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RESUMO DE OBRIGAÇÕES I UNIDADE

• O que é o direito das obrigações? [Paulo Lôbo]


D compreende as relações jurídicas de direito privado, de caráter pessoal, nas quais
o titular do direito (credor) possa exigir o cumprimento do dever correlato de prestar,
respondendo o sujeito do dever (devedor) com seu patrimônio
D é o ramo que regulamentaa relaçãojurídica de divida de prestação
D é o principal elemento comum das estruturas fundamentais dos direitos nacionais
enquadráveis no grande sistema jurídico romano-germânico, no qual se incluí o
direito brasileiro; mas, como adverte Orlando Gomes, o direito das obrigações
elaborado no séc. XIX, calcado no direito romano e aperfeiçoado, principalmente,na
Alemanha pelos pandectistas

• Execução
D o Estado quem a promove, em resposta à provocação da parte interessada (o
credor); ela não necessariamente vai substituir o pagamento, mas serve também
para estimular o devedor a pagar
OBS: nem todos os meios de execução vão resultar necessariamenteno pagamento

há dois meios de execução:


1. direta
D o Estado substitui a pessoa do devedor, praticando o ato que ele deveria
praticar para satisfazer os interesses do credor;
o ou seja, ele vai realizar um ato que tem um efeito I resultado prático que seria
o mesmo alcançado pela conduta que deveria ter o devedor;
ex [1]: vences deve 100 reais a sr roberto ---+ sr roberto entra com ação de
cobrança ---+ o juiz mandar pegar o dinheiro da conta de vences e realiza-se a
penhora, a fim de transferir o $ para a conta de sr roberto [vale salientar que a
execução não é adimplemento, sr roberto entrou contra vences exatamente
porque ele não quis pagar, ou seja, estava inadimplente]
ex [2]: caso não houvesse dinheiro na conta de vences ---+ o juiz poderia pegar
um bem de vences, vender e pagar a sr robertov-» sim! - na execução há o
intuito de apenas satisfazer o interesse do credor, assim, o juiz pode adotar
outras formas que não aquelas inicialmente prescritas
OBS: existem certos meios de execução que não trazem um resultado prático
equivalente a ser alcançado pelo cumprimento da obrigação
ex [3]: prisão civil por dívida - se você deixa de pagar alimentos para sua ex
mulher e for preso, não vai pagar as dívidas que tem a ela - influir na vontade
do devedor para estimulá-lo a pagar
ex [4]: você quer fazer uma cirurgia mas o plano não autoriza - o juiz coloca
uma multa diária até que o plano autorize - ele quer a cirurgia e não a multa -
compele-se o plano a pagar, a realizar aquilo a que ele se obrigou!!

2. indireta
o o Estado usará meios para compelir, influir, na vontade do devedor para que
ele cumpra com suas obrigações - não é o Estado quem faz, mas sim o
devedor
OBS: é uma preocupação latente as medidas executivas atípicas que ganham
espaço na jurisprudência em decorrência do novo CPC: antes havia uma forma I
padrão a ser seguido em relação aos meios que o juiz teria para compelir o
devedor a pagar (ou seja, era tipificado) - compreendeu-se que esse
formalismo causou uma disfunção no sistema, devido a pessoas que abusavam
da liberdade - começaram a surgir medidas atípicas como prender o
passaporte até que seja pago, suspender CNH, cancelar cartão de crédito etc

• Prestação
o não é obrigação = é objeto

• Obrigações de dar
o existirá quando houver pretensão ou puder ser exigida pelo credor a dívida de dar;
- há certa prevalência dessas obrigações, visto que são regras mais minuciosas e há
13 artigos só para elas - quantitativamente maior e mais minudente - razão
histórica para isso: não se alterou tanto o CC de 16 em relação a esse tópico, e o
contexto deste código era o de uma sociedade com economia agrária, ou seja, os
contratos de compra e venda têm uma importância central - atualmente, vê-se
maior importância no terceiro setor, o de serviços, que é vinculado as de fazer!!
D vences acredita que isso é um 'falso problema' porque ainda há um peso muito
grande nas obrigações de dar e as razões para a minuciosidade procedem

- pode ser referir a dar coisa incerta ou certa - a certeza ou a incerteza são
relativas à coisa e não à dívida ou à obrigação decorrente - o objeto da dívida (e da
obrigação) é a prestação de dar. e, portanto, certa; o objeto da prestação que pode
ser coisa incerta
OBS: coisa "# bem
D bem = gênero (parte geral do CC)
D coisa = espécie (parte especial) = é bem tangível, suscetível de apropriação,
individualização - a boa doutrina (nem sempre majoritária) entende que coisa é
coisa corpórea [não necessariamente significa que vai ter uma expressão pecuniária]

OBS [2]: coisa certa ou incerta # bem fungível ou infungível


o via de regra a coisa incerta é bem fungível e a certa, infungível
- a ideia de coisa certa é a coisa individualizada - o credor pode se recusar a
receber coisa diversa, ainda que mais valiosa
D vences discorda um pouco desse último fragmento, visto que não vê como isso
não possa satisfazer os interesses do credor, já que é para melhor, a não ser que
tenha algum caso específico de prejuízo

ex: um sujeito reservou um quarto de hotel na categoria mais barata que havia - no
dia que ele foi para o hotel, estava havendo uma convenção e por causa dela todos
os quartos baratos estavam alugados - teve que deslocar-se para outro hotel, com
quarto de luxo = o caso não é esse, mas sim que ele iria fazer uma prova no dia
posterior que ficava de frente para o primeiro hotel - ação pedindo indenização

- espécies de prestações das obrigações de dar:


o entregar: transferência de domínio ou propriedade
o restituir: devolver propriedade ou domínio que já era possuída pelo Credor (não há
transferência de domínio)

o pagar: obrigação de prestação pecuniária, que é a obrigação de pagar um


determinado valor ao credor
1. obrigações de dar coisa certa

o é coisa móvel ou imóvel individualizada e identificada, com características


determinadas e inconfundíveis [limitada pelo gênero, quantidade e qualidade]
o inclui tudo o que nela se contém, particularmente os denominados acessórios; o
CC (art. 92) conceitua principal como a coisa que existe sobre si, abstrata ou
concretamente, ou seja, que não depende de outra, enquanto acessória é a coisa
cuja existência supõe a do principal

- a doutrina portuguesa faz uma diferenciação em relação a obrigação de dar que


nós não fazemos -. eles dizem que a obrigação de dar não é a obrigação de
entregar, porque dizem que o "dar'' tem o sentido de transferir a propriedade e eu
poderia "entregar" sem transferir a propriedade, por empréstimo, na intenção de que
a pessoa me devolva depois. Isso é relevante pois há, também, a obrigação de
restituir, que o código brasileiro distingue em relação a obrigação de dar

- obrigação de restituir: quem restitui dá, não o que é seu, mas sim o que é de
propriedade ou posse do credor, ou de terceiro a quem o credor transferiu a coisa.
D para o direito brasileiro, a restituição diz respeito a coisa certa

- obrigação de dar coisa futura: ainda que não existente no momento da celebração
do , é certa e determinada
O o Código Civil prevê regra expressa de sua admissibilidade, no art. 483, que trata
do contrato de compra e venda -. o contrato ficará sem efeito se a coisa não vier a
existir, salvo se a intenção das partes era de concluir contrato aleatório; nessa
segunda hipótese, os riscos são do credor quanto a vir a coisa existir ou não no
futuro, conforme convencionado

o o que o Código Civil/2002 regulamenta sobre a obrigação de dar coisa ~

Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não
mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso,

o princípio da gravitaçãojurídica -+ os acessórios seguem o bem principal


- em relação à parte final da regra da acessoriedade, vê-se que às vezes o contrato

f.
faz ressalvas em relação aos acessórios - ex: um automóvel, em que pode ser
vendido com os tapetes (acessórios) ou sem, a depender do contrato

OBS: a obrigação diz respeito apenas aos acessórios propriamente ditos (partes
integrantes do bem principal), e não as pertenças [bem que foi feito para usar no
bem principal mas que não faz parte essencialmente dele (salvo se resultar da Lei,
manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso, conforme art. 94 CC)]

• Quando a coisa se perde sem/com culpa do devedor


Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do
devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a
obrigação para ambas as partes; li se a perda resultar de culpa do devedor,
responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.

- tradição = entrega do bem (móvel) ou registro do bem (imóvel) - via de regra


o se não houve a transferência para o credor, o devedor ainda é proprietário!!
ex [1] ~ culpa: joão vendeu o carro para rafael - joão ficou de entregar o carro no
sábado, no dia que seria realizado o pagamento, ocorre que na sexta houve uma
enchente e o carro sofreu perda total - nesse caso extingue-se a obrigação para
ambas as partes, ou seja, joão não é obrigado a entregar o carro e rafael não é
obrigado a pagar o valor
ex [2] com culpa: joão ficou de doar seu carro a rafael (com ou sem condição
suspensiva, por ex. ingressar na faculdade), ocorre que um dia antes da tradição
joão, dirigindo embriagado, jogou seu carro no rio - nesse caso João ficará
obrigado a dar o valor do bem a rafael, e, se for o caso, acrescer perdas e danos

• Deterioração da Coisa (perda parcial do bem) sem/com culpa do devedor


Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor
resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.

Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar
a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso,
indenização das perdas e danos.

e
ex: joão comprou, e pagou, um caminhão, em que a loja ficou responsável por fazer
revisão e entregar o veículo no prazo de 24h ._ ele, acreditando que iria receber no
prazo determinado, aceitou vários fretes para os próximos dias ._ houve um
acidente dentro da própria loja e foi danificada toda lateral do caminhão ._ nesse
caso joão poderá: recusar a coisa deteriorada, receber o valor corrigido que pagou
pelo caminhão e ainda receber as perdas e danos em virtude de não poder realizar
os fretes que havia se comprometido li ou receber a coisa deteriorada acrescida do
valor da depreciação do bem e perdas e danos que sofreu por não realizar os fretes

• Melhoramentos
Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e
acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir,
poderá o devedor resolver a obrigação.
Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os
pendentes.

D frutos percebidos são aqueles que já foram colhidos; separados do bem principal

D pendentes são aqueles que ainda estão ligados ao bem principal


ex [1]: uma pessoa aliena a vaca e não sabia que ela estava prenha - pode alegar
erro para desfazer? NÃO! não pode alegar pois não se qualifica como erro quanto à
natureza, à identidade/qualidade essencial e nem erro de direito (prometeu vender
uma vaca e é isso que está vendendo) [art. 139/CC]
o mas, caso perceba que a vaca está prenha antes da tradição, pode pedir aumento
do preço, conforme o art. 237
ex [2] cheron é proprietária de um terreno à margem da BR-232 antes da duplicação,
sem nada de demais - mas, com a duplicação, o terreno dela iria ficar na beira da
pista e, portanto, valorizando-se - um comprador, que também não sabia que a BR
seria duplicada, fez um acordo de comprar o terreno dela a preço baixo - daí vem a
notícia de que o Estado vai duplicar e que o terreno vai se valorizar
substancialmente - considerando que o comprador já vem pagando parcelas, mas
que a tradição só vai acontecer quando ele acabar de pagar, ela pode aumentar o
preço agora?- SIM! pois é antes da tradição
OBS: 'mas ela não fez nada' - estamos falando de 'melhoramentos ou acréscimos',
que podem ser feitos com a intervenção do proprietário ou sem - se for com a
intervenção, se qualifica como benfeitorias [art. 97/CC]

• Obrigação de restituir coisa certa sem/com culpa do devedor


Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se
perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá,
ressalvados os seus direitos até o dia da perda.

o inversão no que foi visto: restttui-sa o proprietário (e credor}, mas se a coisa


perde antes da restituição, ele é quem se prejudicará (e não o devedor)
ex: tiago alugou um carro e fc; ta;nar um sonete n~ Coque, 5e.xt.a-faiía às 23h, aí foi
assaltado - os assaltantes destroem o carro - então o carro se perdeu sem culpa
do devedor etiago prova que o Cà~ foi rnubarb - vai pagat o ~11.lguet ~J catr:, m
não vai restituir o valor do automóvel

Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo
equivalente, mais perdas e danos.

• Deterioração na obrigação de restituir


Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o
credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor,
observar-se-á o disposto no art. 239.

o na obrigação de restituir, como a coisa pertence ao credor, ele recebe o bem se a


deterioração se deu sem culpa do devedor

D se foi com culpa, o credor pode exigir o equivalente mais perdas e danos [art. 239]

• Melhoramentos na obrigação de restituir sem/com participação do devedor


Art. 241. Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa,
sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o credor. desobrigado de indenização.

D o bem é propriedade do credor caso haja melhoramento, não cabe indenização


ex [1 ]: se eu aluguei um imóvel e, por obra da Prefeitura, ele se valorizou durante o
período de alocação, não cabe ao devedor [quem alugou] pedir indenização,
abatimento nos aluguéis, etc
ex [2]: joão emprestou (comodato) sua fazenda a seu primo rafael para o cultivo de
milho durante dois anos - nesse período o rio que margeava a fazenda secou,
aumentando em 10% a área da fazenda (sofrendo acréscimo na área) - rafael, que
não teve participação no acréscimo do bem, no momento de devolver a fazenda não
terá direito à indenização

Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou


dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias
realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé.

o as disposições sobre as benfeitorias do possuidor de boa-fé e de má-fé estão


disciplinadas do art. 1.219 ao 1.222 do CC:

Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias


necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a
levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de
retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.

o quanto às benfeitorias necessárias e/ou úteis, o devedor de boa-fé terá direito a


ser indenizado por essas benfeitorias e ainda terá direito a reter o bem enquanto não
foi indenizado pelo credor
o quantos as benfeitorias voluptuárias o art. 1.219 CC prevê duas hipóteses:
- podem ser levantadas (retiradas) sem detrimento (estrago) do bem principal: nesse
caso o credor poderá optar por ficar com as benfeitorias e indenizar o devedor ou
permitir que o devedor levante (retire) as benfeitorias
- não podem ser levantadas sem detrimento do bem principal: nesse caso o devedor
não terá direito a levantar as benfeitorias e ainda não terá direito a indenização - ou
seja, as benfeitorias passarão a integrar o bem principal

Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias


necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de
levantar as voluptuárías.
o as benfeitorias necessárias terão direito a indenização, enquanto as úteis e
voluptuárias não o terão, não obstante o devedor não poderá realizar o levantamento
das benfeitorias ou a retenção, no caso das benfeitorias necessárias.
ex [1]: joão vendeu um imóvel pra rafael, após a 10ª parcela Rafael parou de pagar e
joão prontamente o notificou e solicitou a desocupação do imóvel - a partir desta
data, rafael passou a ocupar o imóvel de má-fé -- apesar disso, houve a
necessidade de trocar a caixa d'agua que havia estourado, tendo, rafael,
prontamente realizado o serviço -- esse caso a benfeitoria foi necessária, logo,
rafael terá o direito de ser indenizado, porém não terá o direito de reter o imóvel
ex [2]: no contexto acima, rafael ampliou o banheiro, realizando, portanto, uma
benfeitoria útil -- nesse caso, rafael não terá direito a qualquer tipo de indenização,
pois a sua posse era de má-fé

Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o


disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé.

o o par. único do art. 242 se refere ao possuidor de boa fé [1.214] e má fé [1 .216]:


Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos
percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser
restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser
também restituídos os frutos colhidos com antecipação.

- no caso do devedor de boa-fé, os frutos percebidos durante esse período da boa-fé


pertencerão ao devedor
- pertencerão ao credor os frutos que estavam pendentes quando terminou a boa-fé
do devedor, porém o devedor deverá restituir ao credor os frutos pendentes somente
após deduzidas as despesas de produção e custeio
- pertencerão ao credor os frutos percebidos com antecipação ( colhidos antes da
hora certa), nesse caso o devedor deverá restituir ao credor os frutos os a ele pagar
indenização, também terá, o devedor, direito a receber o valor das despesas de
produção e custeio
ex [1 ]: joão vendeu a rafael uma fazenda para produção de laranjas, porém após a
1 Oª parcela rafael interrompeu o pagamento - no período que rafael estava de
boa-fé todos os frutos colhidos a ele pertencerão, pois ele era devedor de boa-fé
ex [2]: após a notificação de joão para desocupação do imóvel, cessou a boa-fé de
rafael .- a partir desse momento todos os frutos pendentes pertencerão a joão -.
nesse caso, antes de rafael restituir os frutos a joão, deverá ser deduzida as
despesas que rafael teve com a produção e custeio dos frutos
ex [3]: se rafael colheu antecipadamente (ainda em boa-fé) os frutos - nesse caso
os frutos colhidos antes da hora certa pertencerão a joão (pois estariam pendentes
se não tivessem sido colhidos) - joão deve apenas pagar a rafael o valor da
produção e custeio

Art. 1,216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhido e percebidos,
bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que
se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.

- os frutos já colhidos e percebidos pelo devedor de má-fé sempre pertencem ao


credor, portanto ele deverá entregar ao credor os frutos ou indenizá-lo, caso não
existam mais - nesse caso o devedor terá direito a receber as despesas de
produção e custeio
ex: se rafael tivesse ocupado a fazendo de má-fé após a notificação de joão e,
durante esse período, colhido vários frutos, todos esses pertenceriam a joão .-
nesse caso o único direito de rafael será receber o valor da produção e custeio

- os frutos que, por culpa do devedor, deixaram de ser percebidos, será de


responsabilidade do mesmo, devendo, portanto, indenizar o credor, visto que os
frutos eram propriedade do credor -. o devedor ainda terá direito a receber as
despesas de produção e custeio
ex: se rafael deixou os frutos apodrecerem, sem fazer a colheita, este deverá
indenizar joão, pois será sua culpa a perda dos frutos
2. obrigações de dar coisa incerta
o o CC trata a prestação de dar coisa incerta também no livro de Sucessões (legado
de coisa incerta) ---. vences chama a atenção a esse livro por considerá-lo mais
específico e por ter tido a participação do professor Torquato de Castro na redação
ex: quero que me sejam fornecidas 10 sacas de feijão---. gênero: feijão I quantidade:
1 O sacas, mas pode ser qualquer tipo de feijão!

D o que o Código Civil/2002 regulamenta sobre obrigação de dar coisa incerta:

Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.

Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha
pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não
poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor.

o favor debitorisl
ex: ana flávia é proprietária de 1 O cabeças de gado, podemos fazer um ranking do
"melhor" boi (maior, mais novo, etc) para o "pior" (menos saudável, mais magro etc.)
---. diz o código que a escolha cabe ao devedor [nesse caso, ana] mas que ele não
pode dar a coisa pior e nem é obrigado a dar a melhor ---. a interpretaçãoque se dá
é que se busque o "meio-termo", evitando a malandragem---. mas isso não impede
que o devedor dê o "2º pior" boi, não há regra contra isso

OBS: vences considera que a redação no livro das sucessões é melhor: "Se o
legado consiste em coisa determinada pelo gênero, ao herdeiro tocará escolhê-la,
guardando o meio-termo entre as congêneres da melhor e pior qualidade." [art.
1.929 CC/2002]
OBS [2]: essa escolha que é feita pelo devedor é chamada pela maioria como
"concentração", mas há uma crítica de Pontes de Miranda e de Geraldo Neves em
relação a impropriedade do termo, porque aqui a prestação não é incerta, é certa:
prestação de dar ---. o que é incerto é o objeto da prestação, e ele não vai ser
determinado, mas sim concretizado (por isso é chamado de concretização: o
devedor tira a coisa do abstrato e a concretiza)
Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção
antecedente.

• Perecimento de coisa incerta

Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da
coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito.

- princípio genus nunquam perit = o gênero nunca perece = gênero, em regra, antes
da especificação, é ilimitado
O garante segurança jurídica ao adimplemento da relação obrigacional, por parte do
devedor, uma vez que, antes da escolha - ou seja, da concentração do objeto em
coisa certa - este não poderia deixar de cumpri-la pelo simples fato de, ao momento
do vencimento, não possuir a coisa em seu domínio
ex: você prometeu dar 1 O sacas de feijão, mas as que você tinha foram estragadas
por uma cheia - você não pode alegar que não pode mais dar, visto que a
promessa foi de 1 O sacas de feijão, não de 1 O sacas de feijão suas --. não há como
alegar que não se pode comprar feijão em outro lugar, dado que não foi especificado

OBS: Paulo Lôbo considera algumas exceções a essa regra, como quando, por
exemplo, surge uma lei que proíbe algo --. ex: a promessa era entregar garrafas de
vinho, mas uma lei foi aprovada proibindo a venda de bebida alcoólica - neste
caso, se foi proibido, você não tem como entregar, não tem como cumprir!

OBS de Paulo Lôbo: às vezes, pode haver dúvidas se a obrigação é de dar ou fazer
--. ex: a encomenda de um quadro a um pintor é obrigação de fazer I a obrigação de
entregar um quadro já pintado é uma obrigação de dar ---+ por vezes a obrigação de
dar é acessória da de fazer. como na hipótese de escrever um livro, em que o
principal é escrevê-lo, podendo acessoriamente existir o dever de dar, de entregá-lo
a um editor --. no exemplo do quadro, não se pode constranger alguém, inclusive
judicialmente, a que pinte um quadro, nem terceiro pode fazê-lo mas, realizada a
obra, surge a obrigação de entregar (dar) o quadro; esta última prestação é exigível,
inclusive mediante execução forçada
OBS de Pontes de Miranda: preferiu inverter a ordem do Código Civil, pondo-se o
geral antes do especial, argumentando que muito tempo hesitou em só se referir às
obrigações de fazer, de que as obrigações de dar seriam espécie, porque "dar é
fazer, porém fazer que se trata de modo especial, porque supõe o bem que se
desloca"
o vences diz que é claro que às vezes vai existir uma zona cinzenta
ex: eu tenho uma atividade, você me encomenda um parecer - minha obrigação é
elaborar o parecer, atividade intelectual - quando termino não posso dizer que está
na minha cabeça, mas sim haverá de ser por escrito = é necessário que esse 'fazer'
se materialize em algum lugar ---+ assim, seria obrigação de fazer, mas para provar o
cumprimento terá que levar essas ideias por uma base e mandá-la ao requerente ---+

acumulam-se as obrigações, bem como os meios de execução

• Obrigações de fazer
D Clóvis Beviláqua: nessa obrigação, o objeto da prestação é um ato do devedor
- Caio Mário da Silva Pereira: defende que todas as prestações são na verdade de
fazer, quando se fala sobre obrigação de dar, dar é na verdade fazer a entrega .-
fazer é qualquer ação humana, que pode ser positiva ou negativa .- Vences destaca
que a distinção entre elas se justifica pela questão de diferenciação em relação à
tutela processual, ou seja, pelas peculiaridades que vão existir em cada tipo de
execução ---+ na prestação de fazer a própria ação humana já satisfaz, realiza por si
só o interesse do credor
[tutela genérica = conversão em perdas e danos ou indenização li específica = quer
que o devedor cumpra ou realize a prestação que se comprometeu anteriormente]

D o que o Código Civil/2002 regulamenta sobre a obrigação de fazer:

• Obrigação de fazer personalíssima

Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a
prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível.

D intuitu personae = personalíssima = situação em que o devedor não pode


substituir por outra pessoa, ele mesmo deve realizar
- nesse caso há direito a indenização e perdas e danos dado que não faz sentido
falar de execução específica (não posso obrigar a pessoa a fazer, então a execução
cai sobre o patrimônio)
ex: marielle é fã de me elvis e quer a presença dele no aniversário dela -+ contrata
ele, mas o mesmo diz que não pode comparecer mas que vai mandar vitinho
polêmico para fazer o show no aniversário -+ marielle insiste que quer o show de me
elvis especificamente

Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor,


resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos.

Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo
executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da
indenização cabível.
Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de
autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.

o nesse caso, o fato pode executado por terceírc=- o devedor então deve contratar
terceiro para realizar o serviço .- se ele se recusar, o credor pode contratar um
terceiro e pedir o ressarcimento do devedor caso este se recuse a realizar a
prestação -+ em caso de urgência, o credor pode mandar um terceiro executar sem
a ordem judicial [Paulo Lôbo aponta que essa urgência se dá em favor do credor, ele
não precisa provar a urgência, apenas alegar]
o o credor obtém o seu resultado, ainda que parcialmente satisfatório, para depois
obter, em juízo, o ressarcimento por parte do devedor.- mas no que diz respeito a
execução do fato ele já conseguiu, quando mandou terceiro executar

• Obrigações de não fazer


o consiste em abster-se o devedor de executar o fato a cuja omissão se tiver
obrigado, ou seja, omitir - por obrigação convencional - uma conduta que, do ponto
de vista legal, seria lícita
- é subdividida em 2 tipos (apesar de o nosso Código não fazer essa distinção
explicitamente):

,[ '
1. obrigação estritamente (ou meramente) de não fazer
ex [1 J: coloca o filho de castigo para ficar sentado sem fazer nada por 5min -
obrigação de ficar imóvel
ex [2]: obrigação de não revelar segredo - não fazer e ponto!

2. obrigação de tolerar

ex [1J: programa de reality show, prova de resistência corporal - obrigação de não


impedir que alguém faça alguma coisa

ex [2]: a lei de liberdade econômica traz a obrigação de tolerar no seu art 3º, 1 = se a
atividade é de baixo risco, o poder público não pode impedir a realização de uma
atividade remunerada por um empresário I profissional
D uma menininha vende limonada com sua barraquinha na rua - aqui no Brasil, a
menina que fez isso foi proibida por um fiscal - teria que pedir alvará ao município,
pedir CNPJ etc = um absurdo! - para a lei (e Vences concorda) não se pode
impedir que essa atividade seja realizada, isso seria a obrigação de tolerar!

ex [3]: direito de vizinhança, art. 1285 CC 2002: 'o dono do prédio que não tiver
acesso a via pública, pode, mediante pagamento de indenização cabal, constranger
o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se necessário'
o vences teve um cliente que tinha uma casa em cima de um morro, cuja passagem
se dava por meio de uma escada de frente a um posto de gasolina, esse era o único
acesso que ela tinha - o posto foi vendido e o novo dono mandou derrubar a
escada - entrou com uma ação para garantir o direito de passagem - o acesso
natural era a escada

D obrigação de tolerar pois o proprietário do terreno tem que permitir que o vizinho
passe para ter acesso à via pública!
OBS: na execução da obrigação de não fazer não precisa comprovar que houve a
violação do direito, tanto que o CPC no artigo 497, no parágrafo único, ele diz que:

Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de


fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido,
concederá a tutela específica ou determinará
providências que assegurem a obtenção de tutela pelo
resultado prático equivalente. Parágrafo único. Para a
concessão da tutela especifica destinada a inibir a
prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a
sua remoção, é irrelevante a demonstração da
ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo.

O o que o Código Civil/2002 regulamenta sobre a obrigação de não fazer:

Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor,
se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar.

o faz-se uma distinção do descumprimentodas obrigações por culpa do devedor, ou


sem ela _. Marcos Bernardo de Mello entende que a culpa não é um fato relevante
para um inadimplemento, porque não se existe intenção (nem para o cumprimento)
o não ter culpa deve ser lido como: o fato, que implicou no descumprimento da
obrigação, não seja imputável ao devedor - ex: eu contraí a obrigação de não
revelar segredo, mas recebi uma decisão judicial me obrigando a relevar, o juiz tá
me obrigando, então não é voluntário!! [ou seja: nesse caso o fato não é imputável
ao devedor, mas a um terceiro, como uma autoridade especial]

Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode
exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o
culpado perdas e danos. Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor
desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem
prejuízo do ressarcimentodevido.

o essa medida deve ser adotada desde que ela seja útil e possível!
- a regra geral é a de que não se pode compelir fisicamente o devedor a desfazer o
ato_. como o interesse social e a própria segurança jurídica exigem o cumprimento
da obrigação, permite o Código seja o ato desfeito pelo próprio credor ou por
terceiro, à custa do devedor
- ressalta-se, no entanto, que essa tutela específica e excepcional prevista no
parágrafo único não poderá atingir situações já consolidadas, devendo ser utilizada
com parcimônia _. o credor da obrigação negativa de não construção de um prédio
que já está pronto não poderá promover-lhe diretamente a demolição
ex [1 ]: em alguns condomínios fechados existem certas regras em relação ao
paisagismo, não se permite que levantem muros (obrig de não fazen-» se a pessoa
levanta o muro, vai ter que desfazer (tem utilidade e é possível pedir)
ex [2]: a obrigação é de não revelar segredo ._ depois que a fez, não se desfaz

• Obrigações de não dar


o Geraldo Neves:

• Obrigações alternativas

D crítica ao nome: em matéria de cumprimento, não há que se falar nessa


alternatividade, quem assume uma obrigação dita alternativa segue obrigado ._ é
por isso que Geraldo Neves fala de obrigação com prestações alternativas -+ o
conteúdo da obrigação abrange essas prestações
- a obrigação é certa mas a prestação, não!!

D o que o Código Civil/2002 regulamenta sobre as obrigações alternativas:

Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa
não se estipulou.

D em relação à 'questão da escolha', Geraldo Neves faz uma crítica porque a


maioria da doutrina chama tanto essa escolha quanto a da coisa incerta de
"concentração" -+ ele a distingue da concretização: na obrigação da coisa incerta a
prestação já é certa, concentrada, mas o conteúdo ainda é incerto, esse método
torna concreto, por meio da escolha em relação ao conteúdo, o bem em específico,
objeto concreto

-+ concentração: na prestação alternativa se tem, a princípio, a fragmentação da


obrigação em várias prestações possíveis -+ quando o devedor escolhe ele
concentra em uma só.- elimina a outra e gera unidade!
ex: uma escola, devido a inadimplência faz uma campanha para que os pais paguem
com desconto ou prestem serviços à escola .- duas prestações possíveis: o pai
pode pagar (dar) ou prestar serviço de manutenção de informática (fazer)

§ 4 .12 Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la,
caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes.

o em relação a 'caber ao devedor', há o favor debitoris [princípio da proteção do


deveocrj=- se presume que a escolha cabe ao devedor, sendo que por contrato ou
em lei, essa escolha pode ser deferida a um credor ou até mesmo um terceiro
- para Geraldo Neves, a pactuação de obrigação de prestação alternativa é uma
forma de reduzir o risco para o devedor, porque aí ele pode escolher a prestação
que seja menos onerosa
ex: se você comprou uma TV com vício, apresenta a TV para que o vício seja
sanado no prazo de 30 dias .- caso não dê certo, aparecem 3 faculdades ao credor:
prestações alternativas que cabem ao consumidor!! [POR LEI]
- um exemplo comum de ser decidido por um terceiro é a cláusula de arbitragem

OBS: uma coisa que CC não diz, e Geraldo Neves sim, é a possibilidade de escolha
se dar por sorteio: parece que é contemplada no caput ('se outra coisa não se
estipulou'): coisa de programa de televisão, você ganha a prova mas tem que lançar
o dado - isso é uma obrigação alternativa em que a escolha se dá por sorteio:)

§1 .12 Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte
em outra.

§2 .12 Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá


ser exercida em cada período.

D o devedor não pode escolher parte em um e outra (metade da mensalidade e


metade serviço) - a não ser que se trate de prestação periódica (1 mês escolher
uma forma e no 2°, outra)

§3 .Q No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles,


decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação.
D a existência da unanimidade pode ser excessiva em alguns casos - imagine que
são 1 O herdeiros que têm a prerrogativa de escolher qual das prestações eles vão
exigir - 9 optam por uma coisa e 1 outra - é excessivo dar ao juiz o poder de
determinação contra o que 9 querem - não é razoável e talvez viole deveres de
proporcionalidade, boa fé, então essa regra deve ser lida com certa cautela!! se há a
maioria substancial, o juiz decide (claro) mas talvez levando em consideração
exatamente essa maioria
- ressalta-se que o juiz deve fixar um prazo para que os optantes deliberem - não é
uma questão de se conferir o poder ao juiz porque há simplesmente um desacordo,
imediatamente

Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou ~
tornada inexegüível, subsistirá o débito quanto à outra.

o dois tipos de impossibilidade:


[se 'não puder', é impossibilidade inicial mas se 'se tornou', é superveniente!!]
1.inicial = quando ao tempo que se contrai a obrigação a prestação já era
juridicamente impossível
D exclui a obrigação, mas não o dever de indenizar por perdas e danos por parte do
devedor - Art. 106: "A impossibilidade inicial do objeto não invalida o se for relativa,
ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado." - se for
absoluta, o contrato existe mas não é válido, não pode ser executado, sem
obrigação nem efeitos
- assim, a impossibilidade equivale ao descumprimento - não pode-se imputar
aquela decisão -+ se sou uma pessoa que contrai a obrigação sabendo que não tem
como cumprir vai estar em mora (inadimplente) de qualquer jeito
ex: pessoa contrai a obrigação de dirigir, mas é menor de idade

2. superveniente = tornou-se impossível com o tempo


ex: sou maior de idade e habilitado mas, por infortúnio, tive que amputar o braço
( caso isso faça com que não dê para dirigir)
OBS: problema do banco: se o banco me emprestou dinheiro e eu não tenho como
pagar, problema do banco - no nosso sistema a impossibilidade relativa não
exonera o devedor da obrigação [para exonerar, só se for absoluta!!!!]

EXCEÇÃO:

D Pontes de Miranda faz uma ponderação - que já era feita pela doutrina alemã,
também, o que fez ser incorporado no CC alemão - no sentido de que, em alguns
casos, quando o credor de boa fé não pode nem deve esperar que o devedor
naquelas condições cumpra a obrigação, ainda que seja relativa e o caso gere
exclusão da obrigação - CC alemão começou a considerar a impossibilidade
relativa como hipóteses de extinção da Obrigação
ex: a mãe é cantora de ópera I o filho fica doente e vai parar na UTI I ela tinha se
comprometido a participar de uma apresentação mas o filho está internado --1- é um
caso de impossibilidade relativa mas um credor leal não pode esperar que a mãe
tenha cabeça para ir cantar na ópera nas devidas circunstâncias --1- é de se admitir
que seria excessivamente oneroso - e até cruel - exigir que ela cumpra as
obrigações nos termos dados - impossibilidade superveniente relativa com
exclusão da obrigação!! [se a obrigação é extinguida, se ela havia recebido
anteriormente, vai ter que devolver o valor; se não, seria enriquecimento sem causa}

Art. 254. Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações,
não competindo ao credor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que
por último se impossibilitou,mais as perdas e danos que o caso determinar.

O como ensina Pothier, nesse caso o devedor perde o direito de escolher, porque
com a extinção da primeira prestação ficou devendo, obrigatoriamentea segunda, já
a única devida, de modo que, tornando-se também esta impossível, só por ela deve
responder o devedor
- presume-se que há uma sequência, ou seja, uma prestação se impossibilitou
primeiro e a outra depois, de modo que haveria uma última - o CC não contempla a
possibilidade de as prestações terem se impossibilitado simultaneamente,que é algo
possível

Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se
impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a prestação

') f'
subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor,
ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de
qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos.

o nesse caso o credor não é obrigado a aceitar a prestação que subsistiu, ele pode
escolher a que se tornou inexequível [irrealizável], se ela for mais interessante para
ele, financeiramente

o se as duas se tornarem impossíveis, ele pode escolher a que lhe aprouver [o que
for melhor para ele, no caso], porque aqui a escolha foi deferida ao credor
[se não fosse assim estaria subtraindo ao credor o direito de escolha, quando, na
verdade, ele só poderá ficar privado desse direito por um fato decorrente de caso
fortuito ou força maior, jamais por ato culposo do devedor, que poderia, de propósito,
fazer perecer a prestação mais valiosa, no intuito de causar prejuízo ao credor!!]

OBS: se houver a disparidade muito grande entre as prestações, não cabe


impugnação porque as prestações são de naturezas diferentes, e elas já foram
estipuladas no momento do contrato [aqui não vale aquela regra em relação à
obrigação de dar coisa incerta de que se deve escolher o termo médio etc]
ex: tenho uma prestação de entregar o carro - que vale 100 mil reais - ou prestar um
serviço que vale 50 mil ou ainda entregar um valor de 70 mil em dinheiro ... ?

Art. 256. Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor,


extinguir-se-á a obrigação.

D obrigação se resolve sem indenização!!

OBS: no procedimento há uma questão interessante que não foi contemplada no


CC: se a escolha é do devedor, na execução, então o juiz vai citar o devedor para
que ele a realize - se o devedor fica inerte, não responde, isso não vai inviabilizar a
execução -> ce no ~;-~zo ::~~do não há a ação do devedor, o juiz devolve a
possibilidade da escolha ao credor - art. 800, § 1 ° do CPC: "Devolver-se-á ao
credor a opção, se o devedor não a exercer no prazo determinado."

.2 'l
• Obrigações divisíveis
o havendo uma pluralidade de credores ou de devedores e sendo o objeto da
prestação divisível, a obrigação se divide em tantos quantos forem os credores ou

devedores
- são divisíveis as obrigações cujas prestações podem ser cumpridas parcialmente e
em que cada um dos devedores só estará obrigado a pagar a sua parte da dívida,
assim como cada credor só poderá exigir a sua porção do crédito
ex: num contrato de compra e venda, havendo vários compradores, pactuou-se o
valor do preço -- são 4 compradores, apenas 1 devedor e pactuou-se o preço no
importe de 1 milhão de reais -- dinheiro é bem divisível
OBS: diferentemente do que ocorre com as obrigações alternativas, aqui a prestação
é uma só -- a pluralidade é dos sujeitos da obrigação

• Obrigações indivisíveis
o diz-se indivisível a obrigação caracterizada pela impossibilidade natural ou jurídica
de fracionar a prestação, na qual cada devedor é obrigado pela totalidade da
prestação e cada credor só pode exigi-la por inteiro

o o que o Código Civil/2002 regulamenta sobre as obrigações (in)divisíveis:

Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação


divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos

os credores ou devedores.

o é uma presunção relativa, visto que pode ser afastada a depender das
circunstâncias do caso concreto [oposto de absoluta - iuris et de jure]
- para pessoa ter direito à metade do bem, tem que ter pago o valor correspondente!
o no contrato de compra e venda, presume-se que havendo vários compradores,
cada um desses compradores paga a parte igual a dos outros, mas no caso
concreto, é possível demonstrar que um pagou a mais, que ele vai ter direito a mais,
a não ser que haja cláusula expressa em sentido diverso

OBS [1]: apesar do dinheiro ser um bem divisível, pela vontade das partes, pode-se
pactuar que a obrigação que tem por objeto um bem divisível seja indivisível
o Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por
determinação da lei ou por vontade das partes
ex [1 - por lei]: a hipoteca é um bem indivisível, a garantia de hipoteca recai sobre a
totalidade do bem, isso por determinação da lei, o CC preceitua assim
ex (2]: o módulo rural, é um bem indivisível mas há até um debate que está em pauta
no STF ou é no STJ, se é possível adquirir por usucapião rural uma área menor que
o módulo rural, já que é um bem indivisível e, em tese, não poderia ser fracionado
OBS [2]: Alexandre Correia afirma que o que se presumiria indivisível era obrigação
de não fazer - ex: não revelar segredo -+ não adianta revelar uma parte e dizer que
não descumpriu porque foi só uma parte
o vences acha que o pensamento dele faz sentido mas não conseguiu pensar em
outro exemplo de obrigação de não fazer, mas faz sentido que seja indivisível

Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou
um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem
econômica, ou dada a razão determinante do .

O por sua natureza: o dever de não revelar segredo não é suscetível de divisão = se
você revela parte, já está revelando segredo
o por motivo de ordem econômica: se você da uma martelada no diamante, ele vai
passar a valer menos -+ é um bem que pode ser dividido, só que ele inteiro vai valer
muito mais do que os fragmentos, então não faz sentido
o em relação à razão determinante do : tem a questão da vontade, que pode
determinar que certo bem é indivisível, e tem outras questões - ex: se você vende
um boi vivo - um boi vivo não é divisível, porque se você o vai matá-lo

Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada

um será obrigado pela dívida toda.

o a presunção de que a prestação se divide em tantos quantos forem os devedores,


decorre do fato de a prestação ser divisível - se ela não for, aí não vai ter esse
fracionamento da prestação, cada um pode ser demandado pela dívida toda
Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em
relação aos outros coobrigados.

D sub-rogação subjetiva, nesse caso, o devedor assume a posição do credor, em


relação aos coobrigados -. o pagamento feito por um dos devedores não extingue a
dívida!!

ex: há vários herdeiros e o pai deixou uma herança, um imóvel - esses herdeiros se
juntam para vender o imóvel e pactuam essa obrigação como indivisível -. um
herdeiro vai e entrega o bem - presume-se aí que há uma cota relativa a esse
herdeiro, de modo que ele se sub-roga no lugar do credor, mas não em relação à
totalidade da dívida, ele vai abater a parte dele -. se o bem tinha o valor de 1 milhão
e eram 4 herdeiros, ele vai se sub-rogar em 1 milhão menos 250 mil, ele vai se
sub-rogar, no direito do credor, em relação a 750 mil reais

D vai poder cobrar os 750 mil dos outros devedores, sejam eles reunidos ou um só
- você paga a dívida toda, agora a dívida, a parte que é dos outros devedores, vai
ser paga a você - a obrigação é a mesma, só que o credor mudou -+ como se o
herdeiro pagasse a dívida dos outros, que é dele também

OBS: não é devedor solidário -. se um dos devedores paga, a obrigação é extinta

Art. 260. Se a pluralidade for dos credores. poderá cada um destes exigir a dívida
inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando:
1 - a todos conjuntamente;
li - a um, dando este caução de ratifica~o dos outros credores.

D se forem vários credores, é óbvio que se o devedor pagar todos em conjunto, ele
vai ser desobrigado

- a questão está em como ele vai se desobrigar pagando apenas um deles = caução
de ratificação - um tipo de caução pessoal, em que alguém que garante uma coisa
por outra pessoa - nesse caso, os outros credores asseguram ou concordam que o
pagamento seja feito a um só credor-+ assinam um termo (recibo) para comprovar
u se ele pagar sem a caução de ratificação, fica sujeito a ter que pagar de novo, já
que não vai ter a prova da quitação [é uma garantia]
Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos
outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total.

o só cabe se o pagamento foi feito com caução de ratificação!!

Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para
com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor
remitente. Parágrafo único. O mesmo critério se observará no caso de transação,

novação, compensação ou confusão.

D a remissão, o perdão, concedido por um dos credores não extingue a dívida toda,

mas apenas a parte daquele credor


ex: há uma dívida de 1 milhão e são 4 credores-+ um dos credores perdoa, mas
esse perdão não alcança a dívida toda, ele só pode perdoar a parte dele -+ se cabia
a ele a % da dívida, a dívida perdoada foi de 250 mil, só que os 750 mil continuam
sendo indivisíveis-+ os outros credores podem cobrar os 750 mil [só abate o valor]

Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e

danos.
§1 11 Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores,

responderão todos por partes iguais.


§2 12 Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse

pelas perdas e danos.

o se se resolver em perdas e danos é porque descumpriu a obrigação -+ é


descumprimento, execução [nela normalmente se prefere a execução em dinheiro ]
-+ a indenização pelas perdas e danos é expressa sempre em dinheiro, sendo a

obrigação pecuniária divisível por sua própria natureza


D culpa = em relação a causação do descumprimento = um dado objetivo
ex [1]: havia uma data limite para a entrega de uma ovelha-+ todos os sócios vão
para a festa e perdem o prazo -+ todos foram culpados, independente da intenção

ex [2]: alexandre mata a ovelhinha, que deveria ser entregue, para fazer um
churrasco -+ por um ato dele só, se tornou impossível o cumprimento da obrigação

d. ;·, ·,, .~

J •
OBS: o § 2° se refere à exoneração dos demais co-devedores apenas no tocante a
perdas e danos e não à quitação de suas quotas na dívida!!

• Obrigações solidárias
o diz-se solidária a obrigação quando a totalidade da prestação puder ser exigida
indiferentemente por qualquer dos credores de quaisquer dos devedores - cada
devedor deve o todo e não apenas sua fração ideal [;é das obrigações indivisíveis]
- parte da doutrina fala em obrigações in solidum, porque aqui a gente tem a
situação que, em virtude de lei ou de contrato, se pode cobrar ou se é obrigada a
pagar a prestação toda, íntegra [Paulo Lôbo, p. 137:
- se é mais de um devedor obrigado a dívida toda, aí a gente fala em solidariedade
passiva e se é mais de um credor, em solidariedade ativa [há credor e devedor nela]
OBS: distinção entre obrigação solidária e obrigação indivisível: a indivisibilidade é
natural e se relaciona ao objeto da prestação, enquanto a solidariedade é sempre
jurídica (decorre da lei ou do acordo das partes) e se funda em relação subjetiva -
convertida a obrigação em perdas e danos, desaparece a indivisibilidade,
permanecendo, no entanto, a solidariedade (v. arts. 263 e 271) - o devedor de
obrigação solidária, antes de demandado, pode pagar livremente a qualquer dos co
credores, enquanto o devedor de obrigação indivisível deve observar o art. 260

o o que o Código Civil/2002 regulamenta sobre as obrigações solidárias:

Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um


credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda.

o mecanismo de redução de riscos e facilitação para o credor - ele, tendo mais de


um devedor, vai poder escolher contra quem vai litigar [o que tem mais dinheiro kak]
OBS: não é recomendável, se a obrigação é solidária, demandar mais de um
devedor, escolha apenas 1 - haveria um atraso natural e o pagamento das custas e
sucumbências processuais do que foi excluído da lide - o juiz só escolhe 1 de 2

Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.
ex: a lei obriga, em algumas situações, que a obrigação seja solidária -+ no direito
do consumidor, o artigo 18, institui a responsabilidadesolidária dos fornecedores em
relação a ofício do produto etc

OBS: caso de terceirização julgado pelo STF: se a União, o estado ou município


terceiriza determinada atividade - a empresa prestadora de serviço não paga - o
empregado NÃO pode responsabilizara administração pública
ex: FCAP: a UPE terceirizou vários serviços - o pessoal de limpeza não recebe o
pagamento -+ cobra da administração pública, mas na verdade quem não pagou foi
a empresa da terceirízação
D a administração entra aí como devedor solidário? há responsabilidade solidária?
-+ não tem lei que diga isso, administração só responde se a pessoa jurídica vier a
ser extinta, e é, claro, também tem uma limitação dessa responsabilidade
o o STF entendeu, em repercussão geral, com voto de minerva (desempate) do
Ministro Alexandre de Moraes, no sentido de entender que aqui não há
responsabilidade solidária da administração pública, aqui é só subsidiária [na
hipótese do não cumprimento da obrigação por parte do devedor, outro sujeito
responderá subsidiariamentepela obrigação -+ fiador]

Art. 266. A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-credores ou
co-devedores,e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro.

o natureza jurídica das obrigações solidárias: são autônomas e distintas, e isso é


reforçado pela regra do artigo acima
ex: tem-se 2 devedores solidários,joão e camila, os 2 pediram emprestados mil reais
-+ vai ser obrigação solidária -+ pode cobrar os mil reais de joão, ou de camila -
determina-se que, para joão, a dívida vence dia 5 e, para camila, só no dia 15 ._ se
joão não pagar no dia 5, dia 6 ele já está inadimplente, já pode exigir - mas camila
não, só fica inadimplente dia 16, se ela não pagar no dia 15!!

D o que o Código Civil/2002 regulamenta sobre a solidariedade ativa:

Art. 267. Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o
cumprimentoda prestação por inteiro.

•._ .-\
D o credor não é obrigado a exigir o pagamento da prestação por inteiro [pode exigir
pagamento parcial] e o devedor é não é obrigado a realizar o pagamento parcial,
pois é interesse dele se exonerar da dívida toda-« art. 314: "Ainda que a obrigação
tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem
o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou"
o princípio da pontualidade: a dívida deve ser paga com exatidão, cumprida ponto a
ponto; pontualidade não em relação ao tempo mas a exatidão do cumprimento

OBS: há, no Código de Processo Civil, a permissão do parcelamento judicial da


dívida - é uma violação da regra do Código Civil que obriga o pagamento integral?
ex: devedor não pagou e o credor entrou com execução -+ dentro do prazo de
defesa do executado, que é ou para pagar ou para entrar com um embargo na
execução, o executado pode propor o parcelamento de dívida - ele reconhece que
deve, deposita 30% de entrada e parcela o restante em 6 vezes - se pactuou que
ele pagaria 1 milhão, devendo ser entregue de uma vez no contrato com o credor
o a situação é distinta: para que haja o parcelamento judicial já se pressupõe o
inadimplemento da obrigação [durante a fase obrigacional anterior ao juízo de
execução, o devedor já não cumpriu a obrigação] - é permitido apenas para dar
cumprimento, para executar a obrigação, a fim de fazer cumprir o acordo, mesmo
que de forma parcelada, e obter um resultado prático igual (satisfação do credor)!!

Art. 268. Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor
comum, a qualquer daqueles poderá este pagar.

D se não há demanda, o devedor pode escolher perante qual dos credores


solidários ele irá preferir realizar o pagamento -+ o pagamento poderá ser
integralmente feito a qualquer um dos credores solidários

- princípio da prevenção: se um credor demandar, este será quem deve ser pago 1°!!

Art. 269. O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o
montante do que foi pago.
D se houve pagamento parcial, ela deixa de existir até o que foi pago -- fica o
restante da dívida solidária em relação ao montante que falta ser pago -- o
pagamento parcial não extingue a solidariedade

Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes
só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão
hereditário, salvo se a obrigação for indivisível.

D a morte do credor solidário põe fim a solidariedade pois vai se deferir aos
herdeiros o direito de exigir apenas a sua guota correspondente ao quinhão
- se for indivisível, há várias hipóteses, por ex.: se o objeto for um carro,
normalmente vende o carro e divide o valor recebido ou um dos herdeiros fica com o
carro e indeniza os demais na medida em que cabe a parte de cada sobre o valor

Art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os


efeitos, a solidariedade.

o a obrigação continua a ser solidária = ela não se extingue


OBS: diferença entre obrigação indivisível [vira divisível] e obrigação solidária
ex: havia a obrigação de dar determinado objeto, um carro, mas ele foi destruído -
tem que entregar o correspondente em dinheiro -- a obrigação continua a ser
solidária, qualquer dos credores pode exigir a totalidade do valor

Art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá
aos outros pela parte que lhes caiba.

D havendo o pagamento ou perdão da dívida por um credor solidário, a dívida está


extinta -- esse credor que perdoou responde perante outros faz um rateio (divisão]
- a vantagem para o credor que perdoa é praticamente inexistente -- nesse caso, a
remissão vai ter o mesmo efeito do pagamento

Art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções
pessoais oponíveis aos outros.

D as defesas que o devedor possa alegar contra um só dos credores solidários não
podem prejudicar aos demais -- se a defesa do devedor diz respeito apenas a um
dos credores solidários, só contra esse credor poderá o vício ser imputado, não
atingindo o vínculo do devedor com os demais credores
- enquanto a pretensão confere ao credor a prerrogativa de tensionar a relação e
exigir alguma coisa, o devedor tem direito a exceção que é o direito de se opor à
essa exigência
OBS: a palavra "exceção" não está empregada aqui em seu significado técnico
específico -+ refere-se genericamente às "defesas" que o devedor dispuser contra o
credor, abrangendo também objeções e direitos potestativos extintivos, como é o
caso da compensação e da confusão - para Didier, seriam 'contra direitos'

Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais,
mas o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o
devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles.

O princípio da beneficência: a coisa julgada só vai fazer efeitos, estender aos outros
credores solidários se for favorável a eles
- se for desfavorável, como só foi uma decisão em razão de um dos credores,
somente aquele credor teve o direito ao devido processo legal, ao contraditório,
então a questão não foi passada pelo crivo contraditório dos outros credores - só
fará efeitos sobre aquele credor que teve esse direito

CONCLUSÃO: a obrigação pode ter características de cumprimento diferentes para


cada um dos co credores, podendo, inclusive, vir a ser considerada inválida apenas
em relação a um deles, sem prejuízo aos direitos dos demais!!

o o que o Código Civil/2002 regulamenta sobre a solidariedade passiva:

Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores,
parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os
demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. Parágrafo único.
Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra
um ou alguns dos devedores.

o havendo solidariedade passiva, qualquer um dos devedores solidários pode ser


exigido pela dívida toda -+ o credor não é obrigado a entrar com ação contra todos
os devedores
OBS: o fato de o credor querer ajuizar uma ação para cobrar a dívida de um devedor
não quer dizer que ele renunciou a dívida em relação aos demais!!

Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum


destes será obrigado a pagar senão a guota que corresponder ao seu quinhão
hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão
considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores.

D se um deles falece, a dívida pode passar aos herdeiros - a execução recai sobre
o patrimônio do devedor e não porque a obrigação tem caráter pecuniário [não é
necessariamente patrimonial, mas a execução da dívida, no nosso sistema, recai
sobre o patrimônio existente do devedor, que vai do falecido ao(s) herdeiro(s)]
- princípio de beneficência: se o que ficou de herança não der (não tiver patrimônio
suficiente para pagar), os herdeiros irão pagar até o que receberam, não ficando
obrigados pessoalmente a pagar o resto da dívida
- o credor pode cobrar a totalidade da dívida do espólio, que são todos os herdeiros
reunidos!!
D os herdeiros do devedor solidário ficam na posição entre si de devedores
simplesmente conjuntos (pro parte) - mas, como pelo fato de passar a herdeiros a
condição da dívida não se transmuta, são eles coletivamente considerados e em
relação aos co devedores originários como constituindo um devedor solidário

Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele
obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia
paga ou relevada.

D o pagamento parcial não põe fim à solidariedade ._ ela persiste em relação à


parte que não foi paga - quem renuncia à dívida pode renunciar também à
solidariedade em relação a uma só pessoa
ex: 3 devedores de 900 mil reais - um paga 300 mil e é perdoado -+ os outros dois
permanecem obrigados solidariamente pelos 600 mil restantes (e não pelos 900 mil,
já que o que pagou foi perdoado) - se não tivesse sido perdoado, esse devedor
continuaria obrigado pelos 600 mil restantes e os outros dois pelos 900 mil
- a solidariedade subsiste quanto ao débito remanescente, ou seja, os outros
devedores permanecem solidários, descontada a parte do codevedor que realizou o
pagamento parcial ou foi perdoado

Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um


dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem
consentimento destes.

D como as obrigações são autônomas, existe a possibilidade do credor celebrar


pactos separadamente com os devedores - há o princípio da beneficência = sendo
mais favorável, pode ser estendido aos outros devedores, mas se o pacto agrava ou
torna a dívida mais onerosa, os efeitos não estendem aos demais que não anuíram

Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários,


subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só
responde o culpado.

D se a culpa foi de apenas um dos codevedores, só o culpado responderá pelas

perdas e danos, mas a obrigação de repor ao credor o equivalente em dinheiro pela


prestação que se impossibilitou será de todos - nessa permanece a solidariedade
- como a dívida pode ser exigida de qualquer um dos devedores, todos respondem
pelo pagamento da indenização equivalente à dívida que se impossibilitou

Art. 280. Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ação
tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela
obrigação acrescida.

o se os devedores sabem que a obrigação vence no dia X e que o não pagamento


[inadimp] vai gerar a aplicação de sanções, eles poderiam ter pago aquela prestação
- mora= não cumprimento da obrigação, um atraso (entre outras situações)

Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem
pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro
co-devedor.
D só pode alegar exceção pessoal a pessoa a quem cabe aquela exceção (pessoal
ou comum), aquela matéria de defesa

Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de


todos os devedores. Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou
mais devedores, subsistirá a dos demais.

D o pagamento parcial não põe fim a solidariedade

ex: existe uma dívida de 900.000 reais, em que eram 3 devedores .- o credor
recebe pagamento parcial de um devedor.- fez o pagamento de 300.000 [extinguiu
parcialmente] .- subsiste a solidariedade entre os outros dois devedores em relação
aos 600.000 e inclusive ao devedor que fez o pagamento parcial [sem renúncia: era
obrigado por toda a dívida quando se tornou devedor solidário]
D o credor poderia fazer o seguinte (de acordo com o 282): aceitar esse pagamento
e renunciar à solidariedade em relação àquele devedor que pagou - não está
perdoado, está pago .- obrigação subsiste para os demais devedores em relação ao
que não foi pago e o devedor que pagou não é mais solidário ao restante da dívida

OBS [1 ]: o credor também, ainda que sem pagamento, pode renunciar a dívida em
relação a todos os devedores, ou em relação a devedores específicos = isso é
possível porque as obrigações (solidárias) são autônomas = não é uma única
obrigação = pode ser solidário em relação a um e aos outros

OBS [2]: caso seja o pagamento total da dívida e não parcial - atingiu a parte dos
outros devedores .- o devedor pagante pode pleitear rateio aos demais!!

OBS [3]: renúncia à solidariedade (a)# renúncia à dívida (b)


(a): ainda que se renuncie a solidariedade, persiste a dívida, a obrigação de pagar,
só não é mais solidária
(b): é extinta a obrigação total (perdão)

D renúncia não extingue necessariamente a dívida na medida em que o devedor


possa ter interesse jurídico em pagá-la .- perdão depende da parte aceitar ou não
ser perdoada .- ex: um credor começa a xingar e mal-dizer o devedor e fala que vai
renunciar, perdoar, a dívida pois sabe que ele não vai pagar mesmo .- o devedor
não aceita o perdão, faz questão de pagar a dívida - pode ter interesse moral,
questão de ordem pessoal etc para pagá-la

Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um
dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se
o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores.

D o co devedor que sozinho paga a dívida, paga afém da sua parte e por isso tem o
direito de reaver dos outros coobrigados a quota correspondentede cada um
- ex: 1 devedor pagou tudo e tá na obrigação solidária com mais outros 4 devedores,
um desses é declarado insolvente (não tem patrimônio suficiente) - os 3 vão pagar
pelo insolvente, no rateio - vão cobrir a cota + integralizar a quota do insolvente

Art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os


exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao
insolvente.

D o exonerado pode ser chamado para integralizar a quota do insolvente

Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores,


responderá este por toda ela para com aquele que pagar.

o responsabilidade civil transpessoal = empregador quando responde


solidariamente pelos danos que seus funcionários causarem aos seus clientes e
consumidores
ex: um porteiro da boate metrópole bate em um casal homoafetivo porque eles
estavam beijando na entrada da boate - esse casal poderia entrar com a ação
contra a boate e contra o porteiro = a boate responde solidariamente com o porteiro
= ela paga e extingue a solidariedade mas vai ter direito de cobrar a dívida toda do
funcionário que deu causa àquele dano e não só a parte dele como acontece no
rateio, justamente por causa do 285!!
- uma pessoa responde pelos danos causados por outra, então os pais sobre seus
filhos menores, na sua guarda e vigilância - apesar de não terem dado causa, são
responsáveis por aquelas pessoas etc

/
• Transmissão das obrigações - cessão de crédito
o é o através do qual o credor opera a transferência, a um terceiro, do direito de
crédito que detinha contra o devedor
- objetos incorpóreos serão sempre objetos de cessão
- havendo a cessão, tem-se a relação jurídica entre o primitivo titular (cedente) e
aquele a quem se transmite o crédito (cessionário)

OBS: Paulo Lôbo chama atenção que nosso legislador escolheu o termo "cessão" de
crédito invés de "compra" [por que o crédito se cede, por que ele não se vende?] -
no Direito alemão o crédito se vende, ou seja, é objeto de contrato [compra e venda]
o no Direito brasileiro só pode ser objeto de compra e venda coisa corpórea, e o
crédito é um bem incorpóreo [não é coisa]

OBS [2]: boa-fé na transmissão = o devedor, independentemente de convenção,


pode se opor à cessão de fins meramente emulativos - casos em que o credor
cede o crédito ao inimigo pessoal do devedor com o ânimo exclusivo de prejudicá-lo

OBS [3]: Rodrigo Xavier Leonardo --+ cessão de crédito é um abstrato ou causal? --+
Pontes de Miranda defende que abstrato, mas o outro diz que isso traria um
inconveniente
ex: você me fez uma ameaça que se eu não lhe pagar tanto você vai me matar, aí
mediante ameaça eu passo um cheque -. eu digo "não tenho esse dinheiro agora
mas daqui a uma semana eu o terei" --+ aí você vai e passa o cheque adiante - em
tese, eu não poderia alegar coação, que anularia o basal, contra o terceiro
(cessionário) --+ porque se trata de abstrato
- causal = há uma causalidade entre de base --+ ex: doação, contrato de compra e
venda
- basal [grundgeschãft]
ex: vences resolve fazer uma doação pra ana flávia, então ela tem um crédito, o que
deu causa a esse crédito é basal -. ana flávia pode transferir esse crédito para
camila
o sobre isso, Pontes de Miranda define que esse de ana flávia com camila, um de
cessão de créditos, é bilateral e ele se desprende, se tornando independente do que
deu causa a ele, o da doação - se vences quiser revogar a doação por ingratidão
de ana flávia, isso não afetaria o crédito que camila teria em relação a vences - a
invalidade ou o descumprimento do basal não afetaria o acordo de transmissão
porque o acordo de transmissão é um abstrato e se torna independente, ganha
autonomia, em relação ao basal ou de base

OBS [4]: pode haver cessão em branco? [pode o credor ceder o crédito sem indicar
o nome do cessionário para que, caso queira, ele possa passar para um terceiro?]
- Pontes de Miranda defende que é possível - mas tomou por base o CC/16, que
não fazia referência à qualificação das partes [agora tem, no art. 654]
- no CC/20020 = entende-se que não pode haver cessão em branco, mas ela é
diferente do endosso [não precisa de notificação], esse último pode

o o que o Código Civil/2002 regulamenta sobre as cessões de crédito:

Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da
obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não
poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da
obrigação.

D ex [1 - natureza]: certas obrigações são personalíssimas, como o débito conjugal


(obrigações maritais, em razão do casamento) - não é passível de cessão!!

D ex [2 - lei]: dívida de alimentos não pode ser cedida - o crédito é personalíssimo


(apesar de que seria até vantagem para o credor, em que o pai não paga, trocar etc)

o ex [3 - convenção com o devedor]: eu contrato me kevinho para fazer um show -


tenho um crédito com ele por esse show, direito de que ele preste o serviço - em
tese, posso ceder o crédito, mas me kevinho pode se acautelar e no contrato pôr
uma cláusula que proíba a cessão do crédito porque, vamos dizer, eu cederia a
bolsonaro e ele é anti-bozo - se prepara/protegecontra esse constrangimento!!

Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abranqem-se


todos os seus acessórios.
o o acessório tem o mesmo destino do principal = o crédito é cedido com suas
garantias -+ ex: fiança, hipoteca = acessórios do crédito

Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não


celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das
solenidades do § 1 º do art. 654 .

o formal = a forma específica é exigida para sua validade

Art. 289. O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar a cessão
no registro do imóvel.

o a proprietária de um imóvel que foi hipotecado não fica impedida de vender o


imóvel -+ porém a venda do imóvel pode autorizar a execução da hipoteca
- tem-se o interesse do cessionário do crédito hipotecário em relação a essa
questão, a alienação
D a cessão de crédito garantida por hipoteca abrange a garantia (art. 287), e, por se
tratar de crédito real imobiliário, é de toda conveniência para o cessionário que se
proceda à averbação da cessão ao lado do registro da hipoteca!!
OBS: hipoteca = o direito dado ao credor de receber um bem imóvel (ou de difícil
mobilidade) como garantia do pagamento de uma dívida por parte do devedor

Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão
quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito
público ou particular, se declarou ciente da cessão feita.

o esse é um negócio receptício -+ a eficácia depende da recepção da notificação


por parte do devedor -+ o devedor deve ficar ciente mas não depende da anuência
do dele até porque pode não concordar em pagar

Art. 291. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar
com a tradição do título do crédito cedido.

o situação em que o credor realiza, ilicitamente, sucessivas ou simultâneas cessões


de um mesmo crédito

(
- problema: se presume credor quem está de posse do título físico, do oapel=- art.
887 regulamenta que o título de crédito é um documento necessário ao exercício do
direito .- é possível tirar a cópia do título .- como se preserva a posição do devedor
no sentido de evitar a circulação do título?
D o devedor pode pedir que o juiz determine que o credor vá até a vara para que a
secretaria carimbe no título de crédito o processo ao qual ele está vinculado etc =
assim, ele não poderia mais ser cedido ou endossado
D outra opção é pedir para depositar na vara = evita circulação

Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão,
paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga
ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida;
quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da
notificação.

o o interesse maior de notificar o devedor é do cessionário, porque aí em tese se o


devedor não sabe da cessão e paga ao credor primitivo, ele se exonera daquela
dívida, ele fica liberado da dívida
- é uma praxe em direito obrigacional que se a obrigação é corporificada com o
título, que um título seja devolvido como prova do pagamento, a devolução do título
faz as vezes do recibo - ex: eu passei um cheque, você em vez de depositar, me
apresentou um cheque e eu dei o dinheiro pra você, você me devolve o cheque, o
fato de eu estar de posse do título faz a prova de que eu paguei

Art. 293. Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o


cessionário exercer os atos conservatóriosdo direito cedido.

D a notificação do devedor é requisito de eficácia do ato, quanto a ele, devedor -


mas não impede o cessionário de se investir em todos os direitos relativos ao crédito
cedido, podendo não só praticar os atos conservatórios, mas todos os demais atos
inerentes ao domínio, inclusive ceder o crédito a outrem .- a cessão de crédito
produz efeitos imediatamente nas relações entre cedente e cessionário!!
ex: ele pode entrar com uma cautelar de arresto, caso verifique que o devedor está
dilapidando seu patrimônio de modo a esvaziar ou tornar inócuo/inútil aquele crédito

Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem
como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o
cedente.

o o crédito é transferido com as mesmas características que possuía à época da


cessão, não podendo o cedente, por óbvio, transferir mais direito do que tenha =o
cessionário passa a ter os mesmos direitos do cedente, incluindo bônus e ônus
- causal [e não abstrato]: o devedor vai poder alegar o vício no causal contra o
cessionário!!

Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize,
fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe
cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver
procedido de má-fé.

D nas cessões onerosas, o cedente sempre será responsável pela existência do


crédito, mesmo na ausência de convenção a esse respeito (garantia de direito)
OBS: não se trata apenas de existência material do crédito, mas a existência em
condições de permitir ao adquirente desse crédito o exercício dos direitos de credor,
vale dizer, a viabilidade do exercício da cessão

D já nas cessões gratuitas {doação, legado etc.), o cedente só será


responsabilizado, inclusive pela existência do crédito, se tiver agido de má-fé

Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do
devedor.

D não está o cedente, em regra, obrigado pela liquidação do crédito, salvo se tiver
agido de má-fé -+ na cessão, o cedente querendo, pode assumir antes do registro

Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não


responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de


_,
ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a

cobrança.

o na cessão de crédito onerosa é possível que a pessoa ceda o crédito por menos
que ele vale .- ex: eu tenho um crédito de 100 mil em relação à flávia, mas ela é
uma caloteira profissional - sabendo que vai ser difícil receber, cedo o crédito de
100 mil por 10 mil - estipulou-se uma cláusula de que o cedente (eu) responde pela
solvência do devedor (flávia) - flávia não paga ao cessionário alegando que não
tem como pagar .- quando o cessionário vier me pedir, eu respondo somente por 1 O
mil [até o limite de que foi pago pelo crédito]

Art. 298. O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor
que tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo
notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os direitos de
terceiro.

o a penhora, ao vincular o crédito ao processo de execução, faz com que ele saia
da esfera de disponibilidade do credor, que, por essa razão, não pode mais
transferi-lo a terceiro - se, ainda assim, proceder o credor à cessão do crédito
penhorado, podem ocorrer três hipóteses distintas:

a) se o devedor não houver sido notificado da cessão e desconhecia a penhora,


paga validamente ao cedente

b) se notificado da cessão e desconhece a penhora, paga validamente ao


cessionário, cabendo ao exequente buscar o seu crédito, indiferentementedas mãos
do cedente ou do cessionário, uma vez que a cessão operada entre eles não tem
eficácia frente à execução

c) se o devedor sabia da penhora, não poderia mais pagar ao cedente ou ao


cessionário, vai ser obrigado a pagar em juízo .- se o fizesse, estaria sujeito a pagar
novamente [quem paga mal paga duas vezes]
• Transmissão das obrigações - assunção de dívida

D não era regulamentada no código passado; o atual, inspirado no alemão e suíço, a


desenvolve-e- a denominação vem do direito alemão (Die Schuldübernahme)
- diz-se do bilateral pelo qual um terceiro, estranho à relação obrigacional, assume a
posição de devedor, responsabilizando-se pela dívida, sem extinção da obrigação,
que subsiste com os seus acessórios
D é a sucessão a título singular do polo passivo da obrigação, permanecendo intacto
~ débito originário, ao contrário do que ocorre com ~ ~ovação

- existe uma divergência de opiniões na doutrina brasileira em relação ao seguinte


questionamento: a assunção é negócio entre devedor e terceiro ou credor e terceiro?
O quando há uma transferência na posição do devedor, assume-se que o devedor
está ciente portanto seria a primeira opção ---+ porém, não se fala em 'consentimento
do devedor' mas sim na sua exoneração ---+ o consentimento expresso deve ser do
credor (art. 299)---+ Pontes de Miranda defende a possibilidade de ser credor-terceiro

o o que o Código Civil/2002 regulamenta sobre a assunção de dívida

Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o


consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se
aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. Parágrafo
único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na
assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa.

Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas,


a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas
ao credor.

D na assunção, quem tem direito ao crédito é o credor - o devedor assente, não


consente - se não assentir, são extintas as condições especiais
OBS: assentimento [tem-se um ato de disposição em relação à direito de terceiro] #:
consentimento [ato de disposição em relação à direito próprio]
ex: eu contraí uma dívida com garantia de hipoteca -» na assunção, a garantia deixa
de existir, a não ser que o devedor dê seu assentimento

,.,.-'
Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com
todas as suas garantias, salvo as garantias prestadas por terceiros, exceto se este
conhecia o vicio que inquinava a obrigação*.

o se a substituição do devedor não ocasiona alteração najelação obrigacional, que


permanece intacta, com todos os seus acessórios, també"\ se inaltera a obrigação
- se a substituição é invalidada, retornando o primitivo devedor ao polo passivo
- pode ser anulada por vários motivos: lesão, fraude contra credores, coação etc
* princípio da boa-fé: as garantias especiais prestadas por terceiros, e que haviam
sido exoneradas pela assunção, não podem ser restauradas, em prejuízo do
terceiro, salvo se tinha conhecimento do defeito jurídico que viria pôr fim à assunção

Art. 302. O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que
competiam ao devedor primitivo.

o meios de defesa oponíveis ao credor se transferem com obrigação: quem assume


a posição do devedor na relação obrigacional, via de regra, assume ônus e bônus
- o assuntor (novo devedor) só pode alegar contra o credor as defesas decorrentes
do vínculo anterior existente entre credor e primitivo devedor ---> ou seja, as exceções
derivadas da própria obrigação assumida (prescrição, invalidade da obrigação por
vício de forma, ineficácia por falta de implemento de condição, ilegitimidade do
credor etc.) - não lhe cabe invocar as defesas pessoais que derivam das relações
existentes entre ele, o novo devedor, e o primitivo devedor, ou entre este e o credor

ex: não pode alegar que o contrato entre o credor e o antigo devedor é nulo por vicio
de vontade ou que a sua relação com o primitivo devedor é nula, porque este não
lhe pagou o valor acertado como contraprestação pela assunção da dívida
OBS: mas o assuntor pode invocar os meios de defesa pessoais do antigo devedor
que já tenham sido invocados por este antes da assunção!!

Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento
do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a

transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento.

(
o tentativa do legislador de relativizar a orientação de que o consentimento do
credor será sempre expresso, vez que parte da doutrina se manifesta a favor do
cabimento da aceitação tácita - excetua a regra e admite a hipótese de
concordância tácita do credor hipotecário que, notificado da assunção, não a
impugna no prazo de 30 dias

• A boa-fé no direito civil brasileiro


D o direito civil alemão, considerado a base do nosso, usa o termo Treu un Glauben
em que treu alude à verdade/lealdade/confiançae glauben à crença
- existem 2 tipos:
1. boa fé subjetiva
o Fernando Norói diz que não tem caráter normativo, em que esta seria sinônimo de
desconhecimento e ninguém tem a obrigação de desconhecê-lo - vences discorda
apontando que o fato de você desconhecer estar lesando o direito do outro ainda
pode trazer situações jurídicas - assim, o fato de se desconhecer a ilicitude faz a
pessoa estar no status da boa-fé subjetiva = ex: alguém comprar objetos de uma loja
e depois descobrir que ela comprava cargas roubadas -+ não se sabia a ilicitude do
produto, pode-se ficar com o produto [agora, sabe-se que é roubado: além de
participante e receptor do furto, a pessoa tem que devolvê-lo)
- assim, a boa-fé subjetiva não é uma cláusula dotada de normatividade, mas sim
um suporte fático que pode, ou não, gerar direitos e deveres
o normalmente é dignificada como um erro de fato, quando se tem uma ideia errada
sobre a forma em que se dá a situação

- contempla duas teorias:

1. teoria psicológica: a boa fé seria um 'estado de desoconhecimento'-+ basta você


desconhecer do fato para estar na boa fé
OBS: não é desconhecimento (erro) da lei/do direito, mas sim do fato!!-+ ninguém
pode se escusar acusando desconhecimentoda lei
ex: alguém sai para caçar cervos mas atira, por engano, em uma pessoa fantasiada
de cervo .- não é que a pessoa desconhece a lei que proíbe o homicídio, mas sim
que ela achava que estava matando um certo, cometendo apenas erro de fato

2. teoria ética: o desconhecimento do fato deve ser razoável, não podendo ser

sinônimo de estupidez
o padrão do homem comum (bonus parter familias)
ex [1]: cara diz a namorada que tem uma prima orfã e que prometeu a sua tia, antes
do falecimento, cuidar dela .- todo sábado a noite se ausenta para ficar com a prima
.- considerando que a namorada aceite a situação e isso continue por anos, até ela
descobrir que a prima na verdade era amante .- pode-se alegar que ela não teria,
de fato, desconhecido a situação 'porque era óbvio' = agora não está mais de boa fé
o vences: "a teoria ética é quase uma objetivação da boa fé subjetiva, porque vai
analisar se o desconhecimento é razoável ou não - para ele, o CC adotou a teoria

ética no artigo 1268:

Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena


a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, em
leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em
circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a
qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono.

o pode-se perceber a ideia de um desconhecimento razoável


- 'como a qualquer pessoa' = homem comum (bonus parters familias)
OBS: Pontes de Miranda compreende que o CC adotou a teoria psicológica = CC 16

2. boa fé objetiva
o traz normatividade, os contratantes são obrigados a agir conforme ela
- é uma cláusula geral, com a função de preservar o sistema e compensar a rigidez
das regras excessivamente abstratas, técnicas e especializadas - atuam como
válvulas de segurança -+ têm funções 'assistêmicas' já que permitem a construção
jurídica não prevista pelo legislador [Torquato Castro Jr: termostato da geladeira =
calibra e adapta as situações jurídicas às circunstâncias]
o os juristas começam a encarar as cláusulas gerais com reserva = indeterminação
do conteúdo - limite no uso -+ direito dos contratos se assenta em 2 fundamentos =
respeito à autonomia privada + tutela da confiança [pacta sunt servanda = aquilo que
está estabelecido no contrato e assinado pelas partes deve ser cumprido]

o assim, foi adotada como princípio geral do direito obrigacional = suscita-se a


discussão sobre as fontes das obrigações, em que tradicionalmente havia a divisão
das obrigações decorrerem da lei ou da vontade, refletindo-se na responsabilidade
contratual ou extracontratual - a tendência atual é romper essa dicotomia e
adicionar uma terceira, que seria a responsabilidade decorrente da boa fé
- o que Karina Nunes fala sobre isso:

- Karl Larenz e Harm Peter Westermann: deveres anexos, laterais e acessórios


x Paulo Lôbo: deveres gerais da conduta
o crítica de vences a ele quando diz que na Alemanha que são os deveres
acessórios, visto que houve uma reaproximação na atual reforma do código civil
alemão - porém, está correto ao criticar a defesa de Kart, defendia que os deveres
anexos da boa fé decorreriam de uma declaração implícita de vontade, não expressa
do contrato - a nossa jurisprudência já parte da relação contratual de fato
ex [1 ]: súmula do STJ sobre estacionamento - a loja tem que se responsabilizar
pelos carros dos consumidores enquanto estão no seu estacionamento = há um
contrato tácito, implícito, uma declaração de vontade presumida
ex [2]: hipervunerável
D Pauto Lôbo não chega a esse insight sobre o dever de boa fé ser correspondente
à confiança = não é dever ex lege nem negocial

- para Pontes de Miranda, a boa fé já dá ao devedor a exceção, no sentido de


suspender a eficácia e até mesmo excluir certos deveres, apesar de ser desconfiado
com a expansividade dos princípios - ex: você contrata um palestrante e deixa tudo
acertado mas, no dia, seu irmão morre = não é razoável esperar que ele cumpra o
contrato, vences acredita que ele tinha o direito de não dar o curso, pela lealdade

OBS: é incorreto afirmar que a subjetiva é fruto do estado liberal, em que vai se
procurar na subjetividade da pessoa se ela sabe ou não da ilicitude e que, quando
vem um estado intervencionista, surge a objetiva para proteger a pessoa humana -

( 1 )
r
t »,
o que ocorre é que no estado intervencionista vai haver um aprofundamento da
expansão da objetiva = ex: sociedade industrial - lógico que atrás de uma máquina
não há ninguém e não tem sentido o empregador dizer que a máquina decepou um
dedo sem intenção -+ há outros paradigmas, em que o empregador tem que adotar
um comportamento leal e garantir a segurança do ambiente de trabalho
- assim, a boa fé objetiva cumpre 3 funções:

1. cânone hermenêutica (função interpretativa)


D a boa fé orienta I estabelece várias regras de interpretação
o o juiz deve se basear em regras atinentes a eticidade e moral, levando em conta o
contexto e os fins sociais a que a norma se destina
- favor actus: ao se interpretar um contrato se deve optar pela interpretação que
fique mais favorável à preservação da declaração contratual [visto que existem 2
declarações possíveis: uma que anule e outra que preserve}
"Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os
usos do lugar de sua celebração."
D houve a alteração nesse artigo com a medida da liberdade econômica: (Lei nº

13.874. de 2019)

§ 1 ° A interpretação do deve lhe atribuir o sentido que:


1 - for confirmado pelo comportamento das partes
posterior à celebração do negócio;
li - corresponder aos usos, costumes e práticas do
mercado relativas ao tipo de negócio;
Ili - corresponder à boa-fé;
IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o
dispositivo, se identificável; e
V - corresponder a qual seria a razoável negociação das
partes sobre a questão discutida, inferida das demais
disposições do negócio e da racionalidade econômica
das partes, consideradas as informações disponíveis no
momento de sua celebração.
§ 2° As partes poderão livremente pactuar regras de
interpretação, de preenchimento de lacunas e de
integração dos negócios jurídicos diversas daquelas
previstas em lei.

2. como geradora de direitos (função integrativa)


o fonte de direitos e deveres: "Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar,
assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade

{I
e boa-fé."

- cria deveres para as partes, além daqueles estabelecidos por ambas, na realização
de um .- "deveres anexos" .- regras mínimas de conduta que devem ser
observadas nas fases, pré contratual, contratual e pós contratual

3. de ser o limite ao exercício dos direitos (função de controle)


D a boa-fé objetiva estabelece limites ao exercício dos direitos subjetivos, das
ações, exceções, pretensões etc

"Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes."

- questão do ato emulativo: desvio de finalidade .- entende-se que cada direito se


presta a atingir certa finalidade
D proveniente desta função, quem viola a boa fé objetiva comete um abuso do
direito, mesmo que não tenha intenção (responsabilidadeobjetiva)
n surge, também, a teoria dos atos próprios, sendo vedado comportamentos
contraditórios, surgindo institutos como o "venire contra factum proprium",
"supressio", "surrectio", "adimplementosubstancial", dentre outros

- o legislador alemão promoveu o acréscimo do §241 do CC alemão (8GB): "Pode a


relação obrigacional, de acordo com o seu conteúdo, vincular qualquer das partes a
ter o especial apreço pelos direitos, bens jurídicos e interesses da outra." .- resulta
um dever de lealdade [o que fere esse dever: atos que induzem ao erro, o dolo e o
veníre contra factum propriumJ
D Prof. Sariano Neto: teoria do ato jurídico em sentido estrito .- argumento da
vedação do comportamento contraditório.- um casal, que não era casado, tem um
filho e, devido isso, resolvem se casar = no CC 16, o casamento subsequente
legitimava a filiação = depois de um tempo, separaram-se e o pai queria anular o
registro, visto que a mulher era 'muito falada' e havia muitos parceiros que poderiam
ser pais .- Sariano argumenta que se ele tinha dúvida sobre a honestidade da
mulher, é contraditório ele se casar com uma mulher que suspeita de desonestidade
[esse parecer é dos anos 40 e já falava da cláusula alemã, ou seja, ele introduziu!!]
- venire contra factum proprium: imperativo de coerência, impede que - conforme
Ronnie Duarte - se aja em determinado momento de uma certa maneira e,
ulteriormente, adote-se um comportamento que frustra, vá contra aquela conduta
tomada em primeiro lugar
- tu quoque: impede que uma pessoa que violou determinada regra possa exigir de
outra o cumprimento dela dever de não agir contra os próprios princípios = contra o
comportamento contraditório = aquele que viola a regra não pode se beneficiar por
essa violação
ex: uma pessoa casada que presta fiança sem autorização do cônjuge = a fiança
não é válida pois o CC exige a permissão do outro para prestação = quem prestou
não pode pedir a anulação

- supressio: poderia ser traduzida como 'preclusão' - supressão de determinadas


faculdades jurídicas pelo decurso do tempo - se você não praticou o ato no período
delimitado, você perdeu o direito de praticar tal ato
ex [1]: jurisprudência italiana sobre reconhecimento de paternidade com a
circunstância de inseminação artificial - o homem era infértil e o casal,
consensualmente, recorreu a esse método para ter filhos - a inseminação deu
certo, a criança foi registrada como filha e, 1 O anos vivendo familiarmente, o casal se
separa - o homem entra com ação negatória de paternidade, dizendo que o
resultado vai dar negativo - perdeu o direito de impugnar
ex [2]: recurso especial do STJ em que se discute sobre a interpretação da cláusula
constante de convenção de condomínio que determina o uso estritamente comercial
das unidades condominiais

- surrectio: aparecimento de uma situação de vantagem em virtude de não ter sido


feita qualquer oposição à situação fática verificada por um determinado período de
tempo - a pessoa não tem direito a tal questão mas passa a agir como se Ide
modo que outra parte não se opõe e reconhece, fazendo consolidar a situação de
reconhecer o direito que, a princípio, a pessoa não tinha
ex: um boleto da mensalidade escolar vence no dia 5 mas o responsável só o recebe
no dia 15 e, por isso, vai a escola pedir a mudança - a escola afirma que não pode
mudar a data no boleto, mas se ele se comprometer a pagar no mesmo dia, não
haverá a cobrança de juros, continuando o valor inicial - muda-se o diretor e, na

I
cobrança de mensalidade, pedem os juros devido ao vencimento do boleto - isso
seria um comportamento contraditório, visto que mesmo não tendo o direito, houve o
anterior reconhecimento da escola, passando a garantir-lhe esse direito
- duty to mitigate the /oss: dever de mitigar as perdas - quem sofre o engano, não
deve agir no sentido de agravar o dano, mas sim de o atenuar

o o que acontece, muitas vezes, é uma pessoa esperar ser negativado (não fazer
nada quando há uma cobrança injusta) - quando acontece, ela vai à loja pedir um
crediário e, ao ser negada, é exposta ao ridículo - cria uma situação mais grave
para se beneficiar com uma maior indenização - má-fé!!
ex: STJ, controvérsia acerca do ressarcimento do honorário advocatício despendido
em virtude da mora do devedor - minimização do dano sofrido em face do
inadimplemento -+ contratação do advogado apenas se for estritamente necessária
- concluiu-se abusividade da cláusula contratual que previu a possibilidade de
ressarcimento dos honorários, bastando que o consumidor esteja inadimplente

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