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O saque é o ato de criação do título de crédito. A doutrina distingue CRIAÇÃO de EMISSÃO, dizendo que
o primeiro é a confecção material do documento e a segunda é a entrega ao tomador.
Para Fábio Ulhoa, essa distinção perdeu a importância pelo disposto no art. 16 da LUG (portador de boa-fé).
Para ele, criação e emissão são palavras sinônimas.
A Letra de Câmbio é a ordem que o sacador dá ao sacado, no sentido de pagar determinada importância ao
tomador.
Antônio deve R$ 1.000,00 para Carlos. Mas Antônio é credor de R$ 1.000,00 de Bernardo.
Então Antônio (Sacador) emite/saca uma Letra de Câmbio contra Bernardo (Sacado), a favor
de Carlos (Beneficiário) que no dia do vencimento cobrará de Bernardo os R$ 1.000,00.
O sacado, a partir do momento que dá o “aceite”, passa a ser classificado como “aceitante”.
Já o sacador, aquele que cria a letra, é classificado como “codevedor”. Responde juntamente com o devedor
principal.
o Art. 3º da LUG: Determina que a mesma pessoa pode ocupar simultaneamente mais de
uma situação jurídica.
Emitida a letra pelo sacador, o título é entregue ao tomador que deve procurar o sacado normalmente 2
vezes:
Para que o documento produza os efeitos de letra de câmbio, ele deve atender a determinados requisitos
legais. Por isso, a letra de câmbio é um documento formal.
Sem eles, o documento servirá como simples instrumento de prova em ação de conhecimento.
(a) Palavra “letra” ou “letra de câmbio” inserida no texto. É chamada cláusula cambiária. A
LUG utiliza apenas a palavra “letra”, mas isso se explica porque em Portugal a Letra de Câmbio é
conhecida apenas como Letra e na tradução não houve a complementação. Fran Martins diz que em
razão do rigorismo do direito cambial não se admite apenas a expressão “letra”. Fábio Ulhoa
entende diferente, ou seja, não há nenhuma ineficácia do título. Pode ser “letra” ou “letra de
câmbio”.
(b) A Letra de Câmbio é uma ordem incondicional de pagamento de quantia certa, não
dependendo do implemento de nenhuma condição para ser exigida. Se o sacado entende que
somente deve pagar a letra de câmbio com o implemento de condições, deve recusá-la. Além disso,
a colocação de condições na letra corresponde à uma recusa parcial, que acarreta o seu vencimento
antecipado.
Importante 1: Quanto ao valor do título, admite-se sempre a cláusula de correção
monetária. Quanto aos juros, na letra de cambio à vista ou a certo termo da vista pode haver
estipulação, no título, de juros (art. 5º da LUG). Nas demais (letra de cambio em data
certa e a certo termo de data), os juros só poderão ser cobrados a partir do vencimento,
em caso de inadimplemento.
(c) O nome do sacado. O sacado só estará obrigado após o aceite (que é o reconhecimento da
validade jurídica do título. É irretratável, uma vez dado não há como modificá-lo. Quem dá o aceite
reconhece o título da forma como ele se mostra).
(d) A época do pagamento. É a previsão da data do vencimento. Sua omissão implica em considerar o
título pagável à vista (art. 2º Dec. 57.663/66).
(f) Identificação do tomador. Não produz efeito a letra de câmbio ao portador, embora possa existir
endosso em branco, que é aquele que não identifica o endossatário/portador/credor.
(g) Data e Lugar do saque: Apesar de, aparentemente, não ser importante, há farta jurisprudência que
nega a executividade aos títulos de crédito que desatende a esse requisito. Serve, por exemplo, para
se aferir se naquela data, o sacador era ou não capaz. O Lugar do Saque é lugar ao lado do nome do
sacador.
(h) Assinatura do sacador. O sacador é coobrigado pelo pagamento da letra, pois se o sacado
(devedor principal) não aceita ou não paga, o credor irá cobrar o sacador. O sacador garante a
aceitação e o pagamento da letra de câmbio (Art. 9ª LUG).
IMPORTANTE: REQUISITOS ESSENCIAIS E NÃO ESSENCIAIS
No caso de ausência de um ou alguns dos requisitos essenciais, a própria LUG determinou que o título não
produzirá efeito como letra (art. 2º da LUG). Ou seja, não será considerado título de crédito e, portanto, não
legitima o ajuizamento de ação de execução.
Logo, é importante definir quais desses requisitos são essenciais e quais deles não são essenciais, pois a
ausência de requisitos essenciais implica em não considerar o título uma letra de câmbio.
Para Fran Martins, são requisitos não essenciais: Lugar do pagamento, Lugar do saque e Época do
pagamento.
Para Fábio Ulhoa, somente a época do pagamento é requisito não essencial, os demais são essenciais,
pois, na ausência deles, o título não produzirá efeito de letra de câmbio.
Justifica a sua posição dizendo que a lei aponta que caso falte, no título, a menção ao lugar do pagamento ou
ao lugar do saque, há critérios equivalentes para suprimento. Apesar disso, caso estes últimos também faltem
no título (ou seja, faltem os critérios equivalentes), ele não produzirá o efeito de letra de câmbio.
POR ISSO, PARA ELE, SÓ A ÉPOCA DO PAGAMENTO É NÃO ESSENCIAL, POIS POSSUI
UMA REGRA EQUIVALENTE QUE SEMPRE EXISTIRÁ.
O saque, assim como os demais atos cambiais, pode ser praticado por PROCURADOR COM PODERES
ESPECIAIS.
É plenamente jurídico que a pessoa se obrigue, em decorrência de ato cambial, através de procurador.
A exorbitância praticada pelo procurador gera a consequência prevista no art. 8º da LUG, ou seja, o
procurador responderá pessoalmente pela obrigação.
Para Fábio Ulhoa, a CLÁUSULA-MANDATO é plenamente válida, como forma de proteção do direito dos
credores. Mas o STJ firmou posicionamento considerando-a nula:
Qualquer título de crédito pode ser emitido e circular validamente, em branco ou incompleto.
Os requisitos essenciais da lei não precisam estar totalmente atendidos no momento em que o sacador assina
o documento, ou o entrega ao tomador.
Vai configurar uma espécie de MANDATO, ou seja, com entrega do título em branco ou incompleto,
somente com a assinatura, o emitente está confiando que o portador irá preenchê-lo com os seus requisitos.
Isso o investe de poderes para, em nome do emitente, completar o título.
O elemento essencial desse caso é a questão da BOA-FÉ do mandatário do devedor. Caso venha a exorbitar
as instruções recebidas, ou lance dado inverídico, o sucesso da execução ficará condicionada a prova dessa
exorbitância (má-fé).
A ordem de pagamento na letra de câmbio é dirigida ao sacado. Este não tem nenhuma obrigação cambial de
cumprir a ordem, enquanto não manifesta sua concordância, através de ato lançado no próprio título. Esse
ato é o ACEITE.
O tomador recebe a letra de câmbio do sacador e deve procurar o sacado para apresentar-lhe a letra e ver se
aceita a ordem.
- Admite-se também o aceite no VERSO, desde que com a expressão “aceito” ou outra equivalente (art. 25
LUG).
IMPORTANTE: Mas deve ser lançado o aceite no próprio título, por força do princípio da literalidade.
Exceção: O sacado responde, como se tivesse aceitado, perante a pessoa para quem eventualmente ele
comunicara a sua intenção primeira de aceite (Art. 29 da LUG).
O aceite é FACULTATIVO. Não há meios jurídicos para vincular o sacado ao pagamento da letra de
câmbio, contrariamente à sua vontade. Na duplicata a regra é diferente, ou seja, o aceite é obrigatório.
Como o aceite é FACULTATIVO, a RECUSA do sacado é plenamente válida, não lhe causando qualquer
prejuízo.
a) TOTAL: Ocorre quando o sacado simplesmente não aceite a ordem que lhe é dirigida.
b) PARCIAL: A recusa parcial do aceite configura-se em duas espécies:
i. Aceite Limitativo: O sacado reduz o valor da obrigação que ele assume. EX. LC no valor
de R$ 100,00, o sacado coloca “aceito até R$ 80,00”.
ii. Aceite Modificativo: Também conhecido com Aceite Domiciliado. O sacado introduz
mudança nas condições de pagamento da LC, por exemplo, postergando seu vencimento
ou alterando a praça de pagamento (art. 27 LUG).
A consequência da RECUSA TOTAL OU PARCIAL de aceite será o VENCIMENTO ANTECIPADO
DO TÍTULO, tornando-o exigível de imediato do(s) codevedor(es) (art. 43 da LUG).
Mas no aceite é possível a aposição de condição suspensiva (até o implemento da condição, a obrigação fica
suspensa; com a ocorrência da condição, a obrigação pode ser exigida) ou resolutiva (com o implemento da
condição extingue-se a obrigação). É também modalidade de aceite modificativo, que acarreta o
vencimento antecipado da obrigação contra o sacador. Mas a ação de regresso do sacador ficará
condicionada ao implemento da condição constante do aceite.
Sabemos que a recusa do aceite, parcial ou total, produz o vencimento antecipado da obrigação contra o
sacador.
Para se resguardar, o sacador pode incluir na letra uma cláusula proibindo a sua apresentação ao sacado antes
da data do vencimento ou incluindo cláusula com data limite, antes da qual a apresentação ao sacado é
vedada. Essa é a CLÁUSULA NÃO ACEITÁVEL.
Essa cláusula não exonera o sacador do pagamento; apenas evita o vencimento antecipado.
“aos trinta e um de janeiro de ..., pagará V. Sa. por esta única via de letra de câmbio não
aceitável, a importância ....”
Conceito: É a declaração eventual ou sucessiva pela qual o signatário transfere o título e também o direito
dele emergente a terceiros, torna-se codevedor.
Um dos atributos dos títulos de crédito é a sua negociabilidade, ou seja, a sua facilidade de circulação no
mercado do título, bem como dos direitos dele emergentes.
Também chamado Translativo é o ato típico de circulação cambial, pelo qual o credor de um título de
crédito com a cláusula à ordem transmite o título e os seus direitos a outrem.
Com o endosso em branco, a letra passa a ser título ao portador, circulando por simples tradição. O portador
de uma letra com endosso em branco tem 5 alternativas (art. 14 da LUG):
Aspectos importantes:
Os títulos de crédito trazem em si, implicitamente, a possibilidade de transferência a outras pessoas. Ou seja,
em regra, a letra de câmbio é à ordem, mesmo que não conste expressamente no título, permitindo a sua
transferência via endosso.
Entretanto, é possível que o sacador impeça a sua circulação por endosso, inserindo no título a cláusula não à
ordem.
Isso irá acarretar, em relação à letra de câmbio, a circunstância de que ela somente poderá ser transferida pode
meio de cessão civil de crédito.
Se o endossante quiser se exonerar da responsabilidade pelo pagamento do título, deve inserir a cláusula
“SEM GARANTIA”, que apenas o endosso admite. Pode ser feito através da expressão, “pague-se, sem
garantia, a fulano”.
Verifica-se tal endosso quando, comprovadamente, o endosso ocorre após o protesto por falta de pagamento
ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto. É que, normalmente, o endosso pleno só
pode ocorrer até o vencimento do título, que corresponde à sua vida normal.
Vencido, o título não deve circular mais por endosso. Por isso, o legislador procurou dar tratamento diferente
ao endosso quando realizado após o vencimento do título.
Após a morte do título, este não deveria viver, não poderia e nem deveria ser endossado, devendo sua
circulação ser paralisada. Mas, infelizmente, isto não ocorre e devemos nos contentar com as situações criadas
pela lei, que podem ser de difícil compreensão.
A solução para o endosso póstumo ou tardio é considerá-lo como mera cessão civil de crédito.
A possibilidade de circulação do título mediante endosso é algo implícito a letra de câmbio, sendo necessário,
se o objetivo for vedar a circulação por endosso, a inclusão da cláusula não à ordem.
O título que contiver a cláusula não à ordem somente pode ser transferido pelo regime da Cessão Civil de
Crédito.
É bom ressaltar que a cláusula não à ordem não impede, propriamente, a circulação do crédito. Somente irá
mudar o regime dessa circulação:
- Regime de direito cambiário, se for título à ordem, pois a circulação será por Endosso.
- Regime de direito civil, se for título não à ordem, pois a circulação será por Cessão de Crédito.
Exemplo: CARLOS vendeu um automóvel a ANTÔNIO e este o revendeu a BENEDITO, sendo que
ANTÔNIO sacou uma letra de câmbio em favor de CARLOS contra BENEDITO, que a
aceitou. Após, CARLOS transferiu seu crédito a DARCY. Se, no vencimento, o aceitante
BENEDITO está insolvente, DARCY poderá acionar CARLOS para reclamar o pagamento?
Resposta: Depende. Se a transferência foi por endosso, poderá fazê-lo, porque, em regra, o
endossante é coobrigado, ou seja, responde pela solvência. Mas se recebeu a letra por cessão civil
de crédito, DARCY não poderá cobrá-la de CARLOS, porque o cedente só responde pela
existência do crédito, ou seja, não é coobrigado. Nesse caso, para cobrar CARLOS, DARCY
deverá provar que lhe foi transmitido direito inexistente ou simulado.
Por outro lado, se BENEDITO não é insolvente, mas no prazo da lei havia rescindido o
contrato de compra e venda do automóvel, feito com ANTÔNIO, por vícios ocultos, ele
(BENEDITO) estará obrigado a pagar o título a DARCY? Resposta: Depende. Se a
transferência foi por endosso, não poderá opor exceções pessoais. Se foi por cessão civil de
crédito, poderá opor exceções pessoais.
IMPORTANTE: Na cessão, com a transferência do título a outrem, ele não se desvincula do negócio
jurídico que lhe deu origem, atraindo a oponibilidade de exceções pessoais a terceiros de boa-fé. Já no
endosso, com a transferência, o título se desvincula do negócio originário.
a) Nos casos de endosso praticado após o protesto por falta de pagamento, ou depois de expirado o
prazo para a sua efetivação. Denomina-se ENDOSSO PÓSTUMO OU TARDIO;
b) Quando praticado em título em que se inseriu a CLÁUSULA NÃO À ORDEM.
7. AVAL
7.1 CONCEITO
É a declaração cambial eventual ou sucessiva pela qual o signatário garante o pagamento do título. Somente
pode ser prestada em títulos de crédito, no corpo da cártula, ou em folha anexa.
O aval é um ato cambiário pelo qual uma pessoa (o avalista) se compromete a pagar título de crédito, nas
mesmas condições que um devedor desse título. É uma das formas do gênero caução, assim como a fiança.
a) Avalizado: É a pessoa cuja obrigação foi garantida por aval. Pode ser, conforme o título de crédito,
o sacador ou emitente, o aceitante ou o endossante;
b) Avalista: É a pessoa que prestou a garantia e assumiu a obrigação de pagar o título de crédito.
Usualmente, o avalista garante todo o valor do título, mas a lei admite o AVAL PARCIAL (LUG, art. 30).
1ª) A simples assinatura do avalista, lançada no ANVERSO do título, desde que não se trate das
assinaturas do sacado e sacador (ou emitente);
2ª) A assinatura do avalista, no VERSO ou ANVERSO, sob a expressão "por aval", "bom para aval"
ou outra de mesmo sentido;
Podemos ilustrar com um exemplo clássico, digamos que o avalista assina seu nome no verso do título sem a
expressão “por aval”. Considera-se esta garantia inexistente, pois não obedeceu a forma prevista na lei. Isso se
deve porque este é, por definição, o local apropriado para o endosso.
Registre-se, também, a possibilidade de aval em branco, quando o avalizado não é identificado e aval em preto,
quando há identificação do avalizado.
AVAL EM BRANCO: Quando o avalista não define o devedor em favor de quem está prestando a garantia,
a lei, para cada título de crédito, estabelecerá qual devedor é o beneficiado. No caso da letra de câmbio, o aval
em branco que considerar-se que foi dado em favor do sacador (art. 31 da LUG).
Possui duas características principais em relação à obrigação avalizada, que são a autonomia e a
equivalência.
O avalista assume, perante o credor do título, uma obrigação autônoma, mas equivalente à do avalizado (“nas
mesmas condições que o avalizado”).
AUTÔNOMA, porque quem presta aval prontamente se vincula, mesmo se é inexistente, nula ou
ineficaz a obrigação do avalizado, exceto se houver vício na formação do título. Entende-se por
vício tudo aquilo que não estiver em conformidade com a formação do título de crédito, ou seja,
com o princípio da cartularidade e da literalidade.
EQUIVALÊNCIA significa que o avalista é devedor do título "na mesma maneira que a pessoa
por ele afiançada” (avalizada) (LU, art. 32).
Isso quer dizer que o avalista se encontra na mesma posição do avalizado. Ou seja, o credor pode exercer o
seu direito de crédito contra determinado devedor do título, e também podem fazê-lo contra o
avalista dele; assim como todos os que podem ser acionados por determinado devedor, em regresso,
também o podem ser pelo respectivo avalista.
Por exemplo, no caso da letra de câmbio, quando o avalista garante ao endossante, tem a seu favor a
prescrição de um ano e, se o credor não protestar o título, nesse caso perderá o direito de cobrar o
endossante e o seu avalista; quando, porém, garante ao aceitante, a falta de protesto não implica perda do
direito de cobrá-lo e o prazo de prescrição é de três anos.
O credor, na época do vencimento, poderá optar por cobrar diretamente do avalista o seu crédito, antes
mesmo do devedor principal.
Avalizado, ou
Daqueles que anteriormente ao aval haviam se obrigado pelo pagamento do título.
DIFERENÇAS
AVAL FIANÇA
O avalista não pode estabelecer prazo de validade do O fiador pode estabelecer prazo de validade da
3.
aval. fiança.
SEMELHANÇAS
AVAL FIANÇA
Existe ressalva expressa em nosso ordenamento quanto à necessidade de outorga uxória para que qualquer
dos cônjuges preste fiança ou aval, salvo no caso do regime da separação absoluta de bens.
Quando a doutrina se refere ao regime da separação absoluta de bens, em regra, quer referir-se ao que foi
assim firmado contratualmente, por meio de pacto antenupcial. A utilização dessa terminologia consagrada
pela doutrina no texto do Código Civil, art. 1647, caput, autoriza o interprete a dizer que em caso de o
casamento ter se celebrado sob o regime da separação obrigatória de bens não exige-se autorização do outro
cônjuge para a realização dos atos elencados nos incisos que se lhe seguem.
Art. 1647. Ressalvado o disposto no art. 1648 (caso do suprimento da outorga pelo
juiz), nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da
separação absoluta:
Partindo de tais dados em concorrência com a análise do art. 1.649 do Código Civil, poderia nos levar à
conclusão que a fiança e o aval tornam-se atos jurídicos anuláveis se prestados sem a devida autorização,
sendo o prazo prescricional de dois anos após o findar da sociedade conjugal.
No entanto, para alguns doutrinadores exigir a anuência do cônjuge para a outorga de aval é afrontar a Lei
Uniforme de Genebra e descaracterizar o instituto. Ademais, a celeridade indispensável para a circulação dos
títulos de crédito é incompatível com essa exigência, pois que não se pode esperar que, na celebração de um
negócio corriqueiro, lastreado em título de crédito, seja necessário, para a obtenção de um aval, ir à busca do
cônjuge e da certidão do seu casamento, determinadora do respectivo regime de bens.
Em face disso, na Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da
Justiça Federal, no período de 11 a 13 de setembro de 2002, sob a coordenação científica do Ministro Ruy
Rosado, do STJ, foi aprovado o Enunciado 114, que assim dispõe:
Enunciado 114 – Art. 1.647: O aval não pode ser anulado por falta de vênia conjugal,
de modo que o inc. III do art. 1.647 apenas caracteriza a inoponibilidade do título ao
cônjuge que não assentiu.
Dessa forma, não será afetada a meação do cônjuge que não anuiu com o aval.
Quanto à fiança, há uma peculiaridade: se ela for prestada por um cônjuge sem a autorização do outro,
implicada na nulidade da garantia. É o que prevê a súmula 332 do STJ:
Súmula 332: A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia
total da garantia.
A tese é pacificada no sentido de que a fiança sem a outorga de um dos cônjuges, em contrato de locação, é
nula de pleno direito, invalidando, inclusive, a penhora efetivada sobre o bem, integralmente (até mesmo a
penhora sobre a meação do cônjuge que prestou a fiança será invalidada). 1
O devedor cambial pode ter a sua obrigação garantida por mais de um avalista. É a hipótese de avais
simultâneos, ou coavais.
Se o anverso da letra de câmbio apresenta assinaturas, além da do sacador e do aceitante, também de outras
pessoas, define-se que essas praticaram aval em branco. Outra hipótese é a existência de mais de um aval
em preto, em favor do mesmo avalizado. Nos dois casos, os avalistas são simultâneos, no sentido de que
garantem solidariamente o cumprimento da obrigação avalizada.
AVAIS SIMULTÂNEOS: Mais de um avalista assumem responsabilidade solidária (entre eles) em favor
do mesmo devedor. Serão coavalistas do sacador, do aceitante ou do endossante. Para exemplificar,
considere-se que Fabrício e Germano prestam aval em branco na mesma letra de câmbio. São ambos os
avalistas do sacador Antônio. Se um deles pagar a totalidade do valor do título ao endossatário
Evaristo, poderá, regressivamente, cobrar do outro a metade do título, ou de Antônio o montante
integral.
Portanto, nos avais simultâneos vigora a solidariedade do direito civil (De acordo com o art. 283 do CC, o devedor
solidário que paga ao credor a totalidade da dívida pode exigir, em regresso, dos demais devedores a quota-parte cabível a cada
um).
AVAIS SUCESSIVOS: O avalista garante o pagamento do título em favor de um devedor e tem a sua
própria obrigação garantida também por aval. Assim, se Fabrício é o avalista de Benedito, aceitante da
letra, ele se torna devedor do título. Como devedor, pode ter a sua obrigação também garantida por
aval de Germano. Nessa hipótese, Fabrício é avalista do aceitante e Germano, avalista de avalista, e não
existe entre eles nenhuma solidariedade. Quer dizer, se Germano cumpre a obrigação cambial, ele
pode, em regresso, responsabilizar seu avalizado, que é Fabrício, exigindo o total da letra. Fabrício, por
sua vez, não tem direito algum contra Germano, seu avalista, e somente poderá exercer o regresso
contra o seu avalizado, Benedito.
Repercussão:
"Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não sucessivos" (Súmula 189 do STF).
Conceito: Protesto é ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de
obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida.
1
Ver STJ, Recursos Especiais números 860.795, 525.765, 94.094 e 111.877.
Se contiver vício, o protesto dever ser obstado.
Mas se o título contiver algum desses vícios mencionados e, mesmo assim, for protestado, o oficial público
responde perante o prejudicado (Recuso em Mandado de Segurança nº. 2.603/SP, 4ª Câmara do STJ –
parecer de Fábio Konder Comparato).
Se não há vícios, o Tabelião expedirá intimação ao devedor, no endereço fornecido pelo apresentante do
título, considerando-se cumprida quando comprovada sua entrega no mesmo endereço (por Aviso de
Recebimento – AR ou documento equivalente) (art. 14 da Lei 9.492/97).
Admite-se intimação por edital (art. 15 da Lei 9.492/97), afixado no Tabelionato e publicado em jornal local
de circulação diária, que o devedor for desconhecido, endereço incerto ou ignorado, residente ou domiciliado
fora da competência territorial do Tabelionato ou for recusado o recebimento da intimação no seu endereço.
O devedor terá o prazo de 3 dias úteis para fazer o pagamento, contados do recebimento da intimação,
excluindo o dia o início e incluindo o dia do vencimento desse prazo.
a) Protesto por falta de aceite (§ 1º): somente será efetuado antes do vencimento e após o decurso
do prazo legal para o aceite ou a devolução;
b) Protesto por falta de pagamento (§ 2º): após o vencimento do título, o protesto será sempre
efetuado por falta de pagamento.
c) Protesto por falta de devolução (§ 3º): devido quando o sacado retiver a letra de cambio ou a
duplicata envida para aceite e não proceder à devolução dentro do prazo legal (30 dias).
Sobre o prazo para ser efetuado o protesto por falta de pagamento, perante o Tabelionato, temos dois
posicionamentos:
a) Para Fábio Ulhoa Coelho, aplica-se o art. 44 da LUG. Dessa forma, o protesto do título deve ser
efetivado nos 2 dias úteis seguintes àquele em que é pagável;
b) Para Wille Duarte, o Brasil fez reserva ao disposto no art. 44 da LUG, por força do art. 9º do Anexo
II e, por isso, o remete à legislação interna (Decreto 2.044/1908), que em seu art. 28 determina que
o protesto por falta de pagamento da letra de câmbio ou da nota promissória deve ser feito no
primeiro dia útil seguinte ao vencimento do título.
Por razões de cautela e pela lógica na argumentação, vamos adotar o posicionamento de Wille Duarte.
Portanto,
O protesto por falta de pagamento da letra de câmbio ou da nota promissória deve ser feito
no primeiro dia útil seguinte ao vencimento do título.
Importância desse prazo: Se o credor perde o prazo para a efetivação do protesto, a consequência é a
inexigibilidade do crédito contra os codevedores e seus avalistas (art. 53 da LUG). Entretanto, continua com
o direito creditício contra o aceitante e o avalista do aceitante.
9. AÇÕES CAMBIAIS
É a ação judicial pela qual o credor busca o recebimento da quantia certa mencionado no título de crédito.
Nas duas ações, operam-se os princípios do direito cambiário e, assim, o demandado não pode
arguir, na defesa, matéria estranha à sua relação com o demandante.
A ação de execução pressupõe a existência de um título de crédito contendo todos os seus requisitos
formais exigidos pelas legislações de cada espécie de título, assim como a inexistência de prescrição. Só assim
serão considerados títulos executivos extrajudiciais (art. 585, I CPC).
A ação de enriquecimento é de natureza não executiva, ou seja, sua natureza é cognitiva e pode ser
proposta após a prescrição da execução. O portador do título, através do processo de conhecimento ou ação
monitória, pede a condenação judicial de qualquer devedor cambiário no pagamento do valor do título, sob
fundamento que se operou o enriquecimento indevido. De fato, se o título não foi pago, o demandado
locupletou-se sem causa lícita, em prejuízo do demandante e essa é, em princípio, a matéria de discussão.
As ações cambiais se diferem das demais ações de cobrança por causa da LIMITAÇÃO DAS MATÉRIAS
DE DEFESA DO DEVEDOR.
Se a reposta for afirmativa, estaremos diante de ação cambial. É que os embargos à execução submetem-se
aos limites decorrentes do princípio da inoponibilidade de exceções pessoais.
a) Execução contra sacador, endossante e seus avalistas: Além da letra de câmbio, deve ser obrigatoriamente
apresentado o instrumento de protesto, que comprove a sua regularidade;
b) Execução contra aceitante e seus avalistas: Basta a simples apresentação da letra de câmbio.