários, ainda que um seja titular de uma quota no valor de 51%. Nestes casos,
qualquer um dos comproprietários poderá recorrer ao tribunal, que decidirá segundo
juízos de equidade (art. 1407.º, n.º 2).
30
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 361.
31
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 362.
32
HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 256. nt. 1, que recebe a concordância de PIRES DE
LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 362.
33
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 363.
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24. O regime que até ao momento fomos descrevendo vale apenas para os actos
de administração ordinária ou de gestão corrente — isto é, actos tendentes a evitar a perda
ou a deterioração e actos que visem a frutificação normal da coisa.35 É verdade que a lei
34
V. os nossos sumários desenvolvidos em tema de obrigações reais.
diremos serem actos de administração ordinária os que digam respeito a prover à conservação dos bens
administrados (são os actos “destinados a fazer quaisquer reparações necessárias nesses bens tendentes a
evitar a sua deterioração ou destruição”) e os que visem a promover a sua frutificação normal (“frutificação
pelo modo habitual para os bens administrados”; por exemplo, prover o cultivo da terra nos termos normais
ou o seu arrendamento; sobre o arrendamento, v. infra as regras especiais que se aplicam).
Veja-se o caso decidido pelo STJ no Ac. de 8 de Novembro de 2005 (acessível em
jurisprudência.csm.org.pt). A, B e C, comproprietários de um prédio rústico, venderam a D a cortiça
produzida pelos sobreiros nele implantados. Quando este se preparava para proceder à colheita da casca
das árvores, aqueles invocaram que não podiam cumprir o contrato de compra e venda, porque os restantes
comproprietários não tinham autorizado a alienação. Começou o nosso Supremo Tribunal — e bem — por
afirmar que a primeira coisa a fazer seria proceder à qualificação do acto praticado, só depois havendo de
avançar-se para a questão do incumprimento da compra e venda e das consequências daí decorrentes. Disse-
se, então, que “a cortiça é a casca da árvore, especialmente do sobreiro” e que “é um fruto (CC 212, 1)”.
“Enquanto a venda da cortiça na árvore é um acto de administração, outro tanto não se poderá dizer se
vendidas forem as árvores — aqui, já será um acto de disposição. Ali, é a conservação e o desenvolvimento
de um património que está em causa; aqui, é uma actuação do actual património que do acto resulta.” “Não
fornecendo os autos qualquer convenção sobre a administração” do prédio rústico, “todos os
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não o diz expressamente; mas só pode ser esta a conclusão a retirar da remissão para o
art. 985.º.
Que solução, então, se reservará para os actos que alterem o “casco do bem” (por
exemplo, converter uma vinha num pinhal, abrir uma pedreira num terreno de cultivo ou
sujeitar um prédio ao regime da propriedade horizontal) ou aos actos tendentes à
frutificação anómala da coisa? O mesmo é perguntar: que solução valerá para os actos
administração extraordinária?36
comproprietários têm igual poder para administrar’ (CC 1403 n. 2, 1405 n. 1, 1407 n. 1 e 985 n. 1).” “A
venda da cortiça na árvore é um acto de administração do respectivo e o respectivo contrato foi e é válido.”
“Na medida em que o acto de administração não é de colocar a questão em termos de venda de coisa alheia.
Os réus agiram enquanto e como administradores, porque comproprietários sem que houvesse convenção
em contrário relativa a encabeçar a gestão.” “Como administradores podiam validamente realizar, como
fizeram, a venda de frutos e eram obrigados a exercer as diligências necessárias para que o autor os
adquirisse (CC 880, n. 1).”
36
Não pertencem à administração ordinária todos os actos de disposição da coisa, como são aqueles que
importem a substituição dela por outro bem, assim se afectando o capital administrado; nem os negócios
tendentes a prover à frutificação anormal, nem os actos tendentes a prover ao melhoramento do património
(abrir um poço, cercar com um muro um prédio rústico não havendo necessidade estrita disso, aquisição de
uma servidão não indispensável...). “O mero administrador (…) é incumbido apenas, na gestão dos bens
administrados, de deferir ao expediente dessa gestão; numa palavra, de fazer o trivial. Nada de voos
arriscados. Nada de aventurosos empreendimentos, de iniciativas não isentas de perigos consideráveis.
Nada de altas cavalarias” — MANUEL DE ANDRADE (Teoria Geral da Relação Jurídica, vol. II, p. 63-64.
37
Direitos Reais, p. 263-264.
15
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
deliberação unânime dos consortes (diferentemente, então, do que se dispõe nos arts.
1407.º e 985.º). Logo, por maioria de razão, qualquer acto de administração
extraordinária necessitará, igualmente, de unanimidade.38
38
Direitos Reais, p. 263-264.
39
Como explicam PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 365-366, “em
relação a estes, trata-se de uma alienação ou oneração de coisa alheia e a solução a um tempo mais lógica
e mais justa é a que considera o acto de disposição ou oneração indevidamente efectuado pelo
comproprietário como res inter alios acta. Consequentemente, o negócio será ineficaz em relação aos
consortes que nele não consentiram, tal como é ineficaz, em relação ao verus dominus, a alienação ou
oneração de coisa totalmente sua em que ele não consinta. Aqueles consortes não carecem de fazer anular
o negócio, podendo comportar-se como se não tivesse sido celebrado. Se, por exemplo, for vendida apenas
por um dos comproprietários, uma parte especificada da coisa comum, poderá qualquer dos outros
contitulares, uma vez que o negócio lhe é inoponível, reivindica-la das mãos do comprador, nos termos do
n.º 2 do art. 1405.º)”. No mesmo sentido, CARVALHO FERNANDES, Lições de Direitos Reais, p. 343,
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais, p. 213.
40
HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 261-262, nt. 1, PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil
Anotado, vol. III, p. 366, CARVALHO FERNANDES, Lições de Direitos Reais, p. 344. Em sentido contrário,
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais, 212.
16
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
vi. Conclusão
29. Em suma: o regime jurídico oferecido pela lei quanto à coisa comum permite-
nos sistematizar os poderes dos proprietários em poderes de exercício isolado (uso e
administração ordinária da coisa, quando outra coisa não tenha sido acordada, acções de
defesa da propriedade), poderes de exercício maioritário (decisão sobre o mérito da
oposição a um acto de administração ordinária) e, finalmente, poderes de exercício
unânime (arrendamento, alienação e oneração da coisa comum, actos de administração
extraordinária).44
41
Claro está que, se a parte da coisa que se pretendia alienar for superior ao valor da quota do
comproprietário alienante (por exemplo, alienou toda a coisa), então haverá que proceder, primeiramente,
a uma redução do negócio e, só depois, à sua conversão.
42
HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 261-262, nt. 1, PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil
Anotado, vol. III, p. 366.
43
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 355.
44
HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 247, MOTA PINTO, Direitos Reais, p. 260, Carvalho Fernandes,
Lições de Direitos Reais, p. 337.
17
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
30. Como os vínculos jurídicos não são — nem podem ser — perpétuos, qualquer
dos comproprietários é livre de decidir sair da comunhão. Isto mesmo se confirma na
primeira parte do n.º 1 do art. 1412.º: “nenhum dos comproprietários é obrigado a
permanecer na divisão” (nemo compellitur invito in communione detineri). Como é óbvio,
um comproprietário pode sair da comunhão alienando a quota que lhe pertence, caso em
que se afasta da compropriedade; mas não é disso que tratam os arts. 1412.º e ss.. Aqui
apresentam-se as regras que hão de ser aplicadas quando a compropriedade não mais
continuará, porque um ou mais consortes exigiram a divisão da coisa comum (veja-se a
epígrafe do art. 1412.º). 45 É claro que só será a coisa dividida quando seja divisível (vide
infra), razão pela qual talvez se devesse falar aqui mais em direito de exigir a dissolução
da compropriedade do que em direito de exigir a divisão da coisa.
31. Este direito não poderá, porém, ser exercido quando, acrescenta-se na parte
final da mesma norma, um pacto de indivisão tenha sido celebrado. Isto é, quando os
consortes tenham assumido que a coisa se conservará indivisa.46 Note-se, porém, que este
pacto não equivale a uma renúncia ao direito de exigir a divisão — é que este direito é
irrenunciável, ainda que condicionável, como se percebe pela leitura do n.º 2 do art.
1412.º.47 Nos termos do qual “o prazo fixado para a indivisão da coisa não excederá cinco
anos” (o que implica a redução a este prazo de qualquer acordo a que tenha sido atribuído
tempo de vigência superior — art. 202.º48), ainda que seja lícito renová-lo, uma ou mais
vezes, por nova convenção49 (o que quer dizer que não é aceitável uma cláusula de
renovação automática, nem uma renovação tácita).50
Segundo HENRIQUE MESQUITA, estes pactos operam uma modificação do
regime legal da comunhão e têm eficácia absoluta, “mas deverão ser registados para tal
45
Naturalmente, a compropriedade também se extingue quando um dos comproprietários adquire todas as
quotas ou quando todos eles decidem transferir o direito de propriedade para um sujeito que pretenda ser
dono singular da coisa.
46
Por isto mesmo, o signatário de um pacto de indivisão pode dispor da sua quota.
47
HENRIQUE MESQUITA refere-se a uma renúncia ao direito, ainda que por tempo limitado (cfr. Direitos
Reais, p. 268).
48
HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 268, seguido por PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código
Civil Anotado, vol. III, p. 386; também MOTA PINTO, Direitos Reais, p. 267.
49
Também assim, CARVALHO FERNANDES, Lições de Direitos Reais, p. 346.
50
“Tudo isto aponta para uma concepção da compropriedade como situação precária, que tende para a
divisão, logo para a propriedade singular. A um tempo, o legislador franqueia as vias conducentes a esse
resultado e estreita as propiciadoras do resultado inverso” — CARVALHO FERNANDES, Lições de Direitos
Reais, p. 346.
18
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
a) Dissolução extrajudicial
51
No extracto da inscrição, quando estipulada no título de constituição ou aquisição, ou através de
averbamento quando acordada posteriormente, nos termos da al. d) do art. 94.o e do art...., ambos do
Cód.Reg.Pred..
52
Código Civil Anotado, vol. III, p. 388.
53
Também é uma divisão amigável aquela que seja feita por intervenção dos louvados (árbitros nomeados
pelas partes). Embora não se faça pessoalmente pelos consortes — sendo, pois, a divisão confiada a quem
seja escolhido pelas partes, normalmente peritos —, é claro que a validade da divisão por estes sugerida
resulta da convenção — “por outros termos, os chamados árbitros, aliás louvados, procedem às operações
materiais da divisão: mas esta deve ser, antes ou depois, insiste-se, sancionada pela convenção”
(CARVALHO MARTINS, Divisão de Coisa Comum — Acção Especial Autónoma, Coimbra Editora, Coimbra,
2000, 2.ª ed., p. 16).
19
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
quantos forem os comproprietários (sendo certo que há limitações legais que não podem
ser desprezadas, como as que constam do art. 1376.º, sobre fraccionamento predial). Em
se tratando de um edifício, também poderão os consortes escolher sujeitá-lo ao regime de
propriedade horizontal (cfr. n.º 1 do art. 1417.º), caso em que terão, depois, de determinar
que fracções passarão a pertencer a quem em regime de propriedade singular.
35. “A divisão amigável está sujeita à forma exigida para a alienação onerosa da
coisa” — n.º 2 do art. 1413.º.
A este propósito tem de fazer-se pelo menos uma breve referência aos muito
frequentes casos em que os comproprietários dividem entre si a coisa comum, sem,
contudo, respeitarem este mandamento ou, o que terá a mesma consequência, em que o
proprietário de uma coisa transfere o seu direito real sobre coisa imóvel a favor de dois
ou mais sujeitos (um pai aos seus filhos, por exemplo) sem que a doação se faça como
que a lei impõe. Passando cada um dos comproprietários a actuar sobre a parte da coisa
(e dizemos “parte da coisa”, porque não houve a efectiva divisão dela; os negócios são
nulos por vício de forma) como proprietário singular (isto é, reunindo-se o corpus e o
animus em termos de propriedade singular) e mantendo-se esta posse (pública e pacífica)
durante um determinado lapso de tempo, pode cada um dos comproprietários (pois que
ainda o são para efeitos de titularidade do direito) invocar a aquisição, por usucapião, do
direito de propriedade singular e sobre cada uma dessas parcelas, dando-se,
correspondente e simultaneamente, a divisão da coisa comum.54
36. Lê-se no n.º 2 do art. 689.º que “a divisão da coisa (…) comum, feita com o
consentimento do credor, limita a hipoteca à parte que for atribuída ao devedor.” A
redacção da lei levanta, logo à partida, esta interrogação: é o consentimento do credor
54
Controversa é a questão de saber se é aceitável, neste caso em particular, que cada uma das unidades
prediais que assim surjam tenham dimensão inferior à unidade de cultura aplicável, ou, mais latamente, em
contradição com o disposto no art. 1376.º.
20
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
condição para que a divisão da coisa comum possa ocorrer?55 Segundo PIRES DE LIMA
e ANTUNES VARELA, a resposta tem de ser negativa, i. e., a constituição da hipoteca
sobre a quota-parte não impede que os comproprietários exerçam o seu poder de divisão;
o que tem de decidir-se é o destino da garantia real, que vai depender da existência de um
acordo entre o credor e o devedor. Assim, tendo os consortes decidido pela divisão da
coisa, o credor pode consentir numa sub-rogação real, enquanto a quota é substituída
pela parte da coisa (melius, à nova unidade predial que surgiu da fragmentação daquela
sobre a qual incidia a compropriedade) que couber ao ex-comproprietário (agora
proprietário singular). Em vez de hipoteca sobre a quota (que pertencia em exclusivo ao
comproprietário), passamos a ter hipoteca sobre uma coisa (que pertence em exclusivo
ao já não comproprietário). Obviamente, logo se coloca o problema, que a lei não resolve,
do destino da hipoteca quando o credor não chegue a um consenso com o devedor.
Segundo os comentadores, “não tendo a lei tomado medidas especiais para o caso, deve
entender-se, qualquer que seja o resultado da divisão, que o direito hipotecário não é
atingido, e que, portanto, continua a incidir sobre uma quota ideal da coisa. Claro que este
regime tem inconvenientes: não só prolonga a comunhão, quanto à hipoteca, como pode
a venda judicial, por falta de cumprimento da obrigação, inutilizar a divisão feita. Mas é
a única solução que salvaguarda devidamente os direitos do credor, sem lhe impor o
recurso à impugnação pauliana.”56
A letra do preceito em análise não é, na verdade, muito clara, parecendo, pelo
menos à primeira vista, que o legislador coloca a própria divisão da coisa sob o domínio
do credor. Não poderia, porém, ser assim, pois que não seria aceitável que o destino da
coisa ficasse na dependência de uma decisão que teve a quota por objecto (e que,
portanto, está sob o exclusivo domínio do comproprietário). Consequentemente, cremos
terem razão os comentadores quando afirmam que a divisão da coisa pode acontecer
independentemente da posição que sobre ela tome o credor hipotecário. Contudo, não nos
convence a solução que propõem para o caso de o credor não entrar em acordo com quem
é o seu devedor, logo pelas mesmas razões que os próprios avançam. Ficcionar a
manutenção da compropriedade sobre uma coisa que já foi dividida só para efeitos de
manter a hipoteca é muito pouco prático, traz insegurança para o comércio jurídico e
prejudica o valor das coisas autónomas que, no entretanto, surgiram. E mais nefasto são
55
Desenvolvemos aqui a solução que já adoptámos em 85 Perguntas sobre a Hipoteca Imobiliária,
MÓNICA JARDIM, MARGARIDA COSTA ANDRADE e AFONSO PATRÃO, p. 17.
56
Código Civil Anotado, vol. III, p. 711.
21
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
estas consequências quando existe solução no nosso ordenamento jurídico para os casos
em que a coisa que está onerada pela hipoteca desaparece por facto não imputável ao
credor. Na verdade, resulta do art. 701.º que, “quando, por causa não imputável ao
credor, a coisa hipotecada perecer” (que é o que acontece na divisão da coisa —
desaparece a quota), “tem o credor o direito de exigir que o devedor a substituta ou
reforce; e, não o fazendo este nos termos declarados na lei de processo, pode aquele exigir
o imediato cumprimento da obrigação ou, tratando-se de obrigação futura, registar
hipoteca sobre outros bens do devedor.”
Por fim, sendo a coisa comum insusceptível de divisão material, abrem-se três
hipóteses, tendo em conta que, de acordo com o estatuído no n.º 2 do art. 929.º CPCv, a
conferência terá em vista o acordo dos interessados na respectiva adjudicação a algum ou
a alguns deles, preenchendo-se em dinheiro as quotas dos restantes. Na falta de acordo
sobre a adjudicação, é a coisa vendida, podendo os consortes concorrer à venda. Assim,
se a coisa for adjudicada ao devedor hipotecário, a hipoteca passa a ter por objecto a
totalidade da coisa. Já se a quota do devedor hipotecário for preenchida em dinheiro,
(porque a coisa foi adjudicada a outro comproprietário ou foi vendida a terceiro), a
hipoteca extingue-se. Sem prejuízo da aplicação do art. 692º.57
b) Dissolução judicial
57
A redacção do art. 692. º é a que de seguida se transcreve: “1. Se a coisa ou direito hipotecado se perder,
deteriorar ou diminuir de valor, e o dono tiver direito a ser indemnizado, os titulares da garantia conservam,
sobre o crédito respectivo ou as quantias pagas a título de indemnização, as preferências que lhes
competiam em relação à coisa onerada. 2. Depois de notificado da existência da hipoteca, o devedor da
indemnização não se libera pelo cumprimento da sua obrigação com prejuízo dos direitos conferidos no
número anterior. 3. O disposto nos números precedentes é aplicável às indemnizações devidas por
expropriação ou requisição, bem como por extinção do direito de superfície, ao preço da remição do foro e
aos casos análogos.”
58
Havendo titulares de direitos reais limitados sobre o bem (de gozo ou de garantia) também eles terão de
ser chamados ao pleito, sob pena de a sentença lhes não ser oponível — HENRIQUE MESQUITA, Direitos
Reais, p. 267.
22
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
ou venda desta, com repartição do respectivo valor, quando seja de considerar indivisível,
indicando logo as provas (cfr. arts. 925.º e ss. CPCv).
Muito sinteticamente, são estes os fundamentais passos do processo especial.
Primeiramente, é o autor quem, na petição inicial, começará por dizer se a coisa é
susceptível de ser materialmente dividida ou não, apresentado prova num sentido ou
noutro (art. 925.º CPCv); depois, fixados os quinhões e se a coisa for susceptível de
divisão material (decisão que é tomada com o auxílio de peritos), tentar-se-á chegar a
acordo para adjudicação; na falta deste, cada um ficará com uma parte por sorteio (art.
929.º, n.º 1 CPCv); sendo ela materialmente indivisível haverá uma conferência dos
interessados com o objectivo de verificar se, por acordo, algum dos consortes estará
disponível para ficar, em propriedade plena, com o bem, os restantes recebendo o
respectivo valor em dinheiro (art. 929.º, n.º 2); não havendo acordo, dita o n.º 3 do art.
925.º que o bem seja vendido a quem der mais, incluindo terceiros (o que quer dizer que,
por falta de acordo, os consortes podem acabar por perder a coisa).
23
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
não se refira a parte específica da mesma”59. Uma vez, então, que há tantos proprietários
como o número de quotas, o direito de cada consorte é limitado por efeito da concorrência
que cada um tem de suportar dos direitos qualitativamente iguais que pertencem aos
demais.60
c) Teoria da comunhão
59
CARVALHO FERNANDES, Lições de Direitos Reais, p. 335.
60
Escreve OLIVEIRA ASCENSÃO, Direitos Civil — Reais, p. 265 e ss., especialmente 270-271): “aderimos,
por nossa parte, à doutrina de Scialoja, defendida entre nós por L. Pinto Coelho, e que é hoje a dominante
nos países latinos. Na comunhão encontramos uma pluralidade de direitos da mesma espécie, que recaem
sobre idêntica coisa. A compropriedade, por exemplo, tem na sua base uma pluralidade de autênticas
propriedades que, por terem o mesmo objecto, mutuamente se limitam no seu exercício.” Note-se, pois,
que, segundo o autor, a compropriedade é uma comunhão, que, por sua vez, é uma contitularidade,
entendendo, porém, esta contitularidade, ao jeito romano, i. e., precisamente, como pluralidade de direitos
reais homogéneos sobre uma coisa.
CARVALHO FERNANDES (Lições de Direitos Reais, p. 335), não longe, resume: “configura[mos] a
compropriedade como um conjunto de direitos de propriedade — qualitativamente iguais — sobre uma
mesma coisa e, como tal, autolimitados.”
61
“A compropriedade no Direito Civil Português”, RLJ, ano 589, p. 17 e ss..
62
Direito das Coisas, p. 228 e ss..
63
Direitos Reais, p. 256: “a construção que nos parece traduzi com mais exactidão a realidade
correspondente, embora não isenta de dificuldades, será a ideia tradicional — cada um dos comproprietários
tem direito a uma quota ideal ou intelectual do objecto da compropriedade”.
24
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
d) Posição adoptada
42. Antes de mais, cremos que a decisão há-de fazer-se aderindo a uma das duas
últimas teorias sinteticamente abordadas. Isto é, afastamo-nos radicalmente da teoria da
pluralidade de direitos por três fundamentais razões.
Em primeiro lugar, porque admite que se exerçam vários direitos de propriedade
sobre a mesma coisa. Ora, como vimos, quer a propósito da noção de coisa susceptível
de constituir objecto de um direito real, quer quando observámos o regime jurídico dos
vários direitos reais, sobre cada coisa (autónoma, certa e determinada) incide,
tendencialmente, apenas um direito real. Isto é, embora em casos contados — como
acontece na hipoteca e no usufruto — o legislador admita que um direito real incida sobre
parte de coisa, os direitos desta natureza abrangem, como regra, toda a coisa. E em lado
algum se prevê uma excepção para o direito de propriedade. Bem pelo contrário. Os arts.
408.º, n.º 2 e 1344.º provam que o direito de propriedade goza da característica da
totalidade, de modo que sobre cada coisa pode existir apenas um direito real. “Não é
concebível, com efeito, a incidência de mais do que um direito de propriedade sobre a
mesma coisa. o direito de propriedade tem um conteúdo geral: confere ao titular todas as
utilidades de que a coisa seja susceptível. Por consequência, a constituição de um direito
de propriedade sobre certa coisa, a favor de determinada pessoa, exclui automaticamente
a possibilidade de se constituírem em relação ao mesmo objecto direitos idêntico a favor
de quem quer que seja.”66 Em suma: a correcta posição quanto à natureza jurídica da
64
No mesmo sentido, RUI PINTO DUARTE, Curso de Direitos Reais, p. 62, MENEZES LEITÃO, Direitos Reais,
p. 216-217.
65
Direitos Reais, p. 246.
66
HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 244-245.
No mesmo sentido, escrevem PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA (Código Civil Anotado, vol. III, p. 345):
“não se concebe, logicamente, que com o direito de propriedade, cuja vocação tende a garantir ao titular
todas as utilidades que a coisa possa prestar, concorram sobre a mesma coisa outro ou outros direitos da
mesma natureza. (…) Com a propriedade, por virtude de uma característica desse direito, que é a sua
elasticidade ou compressibilidade, poderão sem dúvida concorrer, em relação à mesa coisa, outros direitos
reais limitados, como o usufruto, as servidões ou os direitos reais de garantia. A coexistência destas várias
figuras é possível, porque há uma diferença de grau e de conteúdo entre elas, cabendo sempre ao direito de
25
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
44. Uma posição sobre a natureza jurídica da compropriedade também não pode
perder de vista que “uma quota ideal ou abstracta não pode constituir objecto de um
direito de propriedade”, já que o direito real de propriedade — como poder directo e
imediato que é — incide sobre coisa autónoma, certa e determinada.69 De outro modo: a
propriedade não pode não deixar de ter por objecto uma coisa susceptível de constituir
26
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
objecto de direitos reais, não havendo, então, como aceitar um direito de propriedade,
pertencente a cada um dos consortes, que tenha por objecto uma parte ideal da coisa.70
70
No mesmo sentido, CARVALHO FERNANDES, Direitos Reais, p. 333: “não se nos afigura possível partilhar
esta tese, por ela envolver, nomeadamente, uma concepção bem difícil de ajustar à estrutura típica dos
direitos reais. Na verdade, estes são direitos sobre coisas, pelo que só no caso de se não vislumbrar outra
forma de configurar o instituto deveria ser tomada em consideração a existência de um direito real sobre
uma quota, podendo conduzir mesmo à atribuição, à compropriedade, de uma natureza sui generis. Mas
não é o caso.”
A este propósito, uma das críticas que é também frequentemente lançada contra a teoria clássica ou
tradicional é a de que ela levará, num seguimento lógico, a que se afirme que a coisa comum é de ninguém
— se a cada um dos comproprietários pertence a quota ideal da coisa, esta, em si mesma, na sua autonomia,
não pertenceria a ninguém. Veja-se, por exemplo, o que escrevem PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA,
apoiando-se em BIANCA (Código Civil Anotado, vol. III, p. 345). Não iríamos tão longe. Neste ponto em
particular, aderimos à observação de ORLANDO DE CARVALHO: “a quota ideal da coisa é um simples modo
de considerar a coisa, de referir como se participa da coisa, não uma coisa diferente transcendente a esta
última. A hipostasiação do modo-de-ver em modo-de-ser é não apenas uma subversão da realidade, as uma
estranha ignorância do que são bens corpóreos: que não são obviamente meros produtos mentais e muito
menos maneiras de conceber um certo bem (…). Um terço indeterminado de uma coisa é sempre um terço
dessa coisa e só isso — não outra coisa inscrita nessa coisa como a obra de engenho no respectivo corpus
mechanicum (o romance no respectivo livro ou o invento na respectiva máquina)” — Direito das Coisas,
p. 230.
71
Aqui é preciso sublinhar que a teoria da comunhão não avança até ao ponto de afirmar que a
compropriedade faz surgir uma entidade autónoma, não converte, pois, uma pluralidade inorgânica dos
vários contitulares numa entidade colectiva orgânica, corporativamente estruturada, para usar as expressões
de PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA (Código Civil Anotado, vol. III, p. 346). “Há, é certo, dentro do
instituto da compropriedade, determinada organização, que se revela na forma como são exercidas
(mediante deliberação maioritária ou por consenso unânime dos consortes) certas faculdades. Mas, para dar
expressão jurídica adequada a esse esquema embrionário de organização, não é necessário recorrer ao
expediente artificial de converter a pluralidade inorgânica dos consortes numa unidade subjectiva abstracta,
distinta de cada um deles. São soluções que cabem perfeitamente dentro do esquema lógico da simples
contitularidade do direito.” Como contribui CARVALHO FERNANDES (Direitos Reais, p. 333), “esta solução
não encontra (…) na lei portuguesa qualquer ponto de apoio e não tem merecido também o acolhimento da
doutrina.”
72
Também PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 345.
27
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
a) Comunhão de direitos
73
V. infra sobre propriedade horizontal.
74
Código Civil Anotado, vol. III, p. 347.
75
É um instituto de origem germânica, pois que no antigo direito alemão cada membro da família teria um
direito permanente e indivisível ao património familiar, não se fazendo qualquer referência a quotas, logo
porque nem mesmo idealmente seria concebível uma repartição — OLIVEIRA ASCENSÃO, Direitos Reais,
p. 172-173.
28
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
c) Sociedade civil
76
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 348.
77
A existência da comunhão germânica apenas existe, como é óbvio, entre o chamamento e o momento
imediatamente anterior à partilha, envolvendo a herança jacente e a herança pro diviso.
78
A extinção da mão comum implica, obviamente, a divisão do património; esta partilha far-se-á pela
atribuição de um direito sobre uma fracção ideal do conjunto, se que se possa exigir que essa seja integrada
por determinados bens ou por uma quota em cada um dos bens a partilhar — PIRES DE LIMA/ANTUNES
VARELA, Código Civil Anotado, vol. III, p. 348.
79
HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 236.
80
Há, até, quem veja na compropriedade uma entidade distinta da do conjunto dos consortes. Esta hipótese
não colheu seguidores na doutrina nacional, logo por falta de apoio da lei positiva. Cfr. CARVALHO
FERNANDES, Lições de Direitos Reais, p. 333.
29
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
lucrativa que a estas se atribui. Assim sendo, o que especificamente distingue a sociedade
civil da compropriedade é o facto de aquela ter por escopo o desenvolvimento de uma
actividade lucrativa e não a fruição de uma coisa nos mesmos termos em que o pode fazer
qualquer proprietário.81
50. Diz-se que há concurso de direitos reais sobre uma mesma coisa quando sobre
esta incidem direitos reais diferentes — por exemplo, A, proprietário de um imóvel,
constitui, sobre ele, um direito de usufruto a favor de B, que, por sua vez, aceita a
constituição de uma servidão de passagem em benefício do prédio vizinho.
Evidentemente, os titulares de direitos reais diferentes não são sujeitos colocados
em posição qualitativamente igual. O que está em imediata contradição com o que sucede
na compropriedade: “os comproprietários exercem, em conjunto, todos os direitos que
pertencem ao proprietário singular” (art. 1405.º, n.º 1).
e) Propriedade horizontal
81
Para maiores desenvolvimentos, v. HENRIQUE MESQUITA, Direitos Reais, p. 236 e ss..
30
MÓNICA JARDIM/MARGARIDA COSTA ANDRADE 2022/2023
Índice
12. Compropriedade ....................................................................................................... 1
12.1. Noção ....................................................................................................................... 1
12.2. Regime jurídico ......................................................................................................... 1
a) Fontes ............................................................................................................................................. 1
b) Poderes dos comproprietários ....................................................................................................... 4
i. Uso da coisa ................................................................................................................................ 8
ii. Fruição da coisa comum e divisão de outras vantagens ou proventos .................................. 11
iii. Administração ordinária da coisa comum .............................................................................. 11
iv. Administração extraordinária da coisa ................................................................................... 14
v. Actos de alienação e oneração da coisa comum ..................................................................... 16
vi. Conclusão ................................................................................................................................ 17
12. 3. Extinção da compropriedade.................................................................................. 18
a) Dissolução extrajudicial ................................................................................................................ 19
b) Dissolução judicial ........................................................................................................................ 22
12. 4. Natureza jurídica .................................................................................................... 23
a) Teoria da pluralidade de direitos de propriedade ....................................................................... 23
b) Teoria da divisão ideal da coisa (teoria tradicional) ..................................................................... 24
c) Teoria da comunhão..................................................................................................................... 24
d) Posição adoptada ......................................................................................................................... 25
12.5. Figuras próximas ..................................................................................................... 28
a) Comunhão de direitos .................................................................................................................. 28
b) Comunhão de mão comum.......................................................................................................... 28
c) Sociedade civil .............................................................................................................................. 29
d) Concurso de direitos reais sobre a mesma coisa ......................................................................... 30
e) Propriedade horizontal ................................................................................................................ 30
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