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CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA: DIREITO EMPRESARIAL II

Prof. Me. Gustavo Nery

SEMESTRE: 2023.2
CHEQUE (LEI 7.357/85)

1. CONCEITO
Conforme Fábio Ulhôa, o cheque é uma ordem de pagamento À VISTA,
sacada contra um banco e com base em suficiente provisão de fundos
depositados pelo sacador em mãos do sacado ou decorrente de
contrato de abertura de crédito entre ambos. Três figuras:

1) Sacador: Correntista.
2) Sacado: Banco.
3) Tomador/beneficiário: Credor do cheque.
REQUISITOS DO CHEQUE (ART. 1º, 2º E 3º)

Lei 7.357/85 - Art. 1º O cheque contém:


I - a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na língua
em que este é redigido;
II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada;
III - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado)
IV - a indicação do lugar de pagamento;
V - a indicação da data e do lugar de emissão;
VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes
especiais.
Parágrafo único - A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com
poderes especiais pode ser constituída, na forma de legislação específica,
por chancela mecânica ou processo equivalente.
Art. 2º O título, a que falte qualquer dos requisitos enumerados no artigo
precedente não vale como cheque, salvo nos casos determinados a seguir:
I - na falta de indicação especial, é considerado LUGAR DE PAGAMENTO o
lugar designado junto ao nome do sacado; se designados vários lugares, o
cheque é pagável no primeiro deles; não existindo qualquer indicação, o
cheque é pagável no lugar de sua emissão;
II - não indicado O LUGAR DE EMISSÃO, considera-se emitido o cheque no
lugar indicado junto ao nome do emitente.
Art. 3º O cheque é emitido contra banco, ou instituição financeira que lhe seja
equiparada, sob pena de não valer como cheque.
Destacam-se:

1) A expressão "cheque" inserta no próprio texto do título na língua empregada para a


sua redação;

2) A ordem incondicional de pagar quantia determinada (observe-se que a inexistência


ou insuficiência de fundos não desnatura o cheque como um título de crédito);

3) A identificação do banco sacado (não vale, no Brasil, como cheque aquele que for
emitido contra um sacado não banqueiro);

4) Identificação do local do saque ou a indicação de um lugar ao lado do nome do


sacado ou, ainda, a menção de um local ao lado do nome do emitente;

5) Data de emissão;

6) Assinatura do emitente (sacador).


Observações:

1) Havendo divergência entre o valor da quantia entre as INDICAÇÕES POR EXTENSO e


em ALGARISMOS, prevalece a primeira (art. 12);

Lei 7.357/85 Art. 12 Feita a indicação da quantia em algarismos e por extenso, prevalece esta no caso
de divergência. indicada a quantia mais de uma vez, quer por extenso, quer por algarismos,
prevalece, no caso de divergência, a indicação da menor quantia.

2) O lugar do saque é sumamente importante, como veremos abaixo no que se refere ao


prazo de apresentação
3) Os cheques superiores a 100 reais devem, obrigatoriamente, ser nominais,
vale dizer, com a indicação do beneficiário. Pode ser ‘à ordem’ ou ‘não à
ordem’.

Como o tema foi cobrado em concurso?

TJ/AC (2019) Feita a indicação da quantia em algarismos e por extenso,


prevalece esta no caso de divergência, e, indicada a quantia mais de uma vez,
quer por extenso, quer por algarismos, prevalece, no caso de divergência, a
indicação da menor quantia. Correta!
3. ACEITE DO CHEQUE

Conforme o art. 6º da Lei, não se admite a figura do aceite no cheque.

Fundamento: Não há que se falar em concordância do sacado com o pagamento do crédito (aceite),
porquanto existe um contrato entre sacador e sacado que obriga o banco a pagar a ordem
de pagamento, quando existir provisão de fundos.

Lei 7.357/85 Art. 6º O cheque não admite aceite considerando-se não escrita qualquer declaração com
esse sentido.
4. CHEQUE PRÉ-DATADO (PÓS-DATADO)
A cláusula ‘bom para’ é considerada o que para o Direito Empresarial?
Conforme o art. 32 da Lei, dada a natureza do cheque de ordem de
pagamento à vista, qualquer cláusula que preveja algo em contrário é
considerada NÃO ESCRITA.

Lei 7.357/85 Art. 32 - O cheque é pagável à vista. Considera-se não estrita qualquer menção em
contrário.
Parágrafo único - O cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de
emissão é pagável no dia da apresentação.

Assim, o banco tem obrigação de pagar um cheque apresentado pelo tomador,


mesmo que se trate de “pré-datado”. Em não havendo fundos, é possível até
mesmo protestar um cheque prédatado. Frise-se: Isso na disciplina legal do
Direito Empresarial
Para o Direito Civil, no entanto, a apresentação antecipada equivale ao rompimento da boafé
contratual, caracterizando dano moral (Súmula 370 do STJ). O dano, nesse caso, é ‘in re
ipsa’(ínsito na própria coisa), não necessitando de prova do prejuízo do sacador.

STJ Súmula: 370. Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.

O credor pode preencher cambial em branco ou com lacunas (exemplo: máquina que
preenche cheque)?

Conforme a Súmula 387 do STF é plenamente possível que o credor de boa-fé complete a
cambial.
5. ENDOSSO DO CHEQUE

Tudo que foi visto na letra de câmbio se aplica ao cheque. Peculiaridades:

• Motivo (ou alínea) 36: Era uma causa de devolução do cheque pelo fato de possuir mais de um endosso. Razão dessa previsão:
CPMF. Ao permitir-se mais de um endosso, o cheque circulava e a arrecadação da CPMF restava prejudicada. Como não mais existe
esse tributo, entende-se que não há mais limite de endosso para o cheque.
• Não se admite o endosso-caução no cheque, dada sua natureza de ordem de pagamento à vista.
• O endosso feito APÓS o prazo de apresentação (ver abaixo) é considerado póstumo, de forma que produz apenas os efeitos de
cessão civil de crédito.

Como o tema foi cobrado em concurso?

DPE/CE (2022) O cheque admite a estipulação escrita de juros inserida no próprio título de crédito. Errada!

DPE/CE (2022) O cheque pode ser endossado parcialmente e de forma condicionada. Errada!
SIM. O STJ decidiu que é possível o protesto de cheque, por endossatário terceiro de
boa fé, após o decurso do prazo de apresentação, mas antes da expiração do prazo
para ação cambial de execução, ainda que, em momento anterior, o título tenha sido
sustado pelo emitente em razão do inadimplemento do negócio jurídico subjacente à
emissão da cártula.
6. AVAL NO CHEQUE

Duas peculiaridades:

• O aval em branco aproveita ao sacador (art. 30, parágrafo único);

Lei 7.357/85 Art. 30


O aval é lançado no cheque ou na folha de alongamento. Exprime-se pelas palavras ‘’por aval’’, ou fórmula equivalente,
com a assinatura do avalista. Considera-se como resultante da simples assinatura do avalista, aposta no anverso do
cheque, salvo quando se tratar da assinatura do emitente.

Parágrafo único - O aval deve indicar o avalizado. Na falta de indicação, considera-se avalizado o emitente.

• Proíbe-se o aval por parte do sacado (art. 29).

Lei 7.357/85 Art. 29 O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval prestado por terceiro,
exceto o sacado, ou mesmo por signatário do título.
7. PRAZO DE APRESENTAÇÃO DO CHEQUE

7.1. Noção geral

Trata-se do prazo que o tomador tem para apresentar o cheque ao banco para pagamento.
Não se confunde com o prazo prescricional (ver abaixo).

O prazo de apresentação varia conforme o local do saque indicado na cártula:

Mesma praça → 30 dias.


Praça diferente → 60 dias.
Termo ‘a quo’ do prazo: Data de emissão do cheque (data indicada na cártula).

Mesma praça bancária: Quando o local de saque indicado na cártula corresponder ao local
da agência pagadora.

Praças bancárias diferentes: Quando não há coincidência entre a praça do saque e a praça
da agência pagadora.

OBS: O que importa para essa verificação é a praça e a data de saque indicados pelo
sacador no cheque e não o local e a data em que efetivamente ocorreu a emissão do cheque
(princípio da cartularidade).
. Inobservância do prazo de apresentação do cheque ao sacado

1) O transcurso do prazo de apresentação representa o TERMO INICIAL do


prazo prescricional de execução do cheque contra o devedor principal.

2) Só é possível executar os coobrigados do cheque (endossantes e seus avalistas)


se a apresentação do cheque se der dentro do prazo legal (Art. 47, II da Lei). Se a
apresentação se der fora do prazo, caberá apenas a execução do emitente e seus
avalistas, nos termos da Súmula 600 do STF.
PROTESTO

Mas o art. 48 da Lei n. 7.357/85 afirma que o protesto do cheque


deve ocorrer durante o prazo de apresentação. Veja:

Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior devem


fazer-se no lugar de pagamento ou do domicílio do emitente,
antes da expiração do prazo de apresentação.
8. CONTA CONJUNTA

Se um dos correntistas emite cheque sem fundos, quem será


responsável pelo pagamento?

STJ: Na conta conjunta existe solidariedade ATIVA, vale


dizer, qualquer dos cotitulares pode movimentar a conta.
Entretanto, a solidariedade PASSIVA não é reconhecida.
Dessa forma, só responde pelo cheque aquele que o emitiu. Só
ele pode ser protestado e executado (REsp. 336.632/ES).

Se no protesto constar o nome daquele que não emitiu a


cártula, estará configurado o dano moral.
DEVOLUÇÃO INDEVIDA

Quando o correntista possui fundo disponível para pagamento do cheque, e


este é devolvido, trata-se da chamada devolução indevida.

Sobre esse assunto:

STJ - Súmula 388: “A simples devolução indevida de cheque caracteriza


dano moral” (leia-se: independentemente de prova do prejuízo sofrido pela
vítima – in re ipsa).
SUSTAÇÃO DE CHEQUE

Sustação pode ser gênero ou espécie. Existem duas ESPÉCIES de sustação:

• Contraordem/revogação (art. 35);

Só pode ser realizada pelo emitente do cheque. Só produz efeitos depois do prazo de
apresentação. É uma forma de controle bancário, na qual o correntista ordena que após
o prazo de apresentação o cheque não deve ser pago.

• Sustação/oposição (art. 36).

Lei 7.357/85 Art. 36 Mesmo durante o prazo de apresentação, o emitente e o portador


legitimado podem fazer sustar o pagamento, manifestando ao sacado, por escrito,
oposição fundada em relevante razão de direito. § 1º A oposição do emitente e a
revogação ou contraordem se excluem reciprocamente. § 2º Não cabe ao sacado julgar
da relevância da razão invocada pelo oponente.
CHEQUE SEM FUNDOS

O cheque NÃO pago pelo sacado por falta de fundos deve ser
PROTESTADO pelo credor ATÉ a data limite de apresentação, a fim de que
assegure a sua pretensão executória contra todos os coobrigados. Se NÃO
for realizado o protesto nesse prazo, somente poderá executar o devedor
principal.

A execução do cheque sem fundos prescreve, contra qualquer devedor, no


prazo de 06 meses, contados do término do prazo de apresentação.
AÇÃO MONITÓRIA E CHEQUE

Ponto feito com base nas explicações do Professor Márcio Cavalcante (Livro:
Súmulas do STF e STJ – Ed. 2019).

Duas súmulas merecem destaque quando se fala em ação monitória e cheque prescrito,
quais sejam: Súmula 531 e Súmula 503 do STJ, a seguir breve comentário.

Súmula 531-STJ: Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o


emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula

Súmula 503-STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de


cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão
estampada na cártula.
NOTA PROMISSÓRIA

CONCEITO

A nota promissória é uma promessa de pagamento que uma pessoa faz em favor de
outra.

Com o saque da nota promissória, surgem dois personagens distintos:

• Promitente (emitente/subscritor/sacador): Aquele que promete pagar.


• Tomador/beneficiário: O credor do valor prometido.

São apenas quatro artigos sobre nota promissória no Dec 57.663/66.


2. NÃO HÁ ACEITE NA NOTA PROMISSÓRIA

Nota promissória não é ordem de pagamento, mas sim promessa de pagamento. Em


decorrência disso, não há que se falar em aceite (se não há ordem, não há o que se
aceitar), nem em seus institutos decorrentes, tais como vencimento antecipado por
recusa de aceite, cláusula não aceitável etc.
3. FORMAS DE VENCIMENTO DA NOTA PROMISSÓRIA

São possíveis as quatro formas de vencimento da letra de câmbio. Quando o prazo


for a certo termo de vista, o marco inicial logicamente não é o aceite, mas sim o
visto do subscritor (art. 23). O tomador deve apresentar a nota para o visto do
subscritor num prazo de 01 ano do saque. A partir do visto, conta-se o prazo de
vencimento “a certo termo de vista”.

LUG Art. 23. As letras a certo termo de vista devem ser apresentadas ao aceite
dentro do prazo de 1 (um) ano das suas datas. O sacador pode reduzir este prazo ou
estipular um prazo maior. Esses prazos podem ser reduzidos pelos endossantes .
TIPOS DE VENCIMENTO DE UMA LETRA DE CÂMBIO

1) À vista: aquela que é exigível de imediato. Logo após o saque.


2) Data certa: vence em 30/03/2022 → exemplo acima.
3) A certo termo da vista: É o vencimento que se dá num determinado número de dias contados da data do
aceite, que é o termo a quo.

DICA: Hasta la vista aceite. Neste último, não é possível a inclusão da cláusula não aceitável, visto que o
vencimento pressupõe o aceite.

4) A certo termo da data: É o vencimento que se dá em determinado número de dias, contados da data de
emissão do título (saque), que é o termo a quo.
Obs1: a nota promissória, vinculada ao contrato de mútuo bancário, não perde sua
executoriedade – STJ. Veja: mútuo e não abertura de crédito (que é ilíquido).

Obs2 (André Santa Cruz): quando a nota promissória for emitida em vinculação a um
determinado contrato, não apenas os bancários, tal fato deve constar expressamente do
título. Sendo assim, fica descaracterizada a abstração/autonomia do título já que o
terceiro está consciente da relação de origem e de que contra ele poderão ser opostas
exceções ligadas ao referido contrato. O título passa a ter uma ligação intrínseca com o
contrato, podendo dizer, grosso modo, que o acessório seguirá o principal.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/CE (2020) A mera vinculação de nota promissória a contrato de abertura
de crédito não é apta a retirar a autonomia do referido título cambial. Errada
5. SÚMULA 504 DO STJ
Obs1: a nota promissória, vinculada ao contrato de mútuo bancário,
não perde sua executoriedade – STJ. Veja: mútuo e não abertura de
crédito (que é ilíquido).
SÚMULA 504-STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota
Obs2 (André Santa Cruz): quando a nota promissória for emitida em
vinculação a um determinado contrato, não apenas os bancários, tal
promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do
fato deve constar expressamente do título. Sendo assim, fica
descaracterizada a abstração/autonomia do título já que o terceiro
dia seguinte ao vencimento do título.
está consciente da relação de origem e de que contra ele poderão ser
opostas exceções ligadas ao referido contrato. O título passa a ter uma
ligação intrínseca com o contrato, podendo dizer, grosso modo, que o
acessório seguirá o principal.
A nota promissória é um título executivo extrajudicial (art. 784, I, do CPC/2015).
Como o tema foi cobrado em concurso?
MPE/CE (2020) A mera vinculação de nota promissória a contrato de abertura
de crédito não é apta a retirar a autonomia do referido título cambial. Errada

Assim, se não for paga, poderá ser ajuizada ação de execução cobrando o valor.

Qual é o prazo prescricional para a execução da nota promissória contra o emitente e o


avalista? 3 anos (art. 70 da Lei Uniforme).

Mesmo que tenha passado esse prazo e a nota promissória tenha perdido sua força executiva
(esteja prescrita), ainda assim será possível a sua cobrança? SIM, por meio de ação monitória.

Qual é o prazo máximo para ajuizar a ação monitória de nota promissória prescrita? 5 anos.
com base no art. art. 206, § 5º, I, CC
6. REQUISITOS

Assim como a letra de câmbio, a nota promissória apresenta requisitos essenciais (ausência retira a
natureza cambial – deixa de ser um título executivo extrajudicial) e requisitos supríveis ou
acidentais.

São requisitos essenciais:

• Expressão nota promissória;


• Uma promessa incondicional de pagar quantia determinada;
• Nome do tomador (beneficiário);
• Data do saque;
• Assinatura do subscritor;
• Lugar do saque.
São requisitos supríveis:
• Lugar do pagamento, na falta será o domicílio do subscritor;
• Época do pagamento, sua falta torna à vista.

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