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Mônica Queiroz
Direito Civil
Aula 16
ROTEIRO DE AULA
Na aula passada, a professora explicou que o inadimplemento das obrigações ocorre de três formas:
1) Inadimplemento Relativo (Mora)
2) Inadimplemento Absoluto
3) Violação Positiva do Contrato
Como visto na aula passada, a mora não é só coisa de devedor, a mora também poderá ser do credor.
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A mora ocorre quando o devedor não quer pagar ou então quando o credor não quer receber no tempo/lugar/forma
previstos em lei ou em contrato.
- Efeitos da Mora:
CC, art. 395: “Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores
monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.”
Os efeitos da mora do devedor são intuitivos: quando se deve e não se paga, o pagamento deverá ser feito com correção
monetária, com juros moratórios e multa (se estiver prevista em contrato).
Além dos efeitos da mora do devedor constantes no art. 395 do CC, há um outro efeito que consta no art. 399 do CC
(perpetuação da obrigação).
Exemplo: Imagine que “A” deva entregar uma vaca para “B” no dia X. Passado o dia X, “A” não fez a entrega e ficou em
mora. Durante esse período de mora, a vaca morreu porque caiu um raio no local onde o animal estava.
✓ Conforme já aprendido, quando há descumprimento de obrigação de dar coisa certa, deve-se verificar se a perda
ocorreu com culpa ou sem culpa do devedor. Quando ocorre a perda da coisa certa antes da tradição,
perguntamos se o devedor agiu com culpa ou sem culpa, pois, somente se tiver agido com culpa, é que ele vai
indenizar o credor em perdas e danos. Entretanto, perceba que, nesse momento, a professora está trabalhando
com a hipótese de perda da coisa durante a mora do devedor, ou seja, aqui há uma situação diversa.
✓ Atenção: Se a perda da coisa ocorrer durante a mora do devedor, ele sempre terá que ressarcir o credor em
perdas e danos, ainda que a coisa tenha se perdido sem culpa dele, é o que consta da primeira parte do art. 399
do CC.
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CC, art. 399: “O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de
caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa [pelo atraso], ou
que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.”
✓ Essa primeira parte do artigo está dizendo que se a coisa se perder em uma situação de mora, o devedor responde
pela perda da coisa e tem que ressarcir o credor em perdas e danos, independentemente de a coisa ter se perdido
por caso fortuito ou força maior, isto é, sem culpa do devedor.
1. Salvo se ele provar isenção de culpa: a professora explica que o art. 399 do CC foi mal redigido. A expressão de ressalva
que consta no dispositivo não se trata da culpa pela perda, pois esta nem é analisada, mas sim a culpa pelo atraso, a culpa
para que se constitua a mora.
Exemplo: vamos imaginar que havia um atraso e a coisa se perdeu durante aquele atraso. Só que o devedor consegue
provar que ele não agiu com culpa. Na verdade, estava consignado em contrato que o credor é que deveria vir receber a
coisa e ele não veio. Então, o devedor não conseguiu entregar o bem para o credor.
No exemplo dado, houve um atraso, mas não houve culpa do devedor pelo atraso.
2. Ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada: neste caso, o devedor
comprova que realmente estava em situação de mora, mas, ainda que ele tivesse cumprido com sua obrigação
tempestivamente, a perda ocorreria do mesmo modo.
Exemplo: o devedor deve ao credor uma vaca, mas, no contrato, estava estabelecido que o animal, mesmo após a entrega,
permaneceria na fazenda do devedor por mais seis meses. Imagine que o devedor entre em mora, caia um raio em sua
fazenda e mate a vaca. Neste caso, ainda que o devedor tivesse cumprido a sua obrigação tempestivamente, a vaca
morreria, pois ela estaria na fazenda dele do mesmo modo após o cumprimento da obrigação. Neste caso, o devedor,
ainda que tenha entrado em mora, também não precisará pagar perdas e danos para o credor.
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b) do credor: art. 400, CC
CC, art. 400: “A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o
credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao
devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.”
✓ O devedor está liberado da responsabilidade pela conservação da coisa, mas será que esse devedor pode pegar
uma marreta e quebrar o carro inteiro? Claro que não. Exatamente por isso que o art. 400, na sua primeira parte,
diz “isento de dolo”, porque aí surgiria responsabilidade para ele.
No exemplo dado acima, o credor “B” não quer receber aquele carro e “A” não tem mais responsabilidade, só que o
devedor também não vai deixar o carro parado no meio da rua e, para tanto, aluga uma vaga de garagem para ele em um
estacionamento pago. Quando o credor for receber esse carro após dois meses, ele deverá ressarcir os gastos dispendidos
pelo devedor.
➢ 2º efeito – obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservar a coisa.
CC, art. 400: “A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o
credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao
devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.”
✓ É razoável dizer que o credor, ao receber o carro, deverá ressarcir o devedor nas despesas empregadas com a
conservação da coisa. Esse é o segundo efeito da mora do credor.
Exemplo: o que é devido pode ter oscilação do seu valor. Pode ser que, no dia previsto em contrato para o cumprimento
da obrigação, a coisa valia X. Ocorre que o credor ficou em mora por 8 meses e a coisa que valia X, no momento da
entrega, estava valendo Y. Houve uma oscilação do valor.
Se houver oscilação do valor da coisa entre a data em que era para ter sido entregue e a data em que foi efetivamente
entregue, devemos considerar o valor mais favorável ao devedor.
➢ 3º efeito – valor mais favorável ao devedor, se houver oscilação do valor da coisa.
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CC, art. 400: “A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o
credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao
devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.”
Por fim, a professora explica que a doutrina traz um 4º efeito da mora do credor: a mora do credor dá direito de o devedor
manejar a chamada “consignação em pagamento”, prevista no art. 334 do CC1.
Relembrando: uma obrigação pode nascer da lei, do contrato e até mesmo da prática de um ato ilícito.
Imagine que uma pessoa, que vinha na contramão de direção, tenha batido no carro de Mônica. Ele amassou todo veículo
e, portanto, praticou um ato ilícito. Nesse exemplo, Mônica se tornou credora e aquele sujeito que veio na contramão e
bateu no carro dela se tornou devedor, nascendo uma obrigação.
Mônica consertou o veículo e ele não pagou os danos. Assim, a credora ajuizou uma ação contra ele cobrando o valor que
ela gastou com o conserto do veículo. Dessa ação, decorreu uma sentença que condenou aquele sujeito ao pagamento
de XXX reais, atualizados monetariamente, pelo conserto do veículo. Sobre o valor dessa sentença, irão incidir juros
moratórios.
➢ Devemos considerar esses juros de mora a partir de quando? A partir do dia do acidente? A partir da citação?
Muita gente responde que será a partir da citação, mas isso está errado. Quando falarmos de mora decorrente
da prática de ato ilícito, temos uma exceção que consta no art. 398 do CC. Assim sendo, consideramos os juros
de mora a partir da própria prática do ato ilícito.
CC, art. 398: “Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou.”
Quando esse artigo traz essa informação, ele simplesmente está repetindo algo que já estava consolidado na
jurisprudência do STJ, sendo, inclusive, tema sumulado:
Súmula 54, STJ: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.
- Purga da Mora
Purgar a mora significa sanar a mora.
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CC, art. 334: “Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da
coisa devida, nos casos e forma legais.”
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O devedor está em mora quando ele não quer pagar. Assim sendo, ele vai purgar a sua mora pagando o credor. Entretanto,
além de pagar, ele tem que assumir os efeitos decorrentes da sua mora e que estão no art. 395 do CC (valor corrigido
monetariamente, acrescido de juros moratórios, etc.).
2) Inadimplemento Absoluto
Hipóteses:
a) Quando há total perda ou destruição da coisa.
Exemplo: João deve um carro para Mônica e, antes de cumprir sua obrigação, bate o carro e dá perda total no veículo.
Houve a total perda ou destruição da coisa e isso é muito pior do que a mora, isso é inadimplemento absoluto.
c) Quando a prestação se torna inútil para o credor (art. 395, parágrafo único, CC).
Exemplo (Orlando Gomes): a entrega do vestido de noiva no dia seguinte ao casamento. É importante destacar que, nessa
hipótese, o que há, em princípio, é uma situação de mora que, posteriormente, transforma-se em situação de
inadimplemento absoluto. A entrega do vestido de noiva no dia seguinte ao casamento torna impossível a purga da mora.
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Enunciado nº 162, CJF: “A inutilidade da prestação que autoriza a recusa da prestação por parte do credor deverá ser
aferida objetivamente, consoante o princípio da boa-fé e a manutenção do sinalagma, e não de acordo com o mero
interesse subjetivo do credor.”
Quando há um atraso, não necessariamente a entrega atrasada daquela coisa vai significar um inadimplemento absoluto.
Não podemos crer em uma inutilidade que decorra de um mero capricho do credor. Temos que observar parâmetros de
boa-fé e considerar objetivamente aquela questão.
Efeito: Resolução.
A obrigação será resolvida/extinta.
A professora explica que sempre que há inadimplemento absoluto, a obrigação será resolvida. Entretanto, deve-se
averiguar se a perda da coisa ocorreu com culpa ou sem culpa do devedor. Se não tiver ocorrido por culpa do devedor,
ela será simplesmente resolvida. Se tiver ocorrido por culpa, a obrigação também será resolvida, mas o credor poderá
exigir indenização por perdas e danos.
✓ O que são esses deveres laterais ou anexos que o contratante também deve cumprir? Proteção, Informação,
Cooperação, LEaldade e Solidariedade.
➢ Os deveres laterais ou anexos estão implícitos em todos os contratos, não precisando aparecer expressamente.
Pablo Stolze chama esses deveres laterais ou anexos de deveres invisíveis porque estão implícitos nos contratos.
São também conhecidos como deveres satelitários, pois funcionam como satélites ao redor da obrigação
principal.
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➢ O que liga esses deveres laterais ou anexos à obrigação principal é exatamente o princípio da boa-fé objetiva (art.
422, CC2).
➢ Os deveres laterais ou anexos devem ser cumpridos durante todas as fases do contrato/obrigação (antes, durante
e depois).
Exemplo: um sujeito entrou no McDonalds, pediu um refrigerante e um sanduíche. O McDonalds entregou a ele
a bandeja com os produtos, mas o chão estava molhado e não havia nenhuma informação nesse sentido. O sujeito
escorregou e caiu. Ele, posteriormente ajuízou uma ação contra o McDonalds. A empresa se defendeu arguindo
que cumpriu com a obrigação principal e o sujeito revidou dizendo que a empresa não cumpriu com o dever
lateral ou anexo de proteger e informar que o chão estava molhado. Esse sujeito obteve êxito no seu pedido
indenizatório exatamente porque restou constatada a chamada violação positiva do contrato.
Atenção: Ocorre a violação positiva do contrato quando a pessoa, tendo cumprido a obrigação principal, não cumpre com
qualquer um dos deveres laterais ou anexos.
✓ Quando falamos em violação positiva do contrato, embora tenha havido o cumprimento da obrigação principal,
não foram cumpridos os deveres laterais ou anexos.
✓ A violação positiva do contrato também pode ser chamada de adimplemento ruim.
Enunciado 24, CJF: “Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres
anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.”
Imagine que tenha havido um inadimplemento mínimo, muito pequeno, de tal modo a haver um adimplemento
substancial.
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CC, art. 422: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé.”
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Essa teoria não está prevista expressamente em nenhum artigo do Código Civil, mas ela é aceita pelos doutrinadores e há
um enunciado do CJF que versa sobre ela.
Enunciado nº 361, CJF: “O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer
preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475.”
Atenção:
No REsp 1.622.555/MG, o STJ afastou a aplicabilidade da teoria do adimplemento substancial em caso de contrato de
alienação fiduciária em que 92% do contrato foi cumprido, permitindo ao Banco promover a busca e apreensão.
STJ: A teoria do adimplemento substancial não se aplica aos vínculos jurídicos familiares, máxime em se tratando de
prestações alimentares. (HC 439.973 – MG).
✓ Funções:
- Coerção, na medida em que impõe às partes o fiel cumprimento daquele contrato;
- Prefixar perdas e danos em caso de inadimplemento culposo.
A cláusula penal estipula, antecipadamente, as perdas e danos que serão devidas em caso de inadimplemento culposo.
A professora explica que, quando há o descumprimento da obrigação por culpa de alguma das partes, o prejudicado
poderá exigir indenização por perdas e danos. Tais perdas e danos podem ser levantadas em juízo, mas também podem
estar prefixadas no contrato (cláusula penal).
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Existem espécies de cláusula penal:
Há dois tipos de cláusulas penais: moratória e compensatória.
Obs. 1: em um mesmo contrato, podemos contemplar essas duas espécies de cláusula penal, pois elas se destinam a
finalidades distintas. Uma é para situação de mora e a outra é para situação de inadimplemento absoluto.
Obs. 2: Mônica e João celebraram o contrato, mas não estabeleceram uma cláusula penal. Dias depois, as partes ainda
não cumpriram com suas obrigações, mas perceberam que não estabeleceram uma cláusula penal (moratória ou
compensatória). Diante disso, questiona-se: a cláusula penal pode ser estabelecida em documento apartado? Sim. É
perfeitamente possível que a cláusula penal seja estabelecida por ato posterior à celebração do contrato.
✓ Teto: Existem tetos para a cláusula penal moratória, a depender das relações que estão por trás do contrato
celebrado.
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- Relação de consumo: 2% (art. 52, §1º, CDC3) – Tal cláusula penal possui um percentual fixo, não importando o
número de dias de atraso.
- Nos contratos bancários: 2% (Súmula 285, STJ4)- A relação entre cliente e banco é uma relação de consumo e,
portanto, o teto da multa moratória também é de 2%.
- Despesa condominial: 2% (art. 1.336, §1º, CC5);
- Para as demais situações: STJ – 10% (Art. 9º, DL 22.626/336).
✓ Obs.: No CC/1916, o teto para atraso no pagamento do condomínio era de 20%. Atualmente, isso foi reduzido
para 2%. Para as demais situações em que a lei não traz um teto, o STJ, aplicando a Lei da Usura, entende que o
teto é de 10%.
✓ Característica: substitutiva.
Ela substitui a prestação principal. Quando falamos em cláusula penal compensatória, não podemos apresentar
como característica a complementaridade, porque a prestação principal não tem mais como ser cumprida.
✓ Teto: o valor da obrigação principal (art. 412, CC). Isso ocorre porque a cláusula penal compensatória substitui a
prestação principal, então o teto é o próprio valor da obrigação principal.
CC, art. 412: “O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal.”
✓ O art. 412 do CC se refere à cláusula penal compensatória.
✓ A professora explica que, embora ele seja um dispositivo do CC, ele se aplica ao CDC (de forma analógica).
Indenização suplementar:
A professora ressalta que a cláusula penal (multa) representa a fixação prévia do valor de perdas e danos em caso de
inadimplemento culposo. Assim sendo, em princípio, não é possível que a parte queira receber a multa estipulada em
contrato e as perdas e danos, pois estas já estão fixadas dentro da cláusula penal.
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CDC, art. 52, § 1°: “As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser
superiores a dois por cento do valor da prestação.”
Súmula n. 285 do STJ: “Nos contratos bancários posteriores ao código de defesa do consumidor incide a multa moratória
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nele prevista.”
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CC, art. 1336, §1º: “O condômino que não pagar a sua contribuição ficará sujeito aos juros moratórios convencionados
ou, não sendo previstos, os de um por cento ao mês e multa de até dois por cento sobre o débito.”
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DL 22.626/33, art. 9º: “Não é válida a cláusula penal superior a importância de 10% do valor da dívida.”
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CC, art. 416, § único: “Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização
suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao
credor provar o prejuízo excedente.”
Em relação à indenização suplementar, além de haver cláusula contratual que estabeleça, expressamente, essa
possibilidade, a parte interessada deve fazer prova do prejuízo excedente.
CC, art. 413: “A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em
parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do
negócio.”
Ainda que a cláusula penal tenha sido fixada no contrato dentro dos tetos, pode o juiz, buscando a equidade no caso
concreto, e observando as peculiaridades e as circunstâncias da situação fática, reduzir a cláusula penal.
O juiz deve fazer essa redução, inclusive, de ofício.
✓ Obs.: Quando encontrarmos em lei essa expressão “por equidade” ou “equitativamente”, podemos substituí-la
pela expressão “buscando justiça”.
As partes não podem afastar a possibilidade de aplicação do art. 413 do CC por se tratar de matéria de ordem pública.
Enunciado 355, CJF: “Não podem as partes renunciar à possibilidade de redução da cláusula penal se ocorrer qualquer
das hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, por se tratar de preceito de ordem pública.”
Enunciado 356, CJF: “Nas hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, o juiz deverá reduzir a cláusula penal de ofício.”
✓ O art. 413 do CC relativiza o pacta sunt servanda (o contrato faz lei entre as partes).
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JUROS
Não podemos confundir cláusula penal, que é a multa (moratória ou compensatória), com os juros.
Os juros são tidos como bens acessórios, sendo chamados de rendimentos.
1. Quanto à finalidade:
a) Moratórios: Os juros moratórios são aqueles que têm cabimento em hipótese de mora. Os juros moratórios têm
a finalidade de punir aquela pessoa que se atrasou e adentrou em um estado de mora. Apresentam esse caráter
indenizatório e punitivo.
b) Compensatórios (remuneratórios): são aqueles que têm por finalidade compensar o uso do capital alheio.
Os juros compensatórios não chegam para punir, chegam para compensar o uso do capital alheio.
Exemplo: Mônica pede R$ 100.000,00 emprestado para João e ele empresta o dinheiro. Ocorre que, se João
ficasse com esses R$ 100.000,00 que ele vai emprestar, ao menos, ele iria investir esse dinheiro em uma caderneta
de poupança. À medida em que ele empresta o dinheiro, ele perde o rendimento. Mônica, portanto, ao pagar
João, vai pagar os R$ 100.000,00 e X a mais a título de juros compensatórios.
Ainda que se pague em dia, os juros compensatórios são devidos. Também são chamados de remuneratórios.
Visualizamos a aplicação desses juros no mútuo feneratício (art. 591 do CC7), que é o empréstimo de dinheiro a
juros e esses juros são os juros compensatórios.
Suponhamos que, no exemplo dado, chegou o dia do vencimento e Mônica não pagou, estando atrasada em uma
semana. Neste caso, ela vai pagar o valor emprestado, acrescido de juros compensatórios (para compensar o uso
do capital alheio) mais os juros moratórios.
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CC, art. 591: “Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução,
não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.”
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Os juros legais serão aplicados se as partes não convencionarem percentual de juros no contrato.
3. Quanto à incidência:
a) Simples: juros simples são aqueles cuja base de cálculo se reduz ao capital disponibilizado.
Exemplo: Mônica atrasou 1 dia no pagamento de sua obrigação. Ela estava devendo R$ 100,00. Neste caso, se os
juros forem simples, ela considerará o percentual de juros sobre o valor de R$ 100,00.
Em suma: quando os juros moratórios forem simples, o cálculo será feito da seguinte forma:
Primeiro dia de atraso será x/100. Segundo dia de atraso será x/100. Terceiro dia de atraso será x/100. A base de
cálculo se reduz ao capital disponibilizado.
Justamente por virar uma “bola de neve”, esse anatocismo é, em regra, vedado no nosso país (Súmula 121, STF8 e Dec.-
Lei 22.626/33, art. 4º9 - Lei da Usura).
Exceções:
Art. 591 do CC10;
Instituições financeiras (bancos).
CC, art. 406: “Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando
provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de
impostos devidos à Fazenda Nacional.” (grifamos)
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Súmula n. 121 do STF: “É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada”
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Decreto-Lei n. 22.626, art. 4º: “É proibido contar juros dos juros: esta proibição não compreende a acumulação de
juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano.”
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CC, art. 591: “Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução,
não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.”
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➢ O art. 406 do CC versa sobre os juros legais. Assim sendo, se as partes não estabelecerem juros convencionais, os
juros aplicados serão os estabelecidos pelo dispositivo.
Os juros legais moratórios serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos
devidos à Fazenda Nacional, como o Imposto de Renda. A pergunta que fica é: que taxa é essa? Temos uma ampla
discussão em nosso país acerca de qual taxa será considerada no art. 406 do CC.
Dois posicionamentos:
CTN, art. 161, §1º: “Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao
mês.”
A doutrina se inclina fortemente para o segundo posicionamento, tanto é assim que foi aprovado em Jornada de Direito
Civil um enunciado que traz essa informação:
Enunciado nº 20, CJF: “A taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 é a do art. 161, § 1º, do Código Tributário
Nacional, ou seja, um por cento ao mês.”
Exemplo:
Uma pessoa deve R$ 100,00 na loja e, chegando o dia do vencimento, essa pessoa teria que ir até a loja fazer o pagamento,
mas não foi e entrou em situação de mora. O atraso foi de três dias para fazer o pagamento. Neste caso, o devedor vai
pagar os R$ 100,00 mais a cláusula penal moratória pela situação de atraso.
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Como se trata de uma relação de consumo, sabemos que o teto fixo trazido pelo CDC é de 2%. Além disso, por cada dia
de atraso, o devedor vai arcar com 0,033% ao dia, a partir do segundo posicionamento.
Se falamos de taxa fixa de 1% ao mês, isto é, adotando o segundo posicionamento, 1% ao mês significa 0,033% ao dia.
No STJ, logo quando entrou em vigor o CC/2002, tivemos decisões do STJ aplicando a taxa SELIC e decisões do STJ
aplicando o CTN. Até que, no ano de 2008, sobreveio uma decisão do STJ no EREsp 727.842, no sentido de que a taxa é a
SELIC.
Observações:
✓ A Lei da Usura não foi revogada. Assim, essa lei continua em vigor.
✓ Os juros convencionais podem ser pactuados, desde que não sejam superiores ao dobro da taxa legal. Se
considerarmos a taxa legal do CTN, que é 1% ao mês, o dobro disso será 2% ao mês.
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Em suma: se as partes forem estipular taxa de juros em sua negociação, pode ser colocado, no máximo, 2% ao mês de
juros.
• Lei nº 4.595/64
• Súmula 596, STF: “As disposições do Decreto 22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos
cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional.”
A Lei da Usura está em vigor, mas não se aplica na relação do particular com o banco. Portanto, não é possível aplicar aos
bancos aquele teto do art. 1º da Lei da Usura em que juros convencionais não podem ser superiores ao dobro da taxa
legal.
Os juros praticados pelo cartão de crédito também são assustadores, eis o motivo:
Súmula 283, STJ: “As empresas administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras e, por isso, os juros
remuneratórios por elas cobrados não sofrem as limitações da Lei de Usura.”
ARRAS
Arras vem de uma palavra grega que significa “anel”.
✓ Arras é o mesmo que sinal.
Espécies:
1º) Confirmatórias/ Probatórias
2º) Penitenciais
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CC, art. 417: “Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem
móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero
da principal.”
CC, art. 418: “Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a
inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais
o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de
advogado.”
CC, art. 419: “A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa
mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o
mínimo da indenização.”
Funções:
a) Confirmar o contrato: Mônica vai comprar um imóvel no valor de R$ 1 milhão e está fazendo a promessa de compra e
venda com o sujeito que é dono do imóvel e, nessa promessa de compra e venda, ela vai dar um sinal, a título de arras,
no valor de R$ 100 mil. Nesse momento, Mônica está confirmando aquele contrato.
b) Antecipar o pagamento
No exemplo dado anteriormente, quando as partes forem fazer a escritura pública de compra e venda, o valor de R$ 100
mil não será devolvido a Mônica. Ela apenas fará o pagamento da diferença (R$ 900 mil).
✓ Indenização suplementar: se, além das arras devolvidas em dobro, o comprador sofreu prejuízo superior pela
desistência do vendedor, a indenização suplementar pode ser exigida. Essa possibilidade é mencionada no art.
419 do CC11, sendo necessária a produção das provas do prejuízo excedente, sem exigência de previsão contratual
prévia nesse sentido.
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CC, art. 419: “A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como
taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras
como o mínimo da indenização.”
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CC, art. 420: “Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão
função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu
devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar.”
- Direito de arrependimento: As arras penitenciais terão cabimento em contratos que prevejam o direito de
arrependimento.
Exemplo: Imagine que Mônica faça uma promessa de compra e venda do imóvel que vale R$ 1 milhão. Ela dá R$ 100 mil
a título de arras. Entretanto, no contrato, há uma cláusula que prevê que as partes, a qualquer tempo, poderão se
arrepender e não precisarão fazer o contrato definitivo. Neste caso, as arras oferecidas não são confirmatórias, mas sim
penitenciais.
Quando há a possibilidade do direito de arrependimento, ele não irá afastar a função de prefixar perdas e danos das arras
penitenciais. O direito de arrependimento irá afastar outra coisa, o direito de se pleitear indenização suplementar.
Enunciado 165, CJF: “Em caso de penalidade, aplica-se a regra do art. 413 ao sinal, sejam as arras confirmatórias ou
penitenciais.”
✓ REsp 1513259-MS.
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Na cessão de crédito, em princípio, é possível que um credor (cedente) transfira a um terceiro (cessionário) os direitos
que ele possui na relação jurídica obrigacional.
Conceito: cessão de crédito é um negócio jurídico bilateral em que o credor transfere a um terceiro, a título gratuito ou
oneroso, os seus direitos na relação jurídica obrigacional.
Exemplo: factoring é um exemplo de cessão de crédito a título oneroso.
Objeto de cessão:
Em regra, qualquer crédito pode ser cedido.
Salvo se a isso se opuser:
- a natureza da obrigação (exemplos: créditos oriundos de salário e de pensão alimentícia não podem ser cedidos);
- a lei (exemplos: crédito que já tenha sido penhorado não pode ser objeto de cessão de crédito – art. 298, CC12).
- o contrato.
Observações importantes:
1º) Não é necessária a anuência do devedor para que seja feita a cessão de crédito.
2º) É imprescindível a notificação do devedor para que a cessão produza efeitos em relação a ele (plano da eficácia).
Se o devedor não for notificado e pagar o credor primitivo, o pagamento será considerado válido, pois a cessão não
produziu efeitos quanto a ele.
Se o devedor for notificado e pagar o credor primitivo, o cessionário poderá cobrar o devedor novamente (“quem paga
mal, paga duas vezes).
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CC, art. 298: “O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da
penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os
direitos de terceiro.”
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RESPONSABILIDADE DO CEDENTE:
Questão: O cessionário (novo credor) pode se voltar contra o cedente (credor antigo) se o devedor não honrar a dívida?
Na cessão onerosa:
Na cessão onerosa, o cedente é responsável pela existência do crédito. Entretanto, ele não será responsável pela solvência
do devedor. Trata-se de cessão pro soluto.
Na cessão gratuita:
Na cessão gratuita, o cedente é responsável pela existência do crédito somente se tiver agido de má-fé.
Exemplo: Mônica não é credora de João e sabe que não existe nenhum tipo de crédito. Entretanto, ela cede gratuitamente
um crédito que não existe a Antônio. Quando Antônio vai cobrar João, este nega a existência do valor. Neste caso, como
Mônica agiu de má-fé, ela é responsável pela existência do crédito.
Excepcionalmente:
Exemplo: Mônica vai ceder seu crédito e seu cessionário exige que ela garanta não apenas a existência do crédito, mas a
solvência do devedor. Neste caso, é possível estabelecer essa cláusula no instrumento de cessão, de forma a ampliar a
responsabilidade da cedente. Trata-se de cessão pro solvendo.
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ASSUNÇÃO DE DÍVIDA (Arts. 299/303, CC)
Na assunção de dívida, um terceiro (assuntor) assumirá a dívida do devedor.
Modalidades de Assunção:
a) Por expromissão: É aquela que decorre de um negócio feito diretamente entre o credor e o terceiro assuntor.
b) Por delegação: É aquela que decorre de um negócio feito entre o devedor e o terceiro assuntor.
O devedor primitivo será chamado de delegante.
O terceiro assuntor será o delegatário.
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Para evitar fraudes, a lei, ao se referir à delegação por assunção, considera imprescindível que haja autorização do credor
com a delegação da dívida.
Efeitos da assunção:
a) Liberatório: É aquela em que o terceiro assuntor assume a dívida e o devedor primitivo é liberado da obrigação.
b) Cumulativo: É aquela em que o terceiro assuntor assume a dívida, mas o devedor primitivo não é totalmente
liberado da obrigação. Apesar dessa assunção não estar prevista em lei, há o Enunciado 16 do CJF que a admite.
Enunciado 16, CJF: “O art. 299 do Código Civil não exclui a possibilidade da assunção cumulativa da dívida quando dois ou
mais devedores se tornam responsáveis pelo débito com a concordância do credor.”
Questão: Quando o terceiro assuntor assume a dívida sem liberar o devedor primitivo, ele se torna um devedor solidário?
Não necessariamente. Isso dependerá do que for estipulado.
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