Você está na página 1de 7

Curso Gratuito

Prática em Inventários
25 a 28 de Abril de 2022

AULA 01
COMO CALCULAR A HERANÇA

A primeira questão que precisa ser esclarecida quanto ao tema se refere à


distinção entre monte mor e monte partível. Será considerado o monte mor a
totalidade do patrimônio, o acervo integral dos bens que foram deixado pelo de cujus. Já o
monte partível é o total do patrimônio do de cujus que efetivamente será entregue aos
herdeiros, ou seja, a totalidade dos bens após as devidas exclusões (dívidas, meação...).
É extremamente necessário dominar o monte partível por 4 motivos:
1) Saber informar ao cliente o quantum será objeto de inventário,
possibilitando com isso que o mesmo tenha conhecimento do que virá a ser
sua quota, além de possibilitar que o cliente perceba seu conhecimento e
domínio do trabalho a ser realizado;
2) O segundo ponto está relacionado ao cálculo do ITCD, uma vez que o
monte partível está diretamente relacionado ao quantum a ser recolhido
como imposto, descontado a meação do cônjuge e as dívidas;
3) É o monte partível que vai te possibilitar a realização da correta partilha
dos bens entre os herdeiros;
4) É relevante saber calcular o monte partível para fins de possibilitar a
cobrança adequada de honorários, uma vez que seu contrato está
intimamente ligado ao valor do monte partível, haja vista que muitos
contratos são pactuados em percentual.
Pois bem. Para a correta definição do monte partível, duas situações deverão
obrigatoriamente ser observadas, sendo elas:
a) responsabilidade por dívidas e;
b) inclusão e/ou exclusão da meação.
Com relação as dívidas, você precisa perguntar ao cliente se o falecido deixou
alguma obrigação pendente, pois além da responsabilidade pelo pagamento, os valores
respectivos devem ser abatidos no total de bens deixados para fins de apurar qual o valor
do monte partível. A título ilustrativo, caso o falecido tenha sido deixado um patrimônio de
5 milhões, porém com dívidas de 4 milhões, estaríamos diante de um patrimônio de 1
milhão a ser partilhado.
Curso Gratuito
Prática em Inventários
25 a 28 de Abril de 2022
Se você não considerar essas dívidas, estará criando falsas expectativas no cliente
e cobrando seus honorários de forma equivocada!
É sempre importante esclarecer ao cliente que ele somente terá direito a herança
após o total pagamento das dívidas e impostos. Enquanto isso não correr não será
transferida qualquer herança a ele. Inclusive, se alguma dívida for deixada para traz, o
herdeiro ficará responsável pelo seu adimplemento respeitado o limite do valor do
patrimônio recebido (art. 1.792, CC).
A questão mais importante com relação ao abatimento de dívidas no cálculo do
monte partível se refere a análise da responsabilidade por dívidas do cônjuge.
Vamos explicar!
Na hora de analisar as dívidas deixadas pelo falecido você deve verificar se há
alguma responsabilidade do cônjuge sobreviventes por aquela obrigação. Isso porque, o
código civil prevê, em alguns casos, que a dívida contraída por um cônjuge obriga o outro.
A título de exemplo, se João falece deixando uma dívida de 100 mil, você deve
verificar a origem da dívida para saber se a esposa não tem responsabilidade por 50%
dessa obrigação, pois em caso positivo, esse percentual será imputado a ela.
Mas a situação das dívidas não para por aí.
É necessário fazer o caminho inverso. Você também precisa verificar se o cônjuge
sobrevivente não tem dívidas em seu nome que também podem ser imputadas ao
falecido. Imagine que Maria tem uma dívida de 200 mil que foi contraída na constância do
casamento para prover as despesas do casal. Nesse caso, 100 mil seria de
responsabilidade de João e deverá ser incluído no inventário para pagamento e cálculo do
monte partível.
E se você está se perguntando como saber se a dívida obriga o cônjuge, a
resposta é simples: quando o código civil determinar. O assunto é tratado nos artigos
1.643, 1.644, 1.659, III e IV, 1.663, §1º e 1.666. No geral, a obrigação contraída por um
cônjuge obriga ao outro, independentemente do regime de bens, quando necessárias à
economia doméstica, ou seja, dívidas contraídas em benefícios do lar, como despesas de
supermercado, reforma da casa, etc. Recomendo a leitura destes dispositivos.
Superada a questão da responsabilidade por dívidas, agora vamos tratar da
questão envolvendo a importância da meação para o cálculo do monte partível.
Curso Gratuito
Prática em Inventários
25 a 28 de Abril de 2022
A questão mais delicada e que gera maior dificuldade, especialmente nos
advogados que não são especialistas em inventários, e saber realizar a diferenciação
entre herança e meação.
Por isso, vamos analisar a situação com cuidado.

MEAÇÃO X HERANÇA

Meação é uma forma de aquisição da propriedade, móvel ou imóvel, em razão do


regime de bens do casamento. Em outros termos, a partir do casamento, o cônjuge
poderá se tornar proprietário de novos bens, a depender do regime de bens.
Esses bens serão incorporados ao seu acervo patrimonial. Com isso, em caso de
falecimento, para se chegar ao monte partível, é necessário excluir a meação do viúvo
meeiro, e incluir a meação que o de cujus teria sobre os bens desse meeiro.
O cônjuge sobrevivente poderá adquirir o direito de propriedade, sendo que no
inventário será apurado os efeitos (eficácia concreta) da aquisição da propriedade com o
evento morte. Sobrevindo o falecimento, destaca-se esse patrimônio e o restante será
objeto do monte partível.
Além de modificar o monte partível, entender os pormenores da meação, é
extremamente importante pois sobre ela não incidirá ITCMD, embora seja mencionada
nos autos, para fins de fazer a separação do que era do de cujus e o que era da viúva.
Por sua vez, para diferenciar a herança de meação, é necessário entender os
regimes de bens. Nesse sentido, é importante lembrar que temos 4 regimes:
 Comunhão parcial de Bens (legal);
 Comunhão Universal de bens;
 Separação de bens, que comporta duas subespécies, a separação obrigatória e o
regime da separação convencional (art. 1640 CC);
 Participação final dos aquestos.
Para a atuação em inventários, os regimes mais importantes, e que você precisa
entender, são: comunhão universal e parcial.
Curso Gratuito
Prática em Inventários
25 a 28 de Abril de 2022
Comunhão Universal

Como regra, na Comunhão Universal de bens a partir do casamento o cônjuge


adquire 50% do patrimônio do outro. Exemplo: João era casado com Maria pelo regime da
comunhão universal de bens e tinha um patrimônio de 5 milhões. Nesse caso Maria terá
direito a 2,5 milhões do patrimônio, a título de meação. Por outro lado, supondo que Maria
tinha um patrimônio de 10 milhões, João terá adquirido o equivalente a 5 milhões,
também a título de meação.
Isso interfere significativamente no inventário, pois para se chegar ao real valor que
será partilhado entre os herdeiros, será necessário excluir a meação a que faz jus a
esposa e incluir a meação que o de cujus tinha sobre o patrimônio dela.
O maior erro que os colegas cometem na prática, é só fazer a exclusão da meação
do cônjuge sobrevivente. A maioria esquece de que o falecido também pode ter direito de
meação sobre os bens do cônjuge e isso precisa ser incluído no inventário. Portanto,
muito cuidado com esse ponto.

ATENÇÃO: Cuidado com as exceções à comunicabilidade, previstas no art.


1668 do CC. Algumas dessas situações acabam tornando o bem particular e por isso não
haverá meação.

Nesse sentido, a situação mais importante é a do inciso I. Vejamos.


Doação/herança com cláusula de incomunicabilidade (e sub-rogados).
Supondo que Maria recebeu uma herança do pai no valor de 7 milhões com
cláusula de incomunicabilidade. Ela já tinha um patrimônio de 10 milhões. O
marido teria direito a meação sobre os 10 milhões, mas não sobre os 7
milhões.
Muito cuidado, pois esse afastamento do direito a meação estará presente
tanto nos bens com a cláusula de incomunicabilidade quanto aos sub-
rogados. Exemplo: Maria recebeu uma fazenda no valor de 7 milhões com
cláusula de incomunicabilidade. Após receber tal imóvel Maria decide
vender a fazenda e comprar 10 apartamentos. João não terá direito a esses
apartamentos, pois houve sub-rogação, ou seja, sairá a fazenda e entrará os
10 apartamentos com a mesma impossibilidade de gerar direito a meação.
Curso Gratuito
Prática em Inventários
25 a 28 de Abril de 2022
Lembrando, que a inclusão desse tipo de cláusula (incomunicabilidade)
somente é possível através de testamento ou doação.

Comunhão parcial de Bens

Na comunhão parcial de bens o cônjuge passa a ser titular de 50% dos bens
adquiridos onerosamente após casamento, formando assim duas massas patrimoniais,
sendo uma de bens exclusivos, adquiridos antes do casamento, e a massa dos bens
comuns, adquirido depois do casamento.
Importante destacar o art. 1.659 do CC, traz algumas exceções, ou seja,
hipóteses que o bem que foi adquirido após o casamento e mesmo assim não será
objeto de meação. As situações mais importantes são:
o 1ª) bens doados ou herdados.
Mesmo sendo adquirido após o casamento, não será objeto de meação.
Exemplo: Maria recebeu a doação de uma fazenda de seu pai no valor de
10 milhões. João não terá direito a meação, conforme art. 1659 do CC. O
mesmo aconteceria se o pai de Maria viesse a falecer (herança) não
havendo a incidência da meação sobre essa herança.
o 2ª) Embora possa ter sido adquirido após o casamento não há meação os
bens adquiridos em sub-rogação dos bens particulares. Exemplo: João
tinha um apartamento de 1 milhão e após o casamento com Maria, ele
vende o apartamento e compra uma mansão, não cabendo a Maria a
meação desse imóvel, uma vez que esse bem decorre de sub-rogação do
apartamento (bem particular). Se João tinha um apartamento de 1 milhão e
vende para comprar uma mansão de 2 milhões, haverá direito a meação?
Nesse caso Maria terá direito a meação do valor que superar o valor do bem
sub-rogado, ou seja, Maria tem direito a meação sobre 1 milhão, ou seja,
Maria terá direito a 25% da mansão.

Observações: Muita atenção a essas situações


Curso Gratuito
Prática em Inventários
25 a 28 de Abril de 2022
 Bens adquiridos por fato eventual entram na meação. Exemplo: prêmios de
loterias, rifas, bingos. Mesmo não tendo havido aquisição onerosa, haverá meação
e o cônjuge terá direito a 50%.

 Benfeitorias em bens particulares. Exemplo: João tinha uma casa antes do


casamento, que foi reformada após o casamento. Nessa reforma foi construindo
mais um andar, duas suítes, uma piscina. Em razão disso, o imóvel que era de 1
milhão, passou a valer 5 milhões. Nesse caso a meação será em relação ao
quantum excedente do valor do bem particular, cabendo a Maria direito a meação
nos 4 milhões, ou seja, ela terá direito a 2 milhões. Caso João faleça, o bem
deverá ser incluído no inventário, porém especificado que sobre ele a esposa
possui meação relacionada às benfeitorias, no importe de 2 milhões. Isso é
muito importante, para evitar que o ITCD seja recolhido sobre a integralidade do
imóvel.

 Frutos dos bens particulares. Também há direito a meação. Exemplo: João


casou e tinha 10.000 cabeças de gado, e na constância do casamento em 2 anos
houve um aumento para 12.000 cabeças de gado. Nesse caso, sobre os 10.000
não há meação de Maria. Porém, ela tem direito a 50% das 2.000 cabeças que são
frutos, ou seja, caberá a Maria 1.000 cabeças de gado. Para fins de inventário,
deverão ser arroladas as 12.000, especificando que a esposa tem direito a 1.000
por meação.

Um cuidado importante se refere ao seguro de vida, uma vez que seguro não é
herança. Seguro não é inventariado, não incide ITCD, não responde por dívidas e não é
passível de meação. Sendo o seguro de vida um simples contrato em favor de terceiro.
Outro cuidado importante é em relação a previdência privada (VGBL). Há
possível divergência no STJ quando a considerar que essa previdência tenha natureza de
seguro e, portanto, não está sujeita a inventário. Recentemente houve uma decisão que
leva a crer que deveria ser inventariado, mas trata-se de decisão confusa e que requer
muito cuidado na aplicação.
Curso Gratuito
Prática em Inventários
25 a 28 de Abril de 2022
QUESTÃO PRÁTICA:
Paulo te procura para tratar do inventário do pai, João. Ele faleceu e deixou
um patrimônio de 2 milhões, sendo que 1 milhão foi adquiridos após se casar com
Maria pelo regime da comunhão parcial de bens. Do valor adquirido após o
casamento, 400 mil foi herança que João recebeu do pai. Ele deixou 200 mil em
dívidas, todas contraídas após o casamento.
Maria, esposa de João, possui um patrimônio de 3 milhões, sendo que
desse total, 1.800 milhões foram adquiridos após o casamento. Ela possui dívidas
no importe de 500 mil, sendo 300 mil anteriores ao matrimônio e 200 mil contraídas
após o enlace.
Qual o monte partível?

PASSO A PASSO PARA IDENTIFICAR O MONTE PARTÍVEL


1) Identificar os bens deixados pelo de cujus;
2) Verificar se há casamento com regime de bens que gera direito a meação;
3) Relacione os bens adquiridos antes e depois do casamento;
4) Há algum bem excluído da meação por exceção dos bens do de cujus?
5) De cujus deixou alguma dívida?
6) Alguma dívida pode ser imputada ao cônjuge?
7) Anote o saldo patrimonial do de cujus.
8) O cônjuge possui bens sobre os quais incide meação do de cujus?
9) Há algum bem excluído da meação por exceção?
10) Viúvo meeiro possui dívidas que podem ser imputadas ao de cujus?
11) Anote o saldo patrimonial do meeiro.
12) Some o saldo do patrimônio adquirido pelo de cujus com o que decorre da
meação.

Você também pode gostar