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LITISCONSÓRCIO E INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

DANIEL COLNAGO RODRIGUES


Doutorando e Mestre em Direito Processual Civil (USP). Advogado.
LITISCONSÓRCIO
- Conceito: Pluralidade de partes

- Fundamentos: Economia processual (ex: mesma perícia) e Harmonia de julgados (dois servidores, na
mesma situação, devem ter tratamento uniforme)

- Classificação:

A- Posição do litisconsorte: ativo, passivo e misto.

B- Momento de formação: inicial (litisconsórcio contemporâneo à propositura da demanda) e ulterior


(ex: citação de litisconsorte necessário; intervenção de terceiro).

C- Uniformidade da decisão: simples (ex: usucapião) e unitário (ex: condôminos que ajuízam
reintegração de posse da coisa comum).

D – Obrigatoriedade de formação: necessário (indispensabilidade de formação, sob pena de vício


processual. Ex: usucapião) ou facultativo (noção por exclusão. Ex: condômino para ajuizar
reivindicatória).
LITISCONSÓRCIO UNITÁRIO X SIMPLES

1. UNITÁRIO
- Provimento de mérito tem que ser igual a todos litisconsortes, não se admitindo julgamento diverso – ART.
116 NCPC
- Para que seja unitário, depende da natureza jurídica da relação jurídica discutida – UNA e INDIVISÍVEL. Ex. MP
x marido e mulher para anular casamento.
- Ligação entre unitariedade e colegitimação – Exs. Dois condôminos para defesa da coisa comum; ACP por MPE
e MPF

Art. 116. O litisconsórcio será unitário quando, pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o
mérito de modo uniforme para todos os litisconsortes.

2. SIMPLES
- Basta a mera possibilidade de a decisão ser diferente.
- Pluralidade de relações jurídicas ou uma cindível
LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO X FACULTATIVO

NECESSÁRIO
- Questão tormentosa é saber quando um litisconsórcio é necessário
- CPC-73 cometia erro ao confundir o necessário com o unitário
- NCPC – Art. 114 – Será necessário em duas situações.
A- Disposição de lei. Ex. Usucapião
B- Natureza da relação jurídica. Geralmente, o unitário tende a ser necessário. No entanto, se for unitário ativo,
não pode ser necessário, já que não se pode condicionar a ida de alguém ao Judiciário à vontade de outro.
Logo, a unitariedade passiva leva, quase sempre, à obrigatoriedade (exceção – litisconsórcio entre devedores
solidários de obrigação indivisível – pode cobrar de apenas um, embora unitário). Já a unitariedade ativa leva à
facultatividade – Ex. condôminos em ação reivindicatória.

Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação
jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes.
RESUMINDO:

A- Litisconsórcio necessário unitário

B- Litisconsórcio necessário simples

C- Litisconsórcio facultativo unitário

D- Litisconsórcio facultativo simples


QUESTÕES:

-EXISTE LITISCONSÓRCIO ATIVO NECESSÁRIO NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO?

- O LITISCONSORTE FACULTATIVO UNITÁRIO É ATINGIDO PELA COISA JULGADA?


REGIME DE TRATAMENTO DOS LITISCONSORTES

- Problema – ato de um atinge o outro?


- Condutas determinantes/negativas x alternativas/positivas
- Depende se unitário ou simples

- Três regras – Vide Art. 117


A- Conduta determinante nunca atinge – No unitário é ineficaz se todos não ratificarem
B- Conduta alternativa no SIMPLES não beneficia – salvo provas e fato comum na defesa
C- Conduta alternativo no UNITÁRIO beneficia, isto é, os efeitos são estendidos, até porque a decisão tem que
ser igual para todos.

Art. 117. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes
distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os
outros, mas os poderão beneficiar.
MODALIDADES ESPECIAIS DE LITISCONSÓRCIO

A- LITISCONSÓRCIO SUCESSIVO – Pedido de um litisconsorte depende do acolhimento do pedido de


outro. Ex. Filho e mãe que pedem investigação paternidade e, se acolhido, despesas com parto.

B- LITISCONSÓRCIO EVENTUAL – Pedido contra um litisconsorte só será analisado se o pedido contra


outro não for analisado. Ex. Ação contra sociedade e, se não houver patrimônio e tiver fraude, contra
sócio.

C- LITISCONSÓRCIO ALTERNATIVO – Cada pedido alternativo – sem preferência – é dirigido contra um


réu. Ex. Consignação em pagamento – autor x possíveis credores.
Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente,
quando:
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;
II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir;
III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito.

§ 1º O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de


conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do
litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença.
§ 2o O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da
intimação da decisão que o solucionar.

ENUNCIADO 116 FPPC:


Quando a formação do litisconsórcio multitudinário for prejudicial à defesa, o juiz poderá substituir a sua
limitação pela ampliação de prazos, sem prejuízo da possibilidade de desmembramento na fase de
cumprimento de sentença.
INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

- Premissas: Efeitos da decisão e formas de se tornar parte

- Conceito – Fato jurídico processual por meio do qual um terceiro, autorizado por lei, ingressa em processo
pendente, tornando-se parte.

- Fundamentos – Eficiência processual, Duração razoável do processo e Contraditório.

- Modalidades – Espontânea e provocada

- Controle judicial e cabimento (processo de conhecimento e execução)

- Cabimento – regra - processo de conhecimento e algumas em execução.


Panorama das intervenções de terceiros

CPC/1973 CPC/2015
ASSISTÊNCIA

- Considerações gerais

- Assistência simples
- Poderes do assistente simples / Combinação das regras decorrentes dos arts.
121, par. ún., e 122, CPC / Análise do par. ún. do art. 121 do CPC: omissões negociais
e não negociais do assistido / Eficácia preclusiva da intervenção

- Assistência litisconsorcial
Da Assistência Simples
Art. 121. O assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-
á aos mesmos ônus processuais que o assistido.
Parágrafo único. Sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente será considerado seu
substituto processual.
Art. 122. A assistência simples não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da
ação, renuncie ao direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos.
Art. 123. Transitada em julgado a sentença no processo em que interveio o assistente, este não poderá, em
processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que:
I - pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos do assistido, foi impedido de
produzir provas suscetíveis de influir na sentença;
II - desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu.

Da Assistência Litisconsorcial
Art. 124. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a sentença influir na relação
jurídica entre ele e o adversário do assistido.
DENUNCIAÇÃO DA LIDE

- Generalidades

- Facultatividade da denunciação da lide

- Posição processual do denunciado

- Hipóteses de denunciação (art. 125, CPC)


Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes:
I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que
possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam;
II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem
for vencido no processo.
§ 1o O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar
de ser promovida ou não for permitida.
§ 2o Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor imediato
na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover
nova denunciação, hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma.

Art. 128, Parágrafo único. Procedente o pedido da ação principal, pode o autor, se for o caso, requerer o
cumprimento da sentença também contra o denunciado, nos limites da condenação deste na ação regressiva.

Art. 129. Se o denunciante for vencido na ação principal, o juiz passará ao julgamento da denunciação da lide.
Parágrafo único. Se o denunciante for vencedor, a ação de denunciação não terá o seu pedido examinado, sem
prejuízo da condenação do denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência em favor do denunciado.
QUESTÃO PARA DEBATE:

Suponha que A tenha ajuizado ação reparatória em face de B, que denunciou a lide
à C. A questão é: se o juiz acolher o pedido de A, julgando igualmente procedente a
pretensão regressiva de B, poderia condenar C ao pagamento dos honorários
sucumbenciais devidos a A?
CHAMAMENTO AO PROCESSO

- Conceito
- Finalidade
- Casos de chamamento ao processo.

Art. 130. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu:


I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu;
II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles;
III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida
comum.

Art. 132. A sentença de procedência valerá como título executivo em favor do réu que satisfizer a dívida,
a fim de que possa exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou, de cada um dos codevedores, a sua
quota, na proporção que lhes tocar.
INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

- Generalidades

- Aspectos processuais:

- Natureza → Requerimento
- Cabimento?
- Momento: petição inicial?
- Termo inicial para fraude à execução

- Honorários sucumbenciais?
Não: STJ, REsp 1.845.536, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 09.06.2020.

- Extensão da defesa do sócio


Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou
do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo.

Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no


cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial.
§ 2o Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for requerida
na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica.

Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em fraude de
execução, será ineficaz em relação ao requerente.

Art. 792, § 3º. Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a
partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar.

No mesmo sentido do art. 792, § 3º, CPC:


STJ, REsp 1.763.376, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 16.11.2020.
AMICUS CURIAE
Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da
demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a
requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de
pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo
de 15 (quinze) dias de sua intimação.

§ 1o A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza a
interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3o.

§ 2o Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes
do amicus curiae.

§ 3o O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas
repetitivas.
Intervenção de terceiro especial na ação de alimentos (art. 1.698 do Código Civil)
Imagine a seguinte situação: Diego, 18 anos, faz faculdade e vive sozinho, distante dos seus genitores, João e
Maria, já divorciados. Para sua sobrevivência, Diego ajuíza ação de alimentos contra seu pai. Em sua defesa,
João alega que Maria, sua ex esposa, também precisa participar do processo, já que o sustento do filho é
dever de ambos os genitores, pai e mãe. Diante do exposto, pergunta-se: pode o juiz, acolhendo o pedido de
João, chamar Maria para participar do processo?

No REsp n. 1.715.438/RS, o STJ entendeu que NÃO!

É que, em se tratando de credor de alimentos que reúna plena capacidade processual, como é o caso de
Diego, maior, cabe a ele, exclusivamente, provocar a integração posterior do polo passivo, devendo a sua
inércia ser interpretada como concordância tácita com os alimentos que puderem ser prestados pelo réu por
ele indicado na petição inicial (no caso, seu pai João), sem prejuízo de eventual e futuro ajuizamento de ação
autônoma de alimentos em face dos demais coobrigados, a exemplo de Maria, sua mãe. Para o STJ, portanto,
a natureza jurídica dessa convocação posterior do outro genitor, prevista no art. 1.698 do CC/2002, é de
litisconsórcio facultativo ulterior simples.
CONTATO:

danielcolnago@gmail.com

@danielcolnago

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