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Litisconsórcio no novo CPC:

conceito, classificação e hipóteses de


cabimento
CONCEITO

Litisconsórcio, etimologicamente, significa consórcio (pluralidade de partes) na instauração


da lide; a mesma sorte na lide.

Tecnicamente, dá-se o nome de litisconsórcio quando duas ou mais pessoas litigam, no


mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente (art. 113). É hipótese, portanto, de
cúmulo subjetivo (de partes) no processo.[1]

Admite-se litisconsórcio em qualquer processo ou procedimento, inclusive nas causas da


competência dos Juizados Especiais (art. 10 da Lei no 9.099/95).

Conquanto nem sempre seja obrigatória, a formação do litisconsórcio não fica ao alvedrio
das partes. O litisconsórcio é disciplinado pela lei. Em alguns casos, em razão da relevância
do direito controvertido, o legislador condicionou a validade do processo à integração de
marido e mulher no polo passivo (art. 73, § 1º). Em outros, o litisconsórcio, embora facultativo,
só pode ser formado se entre os litisconsortes houver comunhão de direitos ou obrigações,
conexão ou afinidade (art. 113, I à III).

Litisconsórcio distingue-se de intervenção de terceiro. Os litisconsortes são partes originárias


do processo, ainda que, em certas hipóteses, seus nomes não constem da petição inicial,
como, por exemplo, quando o juiz determina a citação dos litisconsortes necessários (art.
115, parágrafo único). Terceiro quer dizer estranho à relação processual estabelecida entre
autor e réu. O terceiro torna-se parte (ou coadjuvante da parte) em processo pendente.

CLASSIFICAÇÃO DO LITISCONSÓRCIO

O litisconsórcio pode ser classificado sob diversos aspectos.

Quanto à posição das partes, o litisconsórcio pode ser ativo, passivo ou misto. Ativo quando
a pluralidade for de autores; passivo quando a pluralidade for de réus; e misto quando a
pluralidade for de autores e réus.

Quanto ao momento de sua formação, o litisconsórcio pode ser inicial ou incidental (ulterior).
Inicial quando sua formação é pleiteada na petição inicial. Várias pessoas envolvidas em
acidente de veículos, em conjunto, ingressam com ação de reparação de danos contra o
ofensor (litisconsórcio ativo inicial). O litisconsórcio incidental ou ulterior ocorre quando o
litisconsorte não é indicado na petição inicial, e poderá se formar das seguintes maneiras:

a) em razão de uma intervenção de terceiro, como ocorre no chamamento ao processo e na


denunciação da lide;
b) pela sucessão processual, quando os herdeiros ingressam no feito sucedendo a parte
falecida;

c) pela conexão, se determinar a reunião das demandas para processamento conjunto;

d) por determinação do juiz, na denominada intervenção iussu iudicis, nas hipóteses de


litisconsórcio passivo necessário não indicado na inicial. Dispõe o art. 115, parágrafo único,
que “o juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser
litisconsortes, no prazo que assinar, sob pena de extinção do processo”.

Quanto à obrigatoriedade da formação, o litisconsórcio classifica-se em necessário


(obrigatório) e facultativo.

O litisconsórcio necessário decorre de imposição legal ou da natureza da relação jurídica,


hipóteses em que ao autor não resta alternativa senão a formação do litisconsórcio.

Ações que versem sobre direito real imobiliário devem ser propostas contra marido e mulher.
Na ação de usucapião, a lei exige não só a citação daquele em nome de quem estiver
registrado o imóvel usucapiendo, mas também a citação dos confinantes (art. 246, § 3º),
exceto quando a demanda tiver por objeto unidade autônoma de prédio em condomínio,
caso em que a citação será dispensada.

A formação do litisconsórcio facultativo fica, a princípio, a critério do autor, desde que


preenchidos os requisitos legais, isto é, quando entre os litisconsortes (ativos ou passivos)
houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; quando entre as causas
houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir; ou quando ocorrer afinidade de questões
por ponto comum de fato ou de direito.

O litisconsórcio facultativo, por sua vez, pode ser irrecusável ou recusável. Geralmente,
preenchidos os requisitos legais, o juiz não pode recusar o litisconsórcio pretendido pelo
autor. Por isso, dissemos que, a princípio, a formação depende da vontade do autor, sendo
irrelevante a irresignação do réu ou do juiz. Entretanto, pode ocorrer de o número de autores
ou de réus alcançar nível extremamente elevado (litisconsórcio multitudinário),
comprometendo a rápida solução do litígio (efetividade), dificultando a defesa ou o
cumprimento da sentença. O desmembramento do litisconsórcio ativo multitudinário poderá
ser decretado de ofício pelo juiz ou a pedido da parte ré. Nesta última hipótese, o
requerimento interromperá o prazo de resposta, que recomeçará a correr da intimação da
decisão.

Quanto à uniformidade da decisão, podemos classificar o litisconsórcio em simples e unitário.


Será simples o litisconsórcio quando a decisão, embora proferida no mesmo processo, puder
ser diferente para cada um dos litisconsortes. A mera possibilidade de decisões diferentes já
tornará simples o litisconsórcio, como nos casos em que vários correntistas de um banco
ajuízam, em conjunto, ação de cobrança de expurgos inflacionários. Será unitário quando, ao
contrário, a demanda tiver de ser decidida de forma idêntica para todos os que figuram no
mesmo polo da relação processual. A caracterização do litisconsórcio unitário pressupõe a
discussão de uma única relação jurídica indivisível, [2]por exemplo, quando dois condôminos
atuam em juízo na defesa da coisa comum.

Lembrete:
· A obrigação solidária nem sempre implicará formação de litisconsórcio unitário. Exemplo:
na solidariedade passiva, um dos devedores opõe uma exceção pessoal ao credor. Nesse
caso, obviamente, a sentença será diferente em relação àquele que opôs a exceção pessoal
e os demais codevedores.

HIPÓTESES LEGAIS DE LITISCONSÓRCIO

O art. 113 elenca as hipóteses de litisconsórcio facultativo, ao passo que o art. 114 especifica
as condições em que o litisconsórcio é necessário.

Vejamos exemplos que ilustram as hipóteses do art. 113:

a) Comunhão de direitos ou obrigações relativamente à lide: cada condômino pode


reivindicar todo o bem indiviso e não apenas a sua fração ideal (CC, art. 1.314, e RT 584/114).
Todavia, em razão da comunhão de direitos, todos os condôminos ou alguns deles podem
demandar o bem comum em litisconsórcio (litisconsórcio facultativo ativo). Havendo
solidariedade passiva (comunhão de obrigações), o credor pode demandar um, alguns ou
todos os devedores conjuntamente (litisconsórcio facultativo passivo).

b) Conexão pelo objeto ou pela causa de pedir: credor executa devedor principal e avalista,
conjuntamente (o objeto mediato visado contra ambos é idêntico = crédito). Quanto à
conexão pela causa de pedir, pode-se repetir o exemplo acima. Vários passageiros acionam
a empresa de ônibus com base na mesma causa de pedir (o acidente = causa remota).

c) Afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito: na hipótese, existe


apenas afinidade, um liame, ao passo que na conexão, há identidade entre elementos da
demanda (objeto ou causa de pedir). Rebanhos de bovinos, pertencentes a vários
proprietários, sem ajuste entre eles, invadem uma fazenda. Não há conexão, nem direitos e
obrigações derivam dos mesmos fundamentos de fato ou de direito, pois os fatos são
diversos. No entanto, há uma afinidade de questão, pois um ponto de fato é comum: a
invasão simultânea do gado.[3]

Ressalte-se que a nova redação suprimiu o inciso II, do art. 46, do CPC de 1973, que tratava
da hipótese de litisconsórcio quando os direitos e obrigações derivavam do mesmo
fundamento de fato ou de direito. A alteração seguiu entendimento doutrinário que
considerava tal previsão desnecessária, já que a identidade acerca dos fundamentos (de fato
ou de direito) é capaz de gerar conexão pela causa de pedir, hipótese já contemplada no
inciso III, do art. 46, do CPC/73 (e atual art. 113, II).

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